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SaúdeOnline nº 08

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novembro 2017 | N.º 8 | ANO I | MENSAL | PREÇO: 3€<br />

Diretor: Miguel Múrias Mauritti<br />

Entrevista: Eduardo Pinto Leite, Diretor-geral da GSK Portugal<br />

para a área farmacêutica<br />

Portugueses acedem tarde à inovação terapêutica<br />

OE 2018<br />

SNS com menos<br />

51,3 milhões<br />

do que em 2017<br />

entrevista<br />

PÁG. 12<br />

Especial – Rotas da Saúde<br />

USF Santiago de Leiria<br />

Uma década depois…. Espírito de equipa mantém-se<br />

PÁG.24<br />

É necessário um<br />

compromisso de todos<br />

os atores da Saúde que<br />

garanta que os doentes<br />

portugueses não sejam<br />

prejudicados no acesso aos<br />

medicamentos inovadores<br />

face aos cidadãos de outros<br />

Estados-membros.<br />

Adalberto Campos<br />

Fernandes vai contar<br />

com menos 51.5<br />

milhões de euros,<br />

para fazer face às<br />

despesas do SNS. São<br />

menos 0.6% de um<br />

total correspondente a<br />

4,25% do PIB previsto.<br />

Parceiros dizem que<br />

não chega…<br />

PÁG. 18<br />

Opinião<br />

Luís Gouveia<br />

de Andrade<br />

A “velha” aspirina<br />

PÁG. 06<br />

Procedimento<br />

médico previne<br />

AVC em doentes<br />

com fibrilhação<br />

auricular<br />

PÁG. 30<br />

Ultrapassar<br />

uma situação de<br />

infidelidade exige<br />

comprometimento<br />

mútuo<br />

PÁG. 34<br />

Eliminar a hepatite<br />

C em Portugal e na<br />

Europa é possível<br />

até 2030<br />

Representantes<br />

do Governo<br />

português, políticos,<br />

especialistas, médicos<br />

e associações de<br />

doentes e grupos<br />

de ativistas na<br />

área reuniram-se<br />

em Bruxelas para<br />

anunciar a sua<br />

intenção de trabalhar<br />

juntos com o objetivo<br />

de eliminar o vírus<br />

da Hepatite C até<br />

2030, ao assinarem<br />

o “Manifesto pela<br />

Eliminação da<br />

Hepatite C”.<br />

Pág. 28<br />

PUB


sumário<br />

Entrevista: Eduardo Pinto Leite, Diretor-geral<br />

da GSK Portugal para a área farmacêutica<br />

Portugueses acedem tarde<br />

à inovação terapêutica<br />

É necessário um compromisso de todos os<br />

atores da Saúde que garanta que os doentes<br />

portugueses não sejam prejudicados no acesso<br />

aos medicamentos inovadores face aos cidadãos<br />

de outros Estados-membros.<br />

pág. 12<br />

04 Opinião<br />

Acácio Gouveia<br />

Mente!<br />

06 Opinião<br />

Luís Gouveia de Andrade<br />

A “velha” aspirina<br />

09 Opinião<br />

Patrícia Pita Lobo<br />

Distonia: contrair involuntariamente<br />

os músculos<br />

16 Entrevista: Helder<br />

Pereira, diretor do Serviço<br />

de Cardiologia no Hospital<br />

Garcia de Orta e coordenador<br />

da iniciativa Stent Save a Life<br />

Transporte pré-hospitalar como elemento<br />

chave no sucesso de uma rede de tratamento<br />

de enfarte<br />

“Há cerca de uma década éramos um dos<br />

países europeus com uma das mais baixas<br />

taxas de angioplastia primária. Em cerca de<br />

uma década triplicamos o número de doentes<br />

tratados por angioplastia e presentemente<br />

temos números dentro de média europeia.”<br />

18 OE 2018<br />

SNS com menos 51,3 milhões do que em 2017<br />

Adalberto Campos Fernandes vai contar com<br />

menos 51.5 milhões de euros, para fazer face<br />

às despesas do SNS. São menos 0.6% de um<br />

total correspondente a 4,25% do PIB previsto.<br />

Parceiros dizem que não chega…<br />

24 Especial – Rotas da<br />

Saúde<br />

USF Santiago de Leiria<br />

Uma década depois…. Espírito de equipa<br />

mantém-se<br />

28 Eliminar a hepatite C<br />

em Portugal e na Europa é<br />

possível até 2030<br />

Representantes do Governo português,<br />

políticos, especialistas, médicos e associações<br />

de doentes e grupos de ativistas na área<br />

reuniram-se em Bruxelas para anunciar a sua<br />

intenção de trabalhar juntos com o objetivo<br />

de eliminar o vírus da Hepatite C até 2030, ao<br />

assinarem o “Manifesto pela Eliminação da<br />

Hepatite C”.<br />

30 Procedimento médico<br />

previne AVC em doentes<br />

com fibrilhação auricular<br />

32 Centros de referência<br />

portugueses participam em<br />

curso inovador de simulação<br />

em Mucopolissacaridoses<br />

O Hospital San Joan de Déu, em Barcelona,<br />

recebeu a 2.ª edição internacional do curso<br />

“Comprehensive Anesthetic Management<br />

of the Child and Teenager with MPS”<br />

(Mucopolissacaridoses), nos dias 5 e 6 de<br />

outubro.<br />

34 Ultrapassar uma<br />

situação de infidelidade exige<br />

comprometimento mútuo<br />

FICHA TÉCNICA | Publicação online de informação geral e médica<br />

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Isenção de registo na ERC, nos termos<br />

da alinea a) do <strong>nº</strong>1 do artigo 12º do<br />

decreto regulamentar <strong>nº</strong>8/99, de 9 de junho<br />

Periodicidade<br />

Informação permanente<br />

Ano de fundação: 2016


SAÚDE ONLINE | CRÓNICA<br />

Mente!<br />

“Quando falares cuida que as tuas palavras sejam melhores que o silêncio”<br />

(Provérbio hindu)<br />

Acácio Gouveia<br />

Médico de família<br />

Ouvimos o Sr. Secretário<br />

de Estado Adjunto da<br />

Saúde explicar que o<br />

acesso às consultas de desabituação<br />

tabágica, bem como<br />

a comparticipação da medicação<br />

de desabituação, “são fundamentais”<br />

na luta contra a epidemia<br />

do tabagismo. Mentira!<br />

Este subtil dislate não será percetível<br />

como tal pelo comum dos<br />

leigos, mas para quem sabe um<br />

pouco “da poda” não pode deixar<br />

de se escandalizar e preocupar.<br />

Mais: se for verdade que o executivo<br />

não pensa mexer no preço<br />

do tabaco, insinua-se na mente<br />

dos que se preocupam efetivamente<br />

com a saúde dos portugueses<br />

a sensação angustiante<br />

duma tragédia anunciada. É que<br />

temos um refinado raposão dentro<br />

do galinheiro com prosápias<br />

de guardião da segurança dos<br />

incautos galináceos.<br />

Vejamos. A desabituação tabágica<br />

tem uma eficácia modesta<br />

e uma eficiência “pouquechinha”,<br />

mesmo nos melhores centros.<br />

Por outro lado, em muitos casos,<br />

mesmo que coroada de sucesso,<br />

mais não faz que conter estragos.<br />

Isto é, nos fumadores com<br />

sequelas inerentes à dependência<br />

os ganhos são menores dos<br />

que os conseguidos nos jovens<br />

que consigamos evitar que entrem<br />

no consumo. Portanto, prevenir<br />

é bem melhor política que<br />

tratar, sobretudo quando é tão difícil<br />

curar e sendo os ganhos escassos<br />

em muitos casos! Quanto<br />

à comparticipação da medicação<br />

de desabituação, não é linear que<br />

seja boa política, isto é, que melhore<br />

os resultados terapêuticos.<br />

Estes fármacos comportam-se<br />

um pouco como os milagres que<br />

só acontecem a quem tem muita<br />

fé. A medicação só atua em quem<br />

está muito empenhado em parar<br />

o consumo. E o empenhamento<br />

começa na disposição para pagar.<br />

Uma vez que o preço baixe<br />

aumentará o número de utilizadores,<br />

mas é previsível que este incremento<br />

se fará à custa dos fumadores<br />

menos comprometidos<br />

com a suspensão do vício, logo<br />

mais propensos ao falhanço. A<br />

menos que exista experiência<br />

que demonstre que a comparticipação<br />

destes fármacos melhore a<br />

efetividade, podemos prever que<br />

a um aumento de custos não se<br />

venham a se associar resultados<br />

melhores que os atuais.<br />

Os responsáveis pela saúde<br />

dos portugueses sabem perfeitamente<br />

que (i) é de longe melhor<br />

prevenir que remediar e (ii)<br />

a mais eficaz arma contra o tabagismo<br />

é justamente o aumento de<br />

preços acima dos 10%. A hierarquia<br />

das prioridades está invertida,<br />

mesmo no Plano Nacional<br />

de Saúde 2012-2016. O aumento<br />

de preços, seguido de medidas<br />

restritivas, remetendo para o fim<br />

o enfoque na terapêutica de cessação<br />

é a estratégia correta.<br />

Porquê então descartar a opção<br />

mais eficaz em prole de estratégias<br />

de resultados reconhecidamente<br />

medíocres? Neste jogo<br />

do gato e do rato entre as autoridades<br />

responsáveis por proteger<br />

a saúde das populações e a<br />

Big Tabacco (promotora do consumo<br />

de tóxicos altamente cancerígenos<br />

e responsáveis por<br />

uma plêiade de patologias letais<br />

e não letais), em Portugal, podem<br />

as ratazanas estar tranquilas, já<br />

que os amáveis tarecos são mais<br />

dados à cooperação de que ao<br />

estorvo. Exagero? Vejamos o que<br />

se passou com a recente legislação<br />

sobre tabaco.<br />

Embandeirou-se em arco porque<br />

as novas formas de consumo de<br />

tabaco foram equiparadas às tradicionais<br />

formas combustíveis.<br />

Mas houve um recuo em relação<br />

à anterior legislação: passou a<br />

ser permitido fumar à porta de estabelecimentos<br />

de ensino e instituições<br />

de prestação de cuidados<br />

de saúde, o que não passa duma<br />

maneira engenhosa de aliviar a<br />

proibição de publicidade ao tabaco.<br />

Os professores são figuras<br />

de referência para os adolescentes<br />

e, portanto, a imagem do docente<br />

a fumar torna-se uma forma<br />

subtil e barata de publicitar o tabaco.<br />

O mesmo se pode dizer de<br />

médicos e enfermeiros a fumegar<br />

à porta de hospitais e centros de<br />

saúde. Como diz um velho provérbio<br />

árabe “uma mão que reza<br />

e uma mão que mata”.<br />

4 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017


SAÚDE ONLINE | CRÓNICA<br />

A “velha” aspirina<br />

Reflexões sobre os resultados de um trabalho recente<br />

Luís Gouveia Andrade<br />

Médico Oftalmologista<br />

Grupo Lusíadas Saúde<br />

Director Geral da InfoCiência<br />

Num dos números de<br />

setembro do reputado<br />

jornal “Circulation”, um<br />

grupo de investigadores suecos<br />

estudou e avaliou o impacto<br />

da interrupção do uso a longo-prazo<br />

de aspirina em baixas<br />

doses, na ausência da necessidade<br />

de uma cirurgia major ou<br />

de um episódio de hemorragia,<br />

no risco de ocorrência de eventos<br />

cardiovasculares.<br />

Esse trabalho, conduzido na<br />

Suécia, incidiu sobre mais de<br />

600.00 utilizadores de aspirina<br />

em baixa dosagem (75-160 mg)<br />

num contexto de prevenção primária<br />

e secundária.<br />

Verificou-se que os pacientes que<br />

interromperam a aspirina apresentaram<br />

uma taxa 37% superior<br />

de eventos cardiovasculares em<br />

comparação com os que mantiveram<br />

essa utilização e esse valor<br />

correspondeu a um evento<br />

cardiovascular adicional por ano<br />

num em cada 74 dos doentes que<br />

interromperam a aspirina.<br />

Este aumento de risco ocorreu<br />

pouco tempo após a interrupção,<br />

ou seja, sem existir um intervalo<br />

de segurança, e não diminuiu ao<br />

longo do tempo.<br />

Qual a importância deste trabalho?<br />

Como sabemos, milhões de<br />

doentes em todo o mundo<br />

utilizam aspirina numa base diária.<br />

As recomendações atuais,<br />

de acordo com o U.S. Preventive<br />

Services Task Force, para esta<br />

utilização incluem pacientes com<br />

idade entre 50 e 59 anos, ausência<br />

de risco hemorrágico, presença<br />

de risco igual ou superior<br />

a 10% para enfarte do miocárdio,<br />

ou acidente cerebrovascular<br />

ao longo dos próximos 10 anos.<br />

Para idades entre os 60 e os 69<br />

anos, com os mesmos critérios<br />

de risco, essa opção deve ser<br />

cuidadosamente ponderada com<br />

o médico para uma avaliação individualizada<br />

da relação entre riscos<br />

e benefícios da utilização da<br />

aspirina. Antes dos 50 anos e<br />

acima dos 70 anos, essa recomendação<br />

ainda carece de investigação<br />

mais aprofundada e deverá<br />

ser validada cientificamente.<br />

De acordo com os resultados<br />

deste estudo, a aderência a esse<br />

tratamento é muito importante<br />

porque será muito provável que<br />

muitos desses milhões de pacientes<br />

decidam, em algum momento<br />

da sua vida e por variadíssimas<br />

razões, interromper a toma de aspirina<br />

durante um determinado<br />

período de tempo. E essa decisão<br />

pode ter consequências clinicamente<br />

muito significativas…<br />

Daqui resulta ser crucial uma<br />

adequada e regular comunicação<br />

entre médicos e doentes, de<br />

modo a que uma decisão relativa<br />

à interrupção da aspirina seja tomada<br />

de um modo consciente, informado<br />

e, sobretudo, seguro.<br />

Considero este trabalho digno de<br />

reflexão e partilha por diversas<br />

razões.<br />

Por um lado, é sempre bom ter<br />

presente que, na era das constantes<br />

inovações e revoluções terapêuticas,<br />

um tratamento clássico<br />

como este é ainda uma referência<br />

na prevenção cardiovascular.<br />

Esta persistência como válidas<br />

de atitudes terapêuticas clássicas,<br />

bem como outras, é um fiel<br />

marcador do carácter intemporal<br />

da prática médica, onde coexistem<br />

técnicas de engenharia molecular<br />

com o recurso ao gelo, ao<br />

calor ou… à aspirina.<br />

E isso é bom, por permitir a existência<br />

de um fio condutor que se<br />

iniciou há milénios, passa por nós<br />

e, muito provavelmente, se prolongará<br />

para lá de nós. Nem tudo<br />

é high tech na Medicina atual,<br />

nem tudo está ultrapassado, muitos<br />

dos pilares da prática médica<br />

permanecem robustos e resistentes<br />

a todas as turbulências próprias<br />

da evolução do pensamento<br />

médico e da tecnologia ao serviço<br />

da Medicina.<br />

Provavelmente, muitos doentes<br />

tomam aspirina de baixa dosagem<br />

por imitação dos seus pares<br />

ou por terem lido algures os seus<br />

potenciais benefícios. E, em muitos<br />

casos, nem informam o seu<br />

médico dessa utilização por a entenderem<br />

como um gesto quase<br />

rotineiro. E mais facilmente ainda<br />

optarão por interromper essa utilização<br />

de forma errática, muitas<br />

vezes sem uma razão aparente.<br />

Este estudo revela as potenciais<br />

implicações e riscos dessa prática<br />

e, mesmo não sendo possível<br />

identificar todos os pacientes<br />

que utilizam aspirina, fica aqui um<br />

útil alerta para estarmos sempre<br />

atentos e disponíveis e para, sempre<br />

que possível, contribuamos<br />

para difundir informações que podem<br />

fazer toda a diferença.<br />

O exemplo deste trabalho é paradigmático:<br />

o uso da “velha” aspirina<br />

pode e deve reger-se por todas<br />

as cautelas de modo a dela<br />

se retirarem todos benefícios<br />

clínicos. Utilizá-la bem implica<br />

igualmente saber que a sua interrupção<br />

pode ser prejudicial.<br />

O mesmo raciocínio se deverá<br />

aplicar a outros medicamentos e<br />

o reforço dessa mensagem é, por<br />

isso, da maior importância.<br />

Excelente trabalho. Pelo que<br />

revela e pelo que faz pensar…<br />

6 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017


SAÚDE ONLINE | nacional<br />

Portugal acima da média<br />

europeia na utilização<br />

de tecnologias na saúde<br />

A conclusão foi apresentada na 1.ª Edição do Hintt - Health Intelligent Talks & Trends,<br />

que teve lugar no início do mês de outubro na Fundação Champalimaud e juntou mais<br />

de 300 profissionais da saúde, gestão e IT.<br />

A<br />

primeira edição do Hintt<br />

– Health Intelligent Talks<br />

& Trends decorreu no<br />

dia 4 de outubro, na Fundação<br />

Champalimaud e juntou mais de<br />

300 profissionais de saúde, gestão<br />

e TI. O evento procurou debater<br />

e refletir sobre as tecnologias<br />

de saúde e o impacto das TI para<br />

as instituições, o utente e, especialmente,<br />

para o cidadão. O<br />

Hintt contou com a presença de<br />

oradores como John Rayner, que<br />

apresentou dados que evidenciam<br />

que Portugal está acima da<br />

média europeia na utilização de<br />

tecnologias no sistema de saúde.<br />

O médico, geneticista, autor e palestrante<br />

húngaro Bertalan Meskó,<br />

The Medical Futurist, foi o grande<br />

destaque do evento, graças a uma<br />

apresentação criativa que comparava<br />

os serviços de saúde atuais a<br />

um astronauta sozinho em Marte:<br />

o paciente de hoje em dia sente-se<br />

Filipa Fixe, Diretora de Healthcare da<br />

Glintt, anunciou que as candidaturas<br />

para o prémio de 2018 estão abertas<br />

até 21 de maio do próximo ano<br />

isolado, recebe informação de<br />

uma forma distante e pouco personalizada,<br />

e segue apenas ordens.<br />

O orador de 32 anos mostrou<br />

que é necessário tornar o cidadão<br />

no verdadeiro foco do sistema<br />

de saúde, para que este seja<br />

parte do tratamento e atendimento<br />

médico, que deve ser focado na<br />

saúde e não na doença. Por isso,<br />

é na tecnologia que vê a oportunidade<br />

para criar um sistema de<br />

saúde realmente acessível, personalizado,<br />

preventivo e humano.<br />

Alexandre Quintanilha também<br />

esteve presente no evento, com<br />

um debate que procurou explorar<br />

as oportunidades e ameaças da<br />

Big Data nos dias de hoje. Para<br />

o físico e antigo professor, as<br />

novas tecnologias surgem como<br />

forma de tratamento da informação<br />

com que somos confrontados<br />

diariamente - o que pode resultar,<br />

na sua opinião, no empowerment<br />

dos cuidados de saúde no seu<br />

todo. Mas Alexandre Quintanilha<br />

deixou alertas, principalmente no<br />

que diz respeito à quantidade,<br />

qualidade e propósito dos dados<br />

que são recolhidos e transmitidos<br />

no tratamento das tecnologias de<br />

informação e da saúde.<br />

Estes alertas foram partilhados<br />

um pouco por todos os painéis.<br />

Sem exceção, a Mesa Debate,<br />

moderada por Pedro Pinto e que<br />

contou com a participação de<br />

Paulo Gonçalves, Nuno Sousa,<br />

Maria de Belém e Bertalan Meskó<br />

explorou assuntos como a garantia<br />

da confidencialidade na partilha<br />

de dados, no impacto das<br />

tecnologias para as instituições<br />

de saúde e cidadãos e necessidade<br />

de atualização dos quadros<br />

regulatórios.<br />

O Hintt não se despediu sem<br />

que antes Filipa Fixe, Diretora de<br />

Healthcare da Glintt, anunciasse<br />

o Prémio Hintt para 2018, que se<br />

vai dividir nas categorias Patient<br />

Safety, Value proposition, Clinical<br />

Outcomes e Startup Inovation. As<br />

candidaturas estão abertas até<br />

21 de maio do próximo ano e os<br />

vencedores serão anunciados na<br />

2ª Edição do Hintt, já marcada<br />

para 3 de outubro de 2018.<br />

Comunicado/SO<br />

8 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017


CRÓNICA | SAÚDE ONLINE<br />

Distonia:<br />

contrair involuntariamente<br />

os músculos<br />

Patrícia Pita Lobo<br />

Médica neurologista no Hospital<br />

Professor Doutor Fernando<br />

da Fonseca<br />

Membro da Sociedade<br />

Portuguesa de Doenças<br />

do Movimento<br />

A<br />

distonia é uma doença<br />

neurológica rara.<br />

Caracteriza-se por contrações<br />

musculares involuntárias<br />

que concionam movimentos e/ou<br />

posturas anormais, que podem<br />

estar presentes em uma ou mais<br />

zonas do corpo.<br />

A distonia pode ter uma causa<br />

genética, pode estar associada<br />

a outras doenças ou ser secundária<br />

a traumatismos cranianos,<br />

mas a maioria não apresenta<br />

uma causa conhecida.<br />

A distonia no adulto manifestase<br />

habitualmente entre os 40 e<br />

os 50 anos, é mais frequente no<br />

sexo feminino, e caracteriza-se<br />

por atingir apenas um segmento<br />

do corpo.<br />

Quando os olhos são o segmento<br />

do corpo atingido designamos<br />

por blefarospasmo (do grego: blepharo,<br />

pálpebra e espasmo, contração<br />

involuntária). Esta doença<br />

manifesta-se por um aumento<br />

exagerado da frequência do pestanejo<br />

(o doente está sempre a<br />

piscar os olhos). Nos casos graves,<br />

o doente apresenta um encerramento<br />

forçado dos olhos,<br />

não conseguindo abri-los de<br />

forma voluntária, o que condiciona<br />

uma quase «cegueira» (o<br />

doente é incapaz de ver porque<br />

tem os olhos permanentemente<br />

fechados).<br />

Torticollis (do latim tortus, torcido,<br />

e collum, pescoço) é o termo<br />

usado para designar a distonia<br />

do pescoço. Observam-se posturas<br />

e/ou movimentos anormais<br />

da cabeça e pescoço, que são<br />

por vezes espasmódicos/bruscos.<br />

O doente aparenta ter o pescoço<br />

torto ou parece que está<br />

a contorcê-lo constantemente.<br />

Pode ainda queixar-se simultaneamente<br />

de dor no pescoço.<br />

Por vezes, a distonia cervical associa-se<br />

a tremor da cabeça (o<br />

doente abana a cabeça como se<br />

estivesse a dizer constantemente<br />

que «sim» ou que «não»).<br />

A distonia cervical e o blefarospasmo<br />

são as duas formas mais<br />

comuns de distonia no adulto. No<br />

entanto, os movimentos anormais<br />

podem ser observados nos membros,<br />

na boca, nas cordas vocais.<br />

Alguns doentes queixamse<br />

também de movimentos anormais<br />

que surgem apenas durante<br />

a execução de determinadas tarefas,<br />

por exemplo durante a escrita,<br />

e designa-se de cãibra de<br />

escrivão (a postura anormal da<br />

mão só surge quando o doente<br />

tenta escrever).<br />

Na infância, a distonia caracteriza-se<br />

por atingir, habitualmente,<br />

múltiplos segmentos do corpo simultaneamente<br />

(por exemplo,<br />

tronco e membros), designandose<br />

de distonia generalizada.<br />

Trata-se habitualmente de uma<br />

doença genética e, por isso, pode<br />

ser transmitida de pais para filhos.<br />

Como curiosidade, alguns doentes<br />

com distonia apresentam o<br />

«gesto antagonista». Trata-se<br />

de uma manobra que o doente<br />

faz e que alivia transitoriamente<br />

a postura anormal (por exemplo,<br />

alguns doentes com Torticollis,<br />

com torção da cabeça, referem<br />

que basta tocar no queixo de<br />

forma ligeira para a cabeça voltar<br />

à posição normal).<br />

Existem atualmente vários tratamentos,<br />

potencialmente benéficos<br />

que podem ser oferecidos<br />

aos doentes. Estes podem ser<br />

usados de forma isolada ou em<br />

combinação dependendo do tipo<br />

de distonia.<br />

A terapêutica oral, sob a forma<br />

de comprimidos tomados diariamente,<br />

produz um alívio da contração<br />

muscular anormal e, por<br />

conseguinte, a melhoria dos movimentos<br />

involuntários.<br />

O tratamento com toxina botulínica<br />

consiste na injeção do medicamento<br />

nos músculos afetados.<br />

Esta tem um poder relaxante<br />

muscular direto, reduzindo as<br />

contrações involuntárias do músculo<br />

injetado e, por conseguinte,<br />

diminui as posições anormais.<br />

A duração do efeito de cada injeção<br />

é de cerca de três a seis<br />

meses, pelo que deve ser repetido<br />

periodicamente. Trata-se de<br />

um tratamento que é realizado<br />

em consulta, por um médico neurologista<br />

treinado na realização<br />

deste procedimento.<br />

E por último, quando as terapêuticas<br />

menos invasivas falham ou<br />

a melhoria é parcial e insatisfatória,<br />

alguns doentes, dependendo<br />

do tipo de distonia, têm indicação<br />

para realizar a cirurgia cerebral.<br />

novembrO 2017 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 9


SAÚDE ONLINE | CRÓNICA<br />

Lápis azul<br />

O consenso na saúde ou o grande logro?<br />

Rui Cernadas<br />

Competência em Medicina<br />

Farmacêutica da Ordem<br />

dos Médicos<br />

A<br />

Saúde parece ser um bem<br />

inalienável e que todos<br />

os cidadãos reivindicam<br />

mesmo quando não adotam comportamentos<br />

saudáveis ou responsáveis.<br />

Sobretudo quando<br />

se tem presente a doença e se<br />

sente sofrimento em todas as<br />

suas dimensões.<br />

E mais ainda quando se fala em<br />

dinheiro e nos lembramos que<br />

é a primeira causa de perda do<br />

produto interno bruto (PIB) a nível<br />

mundial!<br />

As estimativas da Organização<br />

Mundial de Saúde colocam a fasquia,<br />

para 2030, acima dos 50 triliões<br />

de dólares!<br />

Esta é a única razão plausível<br />

que leva a que os políticos e os<br />

decisores entendam a Saúde<br />

como estratégica para a economia<br />

mundial e nacional.<br />

Tudo o resto é demagogia e falta<br />

de vergonha ou, enfim, condescendendo,<br />

um convite ao brilhantismo<br />

académico na procura de<br />

outros argumentos…<br />

Quando leio que a Saúde é um<br />

campo de grandes consensos ou<br />

que, só a Saúde reúne terreno sólido<br />

para consenso, arrepio-me.<br />

Não há consenso desde logo entre<br />

os profissionais de saúde.<br />

E mesmo dentro das suas<br />

Ordens Profissionais são conhecidas<br />

e identificadas as naturais<br />

diferenças e posições, básicas e<br />

óbvias, até pelos enquadramentos<br />

socioprofissionais e legais<br />

nas actividades desempenhadas,<br />

aos padrões de vínculo contratual,<br />

aos níveis assistenciais<br />

praticados, às assimetrias regionais,<br />

aos perfis etários, à densidade<br />

demográfica das especialidades<br />

e áreas e, enfim, ao enfeudamento<br />

claro às vertentes sindicais,<br />

quando não partidárias.<br />

Pese embora o discurso da interdisciplinaridade<br />

e do trabalho<br />

em equipa, as excepções não fazem<br />

nem a regra, nem a cor dominante.<br />

São conhecidas as reservas<br />

que se levantam em muitos<br />

territórios e sectores, médicos<br />

e enfermeiros, hospitalares e não<br />

hospitalares, enfermeiros generalistas<br />

e especialistas, enfermeiros<br />

de reabilitação e fisioterapeutas,<br />

técnicos de diagnóstico e outros<br />

técnicos, administradores hospitalares<br />

e médicos, por aí fora…<br />

Atente-se que quando lemos as<br />

tais notícias em prol do Consenso<br />

na Saúde, lá estão enumeradas<br />

as escolas médicas, os hospitais<br />

privados, as associações de sectores<br />

convencionados, o termalismo,<br />

a indústria farmacêutica<br />

e de diagnósticos e tecnologias<br />

médicas, as seguradoras e os<br />

bancos, as associações de doentes<br />

ou tentes, mas faltam sempre<br />

os profissionais e os contribuintes<br />

individuais.<br />

O Consenso, na minha linguagem<br />

de há muitos anos, o pacto<br />

de regime, deveria ser muito<br />

mais amplo para ser possível e<br />

envolvente.<br />

Muito mais além do que a calendarização<br />

ao toque para todas as<br />

greves em simultâneo e em consonância<br />

mais ou menos precipitada,<br />

ainda que também mais<br />

ou menos justa e justificada pelos<br />

disparates de grupos e comissões<br />

de trabalho e de estudo sem<br />

fim e sem jeito!<br />

Precisa de “atropelar” o princípio<br />

a que se ancora em termos de valor<br />

económico e social e que se<br />

define sempre na ideia de que,<br />

o investimento público na saúde<br />

dos Portugueses representa<br />

cerca de 2/3 da média dos países<br />

da OCDE.<br />

O logro, ou o perigo do logro,<br />

parte deste ponto.<br />

É que logo a seguir alguém vai<br />

dizer – “ponha-se mais investimento<br />

público na saúde” – porque<br />

o país tem um PIB per capita de<br />

cerca de 73% da média dos países<br />

da OCDE.<br />

Esta foi a fórmula que nos trouxe<br />

até hoje. Pôr dinheiro, sempre<br />

mais dinheiro em cima dos problemas,<br />

dos buracos, das ineficiências<br />

do sistema de saúde, das faltas<br />

de planeamento e de decisão!<br />

A vontade dos políticos, de alguns,<br />

pode até ser genuína e honesta.<br />

Mas o Consenso da Saúde deveria<br />

em Portugal partir de um grau<br />

de entendimento prévio, coerente,<br />

profundo, concertado e voluntário<br />

das Ordens Profissionais<br />

e dos meios de comunicação social<br />

que, até em nome da sua sobrevivência<br />

a prazo, precisam de<br />

assumir grandes batalhas na formação<br />

da opinião dos cidadãos e<br />

dos eleitorados.<br />

10 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017


SAÚDE ONLINE | entrevista<br />

Eduardo Pinto-Leite<br />

Diretor-geral da GSK Portugal<br />

para a área farmacêutica<br />

Portugueses acedem tarde<br />

à inovação terapêutica<br />

Doentes portugueses são diariamente prejudicados face a doentes de outros estados-membros,<br />

por não terem acesso à inovação na mesma altura<br />

12 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017


entrevista | SAÚDE ONLINE<br />

Quarta maior multinacional farmacêutica a<br />

nível mundial, a GSK carrega um lastro de<br />

história de sucesso na inovação farmacêutica…<br />

Fale-nos um pouco dessa história….<br />

De facto, temos um legado superior a 300<br />

anos, ao longo dos quais, impulsionados pela<br />

ciência e inovação, nos temos dedicado à investigação,<br />

desenvolvimento e fabrico de medicamentos<br />

inovadores, vacinas e produtos<br />

de grande consumo.<br />

Mais recentemente, nos últimos 50 anos, fomos<br />

responsáveis pelo lançamento de medicamentos<br />

revolucionários na área respiratória<br />

– nomeadamente para a Asma e DPOC – antibióticos,<br />

que continuam a ser efetivos, fármacos<br />

antirretrovirais, que mudaram o paradigma<br />

do tratamento do HIV, e um conjunto<br />

muito alargado de vacinas, por exemplo, para<br />

a prevenção do rotavírus, da Hepatite B e da<br />

Meningite, apenas para citar alguns casos.<br />

A nível Global, a GSK está presente em<br />

quantos países?<br />

A nível global, a GSK tem presença em mais<br />

de 150 países e emprega cerca de 100 mil<br />

colaboradores.<br />

Qual o número de colaboradores afeto à<br />

investigação e desenvolvimento de novos<br />

produtos?<br />

Contamos com uma equipa superior a 11<br />

mil profissionais na área de Investigação &<br />

Desenvolvimento (I&D) e, adicionalmente, temos<br />

parcerias com 1.500 organizações académicas,<br />

científicas e outros players do setor,<br />

com quem colaboramos para alavancar projetos<br />

de I&D.<br />

Em Portugal, o Grupo GSK emprega<br />

cerca de 250 profissionais nas três áreas<br />

(Farmacêutica, Consumer Healthcare e ViiV<br />

Healthcare).<br />

Quais as principais áreas de atuação da<br />

GSK?<br />

O universo GSK está organizado em três grandes<br />

realidades: Farmacêutica, que engloba a<br />

investigação, desenvolvimento, produção e<br />

comercialização de um portfólio muito alargado<br />

de medicamentos, inovadores e estabelecidos,<br />

para tratar um vasto conjunto de<br />

doenças, agudas e crónicas, assumindo posições<br />

de liderança em doenças respiratórias.<br />

Inserido na área Farmacêutica está o negócio<br />

das Vacinas, em que contamos com o portfólio<br />

mais abrangente da indústria. Entregamos<br />

mais de dois milhões de doses de vacinas,<br />

todos os dias, para pessoas em mais de 150<br />

países; Consumer Healthcare, que se dedica<br />

ao desenvolvimento e comercialização de algumas<br />

das marcas de confiança mundiais<br />

para a dor, sistema respiratório, saúde oral,<br />

«Mais do que os<br />

produtos e as soluções<br />

que desenvolvemos<br />

e disponibilizamos,<br />

acreditamos que aquilo que<br />

nos diferencia é a nossa<br />

forma de trabalhar e a<br />

maneira especial como as<br />

nossas pessoas encaram os<br />

seus desafios diário»<br />

nutrição, sistema gastrointestinal e dermatologia,<br />

com produtos como Voltaren, Panadol<br />

ou Sensodyne; e a ViiV Healthcare, empresa<br />

que nasceu de uma parceria entre a GSK e<br />

a Pfizer e a que se juntou recentemente a<br />

Shionogi, que se dedica à descoberta e desenvolvimento<br />

de soluções inovadoras de<br />

tratamento para o HIV, sendo que, até ao momento,<br />

conta com um portfólio de 12 opções<br />

terapêuticas.<br />

Qual o volume de faturação global?<br />

Em 2016, a área farmacêutica gerou um volume<br />

de vendas de £20.7 mil milhões, sendo<br />

que £16.1 mil milhões foi a faturação relativa<br />

a medicamentos e £4.6 mil milhões referentes<br />

a vacinas.<br />

Os resultados líquidos do Grupo GSK, o ano<br />

passado, foram £6.5 mil milhões, o que constituiu<br />

um crescimento assinalável, tendo em<br />

conta os £2.6 mil milhões de 2015.<br />

O que distingue a GSK dos demais operadores<br />

do setor?<br />

Mais do que os produtos e as soluções que desenvolvemos<br />

e disponibilizamos, acreditamos<br />

novembrO 2017 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 13


SAÚDE ONLINE | entrevista<br />

do mercado, sem descurar a preparação dos<br />

próximos lançamentos, que já referi atrás.<br />

que aquilo que nos diferencia é a nossa forma<br />

de trabalhar e a maneira especial como as nossas<br />

pessoas encaram os seus desafios diários.<br />

E temos vindo a receber uma série de sinais<br />

positivos, por parte do mercado, relativamente<br />

ao reconhecimento da nossa forma de<br />

trabalhar. Em agosto passado, por exemplo,<br />

a “British Medical Journal” publicou os resultados<br />

do ranking da Transparência “Alltrials”<br />

e a GSK lidera a lista, entre um conjunto de<br />

46 companhias farmacêuticas multinacionais.<br />

A GSK foi reconhecida como uma referência<br />

no que diz respeito à sua política e compromisso<br />

de partilhar toda a informação relativa<br />

aos seus ensaios clínicos, independentemente<br />

dos resultados.<br />

Mais recentemente, no início de setembro,<br />

fomos reconhecidos como uma referência<br />

em sustentabilidade corporativa, pelo “Dow<br />

Jones Sustainability World Index” (DJSI) e no<br />

ano passado, fomos considerados a companhia<br />

n.º1 do ranking “Change the World”, pela<br />

revista “Fortune”, que avalia as organizações<br />

mais comprometidas no sentido de incorporar,<br />

no seu negócio, estratégias e soluções<br />

para responder aos grandes problemas das<br />

sociedades contemporâneas.<br />

Qual o investimento global em I&D?<br />

Em 2016, investimos £3.6 mil milhões em I&D.<br />

Quais os produtos mais promissores do<br />

pipeline da companhia (em que áreas e estado<br />

de desenvolvimento)?<br />

A nível global estamos focados em seis grandes<br />

«Temos de conseguir<br />

introduzir e disponibilizar<br />

à população as opções<br />

terapêuticas e as tecnologias<br />

de saúde mais inovadoras,<br />

com o contributo e o<br />

compromisso de todos os<br />

stakeholders relativamente à<br />

sua viabilidade económica.»<br />

áreas de investigação: doenças respiratórias,<br />

HIV/doenças infeciosas, vacinas, doenças imunoinflamatórias,<br />

oncologia e doenças raras.<br />

No que diz respeito a próximos lançamentos,<br />

a nossa expetativa é que, a curto prazo, a<br />

GSK receba aprovação para a primeira vacina<br />

para o Herpes Zoster (vulgarmente conhecido<br />

por “Zona”); a terapêutica tripla fechada para<br />

a DPOC; uma formulação subcutânea de uma<br />

terapêutica para o Lúpus; e um novo medicamento<br />

anticorpo monoclonal para a Artrite<br />

Reumatóide. Em termos globais, a previsão<br />

da companhia é que os novos produtos representem<br />

£1.5 mil milhões de vendas em 2019.<br />

Está nos planos da companhia investir em<br />

novas áreas terapêuticas?<br />

O que nos pedem, neste momento, é que<br />

nos concentremos em defender a posição<br />

de liderança na área respiratória, em que temos<br />

o portfólio mais completo e abrangente<br />

Qual a política de investimento para<br />

Portugal?<br />

A política de investimento para Portugal segue<br />

a estratégia global da companhia, ou<br />

seja, privilegia todos os projetos relacionados<br />

com as nossas três grandes prioridades:<br />

Inovação, Performance e Confiança.<br />

Assim, mais recentemente, temos investido<br />

em projetos educacionais, que permitam afirmar<br />

o cariz inovador da nossa companhia<br />

e, simultaneamente, contribuir para um aumento<br />

da literacia em saúde da nossa população<br />

e aproximar os profissionais de saúde dos<br />

utentes. Exemplo disso é a iniciativa “Vencer<br />

a Asma”, promovida pela GSK Portugal,<br />

em parceria com a ANF, APMGF, GRESP,<br />

Fundação Portuguesa do Pulmão, SPAIC e<br />

a Associação Portuguesa de Asmáticos. A<br />

campanha foi lançada este ano, com o duplo<br />

objetivo de alertar para a importância do<br />

controlo da doença asmática e de sensibilizar<br />

para a relevância de uma comunicação efetiva<br />

entre os profissionais de saúde e os doentes<br />

asmáticos.<br />

Neste primeiro ano de campanha, implementamos<br />

um conjunto de ações, nomeadamente,<br />

um roadshow que passou por oito cidades do<br />

país, com especialistas a esclarecer a população<br />

sobre a patologia; lançamos o site www.<br />

venceraasma.com, onde se pode saber mais<br />

sobre a doença, conhecer a iniciativa e os<br />

parceiros envolvidos; e apoiamos publicações<br />

institucionais sobre a dimensão do problema<br />

da Asma em Portugal, para sensibilizar todos<br />

os stakeholders para esta temática.<br />

O mercado português, com as suas regras,<br />

é “complicado”?<br />

O mercado português não é “complicado”.<br />

O que acontece é que temos vivido, no passado<br />

recente, tempos muito exigentes e extremamente<br />

duros, com grande impacto na<br />

realidade económica, financeira e social de<br />

Portugal e dos portugueses.<br />

No caso da saúde, a pressão orçamental tem<br />

sido muito elevada e, agora, há que procurar<br />

reequacionar e conseguir um equilíbrio que,<br />

sem comprometer o défice orçamental, permita<br />

dar resposta às atuais necessidades sociais<br />

do país em termos de saúde. Isto é, temos<br />

de conseguir introduzir e disponibilizar à<br />

população as opções terapêuticas e as tecnologias<br />

de saúde mais inovadoras, com o<br />

contributo e o compromisso de todos os stakeholders<br />

relativamente à sua viabilidade<br />

económica.<br />

Para isso, parece-nos importante repensar<br />

o orçamento público, nomeadamente na<br />

14 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017


entrevista | SAÚDE ONLINE<br />

despesa com medicamentos, que caiu mais<br />

de 30% durante o programa de ajustamento<br />

económico. Enquanto o processo orçamental<br />

não for revisto, no sentido de existir uma<br />

maior aproximação entre os responsáveis das<br />

finanças e os responsáveis da saúde, para<br />

que se compreenda a realidade do setor e as<br />

necessidades concretas, este sub-financiamento<br />

irá continuar.<br />

Quais os principais problemas que enfrenta<br />

uma companhia como a GSK em<br />

Portugal?<br />

A GSK, enquanto companhia farmacêutica<br />

multinacional a operar em Portugal, enfrenta<br />

praticamente os mesmos desafios que os outros<br />

players. Esses desafios são conhecidos<br />

e consistem, principalmente, na introdução da<br />

inovação terapêutica, em que os doentes portugueses<br />

são diariamente prejudicados face a<br />

doentes de outros estados-membros, por não<br />

terem acesso à inovação na mesma altura.<br />

Consideramos fundamental os processos serem<br />

mais céleres, para se conseguir dar resposta<br />

às novas e crescentes necessidades<br />

que a comunidade médica, por um lado, e os<br />

doentes, por outro, sentem diariamente. Para<br />

isso, é importante que se olhe para a questão<br />

da inovação não como um “problema” de finanças<br />

públicas, mas como um investimento<br />

na saúde e na produtividade dos portugueses.<br />

As alterações recentes no acesso à inovação,<br />

com a imposição de Programas de<br />

Acesso Precoce, de disponibilização gratuita,<br />

preocupam-no?<br />

Os Programas de Acesso Precoce nascem,<br />

precisamente, devido à morosidade na<br />

aprovação de novas moléculas. No entanto,<br />

foi graças a estes programas que muitos<br />

doentes, a maioria deles a sofrer de patologias<br />

com índices de mortalidade muito elevados,<br />

conseguiram ter acesso a medicamentos<br />

que, em alguns casos, são life-saving.<br />

Nesse sentido, parece-nos uma iniciativa positiva,<br />

uma vez que coloca os doentes em primeiro<br />

lugar, o que deve acontecer sempre. No<br />

entanto, é importante não desvirtuar o conceito<br />

dos Programas de Acesso Precoce, que<br />

nasceram para dar resposta a casos extremos<br />

e enquanto uma exceção ao procedimento<br />

standard de aprovação e comparticipação<br />

de novos medicamentos. Se a aprovação da<br />

inovação acontecer em prazos considerados<br />

aceitáveis, este tipo de programas deixa de ter<br />

motivo de existir, o que é benéfico para todos.<br />

A Transparência é uma das “marcas” que a<br />

GSK sublinha como parte do seu “DNA”….<br />

Como se concretiza?<br />

A transparência está perfeitamente imbuída<br />

na nossa cultura organizacional e é transformada<br />

em ação de diversas formas: todas as<br />

nossas atitudes e palavras são justas e claras;<br />

procuramos, em todos os momentos e situações,<br />

fornecer sempre informações relevantes<br />

e precisas, mesmo quando isso seja<br />

eventualmente prejudicial para o nosso negócio;<br />

defendemos as nossas posições, colocando<br />

o doente no centro de tudo o que fazemos,<br />

de forma convicta e íntegra.<br />

Ser transparente é, também, proibir o pagamento<br />

a profissionais de saúde para falarem<br />

sobre o nosso portfólio, pagar entradas<br />

em congressos ou suportar despesas de<br />

viagens para reuniões. O mais importante é<br />

a credibilidade da nossa organização e dos<br />

nossos produtos e isso consegue-se com<br />

uma postura transparente, íntegra e espírito<br />

de missão para com o doente.<br />

Pegada social…. Projetos com a comunidade:<br />

o que têm feita nesta área?<br />

Mais do que projetos de responsabilidade social,<br />

procuramos desenvolver, sempre que<br />

possível em parceria com outras entidades,<br />

iniciativas transformadoras da sociedade e<br />

que estejam integradas na nossa estratégia<br />

de negócio.<br />

Um excelente exemplo é a parceria com a<br />

Save the Children, que teve início em maio<br />

de 2013, com uma ambição muito específica:<br />

ajudar a salvar a vida de, pelo menos, um milhão<br />

de crianças. O conceito inovador dessa<br />

parceria levou-nos a reformular um simples<br />

anti-séptico, componente no nosso elixir<br />

Corsodyl, que poderia ajudar a prevenir infeções<br />

do cordão umbilical em récem-nascidos,<br />

uma das principais causas de morte neonatal<br />

nos países em desenvolvimento. Essa parceria<br />

foi considerada como a “mais admirada”,<br />

pelo segundo ano consecutivo, pelo “C&E<br />

Corporate-NGO Partnerships Barometer”.<br />

Posso ainda referir, a título de exemplo, a<br />

colaboração com a “Bill & Melinda Gates<br />

Foundation” e a PATH Malaria Vaccine<br />

Initiative, que tem como objetivo combater<br />

a malária em África, uma doença que vitima<br />

uma criança deste continente a cada dois minutos.<br />

No âmbito dessa parceria, a GSK está<br />

a disponibilizar a sua vacina para a malária,<br />

que resultou de um investimento superior a 30<br />

anos de investigação científica, sem qualquer<br />

margem de lucro.<br />

novembrO 2017 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 15


SAÚDE ONLINE | entrevista<br />

Helder Pereira<br />

diretor do Serviço de Cardiologia no Hospital Garcia<br />

de Orta e coordenador da iniciativa Stent Save a Life<br />

Transporte pré-hospitalar<br />

como elemento chave<br />

no sucesso de uma rede<br />

de tratamento de enfarte<br />

No dia Mundial do Coração, que se assinalou a 29 de setembro, o <strong>SaúdeOnline</strong> entrevistou<br />

o cardiologista Hélder Pereira, diretor do Serviço de Cardiologia no Hospital Garcia de Orta e<br />

coordenador da iniciativa Stent Save a Life…<br />

Em busca de informação sobre as muitas<br />

doenças que afetam o órgão vital,<br />

que são a principal cauda de morte em<br />

Portugal e dentro dela, a mais letal: o Enfarte<br />

agudo do Miocárdio (EAM), cujos sintomas,<br />

que muitos ainda desconhecem, apesar das<br />

inúmeras campanhas de sensibilização, são<br />

frequentemente desvalorizados pelos doentes,<br />

que perante sintomatologia típica, recorrem<br />

aos serviços de saúde pelos seus próprios<br />

meios, ao invés de recorrerem à linha de<br />

emergência nacional – garantida pelo INEM<br />

– atrasando frequentemente, com resultados<br />

dramáticos, o acesso aos serviços especializados,<br />

existentes em hospitais de referência<br />

para este tipo de eventos.<br />

Pese o elevado número de doentes que perante<br />

sintomas sugestivos de se estar perante<br />

um enfarte agudo do miocárdio não ligam<br />

para o INEM (em 20<strong>08</strong> representavam 77%<br />

do total), Portugal tem registado, nos últimos<br />

anos, graças às campanhas de informação<br />

organizadas pelas sociedades científicas e<br />

pelas autoridades de saúde, uma melhoria<br />

muito expressiva deste indicador. De acordo<br />

com dados recentes, atualmente, “40% das situações<br />

são reportadas ao INEM, permitindo<br />

o encaminhamento dos doentes para centros<br />

especializados no tratamento com larga<br />

experiência e resultados que colocam o país<br />

num patamar de sucesso sobreponível a muitos<br />

dos seus congéneres europeus”, como a<br />

Espanha, Bélgica ou o Reino Unido.<br />

16 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017


entrevista | SAÚDE ONLINE<br />

No dia Mundial do Coração, o <strong>SaúdeOnline</strong><br />

entrevistou o cardiologista Hélder Pereira, diretor<br />

do Serviço de Cardiologia no Hospital<br />

Garcia de Orta e coordenador da iniciativa<br />

Stent Save a Life…<br />

Ao nosso jornal, o especialista começa por<br />

destacar os avanços alcançados nos últimos<br />

anos “registou-se uma evolução muito positiva,<br />

aponta: “Há cerca de uma década éramos<br />

um dos países europeus com uma das<br />

mais baixas taxas de angioplastia primária.<br />

Em cerca de uma década triplicamos o número<br />

de doentes tratados por angioplastia e<br />

presentemente temos números dentro de média<br />

europeia. Os países do norte da Europa<br />

apresentam taxas mais elevadas, mas aí provavelmente<br />

a incidência de enfarte é mais elevada<br />

do que nos países mediterrânicos onde<br />

nos incluímos”, acrescenta.<br />

Ainda assim lamenta, “os nossos doentes<br />

ainda demoram muito tempo entre o começo<br />

dos sintomas e o pedido de ajuda. Em média<br />

passam cerca de duas horas entre o início<br />

dos sintomas até que o doente chegue ao<br />

hospital. Este tempo é muito precioso. Se o<br />

conseguirmos reduzir também reduzimos as<br />

sequelas.”, defende.<br />

Para especialista, o transporte pré-hospitalar<br />

é um dos principais, senão mesmo o principal<br />

elemento chave no sucesso de uma rede de<br />

tratamento de enfarte.<br />

Quando o projeto “Stent for Life” (SFL) uma iniciativa<br />

conjunta da Associação Portuguesa de<br />

Intervenção Cardiovascular e da Sociedade<br />

Portuguesa de Cardiologia se iniciou em<br />

Portugal, em 2011, as ambulâncias do INEM<br />

ainda não enviavam o ECG para os centros de<br />

cardiologia da intervenção nem contactavam<br />

diretamente com esses centros.<br />

“Hoje, e graças a um projeto de parceria acolhido<br />

com entusiasmo pelo INEM, foi possível<br />

por em prática duas medidas fundamentais: o<br />

INEM passou a ter o número direto e a falar diretamente<br />

com os cardiologistas de intervenção<br />

e passou a enviar o ECG para esses centros.<br />

Outra medida fundamental foi o facto de<br />

o INEM passar a fazer o “bypass” aos hospitais<br />

sem cardiologia de intervenção, mesmo<br />

que esses fossem os mais próximos, e conduzir<br />

diretamente os doentes para os hospitais<br />

mais especializados”, assinala Hélder Pereira.<br />

E que sintomas deverão suscitar os cuidados<br />

preconizados? Hélder Pereira, aponta: “os<br />

sintomas do Enfarte do Miocárdio são dor no<br />

peito (aperto, pressão, ardor) com irradiação<br />

aos membros superiores (braço esquerdo,<br />

costas e pescoço, dorso ou mandíbula)...”<br />

“Perante estes sintomas, não pode haver<br />

qualquer hesitação: ligar imediatamente para<br />

o 112, informar sobre os sintomas e aguardar<br />

a chegada de ajuda”, explica o especialista,<br />

que destaca o facto de o País estar dotado<br />

de uma boa rede de centros de cardiologia<br />

de intervenção. “Cobre praticamente todo o<br />

território nacional. Com poucas lacunas: “na<br />

Beira Interior, provavelmente, faria sentido ter<br />

um centro já que se tem verificado que é difícil<br />

os doentes dessa zona serem tratados até<br />

duas horas entre o início da dor até a abertura<br />

da artéria, já que os doentes têm de ser<br />

enviados, ou para Viseu, ou para Coimbra<br />

por falta de um centro de cardiologia de intervenção<br />

na Covilhã.<br />

Outro aspeto relevante na arquitetura do sistema<br />

de resposta em que ainda é necessário<br />

algum investimento, é o da formação dos profissionais,<br />

particularmente os que são destacados<br />

para os serviços de urgência. Para colmatar<br />

as lacunas, no âmbito do projeto Stent<br />

Save a Life e Stent for a Life, têm sido desenvolvidos<br />

programas educacionais, os STEMI<br />

CARE, que são cursos avançados em abordagem<br />

intra-hospitalar precoce do enfarte<br />

agudo do miocárdio, visando um diagnóstico<br />

mais célere do EAM.<br />

«Hoje, e graças a um projeto<br />

de parceria com o INEM, foi<br />

possível por em prática duas<br />

medidas fundamentais: o<br />

INEM passou a ter o número<br />

direto e a falar diretamente<br />

com os cardiologistas de<br />

intervenção e passou a enviar<br />

o ECG para esses centros.»<br />

Um dos obstáculos apontados por Hélder<br />

Pereira a uma maior eficiência do sistema<br />

atualmente implantado, reside no facto de<br />

“o sistema de triagem de Manchester, atribuir<br />

a cerca de 20% dos doentes que chegam<br />

via INEM com indicação de encaminhamento<br />

para angiografia – que são apenas<br />

uma parte de todos os doentes com EAM –<br />

a pulseira amarela, o que atrasa todo o procedimento”,<br />

afirma o especialista. Para ultrapassar<br />

este problema, temos proposto a todos<br />

os hospitais para que todos os doentes<br />

com dor no peito, ou mesmo com dor abdominal<br />

superior, náuseas, vómitos, entre outros<br />

sintomas, façam de imediato um eletrocardiograma,<br />

paralelamente ao protocolo de<br />

Manchester. E também temos pedido aos<br />

hospitais que tenham técnicos de cardiopneumologia<br />

em permanência, 24 horas por<br />

dia, todos os dias, a fazerem eletrocardiogramas”.<br />

“Isto porque”, explica, mesmo que<br />

o EAM “passe” na triagem da urgência, mais<br />

dificilmente deixa de ser identificado por um<br />

técnico com muita experiência”.<br />

Ainda que não existam números precisos, o<br />

coordenador da iniciativa Stent Save a Life,<br />

acredita que é ainda muito elevado o número<br />

de EAM, que “passam” sem tratamento. “Só<br />

conhecemos os que nos chegam…”, acentua<br />

o especialista. Uma coisa é certa, diz: “Quanto<br />

mais pessoas conhecerem bem quais os sinais<br />

indicativos de enfarte e agirem de acordo<br />

com as recomendações, que aconselham a ligar<br />

imediatamente para o 112, menos mortes<br />

iremos ter em consequência desta condição.<br />

É esse o trabalho que o Projeto Stent for a Life<br />

tem procurado desenvolver”, conclui.<br />

Estudo revela desconhecimento<br />

de sintomas<br />

No âmbito do projeto Stent for a Live, foi realizado<br />

um estudo, pelo ISCTE, com o objetivo<br />

de aferir o grau de conhecimento da população<br />

sobre os sintomas de EAM. Os resultados<br />

revelaram que apenas cerca e 24% das<br />

pessoas os conhecia. A maioria dos inquiridos,<br />

ou confundia enfarte com AVC ou pura e<br />

simplesmente não sabia do que se tratava. E<br />

quando questionados sobre o que fariam se<br />

estivessem perante uma pessoa com enfarte,<br />

a maioria afirmou que ligaria para o 112 ou<br />

chamaria uma ambulância. Ora, a verdade,<br />

diz Hélder Pereira, “é que a maioria deles não<br />

faz uma coisa, nem outra. E não têm noção<br />

do risco que correm quando perante os sintomas<br />

decidem ir de carro, conduzindo elas<br />

mesmas, para o hospital. A maior parte da<br />

mortalidade por EAM ocorre extra-hospitalar,<br />

por fibrilação auricular, que poderá ser revertida<br />

com acesso a desfibrilhadores disponíveis<br />

nas ambulâncias do INEM”, conclui.<br />

MMM<br />

novembrO 2017 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 17


SAÚDE ONLINE | nacional<br />

OE2018<br />

SNS com menos 51,3 milhões<br />

do que em 2017<br />

Adalberto Campos Fernandes vai contar com menos 51.5 milhões de euros, para fazer<br />

face às despesas do SNS. São menos 0.6% de um total correspondente a 4,25% do<br />

PIB previsto. Parceiros dizem que não chega…<br />

A<br />

despesa total consolidada<br />

do Programa da Saúde<br />

prevista inscrita na proposta<br />

de orçamento geral do<br />

Estado para 2018 é de 10,289,5<br />

milhões de euros, o que representa<br />

um aumento de 2,4% (239,1<br />

milhões de euros) face ao estimado<br />

para 2017 e a um aumento<br />

de 4,4% (360,2 milhões de euros)<br />

face ao orçamento de 2017. Já a<br />

despesa efetiva consolidada será<br />

de menos 92.7 milhões de euros<br />

do que o valor total inscrito.<br />

Um acréscimo orçamental, pelo<br />

menos aparente, explicado com o<br />

“aumento substancial de despesa<br />

no SNS em 2017, estando implícito<br />

um reforço do orçamento ao<br />

longo do ano de 2017”, lê-se no<br />

documento.<br />

E aparente porque do total da despesa<br />

consolidada do Programa<br />

da Saúde, as transferências para<br />

o SNS perfazem 8 427,4 euros,<br />

menos 51.3 milhões de euros do<br />

que em 2017.<br />

Um valor que não convence os<br />

agentes do setor, que apontam<br />

o aumento da dívida em atraso<br />

e a dilatação do prazo de pagamento<br />

(dívida vencida) como um<br />

obstáculo que a previsão orçamental<br />

não cobre, pelo contrário,<br />

torna mais difícil, já que haverá<br />

menos dinheiro para a aquisição<br />

de bens e serviços correntes.<br />

Refira-se que de acordo com o<br />

último relatório de execução orçamental,<br />

a tendência de crescimento<br />

da dívida em atraso, que<br />

já se vem a registar desde 2015,<br />

tem-se mantido em 2017, a um<br />

ritmo ainda mais acelerado do<br />

que o verificado até final de 2016.<br />

No final de agosto, a dívida vencida,<br />

reportada pela direção Geral<br />

do Orçamento ascendia a 903 milhões<br />

de euros, mais 51 milhões<br />

do que no mês anterior e mais<br />

290 milhões do que em janeiro.<br />

A manter-se este crescimento,<br />

2017 encerrará com a dívida em<br />

atraso a ultrapassar a barreira<br />

dos mil milhões de euros, ultrapassada<br />

pela última vez em dezembro<br />

de 2011 (mês em que<br />

atingiu 1616 milhões de euros).<br />

Na transferência prevista para<br />

2018, a aquisição de bens e serviços<br />

correntes, onde se incluem<br />

a aquisição de medicamentos,<br />

dispositivos médicos, meios de<br />

diagnóstico e terapêutica e os encargos<br />

com as parcerias público-privadas<br />

são as que mais pesam,<br />

representando 55.3% do orçamento<br />

global.<br />

O aumento dos encargos com<br />

as PPP da saúde, face aos valores<br />

previstos no Relatório do<br />

OE2017 é explicado, sobretudo,<br />

por uma revisão das projeções<br />

de produção, em linha com a tendência<br />

que tem sido verificada<br />

no sector”, informa o documento.<br />

Com peso muito significativo, também,<br />

as despesas com pessoal,<br />

que absorvem 38.4% (3951.2 milhões<br />

de euros) do total, explicados<br />

com a necessidade de dotação<br />

centralizada com o descongelamento<br />

das carreiras. Um valor<br />

que também não convence os<br />

agentes do setor, desde logo porque<br />

inferior, em 41 milhões de euros,<br />

ao inscrito no OE2017.<br />

De salientar que de acordo<br />

com o documento, o aumento<br />

de despesa no Programa Saúde<br />

tem associado uma previsão<br />

de aumento do investimento de<br />

16,1%. Na estrutura de distribuição<br />

das despesas pelas seis<br />

medidas inscritas no Programa<br />

Saúde, destacam-se as destinadas<br />

aos Hospitais e Clínicas, aos<br />

Serviços Individuais de Saúde e à<br />

Administração e Regulamentação,<br />

as quais absorvem a quase<br />

18 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017


nacional | SAÚDE ONLINE<br />

totalidade do programa (97,4%).<br />

As parcerias público/Privados foram<br />

comtempladas com 447.2<br />

milhões de euros no Programa<br />

Saúde e o Simplex, com apenas<br />

2.6 milhões.<br />

Mais hospitais e centros<br />

de saúde<br />

No quadro da medidas a implementar<br />

em 2018, ao nível das infraestruturas<br />

e equipamentos,<br />

o executivo inscreveu no orçamento,<br />

a reabilitação e reequipamento<br />

das unidades de saúde<br />

(unidades de cuidados de saúde<br />

primários e cuidados de saúde<br />

hospitalares). Em 2018, será lançado<br />

o concurso do Hospital de<br />

Lisboa Oriental e iniciar-se-ão<br />

os projetos do Hospital de Évora<br />

e do Seixal. Será ainda contruído<br />

o Hospital de Sintra, lê-se<br />

no documento.<br />

De fora das contas do Governo<br />

fica o Hospital do Funchal, unidade<br />

há muito reivindicada pelo<br />

Governo Regional, que já se manifestou<br />

contra o que considera<br />

uma quebra de promessa feita<br />

por António Costa, aquando de<br />

uma visita ao arquipélago”. Nessa<br />

visita, o primeiro-ministro ter-se<br />

-ia comprometido com a comparticipação<br />

de 50% dos custos da<br />

obra, estimada em 340 milhões<br />

de euros, tendo afirmado que a<br />

verba seria inscrita no OE2018.<br />

Tarefeiros vão ceder lugar<br />

a contratados com vínculo<br />

de emprego público<br />

À semelhança do que verificado<br />

na Lei de Orçamento de 2017, em<br />

2018 o Governo compromete-se a<br />

substituir gradualmente o recurso<br />

a empresas de trabalho temporário<br />

e de subcontratação de profissionais<br />

de Saúde pela contratação,<br />

em regime de vínculo de emprego<br />

público, dos profissionais<br />

necessários ao funcionamento<br />

dos serviços de saúde. No último<br />

balanço social do Ministério<br />

da Saúde, os contratos de prestação<br />

de serviços contabilizavam<br />

1.923 (1,6%) empregos, sendo<br />

que cerca de 73% eram médicos<br />

(1.407 trabalhadores).<br />

Os médicos aposentados que decidam<br />

regressar ao serviço, mantêm<br />

as mesmas condições remuneratórias<br />

atualmente em vigor,<br />

que inclui a pensão de aposentação<br />

acrescida de 75% da remuneração<br />

correspondente à carreira,<br />

escalão ou posição remuneratória<br />

detida à data da aposentação,<br />

assim como o respetivo regime<br />

de trabalho.<br />

Mantém-se também, em 2018, o<br />

regime de exceção que permite<br />

que se mantenham em funções<br />

os médicos internos que tenham<br />

celebrado contratos de trabalho<br />

a termo resolutivo incerto com<br />

que iniciaram o respetivo internato<br />

médico em janeiro de 2015<br />

e que, por falta de capacidades<br />

formativas não tiveram a possibilidade<br />

de prosseguir para a formação<br />

especializada.<br />

Reforço dos Cuidados<br />

continuados e paliativos<br />

Outras das medidas inscritas<br />

na proposta de OE2017, é a do<br />

Alargamento da Rede Nacional<br />

de Cuidados Continuados<br />

Integrados, promovendo o aumento<br />

do número de camas em<br />

todas as tipologias, o reforço dos<br />

cuidados de proximidade ao domicílio,<br />

a implementação de unidades<br />

de internamento e de<br />

ambulatório de cuidados pediátricos<br />

integrados e a concretização<br />

e qualificação de respostas<br />

de Cuidados Continuados<br />

Integrados em Saúde Mental,<br />

com enfase nas respostas na<br />

comunidade.<br />

A proposta prevê ainda a operacionalização<br />

e alargamento<br />

da Rede Nacional de Cuidados<br />

Paliativos através da constituição<br />

de novas equipas quer intra-hospitalares,<br />

quer na comunidade, e<br />

a constituição de novas Unidades<br />

de Cuidados Paliativos.<br />

opinião<br />

Sustentabilidade do SNS<br />

é problema de todos!<br />

Luís Lopes Pereira<br />

Diretor Geral da Medtronic<br />

A<br />

sustentabilidade do SNS,<br />

e as formas de a alcançar,<br />

têm sido tópicos amplamente<br />

discutidos no lado do pagador<br />

(Estado) mas não no lado de<br />

quem presta serviços ou fornece<br />

produtos. Mas a verdade é que<br />

a sustentabilidade deve ser uma<br />

realidade para todos os protagonistas<br />

do mercado, porque se as<br />

empresas fornecedoras saírem<br />

do País ou falirem, o SNS tornase<br />

ainda mais insustentável.<br />

No caso concreto das empresas<br />

de dispositivos médicos, cerca<br />

de 90% são de pequena ou média<br />

dimensão. O orçamento de<br />

Estado prevê uma contribuição<br />

destas empresas através de uma<br />

taxa extraordinária sobre o preço<br />

dos produtos, na ordem dos 2,5<br />

e os 7,5%, que vem juntar-se ao<br />

avultado valor da dívida pública<br />

em atraso e aos dilatados prazos<br />

de pagamento, acima dos<br />

380 dias. Esta medida poderá ter<br />

implicações nefastas para o sector,<br />

com prejuízo para a qualidade<br />

dos produtos disponíveis no mercado<br />

bem como do serviço de<br />

profissionais especializados que<br />

está implícito ao fornecimento<br />

de produtos mais complexos. A<br />

entrada de tecnologias disruptivas<br />

tem muitas vezes um efeito<br />

inicial de aumento da despesa,<br />

mas logo se dilui com a rápida e<br />

forte concorrência que este sector<br />

apresenta. Assim os aumentos<br />

da faturação de material<br />

clínico estão normalmente associados<br />

a aumentos de produção<br />

dos hospitais públicos, frequentemente<br />

com descidas do custo por<br />

doente ou por unidade.<br />

É no sentido de promover medidas<br />

que garantam a sustentabilidade<br />

do SNS mas também a sustentabilidade<br />

dos fornecedores<br />

que deveríamos focar-nos numa<br />

estratégia focada na eficiência,<br />

como é exemplo o conceito de<br />

“value based health care”, no qual<br />

as terapêuticas são pagas consoante<br />

um determinado objetivo<br />

de resultados para o doente. Este<br />

poderá ser o caminho para assegurar<br />

que se mantém a inovação,<br />

tão essencial à qualidade da<br />

prestação de saúde.<br />

novembrO 2017 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 19


SAÚDE ONLINE | nacional<br />

opinião<br />

À Saúde o que é a da Saúde<br />

Óscar Gaspar<br />

Vice-presidente do Conselho<br />

Estratégico Nacional da<br />

Saúde da CIP e Presidente<br />

da Associação Portuguesa de<br />

Hospitalização Privada<br />

O<br />

Orçamento é para 2018<br />

mas a maior surpresa é<br />

dada sobre 2017. Na proposta<br />

de OE2018 apresentada,<br />

o Governo informa que injetará<br />

este ano no SNS mais 400M€ do<br />

que o previsto no OE2017. Assim,<br />

o corrente exercício deve encerrar<br />

com uma transferência para<br />

o SNS de 8.478,7M€, sendo que<br />

para o próximo ano haverá uma<br />

redução de 51M€ (-0,6%).<br />

Dito de outra forma, a transferência<br />

para o SNS em 2018 corresponde<br />

a 4,25% do PIB previsto.<br />

Este valor parece ficar aquém<br />

das necessidades - face ao histórico,<br />

face aos objetivos pretendidos<br />

de aumento de investimento,<br />

qualidade e acesso a cuidados<br />

de saúde e também face<br />

ao expetável aumento da procura.<br />

Para termos um termo de<br />

referência, o total do programa<br />

Orçamental Saúde representa<br />

5,3% do PIB em Portugal quando<br />

na OCDE o valor da despesa pública<br />

em Saúde é de 6,5% do PIB.<br />

O Governo estima poupar no próximo<br />

ano 166 M€ com as medidas<br />

de redução de despesa mas também<br />

terá desafios acrescidos, seja<br />

por via da inovação, seja pelos aumentos<br />

previstos na massa salarial<br />

(progressões, 35 horas, subsídio<br />

para enfermeiros especialistas,<br />

etc.) embora esta última componente<br />

possa ser financiada a posteriori<br />

pelo Ministério das Finanças.<br />

Outra área de forte preocupação<br />

é a da dívida. O Governo compromete-se<br />

com “um esforço<br />

substancial de diminuição da dívida<br />

das entidades do SNS”, refere<br />

a injeção de capital para esse<br />

efeito e também a criação de uma<br />

Unidade de Análise Orçamental<br />

especificamente para acompanhar<br />

as dívidas da Saúde. Esta<br />

é uma medida que tarda porque<br />

problema arrasta-se há anos e<br />

afeta gravemente os fornecedores<br />

e prestadores do SNS.<br />

O Ministério da Saúde, e o SNS<br />

em particular, merecem e exigem<br />

dotações adequadas para prosseguir<br />

as suas responsabilidades<br />

e as respetivas administração e<br />

gestão têm que investir em medidas<br />

estruturas e procurar soluções<br />

de maior eficiência. Ou seja,<br />

de entrega de maior valor aos cidadãos<br />

e aos doentes.<br />

Claramente escasso face às necessidades<br />

Miguel Guimarães<br />

Bastonário da Ordem<br />

dos Médicos<br />

Numa primeira análise à<br />

proposta de Orçamento<br />

de Estado para o ano de<br />

2018 verifica-se que o Ministério<br />

da Saúde mantém a tónica do seu<br />

discurso na “aposta no Serviço<br />

Nacional de Saúde”, na “necessidade<br />

de melhoria das condições<br />

de acesso ao SNS, na modernização<br />

de equipamentos e infraestruturas<br />

e no reforço do investimento<br />

em recursos humanos”.<br />

Este discurso reflete-se num aumento<br />

da despesa total consolidada<br />

na área da saúde na ordem<br />

dos 10.289,5 milhões de euros, o<br />

que representa um crescimento<br />

de 239 milhões de euros (+2,4%)<br />

face à estimativa para 2017.<br />

Porém, no que ao Serviço<br />

Nacional de Saúde (SNS) diz respeito,<br />

verificamos que, mais uma<br />

vez, se assiste a uma redução de<br />

51,3 milhões de euros no valor das<br />

transferências para o SNS, financiado<br />

pelas receitas gerais, cuja<br />

orçamentação se situa nos 8427,4<br />

milhões de euros, menos 0,6%<br />

que o valor estimado para 2017.<br />

De realçar que o valor de transferências<br />

para o SNS previsto no<br />

OE 2017 era de 8078,7 milhões<br />

de euros. Atualmente estima-se<br />

um valor final de 8478,7 milhões<br />

de euros, graças à verba adiional<br />

de 400 milhões que deverá estar<br />

alocada, em grande parte, à redução<br />

das dívidas em atraso dos<br />

hospitais aos fornecedores.<br />

As despesas com pessoal representam<br />

cerca de 38,4% do total<br />

da despesa consolidada, ascendendo<br />

a 3.951,2 milhões de euros,<br />

a que acrescerá em 2018 um reforço<br />

proveniente de dotação centralizada<br />

com o descongelamento<br />

das carreiras. O crescimento da<br />

despesa com pessoal é 0,6%.<br />

Este é um Orçamento claramente<br />

escasso face às reais necessidades<br />

do país e do SNS. O Ministério<br />

da Saúde tem um longo caminho<br />

pela frente nos compromissos<br />

que tem com os portugueses.<br />

É essencial renovar a maioria dos<br />

equipamentos das unidades de<br />

saúde do SNS, equilibrar o seu capital<br />

humano, aumentar a capacidade<br />

de resposta às necessidades<br />

dos doentes e melhorar as condições<br />

de trabalho dos seus profissionais.<br />

Estes compromissos não<br />

são possíveis de concretizar sem<br />

um reforço significativo do financiamento<br />

do serviço público. Como<br />

irá o ministro da Saúde alcançar todos<br />

estes objetivos, quando a dotação<br />

orçamental prevê um mero<br />

aumento de 0,6% na verba correspondente<br />

à despesa com pessoal?<br />

Como irá o ministro da Saúde<br />

cumprir todas as metas a que se<br />

compromete quando as transferências<br />

para o SNS recuam face<br />

à verba que se estima gastar até<br />

final deste ano?<br />

Parece-me que o Governo continua<br />

a comprometer a essência<br />

do nosso SNS, tal como está<br />

consagrado na Constituição da<br />

República Portuguesa.<br />

20 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017


SAÚDE ONLINE | nacional<br />

opinião<br />

Farmácias apreensivas<br />

com proposta de OE<br />

Paulo Cleto Duarte<br />

Presidente da Associação<br />

Nacional das Farmácias<br />

«O sector das farmácias<br />

encara este Orçamento<br />

de Estado com esperança<br />

e sentido de urgência.<br />

Neste momento, 607 farmácias<br />

enfrentam processos de insolvência<br />

e penhora. Isto significa<br />

que uma em cada cinco farmácias<br />

não sabe se vai sobreviver<br />

em 2018. O espectro de falência<br />

ameaça farmácias rurais e urbanas<br />

em todos os concelhos, do<br />

continente e ilhas. O sector do<br />

medicamento foi sujeito a medidas<br />

de austeridade sem paralelo<br />

na sociedade portuguesa,<br />

seis vezes superiores ao preconizado<br />

pela Troika. O problema<br />

é que continua a viver nesse<br />

paradigma. Os doentes portugueses<br />

ainda não conseguem<br />

aviar as receitas médicas normalmente.<br />

Todos os meses faltam<br />

quatro a cinco milhões de<br />

embalagens de medicamentos,<br />

alguns deles urgentes, como<br />

insulinas para diabéticos, pílulas<br />

anticoncepcionais e anti-hipertensivos.<br />

Este Governo mostrou-se<br />

consciente do problema<br />

e focado em virar a página. Em<br />

Fevereiro de 2017, os ministros<br />

das Finanças e da Saúde subscreveram<br />

um acordo com as farmácias.<br />

Esse documento foi<br />

preparado ao detalhe para favorecer,<br />

simultaneamente, a sustentabilidade<br />

do sector e das<br />

contas públicas, mas a sua<br />

implementação está atrasada.<br />

As farmácias portuguesas continuam<br />

a ser discriminadas e<br />

excluídas das margens de referência<br />

legisladas pelo Estado<br />

português para o mercado dos<br />

medicamentos. A regulamentação<br />

e implementação de serviços<br />

farmacêuticos, em benefício<br />

das populações, está atrasada,<br />

mesmo em casos previstos no<br />

Programa do Governo, como<br />

o acesso de proximidade aos<br />

medicamentos hospitalares.<br />

Apesar destes problemas, acreditamos<br />

que a solução já contratualizada<br />

com o Governo será<br />

implementada em 2018.»<br />

OE é uma deceção!<br />

João Almeida Lopes<br />

Presidente da Direção<br />

da APIFARMA<br />

Os dados iniciais do<br />

Orçamento do Estado<br />

para 2018 são escassos.<br />

No entanto, sugerem que esta<br />

proposta de OE é uma decepção.<br />

A dotação fica claramente abaixo<br />

das necessidades, mantendo-se<br />

um quadro evidente de subfinanciamento<br />

crónico da Saúde.<br />

Continuamos a ser confrontados<br />

com a falta de transparência<br />

de dados em relação à Saúde. É<br />

essencial responder a inúmeras<br />

questões: quando e como pretende<br />

o Ministério da Saúde regularizar<br />

a dívida? Qual o custo<br />

das negociações em curso com<br />

os profissionais da Saúde? Para<br />

quando um valor de investimento<br />

público em medicamentos em linha<br />

com indicadores da OCDE?<br />

Como se aumentará a despesa<br />

total em Saúde se prevemos menos<br />

dinheiro nas transferências?<br />

Esta proposta de OE, pelo que podemos<br />

antecipar, é um exercício<br />

que peca por falta de transparência<br />

e não permite que os agentes<br />

económicos e os cidadãos tenham<br />

confiança na acção do Estado.<br />

Hoje, de acordo a Direcção-Geral<br />

do Orçamento, continuamos sem<br />

vislumbrar o abrandamento da dívida<br />

hospitalar que em Agosto de<br />

2017 superou os 900 milhões de<br />

euros, mais 47,3% em relação a<br />

Janeiro. Na verdade, em apenas<br />

um ano e até Agosto de 2017, o<br />

défice do SNS disparou para perto<br />

dos 114 milhões de euros – quando<br />

em 2016 era de 20 milhões. Isto<br />

apesar da injecção extraordinária<br />

de 270 milhões de euros, realizada<br />

este ano pelas Finanças, que impediu<br />

que o défice escalasse para<br />

os 384 milhões de euros.<br />

Entretanto, o país mostra sinais<br />

de um crescimento económico<br />

assinalável face aos últimos anos.<br />

Os portugueses dificilmente compreenderão<br />

que o Orçamento da<br />

Saúde continue a ignorar os números<br />

do PIB, que em termos nominais<br />

irá crescer, em 2018, 3,6%,<br />

de acordo com o projeto de OE.<br />

Nota para as medidas de contenção<br />

de despesa inscritas no OE<br />

que decorrem, uma vez mais,<br />

essencialmente da pressão sobre<br />

os fornecedores do Sistema<br />

de Saúde, que não nunca deixaram<br />

de contribuir para a sua<br />

sustentabilidade.<br />

Em resumo, a situação é particularmente<br />

preocupante. Este OE<br />

deixa a Saúde para trás, confinada<br />

a uma inevitável espiral de<br />

agravamento da situação actual,<br />

o que coloca em causa a sustentabilidade<br />

do SNS e o acesso<br />

equitativo de todos os portugueses<br />

aos cuidados de saúde.<br />

22 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017


especial<br />

USF Santiago de Leiria<br />

Uma década depois….<br />

Espírito de equipa mantém-se<br />

A USF Santiago, de Marrazes, Leiria, comemorou no passado dia 1<br />

em março, uma década de atividade, ao longo da qual a vontade de<br />

responder de uma forma mais eficaz aos utentes, através de uma<br />

organização inovadora dos cuidados, propiciada pelo - então novo -<br />

modelo de organização dos cuidados de saúde primários, introduzido<br />

pela reforma deste nível de cuidados iniciada em 2005, sempre<br />

norteou o trabalho da equipa.<br />

24 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembro 2017


uma iniciativa<br />

Manuel Carvalho, coordenador da USF Santiago de Leiria.<br />

“Podermos escolher as pessoas com<br />

quem trabalhamos, ter maior autonomia<br />

organizativa e um método de<br />

trabalho em equipa, podendo responder<br />

de uma forma mais eficaz<br />

aos nossos utentes” foram os principais<br />

argumentos que motivaram os<br />

seis médicos, igual número de enfermeiros<br />

e cinco secretários clínicos<br />

que a 14 de abril de 2006 decidiram<br />

avançar com a candidatura<br />

para a constituição de uma Unidade<br />

de Saúde Familiar.<br />

Ainda que pioneira no novo modelo<br />

(foi uma das primeiras cinquenta<br />

unidades a iniciar atividade), a vontade<br />

de trabalhar de forma diferente,<br />

com maior autonomia, já vinha<br />

detrás, tendo-se manifestado em<br />

1999, ano em que alguns dos seus<br />

elementos, intentaram uma candidatura<br />

ao Regime Remuneratório<br />

Experimental (RRE), um dos modelos<br />

percursores das USF. Tentativa<br />

gorada, como todas as que foram<br />

apresentadas na Região Centro,<br />

onde o inovador modelo, criado em<br />

1998 nunca chegaria a ser implementado<br />

no terreno.<br />

Com mais um médico do que os que<br />

constituíam o grupo inicial – cuja<br />

composição, entretanto, foi sendo<br />

alterada - seis enfermeiros e cinco<br />

secretários clínicos, a USF Santigo<br />

tem conseguido crescer por via da<br />

diversidade e complexidade dos cuidados<br />

prestados, pelo alargamento<br />

do horário de funcionamento (das<br />

8h00 às 20h00, nos dias úteis) e<br />

aos sábados (das 09h00 às 13h00),<br />

satisfazendo desta forma as<br />

necessidades de um grupo significativo<br />

da população abrangida, constituído<br />

em boa medida, por população<br />

estudantil fora de Leiria… De<br />

Coimbra e Lisboa, principalmente.<br />

A USF tem crescido e renovado,<br />

também, por força de uma das vertentes<br />

que desde o início mais diferenciou<br />

a unidade: a formação pré<br />

e pós-graduada. Nesta, destacamse<br />

os oito médicos internos de medicina<br />

geral e familiar (já chegaram<br />

a ser 11), distribuídos pelos diversos<br />

médicos da unidade, que hoje<br />

acolhe. E também do Ano Comum<br />

(IAC): numa década de existência, a<br />

unidade recebeu ainda cerca de 80<br />

IAC, em articulação com o Centro<br />

Hospitalar de Leiria. Uma vocação<br />

que se estende à área da enfermagem<br />

e que “faz parte do nosso código<br />

genético”, sublinha o coordenador<br />

da Unidade, o médico de família<br />

Manuel Carvalho, que gosta<br />

de sublinhar o facto de a unidade<br />

ser conhecida, também, por<br />

“Universidade de Santiago”.<br />

À data da inauguração, a USF<br />

Santiago absorveu 12 mil utentes,<br />

integrando em lista de médico de<br />

família 3.2<strong>08</strong> utentes que se encontravam<br />

em lista de espera há mais<br />

de três anos. Hoje, conta com cerca<br />

de 14 mil.<br />

A evolução da unidade foi definida<br />

desde o início, com a equipa a projetar,<br />

para um futuro próximo, a transição<br />

para o modelo B, mais responsabilizante<br />

em termos de resultados<br />

mas também mais compensador,<br />

porque com remuneração sensível<br />

A USF Santiago conta com cerca de 14 mil utentes.<br />

ao desempenho. “Era um reflexo<br />

natural do grau de maturidade da<br />

equipa, da consolidação de metodologias<br />

de trabalho; da consistência<br />

dos resultados alcançados”, explica<br />

o coordenador.<br />

A transição oficial deu-se a 1 de julho<br />

de 2009, com uma carteira adicional<br />

de serviços que, para além do<br />

alargamento do horário, tem vindo<br />

a incluir, ao longo dos anos, diferentes<br />

atividades relevantes para a população<br />

servida, como consultas de<br />

podologia, de nutrição, de psicologia<br />

clínica (realizada de forma voluntária,<br />

por uma colega de Leiria).<br />

Mas nem tudo foram rosas: a USF<br />

Santiago teve um início de vida algo<br />

conturbado. “Aos meses de negociação<br />

exigente com a Equipa<br />

Técnica Operacional, até à aprovação<br />

da USF Santiago e consequente<br />

homologação pela Administração<br />

Regional de Saúde (ARS) do Centro,<br />

a 7 de dezembro de 2006”, veio juntar-se<br />

o “problema” das instalações,<br />

construídas de raiz para albergar<br />

o CS Arnaldo Sampaio, cujos módulos<br />

A e B os profissionais da USF<br />

Santiago viriam a ocupar a 1 de<br />

março de 2007.<br />

As instalações modernas oferecem<br />

vantagens ao nível das amenidades<br />

inexistentes em muitas unidades<br />

de norte a sul do país. Um<br />

espaço amplo, com um “cantinho<br />

adaptado especialmente para receber<br />

os mais pequenos, dão o tom geral<br />

a um quadro onde também se inclui<br />

um ordenador de vez eletrónico<br />

que permite um atendimento organizado<br />

e sem problemas, para cada<br />

um dos três módulos a funcionar<br />

nas instalações.<br />

Em lugar de destaque, o certificado<br />

emitido pela Entidade<br />

Reguladora da Saúde, confirmando<br />

a USF Santiago se encontra<br />

registada como entidade prestadora<br />

de cuidados de saúde. A qualidade<br />

dos serviços e a inovação<br />

em algumas áreas-chave têm sido<br />

as grandes apostas da “Santiago”.<br />

Desde 20<strong>08</strong> que a unidade dispõe<br />

de uma consulta de cessação tabágica,<br />

garantida pelo coordenador<br />

da Unidade. Em breve, a pequena<br />

cirurgia irá juntar-se à carteira adicional<br />

de serviços. Uma consulta<br />

que como se referiu já funcionou<br />

na unidade ainda que não integrada<br />

na carteira adicional.<br />

Rejuvenescimento permanente<br />

Em Marrazes, a aposta na formação<br />

pré e pós-graduada tem sido a<br />

grande impulsionadora da inovação<br />

e dos novos desafios em que a<br />

equipa de amiúde se envolve. “É um<br />

desafio quer para o coordenador<br />

quer para a equipa. Trazem exigências<br />

novas… Temos de estar atualizados,<br />

que nos ajustar permanentemente<br />

para receber novos formandos,<br />

em termos organizacionais,<br />

de capacidade de resposta, de<br />

espaço… As instalações são boas<br />

mas, além disso, há todo o apoio<br />

que é preciso garantir em termos de<br />

novembro 2017 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 25


especial<br />

backoffice, de secretariado clínica”,<br />

explica Manuel Carvalho.<br />

E encontrar forma de responder<br />

aos desafios lançados pelos futuros<br />

médicos. “Aqui há dias propuseram<br />

a realização de umas jornadas<br />

científicas, recuperando um<br />

evento que foi dos primeiros realizados<br />

pela Associação Portuguesa<br />

de Medicina Geral e Familiar: as<br />

Jornadas de Leiria da APMGF. E já<br />

estamos a trabalhar nisso”.<br />

Tudo o que é possível fazer para garantir<br />

melhores condições de formação<br />

para os futuros médicos é<br />

feito. Neste âmbito, destaca-se a<br />

sala, dotada de equipamento informático,<br />

onde os internos podem<br />

realizar as diversas tarefas associadas<br />

ao percurso formativo,<br />

como a elaboração de relatórios,<br />

ou a preparação do imprescindível<br />

Curriculum Vitae.<br />

A aposta na formação reflete-se na<br />

credibilidade que é hoje reconhecida<br />

à unidade. “A nossa USF é a<br />

mais escolhida pelos jovens médicos<br />

em formação” e as nossas vagas as<br />

primeiras a serem ocupadas na região.<br />

E alguns deles acabam por optar<br />

pela Medicina Geral e Familiar,<br />

o que muito nos orgulha, porque<br />

reflete a qualidade do que aqui se<br />

faz”, afirma Manuel Carvalho. “Os<br />

resultados das avaliações são o espelho<br />

do bom desempenho da unidade<br />

na vertente formativa”, acrescenta.<br />

“Que também se reflete em<br />

comunicações científicas e trabalhos<br />

de investigação desenvolvidos<br />

na unidade, muitos deles apresentadas<br />

em congressos médicos…<br />

Alguns deles premiados”, testemunha,<br />

orgulhoso, o coordenador da<br />

unidade. “É um trabalho diário para<br />

criar estas condições. Cada vez que<br />

eles vêm para cá e pedem novas coisas<br />

nós tentamos responder, com o<br />

apoio do ACES”, acrescenta.<br />

Daqui a dias, o saber dos jovens formandos<br />

vai novamente ser posto<br />

à prova, com a apresentação de<br />

um trabalho no “6th Challenges in<br />

Cardiology”, uma importante reunião<br />

científica que se irá realizar em Leiria.<br />

Como se referiu, a par do internato<br />

de especialidade em Medicina<br />

Geral e Familiar, a USF Santiago<br />

também recebe internos do Ano<br />

Comum (IAC), o que também constitui<br />

um desafio. A realidade vai mudando<br />

obrigando a um trabalho de<br />

atualização permanente. “No Ano<br />

Comum, os internos passam connosco<br />

três meses, dos quais, duas<br />

As instalações são modernas e os mais novos não foram esquecidos!<br />

semanas na “Saúde Pública”, que<br />

também funciona no edifício do<br />

centro de saúde. Vêm cheios de<br />

expectativas e às vezes conseguimos<br />

conquistá-los para a Medicina<br />

Geral e Familiar. Uma das nossas<br />

médicas “séniores” fez o IAC comigo…<br />

E depois a especialidade e<br />

hoje é médica aqui”, aponta Manuel<br />

Carvalho. Aliás, precisa, “os dois últimos<br />

elementos seniores, foram<br />

formados aqui”.<br />

A coesão da equipa tem-se revelado<br />

essencial à superação de dificuldades…<br />

“Como quando tivemos<br />

A USF Santiago valoriza a formação contínua dos seus profissionais.<br />

um colega ausente durante 2 anos e<br />

conseguimos manter os<br />

indicadores, só com o recurso aos internos<br />

mais velhos que colaboraram<br />

connosco na gestão desse ficheiro…”<br />

“Quando recebo novos internos,<br />

costumo sempre dizer-lhes que o<br />

objetivo é que sintam prazer em vir<br />

para a USF; que quando uma pessoa<br />

sai de casa para o trabalho e não<br />

sente gozo, é porque algo não está<br />

bem”, testemunha o médico. As candidaturas<br />

para frequência de estágio<br />

na unidade, decididas em função<br />

do “passa-palavra” com quem por lá<br />

já passou, atestam que trabalhar na<br />

USF Santiago “dá gozo”!<br />

E por que não…“Ir às lulas”?<br />

No âmbito das atividades de promoção<br />

do espírito de equipa promovidas<br />

no seio da USF, Manuel<br />

Carvalho destaca a que carinhosamente<br />

designa de “ida às lulas” e explica<br />

do que se trata: “Para fomentar<br />

o trabalho de equipa, a motivação…<br />

duas a três vezes por ano os<br />

internos mais velhos organizam um<br />

fim-de-semana a que chamamos de<br />

“ida às lulas”, para o qual são convidados<br />

os membros das equipas e<br />

respetivas famílias. Vai a equipa e a<br />

família. É um espaço de convívio que<br />

cria a tal identidade que para nós é<br />

muito importante em termos de trabalho<br />

de equipa. Muitas vezes os internos<br />

que passam por aqui vêm<br />

cá visitar-nos, já seniores. A nossa<br />

porta está sempre aberta. É essa a<br />

imagem que queremos passar”.<br />

O espírito de equipa que alicerçou a<br />

decisão de avançar para o novo modelo<br />

organizacional dos cuidados de<br />

saúde primários mantém-se e até se<br />

reforçou, garante Manuel Carvalho.<br />

“Em todos os grupos profissionais”,<br />

sublinha.<br />

Modelo B… A evolução natural<br />

A transição de modelo A para modelo<br />

B “foi um desígnio natural da<br />

própria equipa. Tínhamos indicadores<br />

que nos permitiam pensar nessa<br />

possibilidade e também nos atraía<br />

a remuneração extra… Associada<br />

à carteira adicional de serviços.<br />

Importante para todos os profissionais.<br />

O incentivo pecuniário mensal<br />

faz toda a diferença. E quanto mais<br />

baixo é o salário, maior o impacto”,<br />

sublinha o médico.<br />

Relativamente às exigências sempre<br />

crescentes da contratualização,<br />

através da qual se fixam os<br />

objetivos anuais de desempenho,<br />

Manuel Carvalho afirma-se confiante<br />

no novo modelo, cujo enquadramento<br />

legal deverá ser conhecido<br />

em breve.<br />

Ao <strong>SaúdeOnline</strong>, o médico salientou<br />

a necessidade de se repensarem os<br />

indicadores contratualizados. Isto<br />

porque, aponta, “há patamares de<br />

cumprimento a partir dos quais, ao<br />

invés de melhorarmos, estamos a<br />

penalizar a prestação”. Os indicadores<br />

– de eficiência, por exemplo –<br />

têm que ter em conta, entre outros<br />

fatores, a evolução da pirâmide etária<br />

e a chegada de inovação.<br />

26 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembro 2017


uma iniciativa<br />

Médicos e enfermeiros trabalham lado a lado.<br />

Ao longo dos anos, a USF Santiago<br />

foi sempre alvo de incentivos institucionais<br />

por cumprimento dos indicadores<br />

contratados com a ARS.<br />

O problema é que ano após ano,<br />

a exigência vai sendo maior, que o<br />

mesmo é dizer, “temos que gastar<br />

ainda menos”, explica o coordenador<br />

da unidade. Algo difícil, tendo<br />

em conta que os doentes vão envelhecendo<br />

com um consequente<br />

aumento da carga de doença ao<br />

mesmo tempo que vão surgindo<br />

novos medicamentos, mais eficazes<br />

mas também mais caros, como<br />

aconteceu recentemente na área<br />

da diabetes e na dos anti-coagulantes,<br />

que passaram de um custo unitário<br />

de 2 ou 3 euros para 30, 40<br />

ou mesmo 50 euros, exemplifica<br />

Manuel Carvalho, algo que a contratualização<br />

não teve em conta”,<br />

afirma. Pesem os muitos contratempos,<br />

diz, “temos conseguido ultrapassar<br />

os problemas da contratualização<br />

porque somos uma equipa<br />

madura, que sabe adaptar-se”.<br />

Dos 8 aos 80<br />

Outro problema que a USF teve que<br />

enfrentar foi o da proibição do apoio,<br />

por parte de empresas privadas, às<br />

ações desenvolvidas nas unidades<br />

do SNS. Uma decisão, entretanto,<br />

parcialmente revertida através de<br />

um despacho publicado há dias e que<br />

vem repor alguma estabilidade às relações<br />

entre as empresas fornecedoras<br />

e as instituições do SNS.<br />

Em Marrazes, o controlo glicémico<br />

dos diabéticos seguidos na unidade<br />

era feito com recurso ao teste de<br />

hemoglobina glicada, cujo dispositivo<br />

e respetivos kits eram cedidos<br />

gratuitamente por uma empresa<br />

farmacêutica, através de um protocolo<br />

em vigor há já sete anos. Com<br />

a proibição instituída em janeiro, o<br />

protocolo entre a unidade e a empresa<br />

teve que ser denunciado e os<br />

doentes deixaram de poder realizar<br />

o teste na USF. “Os nossos diabéticos<br />

vinham aqui e numa única consulta<br />

faziam tudo: a hemoglobina<br />

glicada, a avaliação de Enfermagem<br />

e a avaliação pelo médico”. Agora,<br />

a hemoglobina glicada tem que ser<br />

feita fora, “obrigando a deslocações<br />

extra e a despesas que antes não<br />

eram cobradas”, aponta o médico.<br />

De acordo com as contas de Manuel<br />

Carvalho, só nos diabéticos da sua<br />

lista, o acréscimo de custos resultantes<br />

da medida foi superior a 10<br />

mil euros. Só em custos diretos, sublinha…<br />

“Porque há ainda que contabilizar<br />

os indiretos, resultantes das<br />

deslocações, horas de trabalho perdidas,<br />

etc. Muitos têm de recorrer ao<br />

serviço de táxi para virem às consultas.<br />

Agora, para além dessa despesa,<br />

têm que suportar a “corrida” até ao<br />

laboratório de análises para realizarem<br />

o teste”, lamenta o especialista.<br />

Para o coordenador da USF, deve<br />

imperar o bom senso. “Passámos<br />

“de 8 para 80”. A empresa em causa<br />

cedia a máquina e os kits, gratuitamente.<br />

Estávamos a usufruir de um<br />

serviço que os utentes só agora começam<br />

a valorizar. Mas apesar de<br />

tudo, são situações que vamos conseguindo<br />

ultrapassar”.<br />

Acreditação<br />

Reflexo do bom desempenho da<br />

USF e de maturidade da equipa é<br />

também o processo de acreditação<br />

que em breve se irá iniciar, pelo modelo<br />

de acreditação da Agencia de<br />

Calidad Sanitaria de Andalucia, adotado<br />

pelo departamento de qualidade<br />

da Direção-geral da Saúde.<br />

“Não é por acaso que fomos selecionados<br />

para entrar em acreditação”,<br />

explica Manuel Carvalho. “Temos<br />

indicadores que o permitem, temos<br />

a estrutura organizacional madura.<br />

E também porque é uma etapa<br />

obrigatória para todas as unidades<br />

a funcionar em Modelo B. Estou<br />

certo que será mais uma etapa que<br />

iremos vencer”, assegura.<br />

“O processo de acreditação dura<br />

um ano. Termina em fevereiro do<br />

ano que vem. Fizemos agora uma<br />

auditoria interna com a ajuda do<br />

enfermeiro Manuel da ARS Centro,<br />

que é o responsável da qualidade<br />

na Região Centro, e o feedback que<br />

temos recebido é de que estamos a<br />

cumprir os prazos, que temos mostrado<br />

trabalho. Mas há ainda muita<br />

coisa para fazer. Há sempre”, diz,<br />

resignado.<br />

“As auditorias são uma vantagem<br />

para as USF. Permitem ver o que<br />

está menos bem… E desde que haja<br />

abertura, e trabalho de equipa…<br />

Que é uma coisa que prezamos aqui,<br />

conseguimos suprir as lacunas”.<br />

“Havendo um coordenador, há delegação<br />

de competências e à medida<br />

que delegamos competências,<br />

delegamos responsabilidades”. O<br />

processo de acreditação não foge<br />

à regra. Há grupos de trabalho nomeados<br />

para as várias áreas de avaliação.<br />

Não é só o responsável da<br />

acreditação a arcar com a despesa<br />

do processo. Toda a equipa está<br />

empenhada para que as coisas corram<br />

bem e colabora nesse sentido.<br />

Suportada por uma equipa multiprofissional,<br />

a USF Santiago vai-se<br />

ajustando, em termos de recursos<br />

humanos à medida das necessidades<br />

e também das disponibilidades<br />

– sempre escassas – de profissionais.<br />

Até agora, tudo tem corrido<br />

bem, testemunha Manuel Carvalho.<br />

“À medida que a unidade vai crescendo,<br />

a enfermagem vai crescendo<br />

também. Quando vem um médico,<br />

vem um enfermeiro, vem um secretário<br />

clínico… E também não temos<br />

tido problema com o processo<br />

de selecção. Quando vem um enfermeiro<br />

para a equipa, quem o escolhe<br />

é a equipa de enfermagem. E há<br />

logo um compromisso dessa pessoa<br />

com o resto dos colegas. Tem corrido<br />

bem. Os novos elementos que<br />

vêm para cá são escolhidos por nós.<br />

É a vantagem das USF. Nós escolhemos<br />

quem queremos para trabalhar<br />

connosco”. Os dois últimos enfermeiros<br />

que vieram para aqui… fomos<br />

«roubá-los» ao hospital. Eram<br />

colegas referenciados, que já tinham<br />

manifestado vontade de se<br />

juntarem à nossa equipa.<br />

Comunicação com a população<br />

No âmbito das atividades de fomento<br />

da proximidade entre a unidade<br />

e os seus utentes, a USF<br />

Santiago publica um boletim periódico,<br />

com informação relevante, dirigida<br />

à população. Na última edição,<br />

José Manuel Carvalho sintetiza<br />

a década de atividade da Santiago<br />

que este ano se comemora, destacando<br />

a evolução sustentada e a<br />

identidade própria “assente no desempenho<br />

de qualidade na prestação<br />

de cuidados e na aposta na formação<br />

contínua pós-graduada”.<br />

Nesta edição, que integra artigos<br />

assinados por vários médicos e enfermeiros<br />

da USF Santiago, é ainda<br />

abordada a literacia em Saúde, o<br />

testamento vital, bem como textos<br />

dirigidos a grupos específicos de<br />

utentes, como diabéticos e grávidas.<br />

PP-ZIT-PRT-0192<br />

“O Conteúdo e as afirmações expressas nesta publicação são da exclusiva responsabilidade do(s) Entrevistado(s).”<br />

novembro 2017 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 27


SAÚDE ONLINE | mundo<br />

Eliminar a hepatite C<br />

em Portugal e na Europa<br />

é possível até 2030<br />

Representantes do Governo português, políticos, especialistas, médicos e associações<br />

de doentes e grupos de ativistas na área reuniram-se em Bruxelas para anunciar a sua<br />

intenção de trabalhar juntos com o objetivo de eliminar o vírus da Hepatite C até 2030,<br />

ao assinarem o “Manifesto pela Eliminação da Hepatite C”.<br />

O<br />

evento sucede a primeira<br />

Cimeira Política Europeia<br />

dedicada à eliminação<br />

do vírus da Hepatite C na Europa<br />

que decorreu em fevereiro do<br />

ano passado, em Bruxelas, e<br />

durante o qual foi apresentado<br />

o “Manifesto pela Eliminação da<br />

Hepatite C, que delineava questões<br />

políticas para a eliminação<br />

da hepatite C na Europa até 2030.<br />

Carlos Zorrinho, deputado do<br />

Parlamento Europeu e anfitrião<br />

do evento, saudou o facto de a<br />

Cimeira ser a primeira a dar concretização<br />

à Estratégia Europeia<br />

para erradicar a hepatite C até<br />

2030, adiantando que isso só foi<br />

possível “não apenas pela consciência<br />

da importância do problema<br />

em Portugal mas também<br />

porque os serviços de saúde e as<br />

associações de pacientes portugueses<br />

têm criado um vibrante<br />

dialogo procurando encontrar as<br />

melhores soluções”.<br />

Consciente de que Portugal está<br />

empenhado em acabar com a epidemia<br />

até 2030, Fernando Araújo,<br />

secretário de Estado Adjunto e da<br />

Saúde de Portugal, explica que a<br />

primeira Estratégia Nacional para<br />

as Hepatites Virais em Portugal,<br />

lançada este ano, se baseia na<br />

universalidade, na equidade e na<br />

qualidade, não deixando de parte<br />

a prevenção, informação, conhecimento<br />

e rastreios dirigidos.<br />

“Pela primeira vez, foi dada atenção<br />

especial aos grupos vulneráveis:<br />

reclusos, trabalhadores do<br />

sexo, sem-abrigo e emigrantes,<br />

Carlos Zorrinho, deputado do<br />

Parlamento Europeu e anfitrião do<br />

evento, saudou o facto de a Cimeira<br />

ser a primeira a dar concretização à<br />

Estratégia Europeia para erradicar<br />

a hepatite C até 2030, adiantando<br />

que isso só foi possível “não apenas<br />

pela consciência da importância<br />

do problema em Portugal mas<br />

também porque os serviços de<br />

saúde e as associações de pacientes<br />

portugueses têm criado um vibrante<br />

dialogo procurando encontrar as<br />

melhores soluções”.<br />

que têm tido dificuldade no<br />

acesso ao tratamento”, acrescenta<br />

Fernando Araújo, crente de<br />

que esta realidade irá mudar.<br />

Ricardo Baptista-Leite, membro<br />

do Parlamento de Portugal, encara<br />

a eliminação da hepatite C<br />

como um objetivo de saúde pública,<br />

o que implica a exigência<br />

de “uma liderança determinada,<br />

um reforço do papel dos cuidados<br />

de saúde primários e maior investimento<br />

em prevenção, rastreios,<br />

diagnóstico e ligação aos cuidados<br />

de saúde”, afirma.<br />

“As autoridades Portuguesas podem,<br />

nesse caso, contar com o<br />

apoio da sociedade civil, das comunidades<br />

chave e das pessoas<br />

que vivem com a doença e todos<br />

os stakeholders devem estar<br />

prontos para trabalharem em conjuntos<br />

na obtenção deste objetivo<br />

comum”, referiu o presidente<br />

do GAT - Grupo de Ativistas em<br />

Tratamentos e diretos do EATG -<br />

European AIDS Treatment Grup e<br />

da Colaition Plus, Luís Mendão.<br />

“Depois de 25 anos de pesquisa,<br />

os investigadores desenvolveram<br />

os meios para se curar<br />

a hepatite C com eficácia, tornando<br />

a eliminação da hepatite<br />

C na Europa na próxima década<br />

uma possibilidade genuína.<br />

Mas a ação política ao nível nacional<br />

tem de tornar isto possível,<br />

especialmente num País como<br />

Portugal onde a infeção por hepatite<br />

C é um enorme desafio<br />

de saúde pública,”, afirma o Prof<br />

Angelos Hatzakis, Presidente da<br />

Associação Hepatitis B and C<br />

Public Policy. “O nosso Manifesto<br />

pela Eliminação serve de plataforma<br />

de reunião para políticos<br />

e ativistas Europeus e nacionais.<br />

Se agirmos agora, a Europa estará<br />

livre da hepatite C em 2030,”<br />

continuou o Prof Hatzakis.<br />

Os signatários do Manifesto pela<br />

Eliminação da Hepatite C comprometem-se<br />

a tornar a hepatite<br />

“Pela primeira vez, foi dada atenção<br />

especial aos grupos vulneráveis:<br />

reclusos, trabalhadores do sexo,<br />

sem-abrigo e emigrantes, que<br />

têm tido dificuldade no acesso ao<br />

tratamento”, acrescenta Fernando<br />

Araújo, crente de que esta realidade<br />

irá mudar”, afirmou o secretário<br />

de Estado Adjunto e da Saúde,<br />

Fernando Araújo<br />

C e a sua eliminação na Europa<br />

uma prioridade clara de saúde<br />

pública a ser perseguida a todos<br />

os níveis; a assegurar que doentes,<br />

grupos da sociedade civil e<br />

outras partes interessadas sejam<br />

diretamente envolvidas no desenvolvimento<br />

e implementação de<br />

estratégias de eliminação de hepatite<br />

C; a dar especial atenção<br />

à ligação entre a hepatite C e a<br />

marginalização social; e a introduzir<br />

uma Semana Europeia de<br />

Consciência sobre a Hepatite.<br />

SO/SF<br />

28 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017


SAÚDE ONLINE | profissão<br />

Procedimento médico previne AVC<br />

em doentes com fibrilhação auricular<br />

Dia Mundial do AVC assinalou-se a 29 de outubro<br />

Eduardo Infante de Oliveira<br />

Membro da direção da<br />

Associação Portuguesa de<br />

Intervenção Cardiovascular<br />

(APIC)<br />

A<br />

fibrilhação auricular é<br />

uma perturbação do<br />

ritmo cardíaco (arritmia)<br />

que se associa ao risco de acidente<br />

vascular cerebral (AVC).<br />

Nesta arritmia, o coração<br />

perde a capacidade de contração<br />

das aurículas. A estagnação<br />

de sangue nestas cavidades<br />

proporciona a formação de<br />

coágulos (trombos) que poderão<br />

deslocar-se e migrar para<br />

a circulação cerebral e provocar<br />

um AVC. O AVC continua a<br />

ser a principal causa de morte<br />

e incapacidade em Portugal<br />

e a fibrilhação auricular é responsável<br />

por cerca de um terço<br />

dos casos.<br />

Os medicamentos anticoagulantes<br />

contrariam a formação<br />

de coágulos e são a primeira linha<br />

na prevenção do AVC na<br />

fibrilhação auricular. Contudo,<br />

os anticoagulantes aumentam o<br />

risco de sangramento (hemorragia)<br />

e estima-se que cerca de 1<br />

em cada 4 doentes não tolere ou<br />

apresente contraindicação para<br />

a toma destes fármacos. Para<br />

este grupo de doentes, a cardiologia<br />

de intervenção oferece<br />

uma alternativa. Através de um<br />

cateter introduzido na região femoral,<br />

é possível alcançar o coração<br />

e implantar um dispositivo<br />

que encerra o local onde a formação<br />

de coágulos é mais provável.<br />

Esse local é o apêndice<br />

auricular esquerdo, uma pequena<br />

extensão da aurícula esquerda<br />

que é responsável pela<br />

formação de cerca de 90% dos<br />

trombos associados à fibrilhação<br />

auricular.<br />

O encerramento do apêndice<br />

auricular esquerdo através de<br />

cateter representa uma importante<br />

evolução na prevenção<br />

do AVC, oferecendo uma alternativa<br />

não-inferior à anticoagulação<br />

em doentes que não toleram<br />

ou apresentam elevado<br />

risco de sangramento. Este procedimento<br />

não é uma cirurgia,<br />

pode ser oferecido em múltiplas<br />

unidades públicas e privadas<br />

de norte a sul do país e geralmente<br />

implica apenas um dia<br />

de internamento.<br />

São múltiplos os desafios na<br />

prevenção do AVC associado<br />

à fibrilhação auricular. Esta arritmia<br />

é frequentemente silenciosa,<br />

dificultando o seu diagnóstico.<br />

Estima-se que cerca<br />

de metade dos doentes com fibrilhação<br />

auricular não estejam<br />

devidamente identificados<br />

e protegidos. Recomendamos<br />

que palpe o seu pulso e procure<br />

o seu médico. Um pulso irregular<br />

poderá corresponder a fibrilhação<br />

auricular.<br />

A adesão terapêutica é outro<br />

obstáculo. É frequentemente difícil<br />

motivar um doente com fibrilhação<br />

auricular para a adesão<br />

a um regime terapêutico prolongado,<br />

particularmente quando<br />

não tem sintomas associados.<br />

É necessário que a população<br />

compreenda que na presença<br />

de fibrilhação auricular o risco<br />

anual de AVC vai até 20% (1 em<br />

cada 5 doentes). Os doentes deverão<br />

estar devidamente protegidos,<br />

procurando cuidados médicos<br />

e mantendo a adesão terapêutica.<br />

Para mais informações pode enviar<br />

email para: apic@spc.pt .<br />

30 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017


SAÚDE ONLINE | nacional<br />

Centros de referência portugueses<br />

participam em curso inovador<br />

de simulação em Mucopolissacaridoses<br />

O Hospital San Joan de Déu, em Barcelona, recebeu a 2.ª edição internacional<br />

do curso “Comprehensive Anesthetic Management of the Child and Teenager<br />

with MPS” (Mucopolissacaridoses), nos dias 5 e 6 de outubro.<br />

Médicas anestesiologistas<br />

portuguesas participaram,<br />

com o apoio da<br />

BioMarin, neste curso de simulação<br />

clínica que decorreu em<br />

Barcelona. Estas participantes<br />

pertencem a centros de referência<br />

na área das doenças hereditárias<br />

do metabolismo, onde existem<br />

equipas multidisciplinares<br />

com experiência no acompanhamento<br />

de doentes com MPS. Em<br />

Portugal, os centros de referência<br />

nesta área são o Centro Hospitalar<br />

de São João, Centro Hospitalar<br />

do Porto, Centro Hospitalar e<br />

Universitário de Coimbra, Centro<br />

“Sendo anestesista<br />

num hospital de<br />

referência de MPS, a<br />

preparação que este<br />

curso proporciona<br />

é essencial e sintome<br />

mais habilitada<br />

para abordar estes<br />

doentes”, afirma<br />

Ana Pinto Carneiro,<br />

do Hospital Dona<br />

Estefânia em Lisboa.<br />

As médicas anestesiologistas portuguesas Amélia Ferreira, Célia Mendes Xavier, Ana Pinto Carneiro e Patrícia Borges<br />

Hospitalar Lisboa Norte e Centro<br />

Hospitalar de Lisboa Central.<br />

Neste curso, organizado pelo<br />

Darwin Simulation Center, do<br />

Hospital Pediátrico de San Joan<br />

de Déu, e pela BioMarin, foram<br />

utilizados simuladores avançados<br />

que mimetizam situações clínicas<br />

de elevada complexidade. Para o<br />

diretor do curso, Dr. Ferran Manen<br />

Berga, o objetivo primordial é o<br />

aperfeiçoamento e a uniformização<br />

dos procedimentos anestésicos<br />

em doentes MPS, em cirurgias<br />

ou outras situações onde a<br />

sedação é necessária.<br />

“É importante lembrar que qualquer<br />

procedimento numa criança<br />

ou adolescente com MPS é<br />

sempre uma situação de risco.<br />

Planear toda a atuação anestésica<br />

é importante, sem esquecer<br />

o pós-operatório e a necessidade<br />

de ventilação não invasiva”,<br />

salienta Célia Mendes Xavier,<br />

do Hospital de Santa Maria, em<br />

Lisboa.<br />

O curso iniciou-se com uma componente<br />

teórica, que englobou diversas<br />

áreas de especialidade,<br />

como a cardiologia, pneumologia,<br />

hemodinâmica, radiologia,<br />

e todo o tipo de procedimentos<br />

32 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017


nacional | SAÚDE ONLINE<br />

anestésicos adotados antes, durante<br />

e após intervenção cirúrgica.<br />

A segunda parte da formação<br />

incidiu na simulação clínica. As<br />

vantagens deste método residem,<br />

sobretudo, no aumento<br />

da segurança dos doentes e,<br />

em termos educacionais, na<br />

possibilidade de “aprender fazendo”.<br />

No final de cada simulação<br />

realiza-se um “debriefing”<br />

para consolidar todos os conceitos<br />

e técnicas aprendidas.<br />

Amélia Ferreira, do Hospital de<br />

São João, no Porto, salienta a<br />

importância da componente de<br />

simulação do curso: “com a recriação<br />

de cenários clínicos, de<br />

uma forma interativa, torna-se<br />

mais fácil a aprendizagem de<br />

atitudes e de competências, incluindo<br />

a tomada de decisões<br />

em situações de crise”.<br />

Em Portugal, esta técnica já é<br />

utilizada em várias unidades de<br />

saúde e instituições de ensino.<br />

No entanto, com as especificidades<br />

de Mucopolissacaridoses<br />

– onde a cirurgia está associada<br />

a uma alta taxa de mortalidade<br />

– este método de ensino<br />

com recurso à simulação clínica<br />

só existe no Hospital Pediátrico<br />

de San Joan de Déu, no Darwin<br />

Simulation Center.<br />

As MPS são doenças hereditárias<br />

do metabolismo, multissitémicas e<br />

progressivas. Dependendo do tipo<br />

e grau de afetação, a expetativa<br />

de vida destes doentes pode ser<br />

bastante reduzida. Desde 2003,<br />

têm surgido cada vez mais tratamentos<br />

para MPS com vista a proporcionar<br />

uma maior qualidade de<br />

vida e longevidade ao doente.<br />

Nestas patologias, existe um<br />

grande risco anestésico, pois há<br />

uma alta prevalência de obstrução<br />

das vias aéreas e doença pulmonar<br />

restritiva em combinação com<br />

manifestações cardiovasculares.<br />

“O facto de surgirem poucos casos<br />

na nossa prática clinica não nos<br />

permite possuir uma metodologia<br />

de abordagem como aquela que<br />

este curso transmite”, salienta Ana<br />

Pinto Carneiro, do Hospital Dona<br />

Estefânia, em Lisboa. A baixa incidência<br />

das MPS e a pouca experiência<br />

existente nos diferentes<br />

centros levam a uma certa heterogeneidade<br />

na prática anestésica.<br />

“No futuro espero conseguir sentir<br />

segurança nas minhas decisões<br />

de anestesiar ou sedar<br />

crianças ou adolescentes com<br />

esta patologia. Lembrar sempre<br />

que cada caso é um caso e<br />

do grande desafio, sobretudo ao<br />

Esta edição contou igualmente com participantes da Alemanha, Itália, Lituânia e Turquia.<br />

nível da via aérea, neste grupo de<br />

doentes”, afirma a anestesiologista<br />

do Hospital de Santa Maria.<br />

A BioMarin desenvolve e comercializa<br />

produtos biofarmacêuticos<br />

inovadores para doenças genéticas<br />

graves. A empresa está empenhada<br />

em atender às diferentes<br />

necessidades de doentes com<br />

MPS, assim como dos seus familiares,<br />

médicos, profissionais de<br />

saúde e grupos de apoio, através<br />

de programas e serviços para os<br />

apoiar, como é o caso desta formação<br />

para médicos que fazem<br />

a gestão anestésica de doentes<br />

com MPS.<br />

novembrO 2017 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 33


SAÚDE ONLINE | profissão<br />

Ultrapassar uma situação<br />

de infidelidade<br />

exige comprometimento mútuo<br />

Pedro Batista<br />

Psicólogo na Unidade<br />

Psiquiátrica Privada de<br />

Coimbra<br />

Email: geral@uppc.pt<br />

Uma situação de infidelidade<br />

tem um impacto<br />

negativo mesmo nos relacionamentos<br />

mais fortes e a descoberta<br />

inicial de um caso geralmente<br />

desencadeia emoções<br />

negativas e intensas em ambos<br />

os parceiros, tais como raiva,<br />

vergonha, culpa ou remorso.<br />

Algumas das razões comuns<br />

para a infidelidade incluem a<br />

falta de atenção para com o outro;<br />

as dificuldades de comunicação<br />

associadas a necessidades<br />

emocionais e do próprio relacionamento;<br />

a falta de intimidade,<br />

perdas ao nível do afeto<br />

e nos cuidados dados ao parceiro;<br />

a insegurança e baixa autoestima<br />

e o desenvolvimento<br />

progressivo de problemas na<br />

relação e sem resolução prévia.<br />

As dependências do jogo,<br />

sexo, álcool ou drogas e os problemas<br />

de saúde mental tais<br />

como Ansiedade, Depressão ou<br />

Perturbação Bipolar são também<br />

fatores que podem contribuir<br />

para a infidelidade.<br />

Após ter conhecimento de um<br />

caso de infidelidade, para algumas<br />

pessoas, o afastamento e/<br />

ou separação poderá constituir<br />

a única solução. Para outros,<br />

com o apoio da família, amigos<br />

e/ou de um bom terapeuta, é<br />

possível ultrapassar uma situação<br />

de infidelidade, emergindo,<br />

em alguns casos, uma reconstrução<br />

e um fortalecimento do<br />

relacionamento.<br />

Algumas ações/atitudes poderão<br />

potenciar uma resolução<br />

responsável e um desfecho<br />

positivo de uma situação de<br />

infidelidade:<br />

* Ser responsável e assumir<br />

os atos praticados.<br />

* Dar espaço mútuo. A<br />

descoberta de um caso<br />

é sempre intensa, sendo<br />

necessário, nesta fase, evitar<br />

discussões emocionalmente<br />

intensas;<br />

* Evitar tomar decisões<br />

precipitadas e em momentos<br />

de forte destabilização<br />

emocional. Antes de tomar<br />

decisões ou de fazer<br />

escolhas, tomar o tempo<br />

necessário para entender o<br />

que conduziu a esta situação.<br />

* Procurar apoio, considerando<br />

a possibilidade de recorrer<br />

a um terapeuta. O apoio de<br />

familiares e de amigos será<br />

benéfico, devendo, no entanto,<br />

evitar situações de julgamento<br />

ou de crítica.<br />

* Não ter pressa. Mesmo que<br />

exista uma forte necessidade<br />

de compreender a situação<br />

ou um profundo desejo<br />

de reconciliação, será<br />

fundamental cumprir o tempo<br />

necessário que permita<br />

restaurar a confiança e atingir<br />

uma eventual reconciliação.<br />

Apesar de todo o sofrimento e<br />

dor que possam estar presentes<br />

após uma situação de infidelidade,<br />

apenas o empenho<br />

e comprometimento mútuo poderão<br />

proporcionar uma vivência<br />

relacional mais positiva, que<br />

continuará a crescer e provavelmente<br />

excederá as expectativas<br />

anteriores.<br />

A Unidade Psiquiátrica Privada<br />

de Coimbra tem por missão contribuir<br />

para o bem-estar da população<br />

através da oferta de cuidados<br />

de saúde, de atividades<br />

de formação e de investigação,<br />

na área da psiquiatria e saúde<br />

mental, de acordo com padrões<br />

de referência internacionais.<br />

Para mais informações consulte:<br />

http://uppc.pt/<br />

34 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017


SAÚDE ONLINE | nacional<br />

Saúde beneficia<br />

com agravamento de imposto<br />

sobre bebidas açucaradas<br />

O que se sabe do orçamento de Estado para 2018 promete o reforço das fontes<br />

de financiamento para o Ministério da Saúde, com base no agravamento de taxas.<br />

Adalberto Campos Fernandes<br />

vai poder contar, em 2018,<br />

com mais dinheiro proveniente<br />

imposto sobre bebidas<br />

açucaradas (tributadas pela primeira<br />

vez em 2017, que de acordo<br />

com a proposta de Orçamento<br />

do Estado de 2018 (OE2018),<br />

vai aumentar 1,5% no caso dos<br />

refrigerantes. O mesmo aumento<br />

previsto para o imposto sobre o<br />

álcool e bebidas alcoólicas. Um<br />

aumento a que corresponde uma<br />

taxa de 8,34 euros por hectolitro<br />

(100 litros) nas bebidas cujo teor<br />

de açúcar seja inferior a 80 gramas<br />

por litro e a 16,69 euros por<br />

hectolitro para as bebidas cujo<br />

teor de açúcar seja igual ou superior<br />

a 80 gramas por litro. No caso<br />

dos refrigerantes, o aumento<br />

agora proposto poderá não ter<br />

qualquer impacto no preço final.<br />

Recorde-se que a introdução do<br />

imposto em 2017, significou um<br />

aumento entre 0,15 e 0,30 euros<br />

no preço final de uma garrafa de<br />

refrigerante de 1,5 litros.<br />

Também as bebidas concentradas<br />

serão alvo de nova tributação. Se<br />

em 2017 a taxa definida era igual<br />

à estipulada consoante as gramas<br />

de açúcar por hectolitro (8,22 euros<br />

por hectolitro até 80 gramas de<br />

açúcar e 16,46 euros por hectolitro<br />

acima dessa quantidade de açúcar),<br />

em 2018 o Governo vai tributar<br />

os concentrados consoante a<br />

sua forma (líquida ou sólida). “Na<br />

forma líquida, 50,01 e 100,14 euros<br />

por hectolitro, aplicando-se ao teor<br />

de açúcar o fator seis; apresentado<br />

sob a forma de pó, grânulos<br />

ou outras formas sólidas, 83,35 e<br />

166,90 euros por 100 quilogramas<br />

de peso líquido, aplicando-se ao<br />

teor de açúcar o fator dez”, lê-se<br />

na proposta de OE2017.<br />

De acordo com a proposta apresentada<br />

no parlamento na passada<br />

sexta-feira, a receita obtida<br />

com o imposto incidente sobre as<br />

bebidas não alcoólicas é consignada<br />

à sustentabilidade do Serviço<br />

Nacional de Saúde (SNS) e dos<br />

Serviços Regionais de Saúde das<br />

Regiões Autónomas da Madeira<br />

e dos Açores. Ou seja, só poderá<br />

ser utilizada, mediante autorização<br />

do Ministro das Finanças.<br />

Quota de genéricos aquém dos<br />

resultados já alcançados<br />

Finalmente, o Governo pretende,<br />

em 2018, adotar medidas que visem<br />

aumentar a quota de medicamentos<br />

genéricos no mercado<br />

total, medida em volume de unidades,<br />

para 42%. Uma meta modesta<br />

tendo em conta que em julho<br />

a quota destes medicamentos<br />

atingiu um recorde histórico<br />

de 47,8%.<br />

Um valor justificado à época pelo<br />

Governo com a introdução de<br />

um incentivo de 35 cêntimos por<br />

cada embalagem dispensada na<br />

farmácia.<br />

Em declarações aos jornalistas,<br />

Adalbero Campos Fernandes revelou<br />

então que o objetivo era<br />

que os genéricos alcançassem<br />

50% da quota de medicamentos<br />

vendidos em Portugal.<br />

Governo salvaguarda suplementos<br />

remuneratórios de USF<br />

modelo B<br />

Os incentivos institucionais e financeiros<br />

auferidos pelos profissionais<br />

que exercem funções<br />

em unidade de saúde familiar de<br />

Tipo B (nas quais a remuneração<br />

é sensível ao desempenho) são<br />

salvaguardados na proposta de<br />

OE para 2018. Uma previsão que<br />

vem colmatar uma lacuna registada<br />

em anos anteriores e que levou<br />

o Tribunal de Contas a contestar<br />

o pagamento dos suplementos<br />

remuneratórios de médicos,<br />

enfermeiros e secretários<br />

clínicos das USF B.<br />

36 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017


SAÚDE ONLINE | profissão<br />

Síndrome disexecutiva<br />

O declíno acentuado das funções executivas podem ser indicadores de doença<br />

Luísa Lagarto<br />

Psiquiatra e membro<br />

da direção da Associação<br />

Cérebro e Mente.<br />

As funções executivas<br />

consistem num conjunto<br />

de capacidades que permitem<br />

ao indivíduo direcionar o<br />

seu raciocínio e comportamento<br />

para determinadas metas ou<br />

objetivos. São exemplos a capacidade<br />

de iniciar e planear uma<br />

tarefa, inibir ou alterar determinada<br />

ação, elaborar estratégias<br />

para a resolução de novos problemas,<br />

formar conceitos abstratos,<br />

avaliar e regular o próprio<br />

comportamento. Estas funções,<br />

essenciais para a adaptação<br />

do indivíduo ao meio ambiente,<br />

dependem da integridade de<br />

estruturas cerebrais localizadas<br />

no lobo frontal. Estas estruturas<br />

podem ser danificadas por infecções,<br />

traumatismos cranianos,<br />

tumores, doenças degenerativas,<br />

abuso de drogas e álcool,<br />

entre outras. Quando a lesão<br />

leva ao aparecimento de sintomas<br />

que prejudiquem o desempenho<br />

normal destas funções,<br />

origina-se então uma síndrome<br />

disexecutiva.<br />

Com frequência, estes doentes<br />

reportam dificuldades em executar<br />

determinadas tarefas, como<br />

planear uma viagem, preparar<br />

uma refeição, gerir assuntos financeiros,<br />

tomar decisões no<br />

imediato ou persistir numa tarefa.<br />

Não raramente os familiares<br />

os descrevem como rígidos<br />

e inflexíveis, incapazes de se<br />

adaptar a situações novas ou a<br />

mudanças de ambiente. Podem<br />

manifestar impulsividade, pouca<br />

afetividade ou perda da capacidade<br />

de empatia. A perda de<br />

juízo crítico também pode ocorrer,<br />

a qual se manifesta por falta<br />

de discernimento para avaliar<br />

as consequências de um comportamento.<br />

Estes doentes podem<br />

tornar-se desadequados<br />

socialmente, negligenciar cuidados<br />

de higiente, usar linguagem<br />

imprópria ou comportar-se<br />

de forma desinibida.<br />

A investigação científica tem<br />

mostrado que as funções executivas<br />

se deterioram durante<br />

o processo normal de envelhecimento,<br />

verificando-se uma diminuição<br />

da flexibilidade mental,<br />

da capacidade de abstração<br />

e da velocidade de raciocínio.<br />

Contudo, um declínio acentuado,<br />

que prejudique o normal<br />

funcionamento do dia-a-dia,<br />

pode ser indicador de doença.<br />

As causas patológicas desta<br />

síndrome são muito diversas e<br />

incluem doenças neurológicas<br />

e psiquiátricas, causas traumáticas,<br />

infeciosas ou neoplásicas,<br />

doenças genéticas, entre<br />

outras. Podem ser reversíveis<br />

como no caso de infeções agudas<br />

ou relacionadas com tóxicos.<br />

Na depressão e ansiedade<br />

crónica é comum a presença de<br />

défices executivos, como dificuldades<br />

na concentração e na resolução<br />

de problemas complexos<br />

e lentificação do raciocínio.<br />

Nestes casos, os sintomas<br />

revertem habitualmente com a<br />

instituição de terapêutica antidepressiva.<br />

Outras causas psiquiátricas<br />

conhecidas incluem<br />

a Esquizofrenia, a Perturbação<br />

de hiperatividade e défice<br />

de atenção, a Perturbação<br />

Bipolar ou a Perturbação<br />

Obsessiva-compulsiva.<br />

As demências degenerativas,<br />

como a demência fronto-temporal,<br />

constituem uma causa<br />

muito frequente. Nestes casos<br />

existe perda irreversível de tecido<br />

cerebral do lobo frontal, verificando-se<br />

um declínio lento e<br />

progressivo das funções executivas.<br />

Estes doentes manifestam<br />

com frequência alterações da<br />

personalidade, perturbações da<br />

linguagem e distúrbios comportamentais<br />

(apatia ou desinibição).<br />

As lesões vasculares que<br />

atinjam estas áreas, provocadas<br />

por exemplo pelo acidente vascular<br />

cerebral (AVC), podem levar<br />

também ao aparecimento<br />

desta síndrome.<br />

O diagnóstico é estabelecido<br />

com base na avaliação clínica e<br />

auxiliado por exames analíticos,<br />

testes neuropsicológicos e de<br />

imagem cerebral. É imperativo<br />

excluir logo de início as causas<br />

potencialmente tratáveis.<br />

O tratamento desta síndrome<br />

depende da doença subjacente.<br />

Em alguns casos de declínio<br />

progressivo pode ser aconselhável<br />

um programa de reabilitação<br />

cognitiva, que consiste na<br />

execução de exercícios direcionados<br />

para estimular determinadas<br />

áreas cerebrais, de forma a<br />

compensar os défices existentes.<br />

Dada a evolução crónica<br />

em grande parte dos casos, os<br />

doentes precisam de ser acompanhados<br />

regularmente por um<br />

especialista. O quadro clínico<br />

pode modificar-se com a progressão<br />

dos défices, e com frequência<br />

surgem concomitante<br />

sintomas emocionais e comportamentais,<br />

que devem ser devidamente<br />

avaliados e tratados.<br />

A síndrome disexecutiva é<br />

um dos temas em discussão<br />

no 8º Encontro Internacional<br />

Psicogeriátrico que vai decorrer<br />

de 2 a 4 de novembro, no Hotel<br />

Dom Pedro Golf, em Vilamoura.<br />

A Associação Cérebro & Mente<br />

tem como principal objetivo promover<br />

a saúde mental na população.<br />

Para mais informações consulte:<br />

http://cerebroemente.pt/<br />

38 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017


SAÚDE ONLINE | profissão<br />

Para que serve a Terapia Ocupacional?<br />

Dia 27 de outubro assinalou-se o Dia Mundial da Terapia Ocupacional. A terapia ocupacional<br />

é uma profissão da área da saúde que tem como principal objetivo promover o bem-estar e a<br />

qualidade de vida de pessoas de todas as idades, capacitando-as para a ocupação<br />

Ana Matias<br />

Terapeuta Ocupacional<br />

no NeuroSer, Centro de<br />

Diagnóstico e Terapias para<br />

Alzheimer e outras patologias<br />

neurológicas<br />

isso, tem em conta o<br />

desempenho e o envolvimento<br />

ocupacional de ​Para<br />

cada pessoa, nas ocupações<br />

que considere mais significativas,<br />

avaliando e intervindo ao<br />

nível de três dimensões: a pessoa,<br />

a ocupação e o ambiente.<br />

Estas ocupações poderão estar<br />

relacionadas com os autocuidados<br />

(tomar banho, vestir/despir,<br />

alimentação, entre outros), com<br />

o lazer (atividades de entretenimento)<br />

ou com a produtividade<br />

(emprego, voluntariado, atividades<br />

que contribuam para a<br />

comunidade/sociedade).<br />

Este profissional atua com utentes<br />

desde recém-nascidos até<br />

idosos, em áreas tão diversas<br />

como a saúde mental, a reabilitação<br />

física, a neurologia, entre<br />

outras. Esta diversidade deve-se<br />

ao foco primordial da intervenção<br />

ser a ocupação, um<br />

aspeto transversal a todas as<br />

faixas etárias, uma vez que nos<br />

envolvemos constantemente<br />

em diferentes ocupações ao<br />

longo da vida.<br />

No NeuroSer, a neurologia é<br />

área de intervenção da terapia<br />

ocupacional, com uma abordagem<br />

em patologias como a demência,<br />

a doença de parkinson<br />

e os parkinsonismos atípicos e o<br />

acidente vascular cerebral. As intervenções<br />

são realizadas tanto<br />

individualmente, como em grupo,<br />

dependendo de cada caso.<br />

No que diz respeito às demências,<br />

o terapeuta ocupacional<br />

priveligia a intervenção em pequenos<br />

grupos, com o objetivo<br />

de promover o envolvimento em<br />

atividades prazerosas que se relacionem<br />

com a identidade ocupacional<br />

individual de cada um<br />

dos utentes e que respeitem as<br />

suas competências remanescentes,<br />

diminuindo a sua frustração<br />

sentida no dia-a-dia e promovendo<br />

a sua socialização e o<br />

bem-estar.<br />

Ao nível da doença de parkinson<br />

e parkinsonismos atípicos, a<br />

intervenção pode ser individual,<br />

focando o desempenho nas atividades<br />

de vida diária, a manutenção<br />

de um envolvimento satisfatório<br />

das atividades lúdicas,<br />

a análise de possíveis adaptações<br />

ocupacionais e ambientais,<br />

entre outros. Ou poderá<br />

ser uma intervenção realizada<br />

em grupo, promovendo um momento<br />

de estimulação motora e<br />

cognitiva, enquanto é facilitada<br />

a identificação com os pares.<br />

Por fim, no acidente vascular cerebral,<br />

no NeuroSer o terapeuta<br />

ocupacional atua apenas em regime<br />

individual, sendo que são<br />

estabelecidos objetivos pessoais<br />

com o utente e/ou cuidador/familiar,<br />

no sentido de promover a autonomia<br />

nas atividades de vida<br />

diária, no lazer e na produtividade,<br />

capacitando a pessoa para<br />

um desempenho satisfatório nas<br />

ocupações que a própria identifica<br />

como significativas.<br />

É importante realçar que, embora<br />

a terapia ocupacional seja<br />

uma área de grande importância<br />

na intervenção com as patologias<br />

acima mencionadas,<br />

será essencial que exista a articulação<br />

com uma equipa multidisciplinar,<br />

como por exemplo<br />

médicos, psicólogos, fisioterapeutas,<br />

terapeutas da fala, entre<br />

outros.<br />

No dia 27 de Outubro é celebrado<br />

o Dia Mundial da Terapia<br />

Ocupacional, com o intuito de<br />

promover esta profissão e os<br />

seus profissionais a atuar nas<br />

mais variadas áreas e permitir<br />

informar a população acerca<br />

desta área de atuação. O dia foi<br />

celebrado pela primeira vez em<br />

2010, sendo que desde esse ano<br />

são dinamizados eventos quer<br />

pela Associação Portuguesa<br />

de Terapeutas Ocupacionais<br />

(APTO), quer pela World<br />

Federation of Occupational<br />

Therapy (WFTO).<br />

Para mais informações consultar:<br />

http://www.neuroser.pt/ |<br />

info@neuroser.pt<br />

40 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017


nacional | SAÚDE ONLINE<br />

SNS 24 vai ajudar doentes<br />

a escolherem hospital<br />

e a marcarem cirurgia<br />

Os utentes que aguardam por uma cirurgia vão ser contactados pelo serviço SNS 24 que os ajudará<br />

a escolher outra instituição pública ou uma unidade no setor convencionado ou o mesmo hospital,<br />

marcando a operação logo no telefonema.<br />

“Queremos uma atitude pró-ativa<br />

para ajudar o utente a tomar<br />

decisões”, afirma Ricardo Mestre,<br />

da direção da Administração Central<br />

do Sistema de Saúde (ACSS).<br />

A<br />

informação foi avançada<br />

à agência Lusa por<br />

Ricardo Mestre, da direção<br />

da Administração Central do<br />

Sistema de Saúde (ACSS), organismo<br />

do Ministério da Saúde que<br />

está a implementar um conjunto<br />

de medidas com vista a agilizar<br />

o acesso dos utentes ao Serviço<br />

Nacional de Saúde (SNS).O responsável<br />

anunciou que, a partir<br />

de outubro, os utentes que<br />

estão à espera de uma cirurgia<br />

num hospital público e que atingiram<br />

os tempos máximos de resposta<br />

garantidos vão receber um<br />

cheque-cirurgia ou uma nota de<br />

transferência (entre hospitais do<br />

SNS), que vai começar a ser desmaterializada,<br />

passando a ser<br />

enviada por SMS ou email.<br />

No caso dos utentes que não dispõem<br />

destas formas de comunicação,<br />

o cheque ou a nota continuarão<br />

a ser enviados em papel.<br />

Através de contacto telefónico,<br />

o SNS 24 irá informar o utente<br />

das alternativas que existem em<br />

outros hospitais públicos, bem<br />

como as soluções no setor privado<br />

e social.<br />

O objetivo da medida é “poupar<br />

tempo”, podendo a cirurgia<br />

ser marcada através desse contacto<br />

telefónico, evitando assim a<br />

deslocação do utente ao hospital<br />

para a marcação da operação,<br />

mediante apresentação do cheque<br />

ou da nota.<br />

“Queremos uma atitude pró-ativa<br />

para ajudar o utente a tomar decisões”,<br />

disse.<br />

Ao nível das consultas, a aposta<br />

passa pelo recurso a instrumentos<br />

como a telemedicina, estando<br />

a ser estendida a todos os hospitais<br />

e centros de saúde a possibilidade<br />

de os médicos de família<br />

enviarem informação, incluindo<br />

fotografias, ao médico hospitalar,<br />

na área da dermatologia.<br />

Segundo Ricardo Mestre, entre<br />

50 a 70% dos casos atendidos<br />

desta forma, nas instituições de<br />

saúde que a disponibilizam, dispensam<br />

uma consulta hospitalar.<br />

A livre escolha dos utentes continua<br />

a aumentar, sendo já 240<br />

mil os utentes que, entre junho<br />

de 2016 e 24 de setembro deste<br />

ano, optaram por uma primeira<br />

consulta de especialidade fora do<br />

seu hospital de residência.<br />

A este propósito, Ricardo Mestre<br />

revelou que, até final deste ano,<br />

será realizada uma avaliação às<br />

razões que estão na origem da<br />

escolha de outro hospital, bem<br />

como o motivo que leva os utentes<br />

a optarem pela sua instituição<br />

de residência.<br />

Lusa/SO/SP<br />

novembrO 2017 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 41


SAÚDE ONLINE | profissão<br />

Discopatia degenerativa<br />

provoca dor incapacitante no idoso<br />

Dia Internacional do Idoso assinalou-se a 1 de outubro<br />

Manuel Tavares de Matos<br />

Presidente da Sociedade<br />

Portuguesa de Patologia<br />

da Coluna Vertebral<br />

A<br />

doença discal degenerativa<br />

ou discopatia degenerativa<br />

é uma alteração<br />

da normal estrutura do<br />

disco intervertebral da coluna.<br />

Esta pode acontecer precocemente<br />

por causas genéticas ou<br />

no decorrer do processo natural<br />

de envelhecimento. Devido à<br />

alteração dos seus constituintes<br />

e sua “desidratação”, os discos<br />

intervertebrais deixam de atuar<br />

como amortecedores, fazendo<br />

deslocar o seu núcleo gelatinoso<br />

para trás formando a “hérnia<br />

discal”, diminuindo a sua resistência<br />

decorrente dos esforços<br />

efetuados (sobretudo quando<br />

dobramos as costas) e fazendo<br />

com que as vértebras se aproximem<br />

umas das outras, diminuindo<br />

os espaços para a passagem<br />

das raízes nervosas. Esta é<br />

uma das causas mais comuns de<br />

dor no adulto idoso, quer local,<br />

quer irradiara para os membros.<br />

As principais queixas dos doentes<br />

são a dor nas costas e/ou<br />

membros e, às vezes, a dificuldade<br />

em andar. O diagnóstico<br />

da discopatia degenerativa<br />

pode ser realizado com recurso<br />

a radiografias que possibilitam<br />

ver a diminuição do<br />

espaço entre os discos, irregularidades<br />

nas suas margens e os<br />

“bicos de papagaio” que na verdade<br />

são firmações de osso, feitas<br />

pela pessoa doente no sentido<br />

de fazer a “ponte” entre as<br />

vértebras e manter assim a estabilidade.<br />

A ressonância magnética<br />

da coluna vertebral apresenta-se<br />

hoje como o exame<br />

mais sensível, podendo mostrar<br />

o grau de hidratação, de degeneração<br />

e compressão medular<br />

ou radicular.<br />

Após o diagnóstico, a maioria<br />

dos doentes responde bem aos<br />

tratamentos “conservadores” ou<br />

não cirúrgicos. Sobretudo com<br />

medidas de “higiene no trabalho”,<br />

diminuindo os esforços com<br />

a coluna “dobrada” e recorrendo<br />

à prática frequente e regular de<br />

exercício de baixo impacto. Em<br />

períodos de crise pode ser vantajoso<br />

recorrer ao apoio da fisiatria,<br />

medicação analgésica e/ou<br />

anti-inflamatória.<br />

Existem dois tipos de cirurgias<br />

habituais de tratamento cirúrgico:<br />

a via convencional macroscópica<br />

e a minimamente invasiva<br />

(MISS). Na cirurgia convencional<br />

utiliza-se incisões<br />

maiores na pele, há maior lesão<br />

muscular, maior hemorragia<br />

e maiores períodos de internamento<br />

hospitalar e de recuperação.<br />

A cirurgia minimamente invasiva<br />

da coluna promove uma<br />

recuperação menos dolorosa e<br />

mais rápida.<br />

A melhor forma de prevenir a<br />

discopatia degenerativa é modificar<br />

as atividades do dia-a-dia<br />

que exercem pressão sobre a<br />

coluna como a má postura (dobrada),<br />

a vida sedentária, o levantamento<br />

incorreto de objetos<br />

pesados e os movimentos repetidos<br />

em flexão e rotação,<br />

A doença discal degenerativa<br />

é um dos temas em destaque<br />

no IV Simpósio da Sociedade<br />

Portuguesa de Patologia da<br />

Coluna Vertebral (SPPCV), que<br />

irá decorrer, dias 3 e 4 de novembro,<br />

em Leiria. A SPPCV<br />

foi fundada em 2003 com o objetivo<br />

de promoção, estudo, investigação<br />

e divulgação das<br />

questões inerentes à problemática<br />

da prevenção, diagnóstico<br />

e tratamento das patologias da<br />

coluna vertebral.<br />

Para mais informações consulte<br />

http://sppcv.org/<br />

42 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017


investigação | SAÚDE ONLINE<br />

Investigadores portugueses ganham<br />

Prémio Europeu de Saúde<br />

O projeto Gen-Equip, que integrou uma equipa de investigadores do Centro de Genética<br />

Preditiva e Preventiva (CGPP) e do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S),<br />

foi o vencedor do Prémio Europeu de Saúde.<br />

Uma equipa de investigadores<br />

do CGPP do i3S –<br />

Instituto de Investigação<br />

e Inovação da Universidade do<br />

Porto, coordenada por Milena<br />

Paneque, integrou o projeto Gen-<br />

Equip que foi galardoado a 4 de<br />

outubro com o European Health<br />

Award, numa cerimónia que ocorreu<br />

durante o vigésimo European<br />

Health Forum Gastein (EHFG).<br />

O Gen-Equip é um projeto europeu<br />

de educação para a saúde<br />

que visa apoiar os profissionais<br />

de saúde a identificar sinais de<br />

problemas genéticos, nomeadamente<br />

cancros e doenças neurodegenerativas<br />

hereditárias e foi<br />

selecionado pelo «alto nível de<br />

inovação e pelo valioso contributo<br />

para a formação de profissionais<br />

de saúde na Europa».<br />

A ideia base do projeto galardoado,<br />

que conta com mais cinco<br />

parceiros europeus, é disponibilizar,<br />

online e gratuitamente, conteúdos<br />

educativos para profissionais<br />

de cuidados de saúde primários.<br />

Desta forma, defendem<br />

os promotores do Gen-Equip,<br />

os cuidados prestados a pacientes,<br />

que têm ou estão em risco<br />

de ter alguma condição de saúde<br />

de base genética, serão grandemente<br />

melhorados e adequados.<br />

Para Milena Paneque, investigadora<br />

do i3S e do Centro de<br />

Genética Preditiva e Preventiva<br />

(CGPP), «os serviços de saúde<br />

primária são a primeira linha de<br />

apoio a estes pacientes, mas frequentemente<br />

sentem dificuldades<br />

em resolver questões simples,<br />

mesmo de orientação dos<br />

pacientes». Por isso, adianta,<br />

«disponibilizamos ferramentas<br />

básicas e essenciais para orientar<br />

esses profissionais quando<br />

“os cuidados prestados a pacientes,<br />

que têm ou estão em risco de ter<br />

alguma condição de saúde de<br />

base genética, serão grandemente<br />

melhorados e adequados” com o<br />

projeto agora premiado, explica<br />

Milena Paneque, que coordenou a<br />

equipa de investigadores do CGPP<br />

do i3S – Instituto de Investigação e<br />

Inovação da Universidade do Porto,<br />

que integrou o projeto Gen-Equip<br />

prestam apoio nesses casos».<br />

Na plataforma online do projeto<br />

podem encontrar-se, entre outros,<br />

tutoriais, casos de estudo<br />

práticos, sinais de alerta e indicadores<br />

que facilitam o diagnóstico<br />

precoce de várias doenças<br />

hereditárias. Por exemplo, há módulos<br />

que ajudam a identificar situações<br />

de gravidez que deverão<br />

ser referenciadas para consulta<br />

de Genética; outros que<br />

ensinam a identificar sinais de<br />

alerta quando existe um atraso<br />

no desenvolvimento da criança;<br />

e outros ainda sobre indicadores<br />

de várias condições hereditárias<br />

no adulto, tais como o cancro<br />

da mama, o cancro coloretal,<br />

ou doenças cardiovasculares. Os<br />

profissionais poderão fazer formação<br />

online para estas patologias<br />

em qualquer altura e em<br />

qualquer fase da carreira.<br />

O projeto Gen-Equip foi lançado<br />

em 2014 integrado e financiado<br />

pelo programa Erasmus+ e<br />

foi desenvolvido numa lógica de<br />

colaboração entre académicos,<br />

profissionais de saúde e pacientes<br />

de vários países europeus.<br />

Até ao momento, a plataforma<br />

criada no projeto já foi utilizada<br />

por mais de 21 mil pessoas. Em<br />

Portugal, afirma Milena Paneque,<br />

«o número de profissionais a realizarem<br />

algum destes oito módulos<br />

temáticos só é ultrapassado<br />

pelos participantes do Reino<br />

Unido». A realização de dois workshops<br />

para a aproximação entre<br />

os especialistas da Genética<br />

e da Medicina Geral Familiar, em<br />

Lisboa e no Porto (i3S), «já começam<br />

a dar os seus primeiros<br />

frutos com a recente proposta<br />

de criação do Núcleo de estudos<br />

em Genética dentro da própria<br />

Associação Portuguesa de<br />

Medicina Geral Familiar», adianta<br />

Milena Paneque. Nesta proposta,<br />

o CGPP terá um papel de consultoria<br />

permanente».<br />

O EHFG atribui o prémio<br />

European Health Award para reconhecer<br />

projetos transnacionais<br />

que contribuem para a melhoria<br />

da saúde pública e dos sistemas<br />

de saúde na Europa. O júri da<br />

EHA é constituído por especialistas<br />

europeus de destaque na<br />

área da saúde. Para a coordenadora<br />

internacional do Gen-Equip,<br />

a Professora Heather Skirton, da<br />

Universidade de Plymouth, «recebermos<br />

um prémio tão prestigiado<br />

é um valioso reconhecimento<br />

do árduo trabalho que tivemos<br />

nos últimos três anos para<br />

desenvolvermos todos estes recursos<br />

de aprendizagem».<br />

novembrO 2017 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 43


TRIPLIXAN ©<br />

Informações essenciais compatíveis com o Resumo das Características do Medicamento. Nome do Medicamento: Triveram ® 10mg/5mg/5mg comprimidos revestidos por película; Triveram ®<br />

20mg/5mg/5mg; comprimidos revestidos por película; Triveram ® 20mg/10mg/5mg comprimidos revestidos por película; Triveram ® 20mg/10mg/10mg comprimidos revestidos por película; Triveram ®<br />

40mg/10mg/10mg comprimidos revestidos por pelicula. COMPOSIÇÃO*: Triveram ® 10mg/5mg/5mg; Triveram ® 20mg/5mg/5mg; 20mg/10mg/5mg; 20mg/10mg/10mg; Triveram ® 40mg/10mg/10mg<br />

comprimidos revestidos por película que contêm 10mg atorvastatina (ator)/5mg perindopril arginina (per)/5mg amlodipina (amlo), 20mg ator/5mg per/5mg amlo, 20mg ator/10mg per/5mg amlo, 20mg<br />

ator/10mg per/10mg amlo, 40mg ator/10mg per/10mg amlo. Contém lactose como excipiente. INDICAÇÕES*: Triveram ® está indicado para o tratamento da hipertensão arterial essencial e/ou da doença<br />

arterial coronária estável, em associação com hipercolesterolemia primária ou hiperlipidemia mista, como terapia de substituição em doentes adultos adequadamente controlados com atorvastatina,<br />

perindopril e amlodipina administrados concomitantemente com a mesma dosagem da associação fixa. POSOLOGIA E MODO DE ADMINISTRAÇÃO*: Um comprimido por dia, antes das refeições de<br />

manhã. Triveram não é adequado para terapêutica inicial. Se for necessária uma mudança de posologia, a titulação deve ser feita com os componentes individuais. Doentes idosos e doentes com<br />

compromisso renal: monitorizar frequentemente a creatinina e o potássio. Clcr 10 x Limite Superior Normal ou sintomas musculares com elevação dos níveis CK>5x Limite Superior Normal ou em caso de risco de se suspeitar de rabdomiólise. Triveram ®<br />

deve ser utilizado com precaução com determinados medicamentos que podem aumentar a concentração plasmática da atorvastatina, como os inibidores potentes do CYP3A4 ou proteínas de<br />

transporte (p.e. a ciclosporina, cetoconazol, ritonavir…). Doença pulmonar intersticial: a terapêutica deverá ser descontinuada. Diabetes Mellitus: em doentes diabéticos, o controlo da glicemia deve<br />

ser rigorosamente monitorizado durante o primeiro mês de tratamento. Insuficiência cardíaca: usar com precaução. Hipotensão: monitorizar a pressão arterial, a função renal e o potássio nos doentes<br />

com elevado risco de hipotensão sintomática (depleção de volume ou hipertensão grave renina-dependente) ou com insuficiência cardíaca sintomática (com ou sem insuficiência renal), ou com<br />

doença cardíaca isquémica ou doença cerebrovascular. Uma resposta hipotensora transitória não é uma contraindicação para doses adicionais, logo que a pressão arterial tenha aumentado após<br />

aumento da volémia. Estenose das válvulas aórtica e mitral/cardiomiopatia hipertrófica: usar com precaução e ver CONTRAINDICAÇÕES. Transplante renal: não há experiência em doentes com transplante<br />

renal recente. Compromisso renal: monitorizar o potássio e a creatinina; titulação da dose individual com os monocomponentes recomendados se Clcr < 60 mL/min. Em doentes com estenose bilateral<br />

da artéria renal foram observados aumentos da ureia e da creatinina séricas; com hipertensão renovascular, risco aumentado de hipotensão grave e insuficiência renal. A amlodipina pode ser<br />

administrada nas doses normais em doentes com insuficiência renal. A amlodipina não é dialisável. Doentes hemodialisados: usar com precaução. Hipersensibilidade/Angioedema: interromper o<br />

tratamento e monitorizar até ao completo desaparecimento dos sintomas. O angioedema associado ao edema da laringe pode ser fatal. Uso concomitante com inibidores mTOR: risco aumentado de<br />

angioedema. Reações anafilatóides durante a aférese de lipoproteínas de baixa densidade (LDL): são raros, casos de doentes que sofreram reações anafilatóides, com risco de vida, interromper<br />

temporariamente o tratamento antes de exame. Reações anafiláticas durante a dessensibilização: suspender temporariamente o tratamento antes dos exames. Estas reações reapareceram após<br />

readministração inadvertida. Neutropenia/agranulocitose/trombocitopenia/anemia: usar com precaução extrema nos doentes com doença vascular colagénica, terapêutica imunossupressora,<br />

tratamento com alopurinol ou procainamida, monitorização periódica dos níveis de glóbulos brancos no sangue. Raça: perindopril, pode ser menos eficaz e causar uma taxa mais elevada de<br />

angioedema em doentes de raça negra do que nos de raça não negra. Tosse: desaparece com a descontinuação do tratamento. Cirurgia/Anestesia: interromper o tratamento um dia antes da cirurgia.<br />

Hipercaliemia: monitorização frequente do potássio sérico em caso de insuficiência renal, agravamento da função renal, idade (>70 anos) diabetes mellitus, desidratação, descompensação cardíaca<br />

aguda, acidose metabólica e uso concomitante de diuréticos poupadores de potássio e suplementos de potássio ou substitutos do sal. Associação com lítio: não é recomendada. Duplo bloqueio do<br />

sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA): utilização concomitante de IECAs, antagonistas dos recetores da angiotensina II ou aliscireno aumenta o risco de hipotensão, hipercaliemia e diminui<br />

a função renal (incluindo insuficiência renal aguda). Portanto, não se recomenda o duplo bloqueio do SRAA. IECAs e antagonistas dos recetores da angiotensina II não deverão ser administrados<br />

concomitantemente em doentes com nefropatia diabética. Intolerância à galactose/má absorção de glucose-galactose/deficiência de lactase: não tomar. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS*:<br />

Contraindicado: aliscireno: (nos doentes diabéticos ou insuficientes renais). Não recomendado: inibidores CYP3A4, aliscireno, terapêutica concomitante com IECAs e bloqueador dos recetores da<br />

angiotensina, estramustina, lítio, diuréticos poupadores do potássio (p.e. triamtereno, amilorido, eplerenona, espironolactona), sais de potássio, dantroleno (infusão), toranja ou sumo de toranja.<br />

Precauções: indutores CYP3A4, digoxina, ezetimiba, ácido fusídico, gemfibrozil/derivados de ácido fíbrico, inibidores das proteínas de transporte, varfarina, antidiabéticos (insulinas, antidiabéticos<br />

orais), baclofeno, anti-inflamatórios não-esteróides (AINE) (incluindo aspirina ≥ 3g/dia), racecadotril, inibidores mTOR (p.e. sirolimus, everolimus, temsirolimus)colquicina, colestipol, contracetivos<br />

orais, gliptinas (linagliptina, saxagliptina, sitagliptina, vildagliptina), simpaticomiméticos, antidepressivos tricíclicos/antipsicóticos/anestésicos, ouro, digoxina, atorvastatina, varfarina ou ciclosporina,<br />

tacrolimus, anti-hipertensores e vasodilatadores. GRAVIDEZ* /ALEITAMENTO*: Triveram está contraindicado durante a gravidez e a amamentação. FERTILIDADE*: Alterações bioquímicas reversíveis<br />

na cabeça dos espermatozoides em alguns doentes tratados com bloqueadores dos canais de cálcio. CONDUZIR E UTILIZAR MÁQUINAS*: Podem ocorrer tonturas, dores de cabeça, fadiga, ou náuseas.<br />

Recomenda-se precaução especialmente no início do tratamento. EFEITOS INDESEJÁVEIS*: Muito Frequente: edema. Frequentes: nasofaringite, hipersensibilidade, hiperglicemia, sonolência, tonturas,<br />

cefaleias, disgeusia, parestesia, vertigens, alterações da visão, zumbidos, palpitações, hipotensão (e efeitos relacionados com hipotensão), rubor, dor faringolaríngeo, epistaxis, tosse, dispneia,<br />

náusea, vómito dor abdominal alta e baixa, dispepsia, diarreia, obstipação, alteração dos hábitos intestinais, flatulência, erupção cutânea, prurido, inchaço das articulações, inchaço dos tornozelos,<br />

dor nas extremidades, atralgia, espasmos musculares, mialgia, dor nas costas, astenia, fadiga, alteração nos testes da função hepática, aumento da creatinaquinase no sangue. Pouco frequente:<br />

Rinite, eosinofilia, hipoglicemia, hiponatremia, hipercaliemia reversível com a descontinuação, anorexia, insónia, alterações do humor (incluindo ansiedade), perturbações do sono, depressão,<br />

pesadelos, tremor, síncope, hipoestasia, amnesia, arritmia (incluindo bradicardia, taquicardia ventricular e fibrilação auricular) visão turva, taquicardia, vasculite, broncospasmo, secura da boca,<br />

pancreatite, eructação, hepatite citolítica ou colestática, urticária, purpura, descoloração cutânea, hiperhidrose, exantema, alopecia, angioedema, penfigoide, reações de fotossensibilidade, dor no<br />

pescoço, fadiga muscular, alterações na micção, nictúria, polaciúria insuficiência renal, disfunção eréctil, ginecomastia, dor no peito, mal-estar, edema periférico, pirexia, aumento da ureia no sangue,<br />

aumento da creatinina no sangue, aumento de peso, glóbulos brancos na urina positivo, diminuição de peso, queda. Raros: trombocitopenia, confusão, neuropatia periférica, colestase, agravamento<br />

da psoríase, síndroma stevens-johnson, necrólise toxicoepidermica, eritema multiforme, miopatia, miosites, rabdomiólise, tendinopatia agravada por rutura, aumento das enzimas hepáticas, aumento<br />

da bilirrubina no sangue. Muito Raro: leucopenia/neutropenia, agranulocitose ou pancitopenia, anemia hemolítica em doentes com deficiência congénita em g-6pdh, diminuição da hemoglobina e do<br />

hematrócito, anafilaxis, hipertonia, perda de audição, enfarte do miocárdio secundário a hipotensão excessiva em doentes de alto risco, pneumonia eosinofilica, gastrite, hiperplasia gengival, icterícia,<br />

insuficiência hepática, dermatite esfoliativa, insuficiência renal aguda. Desconhecidos: miopatia necrozante imunomediada, perturbação extrapiramidal (síndroma extrapiramidal). SOBREDOSAGEM*.<br />

PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS*: A atorvastatina é um inibidor seletivo, competitivo da redutase HMG-CoA. O perindopril é um inibidor da enzima que converte a angiotensina I em angiotensina II<br />

(Enzima de Conversão da Angiotensina - ECA). A amlodipina é um inibidor do influxo iónico do cálcio do grupo dihidropiridina (bloqueador dos canais lentos do cálcio ou antagonista do ião cálcio) e<br />

inibe o influxo transmembranar dos iões de cálcio para as células do músculo liso cardíaco e vascular.APRESENTAÇÃO*: Caixas de 10 e de 30 comprimidos. Comparticipado pelo escalão B. MSRM.<br />

TITULAR DA AUTORIZAÇÃO DE INTRODUÇÃO NO MERCADO: LES LABORATOIRES SERVIER, 50 rue Carnot, 92284 Suresnes cedex France. Para mais informações deverá contactar o representante<br />

do titular de AIM: Servier Portugal, Especialidades Farmacêuticas Lda. Informação científica a cargo de Servier Portugal, Av. António Augusto Aguiar, 128, 1069-133 Lisboa. Telefone 213122000. RCM<br />

aprovado em maio 2016. IECRCM 25.<strong>08</strong>.2017. *Para uma informação completa por favor leia o resumo das características do medicamento


O futuro da nossa saúde<br />

CRÓNICA | SAÚDE ONLINE<br />

João Gonçalo Neto,<br />

Trainee, Novabase<br />

Que as tecnologias de<br />

informação mudam o<br />

mundo e a forma como<br />

vivemos já ninguém tem dúvidas.<br />

A questão é: como poderão continuar<br />

a revolucionar o nosso dia<br />

-a-dia e, em particular, indústrias<br />

tradicionais, como a saúde?<br />

A tecnologia da informação em<br />

saúde é uma realidade que desponta<br />

com diversas vantagens<br />

para as organizações hospitalares,<br />

pela otimização do atendimento<br />

clínico e pelo controlo dos<br />

processos organizacionais, levantamentos<br />

de dados relevantes<br />

e integração de sistemas. Por<br />

essa razão, o setor da saúde tem<br />

suscitado o interesse dos investidores<br />

nos últimos anos, o que se<br />

comprova pelo número crescente<br />

de start-ups a atuar neste mercado<br />

e pelo facto de empresas<br />

como a Apple, Google ou IBM estarem<br />

a investir em projetos inovadores<br />

nesta área. Mas esta é<br />

mais do que uma mera tendência:<br />

é uma necessidade. E uma<br />

necessidade que é partilhada<br />

por Governos e organizações em<br />

todo o mundo.<br />

Que país não estará interessado<br />

em reduzir a sua despesa no setor<br />

da saúde? Especialmente<br />

se se considerar o crescimento<br />

da população mundial e o aumento<br />

da esperança média de<br />

vida. Em Portugal, esta despesa<br />

representa 8,9% do PIB, o 7.º<br />

país com mais gastos em saúde<br />

na Europa.<br />

Se olharmos para o exemplo dos<br />

EUA, e apesar de toda a instabilidade<br />

política, o investimento<br />

nesta área triplicou entre 2011<br />

e 2016 – de 1.1 para 4.3 mil milhões<br />

de dólares – e, só no primeiro<br />

semestre de 2017, já se investiu<br />

quase tanto como no ano<br />

anterior.<br />

Tecnologias de informação de<br />

saúde destinadas ao consumidor<br />

final, como a gestão de informação<br />

clínica, análise de informação<br />

médica associada a<br />

grandes volumes de informação<br />

(big data), terapia digital e equipamento<br />

de ginásio digital, são<br />

as categorias que têm atraído<br />

os investimentos mais avultados.<br />

Mas, afinal, de que modo podem<br />

estas tecnologias revolucionar a<br />

forma como a medicina é praticada<br />

hoje em dia? E, do ponto de<br />

vista do paciente, que melhorias<br />

pode ele esperar na sua saúde,<br />

através da aplicação das tecnologias<br />

de informação?<br />

Da descoberta do raio-x ao diagnóstico<br />

genético, passando pela<br />

ressonância magnética e os padrões<br />

de comportamento, a influência<br />

e importância das tecnologias<br />

de informação nesta área<br />

são fulcrais. O médico, cuja presença<br />

física é cada vez mais reduzida,<br />

tem ao seu dispor ferramentas<br />

que ajudam no diagnóstico<br />

e na tomada da melhor<br />

decisão.<br />

O caminho é este, investir em tecnologias<br />

de informação de saúde<br />

com grande potencial atrativo,<br />

que fomentem a revolução no<br />

nosso dia-a-dia. Categorias como<br />

os “wearables”, dispositivos que<br />

nos fornecem informação sobre<br />

os nossos biossinais, permitindonos<br />

perceber se estamos doentes<br />

mesmo sem nos apercebermos,<br />

entre outros, que possam contribuir<br />

positivamente para o melhor<br />

diagnóstico e tratamento.<br />

A grande questão que se coloca<br />

agora é: até onde estes auxiliares<br />

de diagnóstico serão confiáveis?<br />

Enquanto noutras indústrias,<br />

como a banca, os algoritmos<br />

de análise de dados aplicados<br />

conseguem estabelecer modelos<br />

relacionais entre as suas variáveis,<br />

será que o mesmo se<br />

passa com o diagnóstico médico,<br />

por exemplo? Seremos nós, enquanto<br />

corpo humano altamente<br />

complexo, facilmente interpretados<br />

por esses mesmos algoritmos?<br />

Pela nossa genética e estilo<br />

de vida, como irá a tecnologia<br />

ultrapassar estas barreiras?<br />

novembrO 2017 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 47

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