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Acta Ped - Sociedade Portuguesa de Pediatria

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0873-9781/08/39-3/LII<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria OPINIÃO<br />

Abordagens <strong>de</strong> fisioterapia no tratamento da paralisia cerebral:<br />

principais paradigmas<br />

Luís Coelho<br />

Fisioterapeuta, Lisboa<br />

A paralisia cerebral, <strong>de</strong>finida por Martin Bax et al1 como “um<br />

grupo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns do <strong>de</strong>senvolvimento do movimento e da<br />

postura, causando limitação da activida<strong>de</strong>, atribuído a distúrbios<br />

não progressivos ocorridos no cérebro fetal ou infantil<br />

em <strong>de</strong>senvolvimento (...)“, constitui uma condição <strong>de</strong> difícil<br />

caracterização. Não esquecendo a multiplicida<strong>de</strong> das suas<br />

principais características clínicas e etiológicas, Karel Bobath2 <strong>de</strong>screveu, em 1984, a matriz teorética <strong>de</strong>senvolvimental e<br />

neurofisiológica dos diferentes tipos <strong>de</strong> paralisia cerebral,<br />

nomeadamente, das crianças espástica, atáxica e atetói<strong>de</strong>. A<br />

diferenciação dos diferentes tipos <strong>de</strong> paralisia cerebral implicará<br />

a diferenciação nas formas <strong>de</strong> tratamento fisioterapêutico<br />

das mesmas.<br />

A intervenção fisioterapêutica na paralisia cerebral po<strong>de</strong>ria<br />

ser <strong>de</strong>scrita <strong>de</strong> forma sucinta, por um conjunto <strong>de</strong> itens redutores.<br />

Para o terapeuta, todas as crianças espásticas ten<strong>de</strong>m a<br />

ser tratadas segundo os seguintes objectivos: (a) normalizar o<br />

tónus postural, (b) inibir os padrões posturais “anormais” e<br />

facilitar padrões posturais e <strong>de</strong> movimento mais “normais”,<br />

(c) obter simetria corporal, (d) prevenir <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s e contraturas,<br />

(e) inibir as reacções associadas e (f) promover a<br />

existência <strong>de</strong> um movimento mais funcional. Para o mesmo<br />

terapeuta, a intervenção nas crianças hipotónicas seria caracterizada<br />

por: (a) facilitar o controlo da cabeça e do tronco, (b)<br />

promover o controle postural em posturas contra a gravida<strong>de</strong>,<br />

(c) prevenir as aspirações e (d) prevenir a luxação da anca.<br />

Finalmente, no respeitante às crianças com tónus flutuante, os<br />

objectivos seriam: (a) estabilizar a criança, (b) graduar o<br />

movimento, (c) obter a estabilização <strong>de</strong> posturas com carga<br />

proprioceptiva e (d) obter maior autocontrole. Teríamos, portanto,<br />

um conjunto <strong>de</strong> objectivos gerais <strong>de</strong> reabilitação, modificáveis<br />

consoante o tipo presente <strong>de</strong> paralisia cerebral.<br />

Contudo, mais do que um tipo característico, a criança com<br />

paralisia cerebral é sobretudo um ser humano irredutível, com<br />

características muito pessoais, uma unicida<strong>de</strong> dificilmente<br />

generalizável. Neste contexto, a fisioterapia ten<strong>de</strong> a gerir-se<br />

mais por um eclectismo <strong>de</strong> métodos, adaptados e modificados<br />

segundo a especificida<strong>de</strong> do sujeito em tratamento.<br />

Recebido: 11.11.2007<br />

Aceite: 07.02.2008<br />

LII<br />

Dentro <strong>de</strong>sses mesmos métodos <strong>de</strong> fisioterapia neurológica<br />

pediátrica, po<strong>de</strong>ríamos referir a ru<strong>de</strong>za <strong>de</strong> certas abordagens<br />

como o biofeedback, o treino <strong>de</strong> força funcional e a estimulação<br />

eléctrica neuromuscular, métodos mais ligados àquilo que<br />

po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>signar como a evi<strong>de</strong>nced based practice. Aliás,<br />

são estes os métodos que Ploughman3 refere como mais eficazes<br />

na utilização das características funcionais <strong>de</strong>correntes<br />

dos mecanismos <strong>de</strong> neuroplasticida<strong>de</strong> presentes numa fase<br />

pós-lesão mais tardia.<br />

Porém, um certo nível <strong>de</strong> holismo na forma <strong>de</strong> ver a criança<br />

com paralisia cerebral só po<strong>de</strong> ser conseguido por meio da<br />

visão fornecida pelos mais teoréticos paradigmas <strong>de</strong> inter -<br />

venção (apesar <strong>de</strong> os mesmos estarem pouco estudados e<br />

<strong>de</strong>mons trados cientificamente). Passemos a referi-los.<br />

O Sistema <strong>de</strong> Doman-Delacato, <strong>de</strong>senvolvido a partir das teorias<br />

<strong>de</strong> Temple Fay, visa o treino motor intensivo, mediante a<br />

utilização <strong>de</strong> sequências evolutivas <strong>de</strong> movimento4 . Possui<br />

como principal <strong>de</strong>svantagem o facto <strong>de</strong>, pelo facto <strong>de</strong> ser<br />

muito intensivo, sobrecarregar o doente e seus familiares.<br />

A educação condutiva, <strong>de</strong>senvolvida na Hungria por Petö,<br />

propen<strong>de</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um programa diário <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s<br />

conjuntas <strong>de</strong> educação, tratamento, cuidados pessoais<br />

e sociabilida<strong>de</strong>5 . A dificulda<strong>de</strong> em conseguir apoios finan -<br />

ceiros, a falta <strong>de</strong> integração comunitária no programa e a <strong>de</strong> -<br />

pen dência <strong>de</strong> profissionais com formação suficiente correspon<strong>de</strong>m<br />

a factores inviabilizantes do <strong>de</strong>senvolvimento do<br />

método.<br />

No método <strong>de</strong> Vojta, a estimulação do acto motor ocorre por<br />

meio da estimulação <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas zonas reflexo-orgânicas6<br />

. É um método <strong>de</strong>masiadamente preso às concepções<br />

<strong>de</strong>senvolvimentais.<br />

O método <strong>de</strong> Phelps tem como fundamento primacial a habilitação<br />

por etapas do músculo ou grupo muscular, até se conseguir<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> praxias completas e a in<strong>de</strong>pendência<br />

motora7 . Constitui, igualmente, um método muito<br />

preso às concepções teoréticas relacionadas com os estádios<br />

do <strong>de</strong>senvolvimento (a)normal.<br />

Correspondência:<br />

Luís Filipe dos Santos Coelho<br />

coelholewis@hotmail.com

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