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Acta Ped - Sociedade Portuguesa de Pediatria

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0873-9781/08/39-3/89<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria COMENTÁRIO EDITORIAL<br />

Comentário aos artigos “Flutuação temporal dos genótipos <strong>de</strong> rotavírus na<br />

Região Centro <strong>de</strong> Portugal: 2006-2007” e “Hospitalização em crianças com<br />

infecção por rotavírus”<br />

Ana Isabel Gouveia Lopes<br />

Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Gastrenterologia <strong>Ped</strong>iátrica, Departamento da Criança e da Família, Hospital <strong>de</strong> Santa Maria. Centro Hospitalar<br />

Lisboa Norte<br />

A gastroenterite aguda (GEA) na criança permanece um dos<br />

mais importantes <strong>de</strong>safios globais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública, aten<strong>de</strong>ndo<br />

à morbilida<strong>de</strong> e mortalida<strong>de</strong> associadas. Em todo o mundo o<br />

rota vírus constitui reconhecidamente o agente causal predomi -<br />

nante <strong>de</strong> diarreia aguda grave (criança pequena) e nos países<br />

industrializados a doença é ainda responsável por elevada morbilida<strong>de</strong>,<br />

com elevados custos sociais e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública.<br />

Graças ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novas vacinas (vivas, orais)<br />

com eficácia e segurança <strong>de</strong>monstradas em ensaios clínicos<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> dimensão realizados nos EUA, Europa e América<br />

Latina1-3 , a GEA por rotavírus tornou-se uma doença susceptível<br />

<strong>de</strong> prevenção. A introdução <strong>de</strong>stas vacinas num programa<br />

<strong>de</strong> imunização universal infantil constitui já uma realida<strong>de</strong> em<br />

diversos países em vias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, estimando-se<br />

que venham a reduzir as 527 mil mortes e 24 milhões <strong>de</strong> internamentos<br />

hospitalares anuais <strong>de</strong>vidos a GEA por rotavírus em<br />

todo o mundo4 . A sua recente aprovação pela EMEA (Euro -<br />

pean Medicine Evaluation Agency) 5,6 , impõe um conheci -<br />

mento do impacto clínico-epi<strong>de</strong>miológico específico da doen -<br />

ça associada ao rotavírus nos diversos países do espaço<br />

Europeu e a consi<strong>de</strong>ração da sua potencial inclusão nos programas<br />

nacionais <strong>de</strong> imunização, <strong>de</strong> acordo com as respectivas<br />

priorida<strong>de</strong>s nacionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública.<br />

A GEA por rotavírus tornou-se assim um dos temas actualmente<br />

dominantes na agenda <strong>de</strong> todos aqueles que, directa ou<br />

indirectamente, têm responsabilida<strong>de</strong>s na prestação <strong>de</strong> cui -<br />

dados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> à criança, como comprovado pela recente<br />

publicação das recomendações conjuntas para a vacinação<br />

contra o rotavírus e para o tratamento da GEA na criança pelas<br />

Socie da<strong>de</strong>s Europeias <strong>de</strong> Infecciologia e <strong>de</strong> Gastrenterologia<br />

<strong>Ped</strong>iá trica (respectivamente ESPID e ESPGHAN) 7,8 . Tratam-se<br />

<strong>de</strong> documentos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância, elaborados por grupos<br />

<strong>de</strong> peritos das respectivas áreas coor<strong>de</strong>nados por T. Vesi kari<br />

(ESPID) e por A. Guarino (ESPGHAN), com base numa<br />

exaustiva e rigorosa avaliação da melhor evidência presentemente<br />

disponível.<br />

Neste contexto, com excelente sentido <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> e<br />

perti nência, a <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica inclui no presente número dois<br />

artigos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> interesse e actualida<strong>de</strong>9,10 , que em certa<br />

medida se complementam. A informação <strong>de</strong>les <strong>de</strong>corrente,<br />

obtida numa fase prece<strong>de</strong>ndo a introdução da vacina no nosso<br />

país, constitui certamente um contributo relevante para um<br />

melhor conhecimento da epi<strong>de</strong>miologia da doença associada<br />

à infecção por rotavírus e cuja importância merece ser adicionalmente<br />

<strong>de</strong>stacada pela relativa escassez <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong>sta<br />

natureza no nosso contexto.<br />

O estudo <strong>de</strong> R. Neves et al. 9 é retrospectivo, reportando a<br />

carac terização socio-<strong>de</strong>mográfica e clínica <strong>de</strong> GEA por rotavírus<br />

numa amostra <strong>de</strong> crianças hospitalizadas com ida<strong>de</strong><br />

inferior a 6 anos (amostras positivas para rotavírus 113/ 611 -<br />

18%, <strong>de</strong> entre as quais foi analisada uma subamostra <strong>de</strong> 92<br />

casos), em duas instituições hospitalares da área <strong>de</strong> Lisboa, no<br />

período <strong>de</strong> um ano (Jan.-Dez 2005). Emergem <strong>de</strong>ste estudo<br />

como conclusões principais: a frequência elevada <strong>de</strong> internamentos<br />

(sobretudo se ida<strong>de</strong> inferior a 12 meses), a frequência<br />

elevada <strong>de</strong> infecções nosocomiais (26%) sobreponível à<br />

reportada noutras séries11 <strong>de</strong> países industrializados, a frequência<br />

elevada <strong>de</strong> complicações (21%), sobretudo em<br />

lacten tes com menos <strong>de</strong> 6 meses, bem como os elevados custos<br />

directos da hospitalização, confirmando o reconhecido<br />

impacto da doença. Os autores não especificam a <strong>de</strong>finição<br />

utilizada para infecção nosocomial, nem comentam os<br />

resulta dos em função das características <strong>de</strong> cada um dos hospitais/<br />

De partamentos <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria, pelo que se po<strong>de</strong>rá admitir<br />

que o critério subjacente à inclusão <strong>de</strong> duas instituições<br />

terá sido <strong>de</strong> conveniência. Aten<strong>de</strong>ndo a que o critério <strong>de</strong> selecção<br />

da amostra <strong>de</strong> estudo foi baseado no diagnóstico<br />

microbio lógico (i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> antigénios virais nas fezes) e<br />

admitindo-se como satisfatória a fiabilida<strong>de</strong> (sensibili -<br />

da<strong>de</strong>/especificida<strong>de</strong>) do teste utilizado, teria sido útil referir se<br />

a pesquisa <strong>de</strong> rotavírus foi efectuada sistematicamente em<br />

todos os casos <strong>de</strong> GEA (presumindo-se a inclusão <strong>de</strong> todos os<br />

Correspondência:<br />

Ana Isabel Gouveia Lopes<br />

Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Gastrenterologia <strong>Ped</strong>iátrica<br />

Departamento da Criança e da Família<br />

Hospital <strong>de</strong> Santa Maria<br />

Avenida Professor Egas Moniz – 1649-035 Lisboa<br />

anaisalopes@sapo.pt<br />

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