SaúdeOnline nº 08
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novembro 2017 | N.º 8 | ANO I | MENSAL | PREÇO: 3€<br />
Diretor: Miguel Múrias Mauritti<br />
Entrevista: Eduardo Pinto Leite, Diretor-geral da GSK Portugal<br />
para a área farmacêutica<br />
Portugueses acedem tarde à inovação terapêutica<br />
OE 2018<br />
SNS com menos<br />
51,3 milhões<br />
do que em 2017<br />
entrevista<br />
PÁG. 12<br />
Especial – Rotas da Saúde<br />
USF Santiago de Leiria<br />
Uma década depois…. Espírito de equipa mantém-se<br />
PÁG.24<br />
É necessário um<br />
compromisso de todos<br />
os atores da Saúde que<br />
garanta que os doentes<br />
portugueses não sejam<br />
prejudicados no acesso aos<br />
medicamentos inovadores<br />
face aos cidadãos de outros<br />
Estados-membros.<br />
Adalberto Campos<br />
Fernandes vai contar<br />
com menos 51.5<br />
milhões de euros,<br />
para fazer face às<br />
despesas do SNS. São<br />
menos 0.6% de um<br />
total correspondente a<br />
4,25% do PIB previsto.<br />
Parceiros dizem que<br />
não chega…<br />
PÁG. 18<br />
Opinião<br />
Luís Gouveia<br />
de Andrade<br />
A “velha” aspirina<br />
PÁG. 06<br />
Procedimento<br />
médico previne<br />
AVC em doentes<br />
com fibrilhação<br />
auricular<br />
PÁG. 30<br />
Ultrapassar<br />
uma situação de<br />
infidelidade exige<br />
comprometimento<br />
mútuo<br />
PÁG. 34<br />
Eliminar a hepatite<br />
C em Portugal e na<br />
Europa é possível<br />
até 2030<br />
Representantes<br />
do Governo<br />
português, políticos,<br />
especialistas, médicos<br />
e associações de<br />
doentes e grupos<br />
de ativistas na<br />
área reuniram-se<br />
em Bruxelas para<br />
anunciar a sua<br />
intenção de trabalhar<br />
juntos com o objetivo<br />
de eliminar o vírus<br />
da Hepatite C até<br />
2030, ao assinarem<br />
o “Manifesto pela<br />
Eliminação da<br />
Hepatite C”.<br />
Pág. 28<br />
PUB
sumário<br />
Entrevista: Eduardo Pinto Leite, Diretor-geral<br />
da GSK Portugal para a área farmacêutica<br />
Portugueses acedem tarde<br />
à inovação terapêutica<br />
É necessário um compromisso de todos os<br />
atores da Saúde que garanta que os doentes<br />
portugueses não sejam prejudicados no acesso<br />
aos medicamentos inovadores face aos cidadãos<br />
de outros Estados-membros.<br />
pág. 12<br />
04 Opinião<br />
Acácio Gouveia<br />
Mente!<br />
06 Opinião<br />
Luís Gouveia de Andrade<br />
A “velha” aspirina<br />
09 Opinião<br />
Patrícia Pita Lobo<br />
Distonia: contrair involuntariamente<br />
os músculos<br />
16 Entrevista: Helder<br />
Pereira, diretor do Serviço<br />
de Cardiologia no Hospital<br />
Garcia de Orta e coordenador<br />
da iniciativa Stent Save a Life<br />
Transporte pré-hospitalar como elemento<br />
chave no sucesso de uma rede de tratamento<br />
de enfarte<br />
“Há cerca de uma década éramos um dos<br />
países europeus com uma das mais baixas<br />
taxas de angioplastia primária. Em cerca de<br />
uma década triplicamos o número de doentes<br />
tratados por angioplastia e presentemente<br />
temos números dentro de média europeia.”<br />
18 OE 2018<br />
SNS com menos 51,3 milhões do que em 2017<br />
Adalberto Campos Fernandes vai contar com<br />
menos 51.5 milhões de euros, para fazer face<br />
às despesas do SNS. São menos 0.6% de um<br />
total correspondente a 4,25% do PIB previsto.<br />
Parceiros dizem que não chega…<br />
24 Especial – Rotas da<br />
Saúde<br />
USF Santiago de Leiria<br />
Uma década depois…. Espírito de equipa<br />
mantém-se<br />
28 Eliminar a hepatite C<br />
em Portugal e na Europa é<br />
possível até 2030<br />
Representantes do Governo português,<br />
políticos, especialistas, médicos e associações<br />
de doentes e grupos de ativistas na área<br />
reuniram-se em Bruxelas para anunciar a sua<br />
intenção de trabalhar juntos com o objetivo<br />
de eliminar o vírus da Hepatite C até 2030, ao<br />
assinarem o “Manifesto pela Eliminação da<br />
Hepatite C”.<br />
30 Procedimento médico<br />
previne AVC em doentes<br />
com fibrilhação auricular<br />
32 Centros de referência<br />
portugueses participam em<br />
curso inovador de simulação<br />
em Mucopolissacaridoses<br />
O Hospital San Joan de Déu, em Barcelona,<br />
recebeu a 2.ª edição internacional do curso<br />
“Comprehensive Anesthetic Management<br />
of the Child and Teenager with MPS”<br />
(Mucopolissacaridoses), nos dias 5 e 6 de<br />
outubro.<br />
34 Ultrapassar uma<br />
situação de infidelidade exige<br />
comprometimento mútuo<br />
FICHA TÉCNICA | Publicação online de informação geral e médica<br />
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da alinea a) do <strong>nº</strong>1 do artigo 12º do<br />
decreto regulamentar <strong>nº</strong>8/99, de 9 de junho<br />
Periodicidade<br />
Informação permanente<br />
Ano de fundação: 2016
SAÚDE ONLINE | CRÓNICA<br />
Mente!<br />
“Quando falares cuida que as tuas palavras sejam melhores que o silêncio”<br />
(Provérbio hindu)<br />
Acácio Gouveia<br />
Médico de família<br />
Ouvimos o Sr. Secretário<br />
de Estado Adjunto da<br />
Saúde explicar que o<br />
acesso às consultas de desabituação<br />
tabágica, bem como<br />
a comparticipação da medicação<br />
de desabituação, “são fundamentais”<br />
na luta contra a epidemia<br />
do tabagismo. Mentira!<br />
Este subtil dislate não será percetível<br />
como tal pelo comum dos<br />
leigos, mas para quem sabe um<br />
pouco “da poda” não pode deixar<br />
de se escandalizar e preocupar.<br />
Mais: se for verdade que o executivo<br />
não pensa mexer no preço<br />
do tabaco, insinua-se na mente<br />
dos que se preocupam efetivamente<br />
com a saúde dos portugueses<br />
a sensação angustiante<br />
duma tragédia anunciada. É que<br />
temos um refinado raposão dentro<br />
do galinheiro com prosápias<br />
de guardião da segurança dos<br />
incautos galináceos.<br />
Vejamos. A desabituação tabágica<br />
tem uma eficácia modesta<br />
e uma eficiência “pouquechinha”,<br />
mesmo nos melhores centros.<br />
Por outro lado, em muitos casos,<br />
mesmo que coroada de sucesso,<br />
mais não faz que conter estragos.<br />
Isto é, nos fumadores com<br />
sequelas inerentes à dependência<br />
os ganhos são menores dos<br />
que os conseguidos nos jovens<br />
que consigamos evitar que entrem<br />
no consumo. Portanto, prevenir<br />
é bem melhor política que<br />
tratar, sobretudo quando é tão difícil<br />
curar e sendo os ganhos escassos<br />
em muitos casos! Quanto<br />
à comparticipação da medicação<br />
de desabituação, não é linear que<br />
seja boa política, isto é, que melhore<br />
os resultados terapêuticos.<br />
Estes fármacos comportam-se<br />
um pouco como os milagres que<br />
só acontecem a quem tem muita<br />
fé. A medicação só atua em quem<br />
está muito empenhado em parar<br />
o consumo. E o empenhamento<br />
começa na disposição para pagar.<br />
Uma vez que o preço baixe<br />
aumentará o número de utilizadores,<br />
mas é previsível que este incremento<br />
se fará à custa dos fumadores<br />
menos comprometidos<br />
com a suspensão do vício, logo<br />
mais propensos ao falhanço. A<br />
menos que exista experiência<br />
que demonstre que a comparticipação<br />
destes fármacos melhore a<br />
efetividade, podemos prever que<br />
a um aumento de custos não se<br />
venham a se associar resultados<br />
melhores que os atuais.<br />
Os responsáveis pela saúde<br />
dos portugueses sabem perfeitamente<br />
que (i) é de longe melhor<br />
prevenir que remediar e (ii)<br />
a mais eficaz arma contra o tabagismo<br />
é justamente o aumento de<br />
preços acima dos 10%. A hierarquia<br />
das prioridades está invertida,<br />
mesmo no Plano Nacional<br />
de Saúde 2012-2016. O aumento<br />
de preços, seguido de medidas<br />
restritivas, remetendo para o fim<br />
o enfoque na terapêutica de cessação<br />
é a estratégia correta.<br />
Porquê então descartar a opção<br />
mais eficaz em prole de estratégias<br />
de resultados reconhecidamente<br />
medíocres? Neste jogo<br />
do gato e do rato entre as autoridades<br />
responsáveis por proteger<br />
a saúde das populações e a<br />
Big Tabacco (promotora do consumo<br />
de tóxicos altamente cancerígenos<br />
e responsáveis por<br />
uma plêiade de patologias letais<br />
e não letais), em Portugal, podem<br />
as ratazanas estar tranquilas, já<br />
que os amáveis tarecos são mais<br />
dados à cooperação de que ao<br />
estorvo. Exagero? Vejamos o que<br />
se passou com a recente legislação<br />
sobre tabaco.<br />
Embandeirou-se em arco porque<br />
as novas formas de consumo de<br />
tabaco foram equiparadas às tradicionais<br />
formas combustíveis.<br />
Mas houve um recuo em relação<br />
à anterior legislação: passou a<br />
ser permitido fumar à porta de estabelecimentos<br />
de ensino e instituições<br />
de prestação de cuidados<br />
de saúde, o que não passa duma<br />
maneira engenhosa de aliviar a<br />
proibição de publicidade ao tabaco.<br />
Os professores são figuras<br />
de referência para os adolescentes<br />
e, portanto, a imagem do docente<br />
a fumar torna-se uma forma<br />
subtil e barata de publicitar o tabaco.<br />
O mesmo se pode dizer de<br />
médicos e enfermeiros a fumegar<br />
à porta de hospitais e centros de<br />
saúde. Como diz um velho provérbio<br />
árabe “uma mão que reza<br />
e uma mão que mata”.<br />
4 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017
SAÚDE ONLINE | CRÓNICA<br />
A “velha” aspirina<br />
Reflexões sobre os resultados de um trabalho recente<br />
Luís Gouveia Andrade<br />
Médico Oftalmologista<br />
Grupo Lusíadas Saúde<br />
Director Geral da InfoCiência<br />
Num dos números de<br />
setembro do reputado<br />
jornal “Circulation”, um<br />
grupo de investigadores suecos<br />
estudou e avaliou o impacto<br />
da interrupção do uso a longo-prazo<br />
de aspirina em baixas<br />
doses, na ausência da necessidade<br />
de uma cirurgia major ou<br />
de um episódio de hemorragia,<br />
no risco de ocorrência de eventos<br />
cardiovasculares.<br />
Esse trabalho, conduzido na<br />
Suécia, incidiu sobre mais de<br />
600.00 utilizadores de aspirina<br />
em baixa dosagem (75-160 mg)<br />
num contexto de prevenção primária<br />
e secundária.<br />
Verificou-se que os pacientes que<br />
interromperam a aspirina apresentaram<br />
uma taxa 37% superior<br />
de eventos cardiovasculares em<br />
comparação com os que mantiveram<br />
essa utilização e esse valor<br />
correspondeu a um evento<br />
cardiovascular adicional por ano<br />
num em cada 74 dos doentes que<br />
interromperam a aspirina.<br />
Este aumento de risco ocorreu<br />
pouco tempo após a interrupção,<br />
ou seja, sem existir um intervalo<br />
de segurança, e não diminuiu ao<br />
longo do tempo.<br />
Qual a importância deste trabalho?<br />
Como sabemos, milhões de<br />
doentes em todo o mundo<br />
utilizam aspirina numa base diária.<br />
As recomendações atuais,<br />
de acordo com o U.S. Preventive<br />
Services Task Force, para esta<br />
utilização incluem pacientes com<br />
idade entre 50 e 59 anos, ausência<br />
de risco hemorrágico, presença<br />
de risco igual ou superior<br />
a 10% para enfarte do miocárdio,<br />
ou acidente cerebrovascular<br />
ao longo dos próximos 10 anos.<br />
Para idades entre os 60 e os 69<br />
anos, com os mesmos critérios<br />
de risco, essa opção deve ser<br />
cuidadosamente ponderada com<br />
o médico para uma avaliação individualizada<br />
da relação entre riscos<br />
e benefícios da utilização da<br />
aspirina. Antes dos 50 anos e<br />
acima dos 70 anos, essa recomendação<br />
ainda carece de investigação<br />
mais aprofundada e deverá<br />
ser validada cientificamente.<br />
De acordo com os resultados<br />
deste estudo, a aderência a esse<br />
tratamento é muito importante<br />
porque será muito provável que<br />
muitos desses milhões de pacientes<br />
decidam, em algum momento<br />
da sua vida e por variadíssimas<br />
razões, interromper a toma de aspirina<br />
durante um determinado<br />
período de tempo. E essa decisão<br />
pode ter consequências clinicamente<br />
muito significativas…<br />
Daqui resulta ser crucial uma<br />
adequada e regular comunicação<br />
entre médicos e doentes, de<br />
modo a que uma decisão relativa<br />
à interrupção da aspirina seja tomada<br />
de um modo consciente, informado<br />
e, sobretudo, seguro.<br />
Considero este trabalho digno de<br />
reflexão e partilha por diversas<br />
razões.<br />
Por um lado, é sempre bom ter<br />
presente que, na era das constantes<br />
inovações e revoluções terapêuticas,<br />
um tratamento clássico<br />
como este é ainda uma referência<br />
na prevenção cardiovascular.<br />
Esta persistência como válidas<br />
de atitudes terapêuticas clássicas,<br />
bem como outras, é um fiel<br />
marcador do carácter intemporal<br />
da prática médica, onde coexistem<br />
técnicas de engenharia molecular<br />
com o recurso ao gelo, ao<br />
calor ou… à aspirina.<br />
E isso é bom, por permitir a existência<br />
de um fio condutor que se<br />
iniciou há milénios, passa por nós<br />
e, muito provavelmente, se prolongará<br />
para lá de nós. Nem tudo<br />
é high tech na Medicina atual,<br />
nem tudo está ultrapassado, muitos<br />
dos pilares da prática médica<br />
permanecem robustos e resistentes<br />
a todas as turbulências próprias<br />
da evolução do pensamento<br />
médico e da tecnologia ao serviço<br />
da Medicina.<br />
Provavelmente, muitos doentes<br />
tomam aspirina de baixa dosagem<br />
por imitação dos seus pares<br />
ou por terem lido algures os seus<br />
potenciais benefícios. E, em muitos<br />
casos, nem informam o seu<br />
médico dessa utilização por a entenderem<br />
como um gesto quase<br />
rotineiro. E mais facilmente ainda<br />
optarão por interromper essa utilização<br />
de forma errática, muitas<br />
vezes sem uma razão aparente.<br />
Este estudo revela as potenciais<br />
implicações e riscos dessa prática<br />
e, mesmo não sendo possível<br />
identificar todos os pacientes<br />
que utilizam aspirina, fica aqui um<br />
útil alerta para estarmos sempre<br />
atentos e disponíveis e para, sempre<br />
que possível, contribuamos<br />
para difundir informações que podem<br />
fazer toda a diferença.<br />
O exemplo deste trabalho é paradigmático:<br />
o uso da “velha” aspirina<br />
pode e deve reger-se por todas<br />
as cautelas de modo a dela<br />
se retirarem todos benefícios<br />
clínicos. Utilizá-la bem implica<br />
igualmente saber que a sua interrupção<br />
pode ser prejudicial.<br />
O mesmo raciocínio se deverá<br />
aplicar a outros medicamentos e<br />
o reforço dessa mensagem é, por<br />
isso, da maior importância.<br />
Excelente trabalho. Pelo que<br />
revela e pelo que faz pensar…<br />
6 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017
SAÚDE ONLINE | nacional<br />
Portugal acima da média<br />
europeia na utilização<br />
de tecnologias na saúde<br />
A conclusão foi apresentada na 1.ª Edição do Hintt - Health Intelligent Talks & Trends,<br />
que teve lugar no início do mês de outubro na Fundação Champalimaud e juntou mais<br />
de 300 profissionais da saúde, gestão e IT.<br />
A<br />
primeira edição do Hintt<br />
– Health Intelligent Talks<br />
& Trends decorreu no<br />
dia 4 de outubro, na Fundação<br />
Champalimaud e juntou mais de<br />
300 profissionais de saúde, gestão<br />
e TI. O evento procurou debater<br />
e refletir sobre as tecnologias<br />
de saúde e o impacto das TI para<br />
as instituições, o utente e, especialmente,<br />
para o cidadão. O<br />
Hintt contou com a presença de<br />
oradores como John Rayner, que<br />
apresentou dados que evidenciam<br />
que Portugal está acima da<br />
média europeia na utilização de<br />
tecnologias no sistema de saúde.<br />
O médico, geneticista, autor e palestrante<br />
húngaro Bertalan Meskó,<br />
The Medical Futurist, foi o grande<br />
destaque do evento, graças a uma<br />
apresentação criativa que comparava<br />
os serviços de saúde atuais a<br />
um astronauta sozinho em Marte:<br />
o paciente de hoje em dia sente-se<br />
Filipa Fixe, Diretora de Healthcare da<br />
Glintt, anunciou que as candidaturas<br />
para o prémio de 2018 estão abertas<br />
até 21 de maio do próximo ano<br />
isolado, recebe informação de<br />
uma forma distante e pouco personalizada,<br />
e segue apenas ordens.<br />
O orador de 32 anos mostrou<br />
que é necessário tornar o cidadão<br />
no verdadeiro foco do sistema<br />
de saúde, para que este seja<br />
parte do tratamento e atendimento<br />
médico, que deve ser focado na<br />
saúde e não na doença. Por isso,<br />
é na tecnologia que vê a oportunidade<br />
para criar um sistema de<br />
saúde realmente acessível, personalizado,<br />
preventivo e humano.<br />
Alexandre Quintanilha também<br />
esteve presente no evento, com<br />
um debate que procurou explorar<br />
as oportunidades e ameaças da<br />
Big Data nos dias de hoje. Para<br />
o físico e antigo professor, as<br />
novas tecnologias surgem como<br />
forma de tratamento da informação<br />
com que somos confrontados<br />
diariamente - o que pode resultar,<br />
na sua opinião, no empowerment<br />
dos cuidados de saúde no seu<br />
todo. Mas Alexandre Quintanilha<br />
deixou alertas, principalmente no<br />
que diz respeito à quantidade,<br />
qualidade e propósito dos dados<br />
que são recolhidos e transmitidos<br />
no tratamento das tecnologias de<br />
informação e da saúde.<br />
Estes alertas foram partilhados<br />
um pouco por todos os painéis.<br />
Sem exceção, a Mesa Debate,<br />
moderada por Pedro Pinto e que<br />
contou com a participação de<br />
Paulo Gonçalves, Nuno Sousa,<br />
Maria de Belém e Bertalan Meskó<br />
explorou assuntos como a garantia<br />
da confidencialidade na partilha<br />
de dados, no impacto das<br />
tecnologias para as instituições<br />
de saúde e cidadãos e necessidade<br />
de atualização dos quadros<br />
regulatórios.<br />
O Hintt não se despediu sem<br />
que antes Filipa Fixe, Diretora de<br />
Healthcare da Glintt, anunciasse<br />
o Prémio Hintt para 2018, que se<br />
vai dividir nas categorias Patient<br />
Safety, Value proposition, Clinical<br />
Outcomes e Startup Inovation. As<br />
candidaturas estão abertas até<br />
21 de maio do próximo ano e os<br />
vencedores serão anunciados na<br />
2ª Edição do Hintt, já marcada<br />
para 3 de outubro de 2018.<br />
Comunicado/SO<br />
8 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017
CRÓNICA | SAÚDE ONLINE<br />
Distonia:<br />
contrair involuntariamente<br />
os músculos<br />
Patrícia Pita Lobo<br />
Médica neurologista no Hospital<br />
Professor Doutor Fernando<br />
da Fonseca<br />
Membro da Sociedade<br />
Portuguesa de Doenças<br />
do Movimento<br />
A<br />
distonia é uma doença<br />
neurológica rara.<br />
Caracteriza-se por contrações<br />
musculares involuntárias<br />
que concionam movimentos e/ou<br />
posturas anormais, que podem<br />
estar presentes em uma ou mais<br />
zonas do corpo.<br />
A distonia pode ter uma causa<br />
genética, pode estar associada<br />
a outras doenças ou ser secundária<br />
a traumatismos cranianos,<br />
mas a maioria não apresenta<br />
uma causa conhecida.<br />
A distonia no adulto manifestase<br />
habitualmente entre os 40 e<br />
os 50 anos, é mais frequente no<br />
sexo feminino, e caracteriza-se<br />
por atingir apenas um segmento<br />
do corpo.<br />
Quando os olhos são o segmento<br />
do corpo atingido designamos<br />
por blefarospasmo (do grego: blepharo,<br />
pálpebra e espasmo, contração<br />
involuntária). Esta doença<br />
manifesta-se por um aumento<br />
exagerado da frequência do pestanejo<br />
(o doente está sempre a<br />
piscar os olhos). Nos casos graves,<br />
o doente apresenta um encerramento<br />
forçado dos olhos,<br />
não conseguindo abri-los de<br />
forma voluntária, o que condiciona<br />
uma quase «cegueira» (o<br />
doente é incapaz de ver porque<br />
tem os olhos permanentemente<br />
fechados).<br />
Torticollis (do latim tortus, torcido,<br />
e collum, pescoço) é o termo<br />
usado para designar a distonia<br />
do pescoço. Observam-se posturas<br />
e/ou movimentos anormais<br />
da cabeça e pescoço, que são<br />
por vezes espasmódicos/bruscos.<br />
O doente aparenta ter o pescoço<br />
torto ou parece que está<br />
a contorcê-lo constantemente.<br />
Pode ainda queixar-se simultaneamente<br />
de dor no pescoço.<br />
Por vezes, a distonia cervical associa-se<br />
a tremor da cabeça (o<br />
doente abana a cabeça como se<br />
estivesse a dizer constantemente<br />
que «sim» ou que «não»).<br />
A distonia cervical e o blefarospasmo<br />
são as duas formas mais<br />
comuns de distonia no adulto. No<br />
entanto, os movimentos anormais<br />
podem ser observados nos membros,<br />
na boca, nas cordas vocais.<br />
Alguns doentes queixamse<br />
também de movimentos anormais<br />
que surgem apenas durante<br />
a execução de determinadas tarefas,<br />
por exemplo durante a escrita,<br />
e designa-se de cãibra de<br />
escrivão (a postura anormal da<br />
mão só surge quando o doente<br />
tenta escrever).<br />
Na infância, a distonia caracteriza-se<br />
por atingir, habitualmente,<br />
múltiplos segmentos do corpo simultaneamente<br />
(por exemplo,<br />
tronco e membros), designandose<br />
de distonia generalizada.<br />
Trata-se habitualmente de uma<br />
doença genética e, por isso, pode<br />
ser transmitida de pais para filhos.<br />
Como curiosidade, alguns doentes<br />
com distonia apresentam o<br />
«gesto antagonista». Trata-se<br />
de uma manobra que o doente<br />
faz e que alivia transitoriamente<br />
a postura anormal (por exemplo,<br />
alguns doentes com Torticollis,<br />
com torção da cabeça, referem<br />
que basta tocar no queixo de<br />
forma ligeira para a cabeça voltar<br />
à posição normal).<br />
Existem atualmente vários tratamentos,<br />
potencialmente benéficos<br />
que podem ser oferecidos<br />
aos doentes. Estes podem ser<br />
usados de forma isolada ou em<br />
combinação dependendo do tipo<br />
de distonia.<br />
A terapêutica oral, sob a forma<br />
de comprimidos tomados diariamente,<br />
produz um alívio da contração<br />
muscular anormal e, por<br />
conseguinte, a melhoria dos movimentos<br />
involuntários.<br />
O tratamento com toxina botulínica<br />
consiste na injeção do medicamento<br />
nos músculos afetados.<br />
Esta tem um poder relaxante<br />
muscular direto, reduzindo as<br />
contrações involuntárias do músculo<br />
injetado e, por conseguinte,<br />
diminui as posições anormais.<br />
A duração do efeito de cada injeção<br />
é de cerca de três a seis<br />
meses, pelo que deve ser repetido<br />
periodicamente. Trata-se de<br />
um tratamento que é realizado<br />
em consulta, por um médico neurologista<br />
treinado na realização<br />
deste procedimento.<br />
E por último, quando as terapêuticas<br />
menos invasivas falham ou<br />
a melhoria é parcial e insatisfatória,<br />
alguns doentes, dependendo<br />
do tipo de distonia, têm indicação<br />
para realizar a cirurgia cerebral.<br />
novembrO 2017 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 9
SAÚDE ONLINE | CRÓNICA<br />
Lápis azul<br />
O consenso na saúde ou o grande logro?<br />
Rui Cernadas<br />
Competência em Medicina<br />
Farmacêutica da Ordem<br />
dos Médicos<br />
A<br />
Saúde parece ser um bem<br />
inalienável e que todos<br />
os cidadãos reivindicam<br />
mesmo quando não adotam comportamentos<br />
saudáveis ou responsáveis.<br />
Sobretudo quando<br />
se tem presente a doença e se<br />
sente sofrimento em todas as<br />
suas dimensões.<br />
E mais ainda quando se fala em<br />
dinheiro e nos lembramos que<br />
é a primeira causa de perda do<br />
produto interno bruto (PIB) a nível<br />
mundial!<br />
As estimativas da Organização<br />
Mundial de Saúde colocam a fasquia,<br />
para 2030, acima dos 50 triliões<br />
de dólares!<br />
Esta é a única razão plausível<br />
que leva a que os políticos e os<br />
decisores entendam a Saúde<br />
como estratégica para a economia<br />
mundial e nacional.<br />
Tudo o resto é demagogia e falta<br />
de vergonha ou, enfim, condescendendo,<br />
um convite ao brilhantismo<br />
académico na procura de<br />
outros argumentos…<br />
Quando leio que a Saúde é um<br />
campo de grandes consensos ou<br />
que, só a Saúde reúne terreno sólido<br />
para consenso, arrepio-me.<br />
Não há consenso desde logo entre<br />
os profissionais de saúde.<br />
E mesmo dentro das suas<br />
Ordens Profissionais são conhecidas<br />
e identificadas as naturais<br />
diferenças e posições, básicas e<br />
óbvias, até pelos enquadramentos<br />
socioprofissionais e legais<br />
nas actividades desempenhadas,<br />
aos padrões de vínculo contratual,<br />
aos níveis assistenciais<br />
praticados, às assimetrias regionais,<br />
aos perfis etários, à densidade<br />
demográfica das especialidades<br />
e áreas e, enfim, ao enfeudamento<br />
claro às vertentes sindicais,<br />
quando não partidárias.<br />
Pese embora o discurso da interdisciplinaridade<br />
e do trabalho<br />
em equipa, as excepções não fazem<br />
nem a regra, nem a cor dominante.<br />
São conhecidas as reservas<br />
que se levantam em muitos<br />
territórios e sectores, médicos<br />
e enfermeiros, hospitalares e não<br />
hospitalares, enfermeiros generalistas<br />
e especialistas, enfermeiros<br />
de reabilitação e fisioterapeutas,<br />
técnicos de diagnóstico e outros<br />
técnicos, administradores hospitalares<br />
e médicos, por aí fora…<br />
Atente-se que quando lemos as<br />
tais notícias em prol do Consenso<br />
na Saúde, lá estão enumeradas<br />
as escolas médicas, os hospitais<br />
privados, as associações de sectores<br />
convencionados, o termalismo,<br />
a indústria farmacêutica<br />
e de diagnósticos e tecnologias<br />
médicas, as seguradoras e os<br />
bancos, as associações de doentes<br />
ou tentes, mas faltam sempre<br />
os profissionais e os contribuintes<br />
individuais.<br />
O Consenso, na minha linguagem<br />
de há muitos anos, o pacto<br />
de regime, deveria ser muito<br />
mais amplo para ser possível e<br />
envolvente.<br />
Muito mais além do que a calendarização<br />
ao toque para todas as<br />
greves em simultâneo e em consonância<br />
mais ou menos precipitada,<br />
ainda que também mais<br />
ou menos justa e justificada pelos<br />
disparates de grupos e comissões<br />
de trabalho e de estudo sem<br />
fim e sem jeito!<br />
Precisa de “atropelar” o princípio<br />
a que se ancora em termos de valor<br />
económico e social e que se<br />
define sempre na ideia de que,<br />
o investimento público na saúde<br />
dos Portugueses representa<br />
cerca de 2/3 da média dos países<br />
da OCDE.<br />
O logro, ou o perigo do logro,<br />
parte deste ponto.<br />
É que logo a seguir alguém vai<br />
dizer – “ponha-se mais investimento<br />
público na saúde” – porque<br />
o país tem um PIB per capita de<br />
cerca de 73% da média dos países<br />
da OCDE.<br />
Esta foi a fórmula que nos trouxe<br />
até hoje. Pôr dinheiro, sempre<br />
mais dinheiro em cima dos problemas,<br />
dos buracos, das ineficiências<br />
do sistema de saúde, das faltas<br />
de planeamento e de decisão!<br />
A vontade dos políticos, de alguns,<br />
pode até ser genuína e honesta.<br />
Mas o Consenso da Saúde deveria<br />
em Portugal partir de um grau<br />
de entendimento prévio, coerente,<br />
profundo, concertado e voluntário<br />
das Ordens Profissionais<br />
e dos meios de comunicação social<br />
que, até em nome da sua sobrevivência<br />
a prazo, precisam de<br />
assumir grandes batalhas na formação<br />
da opinião dos cidadãos e<br />
dos eleitorados.<br />
10 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017
SAÚDE ONLINE | entrevista<br />
Eduardo Pinto-Leite<br />
Diretor-geral da GSK Portugal<br />
para a área farmacêutica<br />
Portugueses acedem tarde<br />
à inovação terapêutica<br />
Doentes portugueses são diariamente prejudicados face a doentes de outros estados-membros,<br />
por não terem acesso à inovação na mesma altura<br />
12 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017
entrevista | SAÚDE ONLINE<br />
Quarta maior multinacional farmacêutica a<br />
nível mundial, a GSK carrega um lastro de<br />
história de sucesso na inovação farmacêutica…<br />
Fale-nos um pouco dessa história….<br />
De facto, temos um legado superior a 300<br />
anos, ao longo dos quais, impulsionados pela<br />
ciência e inovação, nos temos dedicado à investigação,<br />
desenvolvimento e fabrico de medicamentos<br />
inovadores, vacinas e produtos<br />
de grande consumo.<br />
Mais recentemente, nos últimos 50 anos, fomos<br />
responsáveis pelo lançamento de medicamentos<br />
revolucionários na área respiratória<br />
– nomeadamente para a Asma e DPOC – antibióticos,<br />
que continuam a ser efetivos, fármacos<br />
antirretrovirais, que mudaram o paradigma<br />
do tratamento do HIV, e um conjunto<br />
muito alargado de vacinas, por exemplo, para<br />
a prevenção do rotavírus, da Hepatite B e da<br />
Meningite, apenas para citar alguns casos.<br />
A nível Global, a GSK está presente em<br />
quantos países?<br />
A nível global, a GSK tem presença em mais<br />
de 150 países e emprega cerca de 100 mil<br />
colaboradores.<br />
Qual o número de colaboradores afeto à<br />
investigação e desenvolvimento de novos<br />
produtos?<br />
Contamos com uma equipa superior a 11<br />
mil profissionais na área de Investigação &<br />
Desenvolvimento (I&D) e, adicionalmente, temos<br />
parcerias com 1.500 organizações académicas,<br />
científicas e outros players do setor,<br />
com quem colaboramos para alavancar projetos<br />
de I&D.<br />
Em Portugal, o Grupo GSK emprega<br />
cerca de 250 profissionais nas três áreas<br />
(Farmacêutica, Consumer Healthcare e ViiV<br />
Healthcare).<br />
Quais as principais áreas de atuação da<br />
GSK?<br />
O universo GSK está organizado em três grandes<br />
realidades: Farmacêutica, que engloba a<br />
investigação, desenvolvimento, produção e<br />
comercialização de um portfólio muito alargado<br />
de medicamentos, inovadores e estabelecidos,<br />
para tratar um vasto conjunto de<br />
doenças, agudas e crónicas, assumindo posições<br />
de liderança em doenças respiratórias.<br />
Inserido na área Farmacêutica está o negócio<br />
das Vacinas, em que contamos com o portfólio<br />
mais abrangente da indústria. Entregamos<br />
mais de dois milhões de doses de vacinas,<br />
todos os dias, para pessoas em mais de 150<br />
países; Consumer Healthcare, que se dedica<br />
ao desenvolvimento e comercialização de algumas<br />
das marcas de confiança mundiais<br />
para a dor, sistema respiratório, saúde oral,<br />
«Mais do que os<br />
produtos e as soluções<br />
que desenvolvemos<br />
e disponibilizamos,<br />
acreditamos que aquilo que<br />
nos diferencia é a nossa<br />
forma de trabalhar e a<br />
maneira especial como as<br />
nossas pessoas encaram os<br />
seus desafios diário»<br />
nutrição, sistema gastrointestinal e dermatologia,<br />
com produtos como Voltaren, Panadol<br />
ou Sensodyne; e a ViiV Healthcare, empresa<br />
que nasceu de uma parceria entre a GSK e<br />
a Pfizer e a que se juntou recentemente a<br />
Shionogi, que se dedica à descoberta e desenvolvimento<br />
de soluções inovadoras de<br />
tratamento para o HIV, sendo que, até ao momento,<br />
conta com um portfólio de 12 opções<br />
terapêuticas.<br />
Qual o volume de faturação global?<br />
Em 2016, a área farmacêutica gerou um volume<br />
de vendas de £20.7 mil milhões, sendo<br />
que £16.1 mil milhões foi a faturação relativa<br />
a medicamentos e £4.6 mil milhões referentes<br />
a vacinas.<br />
Os resultados líquidos do Grupo GSK, o ano<br />
passado, foram £6.5 mil milhões, o que constituiu<br />
um crescimento assinalável, tendo em<br />
conta os £2.6 mil milhões de 2015.<br />
O que distingue a GSK dos demais operadores<br />
do setor?<br />
Mais do que os produtos e as soluções que desenvolvemos<br />
e disponibilizamos, acreditamos<br />
novembrO 2017 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 13
SAÚDE ONLINE | entrevista<br />
do mercado, sem descurar a preparação dos<br />
próximos lançamentos, que já referi atrás.<br />
que aquilo que nos diferencia é a nossa forma<br />
de trabalhar e a maneira especial como as nossas<br />
pessoas encaram os seus desafios diários.<br />
E temos vindo a receber uma série de sinais<br />
positivos, por parte do mercado, relativamente<br />
ao reconhecimento da nossa forma de<br />
trabalhar. Em agosto passado, por exemplo,<br />
a “British Medical Journal” publicou os resultados<br />
do ranking da Transparência “Alltrials”<br />
e a GSK lidera a lista, entre um conjunto de<br />
46 companhias farmacêuticas multinacionais.<br />
A GSK foi reconhecida como uma referência<br />
no que diz respeito à sua política e compromisso<br />
de partilhar toda a informação relativa<br />
aos seus ensaios clínicos, independentemente<br />
dos resultados.<br />
Mais recentemente, no início de setembro,<br />
fomos reconhecidos como uma referência<br />
em sustentabilidade corporativa, pelo “Dow<br />
Jones Sustainability World Index” (DJSI) e no<br />
ano passado, fomos considerados a companhia<br />
n.º1 do ranking “Change the World”, pela<br />
revista “Fortune”, que avalia as organizações<br />
mais comprometidas no sentido de incorporar,<br />
no seu negócio, estratégias e soluções<br />
para responder aos grandes problemas das<br />
sociedades contemporâneas.<br />
Qual o investimento global em I&D?<br />
Em 2016, investimos £3.6 mil milhões em I&D.<br />
Quais os produtos mais promissores do<br />
pipeline da companhia (em que áreas e estado<br />
de desenvolvimento)?<br />
A nível global estamos focados em seis grandes<br />
«Temos de conseguir<br />
introduzir e disponibilizar<br />
à população as opções<br />
terapêuticas e as tecnologias<br />
de saúde mais inovadoras,<br />
com o contributo e o<br />
compromisso de todos os<br />
stakeholders relativamente à<br />
sua viabilidade económica.»<br />
áreas de investigação: doenças respiratórias,<br />
HIV/doenças infeciosas, vacinas, doenças imunoinflamatórias,<br />
oncologia e doenças raras.<br />
No que diz respeito a próximos lançamentos,<br />
a nossa expetativa é que, a curto prazo, a<br />
GSK receba aprovação para a primeira vacina<br />
para o Herpes Zoster (vulgarmente conhecido<br />
por “Zona”); a terapêutica tripla fechada para<br />
a DPOC; uma formulação subcutânea de uma<br />
terapêutica para o Lúpus; e um novo medicamento<br />
anticorpo monoclonal para a Artrite<br />
Reumatóide. Em termos globais, a previsão<br />
da companhia é que os novos produtos representem<br />
£1.5 mil milhões de vendas em 2019.<br />
Está nos planos da companhia investir em<br />
novas áreas terapêuticas?<br />
O que nos pedem, neste momento, é que<br />
nos concentremos em defender a posição<br />
de liderança na área respiratória, em que temos<br />
o portfólio mais completo e abrangente<br />
Qual a política de investimento para<br />
Portugal?<br />
A política de investimento para Portugal segue<br />
a estratégia global da companhia, ou<br />
seja, privilegia todos os projetos relacionados<br />
com as nossas três grandes prioridades:<br />
Inovação, Performance e Confiança.<br />
Assim, mais recentemente, temos investido<br />
em projetos educacionais, que permitam afirmar<br />
o cariz inovador da nossa companhia<br />
e, simultaneamente, contribuir para um aumento<br />
da literacia em saúde da nossa população<br />
e aproximar os profissionais de saúde dos<br />
utentes. Exemplo disso é a iniciativa “Vencer<br />
a Asma”, promovida pela GSK Portugal,<br />
em parceria com a ANF, APMGF, GRESP,<br />
Fundação Portuguesa do Pulmão, SPAIC e<br />
a Associação Portuguesa de Asmáticos. A<br />
campanha foi lançada este ano, com o duplo<br />
objetivo de alertar para a importância do<br />
controlo da doença asmática e de sensibilizar<br />
para a relevância de uma comunicação efetiva<br />
entre os profissionais de saúde e os doentes<br />
asmáticos.<br />
Neste primeiro ano de campanha, implementamos<br />
um conjunto de ações, nomeadamente,<br />
um roadshow que passou por oito cidades do<br />
país, com especialistas a esclarecer a população<br />
sobre a patologia; lançamos o site www.<br />
venceraasma.com, onde se pode saber mais<br />
sobre a doença, conhecer a iniciativa e os<br />
parceiros envolvidos; e apoiamos publicações<br />
institucionais sobre a dimensão do problema<br />
da Asma em Portugal, para sensibilizar todos<br />
os stakeholders para esta temática.<br />
O mercado português, com as suas regras,<br />
é “complicado”?<br />
O mercado português não é “complicado”.<br />
O que acontece é que temos vivido, no passado<br />
recente, tempos muito exigentes e extremamente<br />
duros, com grande impacto na<br />
realidade económica, financeira e social de<br />
Portugal e dos portugueses.<br />
No caso da saúde, a pressão orçamental tem<br />
sido muito elevada e, agora, há que procurar<br />
reequacionar e conseguir um equilíbrio que,<br />
sem comprometer o défice orçamental, permita<br />
dar resposta às atuais necessidades sociais<br />
do país em termos de saúde. Isto é, temos<br />
de conseguir introduzir e disponibilizar à<br />
população as opções terapêuticas e as tecnologias<br />
de saúde mais inovadoras, com o<br />
contributo e o compromisso de todos os stakeholders<br />
relativamente à sua viabilidade<br />
económica.<br />
Para isso, parece-nos importante repensar<br />
o orçamento público, nomeadamente na<br />
14 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017
entrevista | SAÚDE ONLINE<br />
despesa com medicamentos, que caiu mais<br />
de 30% durante o programa de ajustamento<br />
económico. Enquanto o processo orçamental<br />
não for revisto, no sentido de existir uma<br />
maior aproximação entre os responsáveis das<br />
finanças e os responsáveis da saúde, para<br />
que se compreenda a realidade do setor e as<br />
necessidades concretas, este sub-financiamento<br />
irá continuar.<br />
Quais os principais problemas que enfrenta<br />
uma companhia como a GSK em<br />
Portugal?<br />
A GSK, enquanto companhia farmacêutica<br />
multinacional a operar em Portugal, enfrenta<br />
praticamente os mesmos desafios que os outros<br />
players. Esses desafios são conhecidos<br />
e consistem, principalmente, na introdução da<br />
inovação terapêutica, em que os doentes portugueses<br />
são diariamente prejudicados face a<br />
doentes de outros estados-membros, por não<br />
terem acesso à inovação na mesma altura.<br />
Consideramos fundamental os processos serem<br />
mais céleres, para se conseguir dar resposta<br />
às novas e crescentes necessidades<br />
que a comunidade médica, por um lado, e os<br />
doentes, por outro, sentem diariamente. Para<br />
isso, é importante que se olhe para a questão<br />
da inovação não como um “problema” de finanças<br />
públicas, mas como um investimento<br />
na saúde e na produtividade dos portugueses.<br />
As alterações recentes no acesso à inovação,<br />
com a imposição de Programas de<br />
Acesso Precoce, de disponibilização gratuita,<br />
preocupam-no?<br />
Os Programas de Acesso Precoce nascem,<br />
precisamente, devido à morosidade na<br />
aprovação de novas moléculas. No entanto,<br />
foi graças a estes programas que muitos<br />
doentes, a maioria deles a sofrer de patologias<br />
com índices de mortalidade muito elevados,<br />
conseguiram ter acesso a medicamentos<br />
que, em alguns casos, são life-saving.<br />
Nesse sentido, parece-nos uma iniciativa positiva,<br />
uma vez que coloca os doentes em primeiro<br />
lugar, o que deve acontecer sempre. No<br />
entanto, é importante não desvirtuar o conceito<br />
dos Programas de Acesso Precoce, que<br />
nasceram para dar resposta a casos extremos<br />
e enquanto uma exceção ao procedimento<br />
standard de aprovação e comparticipação<br />
de novos medicamentos. Se a aprovação da<br />
inovação acontecer em prazos considerados<br />
aceitáveis, este tipo de programas deixa de ter<br />
motivo de existir, o que é benéfico para todos.<br />
A Transparência é uma das “marcas” que a<br />
GSK sublinha como parte do seu “DNA”….<br />
Como se concretiza?<br />
A transparência está perfeitamente imbuída<br />
na nossa cultura organizacional e é transformada<br />
em ação de diversas formas: todas as<br />
nossas atitudes e palavras são justas e claras;<br />
procuramos, em todos os momentos e situações,<br />
fornecer sempre informações relevantes<br />
e precisas, mesmo quando isso seja<br />
eventualmente prejudicial para o nosso negócio;<br />
defendemos as nossas posições, colocando<br />
o doente no centro de tudo o que fazemos,<br />
de forma convicta e íntegra.<br />
Ser transparente é, também, proibir o pagamento<br />
a profissionais de saúde para falarem<br />
sobre o nosso portfólio, pagar entradas<br />
em congressos ou suportar despesas de<br />
viagens para reuniões. O mais importante é<br />
a credibilidade da nossa organização e dos<br />
nossos produtos e isso consegue-se com<br />
uma postura transparente, íntegra e espírito<br />
de missão para com o doente.<br />
Pegada social…. Projetos com a comunidade:<br />
o que têm feita nesta área?<br />
Mais do que projetos de responsabilidade social,<br />
procuramos desenvolver, sempre que<br />
possível em parceria com outras entidades,<br />
iniciativas transformadoras da sociedade e<br />
que estejam integradas na nossa estratégia<br />
de negócio.<br />
Um excelente exemplo é a parceria com a<br />
Save the Children, que teve início em maio<br />
de 2013, com uma ambição muito específica:<br />
ajudar a salvar a vida de, pelo menos, um milhão<br />
de crianças. O conceito inovador dessa<br />
parceria levou-nos a reformular um simples<br />
anti-séptico, componente no nosso elixir<br />
Corsodyl, que poderia ajudar a prevenir infeções<br />
do cordão umbilical em récem-nascidos,<br />
uma das principais causas de morte neonatal<br />
nos países em desenvolvimento. Essa parceria<br />
foi considerada como a “mais admirada”,<br />
pelo segundo ano consecutivo, pelo “C&E<br />
Corporate-NGO Partnerships Barometer”.<br />
Posso ainda referir, a título de exemplo, a<br />
colaboração com a “Bill & Melinda Gates<br />
Foundation” e a PATH Malaria Vaccine<br />
Initiative, que tem como objetivo combater<br />
a malária em África, uma doença que vitima<br />
uma criança deste continente a cada dois minutos.<br />
No âmbito dessa parceria, a GSK está<br />
a disponibilizar a sua vacina para a malária,<br />
que resultou de um investimento superior a 30<br />
anos de investigação científica, sem qualquer<br />
margem de lucro.<br />
novembrO 2017 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 15
SAÚDE ONLINE | entrevista<br />
Helder Pereira<br />
diretor do Serviço de Cardiologia no Hospital Garcia<br />
de Orta e coordenador da iniciativa Stent Save a Life<br />
Transporte pré-hospitalar<br />
como elemento chave<br />
no sucesso de uma rede<br />
de tratamento de enfarte<br />
No dia Mundial do Coração, que se assinalou a 29 de setembro, o <strong>SaúdeOnline</strong> entrevistou<br />
o cardiologista Hélder Pereira, diretor do Serviço de Cardiologia no Hospital Garcia de Orta e<br />
coordenador da iniciativa Stent Save a Life…<br />
Em busca de informação sobre as muitas<br />
doenças que afetam o órgão vital,<br />
que são a principal cauda de morte em<br />
Portugal e dentro dela, a mais letal: o Enfarte<br />
agudo do Miocárdio (EAM), cujos sintomas,<br />
que muitos ainda desconhecem, apesar das<br />
inúmeras campanhas de sensibilização, são<br />
frequentemente desvalorizados pelos doentes,<br />
que perante sintomatologia típica, recorrem<br />
aos serviços de saúde pelos seus próprios<br />
meios, ao invés de recorrerem à linha de<br />
emergência nacional – garantida pelo INEM<br />
– atrasando frequentemente, com resultados<br />
dramáticos, o acesso aos serviços especializados,<br />
existentes em hospitais de referência<br />
para este tipo de eventos.<br />
Pese o elevado número de doentes que perante<br />
sintomas sugestivos de se estar perante<br />
um enfarte agudo do miocárdio não ligam<br />
para o INEM (em 20<strong>08</strong> representavam 77%<br />
do total), Portugal tem registado, nos últimos<br />
anos, graças às campanhas de informação<br />
organizadas pelas sociedades científicas e<br />
pelas autoridades de saúde, uma melhoria<br />
muito expressiva deste indicador. De acordo<br />
com dados recentes, atualmente, “40% das situações<br />
são reportadas ao INEM, permitindo<br />
o encaminhamento dos doentes para centros<br />
especializados no tratamento com larga<br />
experiência e resultados que colocam o país<br />
num patamar de sucesso sobreponível a muitos<br />
dos seus congéneres europeus”, como a<br />
Espanha, Bélgica ou o Reino Unido.<br />
16 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017
entrevista | SAÚDE ONLINE<br />
No dia Mundial do Coração, o <strong>SaúdeOnline</strong><br />
entrevistou o cardiologista Hélder Pereira, diretor<br />
do Serviço de Cardiologia no Hospital<br />
Garcia de Orta e coordenador da iniciativa<br />
Stent Save a Life…<br />
Ao nosso jornal, o especialista começa por<br />
destacar os avanços alcançados nos últimos<br />
anos “registou-se uma evolução muito positiva,<br />
aponta: “Há cerca de uma década éramos<br />
um dos países europeus com uma das<br />
mais baixas taxas de angioplastia primária.<br />
Em cerca de uma década triplicamos o número<br />
de doentes tratados por angioplastia e<br />
presentemente temos números dentro de média<br />
europeia. Os países do norte da Europa<br />
apresentam taxas mais elevadas, mas aí provavelmente<br />
a incidência de enfarte é mais elevada<br />
do que nos países mediterrânicos onde<br />
nos incluímos”, acrescenta.<br />
Ainda assim lamenta, “os nossos doentes<br />
ainda demoram muito tempo entre o começo<br />
dos sintomas e o pedido de ajuda. Em média<br />
passam cerca de duas horas entre o início<br />
dos sintomas até que o doente chegue ao<br />
hospital. Este tempo é muito precioso. Se o<br />
conseguirmos reduzir também reduzimos as<br />
sequelas.”, defende.<br />
Para especialista, o transporte pré-hospitalar<br />
é um dos principais, senão mesmo o principal<br />
elemento chave no sucesso de uma rede de<br />
tratamento de enfarte.<br />
Quando o projeto “Stent for Life” (SFL) uma iniciativa<br />
conjunta da Associação Portuguesa de<br />
Intervenção Cardiovascular e da Sociedade<br />
Portuguesa de Cardiologia se iniciou em<br />
Portugal, em 2011, as ambulâncias do INEM<br />
ainda não enviavam o ECG para os centros de<br />
cardiologia da intervenção nem contactavam<br />
diretamente com esses centros.<br />
“Hoje, e graças a um projeto de parceria acolhido<br />
com entusiasmo pelo INEM, foi possível<br />
por em prática duas medidas fundamentais: o<br />
INEM passou a ter o número direto e a falar diretamente<br />
com os cardiologistas de intervenção<br />
e passou a enviar o ECG para esses centros.<br />
Outra medida fundamental foi o facto de<br />
o INEM passar a fazer o “bypass” aos hospitais<br />
sem cardiologia de intervenção, mesmo<br />
que esses fossem os mais próximos, e conduzir<br />
diretamente os doentes para os hospitais<br />
mais especializados”, assinala Hélder Pereira.<br />
E que sintomas deverão suscitar os cuidados<br />
preconizados? Hélder Pereira, aponta: “os<br />
sintomas do Enfarte do Miocárdio são dor no<br />
peito (aperto, pressão, ardor) com irradiação<br />
aos membros superiores (braço esquerdo,<br />
costas e pescoço, dorso ou mandíbula)...”<br />
“Perante estes sintomas, não pode haver<br />
qualquer hesitação: ligar imediatamente para<br />
o 112, informar sobre os sintomas e aguardar<br />
a chegada de ajuda”, explica o especialista,<br />
que destaca o facto de o País estar dotado<br />
de uma boa rede de centros de cardiologia<br />
de intervenção. “Cobre praticamente todo o<br />
território nacional. Com poucas lacunas: “na<br />
Beira Interior, provavelmente, faria sentido ter<br />
um centro já que se tem verificado que é difícil<br />
os doentes dessa zona serem tratados até<br />
duas horas entre o início da dor até a abertura<br />
da artéria, já que os doentes têm de ser<br />
enviados, ou para Viseu, ou para Coimbra<br />
por falta de um centro de cardiologia de intervenção<br />
na Covilhã.<br />
Outro aspeto relevante na arquitetura do sistema<br />
de resposta em que ainda é necessário<br />
algum investimento, é o da formação dos profissionais,<br />
particularmente os que são destacados<br />
para os serviços de urgência. Para colmatar<br />
as lacunas, no âmbito do projeto Stent<br />
Save a Life e Stent for a Life, têm sido desenvolvidos<br />
programas educacionais, os STEMI<br />
CARE, que são cursos avançados em abordagem<br />
intra-hospitalar precoce do enfarte<br />
agudo do miocárdio, visando um diagnóstico<br />
mais célere do EAM.<br />
«Hoje, e graças a um projeto<br />
de parceria com o INEM, foi<br />
possível por em prática duas<br />
medidas fundamentais: o<br />
INEM passou a ter o número<br />
direto e a falar diretamente<br />
com os cardiologistas de<br />
intervenção e passou a enviar<br />
o ECG para esses centros.»<br />
Um dos obstáculos apontados por Hélder<br />
Pereira a uma maior eficiência do sistema<br />
atualmente implantado, reside no facto de<br />
“o sistema de triagem de Manchester, atribuir<br />
a cerca de 20% dos doentes que chegam<br />
via INEM com indicação de encaminhamento<br />
para angiografia – que são apenas<br />
uma parte de todos os doentes com EAM –<br />
a pulseira amarela, o que atrasa todo o procedimento”,<br />
afirma o especialista. Para ultrapassar<br />
este problema, temos proposto a todos<br />
os hospitais para que todos os doentes<br />
com dor no peito, ou mesmo com dor abdominal<br />
superior, náuseas, vómitos, entre outros<br />
sintomas, façam de imediato um eletrocardiograma,<br />
paralelamente ao protocolo de<br />
Manchester. E também temos pedido aos<br />
hospitais que tenham técnicos de cardiopneumologia<br />
em permanência, 24 horas por<br />
dia, todos os dias, a fazerem eletrocardiogramas”.<br />
“Isto porque”, explica, mesmo que<br />
o EAM “passe” na triagem da urgência, mais<br />
dificilmente deixa de ser identificado por um<br />
técnico com muita experiência”.<br />
Ainda que não existam números precisos, o<br />
coordenador da iniciativa Stent Save a Life,<br />
acredita que é ainda muito elevado o número<br />
de EAM, que “passam” sem tratamento. “Só<br />
conhecemos os que nos chegam…”, acentua<br />
o especialista. Uma coisa é certa, diz: “Quanto<br />
mais pessoas conhecerem bem quais os sinais<br />
indicativos de enfarte e agirem de acordo<br />
com as recomendações, que aconselham a ligar<br />
imediatamente para o 112, menos mortes<br />
iremos ter em consequência desta condição.<br />
É esse o trabalho que o Projeto Stent for a Life<br />
tem procurado desenvolver”, conclui.<br />
Estudo revela desconhecimento<br />
de sintomas<br />
No âmbito do projeto Stent for a Live, foi realizado<br />
um estudo, pelo ISCTE, com o objetivo<br />
de aferir o grau de conhecimento da população<br />
sobre os sintomas de EAM. Os resultados<br />
revelaram que apenas cerca e 24% das<br />
pessoas os conhecia. A maioria dos inquiridos,<br />
ou confundia enfarte com AVC ou pura e<br />
simplesmente não sabia do que se tratava. E<br />
quando questionados sobre o que fariam se<br />
estivessem perante uma pessoa com enfarte,<br />
a maioria afirmou que ligaria para o 112 ou<br />
chamaria uma ambulância. Ora, a verdade,<br />
diz Hélder Pereira, “é que a maioria deles não<br />
faz uma coisa, nem outra. E não têm noção<br />
do risco que correm quando perante os sintomas<br />
decidem ir de carro, conduzindo elas<br />
mesmas, para o hospital. A maior parte da<br />
mortalidade por EAM ocorre extra-hospitalar,<br />
por fibrilação auricular, que poderá ser revertida<br />
com acesso a desfibrilhadores disponíveis<br />
nas ambulâncias do INEM”, conclui.<br />
MMM<br />
novembrO 2017 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 17
SAÚDE ONLINE | nacional<br />
OE2018<br />
SNS com menos 51,3 milhões<br />
do que em 2017<br />
Adalberto Campos Fernandes vai contar com menos 51.5 milhões de euros, para fazer<br />
face às despesas do SNS. São menos 0.6% de um total correspondente a 4,25% do<br />
PIB previsto. Parceiros dizem que não chega…<br />
A<br />
despesa total consolidada<br />
do Programa da Saúde<br />
prevista inscrita na proposta<br />
de orçamento geral do<br />
Estado para 2018 é de 10,289,5<br />
milhões de euros, o que representa<br />
um aumento de 2,4% (239,1<br />
milhões de euros) face ao estimado<br />
para 2017 e a um aumento<br />
de 4,4% (360,2 milhões de euros)<br />
face ao orçamento de 2017. Já a<br />
despesa efetiva consolidada será<br />
de menos 92.7 milhões de euros<br />
do que o valor total inscrito.<br />
Um acréscimo orçamental, pelo<br />
menos aparente, explicado com o<br />
“aumento substancial de despesa<br />
no SNS em 2017, estando implícito<br />
um reforço do orçamento ao<br />
longo do ano de 2017”, lê-se no<br />
documento.<br />
E aparente porque do total da despesa<br />
consolidada do Programa<br />
da Saúde, as transferências para<br />
o SNS perfazem 8 427,4 euros,<br />
menos 51.3 milhões de euros do<br />
que em 2017.<br />
Um valor que não convence os<br />
agentes do setor, que apontam<br />
o aumento da dívida em atraso<br />
e a dilatação do prazo de pagamento<br />
(dívida vencida) como um<br />
obstáculo que a previsão orçamental<br />
não cobre, pelo contrário,<br />
torna mais difícil, já que haverá<br />
menos dinheiro para a aquisição<br />
de bens e serviços correntes.<br />
Refira-se que de acordo com o<br />
último relatório de execução orçamental,<br />
a tendência de crescimento<br />
da dívida em atraso, que<br />
já se vem a registar desde 2015,<br />
tem-se mantido em 2017, a um<br />
ritmo ainda mais acelerado do<br />
que o verificado até final de 2016.<br />
No final de agosto, a dívida vencida,<br />
reportada pela direção Geral<br />
do Orçamento ascendia a 903 milhões<br />
de euros, mais 51 milhões<br />
do que no mês anterior e mais<br />
290 milhões do que em janeiro.<br />
A manter-se este crescimento,<br />
2017 encerrará com a dívida em<br />
atraso a ultrapassar a barreira<br />
dos mil milhões de euros, ultrapassada<br />
pela última vez em dezembro<br />
de 2011 (mês em que<br />
atingiu 1616 milhões de euros).<br />
Na transferência prevista para<br />
2018, a aquisição de bens e serviços<br />
correntes, onde se incluem<br />
a aquisição de medicamentos,<br />
dispositivos médicos, meios de<br />
diagnóstico e terapêutica e os encargos<br />
com as parcerias público-privadas<br />
são as que mais pesam,<br />
representando 55.3% do orçamento<br />
global.<br />
O aumento dos encargos com<br />
as PPP da saúde, face aos valores<br />
previstos no Relatório do<br />
OE2017 é explicado, sobretudo,<br />
por uma revisão das projeções<br />
de produção, em linha com a tendência<br />
que tem sido verificada<br />
no sector”, informa o documento.<br />
Com peso muito significativo, também,<br />
as despesas com pessoal,<br />
que absorvem 38.4% (3951.2 milhões<br />
de euros) do total, explicados<br />
com a necessidade de dotação<br />
centralizada com o descongelamento<br />
das carreiras. Um valor<br />
que também não convence os<br />
agentes do setor, desde logo porque<br />
inferior, em 41 milhões de euros,<br />
ao inscrito no OE2017.<br />
De salientar que de acordo<br />
com o documento, o aumento<br />
de despesa no Programa Saúde<br />
tem associado uma previsão<br />
de aumento do investimento de<br />
16,1%. Na estrutura de distribuição<br />
das despesas pelas seis<br />
medidas inscritas no Programa<br />
Saúde, destacam-se as destinadas<br />
aos Hospitais e Clínicas, aos<br />
Serviços Individuais de Saúde e à<br />
Administração e Regulamentação,<br />
as quais absorvem a quase<br />
18 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017
nacional | SAÚDE ONLINE<br />
totalidade do programa (97,4%).<br />
As parcerias público/Privados foram<br />
comtempladas com 447.2<br />
milhões de euros no Programa<br />
Saúde e o Simplex, com apenas<br />
2.6 milhões.<br />
Mais hospitais e centros<br />
de saúde<br />
No quadro da medidas a implementar<br />
em 2018, ao nível das infraestruturas<br />
e equipamentos,<br />
o executivo inscreveu no orçamento,<br />
a reabilitação e reequipamento<br />
das unidades de saúde<br />
(unidades de cuidados de saúde<br />
primários e cuidados de saúde<br />
hospitalares). Em 2018, será lançado<br />
o concurso do Hospital de<br />
Lisboa Oriental e iniciar-se-ão<br />
os projetos do Hospital de Évora<br />
e do Seixal. Será ainda contruído<br />
o Hospital de Sintra, lê-se<br />
no documento.<br />
De fora das contas do Governo<br />
fica o Hospital do Funchal, unidade<br />
há muito reivindicada pelo<br />
Governo Regional, que já se manifestou<br />
contra o que considera<br />
uma quebra de promessa feita<br />
por António Costa, aquando de<br />
uma visita ao arquipélago”. Nessa<br />
visita, o primeiro-ministro ter-se<br />
-ia comprometido com a comparticipação<br />
de 50% dos custos da<br />
obra, estimada em 340 milhões<br />
de euros, tendo afirmado que a<br />
verba seria inscrita no OE2018.<br />
Tarefeiros vão ceder lugar<br />
a contratados com vínculo<br />
de emprego público<br />
À semelhança do que verificado<br />
na Lei de Orçamento de 2017, em<br />
2018 o Governo compromete-se a<br />
substituir gradualmente o recurso<br />
a empresas de trabalho temporário<br />
e de subcontratação de profissionais<br />
de Saúde pela contratação,<br />
em regime de vínculo de emprego<br />
público, dos profissionais<br />
necessários ao funcionamento<br />
dos serviços de saúde. No último<br />
balanço social do Ministério<br />
da Saúde, os contratos de prestação<br />
de serviços contabilizavam<br />
1.923 (1,6%) empregos, sendo<br />
que cerca de 73% eram médicos<br />
(1.407 trabalhadores).<br />
Os médicos aposentados que decidam<br />
regressar ao serviço, mantêm<br />
as mesmas condições remuneratórias<br />
atualmente em vigor,<br />
que inclui a pensão de aposentação<br />
acrescida de 75% da remuneração<br />
correspondente à carreira,<br />
escalão ou posição remuneratória<br />
detida à data da aposentação,<br />
assim como o respetivo regime<br />
de trabalho.<br />
Mantém-se também, em 2018, o<br />
regime de exceção que permite<br />
que se mantenham em funções<br />
os médicos internos que tenham<br />
celebrado contratos de trabalho<br />
a termo resolutivo incerto com<br />
que iniciaram o respetivo internato<br />
médico em janeiro de 2015<br />
e que, por falta de capacidades<br />
formativas não tiveram a possibilidade<br />
de prosseguir para a formação<br />
especializada.<br />
Reforço dos Cuidados<br />
continuados e paliativos<br />
Outras das medidas inscritas<br />
na proposta de OE2017, é a do<br />
Alargamento da Rede Nacional<br />
de Cuidados Continuados<br />
Integrados, promovendo o aumento<br />
do número de camas em<br />
todas as tipologias, o reforço dos<br />
cuidados de proximidade ao domicílio,<br />
a implementação de unidades<br />
de internamento e de<br />
ambulatório de cuidados pediátricos<br />
integrados e a concretização<br />
e qualificação de respostas<br />
de Cuidados Continuados<br />
Integrados em Saúde Mental,<br />
com enfase nas respostas na<br />
comunidade.<br />
A proposta prevê ainda a operacionalização<br />
e alargamento<br />
da Rede Nacional de Cuidados<br />
Paliativos através da constituição<br />
de novas equipas quer intra-hospitalares,<br />
quer na comunidade, e<br />
a constituição de novas Unidades<br />
de Cuidados Paliativos.<br />
opinião<br />
Sustentabilidade do SNS<br />
é problema de todos!<br />
Luís Lopes Pereira<br />
Diretor Geral da Medtronic<br />
A<br />
sustentabilidade do SNS,<br />
e as formas de a alcançar,<br />
têm sido tópicos amplamente<br />
discutidos no lado do pagador<br />
(Estado) mas não no lado de<br />
quem presta serviços ou fornece<br />
produtos. Mas a verdade é que<br />
a sustentabilidade deve ser uma<br />
realidade para todos os protagonistas<br />
do mercado, porque se as<br />
empresas fornecedoras saírem<br />
do País ou falirem, o SNS tornase<br />
ainda mais insustentável.<br />
No caso concreto das empresas<br />
de dispositivos médicos, cerca<br />
de 90% são de pequena ou média<br />
dimensão. O orçamento de<br />
Estado prevê uma contribuição<br />
destas empresas através de uma<br />
taxa extraordinária sobre o preço<br />
dos produtos, na ordem dos 2,5<br />
e os 7,5%, que vem juntar-se ao<br />
avultado valor da dívida pública<br />
em atraso e aos dilatados prazos<br />
de pagamento, acima dos<br />
380 dias. Esta medida poderá ter<br />
implicações nefastas para o sector,<br />
com prejuízo para a qualidade<br />
dos produtos disponíveis no mercado<br />
bem como do serviço de<br />
profissionais especializados que<br />
está implícito ao fornecimento<br />
de produtos mais complexos. A<br />
entrada de tecnologias disruptivas<br />
tem muitas vezes um efeito<br />
inicial de aumento da despesa,<br />
mas logo se dilui com a rápida e<br />
forte concorrência que este sector<br />
apresenta. Assim os aumentos<br />
da faturação de material<br />
clínico estão normalmente associados<br />
a aumentos de produção<br />
dos hospitais públicos, frequentemente<br />
com descidas do custo por<br />
doente ou por unidade.<br />
É no sentido de promover medidas<br />
que garantam a sustentabilidade<br />
do SNS mas também a sustentabilidade<br />
dos fornecedores<br />
que deveríamos focar-nos numa<br />
estratégia focada na eficiência,<br />
como é exemplo o conceito de<br />
“value based health care”, no qual<br />
as terapêuticas são pagas consoante<br />
um determinado objetivo<br />
de resultados para o doente. Este<br />
poderá ser o caminho para assegurar<br />
que se mantém a inovação,<br />
tão essencial à qualidade da<br />
prestação de saúde.<br />
novembrO 2017 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 19
SAÚDE ONLINE | nacional<br />
opinião<br />
À Saúde o que é a da Saúde<br />
Óscar Gaspar<br />
Vice-presidente do Conselho<br />
Estratégico Nacional da<br />
Saúde da CIP e Presidente<br />
da Associação Portuguesa de<br />
Hospitalização Privada<br />
O<br />
Orçamento é para 2018<br />
mas a maior surpresa é<br />
dada sobre 2017. Na proposta<br />
de OE2018 apresentada,<br />
o Governo informa que injetará<br />
este ano no SNS mais 400M€ do<br />
que o previsto no OE2017. Assim,<br />
o corrente exercício deve encerrar<br />
com uma transferência para<br />
o SNS de 8.478,7M€, sendo que<br />
para o próximo ano haverá uma<br />
redução de 51M€ (-0,6%).<br />
Dito de outra forma, a transferência<br />
para o SNS em 2018 corresponde<br />
a 4,25% do PIB previsto.<br />
Este valor parece ficar aquém<br />
das necessidades - face ao histórico,<br />
face aos objetivos pretendidos<br />
de aumento de investimento,<br />
qualidade e acesso a cuidados<br />
de saúde e também face<br />
ao expetável aumento da procura.<br />
Para termos um termo de<br />
referência, o total do programa<br />
Orçamental Saúde representa<br />
5,3% do PIB em Portugal quando<br />
na OCDE o valor da despesa pública<br />
em Saúde é de 6,5% do PIB.<br />
O Governo estima poupar no próximo<br />
ano 166 M€ com as medidas<br />
de redução de despesa mas também<br />
terá desafios acrescidos, seja<br />
por via da inovação, seja pelos aumentos<br />
previstos na massa salarial<br />
(progressões, 35 horas, subsídio<br />
para enfermeiros especialistas,<br />
etc.) embora esta última componente<br />
possa ser financiada a posteriori<br />
pelo Ministério das Finanças.<br />
Outra área de forte preocupação<br />
é a da dívida. O Governo compromete-se<br />
com “um esforço<br />
substancial de diminuição da dívida<br />
das entidades do SNS”, refere<br />
a injeção de capital para esse<br />
efeito e também a criação de uma<br />
Unidade de Análise Orçamental<br />
especificamente para acompanhar<br />
as dívidas da Saúde. Esta<br />
é uma medida que tarda porque<br />
problema arrasta-se há anos e<br />
afeta gravemente os fornecedores<br />
e prestadores do SNS.<br />
O Ministério da Saúde, e o SNS<br />
em particular, merecem e exigem<br />
dotações adequadas para prosseguir<br />
as suas responsabilidades<br />
e as respetivas administração e<br />
gestão têm que investir em medidas<br />
estruturas e procurar soluções<br />
de maior eficiência. Ou seja,<br />
de entrega de maior valor aos cidadãos<br />
e aos doentes.<br />
Claramente escasso face às necessidades<br />
Miguel Guimarães<br />
Bastonário da Ordem<br />
dos Médicos<br />
Numa primeira análise à<br />
proposta de Orçamento<br />
de Estado para o ano de<br />
2018 verifica-se que o Ministério<br />
da Saúde mantém a tónica do seu<br />
discurso na “aposta no Serviço<br />
Nacional de Saúde”, na “necessidade<br />
de melhoria das condições<br />
de acesso ao SNS, na modernização<br />
de equipamentos e infraestruturas<br />
e no reforço do investimento<br />
em recursos humanos”.<br />
Este discurso reflete-se num aumento<br />
da despesa total consolidada<br />
na área da saúde na ordem<br />
dos 10.289,5 milhões de euros, o<br />
que representa um crescimento<br />
de 239 milhões de euros (+2,4%)<br />
face à estimativa para 2017.<br />
Porém, no que ao Serviço<br />
Nacional de Saúde (SNS) diz respeito,<br />
verificamos que, mais uma<br />
vez, se assiste a uma redução de<br />
51,3 milhões de euros no valor das<br />
transferências para o SNS, financiado<br />
pelas receitas gerais, cuja<br />
orçamentação se situa nos 8427,4<br />
milhões de euros, menos 0,6%<br />
que o valor estimado para 2017.<br />
De realçar que o valor de transferências<br />
para o SNS previsto no<br />
OE 2017 era de 8078,7 milhões<br />
de euros. Atualmente estima-se<br />
um valor final de 8478,7 milhões<br />
de euros, graças à verba adiional<br />
de 400 milhões que deverá estar<br />
alocada, em grande parte, à redução<br />
das dívidas em atraso dos<br />
hospitais aos fornecedores.<br />
As despesas com pessoal representam<br />
cerca de 38,4% do total<br />
da despesa consolidada, ascendendo<br />
a 3.951,2 milhões de euros,<br />
a que acrescerá em 2018 um reforço<br />
proveniente de dotação centralizada<br />
com o descongelamento<br />
das carreiras. O crescimento da<br />
despesa com pessoal é 0,6%.<br />
Este é um Orçamento claramente<br />
escasso face às reais necessidades<br />
do país e do SNS. O Ministério<br />
da Saúde tem um longo caminho<br />
pela frente nos compromissos<br />
que tem com os portugueses.<br />
É essencial renovar a maioria dos<br />
equipamentos das unidades de<br />
saúde do SNS, equilibrar o seu capital<br />
humano, aumentar a capacidade<br />
de resposta às necessidades<br />
dos doentes e melhorar as condições<br />
de trabalho dos seus profissionais.<br />
Estes compromissos não<br />
são possíveis de concretizar sem<br />
um reforço significativo do financiamento<br />
do serviço público. Como<br />
irá o ministro da Saúde alcançar todos<br />
estes objetivos, quando a dotação<br />
orçamental prevê um mero<br />
aumento de 0,6% na verba correspondente<br />
à despesa com pessoal?<br />
Como irá o ministro da Saúde<br />
cumprir todas as metas a que se<br />
compromete quando as transferências<br />
para o SNS recuam face<br />
à verba que se estima gastar até<br />
final deste ano?<br />
Parece-me que o Governo continua<br />
a comprometer a essência<br />
do nosso SNS, tal como está<br />
consagrado na Constituição da<br />
República Portuguesa.<br />
20 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017
SAÚDE ONLINE | nacional<br />
opinião<br />
Farmácias apreensivas<br />
com proposta de OE<br />
Paulo Cleto Duarte<br />
Presidente da Associação<br />
Nacional das Farmácias<br />
«O sector das farmácias<br />
encara este Orçamento<br />
de Estado com esperança<br />
e sentido de urgência.<br />
Neste momento, 607 farmácias<br />
enfrentam processos de insolvência<br />
e penhora. Isto significa<br />
que uma em cada cinco farmácias<br />
não sabe se vai sobreviver<br />
em 2018. O espectro de falência<br />
ameaça farmácias rurais e urbanas<br />
em todos os concelhos, do<br />
continente e ilhas. O sector do<br />
medicamento foi sujeito a medidas<br />
de austeridade sem paralelo<br />
na sociedade portuguesa,<br />
seis vezes superiores ao preconizado<br />
pela Troika. O problema<br />
é que continua a viver nesse<br />
paradigma. Os doentes portugueses<br />
ainda não conseguem<br />
aviar as receitas médicas normalmente.<br />
Todos os meses faltam<br />
quatro a cinco milhões de<br />
embalagens de medicamentos,<br />
alguns deles urgentes, como<br />
insulinas para diabéticos, pílulas<br />
anticoncepcionais e anti-hipertensivos.<br />
Este Governo mostrou-se<br />
consciente do problema<br />
e focado em virar a página. Em<br />
Fevereiro de 2017, os ministros<br />
das Finanças e da Saúde subscreveram<br />
um acordo com as farmácias.<br />
Esse documento foi<br />
preparado ao detalhe para favorecer,<br />
simultaneamente, a sustentabilidade<br />
do sector e das<br />
contas públicas, mas a sua<br />
implementação está atrasada.<br />
As farmácias portuguesas continuam<br />
a ser discriminadas e<br />
excluídas das margens de referência<br />
legisladas pelo Estado<br />
português para o mercado dos<br />
medicamentos. A regulamentação<br />
e implementação de serviços<br />
farmacêuticos, em benefício<br />
das populações, está atrasada,<br />
mesmo em casos previstos no<br />
Programa do Governo, como<br />
o acesso de proximidade aos<br />
medicamentos hospitalares.<br />
Apesar destes problemas, acreditamos<br />
que a solução já contratualizada<br />
com o Governo será<br />
implementada em 2018.»<br />
OE é uma deceção!<br />
João Almeida Lopes<br />
Presidente da Direção<br />
da APIFARMA<br />
Os dados iniciais do<br />
Orçamento do Estado<br />
para 2018 são escassos.<br />
No entanto, sugerem que esta<br />
proposta de OE é uma decepção.<br />
A dotação fica claramente abaixo<br />
das necessidades, mantendo-se<br />
um quadro evidente de subfinanciamento<br />
crónico da Saúde.<br />
Continuamos a ser confrontados<br />
com a falta de transparência<br />
de dados em relação à Saúde. É<br />
essencial responder a inúmeras<br />
questões: quando e como pretende<br />
o Ministério da Saúde regularizar<br />
a dívida? Qual o custo<br />
das negociações em curso com<br />
os profissionais da Saúde? Para<br />
quando um valor de investimento<br />
público em medicamentos em linha<br />
com indicadores da OCDE?<br />
Como se aumentará a despesa<br />
total em Saúde se prevemos menos<br />
dinheiro nas transferências?<br />
Esta proposta de OE, pelo que podemos<br />
antecipar, é um exercício<br />
que peca por falta de transparência<br />
e não permite que os agentes<br />
económicos e os cidadãos tenham<br />
confiança na acção do Estado.<br />
Hoje, de acordo a Direcção-Geral<br />
do Orçamento, continuamos sem<br />
vislumbrar o abrandamento da dívida<br />
hospitalar que em Agosto de<br />
2017 superou os 900 milhões de<br />
euros, mais 47,3% em relação a<br />
Janeiro. Na verdade, em apenas<br />
um ano e até Agosto de 2017, o<br />
défice do SNS disparou para perto<br />
dos 114 milhões de euros – quando<br />
em 2016 era de 20 milhões. Isto<br />
apesar da injecção extraordinária<br />
de 270 milhões de euros, realizada<br />
este ano pelas Finanças, que impediu<br />
que o défice escalasse para<br />
os 384 milhões de euros.<br />
Entretanto, o país mostra sinais<br />
de um crescimento económico<br />
assinalável face aos últimos anos.<br />
Os portugueses dificilmente compreenderão<br />
que o Orçamento da<br />
Saúde continue a ignorar os números<br />
do PIB, que em termos nominais<br />
irá crescer, em 2018, 3,6%,<br />
de acordo com o projeto de OE.<br />
Nota para as medidas de contenção<br />
de despesa inscritas no OE<br />
que decorrem, uma vez mais,<br />
essencialmente da pressão sobre<br />
os fornecedores do Sistema<br />
de Saúde, que não nunca deixaram<br />
de contribuir para a sua<br />
sustentabilidade.<br />
Em resumo, a situação é particularmente<br />
preocupante. Este OE<br />
deixa a Saúde para trás, confinada<br />
a uma inevitável espiral de<br />
agravamento da situação actual,<br />
o que coloca em causa a sustentabilidade<br />
do SNS e o acesso<br />
equitativo de todos os portugueses<br />
aos cuidados de saúde.<br />
22 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017
especial<br />
USF Santiago de Leiria<br />
Uma década depois….<br />
Espírito de equipa mantém-se<br />
A USF Santiago, de Marrazes, Leiria, comemorou no passado dia 1<br />
em março, uma década de atividade, ao longo da qual a vontade de<br />
responder de uma forma mais eficaz aos utentes, através de uma<br />
organização inovadora dos cuidados, propiciada pelo - então novo -<br />
modelo de organização dos cuidados de saúde primários, introduzido<br />
pela reforma deste nível de cuidados iniciada em 2005, sempre<br />
norteou o trabalho da equipa.<br />
24 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembro 2017
uma iniciativa<br />
Manuel Carvalho, coordenador da USF Santiago de Leiria.<br />
“Podermos escolher as pessoas com<br />
quem trabalhamos, ter maior autonomia<br />
organizativa e um método de<br />
trabalho em equipa, podendo responder<br />
de uma forma mais eficaz<br />
aos nossos utentes” foram os principais<br />
argumentos que motivaram os<br />
seis médicos, igual número de enfermeiros<br />
e cinco secretários clínicos<br />
que a 14 de abril de 2006 decidiram<br />
avançar com a candidatura<br />
para a constituição de uma Unidade<br />
de Saúde Familiar.<br />
Ainda que pioneira no novo modelo<br />
(foi uma das primeiras cinquenta<br />
unidades a iniciar atividade), a vontade<br />
de trabalhar de forma diferente,<br />
com maior autonomia, já vinha<br />
detrás, tendo-se manifestado em<br />
1999, ano em que alguns dos seus<br />
elementos, intentaram uma candidatura<br />
ao Regime Remuneratório<br />
Experimental (RRE), um dos modelos<br />
percursores das USF. Tentativa<br />
gorada, como todas as que foram<br />
apresentadas na Região Centro,<br />
onde o inovador modelo, criado em<br />
1998 nunca chegaria a ser implementado<br />
no terreno.<br />
Com mais um médico do que os que<br />
constituíam o grupo inicial – cuja<br />
composição, entretanto, foi sendo<br />
alterada - seis enfermeiros e cinco<br />
secretários clínicos, a USF Santigo<br />
tem conseguido crescer por via da<br />
diversidade e complexidade dos cuidados<br />
prestados, pelo alargamento<br />
do horário de funcionamento (das<br />
8h00 às 20h00, nos dias úteis) e<br />
aos sábados (das 09h00 às 13h00),<br />
satisfazendo desta forma as<br />
necessidades de um grupo significativo<br />
da população abrangida, constituído<br />
em boa medida, por população<br />
estudantil fora de Leiria… De<br />
Coimbra e Lisboa, principalmente.<br />
A USF tem crescido e renovado,<br />
também, por força de uma das vertentes<br />
que desde o início mais diferenciou<br />
a unidade: a formação pré<br />
e pós-graduada. Nesta, destacamse<br />
os oito médicos internos de medicina<br />
geral e familiar (já chegaram<br />
a ser 11), distribuídos pelos diversos<br />
médicos da unidade, que hoje<br />
acolhe. E também do Ano Comum<br />
(IAC): numa década de existência, a<br />
unidade recebeu ainda cerca de 80<br />
IAC, em articulação com o Centro<br />
Hospitalar de Leiria. Uma vocação<br />
que se estende à área da enfermagem<br />
e que “faz parte do nosso código<br />
genético”, sublinha o coordenador<br />
da Unidade, o médico de família<br />
Manuel Carvalho, que gosta<br />
de sublinhar o facto de a unidade<br />
ser conhecida, também, por<br />
“Universidade de Santiago”.<br />
À data da inauguração, a USF<br />
Santiago absorveu 12 mil utentes,<br />
integrando em lista de médico de<br />
família 3.2<strong>08</strong> utentes que se encontravam<br />
em lista de espera há mais<br />
de três anos. Hoje, conta com cerca<br />
de 14 mil.<br />
A evolução da unidade foi definida<br />
desde o início, com a equipa a projetar,<br />
para um futuro próximo, a transição<br />
para o modelo B, mais responsabilizante<br />
em termos de resultados<br />
mas também mais compensador,<br />
porque com remuneração sensível<br />
A USF Santiago conta com cerca de 14 mil utentes.<br />
ao desempenho. “Era um reflexo<br />
natural do grau de maturidade da<br />
equipa, da consolidação de metodologias<br />
de trabalho; da consistência<br />
dos resultados alcançados”, explica<br />
o coordenador.<br />
A transição oficial deu-se a 1 de julho<br />
de 2009, com uma carteira adicional<br />
de serviços que, para além do<br />
alargamento do horário, tem vindo<br />
a incluir, ao longo dos anos, diferentes<br />
atividades relevantes para a população<br />
servida, como consultas de<br />
podologia, de nutrição, de psicologia<br />
clínica (realizada de forma voluntária,<br />
por uma colega de Leiria).<br />
Mas nem tudo foram rosas: a USF<br />
Santiago teve um início de vida algo<br />
conturbado. “Aos meses de negociação<br />
exigente com a Equipa<br />
Técnica Operacional, até à aprovação<br />
da USF Santiago e consequente<br />
homologação pela Administração<br />
Regional de Saúde (ARS) do Centro,<br />
a 7 de dezembro de 2006”, veio juntar-se<br />
o “problema” das instalações,<br />
construídas de raiz para albergar<br />
o CS Arnaldo Sampaio, cujos módulos<br />
A e B os profissionais da USF<br />
Santiago viriam a ocupar a 1 de<br />
março de 2007.<br />
As instalações modernas oferecem<br />
vantagens ao nível das amenidades<br />
inexistentes em muitas unidades<br />
de norte a sul do país. Um<br />
espaço amplo, com um “cantinho<br />
adaptado especialmente para receber<br />
os mais pequenos, dão o tom geral<br />
a um quadro onde também se inclui<br />
um ordenador de vez eletrónico<br />
que permite um atendimento organizado<br />
e sem problemas, para cada<br />
um dos três módulos a funcionar<br />
nas instalações.<br />
Em lugar de destaque, o certificado<br />
emitido pela Entidade<br />
Reguladora da Saúde, confirmando<br />
a USF Santiago se encontra<br />
registada como entidade prestadora<br />
de cuidados de saúde. A qualidade<br />
dos serviços e a inovação<br />
em algumas áreas-chave têm sido<br />
as grandes apostas da “Santiago”.<br />
Desde 20<strong>08</strong> que a unidade dispõe<br />
de uma consulta de cessação tabágica,<br />
garantida pelo coordenador<br />
da Unidade. Em breve, a pequena<br />
cirurgia irá juntar-se à carteira adicional<br />
de serviços. Uma consulta<br />
que como se referiu já funcionou<br />
na unidade ainda que não integrada<br />
na carteira adicional.<br />
Rejuvenescimento permanente<br />
Em Marrazes, a aposta na formação<br />
pré e pós-graduada tem sido a<br />
grande impulsionadora da inovação<br />
e dos novos desafios em que a<br />
equipa de amiúde se envolve. “É um<br />
desafio quer para o coordenador<br />
quer para a equipa. Trazem exigências<br />
novas… Temos de estar atualizados,<br />
que nos ajustar permanentemente<br />
para receber novos formandos,<br />
em termos organizacionais,<br />
de capacidade de resposta, de<br />
espaço… As instalações são boas<br />
mas, além disso, há todo o apoio<br />
que é preciso garantir em termos de<br />
novembro 2017 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 25
especial<br />
backoffice, de secretariado clínica”,<br />
explica Manuel Carvalho.<br />
E encontrar forma de responder<br />
aos desafios lançados pelos futuros<br />
médicos. “Aqui há dias propuseram<br />
a realização de umas jornadas<br />
científicas, recuperando um<br />
evento que foi dos primeiros realizados<br />
pela Associação Portuguesa<br />
de Medicina Geral e Familiar: as<br />
Jornadas de Leiria da APMGF. E já<br />
estamos a trabalhar nisso”.<br />
Tudo o que é possível fazer para garantir<br />
melhores condições de formação<br />
para os futuros médicos é<br />
feito. Neste âmbito, destaca-se a<br />
sala, dotada de equipamento informático,<br />
onde os internos podem<br />
realizar as diversas tarefas associadas<br />
ao percurso formativo,<br />
como a elaboração de relatórios,<br />
ou a preparação do imprescindível<br />
Curriculum Vitae.<br />
A aposta na formação reflete-se na<br />
credibilidade que é hoje reconhecida<br />
à unidade. “A nossa USF é a<br />
mais escolhida pelos jovens médicos<br />
em formação” e as nossas vagas as<br />
primeiras a serem ocupadas na região.<br />
E alguns deles acabam por optar<br />
pela Medicina Geral e Familiar,<br />
o que muito nos orgulha, porque<br />
reflete a qualidade do que aqui se<br />
faz”, afirma Manuel Carvalho. “Os<br />
resultados das avaliações são o espelho<br />
do bom desempenho da unidade<br />
na vertente formativa”, acrescenta.<br />
“Que também se reflete em<br />
comunicações científicas e trabalhos<br />
de investigação desenvolvidos<br />
na unidade, muitos deles apresentadas<br />
em congressos médicos…<br />
Alguns deles premiados”, testemunha,<br />
orgulhoso, o coordenador da<br />
unidade. “É um trabalho diário para<br />
criar estas condições. Cada vez que<br />
eles vêm para cá e pedem novas coisas<br />
nós tentamos responder, com o<br />
apoio do ACES”, acrescenta.<br />
Daqui a dias, o saber dos jovens formandos<br />
vai novamente ser posto<br />
à prova, com a apresentação de<br />
um trabalho no “6th Challenges in<br />
Cardiology”, uma importante reunião<br />
científica que se irá realizar em Leiria.<br />
Como se referiu, a par do internato<br />
de especialidade em Medicina<br />
Geral e Familiar, a USF Santiago<br />
também recebe internos do Ano<br />
Comum (IAC), o que também constitui<br />
um desafio. A realidade vai mudando<br />
obrigando a um trabalho de<br />
atualização permanente. “No Ano<br />
Comum, os internos passam connosco<br />
três meses, dos quais, duas<br />
As instalações são modernas e os mais novos não foram esquecidos!<br />
semanas na “Saúde Pública”, que<br />
também funciona no edifício do<br />
centro de saúde. Vêm cheios de<br />
expectativas e às vezes conseguimos<br />
conquistá-los para a Medicina<br />
Geral e Familiar. Uma das nossas<br />
médicas “séniores” fez o IAC comigo…<br />
E depois a especialidade e<br />
hoje é médica aqui”, aponta Manuel<br />
Carvalho. Aliás, precisa, “os dois últimos<br />
elementos seniores, foram<br />
formados aqui”.<br />
A coesão da equipa tem-se revelado<br />
essencial à superação de dificuldades…<br />
“Como quando tivemos<br />
A USF Santiago valoriza a formação contínua dos seus profissionais.<br />
um colega ausente durante 2 anos e<br />
conseguimos manter os<br />
indicadores, só com o recurso aos internos<br />
mais velhos que colaboraram<br />
connosco na gestão desse ficheiro…”<br />
“Quando recebo novos internos,<br />
costumo sempre dizer-lhes que o<br />
objetivo é que sintam prazer em vir<br />
para a USF; que quando uma pessoa<br />
sai de casa para o trabalho e não<br />
sente gozo, é porque algo não está<br />
bem”, testemunha o médico. As candidaturas<br />
para frequência de estágio<br />
na unidade, decididas em função<br />
do “passa-palavra” com quem por lá<br />
já passou, atestam que trabalhar na<br />
USF Santiago “dá gozo”!<br />
E por que não…“Ir às lulas”?<br />
No âmbito das atividades de promoção<br />
do espírito de equipa promovidas<br />
no seio da USF, Manuel<br />
Carvalho destaca a que carinhosamente<br />
designa de “ida às lulas” e explica<br />
do que se trata: “Para fomentar<br />
o trabalho de equipa, a motivação…<br />
duas a três vezes por ano os<br />
internos mais velhos organizam um<br />
fim-de-semana a que chamamos de<br />
“ida às lulas”, para o qual são convidados<br />
os membros das equipas e<br />
respetivas famílias. Vai a equipa e a<br />
família. É um espaço de convívio que<br />
cria a tal identidade que para nós é<br />
muito importante em termos de trabalho<br />
de equipa. Muitas vezes os internos<br />
que passam por aqui vêm<br />
cá visitar-nos, já seniores. A nossa<br />
porta está sempre aberta. É essa a<br />
imagem que queremos passar”.<br />
O espírito de equipa que alicerçou a<br />
decisão de avançar para o novo modelo<br />
organizacional dos cuidados de<br />
saúde primários mantém-se e até se<br />
reforçou, garante Manuel Carvalho.<br />
“Em todos os grupos profissionais”,<br />
sublinha.<br />
Modelo B… A evolução natural<br />
A transição de modelo A para modelo<br />
B “foi um desígnio natural da<br />
própria equipa. Tínhamos indicadores<br />
que nos permitiam pensar nessa<br />
possibilidade e também nos atraía<br />
a remuneração extra… Associada<br />
à carteira adicional de serviços.<br />
Importante para todos os profissionais.<br />
O incentivo pecuniário mensal<br />
faz toda a diferença. E quanto mais<br />
baixo é o salário, maior o impacto”,<br />
sublinha o médico.<br />
Relativamente às exigências sempre<br />
crescentes da contratualização,<br />
através da qual se fixam os<br />
objetivos anuais de desempenho,<br />
Manuel Carvalho afirma-se confiante<br />
no novo modelo, cujo enquadramento<br />
legal deverá ser conhecido<br />
em breve.<br />
Ao <strong>SaúdeOnline</strong>, o médico salientou<br />
a necessidade de se repensarem os<br />
indicadores contratualizados. Isto<br />
porque, aponta, “há patamares de<br />
cumprimento a partir dos quais, ao<br />
invés de melhorarmos, estamos a<br />
penalizar a prestação”. Os indicadores<br />
– de eficiência, por exemplo –<br />
têm que ter em conta, entre outros<br />
fatores, a evolução da pirâmide etária<br />
e a chegada de inovação.<br />
26 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembro 2017
uma iniciativa<br />
Médicos e enfermeiros trabalham lado a lado.<br />
Ao longo dos anos, a USF Santiago<br />
foi sempre alvo de incentivos institucionais<br />
por cumprimento dos indicadores<br />
contratados com a ARS.<br />
O problema é que ano após ano,<br />
a exigência vai sendo maior, que o<br />
mesmo é dizer, “temos que gastar<br />
ainda menos”, explica o coordenador<br />
da unidade. Algo difícil, tendo<br />
em conta que os doentes vão envelhecendo<br />
com um consequente<br />
aumento da carga de doença ao<br />
mesmo tempo que vão surgindo<br />
novos medicamentos, mais eficazes<br />
mas também mais caros, como<br />
aconteceu recentemente na área<br />
da diabetes e na dos anti-coagulantes,<br />
que passaram de um custo unitário<br />
de 2 ou 3 euros para 30, 40<br />
ou mesmo 50 euros, exemplifica<br />
Manuel Carvalho, algo que a contratualização<br />
não teve em conta”,<br />
afirma. Pesem os muitos contratempos,<br />
diz, “temos conseguido ultrapassar<br />
os problemas da contratualização<br />
porque somos uma equipa<br />
madura, que sabe adaptar-se”.<br />
Dos 8 aos 80<br />
Outro problema que a USF teve que<br />
enfrentar foi o da proibição do apoio,<br />
por parte de empresas privadas, às<br />
ações desenvolvidas nas unidades<br />
do SNS. Uma decisão, entretanto,<br />
parcialmente revertida através de<br />
um despacho publicado há dias e que<br />
vem repor alguma estabilidade às relações<br />
entre as empresas fornecedoras<br />
e as instituições do SNS.<br />
Em Marrazes, o controlo glicémico<br />
dos diabéticos seguidos na unidade<br />
era feito com recurso ao teste de<br />
hemoglobina glicada, cujo dispositivo<br />
e respetivos kits eram cedidos<br />
gratuitamente por uma empresa<br />
farmacêutica, através de um protocolo<br />
em vigor há já sete anos. Com<br />
a proibição instituída em janeiro, o<br />
protocolo entre a unidade e a empresa<br />
teve que ser denunciado e os<br />
doentes deixaram de poder realizar<br />
o teste na USF. “Os nossos diabéticos<br />
vinham aqui e numa única consulta<br />
faziam tudo: a hemoglobina<br />
glicada, a avaliação de Enfermagem<br />
e a avaliação pelo médico”. Agora,<br />
a hemoglobina glicada tem que ser<br />
feita fora, “obrigando a deslocações<br />
extra e a despesas que antes não<br />
eram cobradas”, aponta o médico.<br />
De acordo com as contas de Manuel<br />
Carvalho, só nos diabéticos da sua<br />
lista, o acréscimo de custos resultantes<br />
da medida foi superior a 10<br />
mil euros. Só em custos diretos, sublinha…<br />
“Porque há ainda que contabilizar<br />
os indiretos, resultantes das<br />
deslocações, horas de trabalho perdidas,<br />
etc. Muitos têm de recorrer ao<br />
serviço de táxi para virem às consultas.<br />
Agora, para além dessa despesa,<br />
têm que suportar a “corrida” até ao<br />
laboratório de análises para realizarem<br />
o teste”, lamenta o especialista.<br />
Para o coordenador da USF, deve<br />
imperar o bom senso. “Passámos<br />
“de 8 para 80”. A empresa em causa<br />
cedia a máquina e os kits, gratuitamente.<br />
Estávamos a usufruir de um<br />
serviço que os utentes só agora começam<br />
a valorizar. Mas apesar de<br />
tudo, são situações que vamos conseguindo<br />
ultrapassar”.<br />
Acreditação<br />
Reflexo do bom desempenho da<br />
USF e de maturidade da equipa é<br />
também o processo de acreditação<br />
que em breve se irá iniciar, pelo modelo<br />
de acreditação da Agencia de<br />
Calidad Sanitaria de Andalucia, adotado<br />
pelo departamento de qualidade<br />
da Direção-geral da Saúde.<br />
“Não é por acaso que fomos selecionados<br />
para entrar em acreditação”,<br />
explica Manuel Carvalho. “Temos<br />
indicadores que o permitem, temos<br />
a estrutura organizacional madura.<br />
E também porque é uma etapa<br />
obrigatória para todas as unidades<br />
a funcionar em Modelo B. Estou<br />
certo que será mais uma etapa que<br />
iremos vencer”, assegura.<br />
“O processo de acreditação dura<br />
um ano. Termina em fevereiro do<br />
ano que vem. Fizemos agora uma<br />
auditoria interna com a ajuda do<br />
enfermeiro Manuel da ARS Centro,<br />
que é o responsável da qualidade<br />
na Região Centro, e o feedback que<br />
temos recebido é de que estamos a<br />
cumprir os prazos, que temos mostrado<br />
trabalho. Mas há ainda muita<br />
coisa para fazer. Há sempre”, diz,<br />
resignado.<br />
“As auditorias são uma vantagem<br />
para as USF. Permitem ver o que<br />
está menos bem… E desde que haja<br />
abertura, e trabalho de equipa…<br />
Que é uma coisa que prezamos aqui,<br />
conseguimos suprir as lacunas”.<br />
“Havendo um coordenador, há delegação<br />
de competências e à medida<br />
que delegamos competências,<br />
delegamos responsabilidades”. O<br />
processo de acreditação não foge<br />
à regra. Há grupos de trabalho nomeados<br />
para as várias áreas de avaliação.<br />
Não é só o responsável da<br />
acreditação a arcar com a despesa<br />
do processo. Toda a equipa está<br />
empenhada para que as coisas corram<br />
bem e colabora nesse sentido.<br />
Suportada por uma equipa multiprofissional,<br />
a USF Santiago vai-se<br />
ajustando, em termos de recursos<br />
humanos à medida das necessidades<br />
e também das disponibilidades<br />
– sempre escassas – de profissionais.<br />
Até agora, tudo tem corrido<br />
bem, testemunha Manuel Carvalho.<br />
“À medida que a unidade vai crescendo,<br />
a enfermagem vai crescendo<br />
também. Quando vem um médico,<br />
vem um enfermeiro, vem um secretário<br />
clínico… E também não temos<br />
tido problema com o processo<br />
de selecção. Quando vem um enfermeiro<br />
para a equipa, quem o escolhe<br />
é a equipa de enfermagem. E há<br />
logo um compromisso dessa pessoa<br />
com o resto dos colegas. Tem corrido<br />
bem. Os novos elementos que<br />
vêm para cá são escolhidos por nós.<br />
É a vantagem das USF. Nós escolhemos<br />
quem queremos para trabalhar<br />
connosco”. Os dois últimos enfermeiros<br />
que vieram para aqui… fomos<br />
«roubá-los» ao hospital. Eram<br />
colegas referenciados, que já tinham<br />
manifestado vontade de se<br />
juntarem à nossa equipa.<br />
Comunicação com a população<br />
No âmbito das atividades de fomento<br />
da proximidade entre a unidade<br />
e os seus utentes, a USF<br />
Santiago publica um boletim periódico,<br />
com informação relevante, dirigida<br />
à população. Na última edição,<br />
José Manuel Carvalho sintetiza<br />
a década de atividade da Santiago<br />
que este ano se comemora, destacando<br />
a evolução sustentada e a<br />
identidade própria “assente no desempenho<br />
de qualidade na prestação<br />
de cuidados e na aposta na formação<br />
contínua pós-graduada”.<br />
Nesta edição, que integra artigos<br />
assinados por vários médicos e enfermeiros<br />
da USF Santiago, é ainda<br />
abordada a literacia em Saúde, o<br />
testamento vital, bem como textos<br />
dirigidos a grupos específicos de<br />
utentes, como diabéticos e grávidas.<br />
PP-ZIT-PRT-0192<br />
“O Conteúdo e as afirmações expressas nesta publicação são da exclusiva responsabilidade do(s) Entrevistado(s).”<br />
novembro 2017 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 27
SAÚDE ONLINE | mundo<br />
Eliminar a hepatite C<br />
em Portugal e na Europa<br />
é possível até 2030<br />
Representantes do Governo português, políticos, especialistas, médicos e associações<br />
de doentes e grupos de ativistas na área reuniram-se em Bruxelas para anunciar a sua<br />
intenção de trabalhar juntos com o objetivo de eliminar o vírus da Hepatite C até 2030,<br />
ao assinarem o “Manifesto pela Eliminação da Hepatite C”.<br />
O<br />
evento sucede a primeira<br />
Cimeira Política Europeia<br />
dedicada à eliminação<br />
do vírus da Hepatite C na Europa<br />
que decorreu em fevereiro do<br />
ano passado, em Bruxelas, e<br />
durante o qual foi apresentado<br />
o “Manifesto pela Eliminação da<br />
Hepatite C, que delineava questões<br />
políticas para a eliminação<br />
da hepatite C na Europa até 2030.<br />
Carlos Zorrinho, deputado do<br />
Parlamento Europeu e anfitrião<br />
do evento, saudou o facto de a<br />
Cimeira ser a primeira a dar concretização<br />
à Estratégia Europeia<br />
para erradicar a hepatite C até<br />
2030, adiantando que isso só foi<br />
possível “não apenas pela consciência<br />
da importância do problema<br />
em Portugal mas também<br />
porque os serviços de saúde e as<br />
associações de pacientes portugueses<br />
têm criado um vibrante<br />
dialogo procurando encontrar as<br />
melhores soluções”.<br />
Consciente de que Portugal está<br />
empenhado em acabar com a epidemia<br />
até 2030, Fernando Araújo,<br />
secretário de Estado Adjunto e da<br />
Saúde de Portugal, explica que a<br />
primeira Estratégia Nacional para<br />
as Hepatites Virais em Portugal,<br />
lançada este ano, se baseia na<br />
universalidade, na equidade e na<br />
qualidade, não deixando de parte<br />
a prevenção, informação, conhecimento<br />
e rastreios dirigidos.<br />
“Pela primeira vez, foi dada atenção<br />
especial aos grupos vulneráveis:<br />
reclusos, trabalhadores do<br />
sexo, sem-abrigo e emigrantes,<br />
Carlos Zorrinho, deputado do<br />
Parlamento Europeu e anfitrião do<br />
evento, saudou o facto de a Cimeira<br />
ser a primeira a dar concretização à<br />
Estratégia Europeia para erradicar<br />
a hepatite C até 2030, adiantando<br />
que isso só foi possível “não apenas<br />
pela consciência da importância<br />
do problema em Portugal mas<br />
também porque os serviços de<br />
saúde e as associações de pacientes<br />
portugueses têm criado um vibrante<br />
dialogo procurando encontrar as<br />
melhores soluções”.<br />
que têm tido dificuldade no<br />
acesso ao tratamento”, acrescenta<br />
Fernando Araújo, crente de<br />
que esta realidade irá mudar.<br />
Ricardo Baptista-Leite, membro<br />
do Parlamento de Portugal, encara<br />
a eliminação da hepatite C<br />
como um objetivo de saúde pública,<br />
o que implica a exigência<br />
de “uma liderança determinada,<br />
um reforço do papel dos cuidados<br />
de saúde primários e maior investimento<br />
em prevenção, rastreios,<br />
diagnóstico e ligação aos cuidados<br />
de saúde”, afirma.<br />
“As autoridades Portuguesas podem,<br />
nesse caso, contar com o<br />
apoio da sociedade civil, das comunidades<br />
chave e das pessoas<br />
que vivem com a doença e todos<br />
os stakeholders devem estar<br />
prontos para trabalharem em conjuntos<br />
na obtenção deste objetivo<br />
comum”, referiu o presidente<br />
do GAT - Grupo de Ativistas em<br />
Tratamentos e diretos do EATG -<br />
European AIDS Treatment Grup e<br />
da Colaition Plus, Luís Mendão.<br />
“Depois de 25 anos de pesquisa,<br />
os investigadores desenvolveram<br />
os meios para se curar<br />
a hepatite C com eficácia, tornando<br />
a eliminação da hepatite<br />
C na Europa na próxima década<br />
uma possibilidade genuína.<br />
Mas a ação política ao nível nacional<br />
tem de tornar isto possível,<br />
especialmente num País como<br />
Portugal onde a infeção por hepatite<br />
C é um enorme desafio<br />
de saúde pública,”, afirma o Prof<br />
Angelos Hatzakis, Presidente da<br />
Associação Hepatitis B and C<br />
Public Policy. “O nosso Manifesto<br />
pela Eliminação serve de plataforma<br />
de reunião para políticos<br />
e ativistas Europeus e nacionais.<br />
Se agirmos agora, a Europa estará<br />
livre da hepatite C em 2030,”<br />
continuou o Prof Hatzakis.<br />
Os signatários do Manifesto pela<br />
Eliminação da Hepatite C comprometem-se<br />
a tornar a hepatite<br />
“Pela primeira vez, foi dada atenção<br />
especial aos grupos vulneráveis:<br />
reclusos, trabalhadores do sexo,<br />
sem-abrigo e emigrantes, que<br />
têm tido dificuldade no acesso ao<br />
tratamento”, acrescenta Fernando<br />
Araújo, crente de que esta realidade<br />
irá mudar”, afirmou o secretário<br />
de Estado Adjunto e da Saúde,<br />
Fernando Araújo<br />
C e a sua eliminação na Europa<br />
uma prioridade clara de saúde<br />
pública a ser perseguida a todos<br />
os níveis; a assegurar que doentes,<br />
grupos da sociedade civil e<br />
outras partes interessadas sejam<br />
diretamente envolvidas no desenvolvimento<br />
e implementação de<br />
estratégias de eliminação de hepatite<br />
C; a dar especial atenção<br />
à ligação entre a hepatite C e a<br />
marginalização social; e a introduzir<br />
uma Semana Europeia de<br />
Consciência sobre a Hepatite.<br />
SO/SF<br />
28 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017
SAÚDE ONLINE | profissão<br />
Procedimento médico previne AVC<br />
em doentes com fibrilhação auricular<br />
Dia Mundial do AVC assinalou-se a 29 de outubro<br />
Eduardo Infante de Oliveira<br />
Membro da direção da<br />
Associação Portuguesa de<br />
Intervenção Cardiovascular<br />
(APIC)<br />
A<br />
fibrilhação auricular é<br />
uma perturbação do<br />
ritmo cardíaco (arritmia)<br />
que se associa ao risco de acidente<br />
vascular cerebral (AVC).<br />
Nesta arritmia, o coração<br />
perde a capacidade de contração<br />
das aurículas. A estagnação<br />
de sangue nestas cavidades<br />
proporciona a formação de<br />
coágulos (trombos) que poderão<br />
deslocar-se e migrar para<br />
a circulação cerebral e provocar<br />
um AVC. O AVC continua a<br />
ser a principal causa de morte<br />
e incapacidade em Portugal<br />
e a fibrilhação auricular é responsável<br />
por cerca de um terço<br />
dos casos.<br />
Os medicamentos anticoagulantes<br />
contrariam a formação<br />
de coágulos e são a primeira linha<br />
na prevenção do AVC na<br />
fibrilhação auricular. Contudo,<br />
os anticoagulantes aumentam o<br />
risco de sangramento (hemorragia)<br />
e estima-se que cerca de 1<br />
em cada 4 doentes não tolere ou<br />
apresente contraindicação para<br />
a toma destes fármacos. Para<br />
este grupo de doentes, a cardiologia<br />
de intervenção oferece<br />
uma alternativa. Através de um<br />
cateter introduzido na região femoral,<br />
é possível alcançar o coração<br />
e implantar um dispositivo<br />
que encerra o local onde a formação<br />
de coágulos é mais provável.<br />
Esse local é o apêndice<br />
auricular esquerdo, uma pequena<br />
extensão da aurícula esquerda<br />
que é responsável pela<br />
formação de cerca de 90% dos<br />
trombos associados à fibrilhação<br />
auricular.<br />
O encerramento do apêndice<br />
auricular esquerdo através de<br />
cateter representa uma importante<br />
evolução na prevenção<br />
do AVC, oferecendo uma alternativa<br />
não-inferior à anticoagulação<br />
em doentes que não toleram<br />
ou apresentam elevado<br />
risco de sangramento. Este procedimento<br />
não é uma cirurgia,<br />
pode ser oferecido em múltiplas<br />
unidades públicas e privadas<br />
de norte a sul do país e geralmente<br />
implica apenas um dia<br />
de internamento.<br />
São múltiplos os desafios na<br />
prevenção do AVC associado<br />
à fibrilhação auricular. Esta arritmia<br />
é frequentemente silenciosa,<br />
dificultando o seu diagnóstico.<br />
Estima-se que cerca<br />
de metade dos doentes com fibrilhação<br />
auricular não estejam<br />
devidamente identificados<br />
e protegidos. Recomendamos<br />
que palpe o seu pulso e procure<br />
o seu médico. Um pulso irregular<br />
poderá corresponder a fibrilhação<br />
auricular.<br />
A adesão terapêutica é outro<br />
obstáculo. É frequentemente difícil<br />
motivar um doente com fibrilhação<br />
auricular para a adesão<br />
a um regime terapêutico prolongado,<br />
particularmente quando<br />
não tem sintomas associados.<br />
É necessário que a população<br />
compreenda que na presença<br />
de fibrilhação auricular o risco<br />
anual de AVC vai até 20% (1 em<br />
cada 5 doentes). Os doentes deverão<br />
estar devidamente protegidos,<br />
procurando cuidados médicos<br />
e mantendo a adesão terapêutica.<br />
Para mais informações pode enviar<br />
email para: apic@spc.pt .<br />
30 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017
SAÚDE ONLINE | nacional<br />
Centros de referência portugueses<br />
participam em curso inovador<br />
de simulação em Mucopolissacaridoses<br />
O Hospital San Joan de Déu, em Barcelona, recebeu a 2.ª edição internacional<br />
do curso “Comprehensive Anesthetic Management of the Child and Teenager<br />
with MPS” (Mucopolissacaridoses), nos dias 5 e 6 de outubro.<br />
Médicas anestesiologistas<br />
portuguesas participaram,<br />
com o apoio da<br />
BioMarin, neste curso de simulação<br />
clínica que decorreu em<br />
Barcelona. Estas participantes<br />
pertencem a centros de referência<br />
na área das doenças hereditárias<br />
do metabolismo, onde existem<br />
equipas multidisciplinares<br />
com experiência no acompanhamento<br />
de doentes com MPS. Em<br />
Portugal, os centros de referência<br />
nesta área são o Centro Hospitalar<br />
de São João, Centro Hospitalar<br />
do Porto, Centro Hospitalar e<br />
Universitário de Coimbra, Centro<br />
“Sendo anestesista<br />
num hospital de<br />
referência de MPS, a<br />
preparação que este<br />
curso proporciona<br />
é essencial e sintome<br />
mais habilitada<br />
para abordar estes<br />
doentes”, afirma<br />
Ana Pinto Carneiro,<br />
do Hospital Dona<br />
Estefânia em Lisboa.<br />
As médicas anestesiologistas portuguesas Amélia Ferreira, Célia Mendes Xavier, Ana Pinto Carneiro e Patrícia Borges<br />
Hospitalar Lisboa Norte e Centro<br />
Hospitalar de Lisboa Central.<br />
Neste curso, organizado pelo<br />
Darwin Simulation Center, do<br />
Hospital Pediátrico de San Joan<br />
de Déu, e pela BioMarin, foram<br />
utilizados simuladores avançados<br />
que mimetizam situações clínicas<br />
de elevada complexidade. Para o<br />
diretor do curso, Dr. Ferran Manen<br />
Berga, o objetivo primordial é o<br />
aperfeiçoamento e a uniformização<br />
dos procedimentos anestésicos<br />
em doentes MPS, em cirurgias<br />
ou outras situações onde a<br />
sedação é necessária.<br />
“É importante lembrar que qualquer<br />
procedimento numa criança<br />
ou adolescente com MPS é<br />
sempre uma situação de risco.<br />
Planear toda a atuação anestésica<br />
é importante, sem esquecer<br />
o pós-operatório e a necessidade<br />
de ventilação não invasiva”,<br />
salienta Célia Mendes Xavier,<br />
do Hospital de Santa Maria, em<br />
Lisboa.<br />
O curso iniciou-se com uma componente<br />
teórica, que englobou diversas<br />
áreas de especialidade,<br />
como a cardiologia, pneumologia,<br />
hemodinâmica, radiologia,<br />
e todo o tipo de procedimentos<br />
32 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017
nacional | SAÚDE ONLINE<br />
anestésicos adotados antes, durante<br />
e após intervenção cirúrgica.<br />
A segunda parte da formação<br />
incidiu na simulação clínica. As<br />
vantagens deste método residem,<br />
sobretudo, no aumento<br />
da segurança dos doentes e,<br />
em termos educacionais, na<br />
possibilidade de “aprender fazendo”.<br />
No final de cada simulação<br />
realiza-se um “debriefing”<br />
para consolidar todos os conceitos<br />
e técnicas aprendidas.<br />
Amélia Ferreira, do Hospital de<br />
São João, no Porto, salienta a<br />
importância da componente de<br />
simulação do curso: “com a recriação<br />
de cenários clínicos, de<br />
uma forma interativa, torna-se<br />
mais fácil a aprendizagem de<br />
atitudes e de competências, incluindo<br />
a tomada de decisões<br />
em situações de crise”.<br />
Em Portugal, esta técnica já é<br />
utilizada em várias unidades de<br />
saúde e instituições de ensino.<br />
No entanto, com as especificidades<br />
de Mucopolissacaridoses<br />
– onde a cirurgia está associada<br />
a uma alta taxa de mortalidade<br />
– este método de ensino<br />
com recurso à simulação clínica<br />
só existe no Hospital Pediátrico<br />
de San Joan de Déu, no Darwin<br />
Simulation Center.<br />
As MPS são doenças hereditárias<br />
do metabolismo, multissitémicas e<br />
progressivas. Dependendo do tipo<br />
e grau de afetação, a expetativa<br />
de vida destes doentes pode ser<br />
bastante reduzida. Desde 2003,<br />
têm surgido cada vez mais tratamentos<br />
para MPS com vista a proporcionar<br />
uma maior qualidade de<br />
vida e longevidade ao doente.<br />
Nestas patologias, existe um<br />
grande risco anestésico, pois há<br />
uma alta prevalência de obstrução<br />
das vias aéreas e doença pulmonar<br />
restritiva em combinação com<br />
manifestações cardiovasculares.<br />
“O facto de surgirem poucos casos<br />
na nossa prática clinica não nos<br />
permite possuir uma metodologia<br />
de abordagem como aquela que<br />
este curso transmite”, salienta Ana<br />
Pinto Carneiro, do Hospital Dona<br />
Estefânia, em Lisboa. A baixa incidência<br />
das MPS e a pouca experiência<br />
existente nos diferentes<br />
centros levam a uma certa heterogeneidade<br />
na prática anestésica.<br />
“No futuro espero conseguir sentir<br />
segurança nas minhas decisões<br />
de anestesiar ou sedar<br />
crianças ou adolescentes com<br />
esta patologia. Lembrar sempre<br />
que cada caso é um caso e<br />
do grande desafio, sobretudo ao<br />
Esta edição contou igualmente com participantes da Alemanha, Itália, Lituânia e Turquia.<br />
nível da via aérea, neste grupo de<br />
doentes”, afirma a anestesiologista<br />
do Hospital de Santa Maria.<br />
A BioMarin desenvolve e comercializa<br />
produtos biofarmacêuticos<br />
inovadores para doenças genéticas<br />
graves. A empresa está empenhada<br />
em atender às diferentes<br />
necessidades de doentes com<br />
MPS, assim como dos seus familiares,<br />
médicos, profissionais de<br />
saúde e grupos de apoio, através<br />
de programas e serviços para os<br />
apoiar, como é o caso desta formação<br />
para médicos que fazem<br />
a gestão anestésica de doentes<br />
com MPS.<br />
novembrO 2017 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 33
SAÚDE ONLINE | profissão<br />
Ultrapassar uma situação<br />
de infidelidade<br />
exige comprometimento mútuo<br />
Pedro Batista<br />
Psicólogo na Unidade<br />
Psiquiátrica Privada de<br />
Coimbra<br />
Email: geral@uppc.pt<br />
Uma situação de infidelidade<br />
tem um impacto<br />
negativo mesmo nos relacionamentos<br />
mais fortes e a descoberta<br />
inicial de um caso geralmente<br />
desencadeia emoções<br />
negativas e intensas em ambos<br />
os parceiros, tais como raiva,<br />
vergonha, culpa ou remorso.<br />
Algumas das razões comuns<br />
para a infidelidade incluem a<br />
falta de atenção para com o outro;<br />
as dificuldades de comunicação<br />
associadas a necessidades<br />
emocionais e do próprio relacionamento;<br />
a falta de intimidade,<br />
perdas ao nível do afeto<br />
e nos cuidados dados ao parceiro;<br />
a insegurança e baixa autoestima<br />
e o desenvolvimento<br />
progressivo de problemas na<br />
relação e sem resolução prévia.<br />
As dependências do jogo,<br />
sexo, álcool ou drogas e os problemas<br />
de saúde mental tais<br />
como Ansiedade, Depressão ou<br />
Perturbação Bipolar são também<br />
fatores que podem contribuir<br />
para a infidelidade.<br />
Após ter conhecimento de um<br />
caso de infidelidade, para algumas<br />
pessoas, o afastamento e/<br />
ou separação poderá constituir<br />
a única solução. Para outros,<br />
com o apoio da família, amigos<br />
e/ou de um bom terapeuta, é<br />
possível ultrapassar uma situação<br />
de infidelidade, emergindo,<br />
em alguns casos, uma reconstrução<br />
e um fortalecimento do<br />
relacionamento.<br />
Algumas ações/atitudes poderão<br />
potenciar uma resolução<br />
responsável e um desfecho<br />
positivo de uma situação de<br />
infidelidade:<br />
* Ser responsável e assumir<br />
os atos praticados.<br />
* Dar espaço mútuo. A<br />
descoberta de um caso<br />
é sempre intensa, sendo<br />
necessário, nesta fase, evitar<br />
discussões emocionalmente<br />
intensas;<br />
* Evitar tomar decisões<br />
precipitadas e em momentos<br />
de forte destabilização<br />
emocional. Antes de tomar<br />
decisões ou de fazer<br />
escolhas, tomar o tempo<br />
necessário para entender o<br />
que conduziu a esta situação.<br />
* Procurar apoio, considerando<br />
a possibilidade de recorrer<br />
a um terapeuta. O apoio de<br />
familiares e de amigos será<br />
benéfico, devendo, no entanto,<br />
evitar situações de julgamento<br />
ou de crítica.<br />
* Não ter pressa. Mesmo que<br />
exista uma forte necessidade<br />
de compreender a situação<br />
ou um profundo desejo<br />
de reconciliação, será<br />
fundamental cumprir o tempo<br />
necessário que permita<br />
restaurar a confiança e atingir<br />
uma eventual reconciliação.<br />
Apesar de todo o sofrimento e<br />
dor que possam estar presentes<br />
após uma situação de infidelidade,<br />
apenas o empenho<br />
e comprometimento mútuo poderão<br />
proporcionar uma vivência<br />
relacional mais positiva, que<br />
continuará a crescer e provavelmente<br />
excederá as expectativas<br />
anteriores.<br />
A Unidade Psiquiátrica Privada<br />
de Coimbra tem por missão contribuir<br />
para o bem-estar da população<br />
através da oferta de cuidados<br />
de saúde, de atividades<br />
de formação e de investigação,<br />
na área da psiquiatria e saúde<br />
mental, de acordo com padrões<br />
de referência internacionais.<br />
Para mais informações consulte:<br />
http://uppc.pt/<br />
34 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017
SAÚDE ONLINE | nacional<br />
Saúde beneficia<br />
com agravamento de imposto<br />
sobre bebidas açucaradas<br />
O que se sabe do orçamento de Estado para 2018 promete o reforço das fontes<br />
de financiamento para o Ministério da Saúde, com base no agravamento de taxas.<br />
Adalberto Campos Fernandes<br />
vai poder contar, em 2018,<br />
com mais dinheiro proveniente<br />
imposto sobre bebidas<br />
açucaradas (tributadas pela primeira<br />
vez em 2017, que de acordo<br />
com a proposta de Orçamento<br />
do Estado de 2018 (OE2018),<br />
vai aumentar 1,5% no caso dos<br />
refrigerantes. O mesmo aumento<br />
previsto para o imposto sobre o<br />
álcool e bebidas alcoólicas. Um<br />
aumento a que corresponde uma<br />
taxa de 8,34 euros por hectolitro<br />
(100 litros) nas bebidas cujo teor<br />
de açúcar seja inferior a 80 gramas<br />
por litro e a 16,69 euros por<br />
hectolitro para as bebidas cujo<br />
teor de açúcar seja igual ou superior<br />
a 80 gramas por litro. No caso<br />
dos refrigerantes, o aumento<br />
agora proposto poderá não ter<br />
qualquer impacto no preço final.<br />
Recorde-se que a introdução do<br />
imposto em 2017, significou um<br />
aumento entre 0,15 e 0,30 euros<br />
no preço final de uma garrafa de<br />
refrigerante de 1,5 litros.<br />
Também as bebidas concentradas<br />
serão alvo de nova tributação. Se<br />
em 2017 a taxa definida era igual<br />
à estipulada consoante as gramas<br />
de açúcar por hectolitro (8,22 euros<br />
por hectolitro até 80 gramas de<br />
açúcar e 16,46 euros por hectolitro<br />
acima dessa quantidade de açúcar),<br />
em 2018 o Governo vai tributar<br />
os concentrados consoante a<br />
sua forma (líquida ou sólida). “Na<br />
forma líquida, 50,01 e 100,14 euros<br />
por hectolitro, aplicando-se ao teor<br />
de açúcar o fator seis; apresentado<br />
sob a forma de pó, grânulos<br />
ou outras formas sólidas, 83,35 e<br />
166,90 euros por 100 quilogramas<br />
de peso líquido, aplicando-se ao<br />
teor de açúcar o fator dez”, lê-se<br />
na proposta de OE2017.<br />
De acordo com a proposta apresentada<br />
no parlamento na passada<br />
sexta-feira, a receita obtida<br />
com o imposto incidente sobre as<br />
bebidas não alcoólicas é consignada<br />
à sustentabilidade do Serviço<br />
Nacional de Saúde (SNS) e dos<br />
Serviços Regionais de Saúde das<br />
Regiões Autónomas da Madeira<br />
e dos Açores. Ou seja, só poderá<br />
ser utilizada, mediante autorização<br />
do Ministro das Finanças.<br />
Quota de genéricos aquém dos<br />
resultados já alcançados<br />
Finalmente, o Governo pretende,<br />
em 2018, adotar medidas que visem<br />
aumentar a quota de medicamentos<br />
genéricos no mercado<br />
total, medida em volume de unidades,<br />
para 42%. Uma meta modesta<br />
tendo em conta que em julho<br />
a quota destes medicamentos<br />
atingiu um recorde histórico<br />
de 47,8%.<br />
Um valor justificado à época pelo<br />
Governo com a introdução de<br />
um incentivo de 35 cêntimos por<br />
cada embalagem dispensada na<br />
farmácia.<br />
Em declarações aos jornalistas,<br />
Adalbero Campos Fernandes revelou<br />
então que o objetivo era<br />
que os genéricos alcançassem<br />
50% da quota de medicamentos<br />
vendidos em Portugal.<br />
Governo salvaguarda suplementos<br />
remuneratórios de USF<br />
modelo B<br />
Os incentivos institucionais e financeiros<br />
auferidos pelos profissionais<br />
que exercem funções<br />
em unidade de saúde familiar de<br />
Tipo B (nas quais a remuneração<br />
é sensível ao desempenho) são<br />
salvaguardados na proposta de<br />
OE para 2018. Uma previsão que<br />
vem colmatar uma lacuna registada<br />
em anos anteriores e que levou<br />
o Tribunal de Contas a contestar<br />
o pagamento dos suplementos<br />
remuneratórios de médicos,<br />
enfermeiros e secretários<br />
clínicos das USF B.<br />
36 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017
SAÚDE ONLINE | profissão<br />
Síndrome disexecutiva<br />
O declíno acentuado das funções executivas podem ser indicadores de doença<br />
Luísa Lagarto<br />
Psiquiatra e membro<br />
da direção da Associação<br />
Cérebro e Mente.<br />
As funções executivas<br />
consistem num conjunto<br />
de capacidades que permitem<br />
ao indivíduo direcionar o<br />
seu raciocínio e comportamento<br />
para determinadas metas ou<br />
objetivos. São exemplos a capacidade<br />
de iniciar e planear uma<br />
tarefa, inibir ou alterar determinada<br />
ação, elaborar estratégias<br />
para a resolução de novos problemas,<br />
formar conceitos abstratos,<br />
avaliar e regular o próprio<br />
comportamento. Estas funções,<br />
essenciais para a adaptação<br />
do indivíduo ao meio ambiente,<br />
dependem da integridade de<br />
estruturas cerebrais localizadas<br />
no lobo frontal. Estas estruturas<br />
podem ser danificadas por infecções,<br />
traumatismos cranianos,<br />
tumores, doenças degenerativas,<br />
abuso de drogas e álcool,<br />
entre outras. Quando a lesão<br />
leva ao aparecimento de sintomas<br />
que prejudiquem o desempenho<br />
normal destas funções,<br />
origina-se então uma síndrome<br />
disexecutiva.<br />
Com frequência, estes doentes<br />
reportam dificuldades em executar<br />
determinadas tarefas, como<br />
planear uma viagem, preparar<br />
uma refeição, gerir assuntos financeiros,<br />
tomar decisões no<br />
imediato ou persistir numa tarefa.<br />
Não raramente os familiares<br />
os descrevem como rígidos<br />
e inflexíveis, incapazes de se<br />
adaptar a situações novas ou a<br />
mudanças de ambiente. Podem<br />
manifestar impulsividade, pouca<br />
afetividade ou perda da capacidade<br />
de empatia. A perda de<br />
juízo crítico também pode ocorrer,<br />
a qual se manifesta por falta<br />
de discernimento para avaliar<br />
as consequências de um comportamento.<br />
Estes doentes podem<br />
tornar-se desadequados<br />
socialmente, negligenciar cuidados<br />
de higiente, usar linguagem<br />
imprópria ou comportar-se<br />
de forma desinibida.<br />
A investigação científica tem<br />
mostrado que as funções executivas<br />
se deterioram durante<br />
o processo normal de envelhecimento,<br />
verificando-se uma diminuição<br />
da flexibilidade mental,<br />
da capacidade de abstração<br />
e da velocidade de raciocínio.<br />
Contudo, um declínio acentuado,<br />
que prejudique o normal<br />
funcionamento do dia-a-dia,<br />
pode ser indicador de doença.<br />
As causas patológicas desta<br />
síndrome são muito diversas e<br />
incluem doenças neurológicas<br />
e psiquiátricas, causas traumáticas,<br />
infeciosas ou neoplásicas,<br />
doenças genéticas, entre<br />
outras. Podem ser reversíveis<br />
como no caso de infeções agudas<br />
ou relacionadas com tóxicos.<br />
Na depressão e ansiedade<br />
crónica é comum a presença de<br />
défices executivos, como dificuldades<br />
na concentração e na resolução<br />
de problemas complexos<br />
e lentificação do raciocínio.<br />
Nestes casos, os sintomas<br />
revertem habitualmente com a<br />
instituição de terapêutica antidepressiva.<br />
Outras causas psiquiátricas<br />
conhecidas incluem<br />
a Esquizofrenia, a Perturbação<br />
de hiperatividade e défice<br />
de atenção, a Perturbação<br />
Bipolar ou a Perturbação<br />
Obsessiva-compulsiva.<br />
As demências degenerativas,<br />
como a demência fronto-temporal,<br />
constituem uma causa<br />
muito frequente. Nestes casos<br />
existe perda irreversível de tecido<br />
cerebral do lobo frontal, verificando-se<br />
um declínio lento e<br />
progressivo das funções executivas.<br />
Estes doentes manifestam<br />
com frequência alterações da<br />
personalidade, perturbações da<br />
linguagem e distúrbios comportamentais<br />
(apatia ou desinibição).<br />
As lesões vasculares que<br />
atinjam estas áreas, provocadas<br />
por exemplo pelo acidente vascular<br />
cerebral (AVC), podem levar<br />
também ao aparecimento<br />
desta síndrome.<br />
O diagnóstico é estabelecido<br />
com base na avaliação clínica e<br />
auxiliado por exames analíticos,<br />
testes neuropsicológicos e de<br />
imagem cerebral. É imperativo<br />
excluir logo de início as causas<br />
potencialmente tratáveis.<br />
O tratamento desta síndrome<br />
depende da doença subjacente.<br />
Em alguns casos de declínio<br />
progressivo pode ser aconselhável<br />
um programa de reabilitação<br />
cognitiva, que consiste na<br />
execução de exercícios direcionados<br />
para estimular determinadas<br />
áreas cerebrais, de forma a<br />
compensar os défices existentes.<br />
Dada a evolução crónica<br />
em grande parte dos casos, os<br />
doentes precisam de ser acompanhados<br />
regularmente por um<br />
especialista. O quadro clínico<br />
pode modificar-se com a progressão<br />
dos défices, e com frequência<br />
surgem concomitante<br />
sintomas emocionais e comportamentais,<br />
que devem ser devidamente<br />
avaliados e tratados.<br />
A síndrome disexecutiva é<br />
um dos temas em discussão<br />
no 8º Encontro Internacional<br />
Psicogeriátrico que vai decorrer<br />
de 2 a 4 de novembro, no Hotel<br />
Dom Pedro Golf, em Vilamoura.<br />
A Associação Cérebro & Mente<br />
tem como principal objetivo promover<br />
a saúde mental na população.<br />
Para mais informações consulte:<br />
http://cerebroemente.pt/<br />
38 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017
SAÚDE ONLINE | profissão<br />
Para que serve a Terapia Ocupacional?<br />
Dia 27 de outubro assinalou-se o Dia Mundial da Terapia Ocupacional. A terapia ocupacional<br />
é uma profissão da área da saúde que tem como principal objetivo promover o bem-estar e a<br />
qualidade de vida de pessoas de todas as idades, capacitando-as para a ocupação<br />
Ana Matias<br />
Terapeuta Ocupacional<br />
no NeuroSer, Centro de<br />
Diagnóstico e Terapias para<br />
Alzheimer e outras patologias<br />
neurológicas<br />
isso, tem em conta o<br />
desempenho e o envolvimento<br />
ocupacional de Para<br />
cada pessoa, nas ocupações<br />
que considere mais significativas,<br />
avaliando e intervindo ao<br />
nível de três dimensões: a pessoa,<br />
a ocupação e o ambiente.<br />
Estas ocupações poderão estar<br />
relacionadas com os autocuidados<br />
(tomar banho, vestir/despir,<br />
alimentação, entre outros), com<br />
o lazer (atividades de entretenimento)<br />
ou com a produtividade<br />
(emprego, voluntariado, atividades<br />
que contribuam para a<br />
comunidade/sociedade).<br />
Este profissional atua com utentes<br />
desde recém-nascidos até<br />
idosos, em áreas tão diversas<br />
como a saúde mental, a reabilitação<br />
física, a neurologia, entre<br />
outras. Esta diversidade deve-se<br />
ao foco primordial da intervenção<br />
ser a ocupação, um<br />
aspeto transversal a todas as<br />
faixas etárias, uma vez que nos<br />
envolvemos constantemente<br />
em diferentes ocupações ao<br />
longo da vida.<br />
No NeuroSer, a neurologia é<br />
área de intervenção da terapia<br />
ocupacional, com uma abordagem<br />
em patologias como a demência,<br />
a doença de parkinson<br />
e os parkinsonismos atípicos e o<br />
acidente vascular cerebral. As intervenções<br />
são realizadas tanto<br />
individualmente, como em grupo,<br />
dependendo de cada caso.<br />
No que diz respeito às demências,<br />
o terapeuta ocupacional<br />
priveligia a intervenção em pequenos<br />
grupos, com o objetivo<br />
de promover o envolvimento em<br />
atividades prazerosas que se relacionem<br />
com a identidade ocupacional<br />
individual de cada um<br />
dos utentes e que respeitem as<br />
suas competências remanescentes,<br />
diminuindo a sua frustração<br />
sentida no dia-a-dia e promovendo<br />
a sua socialização e o<br />
bem-estar.<br />
Ao nível da doença de parkinson<br />
e parkinsonismos atípicos, a<br />
intervenção pode ser individual,<br />
focando o desempenho nas atividades<br />
de vida diária, a manutenção<br />
de um envolvimento satisfatório<br />
das atividades lúdicas,<br />
a análise de possíveis adaptações<br />
ocupacionais e ambientais,<br />
entre outros. Ou poderá<br />
ser uma intervenção realizada<br />
em grupo, promovendo um momento<br />
de estimulação motora e<br />
cognitiva, enquanto é facilitada<br />
a identificação com os pares.<br />
Por fim, no acidente vascular cerebral,<br />
no NeuroSer o terapeuta<br />
ocupacional atua apenas em regime<br />
individual, sendo que são<br />
estabelecidos objetivos pessoais<br />
com o utente e/ou cuidador/familiar,<br />
no sentido de promover a autonomia<br />
nas atividades de vida<br />
diária, no lazer e na produtividade,<br />
capacitando a pessoa para<br />
um desempenho satisfatório nas<br />
ocupações que a própria identifica<br />
como significativas.<br />
É importante realçar que, embora<br />
a terapia ocupacional seja<br />
uma área de grande importância<br />
na intervenção com as patologias<br />
acima mencionadas,<br />
será essencial que exista a articulação<br />
com uma equipa multidisciplinar,<br />
como por exemplo<br />
médicos, psicólogos, fisioterapeutas,<br />
terapeutas da fala, entre<br />
outros.<br />
No dia 27 de Outubro é celebrado<br />
o Dia Mundial da Terapia<br />
Ocupacional, com o intuito de<br />
promover esta profissão e os<br />
seus profissionais a atuar nas<br />
mais variadas áreas e permitir<br />
informar a população acerca<br />
desta área de atuação. O dia foi<br />
celebrado pela primeira vez em<br />
2010, sendo que desde esse ano<br />
são dinamizados eventos quer<br />
pela Associação Portuguesa<br />
de Terapeutas Ocupacionais<br />
(APTO), quer pela World<br />
Federation of Occupational<br />
Therapy (WFTO).<br />
Para mais informações consultar:<br />
http://www.neuroser.pt/ |<br />
info@neuroser.pt<br />
40 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017
nacional | SAÚDE ONLINE<br />
SNS 24 vai ajudar doentes<br />
a escolherem hospital<br />
e a marcarem cirurgia<br />
Os utentes que aguardam por uma cirurgia vão ser contactados pelo serviço SNS 24 que os ajudará<br />
a escolher outra instituição pública ou uma unidade no setor convencionado ou o mesmo hospital,<br />
marcando a operação logo no telefonema.<br />
“Queremos uma atitude pró-ativa<br />
para ajudar o utente a tomar<br />
decisões”, afirma Ricardo Mestre,<br />
da direção da Administração Central<br />
do Sistema de Saúde (ACSS).<br />
A<br />
informação foi avançada<br />
à agência Lusa por<br />
Ricardo Mestre, da direção<br />
da Administração Central do<br />
Sistema de Saúde (ACSS), organismo<br />
do Ministério da Saúde que<br />
está a implementar um conjunto<br />
de medidas com vista a agilizar<br />
o acesso dos utentes ao Serviço<br />
Nacional de Saúde (SNS).O responsável<br />
anunciou que, a partir<br />
de outubro, os utentes que<br />
estão à espera de uma cirurgia<br />
num hospital público e que atingiram<br />
os tempos máximos de resposta<br />
garantidos vão receber um<br />
cheque-cirurgia ou uma nota de<br />
transferência (entre hospitais do<br />
SNS), que vai começar a ser desmaterializada,<br />
passando a ser<br />
enviada por SMS ou email.<br />
No caso dos utentes que não dispõem<br />
destas formas de comunicação,<br />
o cheque ou a nota continuarão<br />
a ser enviados em papel.<br />
Através de contacto telefónico,<br />
o SNS 24 irá informar o utente<br />
das alternativas que existem em<br />
outros hospitais públicos, bem<br />
como as soluções no setor privado<br />
e social.<br />
O objetivo da medida é “poupar<br />
tempo”, podendo a cirurgia<br />
ser marcada através desse contacto<br />
telefónico, evitando assim a<br />
deslocação do utente ao hospital<br />
para a marcação da operação,<br />
mediante apresentação do cheque<br />
ou da nota.<br />
“Queremos uma atitude pró-ativa<br />
para ajudar o utente a tomar decisões”,<br />
disse.<br />
Ao nível das consultas, a aposta<br />
passa pelo recurso a instrumentos<br />
como a telemedicina, estando<br />
a ser estendida a todos os hospitais<br />
e centros de saúde a possibilidade<br />
de os médicos de família<br />
enviarem informação, incluindo<br />
fotografias, ao médico hospitalar,<br />
na área da dermatologia.<br />
Segundo Ricardo Mestre, entre<br />
50 a 70% dos casos atendidos<br />
desta forma, nas instituições de<br />
saúde que a disponibilizam, dispensam<br />
uma consulta hospitalar.<br />
A livre escolha dos utentes continua<br />
a aumentar, sendo já 240<br />
mil os utentes que, entre junho<br />
de 2016 e 24 de setembro deste<br />
ano, optaram por uma primeira<br />
consulta de especialidade fora do<br />
seu hospital de residência.<br />
A este propósito, Ricardo Mestre<br />
revelou que, até final deste ano,<br />
será realizada uma avaliação às<br />
razões que estão na origem da<br />
escolha de outro hospital, bem<br />
como o motivo que leva os utentes<br />
a optarem pela sua instituição<br />
de residência.<br />
Lusa/SO/SP<br />
novembrO 2017 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 41
SAÚDE ONLINE | profissão<br />
Discopatia degenerativa<br />
provoca dor incapacitante no idoso<br />
Dia Internacional do Idoso assinalou-se a 1 de outubro<br />
Manuel Tavares de Matos<br />
Presidente da Sociedade<br />
Portuguesa de Patologia<br />
da Coluna Vertebral<br />
A<br />
doença discal degenerativa<br />
ou discopatia degenerativa<br />
é uma alteração<br />
da normal estrutura do<br />
disco intervertebral da coluna.<br />
Esta pode acontecer precocemente<br />
por causas genéticas ou<br />
no decorrer do processo natural<br />
de envelhecimento. Devido à<br />
alteração dos seus constituintes<br />
e sua “desidratação”, os discos<br />
intervertebrais deixam de atuar<br />
como amortecedores, fazendo<br />
deslocar o seu núcleo gelatinoso<br />
para trás formando a “hérnia<br />
discal”, diminuindo a sua resistência<br />
decorrente dos esforços<br />
efetuados (sobretudo quando<br />
dobramos as costas) e fazendo<br />
com que as vértebras se aproximem<br />
umas das outras, diminuindo<br />
os espaços para a passagem<br />
das raízes nervosas. Esta é<br />
uma das causas mais comuns de<br />
dor no adulto idoso, quer local,<br />
quer irradiara para os membros.<br />
As principais queixas dos doentes<br />
são a dor nas costas e/ou<br />
membros e, às vezes, a dificuldade<br />
em andar. O diagnóstico<br />
da discopatia degenerativa<br />
pode ser realizado com recurso<br />
a radiografias que possibilitam<br />
ver a diminuição do<br />
espaço entre os discos, irregularidades<br />
nas suas margens e os<br />
“bicos de papagaio” que na verdade<br />
são firmações de osso, feitas<br />
pela pessoa doente no sentido<br />
de fazer a “ponte” entre as<br />
vértebras e manter assim a estabilidade.<br />
A ressonância magnética<br />
da coluna vertebral apresenta-se<br />
hoje como o exame<br />
mais sensível, podendo mostrar<br />
o grau de hidratação, de degeneração<br />
e compressão medular<br />
ou radicular.<br />
Após o diagnóstico, a maioria<br />
dos doentes responde bem aos<br />
tratamentos “conservadores” ou<br />
não cirúrgicos. Sobretudo com<br />
medidas de “higiene no trabalho”,<br />
diminuindo os esforços com<br />
a coluna “dobrada” e recorrendo<br />
à prática frequente e regular de<br />
exercício de baixo impacto. Em<br />
períodos de crise pode ser vantajoso<br />
recorrer ao apoio da fisiatria,<br />
medicação analgésica e/ou<br />
anti-inflamatória.<br />
Existem dois tipos de cirurgias<br />
habituais de tratamento cirúrgico:<br />
a via convencional macroscópica<br />
e a minimamente invasiva<br />
(MISS). Na cirurgia convencional<br />
utiliza-se incisões<br />
maiores na pele, há maior lesão<br />
muscular, maior hemorragia<br />
e maiores períodos de internamento<br />
hospitalar e de recuperação.<br />
A cirurgia minimamente invasiva<br />
da coluna promove uma<br />
recuperação menos dolorosa e<br />
mais rápida.<br />
A melhor forma de prevenir a<br />
discopatia degenerativa é modificar<br />
as atividades do dia-a-dia<br />
que exercem pressão sobre a<br />
coluna como a má postura (dobrada),<br />
a vida sedentária, o levantamento<br />
incorreto de objetos<br />
pesados e os movimentos repetidos<br />
em flexão e rotação,<br />
A doença discal degenerativa<br />
é um dos temas em destaque<br />
no IV Simpósio da Sociedade<br />
Portuguesa de Patologia da<br />
Coluna Vertebral (SPPCV), que<br />
irá decorrer, dias 3 e 4 de novembro,<br />
em Leiria. A SPPCV<br />
foi fundada em 2003 com o objetivo<br />
de promoção, estudo, investigação<br />
e divulgação das<br />
questões inerentes à problemática<br />
da prevenção, diagnóstico<br />
e tratamento das patologias da<br />
coluna vertebral.<br />
Para mais informações consulte<br />
http://sppcv.org/<br />
42 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | novembrO 2017
investigação | SAÚDE ONLINE<br />
Investigadores portugueses ganham<br />
Prémio Europeu de Saúde<br />
O projeto Gen-Equip, que integrou uma equipa de investigadores do Centro de Genética<br />
Preditiva e Preventiva (CGPP) e do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S),<br />
foi o vencedor do Prémio Europeu de Saúde.<br />
Uma equipa de investigadores<br />
do CGPP do i3S –<br />
Instituto de Investigação<br />
e Inovação da Universidade do<br />
Porto, coordenada por Milena<br />
Paneque, integrou o projeto Gen-<br />
Equip que foi galardoado a 4 de<br />
outubro com o European Health<br />
Award, numa cerimónia que ocorreu<br />
durante o vigésimo European<br />
Health Forum Gastein (EHFG).<br />
O Gen-Equip é um projeto europeu<br />
de educação para a saúde<br />
que visa apoiar os profissionais<br />
de saúde a identificar sinais de<br />
problemas genéticos, nomeadamente<br />
cancros e doenças neurodegenerativas<br />
hereditárias e foi<br />
selecionado pelo «alto nível de<br />
inovação e pelo valioso contributo<br />
para a formação de profissionais<br />
de saúde na Europa».<br />
A ideia base do projeto galardoado,<br />
que conta com mais cinco<br />
parceiros europeus, é disponibilizar,<br />
online e gratuitamente, conteúdos<br />
educativos para profissionais<br />
de cuidados de saúde primários.<br />
Desta forma, defendem<br />
os promotores do Gen-Equip,<br />
os cuidados prestados a pacientes,<br />
que têm ou estão em risco<br />
de ter alguma condição de saúde<br />
de base genética, serão grandemente<br />
melhorados e adequados.<br />
Para Milena Paneque, investigadora<br />
do i3S e do Centro de<br />
Genética Preditiva e Preventiva<br />
(CGPP), «os serviços de saúde<br />
primária são a primeira linha de<br />
apoio a estes pacientes, mas frequentemente<br />
sentem dificuldades<br />
em resolver questões simples,<br />
mesmo de orientação dos<br />
pacientes». Por isso, adianta,<br />
«disponibilizamos ferramentas<br />
básicas e essenciais para orientar<br />
esses profissionais quando<br />
“os cuidados prestados a pacientes,<br />
que têm ou estão em risco de ter<br />
alguma condição de saúde de<br />
base genética, serão grandemente<br />
melhorados e adequados” com o<br />
projeto agora premiado, explica<br />
Milena Paneque, que coordenou a<br />
equipa de investigadores do CGPP<br />
do i3S – Instituto de Investigação e<br />
Inovação da Universidade do Porto,<br />
que integrou o projeto Gen-Equip<br />
prestam apoio nesses casos».<br />
Na plataforma online do projeto<br />
podem encontrar-se, entre outros,<br />
tutoriais, casos de estudo<br />
práticos, sinais de alerta e indicadores<br />
que facilitam o diagnóstico<br />
precoce de várias doenças<br />
hereditárias. Por exemplo, há módulos<br />
que ajudam a identificar situações<br />
de gravidez que deverão<br />
ser referenciadas para consulta<br />
de Genética; outros que<br />
ensinam a identificar sinais de<br />
alerta quando existe um atraso<br />
no desenvolvimento da criança;<br />
e outros ainda sobre indicadores<br />
de várias condições hereditárias<br />
no adulto, tais como o cancro<br />
da mama, o cancro coloretal,<br />
ou doenças cardiovasculares. Os<br />
profissionais poderão fazer formação<br />
online para estas patologias<br />
em qualquer altura e em<br />
qualquer fase da carreira.<br />
O projeto Gen-Equip foi lançado<br />
em 2014 integrado e financiado<br />
pelo programa Erasmus+ e<br />
foi desenvolvido numa lógica de<br />
colaboração entre académicos,<br />
profissionais de saúde e pacientes<br />
de vários países europeus.<br />
Até ao momento, a plataforma<br />
criada no projeto já foi utilizada<br />
por mais de 21 mil pessoas. Em<br />
Portugal, afirma Milena Paneque,<br />
«o número de profissionais a realizarem<br />
algum destes oito módulos<br />
temáticos só é ultrapassado<br />
pelos participantes do Reino<br />
Unido». A realização de dois workshops<br />
para a aproximação entre<br />
os especialistas da Genética<br />
e da Medicina Geral Familiar, em<br />
Lisboa e no Porto (i3S), «já começam<br />
a dar os seus primeiros<br />
frutos com a recente proposta<br />
de criação do Núcleo de estudos<br />
em Genética dentro da própria<br />
Associação Portuguesa de<br />
Medicina Geral Familiar», adianta<br />
Milena Paneque. Nesta proposta,<br />
o CGPP terá um papel de consultoria<br />
permanente».<br />
O EHFG atribui o prémio<br />
European Health Award para reconhecer<br />
projetos transnacionais<br />
que contribuem para a melhoria<br />
da saúde pública e dos sistemas<br />
de saúde na Europa. O júri da<br />
EHA é constituído por especialistas<br />
europeus de destaque na<br />
área da saúde. Para a coordenadora<br />
internacional do Gen-Equip,<br />
a Professora Heather Skirton, da<br />
Universidade de Plymouth, «recebermos<br />
um prémio tão prestigiado<br />
é um valioso reconhecimento<br />
do árduo trabalho que tivemos<br />
nos últimos três anos para<br />
desenvolvermos todos estes recursos<br />
de aprendizagem».<br />
novembrO 2017 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 43
TRIPLIXAN ©<br />
Informações essenciais compatíveis com o Resumo das Características do Medicamento. Nome do Medicamento: Triveram ® 10mg/5mg/5mg comprimidos revestidos por película; Triveram ®<br />
20mg/5mg/5mg; comprimidos revestidos por película; Triveram ® 20mg/10mg/5mg comprimidos revestidos por película; Triveram ® 20mg/10mg/10mg comprimidos revestidos por película; Triveram ®<br />
40mg/10mg/10mg comprimidos revestidos por pelicula. COMPOSIÇÃO*: Triveram ® 10mg/5mg/5mg; Triveram ® 20mg/5mg/5mg; 20mg/10mg/5mg; 20mg/10mg/10mg; Triveram ® 40mg/10mg/10mg<br />
comprimidos revestidos por película que contêm 10mg atorvastatina (ator)/5mg perindopril arginina (per)/5mg amlodipina (amlo), 20mg ator/5mg per/5mg amlo, 20mg ator/10mg per/5mg amlo, 20mg<br />
ator/10mg per/10mg amlo, 40mg ator/10mg per/10mg amlo. Contém lactose como excipiente. INDICAÇÕES*: Triveram ® está indicado para o tratamento da hipertensão arterial essencial e/ou da doença<br />
arterial coronária estável, em associação com hipercolesterolemia primária ou hiperlipidemia mista, como terapia de substituição em doentes adultos adequadamente controlados com atorvastatina,<br />
perindopril e amlodipina administrados concomitantemente com a mesma dosagem da associação fixa. POSOLOGIA E MODO DE ADMINISTRAÇÃO*: Um comprimido por dia, antes das refeições de<br />
manhã. Triveram não é adequado para terapêutica inicial. Se for necessária uma mudança de posologia, a titulação deve ser feita com os componentes individuais. Doentes idosos e doentes com<br />
compromisso renal: monitorizar frequentemente a creatinina e o potássio. Clcr 10 x Limite Superior Normal ou sintomas musculares com elevação dos níveis CK>5x Limite Superior Normal ou em caso de risco de se suspeitar de rabdomiólise. Triveram ®<br />
deve ser utilizado com precaução com determinados medicamentos que podem aumentar a concentração plasmática da atorvastatina, como os inibidores potentes do CYP3A4 ou proteínas de<br />
transporte (p.e. a ciclosporina, cetoconazol, ritonavir…). Doença pulmonar intersticial: a terapêutica deverá ser descontinuada. Diabetes Mellitus: em doentes diabéticos, o controlo da glicemia deve<br />
ser rigorosamente monitorizado durante o primeiro mês de tratamento. Insuficiência cardíaca: usar com precaução. Hipotensão: monitorizar a pressão arterial, a função renal e o potássio nos doentes<br />
com elevado risco de hipotensão sintomática (depleção de volume ou hipertensão grave renina-dependente) ou com insuficiência cardíaca sintomática (com ou sem insuficiência renal), ou com<br />
doença cardíaca isquémica ou doença cerebrovascular. Uma resposta hipotensora transitória não é uma contraindicação para doses adicionais, logo que a pressão arterial tenha aumentado após<br />
aumento da volémia. Estenose das válvulas aórtica e mitral/cardiomiopatia hipertrófica: usar com precaução e ver CONTRAINDICAÇÕES. Transplante renal: não há experiência em doentes com transplante<br />
renal recente. Compromisso renal: monitorizar o potássio e a creatinina; titulação da dose individual com os monocomponentes recomendados se Clcr < 60 mL/min. Em doentes com estenose bilateral<br />
da artéria renal foram observados aumentos da ureia e da creatinina séricas; com hipertensão renovascular, risco aumentado de hipotensão grave e insuficiência renal. A amlodipina pode ser<br />
administrada nas doses normais em doentes com insuficiência renal. A amlodipina não é dialisável. Doentes hemodialisados: usar com precaução. Hipersensibilidade/Angioedema: interromper o<br />
tratamento e monitorizar até ao completo desaparecimento dos sintomas. O angioedema associado ao edema da laringe pode ser fatal. Uso concomitante com inibidores mTOR: risco aumentado de<br />
angioedema. Reações anafilatóides durante a aférese de lipoproteínas de baixa densidade (LDL): são raros, casos de doentes que sofreram reações anafilatóides, com risco de vida, interromper<br />
temporariamente o tratamento antes de exame. Reações anafiláticas durante a dessensibilização: suspender temporariamente o tratamento antes dos exames. Estas reações reapareceram após<br />
readministração inadvertida. Neutropenia/agranulocitose/trombocitopenia/anemia: usar com precaução extrema nos doentes com doença vascular colagénica, terapêutica imunossupressora,<br />
tratamento com alopurinol ou procainamida, monitorização periódica dos níveis de glóbulos brancos no sangue. Raça: perindopril, pode ser menos eficaz e causar uma taxa mais elevada de<br />
angioedema em doentes de raça negra do que nos de raça não negra. Tosse: desaparece com a descontinuação do tratamento. Cirurgia/Anestesia: interromper o tratamento um dia antes da cirurgia.<br />
Hipercaliemia: monitorização frequente do potássio sérico em caso de insuficiência renal, agravamento da função renal, idade (>70 anos) diabetes mellitus, desidratação, descompensação cardíaca<br />
aguda, acidose metabólica e uso concomitante de diuréticos poupadores de potássio e suplementos de potássio ou substitutos do sal. Associação com lítio: não é recomendada. Duplo bloqueio do<br />
sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA): utilização concomitante de IECAs, antagonistas dos recetores da angiotensina II ou aliscireno aumenta o risco de hipotensão, hipercaliemia e diminui<br />
a função renal (incluindo insuficiência renal aguda). Portanto, não se recomenda o duplo bloqueio do SRAA. IECAs e antagonistas dos recetores da angiotensina II não deverão ser administrados<br />
concomitantemente em doentes com nefropatia diabética. Intolerância à galactose/má absorção de glucose-galactose/deficiência de lactase: não tomar. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS*:<br />
Contraindicado: aliscireno: (nos doentes diabéticos ou insuficientes renais). Não recomendado: inibidores CYP3A4, aliscireno, terapêutica concomitante com IECAs e bloqueador dos recetores da<br />
angiotensina, estramustina, lítio, diuréticos poupadores do potássio (p.e. triamtereno, amilorido, eplerenona, espironolactona), sais de potássio, dantroleno (infusão), toranja ou sumo de toranja.<br />
Precauções: indutores CYP3A4, digoxina, ezetimiba, ácido fusídico, gemfibrozil/derivados de ácido fíbrico, inibidores das proteínas de transporte, varfarina, antidiabéticos (insulinas, antidiabéticos<br />
orais), baclofeno, anti-inflamatórios não-esteróides (AINE) (incluindo aspirina ≥ 3g/dia), racecadotril, inibidores mTOR (p.e. sirolimus, everolimus, temsirolimus)colquicina, colestipol, contracetivos<br />
orais, gliptinas (linagliptina, saxagliptina, sitagliptina, vildagliptina), simpaticomiméticos, antidepressivos tricíclicos/antipsicóticos/anestésicos, ouro, digoxina, atorvastatina, varfarina ou ciclosporina,<br />
tacrolimus, anti-hipertensores e vasodilatadores. GRAVIDEZ* /ALEITAMENTO*: Triveram está contraindicado durante a gravidez e a amamentação. FERTILIDADE*: Alterações bioquímicas reversíveis<br />
na cabeça dos espermatozoides em alguns doentes tratados com bloqueadores dos canais de cálcio. CONDUZIR E UTILIZAR MÁQUINAS*: Podem ocorrer tonturas, dores de cabeça, fadiga, ou náuseas.<br />
Recomenda-se precaução especialmente no início do tratamento. EFEITOS INDESEJÁVEIS*: Muito Frequente: edema. Frequentes: nasofaringite, hipersensibilidade, hiperglicemia, sonolência, tonturas,<br />
cefaleias, disgeusia, parestesia, vertigens, alterações da visão, zumbidos, palpitações, hipotensão (e efeitos relacionados com hipotensão), rubor, dor faringolaríngeo, epistaxis, tosse, dispneia,<br />
náusea, vómito dor abdominal alta e baixa, dispepsia, diarreia, obstipação, alteração dos hábitos intestinais, flatulência, erupção cutânea, prurido, inchaço das articulações, inchaço dos tornozelos,<br />
dor nas extremidades, atralgia, espasmos musculares, mialgia, dor nas costas, astenia, fadiga, alteração nos testes da função hepática, aumento da creatinaquinase no sangue. Pouco frequente:<br />
Rinite, eosinofilia, hipoglicemia, hiponatremia, hipercaliemia reversível com a descontinuação, anorexia, insónia, alterações do humor (incluindo ansiedade), perturbações do sono, depressão,<br />
pesadelos, tremor, síncope, hipoestasia, amnesia, arritmia (incluindo bradicardia, taquicardia ventricular e fibrilação auricular) visão turva, taquicardia, vasculite, broncospasmo, secura da boca,<br />
pancreatite, eructação, hepatite citolítica ou colestática, urticária, purpura, descoloração cutânea, hiperhidrose, exantema, alopecia, angioedema, penfigoide, reações de fotossensibilidade, dor no<br />
pescoço, fadiga muscular, alterações na micção, nictúria, polaciúria insuficiência renal, disfunção eréctil, ginecomastia, dor no peito, mal-estar, edema periférico, pirexia, aumento da ureia no sangue,<br />
aumento da creatinina no sangue, aumento de peso, glóbulos brancos na urina positivo, diminuição de peso, queda. Raros: trombocitopenia, confusão, neuropatia periférica, colestase, agravamento<br />
da psoríase, síndroma stevens-johnson, necrólise toxicoepidermica, eritema multiforme, miopatia, miosites, rabdomiólise, tendinopatia agravada por rutura, aumento das enzimas hepáticas, aumento<br />
da bilirrubina no sangue. Muito Raro: leucopenia/neutropenia, agranulocitose ou pancitopenia, anemia hemolítica em doentes com deficiência congénita em g-6pdh, diminuição da hemoglobina e do<br />
hematrócito, anafilaxis, hipertonia, perda de audição, enfarte do miocárdio secundário a hipotensão excessiva em doentes de alto risco, pneumonia eosinofilica, gastrite, hiperplasia gengival, icterícia,<br />
insuficiência hepática, dermatite esfoliativa, insuficiência renal aguda. Desconhecidos: miopatia necrozante imunomediada, perturbação extrapiramidal (síndroma extrapiramidal). SOBREDOSAGEM*.<br />
PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS*: A atorvastatina é um inibidor seletivo, competitivo da redutase HMG-CoA. O perindopril é um inibidor da enzima que converte a angiotensina I em angiotensina II<br />
(Enzima de Conversão da Angiotensina - ECA). A amlodipina é um inibidor do influxo iónico do cálcio do grupo dihidropiridina (bloqueador dos canais lentos do cálcio ou antagonista do ião cálcio) e<br />
inibe o influxo transmembranar dos iões de cálcio para as células do músculo liso cardíaco e vascular.APRESENTAÇÃO*: Caixas de 10 e de 30 comprimidos. Comparticipado pelo escalão B. MSRM.<br />
TITULAR DA AUTORIZAÇÃO DE INTRODUÇÃO NO MERCADO: LES LABORATOIRES SERVIER, 50 rue Carnot, 92284 Suresnes cedex France. Para mais informações deverá contactar o representante<br />
do titular de AIM: Servier Portugal, Especialidades Farmacêuticas Lda. Informação científica a cargo de Servier Portugal, Av. António Augusto Aguiar, 128, 1069-133 Lisboa. Telefone 213122000. RCM<br />
aprovado em maio 2016. IECRCM 25.<strong>08</strong>.2017. *Para uma informação completa por favor leia o resumo das características do medicamento
O futuro da nossa saúde<br />
CRÓNICA | SAÚDE ONLINE<br />
João Gonçalo Neto,<br />
Trainee, Novabase<br />
Que as tecnologias de<br />
informação mudam o<br />
mundo e a forma como<br />
vivemos já ninguém tem dúvidas.<br />
A questão é: como poderão continuar<br />
a revolucionar o nosso dia<br />
-a-dia e, em particular, indústrias<br />
tradicionais, como a saúde?<br />
A tecnologia da informação em<br />
saúde é uma realidade que desponta<br />
com diversas vantagens<br />
para as organizações hospitalares,<br />
pela otimização do atendimento<br />
clínico e pelo controlo dos<br />
processos organizacionais, levantamentos<br />
de dados relevantes<br />
e integração de sistemas. Por<br />
essa razão, o setor da saúde tem<br />
suscitado o interesse dos investidores<br />
nos últimos anos, o que se<br />
comprova pelo número crescente<br />
de start-ups a atuar neste mercado<br />
e pelo facto de empresas<br />
como a Apple, Google ou IBM estarem<br />
a investir em projetos inovadores<br />
nesta área. Mas esta é<br />
mais do que uma mera tendência:<br />
é uma necessidade. E uma<br />
necessidade que é partilhada<br />
por Governos e organizações em<br />
todo o mundo.<br />
Que país não estará interessado<br />
em reduzir a sua despesa no setor<br />
da saúde? Especialmente<br />
se se considerar o crescimento<br />
da população mundial e o aumento<br />
da esperança média de<br />
vida. Em Portugal, esta despesa<br />
representa 8,9% do PIB, o 7.º<br />
país com mais gastos em saúde<br />
na Europa.<br />
Se olharmos para o exemplo dos<br />
EUA, e apesar de toda a instabilidade<br />
política, o investimento<br />
nesta área triplicou entre 2011<br />
e 2016 – de 1.1 para 4.3 mil milhões<br />
de dólares – e, só no primeiro<br />
semestre de 2017, já se investiu<br />
quase tanto como no ano<br />
anterior.<br />
Tecnologias de informação de<br />
saúde destinadas ao consumidor<br />
final, como a gestão de informação<br />
clínica, análise de informação<br />
médica associada a<br />
grandes volumes de informação<br />
(big data), terapia digital e equipamento<br />
de ginásio digital, são<br />
as categorias que têm atraído<br />
os investimentos mais avultados.<br />
Mas, afinal, de que modo podem<br />
estas tecnologias revolucionar a<br />
forma como a medicina é praticada<br />
hoje em dia? E, do ponto de<br />
vista do paciente, que melhorias<br />
pode ele esperar na sua saúde,<br />
através da aplicação das tecnologias<br />
de informação?<br />
Da descoberta do raio-x ao diagnóstico<br />
genético, passando pela<br />
ressonância magnética e os padrões<br />
de comportamento, a influência<br />
e importância das tecnologias<br />
de informação nesta área<br />
são fulcrais. O médico, cuja presença<br />
física é cada vez mais reduzida,<br />
tem ao seu dispor ferramentas<br />
que ajudam no diagnóstico<br />
e na tomada da melhor<br />
decisão.<br />
O caminho é este, investir em tecnologias<br />
de informação de saúde<br />
com grande potencial atrativo,<br />
que fomentem a revolução no<br />
nosso dia-a-dia. Categorias como<br />
os “wearables”, dispositivos que<br />
nos fornecem informação sobre<br />
os nossos biossinais, permitindonos<br />
perceber se estamos doentes<br />
mesmo sem nos apercebermos,<br />
entre outros, que possam contribuir<br />
positivamente para o melhor<br />
diagnóstico e tratamento.<br />
A grande questão que se coloca<br />
agora é: até onde estes auxiliares<br />
de diagnóstico serão confiáveis?<br />
Enquanto noutras indústrias,<br />
como a banca, os algoritmos<br />
de análise de dados aplicados<br />
conseguem estabelecer modelos<br />
relacionais entre as suas variáveis,<br />
será que o mesmo se<br />
passa com o diagnóstico médico,<br />
por exemplo? Seremos nós, enquanto<br />
corpo humano altamente<br />
complexo, facilmente interpretados<br />
por esses mesmos algoritmos?<br />
Pela nossa genética e estilo<br />
de vida, como irá a tecnologia<br />
ultrapassar estas barreiras?<br />
novembrO 2017 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 47