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Acta Ped - Sociedade Portuguesa de Pediatria

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Vol. 39, n.º 3<br />

Maio / Junho 2008<br />

EDITORIAL<br />

Daniel Virella XLIX<br />

NOTA EDITORIAL<br />

ACTUALIZAÇÃO DAS NORMAS DE PUBLICAÇÃO DA ACTA PEDIÁTRICA PORTUGUESA<br />

Daniel Virella L<br />

IN MEMORIAM<br />

PROFESSOR ANGEL BALLABRIGA (1920-2008)<br />

Nuno Cor<strong>de</strong>iro Ferreira LI<br />

OPINIÃO<br />

ABORDAGENS DE FISIOTERAPIA NO TRATAMENTO DA PARALISIA CEREBRAL: PRINCIPAIS PARADIGMAS<br />

Luís Coelho LII<br />

COMENTÁRIO EDITORIAL<br />

COMENTÁRIO AOS ARTIGOS “FLUTUAÇÃO TEMPORAL DOS GENÓTIPOS DE ROTAVÍRUS NA REGIÃO CENTRO<br />

DE PORTUGAL: 2006-2007” E “HOSPITALIZAÇÃO EM CRIANÇAS COM INFECÇÃO POR ROTAVÍRUS”<br />

Ana Isabel Gouveia Lopes 89<br />

ARTIGOS ORIGINAIS<br />

FLUTUAÇÃO TEMPORAL DOS GENÓTIPOS DE ROTAVÍRUS NA REGIÃO CENTRO DE PORTUGAL: 2006-2007<br />

Fernanda Rodrigues, Manuela Costa Alves, Manuela Sousa, Luís Januário, Luís Lemos 93<br />

INSTITUIÇÕES PARTICULARES DE SOLIDARIEDADE SOCIAL (IPSS):<br />

COMO ANDAMOS DE CRECHES NUM CONCELHO DE PORTUGAL?<br />

Marta Parada, Teresa Velosa, Anabela Ribeiro, Dulce Seabra 97<br />

CASUÍSTICA<br />

HIPOPITUITARISMO CONGÉNITO E COLESTASE NEONATAL<br />

Carla Maia, Carla Veiga, Alice Mirante, Isabel Gonçalves 102<br />

A EVOLUÇÃO DO REFLUXO VESICO-URETERAL COM DIAGNÓSTICO PERINATAL<br />

Henrique Leitão, António Jorge Correia, Clara Gomes, Oliveira Simões, Vitor Rolo, Gabriela Mimoso, Conceição Ramos 106<br />

HOSPITALIZAÇÃO EM CRIANÇAS COM INFECÇÃO POR ROTAVÍRUS<br />

Rute Neves, Catarina Luís, Maria João Brito, Luís Varandas, Gonçalo Cor<strong>de</strong>iro Ferreira, Maria do Céu Machado 111<br />

RECÉM-NASCIDO DE MÃE TOXICODEPENDENTE<br />

Cecília Martins, Raquel Gue<strong>de</strong>s, Anabela João 115<br />

CASOS CLÍNICOS<br />

VARICELA E ALUCINAÇÕES. UM CASO CLÍNICO<br />

Teresa Ferreira, Susana Rocha, Elisabete Gonçalves 120<br />

DIAGNÓSTICO TARDIO DE MALFORMAÇÃO ADENOMATOIDEIA QUÍSTICA PULMONAR CONGÉNITA<br />

Teresa Ferreira, Susana Rocha, Elisabete Gonçalves, Miroslava Gonçalves,<br />

Elisabete Vieira, Luísa Lobo, Maria João Palhano, Teresa Ban<strong>de</strong>ira 122<br />

SOCIEDADE PORTUGUESA DE PEDIATRIA – CONSENSOS E RECOMENDAÇÕES<br />

NUTRIÇÃO PARENTÉRICA NO RECÉM-NASCIDO: 1ª REVISÃO DO CONSENSO NACIONAL, 2008<br />

Secção <strong>de</strong> Neonatologia da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria 125<br />

COLÉGIO DE PEDIATRIA DA ORDEM DOS MÉDICOS<br />

CRITÉRIOS DE IDONEIDADE E CAPACIDADE FORMATIVA<br />

Colégio <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria da Or<strong>de</strong>m dos Médicos 135<br />

CRÍTICA DE LIVRO<br />

“SEIS MESES PARA TODA A VIDA”<br />

José Manuel Tojal Monteiro 137<br />

NOTÍCIAS LV<br />

NORMAS DE PUBLICAÇÃO LVII<br />

ISSN 0873-9781


CONSELHO EDITORIAL<br />

Director<br />

João M. Vi<strong>de</strong>ira Amaral - Lisboa<br />

Editores Associados<br />

Luís Pereira-da-Silva - Lisboa<br />

Jorge Amil Dias - Porto<br />

Guiomar Oliveira - Coimbra<br />

Coor<strong>de</strong>nadores <strong>de</strong> Edição<br />

Daniel Virella - Lisboa<br />

António Gomes - Almada<br />

Secretariado<br />

Maria Júlia Brito - SPP<br />

ACTA PEDIÁTRICA PORTUGUESA<br />

Vol 39 Nº 3 Maio – Junho 2008<br />

(Orgão Oficial da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria)<br />

www.spp.pt<br />

app@spp.pt<br />

Fundador<br />

Carlos Salazar <strong>de</strong> Sousa<br />

Editores Correspon<strong>de</strong>ntes (Países <strong>de</strong> Língua Oficial <strong>Portuguesa</strong>)<br />

Luís Bernardino - Angola<br />

Paula Vaz - Moçambique<br />

Renato Procianoy - Brasil<br />

Conselho Científico<br />

Aguinaldo Cabral (<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> D. Metabólicas)<br />

Alexandra Seabra Diniz (Secção <strong>de</strong> Cuidados Intensivos)<br />

Ana Ca<strong>de</strong>te (Secção <strong>de</strong> Reabilitação <strong>Ped</strong>iátrica da SPMFR)<br />

Ana Me<strong>de</strong>ira (<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> Genética Humana)<br />

Ana Xavier (Grupo Port. <strong>de</strong> Oftalmologia <strong>Ped</strong>. e Estrabismo)<br />

Carlos Figueiredo (Secção <strong>de</strong> Medicina do Adolescente)<br />

Guiomar Oliveira (Secção <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria do Desenvolvimento)<br />

Helena Jardim (Secção <strong>de</strong> Nefrologia)<br />

José A. Oliveira Santos (Secção <strong>de</strong> Gastrenterologia e Nutrição)<br />

José Cabral (Secção <strong>de</strong> Pneumologia)<br />

José Luís Fonseca (Secção <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria Ambulatória)<br />

João Gomes-<strong>Ped</strong>ro (Secção <strong>de</strong> Educação Médica)<br />

José Frias Bulhosa (Or<strong>de</strong>m dos Médicos Dentistas)<br />

José Gonçalo Marques (Secção <strong>de</strong> Infecciologia)<br />

Libério Ribeiro (Secção <strong>de</strong> Imuno-Alergologia)<br />

Lucília Norton (Secção <strong>de</strong> Hematologia e Oncologia)<br />

Manuel Fontoura (Secção <strong>de</strong> Endocrinologia)<br />

Maria José Vieira (Secção <strong>de</strong> Reumatologia)<br />

Miguel Coutinho (Subcomissão <strong>de</strong> ORL <strong>Ped</strong>iátrica da SPORL)<br />

Olavo Gonçalves (<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> Neuropediatria)<br />

Óscar Tellechea (<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Port. <strong>de</strong> Dermatologia e Venereologia)<br />

Paolo Casella (<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> Cirurgia <strong>Ped</strong>iátrica)<br />

Rui Anjos (Secção <strong>de</strong> Cardiologia <strong>Ped</strong>iátrica)<br />

Teresa Tomé (Secção <strong>de</strong> Neonatologia)<br />

Directores ex-officio<br />

(Revista <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria e Puericultura, Revista <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria e <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong>)<br />

Carlos Salazar <strong>de</strong> Sousa Jaime Salazar <strong>de</strong> Sousa<br />

Mário Cor<strong>de</strong>iro António Marques Valido<br />

Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Levy João Gomes-<strong>Ped</strong>ro<br />

Presi<strong>de</strong>nte da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

Luís Januário<br />

Missão da APP: A APP, sucessora da Revista <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria, é uma revista científica funcionando na modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> revisão prévia dos textos submetidos<br />

ao corpo editorial por colegas peritos em anonimato mútuo (peer review). É dirigida essencialmente a pediatras (vertentes médico-cirúrgica) e a médicos em<br />

formação pós-graduada para obtenção das respectivas especialida<strong>de</strong>s no pressuposto <strong>de</strong> que os conteúdos interessam a outros médicos e profissionais interessados<br />

na saú<strong>de</strong> da criança e adolescente inseridos no respectivo meio familiar e social. A APP preten<strong>de</strong> abarcar um vasto leque <strong>de</strong> questões sobre investigação, educação<br />

médica, pediatria social, prática clínica, temas controversos, <strong>de</strong>bate <strong>de</strong> opiniões, normas <strong>de</strong> actuação, actualização <strong>de</strong> temas, etc. São adoptadas diversas modalida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> divulgação: editoriais, espaços <strong>de</strong> discussão, artigos originais, artigos sobre avanços em pediatria, resumos <strong>de</strong> estudos divulgados em eventos científicos,<br />

notícias sobre eventos científicos e organismos estatais e não estatais <strong>de</strong>votados à criança e adolescente.<br />

A revista científica <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong> (APP) (ISSN 0873-9781) é proprieda<strong>de</strong> da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria, com responsabilida<strong>de</strong> administrativa<br />

da respectiva Direcção. A publicação é bimestral com todos os direitos reservados. A coor<strong>de</strong>nação dos conteúdos científicos é da responsabilida<strong>de</strong> do<br />

corpo editorial da APP (Director e Director Adjunto, Editores Associados, Coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> Edição e Conselho Editorial). A responsabilida<strong>de</strong> dos textos científicos<br />

publicados pertence aos respectivos autores, não reflectindo necessariamente a política da SPP.<br />

Administração: <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria – Rua Amilcar Cabral, 15, r/c I – 1750-018 Lisboa – Telef.: 217 574 680 – Fax: 217 577 617 • Secretariado<br />

e Publicida<strong>de</strong>: Júlia Brito – Rua Amilcar Cabral, 15, r/c I – 1750-018 Lisboa – Telef.: 217 574 680 – Fax: 217 577 617 • Redacção: <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Ped</strong>iatria – Rua Amilcar Cabral, 15, r/c I – 1750-018 Lisboa – Telef.: 217 574 680 – Fax: 217 577 617 • Condições <strong>de</strong> Assinatura: 1 Ano, Continente e Ilhas:<br />

24,94 Euros, Estrangeiro US$40 • Nº Avulso 7,48 Euros • Distribuição Gratuita aos Sócios da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria • Composição e Impressão:<br />

Quadricor - artes gráficas, lda. Rua Comandante Oliveira e Carmo, 18-C, Cova da Pieda<strong>de</strong>, 2805-212 Almada – Telef.: 212 744 607 – Fax: 212 743 190 –<br />

e-mail: prepress@quadricor.pt • Tiragem: 3000 Exemplares • Correspondência: <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria – Rua Amilcar Cabral, 15, r/c I – 1750-018 Lisboa<br />

Parcerias: Danone • Merck Sharp & Dohme • Milupa <strong>Portuguesa</strong> • Nestlé Portugal • Schering-Plough<br />

XLV


ÍNDICE<br />

ACTA PEDIÁTRICA PORTUGUESA<br />

EDITORIAL<br />

Daniel Virella . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XLIX<br />

NOTA EDITORIAL<br />

Actualização das Normas <strong>de</strong> Publicação da <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

Daniel Virella . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . L<br />

IN MEMORIAM<br />

Professor Angel Ballabriga (1920-2008)<br />

Nuno Cor<strong>de</strong>iro Ferreira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . LI<br />

OPINIÃO<br />

Abordagens <strong>de</strong> fisioterapia no tratamento da paralisia cerebral: principais paradigmas<br />

Luís Coelho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . LII<br />

COMENTÁRIO EDITORIAL<br />

Comentário aos artigos “Flutuação temporal dos genótipos <strong>de</strong> rotavírus na Região Centro<br />

<strong>de</strong> Portugal: 2006-2007” e “Hospitalização em crianças com infecção por rotavírus”<br />

Ana Isabel Gouveia Lopes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89<br />

ARTIGOS ORIGINAIS<br />

Flutuação temporal dos genótipos <strong>de</strong> rotavírus na Região Centro <strong>de</strong> Portugal: 2006-2007<br />

Fernanda Rodrigues, Manuela Costa Alves, Manuela Sousa, Luís Januário, Luís Lemos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93<br />

Instituições particulares <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> social (IPSS): como andamos <strong>de</strong> creches num concelho <strong>de</strong> Portugal?<br />

Marta Parada, Teresa Velosa, Anabela Ribeiro, Dulce Seabra. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97<br />

CASUÍSTICA<br />

Hipopituitarismo congénito e colestase neonatal<br />

Carla Maia, Carla Veiga, Alice Mirante, Isabel Gonçalves . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102<br />

A evolução do refluxo vesico-ureteral com diagnóstico perinatal<br />

Henrique Leitão, António Jorge Correia, Clara Gomes, Oliveira Simões,<br />

Vitor Rolo, Gabriela Mimoso, Conceição Ramos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106<br />

Hospitalização em crianças com infecção por rotavírus<br />

Rute Neves, Catarina Luís, Maria João Brito, Luís Varandas, Gonçalo Cor<strong>de</strong>iro Ferreira, Maria do Céu Machado . . . . . . . . 111<br />

Recém-nascido <strong>de</strong> mãe toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

Cecília Martins, Raquel Gue<strong>de</strong>s, Anabela João . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115<br />

CASOS CLÍNICOS<br />

Varicela e alucinações. Um caso clínico<br />

Teresa Ferreira, Susana Rocha, Elisabete Gonçalves . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120<br />

Diagnóstico tardio <strong>de</strong> malformação a<strong>de</strong>nomatoi<strong>de</strong>ia quística pulmonar congénita<br />

Teresa Ferreira, Susana Rocha, Elisabete Gonçalves, Miroslava Gonçalves,<br />

Elisabete Vieira, Luísa Lobo, Maria João Palhano, Teresa Ban<strong>de</strong>ira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122<br />

SOCIEDADE PORTUGUESA DE PEDIATRIA – CONSENSOS E RECOMENDAÇÕES<br />

Nutrição parentérica no recém-nascido: 1ª revisão do Consenso Nacional, 2008<br />

Secção <strong>de</strong> Neonatologia da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125<br />

COLÉGIO DE PEDIATRIA DA ORDEM DOS MÉDICOS<br />

Critérios <strong>de</strong> Idoneida<strong>de</strong> e Capacida<strong>de</strong> Formativa<br />

Colégio <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria da Or<strong>de</strong>m dos Médicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135<br />

CRÍTICA DE LIVRO<br />

“Seis meses para toda a vida”<br />

José Manuel Tojal Monteiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137<br />

NOTÍCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . LV<br />

NORMAS DE PUBLICAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . LVII<br />

XLVII


CONTENTS<br />

ACTA PEDIÁTRICA PORTUGUESA<br />

EDITORIAL<br />

Daniel Virella . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XLIX<br />

FROM THE EDITOR<br />

Update of the Instructions to the Authors for <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

Daniel Virella . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . L<br />

IN MEMORIAM<br />

Professor Angel Ballabriga (1920-2008)<br />

Nuno Cor<strong>de</strong>iro Ferreira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . LI<br />

OPINION<br />

Physical therapy approaches in treatment of cerebral palsy: main paradigms<br />

Luís Coelho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . LII<br />

EDITORIAL COMMENT<br />

Comment to “Temporal fluctuation of rotavirus genotypes in the Central Region<br />

of Portugal: 2006-2007” and “Hospitalization of children with rotavirus infection”<br />

Ana Isabel Gouveia Lopes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89<br />

ORIGINAL ARTICLES<br />

Temporal fluctuation of rotavirus genotypes in the Central Region of Portugal: 2006-2007<br />

Fernanda Rodrigues, Manuela Costa Alves, Manuela Sousa, Luís Januário, Luís Lemos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93<br />

Private institutions of social solidariety: how are we doing with day care centres in a council of Portugal?<br />

Marta Parada, Teresa Velosa, Anabela Ribeiro, Dulce Seabra. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97<br />

CASES SERIES<br />

Congenital hypopituitarism and neonatal cholestasis<br />

Carla Maia, Carla Veiga, Alice Mirante, Isabel Gonçalves . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102<br />

The natural history of neonatal vesicoureteral reflux with perinatal diagnosis<br />

Henrique Leitão, António Jorge Correia, Clara Gomes, Oliveira Simões,<br />

Vitor Rolo, Gabriela Mimoso, Conceição Ramos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106<br />

Hospitalization of children with rotavirus infection<br />

Rute Neves, Catarina Luís, Maria João Brito, Luís Varandas, Gonçalo Cor<strong>de</strong>iro Ferreira, Maria do Céu Machado . . . . . . . . 111<br />

Neonate of drug addicted mother<br />

Cecília Martins, Raquel Gue<strong>de</strong>s, Anabela João . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115<br />

CASES REPORTS<br />

Varicella and hallucinations. Case report<br />

Teresa Ferreira, Susana Rocha, Elisabete Gonçalves . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120<br />

Late presentation of congenital cystic a<strong>de</strong>nomatoid malformation of the lung<br />

Teresa Ferreira, Susana Rocha, Elisabete Gonçalves, Miroslava Gonçalves,<br />

Elisabete Vieira, Luísa Lobo, Maria João Palhano, Teresa Ban<strong>de</strong>ira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122<br />

PORTUGUESE PAEDIATRIC SOCIETY – GUIDELINES AND CONSENSUS<br />

Parenteral Nutrition in the newborn: first update of the National Consensus, 2008<br />

Neonatology Section of Portuguese Paediatric Society. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125<br />

COLLEGE OF PAEDIATRICS OF THE PORTUGUESE MEDICAL ASSOCIATION<br />

Criteria for Idoneity and Formative Aptitu<strong>de</strong><br />

College of Paediatrics of the Portuguese Medical Association . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135<br />

BOOK REVIEW<br />

“Seis meses para toda a vida”<br />

José Manuel Tojal Monteiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137<br />

NEWS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . LV<br />

GUIDELINES FOR THE AUTHORS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . LVII<br />

XLVIII


0873-9781/08/39-3/XLIX<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria EDITORIAL<br />

Para este número estival, a <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong> (APP)<br />

preparou um conteúdo variado, que esperamos seja do inte resse<br />

da maioria dos leitores. No entanto, não é um número “ligeiro”,<br />

pois as revistas científicas não <strong>de</strong>vem ser para “ler numa semana<br />

e <strong>de</strong>itar fora”, quando chega a edição seguinte.<br />

Os Editores ressaltam dois artigos sobre um tema particularmente<br />

actual – a infecção por rotavírus – através da publicação<br />

<strong>de</strong> um Comentário Editorial, para o qual foi convidada<br />

a actual Presi<strong>de</strong>nte da Secção <strong>de</strong> Gastrenterologia e<br />

Nutrição da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria (SPP). Os<br />

artigos referidos apenas têm em comum o tema <strong>de</strong> base e a<br />

sua leitura é complementar; o Comentário Editorial per mite,<br />

numa visão global, enquadrá-los no contexto actual. A política<br />

editorial <strong>de</strong> solicitar comentários a alguns artigos, em<br />

cada número, é comum em muitas revistas internacionais <strong>de</strong><br />

referência e não <strong>de</strong>ve ser encarada como uma indicação editorial<br />

<strong>de</strong> maior qualida<strong>de</strong> – embora tal facto possa ser coinci<strong>de</strong>nte<br />

– mas sim como a oportunida<strong>de</strong> para contribuir ao<br />

<strong>de</strong>bate e incentivar a reflexão sobre temas importantes. Esta<br />

prática foi iniciada há já alguns números e a boa resposta<br />

avaliza a sua continuação.<br />

Chama-se a atenção para os restantes artigos (originais,<br />

casuís ticas e relatos <strong>de</strong> casos), pois versam <strong>de</strong> forma muito<br />

interessante várias áreas da pediatria. Pela sua originalida<strong>de</strong>,<br />

realçamos o estudo <strong>de</strong> Parada et al sobre condições <strong>de</strong> habitabilida<strong>de</strong><br />

das creches <strong>de</strong> um concelho da Região Centro do<br />

País. A nossa <strong>Ped</strong>iatria, muito centrada nos cuidados secundários<br />

e no âmbito hospitalar, não <strong>de</strong>ve esquecer a importância<br />

do ambulatório, não apenas na continuação <strong>de</strong> cuidados das<br />

crianças doentes mas também no meio on<strong>de</strong> se encontram as<br />

crianças saudáveis. A saú<strong>de</strong> escolar tem sido um dos “parentes<br />

pobres” da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria e da<br />

<strong>Ped</strong>iatria em geral. Não se justificaria uma Secção <strong>de</strong>dicada a<br />

esta área? Ou esta é assumida pelas secções <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

Ambulatória e <strong>de</strong> Medicina dos Adolescentes?<br />

Uma última nota para dois documentos institucionais publicados<br />

neste número: a actualização do Consenso Nacional sobre<br />

nutrição parentérica no recém-nascido, emanada pela Secção<br />

<strong>de</strong> Neonatologia, e a divulgação dos Critérios <strong>de</strong> Idoneida<strong>de</strong><br />

e Capacida<strong>de</strong> Formativa, redigidos pelo Colégio <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

da Or<strong>de</strong>m dos Médicos. São ambos documentos importantes,<br />

<strong>de</strong> dimensões muito diferentes. A APP alerta para os requisitos<br />

referentes à activida<strong>de</strong> científica que o Colégio <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>ia -<br />

tria estabelece, particularmente a exigência aos Serviços <strong>de</strong><br />

“Pelo menos três artigos científicos publicados nos últimos 3<br />

anos (excluindo abstracts) em revistas <strong>de</strong> mérito reconhe -<br />

cido” e a “Assinatura (em papel ou online) <strong>de</strong> três revistas<br />

pediátricas <strong>de</strong> língua estrangeira in<strong>de</strong>xadas e duas <strong>de</strong> língua<br />

portuguesa”.<br />

A APP contribui para o cumprimento <strong>de</strong>stes requisitos através<br />

do envio gratuito da revista a todos os hospitais on<strong>de</strong> existe<br />

Serviço <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria e tem-se empenhado na garantia da qualida<strong>de</strong><br />

clínica e científica do seu conteúdo. Não cabe à própria<br />

APP pronunciar-se sobre se é ou não uma revista <strong>de</strong> “mérito<br />

reconhecido”. Em termos internacionais, <strong>de</strong>ve-se ter a humilda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> perceber as razões da recente recusa <strong>de</strong> in<strong>de</strong>xação na<br />

Medline ® . Resta-nos, a nível nacional, a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

continuar a trabalhar (editores, revisores e autores) para manter<br />

uma posição <strong>de</strong> referência.<br />

No número anterior ficou bem expresso que estamos a atravessar<br />

um período <strong>de</strong> reflexão, mesmo <strong>de</strong> crise <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

e <strong>de</strong> missão, na sequência do fracasso da segunda tentativa <strong>de</strong><br />

in<strong>de</strong>xação nessa base internacional. A reflexão sobre o carácter<br />

e os objectivos que <strong>de</strong>vem reger esta revista compete não<br />

só ao Conselho Editorial e à Direcção da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Portu -<br />

guesa <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria (SPP), mas também à <strong>Ped</strong>iatria em geral. A<br />

<strong>Ped</strong>iatria portuguesa e a SPP precisarão <strong>de</strong> uma revista científica<br />

própria? O que é que <strong>de</strong>ve ser publicado numa revista<br />

nacional <strong>de</strong> pediatria, <strong>de</strong> pequena dimensão (na perspectiva<br />

mundial)? Deve privilegiar-se a divulgação institucional<br />

(Nor mas, Recomendações, Consensos) e a formação contínua<br />

(através <strong>de</strong> Artigos <strong>de</strong> Actualização e <strong>de</strong> Relatos <strong>de</strong> Casos)?<br />

Tem futuro a aposta na publicação <strong>de</strong> investigação original<br />

pediátrica nacional? Deve manter-se a estratégia pedagógica<br />

<strong>de</strong> “revisão pró-activa” dos manuscritos, procurando melhorar<br />

os conhecimentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> estudo, análise <strong>de</strong> dados<br />

e redacção científica dos autores portugueses? Po<strong>de</strong> a APP ser<br />

consi<strong>de</strong>rada uma das revistas <strong>de</strong> “mérito reconhecido” que<br />

exige o Colégio <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria? Seria interessante ouvir a opinião<br />

dos leitores e dos responsáveis pelos Serviços <strong>de</strong><br />

<strong>Ped</strong>iatria do País.<br />

Pessoalmente, a activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> três anos e meio como<br />

coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> edição da APP termina neste número, com a<br />

consciência <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>senvolvido o trabalho possível e <strong>de</strong> ter<br />

sido atingida a maioria dos objectivos <strong>de</strong>finidos no início <strong>de</strong><br />

2005 pela Direcção da SPP e pela Direcção da APP. Fica o fracasso<br />

da in<strong>de</strong>xação. É uma responsabilida<strong>de</strong> partilhada por<br />

todos.<br />

Correspondência:<br />

Daniel Virella<br />

Co-coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> Edição da <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

app@spp.pt<br />

XLIX


0873-9781/08/39-3/L<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria NOTA EDITORIAL<br />

Actualização das Normas <strong>de</strong> Publicação da <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

Daniel Virella<br />

Co-coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> Edição da <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

A permanente procura <strong>de</strong> melhorar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> publicação<br />

na <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong> (APP) através do apoio aos<br />

autores levou a uma nova actualização das Normas <strong>de</strong> Pu bli -<br />

cação que estiveram em vigor até ao início <strong>de</strong>ste ano1 . A nova<br />

versão foi já publicada no segundo número do actual volume2 e encontra-se já disponível nas páginas electrónicas da APP<br />

no sítio da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria (SPP) 3 .<br />

Esta actualização visa respon<strong>de</strong>r a algumas lacunas <strong>de</strong> tipologia<br />

<strong>de</strong> manuscritos e <strong>de</strong> aspectos ainda não suficientemente<br />

claros para os autores, revelados pela contínua activida<strong>de</strong> editorial<br />

<strong>de</strong> revisão e edição <strong>de</strong> manuscritos, assim como pelos<br />

contactos com os leitores e autores. Destacamos os seguintes<br />

aspectos:<br />

– incluiu-se a ligação electrónica <strong>de</strong> acesso à mais recente<br />

tradução publicada em Português electrónica dos requisitos<br />

<strong>de</strong> submissão <strong>de</strong> manuscritos a revistas biomédicas, elaborados<br />

pela Comissão Internacional <strong>de</strong> Editores <strong>de</strong> Revis tas<br />

Médicas (Uniform Requirements for Manuscripts<br />

Submitted to Biomedical Journals – URMSBJ) 4 ;<br />

– são <strong>de</strong>scritas as características que <strong>de</strong>vem apresentar as<br />

propostas <strong>de</strong> publicação dos manuscritos <strong>de</strong> Consensos e<br />

Re co mendações, até agora apenas divulgados aos Pre si -<br />

<strong>de</strong>ntes das Secções da SPP e das <strong>Socieda<strong>de</strong></strong>s afins a esta;<br />

– incluíram-se as características que <strong>de</strong>vem apresentar as<br />

propostas <strong>de</strong> publicação <strong>de</strong> Artigos sobre Ética e Artigos<br />

sobre História da Medicina;<br />

– é especificada a forma <strong>de</strong> referenciação <strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong><br />

medida ou <strong>de</strong> diagnóstico e <strong>de</strong> programas informáticos;<br />

– são especificadas <strong>de</strong> forma mais <strong>de</strong>talhada as formas <strong>de</strong><br />

apresentação <strong>de</strong> Agra<strong>de</strong>cimentos, Fontes <strong>de</strong> Financiamento<br />

L<br />

e a Declaração <strong>de</strong> Conflito <strong>de</strong> Interesses;<br />

– dão-se indicações <strong>de</strong> auxílio na selecção das Palavras-cha -<br />

ve, em português5 e em inglês6 ;<br />

– é provi<strong>de</strong>nciada uma “Ficha <strong>de</strong> verificação para os autores”,<br />

que permite que se verifique rapidamente o cumprimento<br />

dos principais requisitos contidos nestas Normas <strong>de</strong><br />

Publicação, o que acelera o processo editorial.<br />

As alterações introduzidas aproximam cada vez mais os<br />

proce dimentos da APP aos das congéneres internacionais e<br />

esperamos que contribuam para, num futuro próximo, melhorar<br />

a qualida<strong>de</strong> dos conteúdos, <strong>de</strong> modo a po<strong>de</strong>r encarar-se o<br />

futuro da publicação científica pediátrica nacional com optimismo<br />

fundamentado.<br />

Referências<br />

1. Normas <strong>de</strong> Publicação. <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008;39:XII-XVI.<br />

2. Normas <strong>de</strong> Publicação. <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008;39:XXXVIII-XLIII.<br />

3. Normas <strong>de</strong> Publicação. http://www.spp.pt/UserFiles/File/APP/Nor -<br />

mas%20Pu blicacao_39_2.pdf.<br />

4. Requisitos uniformes para manuscritos submetidos a revistas biomédicas:<br />

escrever e editar para publicação biomédica. Rev Port Clin<br />

Geral 2007;27:778-98. http://www.apmcg.pt/files/54/documentos/20080304112450125029.pdf.<br />

5. Pesquisa via <strong>de</strong>scritores DeCS/MeSH. Biblioteca Virtual em Saú<strong>de</strong>.<br />

BIREME – OPAS – OMS. http://www.bireme.br/php/<strong>de</strong>csws.php ou<br />

em http://<strong>de</strong>cs.bvs.br/.<br />

6. Medical Subject Headings. U.S. National Library of Medicine,<br />

National Institutes of Health, Health & Human Services.<br />

http://www.nlm.nih.gov/mesh/meshhome.html.<br />

Correspondência:<br />

Daniel Virella<br />

Co-coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> Edição da <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

app@spp.pt


0873-9781/08/39-3/LI<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria IN MEMORIAM<br />

Professor Angel Ballabriga (1920-2008)<br />

Nuno Cor<strong>de</strong>iro Ferreira<br />

Professor Catedrático Jubilado da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Médicas da Universida<strong>de</strong> Nova <strong>de</strong> Lisboa<br />

Diz-se que quando anunciaram à Rainha <strong>de</strong> Espanha, Isabel a<br />

Católica, a morte do Rei D. João II <strong>de</strong> Portugal, a Rainha exclamou<br />

“Morreu o Homem!” – dada a figura única que D. João II<br />

era, na Península, e mesmo na Europa.<br />

Quando me disseram que o Professor Angel Ballabriga morrera,<br />

veio-me logo à i<strong>de</strong>ia a frase da Rainha: “Morreu o<br />

Homem!” E isto porque, também ele, era uma figura única na<br />

Península, não Ibérica, não Europeia, mas Mundial.<br />

Quando há mais <strong>de</strong> 50 anos fiz o Internato, as gran<strong>de</strong>s figuras<br />

europeias da <strong>Ped</strong>iatria eram os Professores Debré, Fanconi e<br />

Wallgren. Uns anos mais tar<strong>de</strong>, uma nova tría<strong>de</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

pediatras surge novamente: os Professores P. Royer, E. Rossi<br />

e, já então, A. Ballabriga. Mas, se a ascensão <strong>de</strong> Royer e Rossi<br />

foi natural e simples, graças aos seus patronos, respectivamente<br />

os Professores Debré e Fanconi, o mesmo não se passou<br />

com Ballabriga em Espanha.<br />

As figuras principais da <strong>Ped</strong>iatria espanhola <strong>de</strong> então não o<br />

reconheceram como tal, sobretudo <strong>de</strong>pois da morte do Pro fes -<br />

sor Rafael Ramos com quem começou a trabalhar, no seu<br />

regres so <strong>de</strong> um longo estágio com os Professores Glanzmann<br />

e Wallgren.<br />

As suas i<strong>de</strong>ias avançadas para a época sobre o futuro da Pe dia -<br />

tria e do seu ensino causaram incompreensão e inimiza<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

um gran<strong>de</strong> sector da <strong>Ped</strong>iatria espanhola. E assim, durante uma<br />

<strong>de</strong>zena <strong>de</strong> anos, vê-se forçado a trabalhar numa clínica privada.<br />

Aí se impõe pelo seu forte carácter, pelo seu gran<strong>de</strong> saber e<br />

pelas excepcionais qualida<strong>de</strong>s científicas. Não tem cargos oficiais,<br />

nem no ensino, nem na investigação, mas a pouco e<br />

pouco o seu nome é reconhecido, não só em Espanha, como<br />

principalmente fora; e o Professor Ballabriga passa a ser uma<br />

importante e gran<strong>de</strong> referência na <strong>Ped</strong>iatria Mundial.<br />

É nomeado em 1958 Director do Centro Provincial da Mater -<br />

ni da<strong>de</strong> <strong>de</strong> Barcelona. Com Ballabriga à frente, este Centro,<br />

que nasce quase do zero, passa a primeiro centro <strong>de</strong> referência<br />

na área da assistência a prematuros.<br />

Finalmente a <strong>Ped</strong>iatria espanhola ren<strong>de</strong>-se a Ballabriga quando<br />

verifica que só as suas i<strong>de</strong>ias, o seu saber e o seu ensino a<br />

po<strong>de</strong>rão levar ao seu engran<strong>de</strong>cimento. Foi então nomeado<br />

Director da Clínica Universitária da Seguridad Social <strong>de</strong><br />

Barcelona e Catedrático <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria da Universida<strong>de</strong> Autó -<br />

noma <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>.<br />

Simultaneamente, recebe também a consagração da <strong>Ped</strong>iatria<br />

Europeia e Mundial, nomeado para socieda<strong>de</strong>s e comités<br />

euro peus e mundiais para a investigação, sobretudo na área da<br />

nutrição. Em 1977 é membro do Comité Executivo da Asso -<br />

cia ção Internacional <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria e, três anos mais tar<strong>de</strong>, presi<strong>de</strong><br />

ao Congresso que se realiza em Barcelona.<br />

Durante anos, Ballabriga é o verda<strong>de</strong>iro Embaixador da<br />

pedia tria espanhola, levando-a, como convidado, a todas as<br />

par tes do mundo e elevando-a a um nível inimaginável.<br />

Tem uma obra vastíssima com artigos publicados em muitas<br />

revistas <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria <strong>de</strong> prestígio internacional, organizando<br />

seminários e reuniões, e proferindo conferências em numerosas<br />

cida<strong>de</strong>s dos cinco continentes.<br />

Jubila-se em 1988, mas não se afasta. É então nomeado<br />

Director da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Investigação Biomédica da residência<br />

Materno-Infantil <strong>de</strong> Vall d’Hebron on<strong>de</strong> se manteve durante<br />

muitos anos.<br />

Conheci o Professor Ballabriga há cerca <strong>de</strong> 60 anos quando, a<br />

convite <strong>de</strong> meu Pai, veio a Portugal para participar numa reunião<br />

da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria. Era eu, na altura,<br />

um jovem interno dos Hospitais Civis <strong>de</strong> Lisboa, e fiquei logo<br />

impressionado como Ballabriga expunha o seu saber e a sua<br />

experiência. E do encontro com esta personalida<strong>de</strong> ímpar nasceu<br />

uma gran<strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> que se manteve sempre.<br />

Encontrámo-nos muitas vezes em Lisboa, em Barcelona e em<br />

muitos outros países do mundo, em reuniões e congressos.<br />

Era sempre brilhante, não só como cientista, mas também<br />

como conversador. Era culto e tinha um gran<strong>de</strong> sentido <strong>de</strong><br />

humor. Era um Amigo!<br />

Como Professor <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria da Universida<strong>de</strong> Nova <strong>de</strong> Lisboa<br />

propus ao Senado Universitário que lhe fosse conferido por<br />

esta Universida<strong>de</strong> o título <strong>de</strong> Professor honoris causa, honra<br />

que lhe era bem merecida.<br />

Revendo a extraordinária vida e brilhante carreira profissional<br />

<strong>de</strong> Angel Ballabriga, acabo como comecei estas breves notas:<br />

Morreu o Homem!<br />

Nuno Cor<strong>de</strong>iro Ferreira<br />

LI


0873-9781/08/39-3/LII<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria OPINIÃO<br />

Abordagens <strong>de</strong> fisioterapia no tratamento da paralisia cerebral:<br />

principais paradigmas<br />

Luís Coelho<br />

Fisioterapeuta, Lisboa<br />

A paralisia cerebral, <strong>de</strong>finida por Martin Bax et al1 como “um<br />

grupo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns do <strong>de</strong>senvolvimento do movimento e da<br />

postura, causando limitação da activida<strong>de</strong>, atribuído a distúrbios<br />

não progressivos ocorridos no cérebro fetal ou infantil<br />

em <strong>de</strong>senvolvimento (...)“, constitui uma condição <strong>de</strong> difícil<br />

caracterização. Não esquecendo a multiplicida<strong>de</strong> das suas<br />

principais características clínicas e etiológicas, Karel Bobath2 <strong>de</strong>screveu, em 1984, a matriz teorética <strong>de</strong>senvolvimental e<br />

neurofisiológica dos diferentes tipos <strong>de</strong> paralisia cerebral,<br />

nomeadamente, das crianças espástica, atáxica e atetói<strong>de</strong>. A<br />

diferenciação dos diferentes tipos <strong>de</strong> paralisia cerebral implicará<br />

a diferenciação nas formas <strong>de</strong> tratamento fisioterapêutico<br />

das mesmas.<br />

A intervenção fisioterapêutica na paralisia cerebral po<strong>de</strong>ria<br />

ser <strong>de</strong>scrita <strong>de</strong> forma sucinta, por um conjunto <strong>de</strong> itens redutores.<br />

Para o terapeuta, todas as crianças espásticas ten<strong>de</strong>m a<br />

ser tratadas segundo os seguintes objectivos: (a) normalizar o<br />

tónus postural, (b) inibir os padrões posturais “anormais” e<br />

facilitar padrões posturais e <strong>de</strong> movimento mais “normais”,<br />

(c) obter simetria corporal, (d) prevenir <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s e contraturas,<br />

(e) inibir as reacções associadas e (f) promover a<br />

existência <strong>de</strong> um movimento mais funcional. Para o mesmo<br />

terapeuta, a intervenção nas crianças hipotónicas seria caracterizada<br />

por: (a) facilitar o controlo da cabeça e do tronco, (b)<br />

promover o controle postural em posturas contra a gravida<strong>de</strong>,<br />

(c) prevenir as aspirações e (d) prevenir a luxação da anca.<br />

Finalmente, no respeitante às crianças com tónus flutuante, os<br />

objectivos seriam: (a) estabilizar a criança, (b) graduar o<br />

movimento, (c) obter a estabilização <strong>de</strong> posturas com carga<br />

proprioceptiva e (d) obter maior autocontrole. Teríamos, portanto,<br />

um conjunto <strong>de</strong> objectivos gerais <strong>de</strong> reabilitação, modificáveis<br />

consoante o tipo presente <strong>de</strong> paralisia cerebral.<br />

Contudo, mais do que um tipo característico, a criança com<br />

paralisia cerebral é sobretudo um ser humano irredutível, com<br />

características muito pessoais, uma unicida<strong>de</strong> dificilmente<br />

generalizável. Neste contexto, a fisioterapia ten<strong>de</strong> a gerir-se<br />

mais por um eclectismo <strong>de</strong> métodos, adaptados e modificados<br />

segundo a especificida<strong>de</strong> do sujeito em tratamento.<br />

Recebido: 11.11.2007<br />

Aceite: 07.02.2008<br />

LII<br />

Dentro <strong>de</strong>sses mesmos métodos <strong>de</strong> fisioterapia neurológica<br />

pediátrica, po<strong>de</strong>ríamos referir a ru<strong>de</strong>za <strong>de</strong> certas abordagens<br />

como o biofeedback, o treino <strong>de</strong> força funcional e a estimulação<br />

eléctrica neuromuscular, métodos mais ligados àquilo que<br />

po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>signar como a evi<strong>de</strong>nced based practice. Aliás,<br />

são estes os métodos que Ploughman3 refere como mais eficazes<br />

na utilização das características funcionais <strong>de</strong>correntes<br />

dos mecanismos <strong>de</strong> neuroplasticida<strong>de</strong> presentes numa fase<br />

pós-lesão mais tardia.<br />

Porém, um certo nível <strong>de</strong> holismo na forma <strong>de</strong> ver a criança<br />

com paralisia cerebral só po<strong>de</strong> ser conseguido por meio da<br />

visão fornecida pelos mais teoréticos paradigmas <strong>de</strong> inter -<br />

venção (apesar <strong>de</strong> os mesmos estarem pouco estudados e<br />

<strong>de</strong>mons trados cientificamente). Passemos a referi-los.<br />

O Sistema <strong>de</strong> Doman-Delacato, <strong>de</strong>senvolvido a partir das teorias<br />

<strong>de</strong> Temple Fay, visa o treino motor intensivo, mediante a<br />

utilização <strong>de</strong> sequências evolutivas <strong>de</strong> movimento4 . Possui<br />

como principal <strong>de</strong>svantagem o facto <strong>de</strong>, pelo facto <strong>de</strong> ser<br />

muito intensivo, sobrecarregar o doente e seus familiares.<br />

A educação condutiva, <strong>de</strong>senvolvida na Hungria por Petö,<br />

propen<strong>de</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um programa diário <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s<br />

conjuntas <strong>de</strong> educação, tratamento, cuidados pessoais<br />

e sociabilida<strong>de</strong>5 . A dificulda<strong>de</strong> em conseguir apoios finan -<br />

ceiros, a falta <strong>de</strong> integração comunitária no programa e a <strong>de</strong> -<br />

pen dência <strong>de</strong> profissionais com formação suficiente correspon<strong>de</strong>m<br />

a factores inviabilizantes do <strong>de</strong>senvolvimento do<br />

método.<br />

No método <strong>de</strong> Vojta, a estimulação do acto motor ocorre por<br />

meio da estimulação <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas zonas reflexo-orgânicas6<br />

. É um método <strong>de</strong>masiadamente preso às concepções<br />

<strong>de</strong>senvolvimentais.<br />

O método <strong>de</strong> Phelps tem como fundamento primacial a habilitação<br />

por etapas do músculo ou grupo muscular, até se conseguir<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> praxias completas e a in<strong>de</strong>pendência<br />

motora7 . Constitui, igualmente, um método muito<br />

preso às concepções teoréticas relacionadas com os estádios<br />

do <strong>de</strong>senvolvimento (a)normal.<br />

Correspondência:<br />

Luís Filipe dos Santos Coelho<br />

coelholewis@hotmail.com


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):LII-III Coelho L – Fisioterapia e paralisia cerebral<br />

O sistema <strong>de</strong> Rood promove a estimulação sensorial, <strong>de</strong> modo<br />

a modificar os padrões motores, activando o movimento e as<br />

respostas posturais do doente, mediante a utilização <strong>de</strong> técnicas<br />

como a estimulação cutânea, a massagem lenta, a escovagem<br />

rápida, a aplicação <strong>de</strong> gelo e a compressão articular8 .<br />

Actualmente, este sistema tem sido mais amplamente utilizado<br />

no tratamento das lesões do segundo neurónio.<br />

A Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (PNF – Pro prio -<br />

cep tive Neuromuscular Facilitation) visa a facilitação <strong>de</strong><br />

padrões motores diagonais e a utilização <strong>de</strong> técnicas sensoriais<br />

e comportamentais como o alongamento, o contacto<br />

manual, a posição articular, o estímulo verbal, a temporização,<br />

o reforço e a resistência máxima9 . À semelhança do anterior,<br />

também tem sido mais utilizado para tratar lesões do<br />

segundo neurónio.<br />

A abordagem <strong>de</strong> Johnstone permite prevenir e/ou corrigir os<br />

padrões anormais <strong>de</strong> postura segmentar, mediante a utilização<br />

<strong>de</strong> talas pneumáticas nos segmentos afectados10 . Po<strong>de</strong> ser difícil<br />

<strong>de</strong> tolerar por parte da criança.<br />

A Integração sensorial baseia-se em mecanismos que permitem<br />

“a habilida<strong>de</strong> para organizar a informação sensorial,<br />

tendo em vista a sua utilização” 11 . É um método utilizado<br />

sobretudo por terapeutas ocupacionais.<br />

Finalmente, o Tratamento do Neuro<strong>de</strong>senvolvimento foi<br />

<strong>de</strong>sen volvido por Bobath12 nos anos 40. Este famoso método<br />

visa a facilitação do movimento normal, mediante a utilização<br />

<strong>de</strong> “pontos-chave <strong>de</strong> controlo”. A aprendizagem do movi -<br />

mento a<strong>de</strong>quado e funcional e a inibição <strong>de</strong> padrões anormais<br />

<strong>de</strong> sinergismo espástico são conseguidos mediante a indução<br />

da activida<strong>de</strong> dos segmentos afectados, com realização do<br />

menor esforço possível12 . O TND (Tratamento do Neuro<strong>de</strong> -<br />

sen volvimento) possui uma <strong>de</strong>nsa matriz teórica <strong>de</strong> base pro -<br />

gra mática, não <strong>de</strong>ixando, apesar <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong> ser, à semelhança<br />

dos outros referidos anteriormente, pouco sustentado por<br />

estudos científicos13-16 . Alguns estudos recentes parecem ser,<br />

contudo, promissores no respeitante a tal evidência17-19 .<br />

Outros métodos mais recentes, como a Reaprendizagem<br />

motora <strong>de</strong> Carr e Shepherd20 , a Constraint-Induced Therapy21 ,<br />

o método <strong>de</strong> Fel<strong>de</strong>nkrais22 e o TAMO (Therapy Approach<br />

Movement Organization) 23 ainda não se encontram suficientemente<br />

estudados ou teorizados.<br />

Fica, no fim, a dúvida <strong>de</strong> se os paradigmas <strong>de</strong> intervenção são<br />

ou não comensuráveis a um só método global, mais ecléctico,<br />

sempre a<strong>de</strong>quado à especificida<strong>de</strong> da criança em causa.<br />

Referências<br />

1. Bax M, Goldstein M, Rosenbaum P, Leviton A, Paneth N. Proposed<br />

<strong>de</strong>finition and classification of cerebral palsy, April 2005. Devel Med<br />

Child Neurol 2005;47:571-6.<br />

2. Bobath K. A neurophysiological basis for the treatment of cerebral<br />

palsy. 1984, William Heinemann Medical Books, England.<br />

3. Ploughman M. A review of brain neuroplasticity and implications for<br />

the physiotherapeutic management of stroke. Physiother Can 2002;<br />

54:164-76.<br />

4. Jurcisin G. Dynamics of the Doman-Delacato creeping-crawling technique<br />

for the brain-damaged child. Am Correct Ther J 1968;22:161-4.<br />

5. Cotton E, Kinsman R. Conductive education and adult hemiplegia.<br />

1983, Churchill Livingstone, Edinburgh.<br />

6. Vojta V. The basic elements of treatment according to Vojta. In D.<br />

Scrutton (Ed.), Management of the motor disor<strong>de</strong>rs of children with<br />

cerebral palsy. 1984, Blackwell Scientific, London. pp. 23-34.<br />

7. Lefévre A. Neurologia infantil. 1980, Editora Sarvier, São Paulo.<br />

8. Rood M. Neurophysiologic reactions: a basis for physical therapy.<br />

Phys Ther Rev 1954;34:444-9.<br />

9. Knott M, Voss D. Proprioceptive neuromuscular facilitation (2nd edition).<br />

1968, Hoeber Medical Division, California.<br />

10. Johnstone M. Restoration of motor function in the stroke patient: a<br />

physiotherapist’s approach. 1987, Churchill Livingstone, New York.<br />

11. Ayres A. Sensory integration and learning disor<strong>de</strong>rs. 1972, Western<br />

Psychological Services, Los Angeles.<br />

12. Bobath B. Abnormal postural reflex activity caused by brain lesions.<br />

1965, Heinemann Medical, London.<br />

13. Gialanella B, Benvenuti P, Santoro R. The painful hemiplegic shoul<strong>de</strong>r:<br />

effects of exercises program according to Bobath. Clin Ter 2004;<br />

155:491-7.<br />

14. Hafsteinsdóttir T, Algra A, Kappelle L, Grypdonck M. Neuro<strong>de</strong> ve -<br />

lop mental treatment after stroke: a comparative study. J Neurol Neu -<br />

ro surg Psychiatry 2005;76:788-92.<br />

15. Platz T, Eickhof C, van Kaick S, Engel U, Pinkowski C, Kalok S et<br />

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paresis after stroke: a single-blind, multicentre randomized controlled<br />

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16. Lennon S, Ashburn A, Baxter D. Gait outcome following outpatient<br />

physiotherapy based on the Bobath concept in people post stroke.<br />

Disabil Rehabil 2006;28:873-81.<br />

17. Lennon S. Gait re-education based on the Bobath concept in two<br />

patients with hemiplegia following stroke. Phys Ther 2001;81:924-35.<br />

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LIII


0873-9781/08/39-3/89<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria COMENTÁRIO EDITORIAL<br />

Comentário aos artigos “Flutuação temporal dos genótipos <strong>de</strong> rotavírus na<br />

Região Centro <strong>de</strong> Portugal: 2006-2007” e “Hospitalização em crianças com<br />

infecção por rotavírus”<br />

Ana Isabel Gouveia Lopes<br />

Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Gastrenterologia <strong>Ped</strong>iátrica, Departamento da Criança e da Família, Hospital <strong>de</strong> Santa Maria. Centro Hospitalar<br />

Lisboa Norte<br />

A gastroenterite aguda (GEA) na criança permanece um dos<br />

mais importantes <strong>de</strong>safios globais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública, aten<strong>de</strong>ndo<br />

à morbilida<strong>de</strong> e mortalida<strong>de</strong> associadas. Em todo o mundo o<br />

rota vírus constitui reconhecidamente o agente causal predomi -<br />

nante <strong>de</strong> diarreia aguda grave (criança pequena) e nos países<br />

industrializados a doença é ainda responsável por elevada morbilida<strong>de</strong>,<br />

com elevados custos sociais e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública.<br />

Graças ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novas vacinas (vivas, orais)<br />

com eficácia e segurança <strong>de</strong>monstradas em ensaios clínicos<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> dimensão realizados nos EUA, Europa e América<br />

Latina1-3 , a GEA por rotavírus tornou-se uma doença susceptível<br />

<strong>de</strong> prevenção. A introdução <strong>de</strong>stas vacinas num programa<br />

<strong>de</strong> imunização universal infantil constitui já uma realida<strong>de</strong> em<br />

diversos países em vias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, estimando-se<br />

que venham a reduzir as 527 mil mortes e 24 milhões <strong>de</strong> internamentos<br />

hospitalares anuais <strong>de</strong>vidos a GEA por rotavírus em<br />

todo o mundo4 . A sua recente aprovação pela EMEA (Euro -<br />

pean Medicine Evaluation Agency) 5,6 , impõe um conheci -<br />

mento do impacto clínico-epi<strong>de</strong>miológico específico da doen -<br />

ça associada ao rotavírus nos diversos países do espaço<br />

Europeu e a consi<strong>de</strong>ração da sua potencial inclusão nos programas<br />

nacionais <strong>de</strong> imunização, <strong>de</strong> acordo com as respectivas<br />

priorida<strong>de</strong>s nacionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública.<br />

A GEA por rotavírus tornou-se assim um dos temas actualmente<br />

dominantes na agenda <strong>de</strong> todos aqueles que, directa ou<br />

indirectamente, têm responsabilida<strong>de</strong>s na prestação <strong>de</strong> cui -<br />

dados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> à criança, como comprovado pela recente<br />

publicação das recomendações conjuntas para a vacinação<br />

contra o rotavírus e para o tratamento da GEA na criança pelas<br />

Socie da<strong>de</strong>s Europeias <strong>de</strong> Infecciologia e <strong>de</strong> Gastrenterologia<br />

<strong>Ped</strong>iá trica (respectivamente ESPID e ESPGHAN) 7,8 . Tratam-se<br />

<strong>de</strong> documentos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância, elaborados por grupos<br />

<strong>de</strong> peritos das respectivas áreas coor<strong>de</strong>nados por T. Vesi kari<br />

(ESPID) e por A. Guarino (ESPGHAN), com base numa<br />

exaustiva e rigorosa avaliação da melhor evidência presentemente<br />

disponível.<br />

Neste contexto, com excelente sentido <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> e<br />

perti nência, a <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica inclui no presente número dois<br />

artigos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> interesse e actualida<strong>de</strong>9,10 , que em certa<br />

medida se complementam. A informação <strong>de</strong>les <strong>de</strong>corrente,<br />

obtida numa fase prece<strong>de</strong>ndo a introdução da vacina no nosso<br />

país, constitui certamente um contributo relevante para um<br />

melhor conhecimento da epi<strong>de</strong>miologia da doença associada<br />

à infecção por rotavírus e cuja importância merece ser adicionalmente<br />

<strong>de</strong>stacada pela relativa escassez <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong>sta<br />

natureza no nosso contexto.<br />

O estudo <strong>de</strong> R. Neves et al. 9 é retrospectivo, reportando a<br />

carac terização socio-<strong>de</strong>mográfica e clínica <strong>de</strong> GEA por rotavírus<br />

numa amostra <strong>de</strong> crianças hospitalizadas com ida<strong>de</strong><br />

inferior a 6 anos (amostras positivas para rotavírus 113/ 611 -<br />

18%, <strong>de</strong> entre as quais foi analisada uma subamostra <strong>de</strong> 92<br />

casos), em duas instituições hospitalares da área <strong>de</strong> Lisboa, no<br />

período <strong>de</strong> um ano (Jan.-Dez 2005). Emergem <strong>de</strong>ste estudo<br />

como conclusões principais: a frequência elevada <strong>de</strong> internamentos<br />

(sobretudo se ida<strong>de</strong> inferior a 12 meses), a frequência<br />

elevada <strong>de</strong> infecções nosocomiais (26%) sobreponível à<br />

reportada noutras séries11 <strong>de</strong> países industrializados, a frequência<br />

elevada <strong>de</strong> complicações (21%), sobretudo em<br />

lacten tes com menos <strong>de</strong> 6 meses, bem como os elevados custos<br />

directos da hospitalização, confirmando o reconhecido<br />

impacto da doença. Os autores não especificam a <strong>de</strong>finição<br />

utilizada para infecção nosocomial, nem comentam os<br />

resulta dos em função das características <strong>de</strong> cada um dos hospitais/<br />

De partamentos <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria, pelo que se po<strong>de</strong>rá admitir<br />

que o critério subjacente à inclusão <strong>de</strong> duas instituições<br />

terá sido <strong>de</strong> conveniência. Aten<strong>de</strong>ndo a que o critério <strong>de</strong> selecção<br />

da amostra <strong>de</strong> estudo foi baseado no diagnóstico<br />

microbio lógico (i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> antigénios virais nas fezes) e<br />

admitindo-se como satisfatória a fiabilida<strong>de</strong> (sensibili -<br />

da<strong>de</strong>/especificida<strong>de</strong>) do teste utilizado, teria sido útil referir se<br />

a pesquisa <strong>de</strong> rotavírus foi efectuada sistematicamente em<br />

todos os casos <strong>de</strong> GEA (presumindo-se a inclusão <strong>de</strong> todos os<br />

Correspondência:<br />

Ana Isabel Gouveia Lopes<br />

Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Gastrenterologia <strong>Ped</strong>iátrica<br />

Departamento da Criança e da Família<br />

Hospital <strong>de</strong> Santa Maria<br />

Avenida Professor Egas Moniz – 1649-035 Lisboa<br />

anaisalopes@sapo.pt<br />

89


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):89-92 Lopes AIG – Comentário Editorial<br />

casos <strong>de</strong> GEA, isto é: 1 amostra <strong>de</strong> fezes = 1 caso <strong>de</strong> GEA),<br />

sob pena <strong>de</strong> subestimação da verda<strong>de</strong>ira contribuição do<br />

rotaví rus para a hospitalização por GEA nesta série. O perfil<br />

clíni co e a distribuição temporal dos casos <strong>de</strong> GEA por rotavírus<br />

foram concordantes com a literatura, <strong>de</strong>stacando-se no<br />

entanto e aten<strong>de</strong>ndo à dimensão da amostra, a frequência relativamente<br />

elevada <strong>de</strong> complicações graves (não especificado<br />

se em infecções nosocomiais); merecem igualmente <strong>de</strong>staque,<br />

sendo embora previsíveis, a frequência <strong>de</strong> exposição a con -<br />

tactos intrafamiliares e/ ou instituição <strong>de</strong> ensino ou ama e a<br />

ausên cia <strong>de</strong> influência da condição sócio-económica. Seria<br />

interessante referir em estudos <strong>de</strong>sta natureza as caracterís -<br />

ticas do isolamento adoptado no <strong>de</strong>curso da hospitalização<br />

(“isolamento <strong>de</strong> grupo” versus isolamento individual), aten<strong>de</strong>ndo<br />

à importância das práticas <strong>de</strong> controlo da infecção<br />

nosocomial, como os autores bem salientam na discussão.<br />

Adicionalmente a uma importante contribuição para a caracterização<br />

do pesado impacto clínico da GEA por rotavírus ao<br />

nível da hospitalização no nosso contexto, este estudo traz<br />

ainda como contribuição adicional a estimativa dos seus custos<br />

directos (excluindo a infecção nosocomial), os quais têm<br />

sido responsabilizados por cerca <strong>de</strong> 80% do total <strong>de</strong> custos<br />

associados à infecção por rotavírus12 .<br />

No estudo <strong>de</strong> F. Rodrigues et al. 10 , os autores caracterizam os<br />

genótipos <strong>de</strong> rotavírus e sua distribuição temporal no período<br />

<strong>de</strong> 6 meses (Janeiro - Junho <strong>de</strong> 2007), incluindo o período<br />

sazonal “epidémico”, em crianças com menos <strong>de</strong> 3 anos<br />

obser vadas no serviço <strong>de</strong> urgência (crianças não hospitali -<br />

zadas) <strong>de</strong> um hospital pediátrico do centro do país. De entre os<br />

méritos <strong>de</strong>ste estudo <strong>de</strong> natureza prospectiva, po<strong>de</strong>r-se-ão <strong>de</strong>stacar:<br />

a inclusão <strong>de</strong> uma amostra muito representativa (aten<strong>de</strong>ndo<br />

ao facto <strong>de</strong> ser um estudo monocêntrico), a caracterização<br />

genotípica <strong>de</strong> rotavírus numa fase prévia à introdução da<br />

vacina e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comparação dos resultados com os<br />

<strong>de</strong> estudo prévio dos autores efectuado em condições sobreponíveis12<br />

. Foi evi<strong>de</strong>nciada a contribuição major do rotavírus<br />

como agente causal na GEA (36,4%), tendo sido analisadas<br />

467 amostras fecais (método <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção rápida previamente<br />

validado); a genotipagem efectuada nas 160 amostras disponíveis<br />

(laboratório <strong>de</strong> referência internacional), i<strong>de</strong>nti ficou<br />

G9P[8] como o genótipo mais frequente (32,6%), seguido <strong>de</strong><br />

G2P[4] (21,3%) e <strong>de</strong> G1P[8] (18%). Os autores salientam a<br />

proporção relativamente inferior <strong>de</strong> G9P[8] relativamente ao<br />

estudo prece<strong>de</strong>nte, paralelamente à subida <strong>de</strong> G1P[8] e ao aparecimento<br />

<strong>de</strong> G2P[4]. A percentagem <strong>de</strong> infecção mista (4/160<br />

casos; tipo G) foi relativamente inferior à reportada noutras<br />

séries14 . Curiosamente, um outro estudo igualmente prospectivo<br />

e multicêntrico <strong>de</strong> âmbito regional (serviços <strong>de</strong> urgência<br />

hospitalar; grupo etário


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):89-92 Lopes AIG – Comentário Editorial<br />

segundo ano pós-vacina bem como relativamente a algumas<br />

estirpes heterotípicas como G2P[4], diferentemente do observado<br />

com a mesma vacina em países Europeus, nos quais a<br />

protecção foi superior1 . Importa no entanto salientar que o<br />

perfil genotípico dominante após a implementação das vacinas<br />

numa dada região, po<strong>de</strong>rá reflectir apenas a sua flutuação<br />

natural e não necessariamente falência da vacina.<br />

Convém ainda relembrar que as duas vacinas actuais são<br />

<strong>de</strong>senhadas com base em diferentes princípios:<br />

– a vacina monovalente, <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> uma estirpe humana<br />

(G1P[8]), preten<strong>de</strong>ndo mimetizar a imunida<strong>de</strong> natural<br />

homóloga e largamente heterotípica contra outras estirpes,<br />

foi <strong>de</strong>senvolvida com base na observação da protecção cruzada<br />

após infecções naturais repetidas21 ;<br />

– a vacina pentavalente, <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> uma estirpe bovina-hu -<br />

ma na, é baseada no pressuposto da produção <strong>de</strong> anticorpos<br />

protectores rotavírus tipo-especificos, contra antigénios<br />

G1-G4 e P1A[8] que ocorrem na maioria <strong>de</strong> estirpes isoladas<br />

em países <strong>de</strong> clima temperado.<br />

Deste modo, no plano teórico, uma adaptação vacinal seria<br />

um cenário a consi<strong>de</strong>rar em contextos epi<strong>de</strong>miológicos <strong>de</strong><br />

mudança rápida, tal como suce<strong>de</strong> em relação às vacinas do<br />

vírus influenza. Obviamente, dada a imprevisível diversida<strong>de</strong><br />

genética do rotavírus, será difícil <strong>de</strong>senhar vacinas que<br />

cubram a variação antigénica <strong>de</strong> todas as estirpes selvagens<br />

co-circulantes. Importa ainda reconhecer que no caso do rotavírus,<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> vacinas prece<strong>de</strong>u o conhecimento<br />

dos <strong>de</strong>terminantes e dos mecanismos envolvidos na res -<br />

posta imune protectora (quer no <strong>de</strong>curso da infecção natural<br />

quer após imunização). Embora anticorpos séricos da classe<br />

IgA e IgG sejam utilizados como indicadores <strong>de</strong> imunogenicida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>stas vacinas22,23 , é provável também o envolvimento<br />

da imunida<strong>de</strong> celular (CD8 + T) na protecção24 .<br />

Os estudos <strong>de</strong> custo-eficácia da utilização da vacina em diversos<br />

países têm evi<strong>de</strong>nciado resultados variáveis consoante os<br />

mo<strong>de</strong>los e variáveis utilizados, sendo sobretudo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

da epi<strong>de</strong>miologia local (taxa <strong>de</strong> incidência da doença, pro -<br />

porção <strong>de</strong> casos graves, taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>) e da acessibilida<strong>de</strong>/<br />

custo da vacina. Deverão no entanto ser igualmente<br />

equacionados em cada país, a taxa <strong>de</strong> cobertura vacinal e a<br />

integração e impacto operacional <strong>de</strong>stas vacinas no respectivo<br />

plano <strong>de</strong> imunização nacional. Nos países em <strong>de</strong>senvolvi -<br />

mento, em que a sua introdução em larga escala tem como<br />

objectivo major a prevenção da morte e da doença grave causada<br />

por rotavírus, a vacinação universal terá previsivelmente<br />

uma melhor relação custo-eficácia do que em países <strong>de</strong>senvolvidos,<br />

nos quais embora diminua substancialmente a morbilida<strong>de</strong><br />

associada, o factor <strong>de</strong>terminante do custo-efecti -<br />

vida<strong>de</strong> será sobretudo o preço. Indiscutivelmente, a implementação<br />

das vacinas contra o rotavírus será sempre necessariamente<br />

complementar da persistência <strong>de</strong> uma estratégia<br />

coor<strong>de</strong>nada para a prevenção e tratamento da diarreia aguda<br />

na criança, incluindo o conhecimento e acesso a terapêutica<br />

<strong>de</strong> rehidratação oral, como recomendado pela OMS.<br />

Finalmente, importa salientar que embora estas vacinas proporcionem<br />

uma protecção elevada contra a doença grave<br />

asso ciada a rotavírus, não conferem protecção contra a diarreia<br />

aguda por outros vírus, como o norovírus, um agente<br />

muito prevalente responsável por quadros clínicos <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong><br />

idêntica à do rotavírus25-27 .sendo pois indispensável também<br />

uma estratégia <strong>de</strong> informação nos países em que venham<br />

a ser introduzidas.<br />

Como suce<strong>de</strong> aquando da introdução <strong>de</strong> uma nova vacina,<br />

será indispensável o estabelecimento <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> vigilância<br />

longitudinal pós-vacinação, para monitorizar em primeiro<br />

lugar a segurança e a protecção heterotípica, tendo em<br />

consi<strong>de</strong>ração a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> combinação genética da estirpe<br />

vacinal com estirpes selvagens co-circulantes. Tal vigilância<br />

permitirá monitorizar o impacto da vacinação na ecologia<br />

do rotavírus (emergência <strong>de</strong> novas estirpes ou <strong>de</strong> novas<br />

variantes genéticas <strong>de</strong> escape), <strong>de</strong>vendo incluir ainda a monitorização<br />

<strong>de</strong> estirpes <strong>de</strong> origem animal (animais domésticos)<br />

e sua potencial transmissão humana após redução <strong>de</strong> estirpes<br />

naturalmente circulantes 28 .<br />

Será <strong>de</strong>sejável que no plano da vigilância da epi<strong>de</strong>miologia<br />

molecular do rotavirus, o nosso país possa integrar doravante<br />

re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> investigação transnacionais, como a EuroRotaNet<br />

(European Rotavirus Strain Surveillance Network). Uma<br />

infra-estrutura sediada em laboratório <strong>de</strong> referência nacional<br />

po<strong>de</strong>ria servir como uma plataforma para vigilância futura<br />

(estudos <strong>de</strong> avaliação da eficácia da vacina na população geral<br />

integrando por exemplo sistemas <strong>de</strong> vigilância “sentinela” e<br />

envolvendo pediatras da comunida<strong>de</strong> e hospitalares).<br />

Em conclusão, os artigos <strong>de</strong> R. Neves et al. e <strong>de</strong> F. Rodrigues<br />

et al., constituem no momento actual contribuições impor -<br />

tantes para o conhecimento da epi<strong>de</strong>miologia clínica / molecular<br />

da GEA por rotavírus e da magnitu<strong>de</strong> do problema no<br />

nosso país e muito válidos documentos <strong>de</strong> trabalho para os<br />

responsáveis pela saú<strong>de</strong> pública pediátrica. Entretanto, aguardam-se<br />

com gran<strong>de</strong> expectativa os resultados do estudo multi -<br />

cêntrico nacional <strong>de</strong> base hospitalar a iniciar brevemente por<br />

iniciativa da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria, com a colaboração<br />

das respectivas Secções <strong>de</strong> Gastrenterologia e <strong>de</strong><br />

Infecciologia, o qual <strong>de</strong>verá proporcionar informação adicional,<br />

indispensável a uma a<strong>de</strong>quada fundamentação <strong>de</strong> futuras<br />

políticas e estratégias vacinais.<br />

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Portugal: 2006-2007<br />

Fernanda Rodrigues, Manuela Costa Alves, Manuela Sousa, Luís Januário, Luís Lemos<br />

Serviço <strong>de</strong> Urgência. Hospital <strong>Ped</strong>iátrico <strong>de</strong> Coimbra<br />

Resumo<br />

Introdução. O rotavírus (RV) é o agente causal predomi nante<br />

das gastroenterites agudas (GEA) em ida<strong>de</strong> pediátrica. No<br />

período epidémico da infecção por RV <strong>de</strong> 2006, efectuámos<br />

no Serviço <strong>de</strong> Urgência (SU) um estudo etiológico das GEA<br />

não hospitalizadas. I<strong>de</strong>ntificou-se RV em 45% dos casos. Iso -<br />

lou-se o genótipo G9[P8] em 90% dos casos, G1[P8] em 4,3%<br />

e G3[P8] em 3,8%. Nalguns países foram <strong>de</strong>scritas significativas<br />

variações dos genótipos em anos sucessivos.<br />

Objectivo. Analisar a proporção <strong>de</strong> GEA por RV e os correspon<strong>de</strong>ntes<br />

genótipos e avaliar se houve modificação dos mesmos<br />

relativamente ao período epidémico do ano anterior.<br />

Material e métodos. Estudo prospectivo, que <strong>de</strong>correu <strong>de</strong><br />

Janeiro a Junho <strong>de</strong> 2007. Foram incluídas crianças com menos <strong>de</strong><br />

3 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> observadas no SU por GEA e que não foram hospitalizadas.<br />

Nas amostras positivas para RV foi efectuada genotipagem.<br />

Foram comparados estes resultados com os do período<br />

epidémico do ano anterior.<br />

Resultados. Nos 6 meses do estudo foram observadas 641<br />

crianças com GEA. Foi pesquisado RV em 467 amostras<br />

(73%) e foram i<strong>de</strong>ntificados 170 casos positivos (36,4%). A<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> RV predominou nos meses <strong>de</strong> Fevereiro,<br />

Março e Abril (47, 46 e 60% dos casos testados, respectivamente).<br />

Estavam disponíveis para genotipagem 160 amostras.<br />

Em 36,6% casos foi i<strong>de</strong>ntificado o serotipo G9, em 28% o G1,<br />

em 24,6% o G2, em 8% o G3 e em 2 casos o G4. A conjugação<br />

com o P8 foi largamente predominante, excepto para o G2<br />

que aparece maioritariamente associado ao P4.<br />

Conclusões. O RV foi um agente causal importante nas GEA<br />

observadas no período do estudo. O genótipo G9[P8] foi o pre -<br />

do minante, mas com uma proporção muito mais baixa do que<br />

no ano anterior, assistindo-se a uma subida importante do<br />

G1[P8] e ao aparecimento do G2[P4]. Este estudo confirma que<br />

vários tipos G e P po<strong>de</strong>m co-circular e que os tipos predominantes<br />

numa região po<strong>de</strong>m mostrar flutuações anuais importantes.<br />

Palavras-Chave: Rotavírus, genótipos, flutuação temporal.<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008;39(3):93-6<br />

Recebido: 09.08.2007<br />

Aceite: 04.06.2008<br />

Conflito <strong>de</strong> interesses: Os autores <strong>de</strong>claram ausência <strong>de</strong> conflito <strong>de</strong><br />

interesses.<br />

Temporal fluctuation of rotavirus genotypes in<br />

the Central Region of Portugal: 2006-2007<br />

Abstract<br />

Introduction. Rotavirus (RV) is the major cause of acute gastroenteritis<br />

(AGE) in children. During the RV epi<strong>de</strong>mic season<br />

in 2006 we conducted a study about the aetiology of AGE at<br />

the Emergency Service. RV was i<strong>de</strong>ntified in 45% of the cases.<br />

Genotype G9[P8] was isolated in 90% of the cases, G1[P8] in<br />

4,3% and G3[P8] in 3,8%. In some countries, it was <strong>de</strong>scribed<br />

a significant variation in genotypes in consecutive years.<br />

Aim. To analyse the proportion of RV AGE, the genotypes<br />

circulating, and compare it with the results from the previous<br />

RV epi<strong>de</strong>mic season.<br />

Material and methods. Prospective study between January and<br />

June 2007. Children observed at the Emergency Service with<br />

the diagnosis of AGE and not admitted to the wards were inclu -<br />

<strong>de</strong>d. In the positive samples for RV, genotyping was performed.<br />

Results were compared with the ones obtained in the previous<br />

epi<strong>de</strong>mic season.<br />

Results. During 6 months, a total of 641 children with AGE were<br />

observed. A stool sample was collected and a rapid diagnostic<br />

test was performed in 467 (73%) and 170 (36,4%) were positive.<br />

The i<strong>de</strong>ntification of RV was predominant in February, March<br />

and April (47, 46 and 60% of the tested samples, respectively).<br />

Genotyping was performed in 160 avai lable samples and G9 was<br />

found in 36,6% cases, G1 in 28%, G2 in 24,6%, G3 in 8% and<br />

G4 in 2 cases. The association with P8 was largely predominant<br />

apart from G2 that appeared associated mainly with P4.<br />

Conclusions. RV was a major cause of AGE during the study pe -<br />

riod. G9[P8] was the predominant genotype however with a much<br />

lower proportion than in the previous year. There was an important<br />

increase of G1[P8] and the emergence of G2[P4]. Our results<br />

confirm that different RVs co-circulate in the same geogra phic<br />

region and there is seasonal variation in the strain distribution.<br />

Key-words: Rotavirus, genotype, temporal fluctuation.<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008;39(3):93-6<br />

Correspondência:<br />

Fernanda Rodrigues<br />

Serviço <strong>de</strong> Urgência<br />

Hospital <strong>Ped</strong>iátrico <strong>de</strong> Coimbra<br />

Av Bissaya Barreto<br />

3000-075 Coimbra<br />

frodrigues@hpc.chc.min-sau<strong>de</strong>.pt<br />

ARTIGO ORIGINAL<br />

93


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):93-6 Rodrigues F et al – Flutuação temporal dos genótipos <strong>de</strong> rotavírus<br />

Introdução<br />

A gastroenterite aguda (GEA) é uma patologia muito fre -<br />

quente nos primeiros anos <strong>de</strong> vida, tanto em países industrializados<br />

como em vias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e é, ainda, uma<br />

importante causa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>, sobretudo nos últimos países.<br />

O rotavírus (RV) é o agente causal predominante1-10 .<br />

A maior parte dos casos <strong>de</strong> GEA que ocorrem nos países <strong>de</strong> -<br />

sen volvidos não necessitam <strong>de</strong> hospitalização, mas o impacto<br />

<strong>de</strong>sta patologia na saú<strong>de</strong> pública é muito significativo4-10 .<br />

Nos países <strong>de</strong> clima temperado, as GEA <strong>de</strong>vidas ao RV predo -<br />

minam no Inverno e Primavera4,5 .<br />

Durante os últimos 20 anos, a GEA tem sido um dos diagnós -<br />

ti cos mais frequentemente registado no nosso Serviço <strong>de</strong><br />

Urgên cia (SU) (dados não publicados). O número médio <strong>de</strong><br />

crian ças com GEA, observadas <strong>de</strong> 2003 a 2006, foi <strong>de</strong><br />

3.694/ano, com um pico entre Janeiro e Março (Figura 1,<br />

dados não publicados).<br />

Figura 1 – Distribuição mensal dos casos <strong>de</strong> gastroenterite aguda<br />

observados no Serviço <strong>de</strong> Urgência e internados na Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Internamento <strong>de</strong> Curta Duração (UICD) : 2003-2006.<br />

Na Europa, em 2006, foram aprovadas duas vacinas contra o<br />

RV. Apesar do nível <strong>de</strong> conhecimento já adquirido, são necessários<br />

estudos específicos em cada país, para melhor compreensão<br />

do impacto causado pela infecção por RV e para a<br />

implementação <strong>de</strong> estratégias vacinais. Os dados nacionais<br />

sobre a incidência <strong>de</strong>sta patologia são escassos e há poucos<br />

dados sobre os genótipos em circulação. Esta informação é<br />

importante, não só para avaliar a eficácia das vacinas contra o<br />

RV, como também para monitorizar a possível emergência e<br />

disseminação <strong>de</strong> genótipos não incluídos nestas.<br />

De Fevereiro a Junho <strong>de</strong> 2006 efectuámos no SU um estudo<br />

prospectivo que teve como objectivo avaliar o impacto das<br />

GEA por RV em crianças não hospitalizadas e analisar os<br />

genótipos que mais frequentemente circulavam, durante o<br />

período sazonal epidémico <strong>de</strong> infecção, antes da introdução<br />

das vacinas contra o RV. Do conjunto <strong>de</strong> 642 casos observados,<br />

475 foram testados para RV e 216 (45%) foram positivos.<br />

A proporção máxima verificou-se em Fevereiro (54% dos<br />

casos <strong>de</strong> GEA) e Março (60%). A genotipagem realizada em<br />

174 casos revelou G9P8 em 156 (90%), G1P8 em 8 (4,6%),<br />

G3P8 em 7 (4%), G12P8, G3+9P8 e G1+9P8 em 1 cada11 .<br />

Uma análise dos primeiros 100 casos incluídos no estudo revelou<br />

que, 57 crianças frequentavam infantário e em 73 casos<br />

94<br />

havia, concomitantemente, outro familiar ou outras crianças<br />

no infantário com GEA. Durante o período da vigilância da<br />

evolução, 33 crianças necessitaram <strong>de</strong> recorrer a cuidados<br />

complementares <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Cinquenta pais tiveram que faltar<br />

ao trabalho: 30 faltaram 1-3 dias, 12 faltaram 4-7 dias e 8 faltaram<br />

8-10 dias, com uma média geral <strong>de</strong> 3,7 dias (1-10 dias).<br />

A duração média da diarreia foi <strong>de</strong> 6 dias (1-18 dias) (dados<br />

não publicados). Estes dados confirmam que, também entre<br />

nós, esta patologia tem custos médicos e sociais importantes.<br />

Na Europa estão <strong>de</strong>scritas importantes variações <strong>de</strong> genótipos<br />

em anos sucessivos4,5 .<br />

Foi objectivo do presente estudo analisar a proporção <strong>de</strong> GEA<br />

por RV e os correspon<strong>de</strong>ntes genótipos em 2007 e avaliar se<br />

houve modificação dos mesmos relativamente ao período epidémico<br />

do ano anterior.<br />

Material e métodos<br />

Estudo prospectivo que incluiu crianças observadas no SU<br />

por GEA. Foram excluídas as crianças admitidas na Unida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Internamento <strong>de</strong> Curta Duração ou nas enfermarias. Nas<br />

amostras positivas para RV foi efectuada genotipagem.<br />

Manteve-se a metodologia utilizada no estudo anterior, que<br />

tinha <strong>de</strong>corrido <strong>de</strong> Fevereiro a Junho <strong>de</strong> 200611 .<br />

Período do estudo: Janeiro a Junho <strong>de</strong> 2007.<br />

Definição <strong>de</strong> caso: Crianças com menos <strong>de</strong> 3 anos, obser -<br />

vadas no SU, com GEA, <strong>de</strong>finida como emissão <strong>de</strong> três ou<br />

mais <strong>de</strong>jecções liquidas ou <strong>de</strong> consistência mole não habitual,<br />

acompanhada ou não <strong>de</strong> vómitos, durante um período <strong>de</strong> 24<br />

horas, com duração inferior a 7 dias e precedida por um período<br />

<strong>de</strong> 14 dias sem sintomas.<br />

Não foram incluídas no estudo crianças com patologia gastrointestinal<br />

crónica ou com imuno<strong>de</strong>ficiência.<br />

Recolha <strong>de</strong> fezes e pesquisa vírica: Durante a estadia no SU<br />

foi colhida uma amostra <strong>de</strong> fezes. Quando esta colheita não<br />

foi possível, solicitou-se aos pais ou acompanhantes que trouxessem<br />

uma amostra <strong>de</strong> fezes ao SU, no prazo <strong>de</strong> 24 horas. As<br />

amostras foram testadas para RV, através <strong>de</strong> um teste rápido,<br />

baseado em técnica <strong>de</strong> imunocromatografia (VIKIA®,<br />

Biomerieux, França). Nas amostras positivas foi efectuada<br />

genotipagem (Vírus Reference Department, Health Protection<br />

Agency, London).<br />

Resultados<br />

Nos 6 meses do estudo foram observadas 641 crianças com<br />

GEA. Foi efectuada pesquisa <strong>de</strong> RV com o teste rápido em<br />

467 amostras (73%) e foram i<strong>de</strong>ntificados 170 casos positivos<br />

(36,4%), com predomínio nos meses <strong>de</strong> Fevereiro (28/59 testados,<br />

47%), Março (52/113, 46%) e Abril (49/82, 60%)<br />

(Figura 2). Estavam disponíveis para genotipagem 160 amostras<br />

(nas restantes a quantida<strong>de</strong> da amostra foi insuficiente).<br />

Em 10 casos (6,2%) a i<strong>de</strong>ntificação do RV foi negativa por<br />

polimerase chain reaction, indicando tratar-se <strong>de</strong> falsos positivos<br />

do teste rápido, valores estes semelhantes ao esperado


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):93-6 Rodrigues F et al – Flutuação temporal dos genótipos <strong>de</strong> rotavírus<br />

Figura 2 – Proporção <strong>de</strong> gastroenterites agudas por rotavírus em<br />

2006 (Fevereiro a Junho) e 2007 (Janeiro a Junho).<br />

para os testes rápidos <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> antigénios comerciali -<br />

zados (Gray e Iturriza-Gómara, dados não publicados). Cento<br />

e quarenta e quatro casos foram completamente caracteri -<br />

zados na genotipagem e seis apenas parcialmente genoti -<br />

pados. Foi i<strong>de</strong>ntificado o genótipo G9P8 em 49 casos (49/150,<br />

32,6%), o G2P4 em 32 casos (32/150, 21,3%), o G1P8 em 27<br />

(27/150, 18%) e o G3P8 em 10 casos (10/150, 6,6%). A distribuição<br />

<strong>de</strong> todos os genótipos i<strong>de</strong>ntificados encontra-se no<br />

Quadro I. A comparação entre os períodos epidémicos <strong>de</strong><br />

2006 e 2007, relativamente aos genótipos mais frequentes,<br />

está apresentada na Figura 3.<br />

Quadro I – Distribuição dos genótipos <strong>de</strong> rotavírus em 2007.<br />

Genótipos G9P[8] G2P[4] G1P[8] G3P[8] G1P[6] G2P[8] G1P[4]<br />

Número 49 32 27 10 8 5 4<br />

Genótipos G9P[4] G9P[6] G1+G3P[8] G4P[8] G1+G9P[6] G4+G9P[6]<br />

Número 2 2 2 1 1 1<br />

Figura 3 – Distribuição dos genótipos <strong>de</strong> rotavírus mais frequentes<br />

em 2006 e 2007.<br />

Discussão<br />

À semelhança da literatura internacional e dos nossos resultados<br />

anteriores, o RV foi uma causa frequente <strong>de</strong> GEA em<br />

crianças não hospitalizadas, tendo sido i<strong>de</strong>ntificado em 36%<br />

dos casos no período do estudo.<br />

Como foi possível objectivar anteriormente por outros autores<br />

e por nós, as GEA, nas crianças <strong>de</strong> baixa ida<strong>de</strong>, têm um<br />

impacto diversificado nas famílias e na socieda<strong>de</strong>, incluindo<br />

<strong>de</strong>spesas médicas, perda <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong>, outros custos para<br />

os acompanhantes e <strong>de</strong>sconforto e sofrimento causados às<br />

crianças e famílias2 .<br />

É conhecido que vários tipos <strong>de</strong> RV circulam simulta -<br />

neamente e a proporção relativa po<strong>de</strong> variar <strong>de</strong> ano para<br />

ano5,12 . A nível mundial, quatro genótipos (G1P8, G3P8,<br />

G4P8, G2P4) correspon<strong>de</strong>m a >90% das estirpes global mente<br />

i<strong>de</strong>ntificadas, sendo o G9 uma estirpe emergente já <strong>de</strong>scrita<br />

em vários países5,6 . Foi inicialmente <strong>de</strong>tectado em Filadélfia<br />

durante 1983-1984 em 9,2% das crianças com infecção por<br />

RV, não foi <strong>de</strong>tectado durante cerca <strong>de</strong> uma década, e re-emergiu,<br />

sendo responsável por 50% dos casos <strong>de</strong> doença diar -<br />

reica, em 1995-19968 .<br />

Também entre nós, os tipos G1-G4 e G9 estiveram associados<br />

à maioria das infecções por RV com predomínio dos serotipos<br />

G1, G2 e G9. Os resultados <strong>de</strong> 2006 revelaram uma percentagem<br />

<strong>de</strong> isolamento do serotipo G9 muito mais elevada do que<br />

previamente <strong>de</strong>scrito11 . Especulou-se que este serotipo tinha<br />

sido introduzido recentemente na nossa região, mas esta hipótese<br />

não pô<strong>de</strong> ser provada, por falta <strong>de</strong> dados anteriores11 .Em<br />

2007, o genótipo G9P8 foi o predominante, mas com uma<br />

proporção muito mais baixa do que no ano anterior, passando<br />

<strong>de</strong> 90% para 32,6%, tendo-se assistindo a uma subida importante<br />

do genótipo G1P8 (<strong>de</strong> 1% para 18%) e ao aparecimento<br />

do G2P4 (21,3%) não <strong>de</strong>tectado no estudo anterior.<br />

Encontrámos também combinações pouco frequentes, tais<br />

como G1P4 (4 casos) e G2P8 (6 casos).<br />

Estudos prévios <strong>de</strong>monstram a eficácia das actuais vacinas<br />

contra os serotipos predominantes nesta região13,14 .<br />

Conclusões<br />

O RV foi o agente causal predominante nas GEA observadas<br />

no período epidémico <strong>de</strong> 2007, tal como tinha acontecido em<br />

2006. O genótipo G9P8 foi i<strong>de</strong>ntificado na maioria dos casos,<br />

mas numa proporção muito inferior à do ano anterior. O<br />

G2P4, in<strong>de</strong>tectável em 2006, passou a ocupar o segundo<br />

lugar, confirmando-se que os tipos predominantes numa<br />

região po<strong>de</strong>m mostrar flutuações anuais importantes.<br />

As actuais vacinas são eficazes para os genótipos i<strong>de</strong>nti -<br />

ficados.<br />

O conhecimento da variabilida<strong>de</strong> da distribuição <strong>de</strong> genótipos<br />

nos diversos países e em diferentes períodos epidémicos,<br />

reforça a necessida<strong>de</strong> da monitorização futura, fundamental<br />

para a implementação <strong>de</strong> estratégias vacinais, avaliação da<br />

efectivida<strong>de</strong> da vacina e vigilância da emergência <strong>de</strong> novos<br />

genótipos diferentes dos incluídos nas vacinas.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Miren Iturriza-Gómara e Jim Gray - Vírus Reference Depart -<br />

ment, Health Protection Agency, London; Enfermeiras do<br />

Serviço <strong>de</strong> Urgência do Hospital <strong>Ped</strong>iátrico; Serviço <strong>de</strong> Bio -<br />

quí mica do Hospital <strong>Ped</strong>iátrico; Sanofi Pasteur MSD.<br />

95


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):93-6 Rodrigues F et al – Flutuação temporal dos genótipos <strong>de</strong> rotavírus<br />

96<br />

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11-22.


0873-9781/08/39-3/97<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

Instituições particulares <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> social (IPSS): como andamos <strong>de</strong><br />

creches num concelho <strong>de</strong> Portugal?<br />

Marta Parada 1 , Teresa Velosa 2 , Anabela Ribeiro 3 , Dulce Seabra 4<br />

1 - Serviço <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria do Hospital <strong>de</strong> Santo André, Leiria<br />

2 - Centro <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Aveiro<br />

3 - Centro <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Aveiro, Serviço <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública<br />

4 - Centro <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Aveiro, Serviço <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública<br />

Resumo<br />

Contexto. Creche é um estabelecimento que acolhe cinco ou<br />

mais crianças entre os três meses e os três anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e<br />

Instituição Particular <strong>de</strong> Solidarieda<strong>de</strong> Social (IPSS) uma instituição<br />

em que existe cooperação entre Estado e entida<strong>de</strong> privada,<br />

sendo o pagamento <strong>de</strong> acordo com os rendimentos.<br />

Objectivo. I<strong>de</strong>ntificar e caracterizar as creches IPSS <strong>de</strong> um<br />

concelho, i<strong>de</strong>ntificar problemas e contribuir para a melhoria<br />

do funcionamento.<br />

Material e Métodos. Estudo transversal entre Outubro 2005<br />

e Janeiro 2006 em que se utilizou um formulário adaptado do<br />

Guião Técnico nº4 da Direcção Geral <strong>de</strong> Acção Social com o<br />

intuito <strong>de</strong> avaliar as condições <strong>de</strong> instalação e funcionamento<br />

das creches. Foi elaborada uma classificação por variável<br />

(baseada no preenchimento <strong>de</strong> itens) e a partir <strong>de</strong>sta obteve-se<br />

uma classificação por creche.<br />

Resultados. Dum total <strong>de</strong> quinze creches, em 50% não existiam<br />

portas <strong>de</strong> emergência a abrir para o exterior, foi ultrapassado<br />

o número <strong>de</strong> crianças admitido no berçário, as salas-parque<br />

não tinham área suficiente, foi ultrapassado o número <strong>de</strong><br />

crianças admitido na sala <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s, não foi cumprida a<br />

área por criança na sala dos 24 meses-36 meses, não foi respeitado<br />

o ratio <strong>de</strong> sanitas no grupo ≥ 24 meses e foram encontrados<br />

alimentos ou equipamentos mal confeccionados ou mal<br />

higienizados. Em 75% não existia área <strong>de</strong> isolamento. Em<br />

87% não se cumpria o ratio <strong>de</strong> número <strong>de</strong> crianças por educadora.<br />

Uma creche obteve a classificação <strong>de</strong> Muito Boa, cinco<br />

com classificação Boa, cinco com classificação Razoável e<br />

quatro creches com classificação Má.<br />

Discussão. Apesar do pequeno número <strong>de</strong> creches com classificação<br />

“Má” e <strong>de</strong> a maioria ter classificação entre “Ra -<br />

zoável” a “ Boa “, observaram-se alguns factos negativos com<br />

implicação no <strong>de</strong>senvolvimento, saú<strong>de</strong> e segurança das crianças.<br />

Para todas as creches foi enviado um auto <strong>de</strong> vistoria,<br />

Recebido: 17.10.2007<br />

Aceite: 26.05.2008<br />

reforçando aspectos positivos, enumerando <strong>de</strong>ficiências e<br />

propondo alterações.<br />

Palavras-Chave: creches, profissionais, higiene, segurança.<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008;39(3):97-101<br />

Private institutions of social solidariety: how are<br />

we doing with day care centres in a council of<br />

Portugal?<br />

Abstract<br />

Background. Nursery, establishment that takes in five or<br />

more children with ages ranging from three months to three<br />

years, is a place where children stay while their parents are<br />

not present. Private Institution of Social Solidarity is an institution<br />

where there is cooperation between the State and a private<br />

entity, and monthly fees <strong>de</strong>pend on family revenues.<br />

Aims. To i<strong>de</strong>ntify this kind of nurseries within a region, their<br />

general characterization and main problems, in an attempt to<br />

contribute towards the improvement of their inner workings.<br />

Material and Methods. A transverse study was conducted<br />

between October 2005 and January 2006. In or<strong>de</strong>r to obtain<br />

the necessary data was used an “Evaluation Form” adapted<br />

from the Technical Gui<strong>de</strong> nº 4 of the DGAS (Directorate<br />

General of Social Assistance).<br />

Results. There was a total of fifteen nurseries; 50% had no<br />

emergency doors towards the exterior, the number of admitted<br />

children from zero to twelve months was superior to the norm,<br />

the playing rooms didn’t have enough area, the number of<br />

children in the activity rooms was superior to the norm, the<br />

area per child aged 24 months to 36 months was not big<br />

enough, the ratio of one toilet for each five children over 24<br />

months wasn’t respected, and ina<strong>de</strong>quately cooked meals<br />

were found; 75% of the nurseries had no isolation room; 87%<br />

Correspondência:<br />

Marta Parada<br />

Travessa <strong>de</strong> São Roque, nº 8<br />

3800-258 Aveiro<br />

marta_parada@sapo.pt<br />

ARTIGO ORIGINAL<br />

97


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):97-101 Parada M et al – Creches IPSS <strong>de</strong> um concelho <strong>de</strong> Portugal<br />

didn’t comply with the ratio of one nursery nurse per group of<br />

children. The classification given to the nurseries was Very<br />

Good (one), Good (five), Sufficient (five), and Bad (four).<br />

Discussion. Overall, the classification was positive (only four<br />

“Bad” nurseries, and the majority “Sufficient” or “Good”).<br />

Even so, there were some negative aspects that have an<br />

influen ce on the <strong>de</strong>velopment, health and safety of children.<br />

All nurseries received a report on the positive and negative<br />

aspects and where changes were suggested.<br />

Key-words: nurseries, nursery nurses, health, safety.<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008;39(3):97-101<br />

Introdução<br />

A predisposição que uma criança tem para estabelecer laços<br />

afectivos fortes com os seus pais (ou outros substitutos) é uma<br />

característica fundamental da natureza humana. Todos sabemos<br />

que, pelas circunstâncias da maior parte das vidas, esses<br />

laços são, cada vez mais precocemente, forçados a estabelecerem-se<br />

com pessoas estranhas à família e ao bebé e em espaços<br />

físicos <strong>de</strong>sconhecidos.<br />

Durante a gravi<strong>de</strong>z, os pais <strong>de</strong>param-se na maior parte das<br />

vezes com a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha do local on<strong>de</strong> irão <strong>de</strong>ixar<br />

o seu filho após terminar a licença parental. Desconhecem as<br />

condições ambientais e <strong>de</strong> segurança existentes, a formação<br />

do pessoal, as normas <strong>de</strong> higiene praticadas e, muitas vezes<br />

sem saber, são impelidos, sob pena <strong>de</strong> não encontrarem vaga,<br />

a aceitar a primeira creche que encontram, na angústia constante<br />

<strong>de</strong> saber se os seus filhos serão ou não bem cuidados.<br />

Se a realida<strong>de</strong> coincidisse com as leis ditadas, as creches proporcionariam<br />

o atendimento individualizado da criança num<br />

clima <strong>de</strong> segurança afectiva e física que contribuiria para o<br />

seu <strong>de</strong>senvolvimento global. Por outro lado, existiria uma<br />

colaboração estreita com a família, numa partilha <strong>de</strong> cuidados<br />

e responsabilida<strong>de</strong>s, assim como no <strong>de</strong>spiste precoce <strong>de</strong> qualquer<br />

inadaptação ou <strong>de</strong>ficiência1 .<br />

Mas sabemos que nem sempre isso acontece, como pu<strong>de</strong>mos<br />

constatar em alguns trabalhos publicados, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong><br />

que muito há a fazer na área da segurança e higiene, que existe<br />

falta <strong>de</strong> pessoal especializado, entre outros incumprimentos2-4 .<br />

Define-se creche como o estabelecimento que acolhe cinco ou<br />

mais crianças entre os três meses e os três anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e<br />

Instituição Particular <strong>de</strong> Solidarieda<strong>de</strong> Social (IPSS), uma<br />

instituição em que existe uma cooperação entre o Estado e<br />

uma entida<strong>de</strong> privada e on<strong>de</strong> os utentes pagam <strong>de</strong> acordo com<br />

os seus rendimentos.<br />

O licenciamento, acompanhamento e fiscalização das creches<br />

está a cargo do Ministério da Solidarieda<strong>de</strong> e Segurança<br />

Social que por sua vez solicita, <strong>de</strong> acordo com as necessida<strong>de</strong>s,<br />

a intervenção dos serviços competentes <strong>de</strong> outros ministérios<br />

no que diz respeito nomeadamente às condições <strong>de</strong><br />

salubrida<strong>de</strong> e segurança, acondicionamento <strong>de</strong> géneros alimentícios<br />

e cuidados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>5 .<br />

A iniciativa da realização <strong>de</strong>ste trabalho surgiu durante o estágio<br />

<strong>de</strong> Cuidados <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Primários em <strong>Ped</strong>iatria, do Inter na -<br />

98<br />

to Complementar <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria, no âmbito do Programa <strong>de</strong> Ava -<br />

liação das Condições Estruturais <strong>de</strong> Higiene e Segurança das<br />

Cre ches e do Programa <strong>de</strong> Higiene e da Qualida<strong>de</strong> Ali men tar<br />

do Serviço <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública. Os objectivos foram a i<strong>de</strong>n ti fi ca -<br />

ção das creches IPSS do concelho, a sua caracterização em termos<br />

gerais, a i<strong>de</strong>ntificação dos seus principais problemas e a<br />

con tribuição para a melhoria do seu funcionamento.<br />

Material e métodos<br />

Foi efectuado um estudo transversal a todas as creches IPSS<br />

do Concelho, tendo sido i<strong>de</strong>ntificado um total <strong>de</strong> 15 creches.<br />

As creches foram visitadas sem aviso prévio, entre Outubro<br />

<strong>de</strong> 2005 e Janeiro <strong>de</strong> 2006, por uma equipe constituída por<br />

uma médica interna <strong>de</strong> pediatria, uma médica interna <strong>de</strong> medicina<br />

geral e familiar e uma técnica <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ambiental.<br />

Os autores elaboram uma “Grelha <strong>de</strong> Avaliação” a partir <strong>de</strong><br />

alguns dos parâmetros constantes do Guião Técnico nº4 <strong>de</strong><br />

1996, da Direcção Geral da Acção Social, que <strong>de</strong>termina as<br />

condições <strong>de</strong> implantação, instalação, localização e funcionamento<br />

das creches IPSS. Foram também recolhidos dados<br />

relativos à alimentação, nomeadamente pela colheita <strong>de</strong><br />

amostras para avaliação microbiológica dos alimentos e dos<br />

equipamentos.<br />

Na grelha <strong>de</strong> avaliação os parâmetros avaliados foram traduzidos<br />

em variáveis e seus respectivos itens (Anexo).<br />

Cada variável obteve classificação Boa, Razoável ou Má,<br />

con soante preenchia:<br />

• Pelo menos 75% dos itens – Boa<br />

• De 50% a 74% dos itens – Razoável<br />

• Menos <strong>de</strong> 50% <strong>de</strong> itens – Má<br />

Nos casos em que só existiam dois itens, consi<strong>de</strong>rou-se que a<br />

classificação era BOA se os dois itens estivessem presentes e<br />

MÁ quando apenas um dos itens estava presente, não exis -<br />

tindo, neste caso, classificação Razoável.<br />

Cada creche foi posteriormente classificada em Muito Boa,<br />

Boa, Razoável ou Má, tendo em conta a classificação obtida<br />

para as diferentes variáveis (Quadro I).<br />

Quadro I – Critérios <strong>de</strong> classificação das creches estudadas.<br />

Má Razoável Boa Muito Boa<br />

≥ 2 variáveis Má ≤ 1 variável Má ≤ 1 variável Má Nenhuma variável Má<br />

e/ ou e e e<br />

≤ 4 variáveis Boa ≥ 5 variáveis Boa ≥ 12 variáveis Boa ≥ 12 variáveis Boa<br />

e<br />

todas as variáveis* Boa<br />

Resultados<br />

Avaliámos um total <strong>de</strong> quinze creches. O número <strong>de</strong> crianças<br />

por creche variou entre um mínimo <strong>de</strong> 21 e um máximo <strong>de</strong> 90,<br />

com uma média <strong>de</strong> 45 crianças por creche.


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):97-101 Parada M et al – Creches IPSS <strong>de</strong> um concelho <strong>de</strong> Portugal<br />

Da classificação obtida para cada variável (Quadro II) <strong>de</strong>stacam-se<br />

os seguintes dados: todas as creches tiveram classificação<br />

Boa em relação à Localização e Cozinha/Copa <strong>de</strong> Leite.<br />

Mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> das creches tiveram classificação Boa nas<br />

restantes variáveis, à excepção da Alimentação (apenas 47%<br />

das creches com classificação Boa) e da Sala <strong>de</strong> Activida<strong>de</strong>s<br />

(somente 20 % das creches com classificação Boa). Mais <strong>de</strong><br />

80% teve classificação Boa nas variáveis Sala <strong>de</strong> Refeições,<br />

Gabinetes /Outras Áreas, Espaço <strong>de</strong> Repouso e Mobiliá -<br />

rio/Equi pamento. Quanto a aspectos positivos encontrados na<br />

<strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> cada item, a referir que todas as creches tinham<br />

dieta variada e dieta especial se requerida e todas elas apresentavam<br />

programas <strong>de</strong> higiene, limpeza e <strong>de</strong>sinfecção do<br />

material.<br />

Quadro II – Resultados obtidos da classificação das creches por<br />

variável (nº <strong>de</strong> creches).<br />

Variável Boa<br />

Classificação<br />

Razoável Má<br />

Localização 15 - -<br />

Plano Emergência 10 4 1<br />

Berçário 9 3 3<br />

Salas Activida<strong>de</strong>s 3 6 6<br />

Espaço Repouso 13 - 2<br />

Sala Refeições 14 - 1<br />

Instalações Sanitárias 9 5 1<br />

Cozinha/ Copa leites 15 - -<br />

Gabinetes/ outras áreas 14 1 -<br />

Área exterior 11 - 4<br />

Condições Ambientais 10 4 1<br />

Mobiliário/ Equipamento 12 3 -<br />

Alimentação 7 8 -<br />

Saú<strong>de</strong> e higiene 10 5 -<br />

Pessoal 11 4 -<br />

Duas creches (13%) dispunham <strong>de</strong> sapatos <strong>de</strong>scartáveis para<br />

entrada no berçário e outras duas dispunham <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>iras ergonómicas<br />

e anti-queda.<br />

Numa creche estava a ser elaborado um plano <strong>de</strong> emergência<br />

em colaboração com os bombeiros locais e noutra estava insta -<br />

lado um sistema <strong>de</strong> iluminação “amigo do ambiente”. A relatar<br />

uma creche com sala específica para amamentação e uma<br />

outra com sanitários a<strong>de</strong>quados a crianças com <strong>de</strong>ficiência.<br />

Como pontos negativos salientam-se três creches (20%) sem<br />

o sistema eléctrico protegido e cinco creches (33%) com produtos<br />

<strong>de</strong> limpeza ao alcance das crianças. Em sete creches<br />

(47%) o número <strong>de</strong> crianças era superior ao admitido por sala,<br />

no berçário, e também em número <strong>de</strong> sete foram os estabelecimentos<br />

em que não foram encontradas portas <strong>de</strong> emergência<br />

a abrir para o exterior. Foram <strong>de</strong>tectados alimentos mal confeccionados<br />

e <strong>de</strong>sa<strong>de</strong>quados qualitativamente e/ou equipamentos<br />

mal higienizados, em sete creches (47%). Em oito<br />

(53%) <strong>de</strong>stas instituições as salas parque não tinham área suficiente<br />

e, no mesmo número, foi ultrapassado o número <strong>de</strong><br />

crianças admitido na sala <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s, assim como não foi<br />

cumprida a área estipulada por crianças na sala dos 24 aos 36<br />

meses. Também em oito (53%) estabelecimentos não foi res-<br />

peitado o ratio <strong>de</strong> uma sanita para cada cinco crianças com<br />

ida<strong>de</strong> superior ou igual a dois anos. Em sete (64%) das onze<br />

copas <strong>de</strong> leite encontradas, existia fogão a gás. Em onze creches<br />

(73%) não existia área <strong>de</strong> isolamento e em treze creches<br />

(87%) não se cumpria o ratio <strong>de</strong> um educador por grupo <strong>de</strong><br />

crianças.<br />

Na classificação final das quinze creches, obteve-se uma creche<br />

(7%) com classificação Muito Boa, cinco creches (33%)<br />

com classificação Boa, cinco creches (33%) com classificação<br />

Razoável e quatro creches (24%) com classificação Má<br />

(Figura 1).<br />

Discussão<br />

I<strong>de</strong>ntificámos um total <strong>de</strong> 15 creches IPSS, todas elas <strong>de</strong>vidamente<br />

reconhecidas pelo Serviço <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública do Centro<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e algumas já visitadas anteriormente por elementos<br />

<strong>de</strong>ste mesmo Serviço em acções fiscalizadoras <strong>de</strong> outros<br />

âmbitos.<br />

Em cerca <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> das creches não foram cumpridos itens<br />

como portas <strong>de</strong> emergência a abrir para o exterior, número <strong>de</strong><br />

crianças admitidas por sala no berçário, área das salas parque,<br />

número <strong>de</strong> crianças admitidas na sala <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s, área estipulada<br />

por criança na sala dos 24-36 meses, ratio <strong>de</strong> uma sanita<br />

para cinco crianças com ida<strong>de</strong> ≥24 meses, critérios <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

microbiológica (alimentos e/ou equipamentos), factos<br />

que consi<strong>de</strong>ramos preocupantes pela extrema relevância e<br />

impacto que po<strong>de</strong>m ter na saú<strong>de</strong>, bem-estar e segurança das<br />

crianças, salientando-se sobretudo os que dizem respeito ao<br />

não cumprimento das áreas e do número <strong>de</strong> crianças admitidas<br />

por sala. Como sabemos, existe um risco epidémico acrescido<br />

quando um número <strong>de</strong> crianças superior ao estipulado<br />

permanece num mesmo espaço. Para além disso, e agravado<br />

pelas áreas insuficientes, o espaço para brincar é posto em<br />

causa, sob pena <strong>de</strong> por si só, implicar a limitação <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas<br />

activida<strong>de</strong>s (exploratória, lúdica, <strong>de</strong>senvolvimento mo -<br />

tor), condicionando <strong>de</strong>ste modo o <strong>de</strong>senvolvimento a<strong>de</strong>quado<br />

da criança.<br />

Apesar <strong>de</strong>, a partir das normas em vigor, não ser obrigatória a<br />

existência <strong>de</strong> copas <strong>de</strong> leite, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que existam cozinhas equipadas<br />

para o efeito, encontraram-se onze copas <strong>de</strong> leite. Este<br />

facto seria <strong>de</strong> interesse relevante se em sete <strong>de</strong>las não tivéssemos<br />

encontrado fogões a gás.<br />

Infelizmente em onze creches (75%) concluímos não existir a<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> isolar em local a<strong>de</strong>quado as crianças que<br />

adoecem na instituição, situação que sabemos po<strong>de</strong>r colocar<br />

em risco quer a saú<strong>de</strong> da criança em causa quer a dos seus contactos.<br />

E mesmo nas instituições em que este espaço existe,<br />

pareceu-nos que o seu maior fim ainda está longe <strong>de</strong> ser alcançado,<br />

já que muitos pais levam os seus filhos já doentes para o<br />

infantário (pelo risco <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r o emprego pelas faltas sucessivas),<br />

especialmente em períodos epidémicos em que são mais<br />

as crianças doentes do que as sem doença, entran do-se assim<br />

num ciclo vicioso <strong>de</strong> contágios, e tornando este tipo <strong>de</strong> isolamento<br />

incomportável. Sabemos no entanto, embora não tenha<br />

sido quantificado neste estudo, que a maioria das creches (teoricamente?)<br />

não aceita crianças previamente doentes.<br />

99


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):97-101 Parada M et al – Creches IPSS <strong>de</strong> um concelho <strong>de</strong> Portugal<br />

Por fim, mas não <strong>de</strong> somenos importância, observou-se <strong>de</strong><br />

forma gritante um número reduzidíssimo <strong>de</strong> profissionais<br />

especializados na área da educação, a prestar cuidados personalizados<br />

a estas crianças. Como pu<strong>de</strong>mos constatar nos<br />

dados obtidos, em treze creches (87%), não existia uma educadora<br />

por cada grupo <strong>de</strong> crianças. Dada a relevância que a<br />

educadora apresenta como garante da estimulação do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da criança e sua monitorização, consi<strong>de</strong>ramos<br />

imperativo o cumprimento <strong>de</strong>sta norma.<br />

A partir dos critérios adoptados obtivemos um pequeno número<br />

<strong>de</strong> creches com classificação “Má”, sendo que a maioria<br />

das creches obteve classificação “Razoável” a “Muito Boa”, o<br />

que se consi<strong>de</strong>ra bastante positivo.<br />

Para todas as creches foi enviado um relatório do auto <strong>de</strong> vistoria,<br />

no âmbito dos programas <strong>de</strong> vigilância <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Públi -<br />

ca, reforçando os aspectos positivos, enumerando as <strong>de</strong>ficiências<br />

encontradas, propondo alterações para as mesmas e, sempre<br />

que necessário impondo um prazo para as correcções<br />

urgentes, como foi o caso <strong>de</strong> uma creche em que existia um<br />

fogão a gás num dormitório e nesse mesmo dormitório uma<br />

escada sem cancela <strong>de</strong> protecção.<br />

De facto, após avaliados os resultados <strong>de</strong>ste estudo, po<strong>de</strong>mos<br />

afirmar que é inaceitável que em 2006 as normas <strong>de</strong> instalação<br />

das creches sejam regulamentadas por um <strong>de</strong>spacho normativo<br />

<strong>de</strong> 1989 e que a avaliação continue a ser orientada por<br />

um guião técnico datado <strong>de</strong> há mais <strong>de</strong> uma década atrás.<br />

Afinal como po<strong>de</strong>mos apelidar-nos <strong>de</strong> país <strong>de</strong>senvolvido<br />

quando permitimos que os nossos filhos passem dias inteiros<br />

em salas pequenas, superlotadas e sem educadoras, sem exigir<br />

que alguma coisa mu<strong>de</strong>? O que é facto é que infelizmente<br />

já lá vai o “tempo dos avós” em que as crianças até aos três<br />

anos podiam criar a sua imunida<strong>de</strong> sem gran<strong>de</strong> morbilida<strong>de</strong>,<br />

permanecendo protegidas dos “bichos maus” e expostas aos<br />

“bichos bons”. Agora, porque os tempos são outros e as condições<br />

<strong>de</strong> vida mudaram, há cada vez mais candidatos para<br />

frequentar creches e por isso há que tornar esse espaço, o mais<br />

agradável possível. Por exemplo na Ma<strong>de</strong>ira, face à necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> reformulação do estatuto das creches <strong>de</strong> modo a<br />

enquadrá-lo à realida<strong>de</strong> vigente, foi elaborado uma Portaria<br />

(nº127/2006) 6 que revoga a portaria nº 148/96 <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> Setem -<br />

bro, on<strong>de</strong> se encontram alterações nomeadamente no aumento<br />

das áreas das salas e no número <strong>de</strong> crianças admitidos por<br />

sala, atitu<strong>de</strong> que consi<strong>de</strong>ramos <strong>de</strong> extrema importância já que,<br />

para além da melhoria das creches feitas <strong>de</strong> raiz, exige às creches<br />

já existentes que procedam às adaptações necessárias<br />

fornecendo-lhes apoio para tal.<br />

Em 2006 o Governo apresentou um Programa <strong>de</strong> Alarga -<br />

mento da Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Equipamentos Sociais (PARES) on<strong>de</strong>, entre<br />

outros objectivos figura o <strong>de</strong> “apoiar os jovens casais e as suas<br />

crianças, aumentando em 50% o número <strong>de</strong> lugares em cre-<br />

100<br />

ches” 7 . E neste sentido já estão em curso algumas obras <strong>de</strong><br />

creches cujas candidaturas foram aceites. Valeria a pena,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, nesta que parece preten<strong>de</strong>r ser uma revolução social,<br />

proce<strong>de</strong>r à reformulação da Legislação existente, que nos<br />

parece carenciada, e pensando na construção <strong>de</strong> mais creches,<br />

que estas tenham também melhores condições <strong>de</strong> instalação e<br />

funcionamento.<br />

Já em relação à fiscalização o que achamos imperativo é que<br />

esta se faça <strong>de</strong> forma regular, responsável e imparcial, quer<br />

em re la ção às creches existentes, em que sugerimos que sejam<br />

propor cionadas verbas para alterações propostas, bem como<br />

prazos para o seu cumprimento, quer para as creches em<br />

constru ção, em que a fiscalização <strong>de</strong>ve ser o mais rigorosa<br />

possível para que <strong>de</strong> futuro se poupem verbas na sua reestruturação,<br />

ou que tenhamos as nossas crianças em espaços <strong>de</strong>sa<strong>de</strong>quados<br />

às suas necessida<strong>de</strong>s.<br />

Em relação à contratação <strong>de</strong> pessoal especializado, nomeadamente<br />

educadores <strong>de</strong> infância, consi<strong>de</strong>ramos <strong>de</strong> importância<br />

vital, sob pena <strong>de</strong> estes espaços, em vez <strong>de</strong> permitirem que as<br />

nossas crianças cresçam física, intelectual e emocionalmente<br />

saudáveis, passem apenas a ser <strong>de</strong>positários on<strong>de</strong> o potencial<br />

<strong>de</strong> cada umas <strong>de</strong>stas crianças não é assumidamente estimu -<br />

lado e <strong>de</strong>senvolvido.<br />

Com este estudo preten<strong>de</strong>mos contribuir para melhorar a realida<strong>de</strong><br />

existente, porque o futuro é mesmo das crianças, e os<br />

seus anos <strong>de</strong> ouro são aqueles que elas nem sempre lembram<br />

mas que as marcam <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>lével para o resto da sua<br />

vida.<br />

Referências<br />

1. Pinto da Rocha MB, Couceiro ME, Reis Ma<strong>de</strong>ira MI. Creche (Con di -<br />

ções <strong>de</strong> implantação, localização, instalação e funcionamento).<br />

Guiões Técnicos da Direcção Geral <strong>de</strong> Acção Social, Dezembro 1996;<br />

1-20.<br />

2. Veiga C, Passadouro R. Que creches frequentam as nossas crianças?<br />

Saú<strong>de</strong> Infantil 2002; 24(2);37-42.<br />

3. Mudar é preciso. Revista Proteste 2001;216:6-11.<br />

4. Lemos S, Vasconcelos M, Silva T, Marinheiro P, Fernan<strong>de</strong>s L, Marca<br />

MP. “Risco” espreita nas creches e jardins-<strong>de</strong>-infância. Saú<strong>de</strong> Infantil<br />

2004;26(2):5-12.<br />

5. Decreto-Lei nº 30/89. Diário da República – I série nº 24 <strong>de</strong> 24-1-1989.<br />

6. Portaria nº 127/2006. Regime <strong>de</strong> Funcionamento das Creches e Jar -<br />

dins <strong>de</strong> Infância. Região Autónoma da Ma<strong>de</strong>ira. http://www.spliuma<strong>de</strong>ira.org/Port127-2006.pdf.<br />

7. Programa <strong>de</strong> Alargamento da Re<strong>de</strong> Equipamentos Sociais (PARES),<br />

2006. http://www.portugal.gov.pt/Portal/PT/Governos/Gover -<br />

nos_Constitucionais/GC17/Ministerios/MTSS/Comunicacao/Programas_e_Dossiers/20060311_MTSS_Prog_PARES.htm.


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):97-101 Parada M et al – Creches IPSS <strong>de</strong> um concelho <strong>de</strong> Portugal<br />

Anexo - Ficha <strong>de</strong> avaliação das condições <strong>de</strong> segurança, saú<strong>de</strong> e higiene das creches IPSS. (*) assinala as<br />

variáveis cujo cumprimento dos respectivos itens é consi<strong>de</strong>rado imprescindível à classificação <strong>de</strong> uma creche como<br />

“Muito Boa”.<br />

Variável Itens avaliados<br />

Localização Zona habitacional, fácil acesso, boa exposição solar, iluminação natural, afastada<br />

<strong>de</strong> zonas industriais poluentes/ ruidosas/ insalubres, arejamento natural nas salas<br />

<strong>de</strong> permanência das crianças, arejamento natural ou ventilação forçada na cozinha,<br />

biblioteca e lavandaria,<br />

Plano <strong>de</strong> emergência* Creche ocupa só o R/C ou R/C e 2º piso e se existir cave esta <strong>de</strong>stina-se exclusivamente<br />

a serviços <strong>de</strong> apoio, pelo menos uma saída directa para o exterior por<br />

piso, saídas <strong>de</strong> emergência adicionais, extintores, caminhos <strong>de</strong> evacuação<br />

<strong>de</strong>sobstruídos, portas <strong>de</strong> emergência a abrir na direcção <strong>de</strong> saída.<br />

Berçário* Divisória envidraçada; Sala <strong>de</strong> Berços (máximo <strong>de</strong> 8 crianças por sala, área mínima<br />

<strong>de</strong> 2 m2 por criança, obscurecimento, distribuição <strong>de</strong> berços com fácil acesso<br />

do pessoal); Sala <strong>de</strong> Parque (área mínima <strong>de</strong> 2 m2 por criança, bancada com<br />

tampo almofadado, banheira incorporada na bancada, água quente e fria, misturadora,<br />

arrumos produtos higiene, prateleiras <strong>de</strong> roupa).<br />

Salas <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s* Se crianças


0873-9781/08/39-3/102<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria CASUÍSTICA<br />

Hipopituitarismo congénito e colestase neonatal<br />

Carla Maia, Carla Veiga, Alice Mirante, Isabel Gonçalves<br />

Hospital <strong>Ped</strong>iátrico <strong>de</strong> Coimbra<br />

Resumo<br />

O hipopituitarismo congénito é uma causa rara, mas tratável,<br />

<strong>de</strong> colestase neonatal. O diagnóstico <strong>de</strong>ve ser evocado perante<br />

a seguinte combinação: colestase, hipoglicémia, micropénis<br />

e dismorfismos faciais da linha média. Descrevem-se cinco<br />

casos referenciados por colestase neonatal cujo diagnóstico<br />

final foi hipopituitarismo congénito. A mediana da ida<strong>de</strong> na<br />

altura do diagnóstico foi <strong>de</strong> um mês e meio (doze dias a quatro<br />

meses). Quatro crianças eram do sexo masculino e todos<br />

os rapazes apresentavam micropénis. Todos tiveram pelo<br />

menos um episódio <strong>de</strong> hipoglicémia sintomática no período<br />

neonatal precoce e todos apresentaram colestase com início<br />

na primeira semana <strong>de</strong> vida. A mediana da bilirrubina total, da<br />

alanina aminotransferase (ALT) e da gama-glutamil trans -<br />

ferase (GGT), na data da admissão, foi <strong>de</strong> 156 μmol/L, 58 e<br />

74 UI/L respectivamente. Os doseamentos hormonais, em<br />

hipoglicémia, revelaram insuficiência <strong>de</strong> cortisol e hormona<br />

<strong>de</strong> crescimento em todos os casos. As hormonas tiroi<strong>de</strong>ias<br />

estavam diminuídas em quatro casos. A ressonância magné -<br />

tica crânio – encefálica foi anormal em todos, sendo a hipo -<br />

plasia da haste pituitária a alteração mais frequente. O tratamento<br />

com hidrocortisona, hormona <strong>de</strong> crescimento e tiro xina<br />

conduziu a melhoria progressiva das alterações hepáticas em<br />

4-6 semanas.<br />

Palavras-chave: colestase neonatal, hipopituitarismo, hipoglicémia,<br />

micropénis, dismorfismos faciais.<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008;39(3):102-5<br />

Congenital hypopituitarism and neonatal<br />

cholestasis<br />

Abstract<br />

Congenital hypopituitarism is an unusual cause of cholestasis<br />

in the neonate. The clinical diagnosis can be suspected when<br />

the following combination is present: cholestasis, hypogly -<br />

cemia, microphallus and facial dysmorphic features. We<br />

report five cases of children referred for investigation of<br />

neonatal cholestasis and who were subsequently found to<br />

Recebido: 11.02.2007<br />

Aceite: 26.05.2008<br />

102<br />

have hypopituitarism. The median age at diagnosis was 1,5<br />

months (twelve days to four months). Four children were<br />

male and all had microphallus. All patients had at least one<br />

episo<strong>de</strong> of symptomatic hypoglycemia in the first days of life<br />

and cholestasis was noticed in the first week. At admission<br />

mean total bilirrubin levels, ALT and GGT were: 156 μmol/L,<br />

58 and 74 UI/L. Low levels of cortisol and growth hormone,<br />

during episo<strong>de</strong>s of hypoglycemia, were <strong>de</strong>monstrated in all.<br />

Four patients had low thyroid hormones levels. Brain magne -<br />

tic ressonance was abnormal in all, with pituitary gland stalk<br />

hypoplasia being the most frequently reported. The treatment<br />

with hydrocortisone, growth-hormone and thyroxine impro -<br />

ved liver disease within 4-6 weeks.<br />

Key-words: neonatal cholestasis, hypopituitarism, hypoglycemia,<br />

microphallus, facial dysmorphic features.<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008;39(3):102-5<br />

Introdução<br />

O hipopituitarismo congénito é uma causa rara <strong>de</strong> colestase<br />

neonatal, representando menos <strong>de</strong> 1% das etiologias <strong>de</strong> colestase1<br />

. No entanto, 35% dos doentes com hipopituitarismo,<br />

diag nosticados no período neonatal, apresentam-se com<br />

colestase2 .<br />

A colestase é habitualmente mo<strong>de</strong>rada e a hipoglicémia<br />

frequen te e precoce3 . O diagnóstico <strong>de</strong> hipopituitarismo ba -<br />

seia-se na <strong>de</strong>monstração do défice parcial ou total na produção<br />

<strong>de</strong> hormonas hipofisárias4 .<br />

Estas alterações po<strong>de</strong>m acompanhar-se <strong>de</strong> malformações anatómicas<br />

das estruturas cerebrais da linha média (displasia<br />

septo-óptica) 5 - hipófise, nervos ópticos, corpo caloso e septum<br />

pellucidum, com um espectro variável, sendo possível<br />

nalguns casos traçar uma correlação genótipo-fenótipo4 .<br />

O hipopituitarismo é uma causa tratável <strong>de</strong> colestase, com<br />

melhoria da hepatopatia sob terapia hormonal <strong>de</strong> substituição.<br />

Os casos não tratados po<strong>de</strong>m evoluir para cirrose3 .<br />

O presente trabalho caracteriza os doentes com hipopitui -<br />

tarismo congénito que se apresentaram como colestase neo-<br />

Correspondência:<br />

Carla Maia<br />

Hospital <strong>Ped</strong>iátrico <strong>de</strong> Coimbra<br />

Avenida Bissaya Barreto<br />

3000 Coimbra<br />

239 480300<br />

carla.maia@iol.pt


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):102-5 Maia C et al – Hipopituitarismo congénito e colestase<br />

natal e alerta para as características clínicas que evocam o<br />

diagnóstico.<br />

Relato dos casos<br />

De Janeiro <strong>de</strong> 2000 a Dezembro <strong>de</strong> 2005 foram admitidos<br />

para investigação 27 casos <strong>de</strong> colestase neonatal, dos quais<br />

cinco tiveram o diagnóstico final <strong>de</strong> hipopituitarismo congénito.<br />

O Quadro I resume as suas características clínicas.<br />

Quatro crianças eram do sexo masculino e uma do sexo feminino,<br />

com ida<strong>de</strong>s, à data do diagnóstico, variando entre os<br />

doze dias e os quatro meses (mediana <strong>de</strong> mês e meio). Dois<br />

casos eram ex-prematuros e todos apresentavam um a<strong>de</strong> quado<br />

peso <strong>de</strong> nascimento. Em todos, documentou-se pelo menos<br />

um episódio <strong>de</strong> hipoglicémia sintomática no período neonatal<br />

precoce. Na sequência <strong>de</strong>sta hipoglicémia houve a suspeita<br />

clínica <strong>de</strong> sepsis e todos efectuaram antibioterapia endove -<br />

nosa. No entanto, apenas dois casos apresentaram hemoculturas<br />

positivas. Todos apresentaram icterícia com critérios <strong>de</strong><br />

fototerapia na primeira semana <strong>de</strong> vida. Em quatro casos foi<br />

documentada má progressão pon<strong>de</strong>ral.<br />

À observação todos apresentavam icterícia generalizada e<br />

hipotonia, os rapazes apresentavam micropénis e duas crianças<br />

apresentavam dismorfismos da linha média. A criança<br />

com maior <strong>de</strong>mora diagnóstica apresentava hepatoesplenomegália.<br />

Dois casos apresentavam alterações oculares. A<br />

<strong>de</strong>mora diagnóstica variou entre dois dias e quatro meses.<br />

Somente o caso dois foi referenciado com suspeita clínica <strong>de</strong><br />

hipopituitarismo.<br />

A retenção <strong>de</strong> bilirrubina é a alteração laboratorial pre -<br />

dominante, contrastando com a citólise relativamente mo<strong>de</strong>rada.<br />

Apenas uma criança apresentava GGT elevada. A<br />

Quadro I – Características clínicas dos casos estudados.<br />

mediana da bilirrubina total, ALT e GGT, na data da admissão,<br />

foi <strong>de</strong> 156 μmol/L, 58 e 74 UI/L respectivamente. Dois<br />

casos apresentavam coagulopatia (Quadro II). Todos apresentavam<br />

valores normais <strong>de</strong> amónia e lactatos.<br />

Em todos os casos, os doseamentos hormonais realizados em<br />

hipoglicémia mostraram valores anormalmente baixos <strong>de</strong> hormona<br />

<strong>de</strong> crescimento e <strong>de</strong> cortisol. Quatro casos apresentavam<br />

<strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> hormonas tiroi<strong>de</strong>ias. Na criança com<br />

maior <strong>de</strong>mora diagnóstica foram realizados vários doseamentos<br />

hormonais previamente ao diagnóstico, contudo nenhum<br />

em hipoglicémia.<br />

A ressonância magnética crânio-encefálica documentou em<br />

todos alterações da a<strong>de</strong>no-hipófise, neuro-hipófise e/ou haste<br />

pituitária. Dois casos apresentavam agenesia do septum pellucidum<br />

e três casos agenesia do corpo caloso.<br />

Confirmado o diagnóstico <strong>de</strong> hipopituitarismo, iniciou-se<br />

terapêutica <strong>de</strong> substituição hormonal. Todas as crianças iniciaram<br />

hidrocortisona (8 a 10 mg/m2 /dia, 2 id) e hormona <strong>de</strong><br />

crescimento (0,025 a 0,03 mg/Kg/dia). Quatro crianças iniciaram<br />

tiroxina (12,5 a 25 μg/dia). Os episódios <strong>de</strong> hipoglicémia<br />

<strong>de</strong>sapareceram com o tratamento hormonal <strong>de</strong> substituição.<br />

Paralelamente foi instituída terapêutica <strong>de</strong> suporte da colestase<br />

(suplementação <strong>de</strong> vitaminas lipossolúveis e sais biliares).<br />

Relativamente à coagulopatia, o doente com maior <strong>de</strong>mora<br />

diagnóstica apresentou um quadro <strong>de</strong> coagulopatia refractária<br />

à vitamina K, na <strong>de</strong>pendência do défice <strong>de</strong> hormonas tiroi<strong>de</strong>ias.<br />

Houve melhoria progressiva, com resolução da hepatopatia<br />

em todos, com uma mediana <strong>de</strong> dois meses (quinze dias - seis<br />

meses). A mediana do acompanhamento foi <strong>de</strong> 18 meses (mês<br />

e meio - cinco anos). Na data da última avaliação nenhum<br />

apresentava sinais <strong>de</strong> hepatopatia crónica.<br />

Caso/sexo Ida<strong>de</strong> Hipoglicémia Dismorfismos Micropénis Hepato/ Défice visual<br />

<strong>de</strong> Dx esplenomegália<br />

1 / 12 D + - + -/- -<br />

2 / 4,5 M + + + +/+ nistagmus<br />

3 / 2,5 M + - + -/- -<br />

4 / 1,5 M + + + -/- amaurose<br />

5 / 1,5 M + - -/- -<br />

D: dias; M: mês, Dx: diagnóstico; +: presente, -: ausente.<br />

Quadro II – Avaliação laboratorial dos casos estudados.<br />

Caso Brb T Brb D ALT AST GGT Coag T4 L TSH Cortisol* HC*<br />

(µmol/L) (µmol/L) (U/L) (U/L) (U/L) (0,8 – 1,9 (0,38–6,15 (>25 µg/dl) (>20 ng/ml)<br />

ng/dl) µUI/ml)<br />

1 371 96 43 56 599 - N N 2,7 3,7<br />

2 178 92 86 611 45 + 0,71 0,108 8,4 1,1<br />

3 124 61 58 135 74 + 0,76 4,77 < 1 2,6<br />

4 156 86 629 1410 54 - 0,74 7,2 < 1 6,0<br />

5 130 98 16 50 143 - 0,70 3,1 1 4,1<br />

Brb T: bilirrubina total; Brb D: bilirrubina directa; ALT: alanina aminotransferase; AST: aspartato aminotransferase; GGT: gama-glutamil transferase; Coag: coagulopatia;<br />

T4 L: T4 livre; TSH: thyroid stimulating hormone; HC: hormona <strong>de</strong> crescimento, N: normal; +: presente; -: ausente; * em hipoglicémia.<br />

103


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):102-5 Maia C et al – Hipopituitarismo congénito e colestase<br />

Discussão<br />

No período consi<strong>de</strong>rado, o hipopituitarismo congénito foi a<br />

causa <strong>de</strong> colestase em cerca <strong>de</strong> 17% do total <strong>de</strong> casos. Esta<br />

percentagem, superior à referida na literatura, po<strong>de</strong> justifi car-<br />

-se pelo facto <strong>de</strong> se tratar <strong>de</strong> um centro <strong>de</strong> referência em hepatologia<br />

que recebe casos referenciados <strong>de</strong> uma vasta área geográfica,<br />

previamente triados, bem como por um elevado índice<br />

<strong>de</strong> suspeição.<br />

Existem vários casos <strong>de</strong>scritos <strong>de</strong> hipopituitarismo, cuja for -<br />

ma <strong>de</strong> apresentação foi a colestase. A maior série encontrada<br />

foi <strong>de</strong>scrita por Spray e colaboradores. Descrevem doze crianças<br />

que se apresentaram para estudo <strong>de</strong> colestase neonatal.<br />

Nove receberam terapêutica hormonal substitutiva com resolução<br />

da colestase em seis semanas. Em duas houve melhoria<br />

espontânea. No entanto, numa criança em que o diagnóstico<br />

só foi feito aos cinco anos, a presença <strong>de</strong> cirrose <strong>de</strong>terminou<br />

a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transplante hepático3 .<br />

As características clínicas <strong>de</strong>scritas (hipoglicémia neonatal<br />

precoce, icterícia/colestase progressiva, micropénis nos rapazes,<br />

<strong>de</strong>feitos da linha média, hipotonia, dificulda<strong>de</strong>s ali men -<br />

tares e má progressão pon<strong>de</strong>ral) são a constelação nor mal -<br />

mente referida na literatura e <strong>de</strong>vem alertar para o diag nós -<br />

tico3, 6-9 .<br />

O diagnóstico confirma-se através dos doseamentos hormonais.<br />

Os doseamentos <strong>de</strong> hormona <strong>de</strong> crescimento e cortisol<br />

<strong>de</strong>vem ser realizados durante os episódios <strong>de</strong> hipoglicémia,<br />

pois só assim são interpretáveis e valorizáveis3,8 . As hipoglicémias<br />

são frequentes e ocorrem com jejum curto. São diagnósticos<br />

valores <strong>de</strong> hormona <strong>de</strong> crescimento


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):102-5 Maia C et al – Hipopituitarismo congénito e colestase<br />

5. Fahnehjelm KT, Fischler B, Jacobson L, Nemeth A. Optic nerve<br />

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Dres<strong>de</strong>n. Paris: ESPGHAN; 2006. p.11.<br />

105


0873-9781/08/39-3/106<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria CASUÍSTICA<br />

A evolução do refluxo vesico-ureteral com diagnóstico perinatal<br />

Henrique Leitão 1 , António Jorge Correia 2 , Clara Gomes 2 , Oliveira Simões 2 , Vitor Rolo 2 , Gabriela Mimoso 3 , Conceição Ramos 3<br />

1 - Hospital Central do Funchal<br />

2 - Hospital <strong>Ped</strong>iátrico <strong>de</strong> Coimbra<br />

3 - Maternida<strong>de</strong> Bissaya Barreto, Coimbra<br />

Resumo<br />

Objectivo. Avaliar a evolução e tratamento do refluxo vesico-<br />

-ureteral congénito (RVU) em recém-nascido ou lactente com<br />

diagnóstico pré-natal <strong>de</strong> anomalia nefro-urológica.<br />

Métodos. Estudo <strong>de</strong> coortes históricas <strong>de</strong> crianças com o<br />

diagnóstico perinatal <strong>de</strong> RVU, nascidas numa maternida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

apoio perinatal diferenciado da Região Centro do País, entre<br />

1993 e 2002, e posteriormente acompanhadas no hospital<br />

pediátrico <strong>de</strong> referência da mesma Região. Dividimos as<br />

crianças em duas coortes, aquelas que efectuaram tratamento<br />

cirúrgico e aquelas em que foi <strong>de</strong>cidido manter vigilância.<br />

Para cada coorte (se aplicável) avaliámos: sexo, o tipo e grau<br />

<strong>de</strong> RVU, tipo <strong>de</strong> cirurgia, complicações, frequência e tempo<br />

<strong>de</strong> evolução até à cura espontânea. Na coorte das crianças em<br />

vigilância comparámos a proporção <strong>de</strong> crianças que mantiveram<br />

RVU com aquelas em que se verificou cura espontânea,<br />

relativamente ao sexo e ao grau <strong>de</strong> RVU.<br />

Resultados. Oitenta e duas crianças cumpriam os critérios <strong>de</strong><br />

inclusão. O RVU congénito foi mais frequente no sexo masculino<br />

(77%) e era maioritariamente unilateral (65%). O tratamento<br />

cirúrgico foi efectuado em 35% dos casos, sobretudo<br />

nas crianças com RVU bilateral, com unida<strong>de</strong>s refluxivas<br />

(UR) <strong>de</strong> grau elevado – IV ou V - (80% vs. 12% na coorte <strong>de</strong><br />

crianças em vigilância) e em crianças com lesão/malformação<br />

renal (ipsilateral ou contralateral) e/ou assimetria funcional<br />

renal (58% vs 24% na coorte <strong>de</strong> crianças em vigilância).<br />

Neste último grupo, verificámos uma frequência <strong>de</strong> resolução<br />

do RVU <strong>de</strong> 72% (76% no subgrupo que foi acompanhado<br />

pelos menos 48 meses). O período entre os 24 e os 36 meses<br />

foi aquele em que ocorreu o maior número <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong><br />

casos. Não encontrámos diferenças significativas entre sexo e<br />

grau <strong>de</strong> RVU no que respeita à cura espontânea do RVU.<br />

Conclusões. O refluxo vesico-ureteral ten<strong>de</strong> a resolver-se nos<br />

primeiros anos <strong>de</strong> vida, parecendo a profilaxia e vigilância clínica<br />

medidas suficientes e seguras no casos <strong>de</strong> refluxo <strong>de</strong><br />

baixo grau e, provavelmente, também nos casos mais graves.<br />

Recebido: 16.06.2007<br />

Aceite: 21.05.2008<br />

106<br />

Palavras-chave: neonatologia, refluxo vesico-ureteral,<br />

terapêutica.<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008;39(3):106-10<br />

The natural history of neonatal vesicoureteral<br />

reflux with perinatal diagnosis<br />

Abstract<br />

Aim. To evaluate the natural history and management of perinatally<br />

diagnosed vesico-ureteral reflux (VUR).<br />

Methods. Historic cohort study of infants born at a level III<br />

maternity, between 1993 and 2002, who were diagnosed with<br />

neonatal vesico-ureteral reflux and who had subsequent follow-up<br />

in a level III children’s hospital in the centre region of<br />

Portugal. The infants were divi<strong>de</strong>d in two cohorts: those who<br />

required surgery and those treated with prophylactic antibio -<br />

tics and non-surgical intervention. For each cohort, gen<strong>de</strong>r,<br />

gra<strong>de</strong> of VUR, chosen surgery, complications, rate and timing<br />

of spontaneous resolution of VUR were evaluated. This rate<br />

was analyzed regarding the gen<strong>de</strong>r and the gra<strong>de</strong> of VUR, in<br />

the group un<strong>de</strong>r non-surgical intervention.<br />

Results. We found 82 children with neonatal VUR. Most<br />

patients were boys (77%) with unilateral VUR (65%).<br />

Surgery was performed in 35% of patients, mostly in bila -<br />

teral V, in high gra<strong>de</strong> (IV or V) VUR (80% vs. 12% in the<br />

non-surgical cohort) and in infants with renal lesion, malformation<br />

or asymmetric renal function (58% vs. 24% in the<br />

non-surgical cohort). We found a 72% rate of VUR spontaneous<br />

resolution (76% in the subgroup followed up at least<br />

48 months) in the infants managed with non-surgical the -<br />

rapy. The majority of spontaneous resolutions occurred<br />

between the ages of 24 and 36 months. In this group, regar -<br />

ding gen<strong>de</strong>r or gra<strong>de</strong>, we found no significant differences in<br />

the resolution of VUR.<br />

Conclusions. Neonatal vesicoureteral reflux resolves during<br />

the first years of life. Prophylactic antibiotic and non-surgical<br />

Correspondência:<br />

Henrique Miguel <strong>de</strong> Albuquerque Leitão<br />

Rua Urb. Quinta Romeiras, 54<br />

9020-379 Funchal<br />

968338938<br />

mi12lara5@hotmail.com


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):106-10 Leitão H et al – Evolução do refluxo vesico-ureteral neonatal<br />

intervention seems to be safe and effective in low gra<strong>de</strong> reflux<br />

and even in high gra<strong>de</strong> reflux.<br />

Key-words: neonatology, vesico-ureteral reflux, management.<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008;39(3):106-10<br />

Introdução<br />

Nos últimos anos, a ecografia obstétrica tornou-se um exame<br />

<strong>de</strong> rotina. As anomalias estruturais do tracto urinário são as<br />

alterações mais frequentemente encontradas, aproximadamente<br />

em 1% dos nado-vivos1,2 . A hidronefrose é o achado<br />

mais comum, sendo a maioria não obstrutiva e secundária a<br />

refluxo vesico-ureteral (RVU) em 10 a 30% dos casos2-4 .O<br />

RVU congénito é habitualmente bilateral, com grau elevado e<br />

ocorrendo maioritariamente no sexo masculino, provavelmente<br />

com uma fisiopatologia fetal específica10 .<br />

O tratamento <strong>de</strong>stas crianças é motivo <strong>de</strong> controvérsia; o tratamento<br />

“conservador”, com vigilância sob profilaxia antibiótica,<br />

é proposto no sentido <strong>de</strong> evitar uma intervenção cirúrgica<br />

precoce, na convicção <strong>de</strong> que, na maioria dos casos,<br />

mesmo naqueles com grau <strong>de</strong> RVU elevado, ocorrerá reso -<br />

lução espontânea5-8 . O tratamento cirúrgico é <strong>de</strong>fendido nos<br />

casos <strong>de</strong> infecção urinária (IU) <strong>de</strong> repetição, apesar da profilaxia<br />

instituída, nas crianças em que a função renal se <strong>de</strong>te -<br />

riora ou quando existe anomalia no rim contra-lateral, raramente<br />

apresentando complicações e necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novas<br />

inter venções9 . A cirurgia anti-RVU precoce é igualmente <strong>de</strong> -<br />

fen dida por alguns autores, na expectativa <strong>de</strong> evitar qualquer<br />

episódio <strong>de</strong> IU, prevenindo assim lesões parenquima tosas<br />

renais e as suas complicações11 . A longo prazo, existe ainda<br />

alguma incerteza sobre a história natural do RVU, no que respeita<br />

à <strong>de</strong>terioração da função renal, hipertensão e altera ções<br />

do crescimento5 , embora os primeiros anos <strong>de</strong> seguimento<br />

mostrem uma reduzida incidência <strong>de</strong>stas complicações5,6,9 .<br />

Preten<strong>de</strong>mos com este estudo documentar a prática clínica <strong>de</strong><br />

10 anos (1993-2002), respeitante às crianças nascidas numa<br />

maternida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio perinatal diferenciado, com RVU congénito<br />

diagnosticado na sequência <strong>de</strong> algum tipo <strong>de</strong> anomalia<br />

nefro-urológica, e posteriormente acompanhadas no hospital<br />

pediátrico <strong>de</strong> referência da Região Centro.<br />

Métodos<br />

Trata-se <strong>de</strong> um estudo <strong>de</strong> coortes históricas <strong>de</strong> crianças nas -<br />

cidas numa maternida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio perinatal diferenciado<br />

entre Janeiro <strong>de</strong> 1993 e Dezembro <strong>de</strong> 2002, com o diagnós tico<br />

<strong>de</strong> RVU confirmado por cistografia miccional radiológica<br />

(sendo neste caso utilizada a classificação internacional12 para<br />

<strong>de</strong>finir o grau <strong>de</strong> RVU) ou por cistografia isotópica.<br />

Excluíram-se os casos <strong>de</strong> RVU secundário.<br />

Posteriormente, as crianças foram acompanhadas em con sulta<br />

<strong>de</strong> Nefrologia e/ou Urologia do hospital pediátrico <strong>de</strong> refe -<br />

rência, tendo sido prescrita profilaxia com trimetoprim<br />

(2 mg/kg/dia) ou cefadroxil (15-20 mg/Kg/dia), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nascimento<br />

até à resolução do RVU, até aos 4-6 anos se ausência<br />

<strong>de</strong> cicatriz renal ou 10-12 anos, se cicatrizes renais. O tempo<br />

<strong>de</strong> resolução do RVU consistiu no intervalo entre o primeiro<br />

exame que confirmou o RVU e o primeiro exame que não evi<strong>de</strong>nciou<br />

RVU.<br />

Foram analisadas as seguintes variáveis: sexo, tipo e grau <strong>de</strong><br />

refluxo, lesões renais associadas. As crianças foram <strong>de</strong>pois<br />

divididas em duas coortes: (I) crianças submetidas a cirurgia<br />

e (II) crianças sob tratamento conservador. Nas crianças do<br />

primeiro grupo <strong>de</strong>screvemos o tipo <strong>de</strong> cirurgia, tipo e grau do<br />

RVU, existência <strong>de</strong> infecção urinária, ocorrência <strong>de</strong> lesão<br />

renal <strong>de</strong>monstrável por cintigrafia com ácido dimercapto-succinico<br />

( 99mTCDMSA), evolução e complicações. Nas crianças<br />

do segundo grupo, avaliámos o tempo médio <strong>de</strong> seguimento e<br />

a proporção <strong>de</strong> casos/unida<strong>de</strong>s refluxivas em que o RVU<br />

resolveu ou se manteve. Dentro <strong>de</strong>ste grupo seleccionámos<br />

ainda as crianças acompanhadas pelo menos 48 meses e proce<strong>de</strong>mos<br />

à análise da proporção <strong>de</strong> casos/unida<strong>de</strong>s refluxivas<br />

que resolveram o RVU, relacionando este facto com o sexo e<br />

o grau <strong>de</strong> refluxo, quando atribuído, utilizando curvas <strong>de</strong><br />

sobrevida <strong>de</strong> Kaplan-Meier13 , modificadas para a percentagem<br />

<strong>de</strong> casos que mantiveram RVU.<br />

Foi utilizado o teste <strong>de</strong> logrank (e os respectivos valores <strong>de</strong> p<br />

que lhe estão associados) para a análise da diferença entre as<br />

curvas. A análise da diferença <strong>de</strong> proporções consi<strong>de</strong>rando o<br />

sexo e o grau <strong>de</strong> RVU foi feita recorrendo ao teste do Chi-quadrado<br />

(ou teste exacto <strong>de</strong> Fisher, quando indicado).<br />

Resultados<br />

De um total <strong>de</strong> 82 crianças com RVU, foi possível saber a<br />

evolução em 69 casos. A razão <strong>de</strong> masculinida<strong>de</strong> foi 3,3 (masculino<br />

[M] 53:feminino [F] 16).<br />

O RVU era unilateral em 45 casos (M32:F13) e bilateral em 24<br />

ca sos (M21:F3), correspon<strong>de</strong>ndo a um total <strong>de</strong> 93 unida<strong>de</strong>s re -<br />

flu xivas (UR) – M 74:F 19. Oitenta e uma UR, segundo a classi -<br />

ficação internacional <strong>de</strong> RVU, eram <strong>de</strong> grau IV ou V, sen do 39%<br />

das UR no sexo masculino e 37% das UR no sexo feminino.<br />

Em 69 das UR (74%) não havia lesão/anomalia associada<br />

nesse rim nem no contralateral. As anomalias encontradas em<br />

13 UR e nos rins contralaterais <strong>de</strong> outras 11 UR foram: rim<br />

multiquístico (4), duplicação renal (4), displasia renal (3),<br />

hipoplasia renal (3), agenesia renal (3), outras (7).<br />

Foram submetidos a cirurgia 24 (35%) crianças (M18:F6):<br />

re-implantação uretero-vesical (18) e nefroureterectomia (6).<br />

Des tas, 14 crianças (58%) tinham lesão parenquimatosa, ano -<br />

ma lia (ipsilateral ou contralateral em relação ao RVU) ou assimetria<br />

funcional renal. Nove crianças (38%) tinham história <strong>de</strong><br />

uma ou mais infecções urinárias documentadas (M:F 3.5).<br />

Cinco tinham RVU bilateral e em 8 das 14 UR (57%) o RVU<br />

era <strong>de</strong> grau IV/V. Em três casos (13%) não houve resolu ção<br />

satisfatória do RVU, tendo ocorrido uma segunda intervenção.<br />

As restantes 45 crianças foram mantidas sob profilaxia antibiótica<br />

com trimetoprim: 13 casos (29%) <strong>de</strong> RVU bilateral e<br />

32 <strong>de</strong> RVU unilateral, correspon<strong>de</strong>ndo a um total <strong>de</strong> 58 UR.<br />

O tempo médio <strong>de</strong> seguimento foi <strong>de</strong> 74 meses (mediana <strong>de</strong><br />

70 meses). Nenhuma criança evoluiu para insuficiência renal<br />

crónica, nem evi<strong>de</strong>nciou hipertensão arterial.<br />

107


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):106-10 Leitão H et al – Evolução do refluxo vesico-ureteral neonatal<br />

Quadro I – Distribuição das unida<strong>de</strong>s refluxivas que mantiveram ou curaram refluxo vesico-ureteral (RVU) segundo o sexo e o grau <strong>de</strong> RVU,<br />

quando atribuído (n = 58).<br />

feminino masculino total<br />

grau grau sem total grau grau sem total<br />

1 a 3 4 e 5 classificação 1 a 3 4 e 5 classificação<br />

Mantém RVU 1 1 0 2 10 1 3 14 16<br />

Em 14 casos ocorreu infecção urinária (IU) (31%), com 4<br />

crianças aparentando lesão renal subsequente na cintigrafia<br />

com 99mTCDMSA (29%). Só foram encontradas lesões cicatriciais<br />

nas crianças com história <strong>de</strong> IU.<br />

Neste grupo <strong>de</strong> 58 UR ocorreu resolução espontânea do RVU<br />

em 42 UR (72%). O Quadro I mostra a distribuição dos casos<br />

com manutenção ou cura do RVU segundo o sexo e o grau <strong>de</strong><br />

RVU, quando atribuído. Dez UR no sexo feminino (83%) e 32<br />

UR no sexo masculino (70%) curaram (p 0,34). 28 UR <strong>de</strong><br />

grau I-III (72%) e 5 UR <strong>de</strong> grau IV-V (71%) curaram (p 0,98).<br />

A cura do RVU nas UR sem grau <strong>de</strong> RVU atribuído ocorreu<br />

em 75% dos casos.<br />

Trinta e oito crianças foram acompanhadas pelo menos 48<br />

meses, 29 do sexo masculino e nove do sexo feminino (M:F<br />

3.2), sendo o RVU bilateral em 12 casos e unilateral em 26<br />

casos, correspon<strong>de</strong>ndo a 50 unida<strong>de</strong>s refluxivas (UR). O RVU<br />

era <strong>de</strong> grau I-III em 33 UR (67%), <strong>de</strong> grau IV-V em 6 UR<br />

(12%) e nas restantes UR (11) não foi classificado o grau <strong>de</strong><br />

RVU.<br />

Foram encontradas lesões renais na cintigrafia 99mTCDMSA em<br />

4 UR (8%). Todas as crianças tinham história <strong>de</strong> IU. De um<br />

total <strong>de</strong> oito crianças com história <strong>de</strong> IU, três (4 UR) apresentaram<br />

as referidas lesões renais.<br />

Neste subgrupo, ocorreu cura do RVU em 38 UR (76%). O<br />

Quadro II mostra a distribuição das UR que curaram ou mantiveram<br />

RVU segundo o sexo e o grau <strong>de</strong> RVU, quando atribuído.<br />

Oito UR no sexo feminino (73%) e 30 UR no sexo<br />

masculino (77%) curaram. 26 UR com RVU grau I-III (79%)<br />

e três UR com RVU grau IV,V (50%) curaram.<br />

As Figuras 1, 2 e 3 apresentam curvas <strong>de</strong> sobrevivência <strong>de</strong><br />

Kaplan-Meier, modificadas para a percentagem <strong>de</strong> UR que<br />

manteve RVU ao longo dos 48 meses <strong>de</strong> acompanhamento.<br />

Segundo a curva que contempla a globalida<strong>de</strong> das UR <strong>de</strong>ste<br />

subgrupo (Figura 1), a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter RVU é <strong>de</strong><br />

88%, 80%, 38% e 24% após 12, 24,36 e 48 meses <strong>de</strong> evolução,<br />

respectivamente.<br />

108<br />

Curou RVU 9 1 0 10 19 4 9 32 42<br />

Total 10 2 0 12 29 5 12 46 58<br />

Quadro II – Distribuição das unida<strong>de</strong>s refluxivas que, ao fim <strong>de</strong> 48 meses <strong>de</strong> vigilância, mantiveram ou curaram refluxo vesico-ureteral (RVU),<br />

segundo o sexo e o grau <strong>de</strong> RVU (n = 50).<br />

feminino masculino total<br />

grau grau sem total grau grau sem total<br />

1 a 3 4 e 5 classificação 1 a 3 4 e 5 classificação<br />

Mantém RVU 1 2 0 3 6 1 2 9 12<br />

Curou RVU 8 0 0 8 18 3 9 30 38<br />

Total 9 2 0 11 24 4 11 39 50<br />

Figura 1 – Curva <strong>de</strong> sobrevivência <strong>de</strong> Kaplan-Meier modificada para<br />

a percentagem <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s refluxivas (n = 50) que mantiveram refluxo<br />

vesico-ureteral, ao fim <strong>de</strong> 48 meses. RVU - refluxo vesico-ureteral,<br />

UR - unida<strong>de</strong>s refluxivas.<br />

Figura 2 – Curva <strong>de</strong> sobrevivência <strong>de</strong> Kaplan-Meier modificada para<br />

a percentagem <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s refluxivas (n = 50) que mantiveram refluxo<br />

vesico-ureteral ao fim <strong>de</strong> 48 meses, segundo o sexo (p 0,59). RVU<br />

- refluxo vesico-ureteral, UR - unida<strong>de</strong>s refluxivas.


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):106-10 Leitão H et al – Evolução do refluxo vesico-ureteral neonatal<br />

Figura 3 – Curva <strong>de</strong> sobrevivência <strong>de</strong> Kaplan-Meier modificada para<br />

a percentagem <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s refluxivas (n = 39) que mantiveram refluxo<br />

vesico-ureteral ao fim <strong>de</strong> 48 meses, segundo o grau <strong>de</strong> refluxo (p<br />

0,15), quando atribuído. RVU - refluxo vesico-ureteral, UR - unida<strong>de</strong>s<br />

refluxivas.<br />

Consi<strong>de</strong>rando as mesmas curvas, quando separadas as UR por<br />

sexo ou grau <strong>de</strong> RVU (Figuras 2 e 3), e aplicando o teste <strong>de</strong><br />

logrank, não encontrámos diferença estatisticamente significativa<br />

entre sexo masculino vs. sexo feminino (p 0,59) e RVU<br />

grau I-III vs. RVU grau IV-V (p 0,15).<br />

Discussão<br />

Acredita-se que o RVU i<strong>de</strong>ntificado nos primeiros meses <strong>de</strong><br />

vida (na sequência do diagnóstico <strong>de</strong> hidronefrose ou anomalia<br />

renal fetal) tem características fisiopatológicas específicas,<br />

provavelmente relacionadas com alterações do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

fetal, conduzindo a obstrução transitória uretral, com<br />

maior gravida<strong>de</strong> nos fetos do sexo masculino, e alterações<br />

difusas do parênquima renal traduzidas em atrofia, hipoplasia<br />

ou displasia8,10,14,15 . A distorção precoce da estrutura do rim e<br />

das vias excretoras po<strong>de</strong>ria perpetuar as condições para a<br />

ocorrência <strong>de</strong> RVU e infecção urinária já no período neonatal<br />

e nos primeiros meses <strong>de</strong> vida16 . Estes dados explicariam as<br />

lesões encontradas em recém-nascidos (RN), mesmo na<br />

ausência <strong>de</strong> infecção, e a maior frequência <strong>de</strong> RVU em RN do<br />

sexo masculino, com RVU bilateral <strong>de</strong> alto grau8,10,15 .<br />

Nesta revisão encontrámos uma razão <strong>de</strong> masculinida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

3,3, concordante com a literatura consultada. No entanto, os<br />

casos <strong>de</strong> RVU unilateral foram mais numerosos (45 casos vs.<br />

24 casos <strong>de</strong> RVU bilateral), embora nos rapazes fossem<br />

encontrados 40% <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> RVU bilateral, contrastando<br />

com os 19% encontrados nas raparigas. Nas crianças do sexo<br />

feminino, o RVU tendia a ser, portanto, unilateral e com<br />

lesão/malformação associada (44% dos casos). No que diz<br />

respeito à gravida<strong>de</strong> do RVU, encontrámos uma frequência<br />

semelhante <strong>de</strong> RVU grau IV/V em rapazes e raparigas (39%<br />

vs. 37% das UR classificadas).<br />

O tratamento do RVU congénito é ainda motivo <strong>de</strong> controvérsia.<br />

Se numa criança com RVU <strong>de</strong> grau V, com infecções urinárias<br />

<strong>de</strong> repetição ou evidência <strong>de</strong> lesão renal com possível<br />

compromisso da função, não se questiona o beneficio do trata-<br />

mento cirúrgico, nas crianças com um quadro clínico menos<br />

grave, não é consensual a sua necessida<strong>de</strong>, no pressuposto <strong>de</strong><br />

que a evolução natural da doença será a cura espontânea nos<br />

primeiros anos <strong>de</strong> vida 5,6,9 . Por outro lado, existem argumentos<br />

a favor <strong>de</strong> uma cirurgia precoce, com o objectivo <strong>de</strong> reduzir a<br />

exposição das crianças ao risco <strong>de</strong> infecção, motivado pela<br />

existência <strong>de</strong> RVU, e pela evidência <strong>de</strong> que, mesmo sob profilaxia<br />

antibiótica, cerca <strong>de</strong> 25% das crianças têm infecção urinária<br />

7 . Desta forma, era reduzida a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crianças com<br />

cicatriz renal e suas possíveis complicações a longo prazo,<br />

nomeadamente hipertensão arterial e insuficiência renal 11 .<br />

Admite-se que não existem estudos prospectivos suficientemente<br />

longos para comprovar a segurança <strong>de</strong> um tratamento<br />

não cirúrgico, principalmente nas crianças com evidência <strong>de</strong><br />

RVU com alto grau. No entanto, alguns estudos dirigidos a este<br />

problema mostram resultados e complicações equivalentes,<br />

quando se propõe um tratamento <strong>de</strong> observação, tanto para<br />

RVU <strong>de</strong> baixo ou alto grau 5,6,9 . Mais alguns anos passarão para<br />

po<strong>de</strong>rmos dispor <strong>de</strong> dados mais conclusivos. Na revisão da prática<br />

clínica <strong>de</strong> 10 anos que apresentamos, verificámos que as<br />

crianças submetidas a cirurgia (24 casos) foram aquelas com<br />

história <strong>de</strong> infecção urinária <strong>de</strong> repetição (38%) ou com lesão<br />

renal significativa, com diminuição da função em relação ao<br />

rim contra-lateral (58%). Estes casos, <strong>de</strong> um modo geral, eram<br />

sobreponíveis a uma maior gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong> RVU; 80% tinham<br />

pelo menos uma UR <strong>de</strong> grau IV ou V. Deste modo, o número<br />

<strong>de</strong> UR com RVU <strong>de</strong> alto grau tratadas apenas com profilaxia<br />

antibiótica e vigilância foi escasso (apenas 7 num total <strong>de</strong> 58<br />

UR – 12%), obrigando a algumas reservas quanto às conclusões<br />

a tirar, quando comparámos a evolução das UR <strong>de</strong> baixo<br />

grau com as <strong>de</strong> alto grau. De qualquer forma, o estudo estatístico<br />

efectuado não revela diferenças significativas entre os dois<br />

grupos, embora a simples observação da Figura 3 <strong>de</strong>note alguma<br />

separação entre as curvas, no sentido da manutenção <strong>de</strong><br />

RVU nas UR <strong>de</strong> graus IV ou V. Não foi encontrada diferença<br />

significativa entre a evolução do RVU, no que respeita ao sexo,<br />

embora o reduzido número <strong>de</strong> UR femininas também obrigue<br />

a alguma precaução nesta conclusão. O período <strong>de</strong> evolução<br />

em que ocorreram mais casos <strong>de</strong> resolução espontânea do RVU<br />

<strong>de</strong>correu entre os 24 e os 36 meses (com uma redução <strong>de</strong> cerca<br />

<strong>de</strong> 50% dos casos que mantinham RVU), com um pico logo<br />

após os 2 anos. Este súbito <strong>de</strong>créscimo está provavelmente<br />

enviesado pela marcação sistemática <strong>de</strong> uma cistografia para<br />

esta data. Provavelmente, a resolução do RVU, em relação ao<br />

total dos casos, será um processo mais gradual. Nas crianças<br />

sob observação, não foi encontrado qualquer caso com insuficiência<br />

renal, hipertensão arterial ou alterações do crescimento,<br />

embora a mediana do tempo <strong>de</strong> seguimento seja <strong>de</strong> apenas<br />

70 meses. Mais uma vez, necessitamos <strong>de</strong> resultados <strong>de</strong> estudos<br />

multicêntricos, a longo prazo, que mostrem inequívoca<br />

segurança do tratamento médico <strong>de</strong> RVU <strong>de</strong> alto grau, nos<br />

casos em que não surgem complicações infecciosas e/ou funcionais,<br />

para que esta prática seja completamente aceite.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Os autores agra<strong>de</strong>cem ao Director da Consulta Externa do<br />

Hospital <strong>Ped</strong>iátrico <strong>de</strong> Coimbra (HPC) por ter autorizado a<br />

109


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):106-10 Leitão H et al – Evolução do refluxo vesico-ureteral neonatal<br />

consulta dos processos clínicos e aos funcionários do Arquivo<br />

Clínico do HPC pela disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrada.<br />

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110<br />

Congenital reflux nephropathy: a follow-up of 108 cases diagnosed<br />

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Maturation of the external urinary sphincter: a comparative histotopographic<br />

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0873-9781/08/39-3/111<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria CASUÍSTICA<br />

Hospitalização em crianças com infecção por rotavírus<br />

Rute Neves 1 , Catarina Luís 2 , Maria João Brito 1,2 , Luís Varandas 1 , Gonçalo Cor<strong>de</strong>iro Ferreira 1 , Maria do Céu Machado 2<br />

1 - Serviço 1, Departamento <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria Médica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar <strong>de</strong> Lisboa Central<br />

2 - Departamento <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria do Hospital Fernando Fonseca, Amadora<br />

Resumo<br />

Introdução. A infecção por rotavírus é a principal causa <strong>de</strong><br />

diarreia aguda em todo o mundo. Nos países <strong>de</strong>senvolvidos<br />

não constitui uma causa importante <strong>de</strong> morte, mas cursa com<br />

uma alta morbilida<strong>de</strong>.<br />

Objectivo. Caracterizar a infecção por rotavírus em crianças<br />

hospitalizadas em dois Departamentos <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria <strong>de</strong> Lisboa.<br />

Material e métodos. Revisão casuística dos internamentos<br />

com o diagnóstico <strong>de</strong> infecção por rotavírus, num hospital<br />

central especializado e num hospital geral na Zona Metro po -<br />

litana <strong>de</strong> Lisboa, entre Janeiro e Dezembro <strong>de</strong> 2005. O diagnóstico<br />

foi efectuado através da i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> antigénios<br />

virais nas fezes por “enzyme immunoassay”.<br />

Resultados. Foram analisados 92 casos; 82% ocorreram entre<br />

Dezembro e Março e 52,8% em crianças entre os três e os<br />

doze meses. Em meta<strong>de</strong> dos casos registou-se bom nível<br />

socio-económico. Os factores <strong>de</strong> risco epi<strong>de</strong>miológicos<br />

encon trados foram: frequência <strong>de</strong> instituição <strong>de</strong> ensino ou<br />

ama em 21/38 (55%), contacto com pessoas com sintomatologia<br />

semelhante em 10/53 (19%) e irmãos com ida<strong>de</strong> inferior<br />

a cinco anos em 25/76 (33%) das crianças. As infecções nosocomiais<br />

foram responsáveis por 26% dos casos estudados. A<br />

clínica cursou com: diarreia aquosa (96%), vómitos (87%) e<br />

febre (69%). Ocorreram complicações em 19/92 (21%) crianças<br />

e estas foram mais frequentes em lactentes com menos <strong>de</strong><br />

seis meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> (35% vs. 16%, p=0,058). A mediana da<br />

duração <strong>de</strong> internamento foi cinco dias e o custo hospitalar<br />

directo variou entre 629,63 e 2342,38 euros.<br />

Discussão. O número <strong>de</strong> internamentos por infecção por rotavírus,<br />

especialmente em lactentes, a frequência <strong>de</strong> infecções<br />

nosocomiais por este agente, as complicações inerentes e os<br />

elevados custos, reflectem a importância da infecção por este<br />

agente em países <strong>de</strong>senvolvidos como Portugal.<br />

Palavras-Chave: Diarreia aguda, hospitalização, rotavírus,<br />

criança.<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008;39(3):111-4<br />

Recebido: 04.06.2007<br />

Aceite: 21.05.2008<br />

Hospitalization of children with rotavirus infection<br />

Abstract<br />

Introduction. Rotavirus infection is the foremost cause of<br />

acute diarrhoea in children worldwi<strong>de</strong>. In industrialized<br />

nations mortality by this disease is very low. Nevertheless it is<br />

responsible for a high morbidity.<br />

Aim. Characterize rotavirus infection in hospitalized children<br />

in two Paediatric <strong>de</strong>partments of Lisbon.<br />

Materials and Methods. Case review of the rotavirus acute<br />

diarrhoea admissions, in a central hospital and in a general<br />

hospital in Lisbon, between January 1, 2005 and December<br />

31, 2005. The diagnosis was ma<strong>de</strong> by virus antigen <strong>de</strong>tection<br />

in stool samples through enzyme immunoassay.<br />

Results. A total of 92 cases were analyzed, 82% occurred<br />

between December and March and 52.8% of the children<br />

were between three and twelve moths of age. In half of the<br />

cases the socio-economic status was good. Attending kin<strong>de</strong>rgarten,<br />

school or nanny (55%), having a known contact with<br />

an infected person (19%) and having siblings younger than<br />

five years old (33%) were consi<strong>de</strong>red as epi<strong>de</strong>miological risk<br />

factors. Nosocomial infections were responsible for 26% of<br />

cases. Watery diarrhoea (96%), vomiting (87%) and fever<br />

(69%) were the main clinical features. Complications<br />

occurred in 19 (21%) children and were more frequent in children<br />

un<strong>de</strong>r 6 months of age (35% vs. 16%, p=0,058). The<br />

median hospital length of stay was 4 days (1-18 days) and the<br />

direct hospital costs per child ranged from 629.63 to 2342.38<br />

euros.<br />

Discussion. The importance of rotavirus infection in <strong>de</strong>ve -<br />

loped countries like Portugal is shown by the high number of<br />

admissions, especially in infants, the inci<strong>de</strong>nce of nosoco mial<br />

infections, the associated complications and the high costs.<br />

Key-words: acute diarrhoea, hospitalization, rotavirus,<br />

childr en.<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008;39(3):111-4<br />

Correspondência:<br />

Rute Neves<br />

nevescrute@gmail.com;<br />

Maria João Brito<br />

joao.rochabrito@netcabo.pt<br />

Serviço 1, Hospital Dona Estefânia<br />

Lisboa<br />

111


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):111-4 Neves R et al – Infecção por rotavírus<br />

Introdução<br />

A infecção por rotavírus é a principal causa <strong>de</strong> diarreia<br />

aguda em todo o mundo. Estima-se que seja responsável por<br />

aproximadamente 138 milhões <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> diarreia aguda e<br />

44.0000 mortes por ano em crianças abaixo dos cinco anos<br />

<strong>de</strong> ida<strong>de</strong>1 .<br />

Nos países em vias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, a diarreia aguda<br />

por rotavírus constitui uma das principais causas <strong>de</strong> morte<br />

em crianças abaixo dos cinco anos. Em países <strong>de</strong>senvolvidos,<br />

a mortalida<strong>de</strong> é extremamente baixa, no entanto, acarreta<br />

alta morbilida<strong>de</strong> e elevados custos sociais e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

pública.<br />

O rotavírus pertence à família Reoviridae e, <strong>de</strong> acordo com as<br />

proteínas capsulares, classifica-se em grupos, subgrupos e<br />

serotipos. De acordo com a proteína da cápsula interna VP6,<br />

foram i<strong>de</strong>ntificados sete grupos (A-G), sendo a maioria das<br />

infecções nos humanos provocada pelo grupo A (subgrupo I<br />

ou II). Os serotipos G e P são <strong>de</strong>terminados pelas proteínas<br />

VP7 e VP4, respectivamente. As estirpes G1P[8], G2P[4],<br />

G3P[8] e G4P[8] do grupo A são as mais frequentes. No<br />

entanto, a incidência das diferentes estirpes varia <strong>de</strong> país para<br />

país e alguns serotipos mais raros, como o G9, têm vindo a<br />

aumentar em algumas regiões2 .<br />

Objectivos<br />

O objectivo <strong>de</strong>ste estudo foi caracterizar a infecção por rotavírus<br />

em crianças internadas em dois Departamentos <strong>de</strong><br />

<strong>Ped</strong>iatria <strong>de</strong> Lisboa.<br />

Material e métodos<br />

Revisão casuística dos internamentos com o diagnóstico <strong>de</strong><br />

infecção por rotavírus, num hospital central especializado e<br />

num hospital geral na Zona Metropolitana <strong>de</strong> Lisboa, entre 1<br />

<strong>de</strong> Janeiro e 31 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2005. O diagnóstico foi efectuado<br />

através da i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> antigénios virais nas fezes<br />

por enzyme immunoassay (Ridascreen® rotavirus, R-Bio -<br />

pharm, Darmstadt, Alemanha).<br />

Através da colheita <strong>de</strong> dados dos processos clínicos avaliaram-se<br />

os seguintes dados: data do diagnóstico, ida<strong>de</strong>, nível<br />

socio-económico, contexto epi<strong>de</strong>miológico, manifestações<br />

clí nicas, avaliação laboratorial, complicações, duração da<br />

doen ça e internamento e a ocorrência <strong>de</strong> casos nosocomiais.<br />

O nível socio-económico foi avaliado através do Índice <strong>de</strong><br />

Graffar (II – médio-alto, III – médio, IV e V- baixo). Os custos<br />

hospitalares directos foram calculados com base na Tabela<br />

Nacional <strong>de</strong> Grupos <strong>de</strong> Diagnóstico Homogéneos. Foram<br />

excluídos <strong>de</strong>sta análise os casos <strong>de</strong> infecção nosocomial. Foi<br />

efectuada uma análise <strong>de</strong>scritiva e o teste <strong>de</strong> Mann-Whitney<br />

foi utilizado na análise das complicações e infecções nosocomiais<br />

nos diferentes grupos etários. A análise estatística foi<br />

realizada pelo SPSS 12.5 for Windows ® (SPSS Inc., Chicago,<br />

Illinois, EUA); consi<strong>de</strong>rou-se significativo p


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):111-4 Neves R et al – Infecção por rotavírus<br />

tência <strong>de</strong> irmãos com ida<strong>de</strong> inferior a cinco anos em 25/76<br />

(33%) das crianças.<br />

As infecções nosocomiais constituíram 26% dos casos, não se<br />

registando diferenças entre os diversos grupos etários.<br />

Os sintomas mais frequentes foram diarreia aquosa (96%),<br />

vómitos (87%) e febre (69%). O dia com maior número <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>jecções teve uma mediana no segundo dia <strong>de</strong> doença, com<br />

uma média <strong>de</strong> 7,42 (+/- 3,83) <strong>de</strong>jecções por dia.<br />

A contagem <strong>de</strong> leucócitos apresentou uma mediana <strong>de</strong><br />

11360/μL (mínimo - 5190/μL; máximo - 22650/μL) e a<br />

proteí na C reactiva 0,45 mg/dL (mínimo - 0,08 mg/dL; máximo<br />

- 10,33 mg/dL).<br />

Ocorreram complicações em 19 crianças (21%), com mais<br />

que uma complicação em quatro casos: <strong>de</strong>sidratação grave<br />

(7), intolerância a lactose (7), insuficiência renal aguda (6),<br />

alterações neurológicas (4) e síndroma <strong>de</strong> Mallory Weiss (1).<br />

As complicações foram mais frequentes nas crianças com<br />

ida<strong>de</strong> inferior a seis meses, com significância estatística limiar<br />

(35% vs. 16%, p=0,058, teste <strong>de</strong> Mann-Whitney).<br />

A duração <strong>de</strong> doença teve uma mediana <strong>de</strong> cinco dias (mínimo<br />

– dois dias; máximo – 19 dias) e a duração do internamento<br />

uma mediana <strong>de</strong> quatro dias, entre um e 18 dias. O custo<br />

directo do internamento por infecção por rotavírus variou<br />

entre 629,63 e 2342,38 euros por criança (mediana = 629,63).<br />

Discussão<br />

A infecção por rotavírus apresenta, nos países <strong>de</strong> clima temperado,<br />

um pico <strong>de</strong> incidência nos meses <strong>de</strong> inverno3 . No<br />

nosso estudo o maior número <strong>de</strong> hospitalizações ocorreu entre<br />

Dezembro e Março, com um pico <strong>de</strong> incidência nos meses <strong>de</strong><br />

Fevereiro e Março. Esta distribuição é semelhante à encon -<br />

trada em outros países, nomeadamente em Espanha4 . Existem,<br />

no entanto, países, como a Polónia, on<strong>de</strong> o pico <strong>de</strong> incidência<br />

ocorre mais tardiamente5 .<br />

A primeira infecção por rotavírus é geralmente mais grave,<br />

conferindo uma protecção imunitária parcial não específica à<br />

estirpe. Desta forma, apesar da infecção por rotavírus ser mais<br />

frequente entre os seis meses e cinco anos, é nos lactentes que<br />

a infecção é mais grave e motiva um maior número <strong>de</strong> internamentos6<br />

. No período neonatal, no entanto, pela protecção<br />

conferida através dos anticorpos maternos ou pela especificida<strong>de</strong><br />

das estirpes envolvidas, a infecção é geralmente assintomática6<br />

. Tal como em outras séries7 , a maioria das hospitalizações<br />

ocorreu entre os três e os doze meses e as complicações<br />

foram mais frequentes abaixo dos 6 meses.<br />

Apesar <strong>de</strong> neste estudo não ter sido efectuado uma análise<br />

socio-económica da população das áreas abrangidas pelos<br />

dois <strong>de</strong>partamentos, meta<strong>de</strong> dos casos ocorreram em crianças<br />

com níveis socio-económicos médios ou médio-alto, o que<br />

reforça o facto <strong>de</strong> a melhoria das condições sanitárias e <strong>de</strong><br />

higiene não diminuírem a incidência da doença. A incidência<br />

da diarreia aguda por rotavírus é semelhante nos países <strong>de</strong>senvolvidos<br />

e em <strong>de</strong>senvolvimento e têm-se mantido constante<br />

ao longo das últimas décadas1 .<br />

Para além da sua importância como infecção da comunida<strong>de</strong>,<br />

o rotavírus representa ainda uma das principais causas <strong>de</strong><br />

infecção nosocomial. Estima-se que seja responsável por 31 a<br />

87% <strong>de</strong> todos os casos <strong>de</strong> diarreia nosocomial5 . Nesta série, as<br />

infecções nosocomiais constituíram 26% do total <strong>de</strong> casos,<br />

em concordância com valores encontrados noutros países<br />

<strong>de</strong>senvolvidos (27%) 8 . Apesar <strong>de</strong> em alguns estudos a incidência<br />

da infecção nosocomial ser mais elevada em crianças<br />

mais novas5 , não encontramos diferenças significativas no<br />

nosso estudo.<br />

O rotavírus po<strong>de</strong> ser encontrado nas mãos <strong>de</strong> 76 a 78% daqueles<br />

que prestam cuidados directos às crianças infectadas e em<br />

20% daqueles sem contacto directo5 . Este po<strong>de</strong> sobreviver<br />

alguns dias nas mãos e até 10 dias em superfícies não porosas<br />

como brinquedos ou instrumentos médicos5 . A educação dos<br />

prestadores <strong>de</strong> cuidados médicos e familiares das crianças<br />

sobre medidas <strong>de</strong> isolamento e lavagem das mãos, antes e<br />

após a observação <strong>de</strong> crianças infectadas, são essenciais para<br />

o controlo da infecção nosocomial. No entanto, estas são difíceis<br />

<strong>de</strong> implementar e insuficientes para o controle das infecções<br />

nosocomiais.<br />

Este estudo reflecte, também, a importância da infecção por<br />

rotavírus como causa significativa <strong>de</strong> morbilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> elevados<br />

custos sociais e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública em países <strong>de</strong>senvolvidos,<br />

como Portugal. A mediana do tempo <strong>de</strong> internamento foi<br />

<strong>de</strong> quatro dias, com um custo directo entre 629,63 e 2342,38<br />

euros (mediana = 629,63), <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do tipo <strong>de</strong> cuidados<br />

necessário. A estes valores haveria que adicionar os custos<br />

directos hospitalares dos casos sem internamento, os custos<br />

directos não médicos, suportados pelas famílias, e os custos<br />

indirectos referentes à diminuição <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> dos prestadores<br />

<strong>de</strong> cuidados.<br />

Actualmente a infecção por rotavírus po<strong>de</strong> ser prevenida através<br />

da vacinação, cuja eficácia e segurança foi comprovada,<br />

tanto em países em <strong>de</strong>senvolvimento como em países<br />

<strong>de</strong>senvol vidos9,10 . Os resultados dos estudos <strong>de</strong> custo-eficácia<br />

apresentam resultados contraditórios <strong>de</strong> acordo com os mo<strong>de</strong>los<br />

mate máticos utilizados, parâmetros analisados e, essen -<br />

cialmen te, com a diferente epi<strong>de</strong>miologia e custo local da<br />

vacina 13,14 . Em França e nos Estados Unidos <strong>de</strong> América os<br />

resultados apontam para um custo-eficácia <strong>de</strong>masiado alto<br />

enquanto estudos realizados em países sul-americanos e asiáticos<br />

<strong>de</strong>monstram que a vacina é custo-efectiva11-14 .<br />

A infecção por rotavírus é assim responsável por um gran<strong>de</strong><br />

número <strong>de</strong> internamentos em ida<strong>de</strong> pediátrica, atinge todos os<br />

níveis socio-económicos, cursa com um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />

complicações, as quais são mais frequentes nas crianças mais<br />

novas, constitui uma importante causa <strong>de</strong> infecção nosocomial<br />

e acarreta custos elevados e uma sobrecarga sazonal<br />

importante aos <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria.<br />

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0873-9781/08/39-3/115<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria CASUÍSTICA<br />

Recém-nascido <strong>de</strong> mãe toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

Cecília Martins, Raquel Gue<strong>de</strong>s, Anabela João<br />

Serviço <strong>de</strong> Neonatologia do Centro Hospitalar <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> Gaia<br />

Resumo<br />

Introdução. A toxico<strong>de</strong>pendência é uma condição grave, tornando-se<br />

mais preocupante quando se associa uma gestação.<br />

O ambiente sócio-familiar <strong>de</strong>sfavorável leva habitualmente a<br />

gestações <strong>de</strong> risco. Os recém-nascidos po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senvolver<br />

síndrome <strong>de</strong> abstinência, sendo importante a sua i<strong>de</strong>ntificação,<br />

tratamento, e posterior seguimento <strong>de</strong>stas crianças.<br />

Objectivos. Conhecer a prevalência <strong>de</strong> recém-nascidos <strong>de</strong><br />

mãe toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte num concelho da Área Metropolitana<br />

do Porto, e avaliar: morbilida<strong>de</strong>, terapêutica usada e crescimento<br />

e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>stas crianças.<br />

Material e métodos. Revisão casuística dos 37 casos <strong>de</strong><br />

recém-nascidos <strong>de</strong> mãe toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, internados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1<br />

<strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2000 a 31 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2006. Definimos mãe toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

a que consumiu, <strong>de</strong> um modo reiterado, opiáceos<br />

e/ou cocaína durante a gravi<strong>de</strong>z.<br />

Resultados. A prevalência encontrada foi <strong>de</strong> 2,7‰ nados-vi -<br />

vos, com média <strong>de</strong> 6 casos/ano. Apenas 43% das gestações<br />

foram vigiadas. Vinte e um RN (56%) apresentavam baixo<br />

peso. Cerca <strong>de</strong> 71% <strong>de</strong>senvolveram síndrome <strong>de</strong> abstinência.<br />

Em 70% dos casos foi usado fenobarbital, e nos restantes,<br />

solução <strong>de</strong> morfina (0,4 mg/ml). Até à data, com um tempo<br />

médio <strong>de</strong> acompanhamento <strong>de</strong> 3 anos, a maioria parece apresentar<br />

um crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento a<strong>de</strong>quados.<br />

Conclusões. O consumo <strong>de</strong> drogas variou ao longo dos anos.<br />

A vigilância da gravi<strong>de</strong>z permaneceu insuficiente durante este<br />

período. Os RN habitualmente nascem com baixo peso e<br />

<strong>de</strong>senvolvem síndrome <strong>de</strong> abstinência. O fenobarbital e a<br />

mor fina controlam a síndrome. Apesar da toxico<strong>de</strong>pendência<br />

materna, as crianças parecem apresentar crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento<br />

normais. Assim, os clínicos <strong>de</strong>verão investir no<br />

acompanhamento das grávidas toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e nos seus<br />

filhos.<br />

Palavras-chave: toxico<strong>de</strong>pendência na gravi<strong>de</strong>z, recém-nascido,<br />

síndrome <strong>de</strong> abstinência.<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008;39(3):115-9<br />

Recebido: 27.06.2007<br />

Aceite: 30.06.2008<br />

Neonate of drug addicted mother<br />

Abstract<br />

Introduction. Drug addiction is a severe condition that beco -<br />

mes more serious when associated to pregnancy. The adverse<br />

social-economic and familiar environment associated with<br />

drug abuse leads to risk pregnancies. Neonates may <strong>de</strong>velop<br />

abstinence syndrome and it is important to i<strong>de</strong>ntify, treat and<br />

follow-up these children.<br />

Objectives. To <strong>de</strong>termine the prevalence of drug-exposure<br />

neonates in our region, to evaluate morbidity, therapeutics,<br />

growth and <strong>de</strong>velopment of these children.<br />

Patients and methods. A study of 37 infants born to drug-<br />

-abusing mothers from April 1st, 2000 to March 31st, 2006<br />

was performed. We consi<strong>de</strong>r the drug <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt mother, the<br />

one who abused of opiates and/or cocaine during pregnancy.<br />

The survey data was analyzed.<br />

Results. The observed prevalence was 2,7‰ live-born<br />

infants. Only 43% of the pregnancies were kept un<strong>de</strong>r sur -<br />

veillance. Birth weight was less than 2500 g in twenty one<br />

neonates. Neonatal withdrawal syndrome was present in 71%<br />

of cases. Fenobarbital was used in more than two thirds and<br />

morfine solution in the other cases. Follow-up was ma<strong>de</strong> to all<br />

children and the majority of them present a satisfactory<br />

weight evolution and <strong>de</strong>velopment.<br />

Conclusions. Maternal drug abuse patterns seem to change<br />

over the years, though the surveillance of pregnancy didn’t<br />

modify. Neonates are usually born un<strong>de</strong>rweighted and <strong>de</strong>ve -<br />

lop abstinence syndrome. Fenobarbital and morfine were<br />

used to control the syndrome. Almost every child had normal<br />

growth and <strong>de</strong>velopment, <strong>de</strong>spite the toxic effects of<br />

drugs.<br />

Key-words: drug addiction in pregnancy, neonate, abstinence.<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008;39(3):115-9<br />

Correspondência:<br />

Cecília <strong>de</strong> Sousa Pinto Martins<br />

Travessa da Rasa 161 Ap. 83<br />

4400 Vila Nova <strong>de</strong> Gaia<br />

918532812<br />

ceciliamartins@net.sapo.pt<br />

115


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):115-9 Martins C et al – Recém-nascido <strong>de</strong> mãe toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

Introdução<br />

O abuso <strong>de</strong> substâncias ilícitas é um dos problemas mais<br />

importantes da nossa socieda<strong>de</strong>. As pessoas que consomem<br />

drogas têm habitualmente comportamentos <strong>de</strong> risco, quer em<br />

termos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, quer em termos sociais, que levam à <strong>de</strong>sinte -<br />

gração sócio-familiar e à exclusão social1 . Em Portugal, é frequente<br />

a transmissão <strong>de</strong> hepatite vírica e do vírus da imuno<strong>de</strong> -<br />

ficiência humana entre os toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes1 . Além <strong>de</strong> tudo<br />

isto, o início <strong>de</strong> consumo é cada vez mais precoce2 . Apesar da<br />

heroína ser a droga mais relevante, o consumo <strong>de</strong> cocaína tem<br />

vindo a crescer, bem como <strong>de</strong> outras substâncias, como o ecstasy1<br />

. O consumo <strong>de</strong> haxixe, consi<strong>de</strong>rada droga “leve”, é<br />

muito frequente entre os toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />

A toxico<strong>de</strong>pendência é uma condição grave que se torna mais<br />

preocupante quando, ao consumo <strong>de</strong> drogas, se associa a gravi<strong>de</strong>z.<br />

Este consumo associa-se a gestações <strong>de</strong> risco, muitas<br />

vezes com um <strong>de</strong>sfecho fatal2,3 . Para além das drogas “duras”,<br />

estas mulheres normalmente mantêm um alto consumo <strong>de</strong><br />

tabaco e álcool4 . Algumas mulheres entram em programas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sintoxicação numa tentativa <strong>de</strong> controlar o consumo e<br />

melhorarem a inserção social1 . Geralmente é neste grupo que<br />

se consegue um acompanhamento mais a<strong>de</strong>quado da gravi<strong>de</strong>z.<br />

Ainda assim, os obstáculos a gestações <strong>de</strong> sucesso são<br />

múltiplos e os RN po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senvolver muitos problemas,<br />

entre os quais, o síndrome <strong>de</strong> abstinência3,5-7 . A síndrome <strong>de</strong><br />

abstinência aparece nos RN <strong>de</strong> mães toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes que<br />

após o nascimento ficam privados das drogas para as quais<br />

<strong>de</strong>senvolveram <strong>de</strong>pendência in utero3,6-7 .<br />

O objectivo <strong>de</strong>ste estudo é conhecer a prevalência <strong>de</strong> recémnas<br />

cido <strong>de</strong> mãe toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte num concelho da Área<br />

Metro politana do Porto, avaliar as mudanças em termos <strong>de</strong><br />

con sumo e doenças associadas nas mães e as repercussões<br />

<strong>de</strong>ssas mudanças nos filhos.<br />

Material e métodos<br />

Foi realizada uma revisão casuística <strong>de</strong> todos os casos <strong>de</strong> RN<br />

<strong>de</strong> mãe toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte internados no Serviço <strong>de</strong> Neo na to -<br />

lo gia entre 1 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2000 e 31 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2006.<br />

O Serviço <strong>de</strong> Neonatologia dá assistência sanitária a toda a<br />

população da região, recebendo também RN <strong>de</strong> outras áreas<br />

que precisam <strong>de</strong> cuidados especializados.<br />

Definiu-se mãe toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, aquela que apenas consumiu<br />

opiáceos e/ou cocaína, reiteradamente, durante a gravi<strong>de</strong>z.<br />

116<br />

Lista <strong>de</strong> acrónimos:<br />

CMV – citomegalovírus<br />

IF – Índice <strong>de</strong> Finnegan<br />

RN – Recém-nascidos<br />

SA – Síndrome <strong>de</strong> abstinência<br />

VHB – vírus da hepatite B<br />

VHC – vírus da hepatite C<br />

VIH – vírus da imuno<strong>de</strong>ficiência humana<br />

A i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> casos foi feita pela verificação das notas <strong>de</strong><br />

alta <strong>de</strong> RN com o diagnóstico <strong>de</strong> “filho <strong>de</strong> mãe toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte”<br />

e “síndrome <strong>de</strong> abstinência neonatal”. Foram analisados<br />

diversos dados relativos à mãe: drogas consumidas, seu<br />

início e duração, programa <strong>de</strong> <strong>de</strong>sintoxicação, patologias<br />

mater nas; dados obstétricos, nomeadamente, vigilância da<br />

gravi<strong>de</strong>z (não vigiada, zero consultas; mal vigiada, uma a<br />

cinco consultas; vigiada, seis ou mais consultas); e relativos<br />

ao RN: sexo, parâmetros somatométricos, patologias. Nos<br />

casos <strong>de</strong> SA, <strong>de</strong>u-se relevância ao início e duração da sín -<br />

drome, parâmetros do Índice <strong>de</strong> Finnegan (IF) mais pontuados<br />

e fármacos usados.<br />

O IF é obtido pela observação e pontuação <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong><br />

sinais e sintomas, divididos por sistemas e aparelhos. Se o<br />

resultado for igual ou superior a oito, em três avaliações consecutivas,<br />

ou superior a doze, em duas observações conse -<br />

cutivas (habitualmente <strong>de</strong> quatro em quatro horas), consi<strong>de</strong><br />

ra-se que o RN sofre SA3,6 .<br />

Na avaliação do <strong>de</strong>senvolvimento somático consi<strong>de</strong>raram-se<br />

as curvas <strong>de</strong> percentis do Boletim <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Infantil e Juvenil.<br />

A avaliação foi feita para a ida<strong>de</strong> cronológica. Consi<strong>de</strong>rou-se<br />

“má-evolução” o <strong>de</strong>svio em duas curvas <strong>de</strong> percentil no sentido<br />

negativo, quer para peso, quer para o comprimento/altura<br />

e perímetro cefálico.<br />

Para a avaliação psicomotora foi usado o teste <strong>de</strong> Mary<br />

Sheridan. Os dados obtidos foram analisados por estatística<br />

<strong>de</strong>scritiva.<br />

Resultados<br />

No período estabelecido, foram diagnosticados 37 casos <strong>de</strong><br />

RN <strong>de</strong> mãe toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, entre um total <strong>de</strong> 14.074 nado-<br />

-vivos. Cinco <strong>de</strong>les não pertenciam à área <strong>de</strong> abrangência do<br />

hospital. Quatro mães foram transferidas <strong>de</strong>vido a gestações<br />

<strong>de</strong> pré-termo e, num caso, por vonta<strong>de</strong> materna. A prevalência<br />

foi <strong>de</strong> 2,7 casos por mil nado-vivos, sendo a média <strong>de</strong> 6,3<br />

casos/ano (Figura 1). A ida<strong>de</strong> materna variou entre 19 e 40<br />

anos, com mediana <strong>de</strong> 30 anos.<br />

Em três casos, à data <strong>de</strong> internamento, <strong>de</strong>sconhecia-se toxico<strong>de</strong>pendência<br />

materna. Num caso, o RN <strong>de</strong>senvolveu SA, que<br />

revelou o diagnóstico; os outros dois casos não <strong>de</strong>senvolveram<br />

abstinência, tendo a informação sido dada pelos Serviços<br />

Sociais num caso e noutro pelo hospital <strong>de</strong> origem.<br />

As drogas mais usadas foram os opiáceos, nomeadamente<br />

a heroína. Não foi possível, em todos os casos, saber acuradamente<br />

o início do consumo e a sua duração. Durante a<br />

gravi<strong>de</strong>z, 55% das mulheres encontravam-se em programa<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sintoxicação, 18 <strong>de</strong>las sob metadona (<strong>de</strong>ntre estas,<br />

cinco assu miram consumir outras drogas) e três sob buprenorfina.<br />

Seis mulheres consumiam heroína, quatro opiáceos<br />

e cocaína e três mulheres consumiam apenas cocaína.<br />

Em três casos, o consumo à data do internamento era <strong>de</strong>sconhecido<br />

(Figura 2). Em três casos havia consumo substancial<br />

<strong>de</strong> álcool (<strong>de</strong> forma crónica), não tendo sido possível<br />

saber absolutamente os hábi tos tabágicos ou abuso <strong>de</strong><br />

outras drogas.


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):115-9 Martins C et al – Recém-nascido <strong>de</strong> mãe toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

Figura 1 – Distribuição <strong>de</strong> casos por ano. Regista-se uma distribuição<br />

irregular.<br />

Figura 2 – Consumo <strong>de</strong> droga pela mãe. Predomina o consumo <strong>de</strong><br />

opiáceos, essencialmente <strong>de</strong> metadona.<br />

Catorze mulheres eram primigestas (38%), 73% tinham entre<br />

uma a três gestações e 27% tinham quatro ou mais gestações.<br />

Em 42% dos casos a gestação foi vigiada. Foi mal vigiada e<br />

não vigiada em nove e treze casos, respectivamente.<br />

Dez mães estavam infectadas pelo vírus da hepatite C (27%),<br />

uma pelo vírus da hepatite B e três pelo VIH. A serologia para<br />

sífilis foi positiva em quatro casos e para citomegalovírus<br />

num caso.<br />

Em 34%, as gestações foram pré-termo. Em <strong>de</strong>z gestações o<br />

parto ocorreu entre a trigésima segunda e a trigésima sexta<br />

semana e, em três, ocorreu antes das 32 semanas gestacionais.<br />

Na maioria dos casos o parto foi eutócico (66%). Seis RN<br />

necessitaram <strong>de</strong> reanimação neonatal. Nasceram mais RN do<br />

sexo feminino (66%).<br />

A média <strong>de</strong> peso ao nascimento foi <strong>de</strong> 2.620 gramas. A maioria<br />

tinha baixo peso ao nascer (56%). Dezasseis por cento nasceu<br />

com peso entre 1.500 e 2.000 gramas e 37% entre os<br />

2.000-2.500 gramas. O menor peso registado foi <strong>de</strong> 790 gramas<br />

(Quadro I). Foram registados cinco casos <strong>de</strong> peso leve<br />

para a ida<strong>de</strong> gestacional e um pesado para a ida<strong>de</strong> gestacional.<br />

Verificou-se um caso <strong>de</strong> ectasia piélica, não tendo sido verificadas<br />

outras malformações.<br />

Quadro I – Distribuição <strong>de</strong> recém-nascidos por peso à nascença.<br />

Quase meta<strong>de</strong> dos recém-nascidos apresenta peso superior a 2500<br />

gramas.<br />

Peso (g) 2500<br />

Número<br />

<strong>de</strong> casos<br />

1 0 6 14 16<br />

Distribuição<br />

relativa<br />

3% 0% 16% 38% 44%<br />

Dos RN, três fizeram tratamento para sífilis e um foi infec tado<br />

pelo vírus da hepatite C.<br />

Cerca <strong>de</strong> 71% dos casos <strong>de</strong>senvolveu SA. A síndrome ini -<br />

ciou-se pelo segundo dia <strong>de</strong> vida e teve uma mediana <strong>de</strong> duração<br />

<strong>de</strong> 15 dias, com mínimo <strong>de</strong> três e máximo <strong>de</strong> 49 dias. Dos<br />

parâmetros do IF, os relacionados com o sistema nervoso central<br />

e o aparelho gastro-intestinal foram os mais pontuados<br />

(trémulo, choro gritado, tónus aumentado e <strong>de</strong>jecções líquidas).<br />

Em 79% dos casos, o fármaco usado para controlo da<br />

síndrome foi o fenobarbital e em 21% foi a solução <strong>de</strong> mor -<br />

fina (Quadro II). A mediana da duração da síndrome foi <strong>de</strong> 13<br />

dias quando medicada com fenobarbital e <strong>de</strong> 23,5 dias com<br />

solução <strong>de</strong> morfina.<br />

Houve registo <strong>de</strong> dois óbitos, ambos no ano <strong>de</strong> 2001, um por<br />

prematurida<strong>de</strong> extrema e outro na sequência <strong>de</strong> encefalopatia<br />

hipóxico-isquémica. As restantes crianças foram orientadas<br />

para a consulta externa, sendo que 24 apresentavam casos<br />

sociais graves. Uma criança foi entregue para adopção.<br />

Quadro II – Fármaco usado na síndrome <strong>de</strong> abstinência, con soante a droga consumida pela mãe. Na maioria dos casos foi usado o<br />

fenobarbital.<br />

Droga opiáceos metadona buprenorfina cocaína múltiplas + múltiplas <strong>de</strong>sconhecida proporção<br />

Fármaco metadona<br />

fenobarbital 4 7 2 1 2 2 1 79%<br />

solução<br />

<strong>de</strong> morfina<br />

- 5 - - 3 - - 21%<br />

117


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):115-9 Martins C et al – Recém-nascido <strong>de</strong> mãe toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

Actualmente, das 35 crianças passíveis <strong>de</strong> ser acompanhadas<br />

em consulta, 31 são observadas regularmente e nenhuma<br />

<strong>de</strong>las se apresenta em ida<strong>de</strong> escolar. A maioria apresenta evolução<br />

pon<strong>de</strong>ral favorável, apenas quatro têm peso inferior ao<br />

percentil cinco. Relativamente ao <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor,<br />

a maioria apresenta <strong>de</strong>senvolvimento a<strong>de</strong>quado. Duas<br />

crianças têm atraso da linguagem e uma, atraso grave do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento psicomotor.<br />

Discussão<br />

Este estudo evi<strong>de</strong>nciou vários obstáculos existentes na colheita<br />

dos diferentes dados. A população toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, normalmente<br />

inserida em contexto económico e sócio-familiar<br />

<strong>de</strong>sfavorável, frequentemente omite informações ou não colabora4-5,7<br />

. Por esta razão <strong>de</strong>cidiu-se não incluir o uso <strong>de</strong> canabinói<strong>de</strong>s,<br />

porque provavelmente alteraria os resultados. Sabe-se<br />

que o seu consumo é frequente entre os toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes,<br />

ainda que seja omitido, especialmente durante uma gestação4 .<br />

Também não foi possível saber <strong>de</strong>talhadamente os hábitos<br />

alcoólicos e tabágicos da população, bem como a duração<br />

exacta do consumo <strong>de</strong> drogas e a sua frequência. Todos estes<br />

dados seriam pertinentes, porque são bem conhecidas as suas<br />

consequências no RN4 .<br />

A prevalência observada <strong>de</strong> RN <strong>de</strong> mãe toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte no<br />

nosso meio foi <strong>de</strong> 2,7 casos por cada mil nado-vivos, menor<br />

do que a registada em outros estudos5,7-8 . Provavelmente <strong>de</strong> vese<br />

ao facto <strong>de</strong> muitas mulheres acompanhadas no Centro <strong>de</strong><br />

Aten dimento a Toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da área serem orientadas<br />

para outra instituição hospitalar, com a qual têm protocolo <strong>de</strong><br />

cooperação. Outro motivo para a baixa prevalência é o facto<br />

<strong>de</strong> não se ter incluído o uso <strong>de</strong> canabinói<strong>de</strong>s. A distribuição<br />

por anos parece ser irregular, sem clara tendência crescente ou<br />

<strong>de</strong>crescente. A ida<strong>de</strong> materna não difere da população geral e<br />

está <strong>de</strong> acordo com achados <strong>de</strong> outros estudos5,7 . Apesar <strong>de</strong> ser<br />

cada vez mais frequente o consumo <strong>de</strong> estupefacientes por<br />

adolescentes1 , não tivemos gestações neste grupo etário.<br />

Quanto às drogas, como esperado, os opiáceos foram os mais<br />

usados, especialmente a heroína5 . O consumo <strong>de</strong> cocaína foi<br />

assumido apenas em três casos, mas acreditamos que haja<br />

muitos mais, uma vez que a sua prevalência está a aumentar1,5 .<br />

Facto a evi<strong>de</strong>nciar é que a maioria das mães estavam sob programa<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sintoxicação, tendo sido a metadona, a droga mais<br />

usada. A <strong>de</strong>sintoxicação foi mais frequente nos últimos anos<br />

bem, como o consumo <strong>de</strong> cocaína, <strong>de</strong>monstrando uma modificação<br />

nos hábitos <strong>de</strong> consumo.<br />

A maioria das mães não vigiou ou vigiou mal a gestação, proporção<br />

mais alta do que em outros estudos publicados5 , o que<br />

<strong>de</strong>monstra a marginalida<strong>de</strong> da população estudada. Um quarto<br />

das mães estava infectada pelo VHC. Verificou-se apenas um<br />

caso <strong>de</strong> infecção pelo VHC, o que está <strong>de</strong> acordo com a baixa<br />

taxa <strong>de</strong> transmissão vertical. A prevalência <strong>de</strong> infecção concomitante<br />

com VIH foi baixa. Três grávidas não fizeram tratamento<br />

para a sífilis, levando à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tratamento dos RN.<br />

Cerca <strong>de</strong> um terço dos casos, o parto foi <strong>de</strong> pré-termo e o peso<br />

ao nascer foi baixo para a ida<strong>de</strong> gestacional. A média <strong>de</strong> peso<br />

na nossa casuística foi sobreponível à encontrada na litera -<br />

118<br />

tura5,7-8 . A agressão crónica ao feto durante a gestação faz prever<br />

este resultado. Ainda assim, o peso está proporcional -<br />

mente relacionado com a vigilância efectuada. A prevalência<br />

<strong>de</strong> malformações não foi diferente da população geral.<br />

A incidência <strong>de</strong> SA foi <strong>de</strong> 71%, ligeiramente mais baixa do<br />

que referido por outros autores5 , ainda assim, significativa. O<br />

facto <strong>de</strong> um terço dos RN serem pré-termo po<strong>de</strong> justificar esta<br />

menor incidência. A imaturida<strong>de</strong> do sistema nervoso central e<br />

a própria prematurida<strong>de</strong> tornam mais difícil <strong>de</strong>tectar o SA.<br />

Mais <strong>de</strong> 90% <strong>de</strong> filhos cujas mães estavam sob <strong>de</strong>sintoxicação<br />

<strong>de</strong>senvolveu SA. Um dos RN <strong>de</strong> mãe que referiu consumo <strong>de</strong><br />

cocaína teve SA. Como a cocaína não está associada ao SA, a<br />

mãe <strong>de</strong>verá ter consumido outras drogas3,9 . Dos seis filhos <strong>de</strong><br />

mulheres que assumiram consumir apenas heroína, 50%<br />

<strong>de</strong>senvolveram SA. Seria essencial saber o tempo sem droga<br />

ante-parto. Mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> dos RN <strong>de</strong>senvolveu SA logo no<br />

primeiro dia <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> acordo com outros estudos publicados7,9<br />

. Nos que começaram SA após o terceiro dia, e aqueles<br />

em que o SA durou mais <strong>de</strong> 20 dias, a mãe consumia meta -<br />

dona. Esta droga, tendo uma maior semi-vida, habitualmente<br />

leva a SA <strong>de</strong> início mais tardio e mais <strong>de</strong>morado3,9-10 . No nosso<br />

estudo, muitos RN, cujas mães assumiram consumo exclu sivo<br />

<strong>de</strong>sta droga, iniciaram SA logo no primeiro dia, o que faz pensar<br />

que ou omitiram consumo por outras drogas ou a dose <strong>de</strong><br />

consumo seria muito baixa.<br />

Para avaliar o SA, baseámo-nos no IF, o mais universalmente<br />

aceite3-8,11 . Como seria <strong>de</strong> esperar, a sintomatologia mais evi<strong>de</strong>nte<br />

foi a do sistema nervoso central, <strong>de</strong>monstrando a sua<br />

elevada susceptibilida<strong>de</strong>3,10 . No nosso Serviço, até 2003 usa -<br />

va-se apenas fenobarbital no controlo do SA. A partir <strong>de</strong>ssa<br />

data, este era usado apenas no consumo múltiplo <strong>de</strong> drogas,<br />

medicando-se com solução <strong>de</strong> morfina os casos <strong>de</strong> consumo<br />

apenas <strong>de</strong> opiáceos. Por esta razão encontrámos uma discrepância<br />

tão gran<strong>de</strong> entre os RN com diferente medicação. Os<br />

que receberam solução <strong>de</strong> morfina tiveram maior tempo <strong>de</strong><br />

internamento, contrariamente a outros estudos publicados8,12,14 .<br />

Tal po<strong>de</strong> ser justificado pelo seu uso, essencialmente, no controlo<br />

<strong>de</strong> abstinência à metadona, que leva a SA mais <strong>de</strong>mo -<br />

rados3,8,10,12-13 . Não po<strong>de</strong>mos tirar mais ilações dado o número<br />

dos RN sob morfina ser reduzido.<br />

Foi esperado o número <strong>de</strong> casos sociais consi<strong>de</strong>rados graves,<br />

quer por serem famílias altamente disfuncionais, quer pela<br />

situação económica muito precária. A quase totalida<strong>de</strong> das<br />

crianças apresenta um crescimento <strong>de</strong>ntro da normalida<strong>de</strong>.<br />

Apesar do baixo peso ao nascer, acabam por ter uma boa evolução<br />

pon<strong>de</strong>ral e apesar do sistema nervoso central ser muito<br />

frequentemente atingido, o perímetro cefálico é, em média,<br />

normal.<br />

Dado ser uma casuística <strong>de</strong> seis anos, ainda não é suficiente o<br />

número <strong>de</strong> crianças avaliadas por outros testes <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

que não o teste <strong>de</strong> Mary Sheridan. Este teste é muito<br />

básico mas, na consulta <strong>de</strong> acompanhamento, orienta o clí nico<br />

para as possíveis áreas <strong>de</strong> atraso do <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor.<br />

Ainda assim, a nossa experiência parece ser muito<br />

optimista, <strong>de</strong> acordo com outro estudo realizado7 . É possível<br />

que, na altura <strong>de</strong> iniciar a escolarida<strong>de</strong>, alguma <strong>de</strong>stas crianças<br />

possa ter problemas, nomeadamente por alterações do


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):115-9 Martins C et al – Recém-nascido <strong>de</strong> mãe toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

comportamento e por dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem 4 . Estas<br />

crianças são referenciadas antes do início da escolarida<strong>de</strong> para<br />

a consulta <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento para avaliação. Seria interessante<br />

saber qual o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>stas crianças, comparando<br />

com a população geral.<br />

Conclusões<br />

A nossa experiência mostra resultados razoáveis e, portanto,<br />

seria fundamental investir nestas gestações <strong>de</strong> risco, inte -<br />

grando as grávidas na consulta e fazendo o acompanhamento<br />

dos RN, minimizando os riscos e as consequências negativas<br />

da toxico<strong>de</strong>pedência durante a gestação.<br />

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syndrome. Arch Dis Child 2004;89:300-4.<br />

119


Varicela e alucinações. Um caso clínico<br />

Teresa Ferreira, Susana Rocha, Elisabete Gonçalves<br />

Serviço <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria do Hospital Nossa Senhora do Rosário, Barreiro<br />

Resumo<br />

Apresenta-se um caso <strong>de</strong> varicela numa criança <strong>de</strong> 5 anos<br />

medicada com hidroxizina oral e difenidramina tópica, que no<br />

terceiro dia <strong>de</strong> doença inicia subitamente alterações do comportamento<br />

com alucinações visuais e auditivas. Foi internada,<br />

tendo suspendido a aplicação tópica <strong>de</strong> difenidramina,<br />

mantendo apenas terapêutica sintomática. Teve alta 24 horas<br />

<strong>de</strong>pois clinicamente bem, com remissão completa da sintomatologia.<br />

A possível etiologia <strong>de</strong>ste quadro é a intoxicação pela<br />

difenidramina, conforme está <strong>de</strong>scrito na literatura. Este caso<br />

alerta os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para a potencial toxicida<strong>de</strong> da<br />

difenidramina nas crianças com varicela.<br />

Palavras-chave: varicela, alucinações, difenidramina.<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008;39(3):120-1<br />

Varicella and hallucinations. Case report<br />

Abstract<br />

We report a five years old child with varicella, to whom oral<br />

hidroxyzine and topic diphenhydramine were given, which<br />

<strong>de</strong>veloped visual and auditory hallucinations on the third day<br />

of disease. As the child was admitted, no further diphenhydra -<br />

mine was applied and symptomatic therapy was given. The<br />

child recovered completely within 24 hours. Diphenhydra -<br />

mine toxicity is the presumed aetiology, as previously <strong>de</strong>s cri -<br />

bed. This report alerts clinicians to the possibility of diphe -<br />

nhy dramine toxicity in children with varicella and hallu -<br />

cination.<br />

Key-Words: varicella, hallucination, diphenhydramine.<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008;39(3):120-1<br />

Introdução<br />

A varicela é uma doença infecciosa frequente na ida<strong>de</strong> pediátrica.<br />

A sua evolução é, <strong>de</strong> um modo geral, benigna, po <strong>de</strong>ndo,<br />

no entanto, ocorrer complicações. A terapêutica é sinto -<br />

mática, sendo indicado o uso <strong>de</strong> aciclovir em situações espe-<br />

Recebido: 14.04.2005<br />

Aceite: 21.05.2008<br />

120<br />

0873-9781/08/39-3/120<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

cíficas. Alguns fármacos estão formalmente contraindicados,<br />

como o ácido acetilsalicílico e o ibuprofeno, dado o risco <strong>de</strong><br />

síndrome <strong>de</strong> Reye e fasceíte necrosante, respectivamente. A<br />

intoxicação por difenidramina, medicamento frequentemente<br />

utilizado na varicela, foi <strong>de</strong>scrita na literatura, com quadros<br />

<strong>de</strong> alteração súbita <strong>de</strong> comportamento, e que obrigam ao<br />

diagnóstico diferencial com complicações neurológicas da<br />

varicela 1 .<br />

Relato do caso<br />

Criança do sexo masculino, cinco anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Primeiro<br />

filho <strong>de</strong> pais não consanguíneos, com antece<strong>de</strong>ntes familiares<br />

<strong>de</strong> favismo (pai) e <strong>de</strong> perturbação bipolar (avó paterna), sem<br />

outras patologias do foro heredo-familiar. Gestação <strong>de</strong> termo,<br />

vigiada e sem intercorrências. Parto distócico (forceps), com<br />

peso <strong>de</strong> 3440g e com Índice <strong>de</strong> Apgar 9 ao primeiro minuto e<br />

10 aos cinco. Período neonatal sem intercorrências. Programa<br />

Nacional <strong>de</strong> Vacinação actualizado. Desenvolvimento psicomo<br />

tor e evolução estaturo-pon<strong>de</strong>ral a<strong>de</strong>quados para a ida<strong>de</strong>.<br />

Sem antece<strong>de</strong>ntes pessoais relevantes.<br />

Esteve aparentemente bem até três dias antes do interna -<br />

mento, altura em que iniciou quadro <strong>de</strong> varicela, tendo sido<br />

medicado com hidroxizina (1 mg/kg/dia), difenidramina tópica<br />

e paracetamol. No terceiro dia <strong>de</strong> doença surgiram subitamente<br />

alterações <strong>de</strong> comportamento, com alucinações visuais<br />

e auditivas, sem outras queixas, nomeadamente febre, cefaleias,<br />

<strong>de</strong>terioração do estado geral, vómitos, ou ataxia. Foi<br />

negada a ingestão <strong>de</strong> outros fármacos ou tóxicos.<br />

Apresentava bom estado geral, lesões cutâneas <strong>de</strong> varicela,<br />

algumas com a marca da aplicação tópica <strong>de</strong> difenidramina.<br />

Estava apirético, orientado no espaço e no tempo, com dis -<br />

curso perceptível, sem disartria. O exame neurológico não<br />

revelou alterações e não tinha sinais meníngeos. Por momentos<br />

revelava alterações do comportamento com alucinações<br />

visuais e auditivas: referia ter “bichos a subir pelos braços”,<br />

tentava apanhar o “barco” do chão (que não existia), acenava<br />

ao avô (que não estava presente), falava como se tivesse um<br />

amigo ao lado.<br />

Correspondência:<br />

Teresa Ferreira<br />

teresaferreira@netcabo.pt<br />

CASO CLÍNICO


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):120-1 Ferreira T et al – Varicela e alucinações<br />

Foi internado para vigilância, apenas com medidas sintomáticas,<br />

incluindo hidroxizina (1mg/Kg/dia), sendo suspensa a<br />

aplicação <strong>de</strong> difenidramina.<br />

O hemograma não apresentava alterações, a proteína C reactiva<br />

era <strong>de</strong> 8,8 mg/L e o doseamento <strong>de</strong> tóxicos na urina foi<br />

negativo.<br />

A evolução no internamento foi favorável, estando sempre<br />

apirético, sem outras queixas. O quadro <strong>de</strong> alucinações regrediu<br />

em menos <strong>de</strong> 24 horas. Teve alta clinicamente bem.<br />

Discussão<br />

Perante uma criança com varicela, que inicia subitamente<br />

alterações <strong>de</strong> comportamento, com alucinações visuais e auditivo-verbais,<br />

várias hipóteses diagnósticas foram pensadas.<br />

A encefalite foi inicialmente colocada como diagnóstico diferencial,<br />

mas dado a apresentação clínica não ser típica, sem<br />

sintomas adicionais para além das alterações <strong>de</strong> comportamento,<br />

nomeadamente prostração, sensação <strong>de</strong> doença, vómitos,<br />

cefaleias ou sinais focais, optou-se por uma atitu<strong>de</strong> expectante1,2<br />

. Se não tivesse ocorrido uma rápida melhoria clínica,<br />

para além <strong>de</strong> um exame <strong>de</strong> imagem e uma punção lombar para<br />

excluir uma encefalite da varicela, um electroencefalograma<br />

estaria também clinicamente indicado. Pela apresentação clínica<br />

e porque geralmente ocorre meses após a infecção, o quadro<br />

<strong>de</strong> angiopatia da varicela é improvável, assim como a<br />

encefalomielite aguda disseminada3 . A cerebelite da varicela<br />

não surge habitualmente no terceiro dia <strong>de</strong> evolução e predomina<br />

a ataxia, dismetria e tremor, ausentes nesta criança4 .<br />

Dados os antece<strong>de</strong>ntes familiares psiquiátricos, po<strong>de</strong>ria pensar-se<br />

que estaríamos perante o início <strong>de</strong> um surto psicótico.<br />

No entanto, na maioria dos casos as alucinações visuais são <strong>de</strong><br />

etiologia orgânica5 e, por outro lado, houve remissão rápida<br />

sem terapêutica antipsicótica, pelo que esta hipótese também<br />

foi excluída. Também estão <strong>de</strong>scritas neste grupo etário alucinações<br />

fóbicas benignas da infância, <strong>de</strong> características visuais<br />

e tácteis, associadas a ansieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> predomínio nocturno.<br />

Mas neste caso as crianças ficam assustadas e apresentam um<br />

medo inexplicado, com a sensação <strong>de</strong> terem animais a rastejar<br />

sobre elas. Os sintomas po<strong>de</strong>m persistir 1-3 dias a 1-2<br />

semanas, sendo auto-limitados4,6 .<br />

A intoxicação medicamentosa <strong>de</strong>ve ser pensada perante uma<br />

criança que se apresente com alterações súbitas do estado <strong>de</strong><br />

consciência ou <strong>de</strong> comportamento2 . De facto, no caso relatado,<br />

a rápida regressão do quadro após suspensão da difenidramina,<br />

e a ausência <strong>de</strong> outra sintomatologia, permitiu colocar como<br />

primeira hipótese a intoxicação, apesar <strong>de</strong> não ter sido possível<br />

dosear o nível sérico <strong>de</strong>sta substância. A aplicação cutânea <strong>de</strong><br />

difenidramina quando existe solução <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> na pele,<br />

através da absorção transdérmica, po<strong>de</strong> resultar em níveis tóxicos<br />

e consequentemente causar um quadro <strong>de</strong> psicose tóxica.<br />

Também está <strong>de</strong>scrito que os sintomas po<strong>de</strong>m aparecer com<br />

doses padrão por mecanismo <strong>de</strong> reacção idiossincrática7,8 .<br />

Existem alguns casos <strong>de</strong> intoxicação após aplicação <strong>de</strong> difenidramina<br />

publicados na literatura, sendo o primeiro relatado<br />

em 1986. Filloux <strong>de</strong>screveu o caso clínico <strong>de</strong> uma criança <strong>de</strong><br />

nove anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> com varicela que aplicara por toda a<br />

superfície corporal uma loção contendo calamina-difenidramina<br />

1%, dado o intenso prurido. A toxicida<strong>de</strong> da difenidramina<br />

resultou numa psicose tóxica. O doseamento sérico<br />

<strong>de</strong>sta substância <strong>de</strong>monstrou níveis tóxicos <strong>de</strong> 1,4 μg/mL,<br />

sendo o nível terapêutico <strong>de</strong> 0,3 μg/mL. Após a suspensão da<br />

aplicação <strong>de</strong> difenidramina houve regressão do quadro clínico,<br />

com normalização dos níveis séricos, tendo alta clinicamente<br />

bem7 .<br />

Outros artigos <strong>de</strong>screvem casos clínicos <strong>de</strong> crianças com varicela<br />

medicados com difenidramina oral e tópica, alertando<br />

para o risco <strong>de</strong>sta associação9 . As crianças apresentam sintomas<br />

comuns da toxicida<strong>de</strong> da difenidramina: pupilas dilatadas,<br />

rubor facial, agitação, confusão, alucinações e por vezes<br />

ataxia e/ou retenção urinária. Após a suspensão <strong>de</strong> difenidramina,<br />

todas as crianças apresentam um status mental normal<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> 24 a 36 horas.<br />

Em 1997 a FDA (Food and Drug Administration) publicou<br />

um documento on<strong>de</strong> <strong>de</strong>saconselhava a prescrição <strong>de</strong> difenidramina<br />

tópica em crianças com varicela ou outras doenças<br />

em que houvesse alterações da barreira cutânea, bem como o<br />

uso concomitante <strong>de</strong>sta substância por via oral9 .<br />

Com este caso clínico alertam-se os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

para a potencial toxicida<strong>de</strong> da aplicação tópica <strong>de</strong> difenidramina<br />

nas crianças com varicela, não sendo por isso indicada a<br />

sua prescrição. Perante uma criança com varicela e alucinações<br />

a hipótese <strong>de</strong> intoxicação <strong>de</strong>ve ser pon<strong>de</strong>rada.<br />

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9. Food and Drug Administration, HHS, Fed Regist, 1997;62:45767- 73.<br />

121


Diagnóstico tardio <strong>de</strong> malformação a<strong>de</strong>nomatoi<strong>de</strong>ia quística pulmonar<br />

congénita<br />

Teresa Ferreira 1 , Susana Rocha 1 , Elisabete Gonçalves 1 , Miroslava Gonçalves 2 , Elisabete Vieira 2 , Luísa Lobo 3 , Maria João<br />

Palhano 4 , Teresa Ban<strong>de</strong>ira 5<br />

1 - Serviço <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria. Hospital Nª Sra do Rosário, Barreiro<br />

2 - Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cirurgia <strong>Ped</strong>iátrica, Clínica Universitária <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria. Departamento da Criança e da Família. Hospital Santa<br />

Maria, Lisboa<br />

3 - Serviço <strong>de</strong> Radiologia. Hospital Santa Maria, Lisboa<br />

4 - Serviço <strong>de</strong> Anatomia Patológica. Hospital Santa Maria, Lisboa<br />

5 - Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pneumologia <strong>Ped</strong>iátrica, Clínica Universitária <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria, Departamento da Criança e da Família. Hospital<br />

Santa Maria, Lisboa<br />

Resumo<br />

A malformação a<strong>de</strong>nomatoi<strong>de</strong>ia quística pulmonar congénita<br />

(MAQPC) é a segunda malformação pulmonar congénita<br />

mais comum. É actualmente diagnosticada no período intraute<br />

rino ou neonatal precoce, sendo raras as formas <strong>de</strong> apresentação<br />

tardias. Estas <strong>de</strong>verão ser consi<strong>de</strong>radas no diagnóstico<br />

diferencial <strong>de</strong> pneumonia com imagem radiológica persistente.<br />

Descreve-se uma adolescente <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos com pneumonia<br />

extensa à esquerda e imagens <strong>de</strong> cavitação. A ecografia e<br />

tomografia computorizada (TC) torácicas confirmaram a existência<br />

<strong>de</strong> múltiplas lesões quísticas. A TC com contraste i.v<br />

efectuada 6 meses <strong>de</strong>pois permitiu o diagnóstico. Efectuou-se<br />

lobectomia inferior esquerda e ressecção da língula. O exame<br />

anatomo-patológico confirmou o diagnóstico <strong>de</strong> MAQP tipo<br />

I. Realça-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acompanhamento posterior à<br />

cirurgia e a importância <strong>de</strong> reeducação respiratória.<br />

Palavras-Chave: malformação a<strong>de</strong>nomatoi<strong>de</strong>ia quística pulmonar<br />

congénita, criança, malformação pulmonar congénita,<br />

pneumonia persistente, tórax.<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008;39(3):122-4<br />

Late presentation of congenital cystic a<strong>de</strong>nomatoid<br />

malformation of the lung<br />

Abstract<br />

Congenital cystic a<strong>de</strong>nomatoid malformation (CCAM) is the<br />

second most common congenital lung anomaly. Nowadays it<br />

is diagnosed in utero or in the neonatal period, with late pre -<br />

sentation forms being rare. These should be consi<strong>de</strong>red in the<br />

Recebido: 20.10.2006<br />

Aceite: 30.06.2008<br />

122<br />

0873-9781/08/39-3/122<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

CASO CLÍNICO<br />

differential diagnosis of pneumonia with persistent radio -<br />

graphic lesion. We <strong>de</strong>scribe a girl admitted at the age of 10<br />

with extensive left si<strong>de</strong>d pneumonia with cavitations. The<br />

ultra sound and chest computed tomography (CT) confirmed<br />

the presence of multiple cystic lesions. Chest CT scan with<br />

intra venous contrast performed six months later confirmed<br />

CCAM. She un<strong>de</strong>rwent inferior left and lingula excision. The<br />

histologic exam confirmed the diagnosis of type I CCAM. We<br />

emphasize the need of follow-up after surgery and the importance<br />

of respiratory reeducation.<br />

Key-words: congenital cystic a<strong>de</strong>nomatoid malformation,<br />

child, congenital lung malformations, persistent pneumonia,<br />

chest.<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008;39(3):122-4<br />

Introdução<br />

As malformações pulmonares congénitas são raras. Dentro<br />

<strong>de</strong>stas, o enfisema pulmonar é a mais frequente, seguido da<br />

malformação a<strong>de</strong>nomatoi<strong>de</strong>ia quística pulmonar congénita<br />

(MAQPC) 1 , que correspon<strong>de</strong> a 25% das malformações pulmonares.<br />

Foi <strong>de</strong>scrita pela primeira vez em 1949 por Ch´in e<br />

Tang. 2 Caracteriza-se por um crescimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado dos<br />

bronquíolos terminais que formam quistos <strong>de</strong> tamanhos diferentes3,4<br />

.<br />

Actualmente é diagnosticada por ecografia no período intraute<br />

rino ou neonatal precoce, sendo raras as formas <strong>de</strong> apresentação<br />

tardias3-6 .<br />

Correspondência:<br />

Teresa Ban<strong>de</strong>ira<br />

Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pneumologia <strong>Ped</strong>iátrica, Clínica Universitária <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria,<br />

Departamento da Criança e da Família.<br />

Hospital Santa Maria<br />

Av. Professor Egas Moniz – 1649-035 Lisboa<br />

teresa.ban<strong>de</strong>ira@hsm.min-sau<strong>de</strong>.pt


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):122-4 Ferreira T et al – Malformação a<strong>de</strong>nomatoi<strong>de</strong>ia quística pulmonar<br />

Relato do Caso<br />

Adolescente, doze anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, sexo feminino. Gravi<strong>de</strong>z <strong>de</strong><br />

termo, vigiada, com ecografias seriadas consi<strong>de</strong>radas sem<br />

alterações. Parto eutócico. Peso ao nascer: 3290 g, índice <strong>de</strong><br />

Apgar: 9/10. Período neonatal sem intercorrências. Sempre<br />

com boa evolução estaturo-pon<strong>de</strong>ral e sem antece<strong>de</strong>ntes patológicos<br />

relevantes.<br />

Aos <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> recorreu ao Serviço <strong>de</strong> Urgência por<br />

quadro <strong>de</strong> febre, tosse produtiva, toracalgia esquerda e anorexia<br />

<strong>de</strong> agravamento progressivo, com quatro dias <strong>de</strong> evolução.<br />

Oito dias antes do início <strong>de</strong>stas queixas fora medicada com<br />

amoxicilina e ácido clavulânico, durante sete dias, para infecção<br />

respiratória alta. À admissão apresentava-se queixosa,<br />

emagrecida, com discreta tiragem infra e intercostal e saturação<br />

percutânea <strong>de</strong> oxigénio <strong>de</strong> 96%. Apresentava diminuição<br />

do murmúrio vesicular nos dois terços inferiores do hemi tórax<br />

esquerdo, fervores crepitantes e diminuição da transmissão<br />

das vibrações vocais à palpação torácica. Na radiografia do<br />

tórax antero-posterior observou-se acentuado <strong>de</strong>svio da traqueia<br />

e estruturas do mediastino para a direita e extensa<br />

con<strong>de</strong>n sação ocupando os dois terços inferiores do campo<br />

pulmonar esquerdo, com <strong>de</strong>rrame pleural associado (confirmado<br />

por ecografia torácica) e imagens hipertransparentes<br />

sugestivas <strong>de</strong> cavitações (Figura 1A). Analiticamente apresentava<br />

leucocitose com neutrofilia (leucócitos- 19390/mm3 ,<br />

neutrófilos- 85,4%) e proteína C reactiva <strong>de</strong> 443 mg/L.<br />

A B<br />

Figura 1 – A. Radiografia <strong>de</strong> torax postero-anterior. Extensa<br />

con<strong>de</strong>n sação nos 2/3 inferiores do hemitórax esquerdo, expansiva,<br />

com imagens hipertransparentes gasosas, sugestivas <strong>de</strong> cavitações,<br />

condicionando <strong>de</strong>svio contralateral das estruturas mediastínicas.<br />

B. Tomografia computorizada torácica com contraste. No lobo<br />

inferior esquerdo i<strong>de</strong>ntificam-se imagens quísticas <strong>de</strong> dimensões<br />

variáveis <strong>de</strong> alguns mm a vários cm. Não há evidência <strong>de</strong> irrigação<br />

arterial anómala. Alterações compatíveis com malformação a<strong>de</strong>nomatoi<strong>de</strong>ia<br />

quística pulmonar congénita (MAQP).<br />

Foi internada e iniciou antibioticoterapia endovenosa. A<br />

tomografia computorizada torácica (TCt) ao quinto dia <strong>de</strong><br />

internamento revelou con<strong>de</strong>nsação com imagens quísticas<br />

gasosas, <strong>de</strong> dimensões variadas, no seu interior, interpretadas<br />

no contexto clínico como pneumatocelos. As duas hemocul -<br />

turas foram negativas. Verificou-se melhoria clínica e laboratorial,<br />

tendo tido alta ao 19º dia <strong>de</strong> internamento.<br />

Por manter sintomatologia respiratória (tosse e cansaço fácil)<br />

e imagens <strong>de</strong> cavitação nos exames radiológicos efectuados<br />

nos meses seguintes, foi referenciada à consulta <strong>de</strong> Pneu -<br />

mologia <strong>Ped</strong>iátrica <strong>de</strong> um hospital central universitário. Por<br />

suspeita <strong>de</strong> malformação pulmonar congénita e para estabelecimento<br />

<strong>de</strong> diagnóstico imagiológico pré-cirúrgico realizou-<br />

se, 6 meses após o diagnóstico <strong>de</strong> pneumonia, TCt com contraste<br />

i.v que revelou alterações sugestivas <strong>de</strong> MAQPC<br />

(Figura 1B).<br />

Foi submetida a cirurgia com lobectomia inferior esquerda e<br />

ressecção da língula, que <strong>de</strong>correu sem complicações. No<br />

exame anatomo-patológico da peça operatória observaram-se<br />

dilatações quísticas dos bronquíolos terminais <strong>de</strong> diferentes<br />

dimensões, revestidas por epitélio do tipo respiratório, com<br />

fibrose intersticial, alterações características <strong>de</strong> MAQPC tipo<br />

I (Figura 2).<br />

Figura 2 – Exame anatomo-patológico. Dilatações quísticas dos<br />

bronquíolos terminais <strong>de</strong> diferentes dimensões, revestidas por epitélio<br />

do tipo respiratório, com fibrose intersticial, alterações características<br />

<strong>de</strong> malformação a<strong>de</strong>nomatoi<strong>de</strong>ia quística pulmonar congénita<br />

(MAQP) tipo I.<br />

Actualmente encontra-se assintomática, embora apresente<br />

escoliose <strong>de</strong>xtro-convexa e um padrão restritivo no estudo<br />

funcional respiratório (capacida<strong>de</strong> vital 1,49 L (51,6%), Índice<br />

<strong>de</strong> Tiffeneau 92,2 e capacida<strong>de</strong> pulmonar total 2,62 L<br />

(66,4%)). Na última avaliação radiológica observa-se elevação<br />

da hemicúpula diafragmática esquerda e na TCt evi<strong>de</strong>ncia-se<br />

redução <strong>de</strong> volume do campo pulmonar esquerdo e<br />

espessamento pleural, por alterações pós-cirúrgicas. Neste<br />

contexto, foi encaminhada para a Consulta <strong>de</strong> Fisiatria para<br />

reeducação funcional respiratória.<br />

Discussão<br />

A MAQPC é a segunda malformação broncopulmonar mais<br />

frequente, não hereditária, sem associação com a ida<strong>de</strong> materna.<br />

Geralmente é unilateral, afectando um ou múltiplos<br />

lobos3,7,8 .<br />

A patogénese mantém-se <strong>de</strong>sconhecida. Sabe-se que existe<br />

uma interrupção localizada da morfogénese pulmonar, com<br />

aumento da proliferação celular e diminuição da apoptose. Há<br />

uma distorção da arquitectura broncoalveolar, com áreas a<strong>de</strong>nomatosas<br />

sólidas formadas por estruturas tubulares semelhantes<br />

a bronquíolos terminais, sem alvéolos maduros e com<br />

a presença <strong>de</strong> quistos4,8,9 .<br />

Na actualida<strong>de</strong>, a MAQPC é, na maioria das vezes, diagnosticada<br />

no período intra-uterino, através da ecografia, ou no<br />

período neonatal, por síndrome <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> respiratória<br />

precoce grave. Na criança mais velha e no adulto são as pneumonias<br />

<strong>de</strong> repetição a forma <strong>de</strong> apresentação clínica mais frequente,<br />

sendo o pneumotórax espontâneo outra forma clínica,<br />

mais rara. Ocasionalmente são diagnosticados como achados<br />

radiológicos3,6-10 . A apresentação tardia <strong>de</strong> MAQPC ocorre<br />

sobretudo no tipo I, tal como no caso agora <strong>de</strong>scrito.<br />

Embora esteja <strong>de</strong>scrita a associação com outras malformações<br />

congénitas pulmonares, cardíacas, renais, ou gastrointestinais<br />

123


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):122-4 Ferreira T et al – Malformação a<strong>de</strong>nomatoi<strong>de</strong>ia quística pulmonar<br />

em 18-20%, dado o espectro contínuo <strong>de</strong> anomalias <strong>de</strong>rivadas<br />

<strong>de</strong> perturbação da evolução embriogénica da estrutura broncopulmonar3,4,7,8<br />

, isso não se verifica no presente relato.<br />

A radiografia <strong>de</strong> tórax é um exame pouco específico, sendo os<br />

achados <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da extensão da lesão, da apresentação<br />

clínica e da evolução. A TCt efectuada na fase aguda <strong>de</strong> pneumonia<br />

complicada po<strong>de</strong> frequentemente não permitir o diagnóstico,<br />

por se po<strong>de</strong>r interpretar como complicações agudas,<br />

como suce<strong>de</strong>u neste caso. A resolução radiológica <strong>de</strong> uma<br />

pneumonia complicada com pneumatocelos po<strong>de</strong> <strong>de</strong>morar<br />

entre 4 a 9 meses, pelo que na ausência <strong>de</strong> clínica, se sugere<br />

que este exame não seja realizado em fase aguda. A TCt permite<br />

um diagnóstico mais preciso, caracterizando o tipo <strong>de</strong><br />

lesão e fazendo o diagnóstico diferencial com outras patologias<br />

(pneumatocelos, quisto broncogénico, sequestro pulmonar,<br />

hérnia diafragmática) 4,7,8,10 , sendo um exame imprescindível<br />

na programação pré-operatória pela possível coexistência<br />

<strong>de</strong> lesões (MAQPC associada a sequestro) 4,7 .<br />

A terapêutica <strong>de</strong> eleição das MAQPC com apresentação tardia<br />

é a ressecção cirúrgica, preconizada pela maioria dos autores,<br />

mesmo no doente assintomático, <strong>de</strong>vido ao risco <strong>de</strong> infecção<br />

e potencial <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> neoplasias, estando <strong>de</strong>scritos<br />

casos <strong>de</strong> rabdomiossarcoma e carcinoma bronco-alveolar1,3,6,8,9,11<br />

. Se for removida uma gran<strong>de</strong> área, po<strong>de</strong> verificar-se<br />

disfunção respiratória e/ou <strong>de</strong>formação torácica, pelo que é<br />

fundamental o encaminhamento precoce para a reabilitação<br />

funcional respiratória.<br />

Stocker estabeleceu uma classificação histológica, conforme<br />

o número, tamanho e o tipo histológico dos quistos, que são<br />

<strong>de</strong>terminados pela altura em que ocorre a lesão durante a vida<br />

embrionária8 . A classificação original <strong>de</strong> Stocker em 3 tipos<br />

continua a ser a mais usada na prática clínica e radiológica. As<br />

lesões do tipo I, <strong>de</strong>scritas no presente caso, são as mais frequentes<br />

(50-70% dos casos), sendo compostas por um ou mais<br />

quistos <strong>de</strong> diâmetro <strong>de</strong> 2-10 cm, com pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> tecido mus -<br />

cular, elástico ou fibroso, revestidos por epitélio cilíndrico<br />

pseudoestratificado, produtor <strong>de</strong> mucina. Estes quistos são<br />

intercalados por tecido pulmonar alveolar <strong>de</strong> características<br />

normais. As lesões do tipo II ocorrem em 20-40% dos casos e<br />

consistem em quistos pequenos (0,5-2 cm), <strong>de</strong> tamanho uniforme,<br />

semelhantes a bronquíolos, compostos por uma fina<br />

pare<strong>de</strong> fibromuscular e revestidos por epitélio cúbico/cilíndrico.<br />

Existe maior prevalência <strong>de</strong> outras malformações congénitas<br />

associadas a este tipo <strong>de</strong> lesão. As lesões do tipo III, que<br />

correspon<strong>de</strong>m a 10% dos casos, são caracterizadas macroscopicamente<br />

por uma massa sólida e microscopicamente por<br />

quistos a<strong>de</strong>nomatosos3-8 .<br />

O prognóstico <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do tamanho da lesão (sendo o tipo III<br />

habitualmente mais extenso), da altura <strong>de</strong> apresentação (as<br />

mais precoce por vezes incompatíveis com a vida), do envol-<br />

124<br />

vimento uni ou bilateral, e da co-existência <strong>de</strong> malformações<br />

associadas4 . Na MAQPC tipo I, mais localizada, sobretudo <strong>de</strong><br />

diagnóstico tardio e com ressecção cirúrgica, tal como no caso<br />

apresentado, o prognóstico é bom.<br />

Assim, a MAQPC po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada no diagnóstico diferen -<br />

cial <strong>de</strong> pneumonia aguda da comunida<strong>de</strong> complicada com<br />

necrotização ou pneumatocelos que persistem para além <strong>de</strong> seis<br />

meses12 . A utilização e interpretação dos exames <strong>de</strong> ima gem,<br />

<strong>de</strong>vendo a TCt ser realizada <strong>de</strong>pois da fase aguda <strong>de</strong> doença,<br />

permitem com bastante acuida<strong>de</strong> a elaboração do diagnóstico<br />

<strong>de</strong> malformação pulmonar e auxiliam no planeamento e a<strong>de</strong>quação<br />

cirúrgicas. A ressecção pulmonar em ida<strong>de</strong> pediátrica<br />

implica um plano <strong>de</strong> reeducação funcional respiratória.<br />

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0873-9781/08/39-3/125<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

Resumo<br />

Nesta revisão é actualizado o primeiro Consenso Nacional<br />

sobre Nutrição Parentérica no Recém-Nascido, publicado em<br />

2004, com especial relevância para as indicações, contra-indicações<br />

e limitações, formulação das misturas e armaze -<br />

namento, suprimento recomendado <strong>de</strong> líquidos, energia,<br />

macronutrientes e micronutrientes, nutrição parentérica em<br />

situações particulares, suas principais complicações, estima -<br />

tiva da osmolarida<strong>de</strong> das soluções, vias <strong>de</strong> administração,<br />

controlo clínico e laboratorial.<br />

Palavras-chave: nutrição parentérica; recém-nascido; osmolarida<strong>de</strong>.<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008;39(3):125-34<br />

Parenteral Nutrition in the newborn: first<br />

update of the National Consensus, 2008<br />

Abstract<br />

The present consensus updates the former National Con -<br />

sensus on Neonatal Parenteral Nutrition, published in 2004,<br />

focusing on the indications, contra-indications and limi -<br />

tations, formulation of admixtures and storage, recommen<strong>de</strong>d<br />

intakes of fluid, energy, macronutrients and micronutrients,<br />

parenteral nutrition in specific conditions, its major complications,<br />

estimating the osmolarity of the solutions, routes of<br />

administration, clinical and laboratorial control.<br />

Key-words: parenteral nutrition; newborn infant; osmolarity.<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008;39(3):125-34<br />

Introdução<br />

Tem sido prática orientar o suporte nutricional <strong>de</strong> recém-nascidos<br />

(RN) pré-termo, esperando que estes atinjam valores<br />

antropométricos similares ao do feto normal com a mesma<br />

ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gestação1,2 . No entanto, recentemente foi questiona-<br />

Recebido: 14.07.2008<br />

Aceite: 15.07.2008<br />

SOCIEDADE PORTUGUESA DE PEDIATRIA<br />

CONSENSOS E RECOMENDAÇÕES<br />

Nutrição parentérica no recém-nascido: 1ª revisão do Consenso<br />

Nacional, 2008<br />

Secção <strong>de</strong> Neonatologia da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

da a a<strong>de</strong>quação das curvas <strong>de</strong> crescimento intra-uterino na<br />

programação pós-natal das necessida<strong>de</strong>s nutricionais3 .<br />

Com a nutrição parentérica (NP), preten<strong>de</strong> provi<strong>de</strong>nciar-se os<br />

nutrientes necessários para promover a retenção azotada e a<br />

reserva proteica, e fornecer energia para os processos metabólicos,<br />

facilitando o crescimento e a maturação4 .<br />

Apesar <strong>de</strong> haver, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há muito, programas informatizados<br />

que auxiliam a prescrição <strong>de</strong> NP neonatal5 , as premissas em<br />

que assentam os respectivos protocolos não são em muitos<br />

aspectos consensuais e estão em contínua mudança2 .<br />

O objectivo da presente proposta é actualizar o primeiro consenso<br />

nacional sobre NP no RN editado em 2004 pela Secção<br />

<strong>de</strong> Neonatologia da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria6 ,<br />

<strong>de</strong>vendo as actuais recomendações adaptar-se sempre às circunstâncias<br />

individuais.<br />

Chama-se a atenção para a utilida<strong>de</strong> do Anexo, contendo uma<br />

tabela para consulta rápida.<br />

Indicações<br />

A NP está indicada sempre que não haja a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

estabelecer uma nutrição entérica a<strong>de</strong>quada, por malfor -<br />

mação, doença ou imaturida<strong>de</strong>7,8 :<br />

– Anomalias major do aparelho gastrointestinal, ex.: atrésia<br />

do esófago, atrésia intestinal e gastrosquise.<br />

– Doenças que atinjam gravemente o tubo digestivo, ex.:<br />

enterocolite necrosante e síndroma do intestino curto.<br />

– Prematurida<strong>de</strong> (nomeadamente


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):125-34 S. Neonatologia – Nutrição parentérica no recém-nascido<br />

Contra-indicações e limitações<br />

A NP <strong>de</strong>ve ser prescrita <strong>de</strong> forma judiciosa e personalizada, ou<br />

não <strong>de</strong>ve ser mesmo utilizada, em presença <strong>de</strong> uma das<br />

seguintes situações4,9,10 :<br />

– Desidratação.<br />

– Acidose metabólica.<br />

– Desequilíbrios importantes: iónicos, da glicémia ou da calcémia.<br />

– Fase aguda <strong>de</strong> infecção.<br />

– Insuficiência renal aguda.<br />

– Insuficiência hepática aguda.<br />

De realçar que, em gran<strong>de</strong> parte das situações associadas a<br />

stress (ex. cirurgia, sépsis), não está preconizado interromper<br />

a NP, mas sim proce<strong>de</strong>r a ajustes individuais11 .<br />

Formulação das misturas<br />

1. Misturas padronizadas versus individualizadas:<br />

Alguns autores têm proposto soluções <strong>de</strong> NP neonatal<br />

prontas a usar, <strong>de</strong> constituição fixa, comercializadas ou<br />

preparadas em farmácia hospitalar, o que traz vantagens<br />

económicas ao poupar tempo e recursos na preparação das<br />

soluções, pelo facto do crescimento dos pacientes e a duração<br />

<strong>de</strong> internamento po<strong>de</strong>rem ser equivalentes aos dos que<br />

recebem NP individualizada, e por conhecer-se melhor a<br />

estabilida<strong>de</strong> e compati bilida<strong>de</strong> dos elementos em solução12<br />

. No entanto, outros autores alertam para a ina<strong>de</strong>quação<br />

<strong>de</strong> uma composição fixa <strong>de</strong> nutrientes, nomeadamente<br />

na primeira semana <strong>de</strong> vida, e o risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação <strong>de</strong><br />

certas vitaminas em soluções prontas a usar13 . Ao individualizar<br />

a prescrição, é muito útil o auxílio <strong>de</strong> software<br />

específico10 .<br />

2. Misturas binárias versus ternárias:<br />

Habitualmente utilizam-se misturas binárias <strong>de</strong> NP: uma solução<br />

contendo glicose, aminoácidos (AA), electrólitos e vitaminas<br />

e/ou oligoelementos e outra contendo a emulsão lipí -<br />

dica e vitaminas lipossolúveis. Também por motivos económicos,<br />

há autores que propõem a administração conjunta <strong>de</strong><br />

todos os nutrientes numa só bolsa (<strong>de</strong>signada por mistura ternária,<br />

“três em um” ou “all-in-one”) 14 ; esta estratégia tem o<br />

inconveniente <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>stabilizar a emulsão lipídica pelo<br />

elevado teor em cálcio e magnésio e a opacida<strong>de</strong> da emulsão<br />

lipídica não permitir a <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> precipitados <strong>de</strong> cálcio e<br />

fosfato15 .<br />

3. Armazenamento<br />

Todas as soluções da NP <strong>de</strong>vem ser armazenadas entre 2 e 8° C,<br />

e protegidas da luz solar directa e da fototerapia tanto du rante<br />

o armazenamento como durante a administração1 .<br />

Via <strong>de</strong> administração<br />

Geralmente, a solução <strong>de</strong> glicose e AA é administrada por<br />

linha <strong>de</strong> perfusão própria, à qual se liga a <strong>de</strong> perfusão lipídica<br />

126<br />

por uma conexão em Y, o mais próximo do local <strong>de</strong> venopunção<br />

ou da inserção <strong>de</strong> cateter.<br />

A opção <strong>de</strong> administrar NP por via periférica ou central<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> vários factores, como a sua duração, osmolali da<strong>de</strong><br />

da solução, estado nutricional prévio do RN e existência <strong>de</strong><br />

complicações7 .<br />

1. Periférica<br />

Indicações: previsão <strong>de</strong> NP inferior a 2 semanas, bons acessos<br />

periféricos, bom estado nutricional prévio.<br />

Limitações: manuseio do RN e venopunções frequentes, limitação<br />

do suprimento energético por se <strong>de</strong>saconselhar a perfusão<br />

periférica <strong>de</strong> soluções hiperosmolares (nomeadamente<br />

>800 mOsm/Kg) ou com concentração <strong>de</strong> glicose >12,5% na<br />

solução final7 .<br />

2. Central<br />

Indicações: previsão <strong>de</strong> NP por período prolongado, não tolerância<br />

<strong>de</strong> alimentação entérica após a primeira semana <strong>de</strong><br />

vida, necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suprimento energético mais elevado em<br />

menos volume, pós-cirurgia gastrointestinal, ou disfunção<br />

gastrointestinal prolongada.<br />

Limitações: impedimento <strong>de</strong> colocação <strong>de</strong> cateter na fase<br />

aguda <strong>de</strong> infecção; não recomendada concentração <strong>de</strong> glicose<br />

>25% ou osmolalida<strong>de</strong> >1300 mOsm/Kg 4 .<br />

Tipos <strong>de</strong> cateter4,7 :<br />

1) Venoso central, <strong>de</strong> inserção percutânea periférica (epicutâneo-cava)<br />

ou inserção percutânea central (ex., na<br />

veia subclávia) – se previsão <strong>de</strong> NP 2 semanas;<br />

3) Vasos umbilicais: veia (extremida<strong>de</strong> do cateter acima do<br />

diafragma) – especialmente em RN


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):125-34 S. Neonatologia – Nutrição parentérica no recém-nascido<br />

calcémia; se NP exclusiva, avaliação <strong>de</strong> 3/3 dias: hemograma,<br />

fosforémia, magnesiémia, urémia (BUN) e creatininémia.<br />

– Após a primeira semana, avaliação semanal18 : as análises<br />

anteriormente referidas e transaminases, fosfatase alcalina,<br />

bilirrubinas total e conjugada, γ-glutamil transpeptidase<br />

(γ-GT), albuminémia, e trigliceridémia. Com os micrométodos<br />

actualmente disponíveis, geralmente são suficientes<br />

1 a 2 ml <strong>de</strong> sangue para realização <strong>de</strong>stas análises.<br />

Líquidos e energia<br />

1. Líquidos (Quadro I)<br />

Quadro I – Suprimento diário <strong>de</strong> líquidos 1,19 .<br />

Peso (g) 1º-2º dias 3º- 5º dia > 7º dia<br />

(ml/Kg) (ml/Kg) (ml/Kg)<br />

< 750 80-120 150 160-200<br />

750-1000 80-110 140 150-190<br />

1001-1250 100 130 150-180<br />

1251-1500 90 120 150-170<br />

1501-2500 80 110 150-160<br />

>2500 70 110 150-160<br />

Parâmetros orientadores da prescrição:<br />

– Densida<strong>de</strong> urinária – <strong>de</strong>sejável entre 1005 e 1010, ou<br />

osmo lalida<strong>de</strong> urinária entre 75 e 300 mOsm/Kg 19 .<br />

– Natrémia – especialmente importante antes da administração<br />

<strong>de</strong> Na, quando a natrémia indica essencialmente o estado<br />

<strong>de</strong> hidratação7 .<br />

– Evolução pon<strong>de</strong>ral – comparar com curvas apropriadas,<br />

como as <strong>de</strong> Ehrenkranz et al 16 .<br />

Consi<strong>de</strong>rações:<br />

– Embora haja o risco <strong>de</strong> oligúria pré-renal, especialmente no<br />

RN


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):125-34 S. Neonatologia – Nutrição parentérica no recém-nascido<br />

2. Aminoácidos (Quadro III)<br />

Quadro III – Suprimento diário <strong>de</strong> aminoácidos 24,25,31-34 .<br />

Parâmetros orientadores da prescrição:<br />

– Urémia (BUN) – um valor entre 5,5-22 mg/dL é um indicador<br />

indirecto <strong>de</strong> que as necessida<strong>de</strong>s proteicas estão atingidas,<br />

se não houver outros factores que influenciem, como<br />

<strong>de</strong>sidratação, sépsis, energia não proteica insuficiente,<br />

insuficiência renal e terapêutica esterói<strong>de</strong>. De ressalvar que<br />

uma urémia elevada po<strong>de</strong> não indicar necessariamente<br />

intolerância aos AA1,2 .<br />

– Amoniémia (só se for possível a <strong>de</strong>terminação por micrométodo)<br />

– <strong>de</strong>terminar no início da NP e após atingir a dose<br />

máxima <strong>de</strong> AA. Consi<strong>de</strong>rar diminuir a dose <strong>de</strong> AA se<br />

>150-200 μmol/L (> 255-341 μg/dL) 35 .<br />

– Bilirrubina conjugada e γ-GT – são os indicadores mais sensíveis<br />

<strong>de</strong> colestase, para a qual po<strong>de</strong> contribuir a administração<br />

excessiva e prolongada <strong>de</strong> certos AA pela NP36 . Neste<br />

caso, pon<strong>de</strong>rar reduzir o suprimento diário para 1-2g/kg 27 .<br />

Consi<strong>de</strong>rações:<br />

– É importante garantir um a<strong>de</strong>quado suprimento diário <strong>de</strong><br />

AA (> 2,3 g/kg) ao RN submetido a gran<strong>de</strong> cirurgia11 .<br />

– Dose diária superior a 4 g/kg po<strong>de</strong> aumentar a retenção<br />

azotada sem benefício no crescimento e o risco <strong>de</strong> elevação<br />

sérica <strong>de</strong> AA potencialmente neurotóxicos, por imaturida<strong>de</strong><br />

metabólica nos RN pré-termo36 .<br />

– No RN com insuficiência hepática, pon<strong>de</strong>rar diminuir a<br />

dose <strong>de</strong> AA37 .<br />

3. Lípidos (Quadro IV)<br />

Parâmetros orientadores da prescrição:<br />

– Trigliceridémia – não exce<strong>de</strong>r 200-250 mg/dL 7,25 .<br />

– Glicémia – vigiar, pelo efeito hiperglicemiante da perfusão<br />

endovenosa <strong>de</strong> lípidos26 .<br />

128<br />

– Início: 1,5-3 g/kg, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o 1º dia <strong>de</strong> vida<br />

– Aumento diário <strong>de</strong> 0,5-1 g/kg<br />

– De acordo com a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gestação, máximo <strong>de</strong> (g/kg) 3,8 se<br />

24-25 semanas; 3,5 se 27-28 semanas; 3,2 se 32 semanas; e<br />

2,8-3 se ≥37 semanas<br />

NB: quando possível, manter relação calorias não proteicas:<br />

calorias proteicas entre 6 e 10.<br />

Quadro IV – Suprimento diário <strong>de</strong> lípidos 25,31 .<br />

– Início no 1º ou 2º dia <strong>de</strong> NP, com 1 g/kg<br />

– Aumento diário <strong>de</strong> 0,5-1 g/kg até ao máximo <strong>de</strong> 3 g/Kg<br />

– Os lípidos <strong>de</strong>vem fornecer 25-40% do suprimento energético<br />

não proteico<br />

– Perfusão a um ritmo constante nas 24h; velocida<strong>de</strong> máxima <strong>de</strong><br />

perfusão <strong>de</strong> 125 mg/kg/h<br />

Consi<strong>de</strong>rações:<br />

– As emulsões lipídicas são uma excelente fonte isosmolar38 <strong>de</strong> calorias e <strong>de</strong> ácidos gordos essenciais2,7 , cujo défice<br />

po<strong>de</strong> tornar-se evi<strong>de</strong>nte ao fim <strong>de</strong> 3 dias sem provisão exógena8<br />

.<br />

– É muito importante proteger as emulsões lipídicas da luz,<br />

principalmente da solar e da fototerapia, minimizando o<br />

risco <strong>de</strong> peroxidação com a utilização <strong>de</strong> sistemas opacos<br />

(seringa, tubos) 8 . Há autores que recomendam que o tempo<br />

<strong>de</strong> perfusão da mesma emulsão lipídica não <strong>de</strong>va exce<strong>de</strong>r<br />

12 horas15 .<br />

– A carnitina, facilitadora do transporte dos ácidos gordos<br />

pelas membranas mitocondriais, está <strong>de</strong>ficitária no RN prétermo.<br />

Embora uma metanálise não tivesse <strong>de</strong>monstrado<br />

que a sua suplementação fosse vantajosa39 , esta po<strong>de</strong> ser<br />

consi<strong>de</strong>rada em RN pré-termo na dose diária <strong>de</strong> 8-16<br />

mg/kg, se a NP exclusiva exce<strong>de</strong>r 4 semanas40 .<br />

– São preferidas emulsões a 20% relativamente a 10%, pelo<br />

menor risco <strong>de</strong> hiperfosfolipidémia e hipercolesterolémia.<br />

Existem emulsões exclusivamente <strong>de</strong> triglicéridos <strong>de</strong><br />

ca<strong>de</strong>ia longa (ex. Intralipid 20% ® , Fresenius Kabi), contendo<br />

ácidos gordos importantes <strong>de</strong> para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

neuronal e da retina. A mistura <strong>de</strong> triglicéridos <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia<br />

longa e <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia média (ex. Lipofundin MCT/LCT 20% ® ,<br />

B Braun) po<strong>de</strong> ter a vantagem <strong>de</strong>stes últimos não requerem<br />

carnitina para serem metabolizados25,27 . A mistura contendo<br />

ácido oleico e teor reduzido em ácidos gordos polinsaturados<br />

(Clinoleic ® , Baxter) parece melhorar a síntese endógena<br />

<strong>de</strong>stes, optimizar o status <strong>de</strong> vitamina E e promover a<br />

capacida<strong>de</strong> anti-oxidante41 . Emulsões <strong>de</strong> ácidos gordos<br />

polinsaturados <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia longa n-3 (ex. Omegaven ® ,<br />

Fresenius Kabi), ainda em investigação, são promissoras<br />

na colestase induzida pela NP8 .<br />

– A heparina em baixa dose estimula a libertação da lipoproteina<br />

lipase endotelial7 , <strong>de</strong>ficitária no RN pré-termo. No<br />

entanto, não está comprovado que a sua utilização melhore<br />

a utilização dos lípidos8,25 , não sendo obrigatória a sua<br />

adição por rotina às emulsões lipídicas42 .<br />

– A utilização endovenosa <strong>de</strong> lípidos associa-se a maior risco<br />

<strong>de</strong> sépsis por Staphylococcus coagulase negativo e por<br />

Candida, mas não <strong>de</strong> displasia broncopulmonar8 .<br />

– Por não estar inteiramente provada a associação, <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar-se<br />

a redução da dose endovenosa <strong>de</strong> lípidos nos<br />

casos <strong>de</strong> hiperbilirrubinémia não conjugada, hipertensão<br />

pulmonar e sépsis (vi<strong>de</strong> adiante).<br />

4. Sódio (Quadro V)<br />

Quadro V – Suprimento diário <strong>de</strong> sódio 20,25 .<br />

– Iniciar, após perda >7 % do peso ao nascer<br />

– Necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acordo com a maturida<strong>de</strong> e peso:<br />

RN <strong>de</strong> termo: 2-5 mEq/kg<br />

RN pré-termo >1500g: 3-5 mEq/kg<br />

RN pré-termo


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):125-34 S. Neonatologia – Nutrição parentérica no recém-nascido<br />

Parâmetro orientador da prescrição:<br />

– Natrémia – antes da administração <strong>de</strong> Na, a natrémia indica<br />

essencialmente o estado <strong>de</strong> hidratação; após a sua administração,<br />

po<strong>de</strong> reflectir o estado hidratação e/ou o balanço<br />

<strong>de</strong> Na. Procurar mantê-la entre 135 e 145 mEq/L19 .<br />

Consi<strong>de</strong>rações:<br />

– Na: 1 mmol = 1 mEq = 23 mg.<br />

– Em RN 1500g: 3-5 mEq/kg<br />

RN pré-termo 1500g: 1-2 mEq/kg<br />

RN pré-termo 6,5 mEq/L, não iniciar ou suspen<strong>de</strong>r a<br />

administração <strong>de</strong> K19 .<br />

– Diurese – se diurese


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):125-34 S. Neonatologia – Nutrição parentérica no recém-nascido<br />

8. Magnésio (Quadro IX)<br />

Quadro IX – Suprimento diário <strong>de</strong> magnésio 15 .<br />

Parâmetro orientador da prescrição: magnesiémia.<br />

Consi<strong>de</strong>rações: Mg: 1 mmol = 24,2 mg = 2 mEq.<br />

9. Vitaminas hidrossolúveis (Quadro X)<br />

Consi<strong>de</strong>rações:<br />

– A dose diária <strong>de</strong> 1 ml/kg <strong>de</strong> Soluvit N Infantil ® supre as<br />

necessida<strong>de</strong>s em vitaminas hidrossolúveis9 .<br />

– As vitaminas hidrossolúveis são geralmente adicionadas à<br />

solução <strong>de</strong> glicose e AA. A opacida<strong>de</strong> da emulsão lipídica<br />

reduz o risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação das vitaminas hidrossolúveis48 .<br />

Assim, o Soluvit N Infantil ® po<strong>de</strong> também ser administrado<br />

conjuntamente com a emulsão lipídica, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

reconstituído previamente em 10 ml <strong>de</strong> Vitalipid N<br />

Infantil ® (conforme o Resumo das Características do<br />

Medicamento), o que limita a sua administração sob esta<br />

forma em RN 900 mOsm/Kg por esta via53 , ou >1300 mOsm/Kg<br />

por via central4 . Sendo a osmolalida<strong>de</strong> (mOsm/Kg) obtida por<br />

medição e a osmolarida<strong>de</strong> (mOsm/L) por cálculo, <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>se<br />

a importância da sua estimativa em soluções <strong>de</strong> NP. Existe<br />

uma equação simples, validada para soluções <strong>de</strong> NP neonatal51<br />

, que inclui as concentrações <strong>de</strong> glicose e AA expressas<br />

em g/L, a <strong>de</strong> P em mg/L e a <strong>de</strong> Na em mEq/L (Quadro XIII).<br />

Quadro XIII – Equação para estimativa da osmolarida<strong>de</strong> das soluções<br />

<strong>de</strong> NP neonatal 51 .<br />

Osmolarida<strong>de</strong> (mOsm/L) = (AA x 8) + (glicose x 7) + (Na x 2) +<br />

(P x 0,2) – 50<br />

A memorização <strong>de</strong>sta equação em calculadora <strong>de</strong> bolso ou em<br />

folha <strong>de</strong> cálculo Excel do computador pessoal ou do local <strong>de</strong><br />

trabalho, permite a rápida estimativa da osmolarida<strong>de</strong> e a<br />

escolha mais objectiva da via <strong>de</strong> administração.<br />

Situações Particulares<br />

– Colestase<br />

O RN pré-termo está particularmente susceptível à colestase<br />

quando submetido a NP prolongada e, especialmente,<br />

quando concorrem outros factores predisponentes, como a<br />

sépsis e a privação prolongada <strong>de</strong> alimentação entérica36 .<br />

De entre os nutrientes administrados, admite-se que certos<br />

AA possam estar implicados, especialmente se o seu suprimento<br />

for elevado23,36 . Uma dose excessiva <strong>de</strong> glicose também<br />

po<strong>de</strong> associar-se a disfunção hepática8 . Relativamente<br />

à comparticipação dos lípidos na patogénese da colestase<br />

associada à NP, há autores que anotam a associação54 e<br />

outros que não55 .<br />

Atitu<strong>de</strong>: Em caso <strong>de</strong> colestase, é pru<strong>de</strong>nte reduzir a dose<br />

diária <strong>de</strong> AA para 1-2 g/kg 27,54 , não exce<strong>de</strong>r a dose máxima<br />

<strong>de</strong> glicose8 e suspen<strong>de</strong>r os oligoelementos, uma vez que a<br />

eliminação <strong>de</strong> Cu e Zn é hepática9 . Alguns autores preconi-


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):125-34 S. Neonatologia – Nutrição parentérica no recém-nascido<br />

zam também reduzir a dose <strong>de</strong> lípidos endovenosos25 . A<br />

colestase <strong>de</strong>ve ser controlada por indicadores séricos consi<strong>de</strong>rados<br />

sensíveis: bilirrubina conjugada e γ-GT54 .<br />

– Sépsis<br />

Na sépsis po<strong>de</strong> ocorrer hiperglicémia por aumento da resistência<br />

à insulina e hipertrigliceridémia por redução da activida<strong>de</strong><br />

da lipoproteina lipase1 . Seja como for, a perfusão <strong>de</strong><br />

lípidos por si só não interfere com a função imunitária1 . Na<br />

fase aguda da sépsis não há comprovação <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong><br />

acrescida <strong>de</strong> proteínas nem <strong>de</strong> intolerância às mesmas56 .<br />

Atitu<strong>de</strong>: Na fase aguda <strong>de</strong> infecção, é pru<strong>de</strong>nte reduzir a<br />

dose <strong>de</strong> glicose <strong>de</strong> modo a manter a euglicémia e diminuir<br />

a dose diária <strong>de</strong> lípidos para 2,5 g/dL), mesmo que a bilirrubinémia<br />

não conjugada atinja 10–12 mg/dL 57 .<br />

– Hipertensão pulmonar<br />

Foi <strong>de</strong>scrito que a perfusão endovenosa <strong>de</strong> lípidos no RN<br />

pré-termo com dificulda<strong>de</strong> respiratória po<strong>de</strong> associar-se ao<br />

aumento da resistência vascular pulmonar, efeito <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

da dose e do tempo <strong>de</strong> perfusão58 .<br />

Atitu<strong>de</strong>: Na hipertensão pulmonar, está recomendado diminuir<br />

ou suspen<strong>de</strong>r a administração endovenosa <strong>de</strong> lípidos1,58 .<br />

Revisão <strong>de</strong> Consenso aprovada pela Secção <strong>de</strong> Neo -<br />

natologia <strong>de</strong> <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria nas<br />

XXXVI Jornadas Nacionais <strong>de</strong> Neonatologia, em Viseu,<br />

em 8 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2008.<br />

Grupo <strong>de</strong> trabalho, em representação da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong><br />

<strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> Neonatologia:<br />

Luís Pereira-da-Silva - <strong>Ped</strong>iatra Neonatologista, Hospital <strong>de</strong><br />

Dona Estefânia, Lisboa<br />

João Castela - <strong>Ped</strong>iatra Neonatologista, Maternida<strong>de</strong><br />

Dr. Alfredo da Costa, Lisboa<br />

Luísa Malheiro - <strong>Ped</strong>iatra Neonatologista, Hospital Nossa<br />

Senhora da Oliveira, Guimarães<br />

Manuela Nona - Nutricionista, Maternida<strong>de</strong> Dr. Alfredo da<br />

Costa, Lisboa<br />

Israel Macedo - <strong>Ped</strong>iatra Neonatologista, Maternida<strong>de</strong><br />

Dr. Alfredo da Costa, Lisboa<br />

Gustavo Rocha - <strong>Ped</strong>iatra Neonatologista, Hospital <strong>de</strong> São<br />

João, Porto<br />

Maria Luísa Rosa - Farmacêutica, Hospital <strong>de</strong> Dona Este -<br />

fânia, Lisboa<br />

Elsa Paulino - <strong>Ped</strong>iatra Neonatologista, Hospital Fernando<br />

Fonseca, Amadora<br />

Ana Margarida Alexandrino - <strong>Ped</strong>iatra Neonatologista,<br />

Maternida<strong>de</strong> Júlio Dinis, Porto<br />

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low birth weight neonate. J <strong>Ped</strong>iatr 1991;119:615-23.<br />

27. Wilson DC, Cairns P, Halliday HL, Reid M, McClure G, Dodge JA.<br />

Randomized controlled trial of an aggressive nutritional regimen in<br />

sick very low birthweight infants. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed<br />

1997;77:F4-11.<br />

28. Poin<strong>de</strong>xter BB, Karn CA, Denne SC. Exogenous insulin reduces proteolysis<br />

and protein synthesis in extremely low birth weight infants.<br />

J <strong>Ped</strong>iatr 1998;132:948-53.<br />

29. Ertl T, Gyarmati J, Gaál V, Szabó I. Relationship between hyperglycemia<br />

and retinopathy of prematurity in very low birth weight<br />

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30. Hays SP, Smith EO, Sunehag AL. Hyperglycemia is a risk factor for<br />

early <strong>de</strong>ath and morbidity in extremely low birth-weight infants.<br />

<strong>Ped</strong>iatrics 2006;118:1811-8.<br />

31. Thureen P, Melara D, Fennessey P, Hay W. Effect on low versus high<br />

intravenous amino acid on very low birth weight infant in the early<br />

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32. Poin<strong>de</strong>xter BB, Langer JC, Dusick AM, Ehrenkranz RA. Early provision<br />

of parenteral amino acids in extremely low birth weight<br />

infants: relation to growth and neuro<strong>de</strong>velopmental outcome. J<br />

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33. Denne SC. Regulation of proteolysis and optimal protein accretion in<br />

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35. Puntis JW, Green A, Preece MA, Ball PA, Booth IW. Hyper ammo -<br />

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132<br />

36. Poin<strong>de</strong>xter BB, Leitch CA, Denne SC. Parenteral Nutrition. In:<br />

Martin RJ, Fanaroff AA, Walsh MC, eds Neonatal-Perinatal<br />

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38. Pereira-da-Silva L, Henriques G, Vi<strong>de</strong>ira Amaral JM, Rodrigues R,<br />

Ribeiro L, Virella D. Osmolality of solutions, emulsions and drugs<br />

that may have a high osmolality. Aspects of their use in neonatal care.<br />

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39. Cairns PA, Stalker DJ. Carnitine supplementation of parenterally fed<br />

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40. Spear ML, Stahl GE, Hamosh M, McNelis WG, Richardson LL,<br />

Spence V et al. Effect of heparin dose and infusion rate on lipid clearance<br />

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41. Göbel Y, Koletzko B, Böhles HJ, Engelsberger I, Forget D, Le Brun<br />

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42. Koletzko B, Innis SM. Lipids. In: Tsang RC, Uauy R, Koletzko B,<br />

Zlotkin SH, eds. Nutrition of the preterm infant, Cincinnati, Digital<br />

Educational Publishing, 2005:97-139.<br />

43. Groh-Wargo S, Ciaccia A, Moore J. Neonatal metabolic acidosis:<br />

effect of chlori<strong>de</strong> from normal saline flushes. J Parenter Enteral Nutr<br />

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44. Rigo J, De Curtis M, Pieltain C, Picaud JC, Salle BL, Senterre J.<br />

Bone mineral metabolism in the micropremie. Clin Perinatol 2000;<br />

27:147-70.<br />

45. Pereira-da-Silva L, Nurmamodo A, Vi<strong>de</strong>ira Amaral JM, Rosa ML,<br />

Almeida MC, Ribeiro ML. Compatibility of calcium and phosphate<br />

in four parenteral nutrition solutions for preterm neonates. Am J<br />

Health Syst Pharm 2003;60:1041-4.<br />

46. Wong JC, McDougal AR, Tofan M, Aulakh J, Pineault M, Chessex P.<br />

Doubling calcium and phosphate concentrations in neonatal paren -<br />

teral nutrition solutions using monobasic potassium phosphate. J Am<br />

Coll Nutr 2006;25:70-7.<br />

47. Pelegano JF, Rowe JC, Carey DE, LaBarre DJ, Edgren KW, Lazar<br />

AM et al. Effect of calcium/phosphorus ratio on mineral retention in<br />

parenterally fed premature infants. J <strong>Ped</strong>iatr Gastroenterol Nutr<br />

1991;12:351-5.<br />

48. Silvers KM, Sluis KB, Darlow BA, McGill F, Stocker R,<br />

Winterbourn CC. Limiting light-induce<strong>de</strong>d lipid peroxidation and<br />

vitamin loss in infant parenteral nutrition by adding multivitamin<br />

preparation to Intralipid. <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr 2001;90:242-9.<br />

49. Aggett PJ. Trace elements of the micropremie. Clin Perinatol<br />

2000;27:119-29.<br />

50. Rao R, Georgieff M. Microminerals. In: Tsang RC, Uauy R,<br />

Koletzko B, Zlotkin SH, eds. Nutrition of the preterm infant,<br />

Cincinnati, Digital Educational Publishing, 2005:277-310.<br />

51. Pereira-da-Silva L, Virella D, Henriques G, Rebelo M, Serelha M,<br />

Vi<strong>de</strong>ira Amaral JM. A simple equation to estimate the osmolarity of<br />

neonatal parenteral nutrition solutions. J Parenter Enteral Nutr<br />

2004;28:34-7.<br />

52. Kuwahara T. Infusion phlebitis and peripheral parenteral nutrition.<br />

Nutrition 1999;15:329.<br />

53. Culebras JM, Martin-Pena G, Garcia-<strong>de</strong>-Lorenzo A, Zarazaga A,<br />

Rodriguez-Montes JA. Practical aspects of peripheral parenteral<br />

nutrition. Curr Opin Clin Nutr Metab Care 2004;7:303-7.<br />

54. Colomb V, Jobert-Giraud A, Lacaille F, Goulet O, Fournet JC, Ricour C.<br />

Role of lipid emulsions in cholestasis associated with long term paren -<br />

teral nutrition in children. J Parenter Enteral Nutr 2000;24:345-50.


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):125-34 S. Neonatologia – Nutrição parentérica no recém-nascido<br />

55. Black DD, Suttle EA, Whitington PF, Whitington GL, Korones SD.<br />

The effect of short-term total parenteral nutrition on hepatic function<br />

in the human neonate: a prospective randomized study <strong>de</strong>monstrating<br />

alteration of hepatic canalicular function. J <strong>Ped</strong>iatr 1981;99:445-9.<br />

56. Mrozek JD, Georgieff MK, Blazar BR, Mammel MC, Schwar -<br />

zenberg SJ. Effect of sepsis syndrome on neonatal protein and energy<br />

metabolism. J Perinatol 2000;20:96-100.<br />

57. Bonner CM, DeBrie KL, Hug G, Landrigan E, Taylor BJ. Effects of<br />

parenteral L-carnitine supplementation on fat metabolism and nutrition<br />

in premature neonates. J <strong>Ped</strong>iatr 1995;126:287-92.<br />

58. Prasertsom W, Phillipos EZ, Van Aer<strong>de</strong> JE, Robertson M. Pulmonary<br />

vascular resistance during lipid infusion in neonates. Arch Dis Child<br />

Fetal Neonatal Ed 1996;74:F95-8.<br />

133


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):125-34 S. Neonatologia – Nutrição parentérica no recém-nascido<br />

ANEXO<br />

134<br />

Consulta rápida – Doses diárias<br />

NUTRIENTE 1º DIA INCREMENTO MÁXIMO<br />

DIÁRIO<br />

Líquidos (ml/kg) 70 - 120 10 - 15 150 - 200<br />

Glicose (mg/Kg/min) 3 – 5 q.b. para glicémia<br />

80-120 mg/dL<br />

13<br />

Aminoácidos (g/kg) 1,5 - 3 0,5 - 1 3 - 3,8<br />

Lípidos (g/kg) 1 0,5 - 1 3<br />

Na (mEq/ kg)<br />

(>1º ou 2º dia <strong>de</strong> NP)<br />

2 - 3 - 5<br />

(após perda 7% P.N.) ou mais<br />

Cl (mEq/kg) Idêntica ao Na - Idêntica ao Na<br />

K (mEq/kg) 1 - 2<br />

( > 2º dia <strong>de</strong> vida se<br />

normocaliémia e<br />

diurese >1ml/Kg/h)<br />

- 2 - 3<br />

Ca (mg/kg) 40 - 50 - 50 - 120<br />

P (mg/kg) Dividir Ca por 1,7 - Dividir Ca por 1,7<br />

Mg (mEq/kg) 0,3 - 0,5 - 0,5<br />

Vitaminas hidrossolúveis (ml/kg) 1 - 1<br />

(Soluvit N Infantil ® ) (Soluvit N Infantil ® )<br />

Vitaminas lipossolúveis (ml/kg) 1-2 - 4<br />

(Vitalipid N Infantil ® ) Maxº 10ml/24h<br />

(Vitalipid N Infantil ® Oligoelementos<br />

)<br />

< 2 semanas NP Zn: pré-termo 150 µg/Kg;<br />

termo 250 µg/Kg<br />

- -<br />

> 2 semanas NP - - <strong>Ped</strong>itrace ® 1ml/Kg<br />

(+ Zn 150 µg/Kg se pré-termo)


0873-9781/08/39-3/135<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

Introdução<br />

O internato <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria <strong>de</strong>ve ser realizado em serviços e estabelecimentos<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, públicos ou privados, reconhecidos<br />

como idóneos para o efeito e <strong>de</strong> acordo com a sua capacida<strong>de</strong><br />

formativa.<br />

Consi<strong>de</strong>ra-se idóneo para a realização <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado estágio<br />

<strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> formação, o estabelecimento ou serviço<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que possa garantir o cumprimento dos objectivos<br />

expressos para esse estágio e como tal seja reconhecido pela<br />

Or<strong>de</strong>m dos Médicos.<br />

O reconhecimento da idoneida<strong>de</strong> dos estabelecimentos <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> para a formação pediátrica é feito por <strong>de</strong>spacho do<br />

Minis tro da Saú<strong>de</strong>, sob proposta técnica do Colégio <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>ia -<br />

tria da Or<strong>de</strong>m dos Médicos.<br />

A publicação dos critérios <strong>de</strong> idoneida<strong>de</strong> representa um passo<br />

fundamental neste processo, ao permitir aos ser viços conhecer<br />

as metas que <strong>de</strong>verão atingir para po<strong>de</strong>rem apresentar a<br />

sua candidatura à formação <strong>de</strong> futuros pediatras.<br />

A observação <strong>de</strong>stes critérios é condição necessária, mas não<br />

suficiente, para a atribuição <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> formativa aos serviços,<br />

dado que esta inclui outros aspectos, como visitas para<br />

avaliação das instalações e funcionamento, audição dos orientadores<br />

<strong>de</strong> formação e entrevista com os médicos internos<br />

actuais ou médicos formados recentemente nos respectivos<br />

serviços, pela Direcção do Colégio <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria.<br />

Recursos Médicos<br />

Serviço <strong>de</strong> Acolhimento:<br />

• De acordo com a tabela:<br />

Recebido: 21.07.2008<br />

Aceite: 21.07.2008<br />

Critérios <strong>de</strong> Idoneida<strong>de</strong> e Capacida<strong>de</strong> Formativa<br />

Colégio <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria da Or<strong>de</strong>m dos Médicos<br />

Número <strong>de</strong> especialistas Internos que po<strong>de</strong> receber<br />

7 1<br />

10 2<br />

13 3<br />

16 4<br />

19 5<br />

21 ou + 6<br />

COLÉGIO DE PEDIATRIA<br />

DA ORDEM DOS MÉDICOS<br />

• <strong>Ped</strong>iatra em presença física 24 horas na urgência.<br />

• Director <strong>de</strong> Internato.<br />

<strong>Ped</strong>iatria Geral II:<br />

• De acordo com a tabela:<br />

Número <strong>de</strong> especialistas Internos que po<strong>de</strong> receber<br />

7 1<br />

10 ou + 2<br />

• <strong>Ped</strong>iatra em presença física 24 horas no serviço.<br />

• Director <strong>de</strong> Internato.<br />

Instalações<br />

Serviço <strong>de</strong> Acolhimento:<br />

• Urgência autónoma<br />

• SO/UICD/OBS autónoma<br />

<strong>Ped</strong>iatria Geral II:<br />

• Urgência com área reservada para a <strong>Ped</strong>iatria<br />

• SO/UICD/OBS com área reservada para <strong>Ped</strong>iatria<br />

Serviço <strong>de</strong> Acolhimento e PGII:<br />

Serviço <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

Acolhimento Geral II<br />

• Patologia Clínica 24h Sim Sim<br />

• Imunohemoterapia 24h Sim Sim<br />

• Anestesia 24h Sim Sim<br />

• Cirurgia 24h Sim Sim<br />

• Ortopedia 24h Sim -<br />

• Radiologia convencional 24h Sim Sim<br />

• Ecografia Sim /Externo Sim /Externo<br />

• TC Sim /Externo Sim /Externo<br />

Correspondência:<br />

Colégio <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

Or<strong>de</strong>m dos Médicos<br />

Av. Almirante Gago Coutinho, 151<br />

1749–084 Lisboa<br />

omcne@omcne.pt<br />

135


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):135-6 Colégio <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria – Critérios <strong>de</strong> Idoneida<strong>de</strong> e Capacida<strong>de</strong> Formativa<br />

Activida<strong>de</strong> Assistencial<br />

• Ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> internamento no mínimo até aos <strong>de</strong> 15 anos <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong> (inclusive).<br />

• Deve cumprir pelo menos 4 dos seguintes 5 critérios:<br />

Serviço <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

Acolhimento Geral II<br />

• Camas interno/ano* 5 5<br />

• Internamentos <strong>de</strong> pediatria<br />

médica/interno/ano*<br />

300 150<br />

• Urgências/interno/ano 5.000 2.500<br />

• Internamentos em<br />

SO/UICD/OB/interno/ano<br />

300 150<br />

• 1as Consultas <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

geral/interno/ano<br />

300 200<br />

* não inclui as camas <strong>de</strong> neonatologia ou <strong>de</strong> SO/UICD/OBS<br />

Formação e Activida<strong>de</strong> Científica<br />

Serviço <strong>de</strong> Acolhimento e <strong>Ped</strong>iatria Geral II:<br />

• Orientadores <strong>de</strong> formação inscritos no Colégio <strong>de</strong><br />

<strong>Ped</strong>iatria (cada um apenas po<strong>de</strong>rá orientar no máximo 3<br />

internos)<br />

• Processo clínico organizado<br />

• Arquivo clínico<br />

• Biblioteca própria ou com secção pediátrica. Assi -<br />

natura (em papel ou online) <strong>de</strong> três revistas pediátricas<br />

<strong>de</strong> língua estrangeira in<strong>de</strong>xadas e duas <strong>de</strong> língua portuguesa<br />

• Acesso à Internet<br />

• Sessões clínicas teóricas/temáticas: 12 por ano com<br />

plano<br />

• Reunião <strong>de</strong> discussão <strong>de</strong> casos clínicos: semanal<br />

• Protocolos actualizados e disponíveis 24h<br />

• Pelo menos três artigos científicos publicados nos últimos<br />

3 anos (excluindo abstracts) em revistas <strong>de</strong> mérito<br />

reconhecido<br />

• Pelo menos quinze comunicações orais ou posters apresentadas<br />

fora do Serviço nos últimos 3 anos<br />

136<br />

Neonatologia/Perinatologia<br />

• Realização <strong>de</strong> 1.500 partos/ano<br />

• Existência <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cuidados Especiais<br />

• Anestesia e Obstetrícia em presença física 24h<br />

Cuidados Intensivos Neonatais<br />

• 5 especialistas com pelo menos 3 anos <strong>de</strong> activida<strong>de</strong><br />

nesta valência e com 100% do seu horário <strong>de</strong>dicado a<br />

esta valência.<br />

• 50 recém-nascidos submetidos a ventilação inva siva/ano<br />

Opção <strong>de</strong> Cuidados Intensivos <strong>Ped</strong>iátricos<br />

• Unida<strong>de</strong> com pelo menos 5 camas <strong>de</strong>stinadas em exclusivo<br />

a cuidados intensivos pediátricos<br />

• 4 especialistas com pelo menos 3 anos <strong>de</strong> activida<strong>de</strong><br />

nesta valência e com 100% do seu horário <strong>de</strong>dicado a<br />

esta valência.<br />

• 50 crianças submetidas a ventilação invasiva / ano<br />

Outras opções:<br />

• 2 especialistas com pelo menos 3 anos <strong>de</strong> activida<strong>de</strong><br />

nesta valência e com pelo menos 75% do seu horário<br />

<strong>de</strong>dicado a esta valência<br />

A Direcção do Colégio <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

Anselmo Augusto Cardoso Quaresma da Costa<br />

António Cândido dos Santos Vilarinho<br />

António Fernando Braga da Cunha<br />

Arménia Braz Parada <strong>de</strong> Carvalho e Silva<br />

Emídio dos Santos Carreiro<br />

Hél<strong>de</strong>r Rui dos Reis Ornelas<br />

João Miguel <strong>de</strong> Sousa Falcão Estrada<br />

Maria da Conceição Farinha Ramos Gaspar<br />

Paulo Oom Ferreira <strong>de</strong> Sousa<br />

Ricardo <strong>Ped</strong>ro Santos Ferreira


0873-9781/08/39-3/137<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria CRITICA DE LIVRO<br />

“Seis meses para toda a vida”<br />

José Manuel Tojal Monteiro<br />

<strong>Ped</strong>iatra. Porto<br />

Há cerca <strong>de</strong> oitocentos anos, o Sacro Império Romano tinha à<br />

frente do seu <strong>de</strong>stino o Imperador Fre<strong>de</strong>rico II, um homem<br />

curioso, com espírito científico e que emprestou o nome a uma<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nápoles. Se bem que muito ocupado com<br />

estratégias e lutas militares e i<strong>de</strong>ológicas, ainda encontrou<br />

tempo para se <strong>de</strong>dicar à investigação científica. Curioso, quis<br />

saber que linguagem adquiriria o ser humano se nunca ouvisse<br />

falar. Os métodos da investigação foram simples e claros:<br />

retirou das famílias uns quantos recém-nascidos e recomendou<br />

que se <strong>de</strong>veria fornecer-lhes apenas o suporte básico da vida:<br />

comer, beber e cuidados mínimos <strong>de</strong> higiene. De resto nada <strong>de</strong><br />

mais nada. Que apren<strong>de</strong>u? Nada do que esperava: as crianças<br />

morreram todas. Um crítico da época concluiu que o trabalho<br />

do Imperador foi em vão pois ninguém sobrevive sem mimos.<br />

Algo idêntico passou-se (pas sa-se) no fim do século passado,<br />

na ex-Jugoslávia, em orfanatos em que as crianças pouco mais<br />

que vegetavam. Tomografias cerebrais obtidas por emissão <strong>de</strong><br />

positrões revelaram múltiplas áreas hipofuncionais, irreversivelmente<br />

afectadas.<br />

A interacção genes ambiente é dramática, para bem ou para<br />

mal. Tecidos e órgãos po<strong>de</strong>m sofrer irremediáveis modificações<br />

(o conceito <strong>de</strong> plasticida<strong>de</strong>), conduzindo a morbilida<strong>de</strong> e<br />

mortalida<strong>de</strong>. O neurónio é particularmente plástico. Ao nascer<br />

há 100 mil milhões <strong>de</strong> neurónios e 50 milhões <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong><br />

sinapses. Depois o número <strong>de</strong> neurónios pouco aumenta, ao<br />

Recebido: 10.07.2008<br />

Aceite: 10.07.2008<br />

Seis meses para toda a vida<br />

Elisabeth Fodor, María <strong>de</strong>l Carmen García-Castellón, Montserrat Morán<br />

A Esfera do Livro<br />

1ª Edição, Lisboa, Maio <strong>de</strong> 2008<br />

ISBN: 978-989-626-107-8<br />

404 páginas + material didáctico<br />

P.V.P.: 23 euros<br />

contrário das sinapses que no fim do primeiro mês aumentaram<br />

vinte vezes, sendo então mil milhões <strong>de</strong> milhões. Pura e<br />

simplesmente não há genes em número suficiente para controlar<br />

tanta evolução que fica, então, à mercê do ambiente que<br />

não po<strong>de</strong> ser tóxico, que <strong>de</strong>verá ter o melhor suporte energético<br />

(leite materno) e assegurar a estimulação mais a<strong>de</strong>quada<br />

(o amor <strong>de</strong> quem é mais crescido). Sempre que se acaricia ou<br />

mima <strong>de</strong> outra qualquer forma um bebé, gera-se uma tempesta<strong>de</strong><br />

eléctrica potenciadora da mais perfeita evolução e aperfeiçoamento<br />

neuronais.<br />

O amor é nuclear na relação pais e filhos e <strong>de</strong>ve fluir livremente<br />

em ambas as direcções, sem condições nem limites. Da<br />

parte da criança é sempre assim, há garantia absoluta. Da<br />

parte dos pais nem sempre, ainda que muito raramente, pois a<br />

esmagadora maioria ama os filhos e envolve-os em carinho e<br />

ternura. Mas, e como dizem as autoras, “ não é suficiente ter<br />

muitas fantasias, entusiasmo e boa vonta<strong>de</strong> – o que quase <strong>de</strong><br />

certeza todos os pais têm – para uma tarefa tão complexa<br />

(saber como dar carinho, estimular) também é requerida alguma<br />

competência”.<br />

Este livro trata precisamente <strong>de</strong>sta competência. Está organizado<br />

por ida<strong>de</strong>s, em nove capítulos, sendo o primeiro <strong>de</strong>dicado<br />

às duas primeiras horas <strong>de</strong> vida e os seguintes dos 0 aos 15<br />

dias, 15 dias a um mês, 2, 3, 4, 5, 6 e segundo semestre,<br />

Termina com regras educativas. Cada capítulo tem uma intro-<br />

Correspondência:<br />

José Manuel Tojal Monteiro<br />

tojalmonteiro@clix.pt<br />

137


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):137-8 Tojal Monteiro JM – Seis meses para toda a vida<br />

dução – o que tem mais significado naquela ida<strong>de</strong> – uma lista<br />

dos brinquedos necessários para o jogo, como brincar, como<br />

se po<strong>de</strong> apreciar o <strong>de</strong>senvolvimento do bebé, conselhos úteis<br />

e termina com um resumo gráfico dos brinquedos e jogos. De<br />

notar que os brinquedos são simples, baratos e muitos po<strong>de</strong>ndo<br />

ser construídos pelos pais. Propõem-se massagens, música<br />

(barroca), canções, danças, manobras fisiátricas (que não co -<br />

mento), para ajudar a tratar problemas como tosse e catarro e<br />

baixo peso ou problemas <strong>de</strong> assimilação, recomendando-se,<br />

no entanto, que se procure o médico. E há também conselhos:<br />

para dormir bem ou lidar com os ciúmes do irmão mais velho,<br />

por exemplo. O livro oferece material didáctico, sete cartolinas<br />

para brincar e estimular.<br />

138<br />

Dispomos então <strong>de</strong> um livro <strong>de</strong> instruções, permitindo aos pais<br />

ganharem competência, aperfeiçoarem e compreen<strong>de</strong>rem me -<br />

lhor as manobras e atitu<strong>de</strong>s que materializam o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> amar<br />

e acarinhar o filhote, com que tanto sonharam e sonham.<br />

Para permitir à criança que goze ao máximo o seu único ofício,<br />

brincar, e sabendo, pelo menos há oito séculos, que sem estimulação,<br />

carinho, afecto, ternura e amor não há vida, torna-se<br />

imprescindível que os futuros pais coloquem este livro no<br />

enxoval do filho que esperam. E, já agora, também um dispositivo<br />

<strong>de</strong> retenção (ca<strong>de</strong>irinha para o automóvel) e o folheto da<br />

APSI para prevenir aci<strong>de</strong>ntes - tanto amar e tanto fazer para<br />

amar para <strong>de</strong>pois um aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>ixar cicatrizes tamanhas?


MAIO 2008<br />

0873-9781/08/39-3/LV<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria NOTÍCIAS<br />

Calendário <strong>de</strong> Eventos Nacionais e Internacionais<br />

• XIV Jornadas <strong>de</strong> Ortopedia Infantil. Vila Nova <strong>de</strong> Gaia,<br />

8-9/5/08 (Serviço <strong>de</strong> Ortopedia do C.H.V.N.G., tel. 223778105,<br />

ortoped@chvng.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• Jornadas da Saú<strong>de</strong> da Mulher e da Criança “Medicina do<br />

Ambulatório”. Lisboa, 8-10/5/08 (Bayer Shering Pharma, www.eventosbayer.pt,<br />

cursos: Carla <strong>Ped</strong>ro, tel. 917215739)<br />

• XXXVI Jornadas Nacionais <strong>de</strong> Neonatologia “Controvérsias e<br />

Consensos”. Viseu, 8-9/5/08 (Milupa Comercial, tel. 214246880, milupa@milupa.pt,<br />

www.lusoneona tologia.net)<br />

• XXI Encontro sobre a Criança seu Desenvolvimento e Integração<br />

no Meio. Castelo Branco, 10-11/5/08 (Maria <strong>de</strong> Lur<strong>de</strong>s Lopes Vicente,<br />

tel. 272000170, lvicente@hal.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• XV Reunião do Anuário do Hospital <strong>de</strong> Dona Estefânia (HDE).<br />

Lisboa, 12/5/08 (Lucia Pratas, 213126784 – ext. 1784,<br />

anuário@h<strong>de</strong>stefania.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• Rastreio auditivo neo-natal universal. Curso satélite da XV<br />

Reunião do Anuário do HDE. Lisboa, 9/5/08 (Carla Oliveira, Serviço<br />

<strong>de</strong> Gestão da Formação do HDE, tel. 213596441, fax 213596439,<br />

cfpi@h<strong>de</strong>stefania.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• Doença alérgica respiratória em <strong>Ped</strong>iatria. Curso satélite da XV<br />

Reunião do Anuário do HDE. Lisboa, 12/5/08 (Carla Oliveira,<br />

Serviço <strong>de</strong> Gestão da Formação do HDE, tel. 213596441,<br />

fax 213596439, cfpi@h<strong>de</strong>stefania.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• Segurança Infantil. Curso satélite da XV Reunião do Anuário do<br />

HDE. Lisboa, 13/5/08 (Carla Oliveira, Serviço <strong>de</strong> Gestão da Formação do<br />

HDE, tel. 213596441, fax 213596439, cfpi@h<strong>de</strong>stefania.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• Terapêutica inalatória – dispositivos e técnicas <strong>de</strong> inalação. Curso<br />

satélite da XV Reunião do Anuário do HDE. Lisboa, 14/5/08 (Carla<br />

Oliveira, Serviço <strong>de</strong> Gestão da Formação do HDE, tel. 213596441,<br />

fax 213596439, cfpi@h<strong>de</strong>stefania.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• Introdução à Cirurgia <strong>Ped</strong>iátrica. Curso satélite da XV Reunião<br />

do Anuário do HDE. Lisboa, 14/5/08 (Carla Oliveira, Serviço<br />

<strong>de</strong> Gestão da Formação do HDE, tel. 213596441, fax 213596439,<br />

cfpi@h<strong>de</strong>stefania.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• Trabalho científico: fundamentos para elaboração e divulgação.<br />

Curso satélite da XV Reunião do Anuário do HDE. Lisboa, 20/5/08<br />

(Carla Oliveira, Serviço <strong>de</strong> Gestão da Formação do HDE,<br />

tel. 213596441, fax 213596439, cfpi@h<strong>de</strong>stefania.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• 26th Annual Meeting of the European Society for Paediatric<br />

Infectious Diseases. Graz, Áustria, 13-17/5/08 (Kenes<br />

International / ESPID 2008, tel. +41229080488, fax +41227322850,<br />

espid@kenes.com, www.kenes.com/espid)<br />

• II Jornadas Pneumo-Alergológicas do Hospital <strong>de</strong> Santa Maria. Lisboa,<br />

17/5/08 (GSK, Rosa Pereira, tel. 214129539, rosa.m.pereira@gsk.com)<br />

• V Seminário <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Infantil. Horta, 28-30/5/08 (Núcleo <strong>de</strong><br />

Formação do Centro <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Horta, sau<strong>de</strong>infantil@sapo.pt)<br />

• I Curso <strong>de</strong> Formação da Secção <strong>de</strong> Infecciologia <strong>Ped</strong>iátrica da SPP:<br />

Antimicrobianos em <strong>Ped</strong>iatria. Lisboa, 29-30/5/08 (Maria Júlia Brito,<br />

tel 919726434, secretariado@spp.pt.<br />

• 1st Conference on Anticipating Changes in Drug Development for<br />

Children: Building on Paediatric Rheumatology. Génova, Itália,<br />

29/5-1/6/08 (tel. +390105636807, tomwiley@ospedale-gaslini.ge.it,<br />

www.tripr.sispge.com)<br />

• Reunião <strong>de</strong> Casos Clínicos da Secção <strong>de</strong> Cuidados Intensivos Pe diá -<br />

tricos. Lisboa, 30/5/08 (UCIP do HSM, manuelajcorreia@gmail.com,<br />

marisa_vieira@oniduo.pt)<br />

JUNHO 2008<br />

• Reunião Anual da Secção <strong>de</strong> Endocrinologia da SPP. Lisboa,<br />

2/6/08 (Anabela Peixoto, tel. 214348299, fax 214348297,<br />

secl.ngm@hospital-as.pt)<br />

• IV Congresso Nacional <strong>de</strong> Medicina do Adolescente. Medicina<br />

Preventiva na Adolescência. Aveiro, 2-3/6/08 (Muris, tel. 229476847,<br />

fax 229476846, medicinadoadolescente@muris.pt www.muris.pt)<br />

• AVC na criança (também) é uma emergência. Lisboa, 5/6/08<br />

(Gabinete <strong>de</strong> Comunicação do HDE, tel. 213596513,<br />

h<strong>de</strong>.neurologia@mail.telepac.pt)<br />

• 18th Annual Meeting of the European Childhood Obesity Group<br />

(ECOG). Porto, 5-7/6/08 (Skyros-Congressos, tel. 226165450,<br />

fax 226189539, www.skyros-congressos.com)<br />

• A adolescência e os adolescentes. Porto, 6/6/08 (Juliana Girgin,<br />

tel. 222077500 – ext. 1040, secretariado.pediatria@hgsa.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• Défice <strong>de</strong> Atenção na Clínica <strong>de</strong> Desenvolvimento. Braga,<br />

13/6/08 (Nasturtium, tel. 960016880, geral@nasturtium.com.pt,<br />

www.nasturtium.com.pt)<br />

• Europaediatrics 2008. Istambul, Turquia, 14-17/6/08 (Topkon<br />

Congress Services, tel. +902163309020, fax +902163309005,<br />

ep2008@topkon.com, http://www.topkon.com)<br />

• 5º Curso <strong>de</strong> Epilepsia em Ida<strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iátrica. Porto, 17-19/6/08<br />

(Cidália Oliveira, tel. 222077500 – ext. 1465, ou 963266961,<br />

epilepsia.hsa@sapo.pt)<br />

• XXV Curso <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria Ambulatória. Coimbra, 19-20/6/08<br />

(ASIC, tel. 239484464, fax 239482918, sandra.fonseca@asic.pt,<br />

margarida.domingues@asic.pt, www.asic.pt)<br />

• NHS2008 Conference. Beyond newborn hearing screening: Infant<br />

and childhood hearing in science and clinical practice. Cernobbio,<br />

Itália, 19-21/6/08 (http://www.nhs2008.polimi.it)<br />

• Ética em <strong>Ped</strong>iatria. Lisboa, 20/6/08 (Paula Belmonte,<br />

belmonte@fm.ul.pt)<br />

• Reunião <strong>de</strong> Actualização e Casos Clínicos da Secção <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

do Desenvolvimento. Vila Real, 21/6/08 (Isabel Soares,<br />

tel. 259300500, ilsoares@chtmad.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• Curso <strong>de</strong> Verão 2008: Neonatologia. Covilhã, 20-22/6/08 (SPP,<br />

tel. 217574680, fax 217577617, secretariado@spp.pt, www.spp.pt)<br />

• Reunião <strong>de</strong> Casos Clínicos da Secção <strong>de</strong> Pneumologia <strong>Ped</strong>iátrica da<br />

SPP. Coimbra, 27/6/08 (Marisa Gonçalves, tel. 239480635 ext. 425,<br />

fax 239717216, lab.sono@chc.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• XXX Simpósio Minhoto-Galaico <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria Extra-Hospitalar.<br />

Ofir, 28/6/08 (Henedina Antunes, tel. 253209077,<br />

henedinaantunes@gmail.com)<br />

• Cardiovascular Intensive Care in Neonates and Children.<br />

Zurique, Suiça, 26-28/6/08 (community.ipokrates.info/uploads/program_zurich.pdf)<br />

JULHO 2008<br />

• 25º Aniversário do Serviço <strong>de</strong> Neonatologia do Hospital <strong>de</strong> S. João.<br />

VII Seminário <strong>de</strong> Neonatologia. III Jornadas <strong>de</strong> Enfermagem em<br />

Neonatologia. Porto, 3-5/7/08 (Milupa Comercial, tel. 214246880,<br />

milupa@milupa.pt)<br />

LV


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):LV-VI Notícias<br />

SETEMBRO 2008<br />

• Society for the Study of Inborn Errors of Metabolism (SSIEM) -<br />

Annual Symposium 2008. Lisboa, 2-5/9/08 (www.ssiem2008.com)<br />

• XXI European Congress of Perinatal Medicine. Istambul, Turquia,<br />

10-13/9/08 (Kenes International, tel. +41229080488, fax +41227322850,<br />

ecpm@kenes.com, www.kenes.com/ecpm/call.asp)<br />

• 2ª Conferência Internacional em Obesida<strong>de</strong> Infantil. Coimbra,<br />

17-20/9/08 (Centro <strong>de</strong> Investigação Obesida<strong>de</strong>, tel. 239800480, fax<br />

239800490, cioi2008@fbb.pt, www.fbb.pt/cioi/)<br />

• I Reunião <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria Comunitária. Viana do Castelo, 26-27/9/08<br />

(pediatria.comunitaria@gmail.com)<br />

OUTUBRO 2008<br />

• XI Jornadas <strong>de</strong> Reumatologia <strong>Ped</strong>iátrica. Lisboa, 2-3/10/08 (Merck<br />

Sharp & Dohme, tel. 214465728, fax 214465729)<br />

• Reunião Anual da Secção <strong>de</strong> Nefrologia <strong>Ped</strong>iátrica da SPP. Porto,<br />

3-4/10/08 (Secção <strong>de</strong> Nefrologia <strong>Ped</strong>iátrica da SPP)<br />

• VII Jornadas <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria. Vila Real, 3-4/10/08 (Serviço <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

CHTMAD, 7jornadas@chtmad.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• XIV Jornadas <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria do Serviço <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria <strong>de</strong> Évora. Évora,<br />

8-10/10/08 (Serviço <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria, Hospital Espírito Santo <strong>de</strong> Évora,<br />

tel. 266740100, fax 266707912, jornadas.pediatria@hevora.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• 9º Congresso Nacional <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria. Porto, 15-18/10/08 (<strong>Socieda<strong>de</strong></strong><br />

Portu guesa <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria, tel. 217574680, fax 217577617,<br />

secretariado@spp.pt, www.spp.pt)<br />

• 2nd Congress of the European Aca<strong>de</strong>my of Paediatrics. Nice, França,<br />

24-28/10/08 (reg_paediatrics@kenes.com, www.kenes.com/paediatrics)<br />

• 3ª Escola <strong>de</strong> Outono <strong>de</strong> Medicina do Adolescente. Viana<br />

do Castelo, 30/10-1/11/08 (Elisabete Santos, tel. 232420500,<br />

elisabete.viseu1@gmail.com)<br />

NOVEMBRO 2008<br />

• XV Jornadas <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria do Hospital <strong>de</strong> Santa Maria. Lisboa,<br />

5-8/11/08.<br />

• IX Congresso Nacional <strong>de</strong> Medicina Desportiva: A Criança e o<br />

Adolescente no Desporto. Lisboa, 13-15/11/08 (Merck Sharp &<br />

Dohme, tel. 214465728, fax 214465729)<br />

• Reunião Anual da Secção <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria Ambulatória da SPP.<br />

Chaves, 15/11/08.<br />

• I Jornadas <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria do CHVNGaia/Espinho. Vila Nova <strong>de</strong> Gaia,<br />

17-18/11/08 (Raquel Gue<strong>de</strong>s, raquelgue<strong>de</strong>s@hotmail.com)<br />

• Global Neonatology & Perinatology: 1st European<br />

Union of Neo na tal and Perinatal So cie ties (EUNPS) Congress<br />

& Aca<strong>de</strong>mic Olym pics. Roma, Itália, 17-19/11/08<br />

(https://secure.onlinecongress.it/onlinecongressweb/secure/form.aspx)<br />

• 16ª Jornadas <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria <strong>de</strong> Leiria e Caldas da Rainha. Leiria,<br />

20-21/11/08 (tel. /fax 244817053, ped.sec@hsaleiria.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

FEVEREIRO 2009<br />

• I Jornadas <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria do Instituto CUF. Porto, 6-7/2/09<br />

(Emídio Carreiro, tel. 917557453, emidiocarreiro@jmellosau<strong>de</strong>.pt)<br />

LVI<br />

MARÇO 2009<br />

• XXII Reunião Anual da Secção <strong>de</strong> Gastrenterologia, Hepa to -<br />

logia e Nutrição <strong>Ped</strong>iátrica da SPP. Braga, 12-14/3/09<br />

(2009gastrenterologia-spp@muris.pt)<br />

MAIO 2009<br />

• XI Jornadas Nacionais <strong>de</strong> Infecciologia <strong>Ped</strong>iátrica. Aveiro, 7-9/5/09<br />

(Secção <strong>de</strong> Infecciologia <strong>Ped</strong>iátrica da SPP)<br />

NOVEMBRO 2009<br />

• III Congresso Internacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Escolar / Fórum <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />

Évora, 20-21/11/09 (www.aventurasocial.com)<br />

Cursos <strong>de</strong> Formação Contínua em <strong>Ped</strong>iatria<br />

• 4º Curso <strong>de</strong> Formação Contínua em <strong>Ped</strong>iatria. Encontros<br />

à 6ª Feira. Hospital Geral <strong>de</strong> Santo António, EPE. Porto,<br />

12/10/07 a 6/6/08 (Juliana Girgin, tel. 222077500 – ext. 1040,<br />

secretariado.pediatria@hgsa.min-sau<strong>de</strong>.pt, http://encontros6feira.no.sapo.pt)<br />

• Curso <strong>de</strong> Actualização: Trauma na Criança. Lisboa, 23/9/08 a<br />

18/10/08 (Gabinete <strong>de</strong> Estudos Pós-Graduados, tel. 218803066,<br />

fax 218803068, gepg@fcm.unl.pt, www.fcm.unl.pt)<br />

• Curso <strong>de</strong> Actualização em Dermatologia <strong>Ped</strong>iátrica. Lisboa,<br />

15/10/08 a 19/11/08 (Gabinete <strong>de</strong> Estudos Pós-Graduados,<br />

tel. 218803066, fax 218803068, gepg@fcm.unl.pt, www.fcm.unl.pt)<br />

Eventos da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Brasileira <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

(fsbp@sbp.com.br; http://www.sbp.com.br)<br />

• IX Simpósio Brasileiro <strong>de</strong> Vacinas. Brasília, 22-25/5/08 (www.vacinas2008.com.br)<br />

• X Congresso Nacional <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria - Região Nor<strong>de</strong>ste. Salvador,<br />

11-14/6/08 (www.nacionalpediatria2008.com.br)<br />

• Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Ensino e Pesquisa em Saú<strong>de</strong> da<br />

Criança e do Adolescente. Rio <strong>de</strong> Janeiro, 11-13/9/09<br />

(www.ensinoepesquisa2008.com.br)<br />

• XV Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Infectologia <strong>Ped</strong>iátrica. Vitória,<br />

7-13/11/08 (www.infectoped2008.com.br)


0873-9781/08/39-3/LVII<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

1. Indicações Gerais aos Autores<br />

A <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong> (APP) aceita artigos sobre qualquer tema<br />

pediátrico e materno-fetal, nas múltiplas dimensões científicas, sociais e<br />

cul turais relacionadas com a saú<strong>de</strong> e educação da criança e do adoles -<br />

cente. Aceita também estudos experimentais com animais que contribuam<br />

para o melhor conhecimento da fisiologia e fisiopatologia infantil e fetal<br />

na espécie humana.<br />

São bem-vindos artigos provenientes <strong>de</strong> todos os Países <strong>de</strong> Língua Oficial<br />

<strong>Portuguesa</strong>. Po<strong>de</strong>m ser aceites, pela sua relevância, textos escritos noutras<br />

línguas, <strong>de</strong> reconhecida divulgação internacional.<br />

Os artigos propostos não po<strong>de</strong>m ter sido objecto <strong>de</strong> qualquer outro tipo <strong>de</strong><br />

publicação. Esta restrição não se aplica a notas <strong>de</strong> imprensa ou a resumos<br />

publicados no âmbito <strong>de</strong> reuniões científicas. Se houver publicações<br />

seme lhantes à que é submetida ou se existirem dúvidas relativamente ao<br />

cum primento dos critérios acima mencionados, estas <strong>de</strong>vem ser enviadas<br />

em anexo ao manuscrito em submissão.<br />

Os manuscritos submetidos <strong>de</strong>vem estar <strong>de</strong> acordo com os requisitos <strong>de</strong><br />

sub missão <strong>de</strong> manuscritos a revistas biomédicas, elaborados pela Comis -<br />

são Internacional <strong>de</strong> Editores <strong>de</strong> Revistas Médicas (Uniform Requi -<br />

rements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals – URMSBJ),<br />

elaborados pela Comissão Internacional <strong>de</strong> Editores <strong>de</strong> Revistas Médicas<br />

(Inter na tio nal Committee of Medical Journal Editors – ICMJE), dispo -<br />

nível em URL: www.icmje.org e em N Engl J Med 1997;336:309-15 e,<br />

em re cente versão portuguesa, em Rev Port Clin Geral 2007;27:778-98<br />

(http://www.apmcg.pt/files/54/documentos/20080304112450125029.pdf).<br />

Os manuscritos são inicialmente avaliados por membros da equipa edi -<br />

torial e os consi<strong>de</strong>rados a<strong>de</strong>quados são submetidos ao parecer técnico <strong>de</strong><br />

pelo menos dois revisores externos. A revisão é feita anonimamente,<br />

po<strong>de</strong>ndo os revisores propor a rejeição, aceitação sem modificações ou<br />

propor alterações <strong>de</strong> conteúdo ou <strong>de</strong> forma, condicionando a publicação<br />

do artigo às mesmas. Os pareceres da equipa editorial e dos revisores são<br />

comunicados ao(s) autor(es).<br />

A proprieda<strong>de</strong> editorial dos artigos publicados é da APP. Uma vez aceites,<br />

os manuscritos não po<strong>de</strong>m ser publicados textualmente ou em forma semelhante<br />

noutros locais, mesmo noutro idioma, sem o consentimento da APP.<br />

O(s) autor(es) mantêm os direitos <strong>de</strong> autor da sua obra, o que lhes permite:<br />

– publicar em parte ou na totalida<strong>de</strong> o seu artigo em livro, com a<br />

necessária referência à publicação do artigo;<br />

– utilizar figuras, tabelas e textos do seu artigo em outros trabalhos<br />

escritos pelo(s) autor(es), com a necessária referência à<br />

publicação do artigo;<br />

– incluir o seu artigo em compilações <strong>de</strong> textos para ensino, sempre<br />

que sejam distribuídos gratuitamente pelos estudantes ou<br />

disponibilizados em suporte informático <strong>de</strong> acesso livre, com<br />

intuito <strong>de</strong> ensino ou formação.<br />

Apesar dos editores e dos revisores envidarem esforços para assegurar a qualida<strong>de</strong><br />

técnica e científica dos manuscritos, a responsabilida<strong>de</strong> final do conteúdo<br />

é dos autores, aos quais pertence a proprieda<strong>de</strong> intelectual dos artigos.<br />

2. Tipos <strong>de</strong> artigos publicados na <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

A APP prevê a publicação <strong>de</strong> vários tipos <strong>de</strong> artigos:<br />

2.1. Artigos <strong>de</strong> investigação original.<br />

Contendo o resultado <strong>de</strong> investigação original, qualitativa ou quantitativa.<br />

O texto, organizado em introdução, métodos, resultados,<br />

discussão (e eventualmente conclusão), não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 3200<br />

pala vras, excluindo referências e ilustrações, com um máximo <strong>de</strong><br />

seis ilustrações e até 30 referências. Devem incluir resumos estruturados,<br />

em português e em inglês, com um limite <strong>de</strong> 300 palavras.<br />

2.2. Publicações breves.<br />

Contendo resultados preliminares ou achados novos. O texto, organizado<br />

em introdução, métodos, resultados, discussão e conclusão,<br />

NORMAS DE PUBLICAÇÃO<br />

não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 1500 palavras, excluindo referências e ilustrações,<br />

com um máximo <strong>de</strong> duas ilustrações e até quinze referências.<br />

Devem incluir resumos estruturados em português e em inglês, com<br />

um limite <strong>de</strong> 250 palavras.<br />

2.3. Casos clínicos.<br />

Casos clínicos originais, <strong>de</strong>vidamente estudados e discutidos. O<br />

texto <strong>de</strong>ve incluir uma breve introdução, a <strong>de</strong>scrição do(s) caso(s),<br />

a discussão sucinta que terminará com uma conclusão sumária. O<br />

texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 1200 palavras, excluindo referências e ilustrações,<br />

com um máximo <strong>de</strong> duas ilustrações e até doze referências.<br />

Os casos clínicos <strong>de</strong>vem incluir resumos, em português e em inglês,<br />

com um limite <strong>de</strong> 120 palavras, estruturados em introdução, relato<br />

dos casos e discussão (eventualmente conclusão).<br />

2.4. Séries <strong>de</strong> casos (Casuísticas).<br />

Contendo a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> séries <strong>de</strong> casos, numa perspectiva <strong>de</strong> reflexão<br />

sobre uma experiência particular <strong>de</strong> diagnóstico, tratamento ou<br />

prognóstico. O texto, incluindo uma breve introdução, a <strong>de</strong>scrição dos<br />

casos, a discussão sucinta contendo uma conclusão, não <strong>de</strong>ve exce <strong>de</strong>r<br />

2200 palavras, excluindo referências e ilustrações. O texto <strong>de</strong>ve estar<br />

organizado em introdução, métodos, resultados e discussão (eventualmente<br />

conclusão), com um máximo <strong>de</strong> três ilustrações e até trinta<br />

referências. As séries <strong>de</strong> casos <strong>de</strong>vem apresentar resumos estru tu ra -<br />

dos, em português e em inglês, com um limite <strong>de</strong> 250 palavras.<br />

2.5. Artigos <strong>de</strong> revisão ou actualização.<br />

Artigos <strong>de</strong> revisão sobre temas das diferentes áreas da <strong>Ped</strong>iatria, com<br />

interesse prático para profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>dicados a crianças e<br />

adolescentes. Este tipo <strong>de</strong> artigos <strong>de</strong> revisão é geralmente solicitado<br />

pelos editores. Contudo, serão avaliados artigos <strong>de</strong> revisão submetidos<br />

sem solicitação prévia dos editores. As revisões sistemáticas ou<br />

quantitativas têm priorida<strong>de</strong> editorial sobre revisões cuja metodologia<br />

não é especificada. O texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 3400 palavras, excluindo<br />

referências e ilustrações, incluir um máximo <strong>de</strong> seis ilustrações e<br />

até 60 referências. As revisões sistemáticas e quantitativas (metanálises,<br />

p.ex.) <strong>de</strong>vem ser organizadas em introdução, métodos, resultados<br />

e discussão (incluindo conclusões). Os artigos <strong>de</strong>vem incluir resumos,<br />

em português e em inglês, com um limite <strong>de</strong> 250 palavras, <strong>de</strong>vendo<br />

ser estruturados no caso <strong>de</strong> serem revisões quantitativas.<br />

2.6. Consensos e Recomendações.<br />

A submissão <strong>de</strong> consensos e recomendações emanadas por Secções<br />

da SPP ou socieda<strong>de</strong>s afins à SPP <strong>de</strong>verá ser feita pelos respectivos<br />

presi<strong>de</strong>ntes, ou seus representantes. A autoria será atribuída à Secção<br />

ou <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> em causa, <strong>de</strong>vendo constar no fim do texto a data da<br />

aprovação do documento (e eventualmente a data prevista para a<br />

revisão), os nomes dos autores envolvidos na sua elaboração,<br />

respec tiva filiação institucional, seguido expressamente da menção<br />

“em representação da Secção <strong>de</strong>... da SPP, ou da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Portu -<br />

guesa <strong>de</strong>...”. O texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 3400 palavras, excluindo<br />

referências e ilustrações, e conter um máximo <strong>de</strong> 60 referências. Este<br />

tipo <strong>de</strong> manuscrito não é sujeito a processo <strong>de</strong> revisão externa, sendo<br />

apenas submetido a revisão editorial formal e publicado na rubrica<br />

“<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria - Consensos e Reco mendações”.<br />

2.7. Artigos sobre Educação Médica.<br />

Artigos <strong>de</strong> revisão ou opinião sobre a formação médica contínua,<br />

geral ou pediátrica, dirigidos a profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>dicam<br />

a crianças e adolescentes, particularmente a responsáveis pela<br />

formação pré e pós-graduada. Este tipo <strong>de</strong> artigo po<strong>de</strong> ser subme -<br />

tido sem a solicitação prévia dos editores. O texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r<br />

2400 palavras, excluindo referências e ilustrações, incluir um máximo<br />

<strong>de</strong> três ilustrações e até 20 referências. Os artigos <strong>de</strong>vem incluir<br />

resumos, em português e em inglês, com um limite <strong>de</strong> 250 palavras,<br />

<strong>de</strong>vendo ser estruturados no caso <strong>de</strong> serem estudos originais.<br />

2.8. Artigos sobre Ética.<br />

Artigos <strong>de</strong> revisão ou <strong>de</strong> opinião sobre problemas éticos médicos,<br />

<strong>de</strong> carácter geral ou pediátrico. Este tipo <strong>de</strong> artigo po<strong>de</strong> ser subme-<br />

LVII


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):LVII-LXII Normas <strong>de</strong> Publicação<br />

LVIII<br />

tido sem a solicitação prévia dos editores. O texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r<br />

2400 palavras, excluindo referências e ilustrações, incluir um máximo<br />

<strong>de</strong> três ilustrações e até 30 referências. Os artigos <strong>de</strong>vem incluir<br />

resumos, em português e em inglês, com um limite <strong>de</strong> 250 palavras,<br />

<strong>de</strong>vendo ser estruturados no caso <strong>de</strong> serem estudos originais.<br />

2.9. Artigos sobre História da Medicina.<br />

Artigos <strong>de</strong> revisão sobre aspectos da História da Medicina, geral ou<br />

pediátrica. Este tipo <strong>de</strong> artigo po<strong>de</strong> ser submetido sem a solicitação<br />

prévia dos editores. O texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 2400 palavras,<br />

excluin do referências e ilustrações, incluir um máximo <strong>de</strong> três ilustrações<br />

e até 40 referências. Os artigos <strong>de</strong>vem incluir resumos, em<br />

português e em inglês, com um limite <strong>de</strong> 250 palavras.<br />

2.10. Críticas <strong>de</strong> livros, <strong>de</strong> publicações em versão electrónica, <strong>de</strong><br />

sítios da Internet ou <strong>de</strong> programas informáticos.<br />

O texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 600 palavras, excluindo referências e ilustrações,<br />

e incluir no máximo duas ilustrações e até seis referências<br />

bibliográficas, incluindo a referência bibliográfica completa do<br />

objecto da revisão. Estes artigos não <strong>de</strong>vem conter resumos.<br />

2.11. Artigos <strong>de</strong> opinião.<br />

Inci<strong>de</strong>m em comentários, ensaios filosóficos, análises críticas ou<br />

enunciados <strong>de</strong> posição, acerca <strong>de</strong> tópicos <strong>de</strong> interesse nas áreas da<br />

<strong>Ped</strong>iatria e Saú<strong>de</strong> Infantil, políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e educação médica. O<br />

texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 900 palavras, excluindo referências e ilustrações,<br />

e incluir no máximo uma ilustração e até cinco referências.<br />

Estes artigos não <strong>de</strong>vem conter resumos.<br />

2.12. Cartas ao Director.<br />

Comentários sucintos a artigos publicados na APP ou relatando <strong>de</strong><br />

forma muito breve e objectiva os resultados <strong>de</strong> observação clínica ou<br />

investigação original que não justifiquem publicação mais extensa.<br />

O texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 400 palavras, excluindo referências e ilustrações,<br />

e incluir no máximo uma ilustração e até seis referências.<br />

As cartas ao director não <strong>de</strong>vem conter resumos.<br />

3. Submissão <strong>de</strong> Manuscritos.<br />

Os manuscritos submetidos à APP <strong>de</strong>vem ser preparados <strong>de</strong> acordo com<br />

as recomendações abaixo indicadas e acompanhados <strong>de</strong> uma carta <strong>de</strong><br />

apre sentação dirigida ao Director da <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong>.<br />

A carta <strong>de</strong> apresentação <strong>de</strong>ve incluir a seguinte informação:<br />

1) Título completo do manuscrito;<br />

2) Nomes dos autores com especificação do contributo <strong>de</strong> cada um<br />

para o manuscrito; justificação <strong>de</strong> número elevado <strong>de</strong> autores<br />

(mais <strong>de</strong> seis), se tal ocorrer;<br />

3) Especificação do tipo <strong>de</strong> artigo, <strong>de</strong> acordo com a classificação<br />

da APP;<br />

4) Fontes <strong>de</strong> financiamento, incluindo bolsas e patrocínios comerciais;<br />

5) Explicitação <strong>de</strong> conflitos <strong>de</strong> interesse ou da sua ausência;<br />

6) Declaração <strong>de</strong> que o manuscrito não foi ainda publicado, na<br />

íntegra ou em parte, e <strong>de</strong> que nenhuma versão do manuscrito<br />

está a ser avaliada por outra revista;<br />

7) Declaração <strong>de</strong> que todos os autores aprovaram a versão do<br />

manuscrito que está a ser submetida;<br />

8) Assinatura <strong>de</strong> todos os autores.<br />

É dada preferência à submissão dos manuscritos por e-mail (secre ta ria -<br />

do@spp.pt). O manuscrito e a carta <strong>de</strong> apresentação <strong>de</strong>vem ser en via dos em<br />

ficheiros separados. Deve ser enviada por correio ou por fax (217 577 617)<br />

uma cópia da carta <strong>de</strong> apresentação assinada por todos os autores.<br />

Quando estiver disponível a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> submissão on-line, através<br />

das páginas electrónicas da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

(www.spp.pt), será esta a forma <strong>de</strong> submissão preferencial.<br />

Se não for possível efectuar a submissão por e-mail, esta po<strong>de</strong> ser efectuada<br />

por correio, com o envio do suporte digital, para o en<strong>de</strong>reço:<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

Rua Amílcar Cabral, 15, R/C I<br />

1750-018 Lisboa, PORTUGAL<br />

Os manuscritos rejeitados ou o material que os acompanha não serão<br />

<strong>de</strong>volvidos, excepto quando expressamente solicitado no momento da<br />

sub missão.<br />

4. Formatação dos Manuscritos.<br />

A formatação dos artigos submetidos para publicação <strong>de</strong>ve seguir os<br />

URMSBJ - ICMJE (vi<strong>de</strong> “1. Indicações Gerais aos Autores”).<br />

Todo o manuscrito, incluindo referências, tabelas e legendas <strong>de</strong> Ilus tra -<br />

ções, <strong>de</strong>ve ser redigido em coluna única, a dois espaços, com letra <strong>de</strong><br />

dimensão 12, e justificado à esquerda.<br />

Aconselha-se a utilização dos formatos <strong>de</strong> letra Times, Times New Roman,<br />

Courier, Helvética ou Arial; para caracteres especiais, aconselha-se a utilização<br />

do formato Symbol.<br />

Em todo o manuscrito as quatro margens <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong> 2,5 cm.<br />

Todas as páginas <strong>de</strong>vem ser numeradas, incluindo a página <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntifi -<br />

cação do manuscrito.<br />

Devem ser inseridas quebras <strong>de</strong> página entre cada secção do manuscrito.<br />

Não <strong>de</strong>vem conter cabeçalhos nem rodapés.<br />

A publicação <strong>de</strong> citações, quadros ou ilustrações cuja origem esteja sujeita<br />

a direitos <strong>de</strong> autor, está <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da citação completa da fonte e/ou<br />

da autorização do <strong>de</strong>tentor dos direitos <strong>de</strong> autor.<br />

Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> medida - Devem ser utilizadas as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> medida do<br />

Sistema Internacional (SI), mas os editores po<strong>de</strong>m solicitar a apresentação<br />

<strong>de</strong> outras unida<strong>de</strong>s não pertencentes ao SI.<br />

Abreviaturas - Devem evitar-se acrónimos e abreviaturas no título e nos<br />

resumos. Quando for necessária a sua utilização, <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>finidos na<br />

primeira vez que são mencionados no texto. O seu significado <strong>de</strong>ve também<br />

ficar explícito no resumo, nos quadros e figuras, excepto no caso das<br />

unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> medida. Quando usados mais do que seis acrónimos ou abreviaturas,<br />

recomenda-se a inclusão <strong>de</strong> um quadro com a lista completa dos<br />

mesmos.<br />

Nomes <strong>de</strong> doenças – Os nomes <strong>de</strong> doenças <strong>de</strong>vem ser escritos em minús cula,<br />

exceptuando-se apenas aqueles que contêm toponímicos ou antropónimos.<br />

Nomes <strong>de</strong> medicamentos - Deve ser preferida a utilização da Designação<br />

Comum Internacional (DCI) <strong>de</strong> fármacos, escrito em minúscula, em vez <strong>de</strong><br />

no mes comerciais <strong>de</strong> medicamentos. Quando forem utilizadas marcas regis -<br />

ta das, po<strong>de</strong> ser mencionado o nome do medicamento, em maiúscula e se gui -<br />

do do símbolo ®, e o nome do fabricante e a sua se<strong>de</strong>, entre parêntesis.<br />

Nomes <strong>de</strong> instrumentos – Os instrumentos <strong>de</strong> medida, diagnóstico ou<br />

programas informáticos utilizados no estudo e mencionados no manus -<br />

crito <strong>de</strong>vem ser apresentados <strong>de</strong> forma genérica e através do seu nome<br />

comercial, seguido do símbolo ®, e o nome do fabricante e a sua se<strong>de</strong>,<br />

entre parêntesis.<br />

Local do estudo – A filiação institucional dos autores <strong>de</strong>ve ser referida na<br />

página do título. Não <strong>de</strong>ve ficar explícita, no texto ou no resumo, a i<strong>de</strong>ntificação<br />

da instituição on<strong>de</strong> <strong>de</strong>correu o estudo, <strong>de</strong> modo a manter o duplo<br />

anonimato da revisão. Se essa referência for importante para a compreensão<br />

do manuscrito, <strong>de</strong>ve ser feita em termos <strong>de</strong> caracterização genérica do<br />

nível <strong>de</strong> diferenciação e local geográfico da instituição (exº: “hospital universitário<br />

<strong>de</strong> nível III” ou “centro <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> em área rural”).<br />

Secções do manuscrito - O manuscrito <strong>de</strong>ve ser apresentado na seguinte<br />

or<strong>de</strong>m:<br />

1 - Título (em português e inglês) e título abreviado, autores, instituições,<br />

agra<strong>de</strong>cimentos, en<strong>de</strong>reço (e autor) para correspondência;<br />

2 - Resumos e Palavras-chave (em português e inglês);<br />

3 - Texto;<br />

4 - Referências;<br />

5 - Legendas;


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):LVII-LXII Normas <strong>de</strong> Publicação<br />

6 - Ilustrações:<br />

6.1 - Quadros;<br />

6.2 - Figuras.<br />

4.1. Página <strong>de</strong> I<strong>de</strong>ntificação.<br />

Na primeira página do manuscrito <strong>de</strong>vem constar:<br />

4.1.1. O título (conciso e <strong>de</strong>scritivo), na língua original do manuscrito<br />

e em inglês;<br />

4.1.2. Um título abreviado (com um máximo <strong>de</strong> 40 caracteres,<br />

incluindo espaços);<br />

4.1.3. Os nomes dos autores, incluindo o primeiro nome por<br />

extenso (não <strong>de</strong>vem incluir graus académicos ou profissionais<br />

ou títulos honoríficos);<br />

4.1.4. A filiação institucional <strong>de</strong> cada autor no momento em que o<br />

trabalho foi realizado (<strong>de</strong>ve figurar apenas na página do título;<br />

casos excepcionais <strong>de</strong>vem ser justificados);<br />

4.1.5. A contribuição <strong>de</strong> cada autor para o trabalho.<br />

Como referido nos URMSBJ - ICMJE, a autoria requer uma<br />

contribuição substancial em, pelo menos, uma das seguintes<br />

activida<strong>de</strong>s:<br />

– Concepção e <strong>de</strong>senho do estudo, ou obtenção<br />

dos dados, ou análise e interpretação dos dados;<br />

– Redacção do manuscrito ou revisão crítica do<br />

seu conteúdo intelectual;<br />

– Aprovação final da versão submetida para<br />

publicação.<br />

A obtenção <strong>de</strong> financiamento, a recolha <strong>de</strong> dados ou a supervisão<br />

geral do grupo <strong>de</strong> trabalho, por si só, não justificam<br />

autoria.<br />

É necessário especificar a contribuição <strong>de</strong> cada autor para o<br />

trabalho. Sugere-se a seguinte discriminação:<br />

(a) Desenho do estudo.<br />

(b) Recolha <strong>de</strong> dados.<br />

(c) Análise estatística.<br />

(d) Interpretação dos dados.<br />

(e) Preparação do manuscrito.<br />

(f) Pesquisa bibliográfica.<br />

(g) Recolha <strong>de</strong> fundos.<br />

Nos manuscritos assinados por mais <strong>de</strong> seis autores (três<br />

autores no caso das cartas ao editor), tem que ser explici tada<br />

a razão <strong>de</strong> uma autoria tão alargada. É necessária a aprovação<br />

<strong>de</strong> todos os autores, por escrito, <strong>de</strong> quaisquer modificações<br />

da autoria do artigo após a sua submissão.<br />

4.1.6. O nome e contactos do autor que <strong>de</strong>verá receber a corres pon -<br />

dência, incluindo en<strong>de</strong>reço postal e telefone, fax ou e-mail;<br />

4.1.7. Os Agra<strong>de</strong>cimentos, mencionando colaboradores que não<br />

cumpram critérios para autoria mas que contribuíram substancialmente<br />

para o estudo ou manuscrito, especificando o<br />

seu contributo.<br />

4.1.8. Eventuais fontes <strong>de</strong> financiamento, como patrocínios ou<br />

bolsas.<br />

4.1.9. Declaração <strong>de</strong> Conflito <strong>de</strong> Interesses entre os autores e alguma<br />

eventual instituição ou empresa comercial ligada <strong>de</strong><br />

alguma forma ao âmbito do estudo ou manuscrito.<br />

4.1.10. Contagem <strong>de</strong> palavras, respectivamente, para cada resumo e<br />

para o texto principal (não incluindo referências e ilustrações).<br />

4.2. Resumo e Palavras-Chave.<br />

4.2.1. Resumo - Deve ser redigido na língua original do manuscrito<br />

e inglês, não ultrapassando os limites indicados na espe-<br />

cificação dos tipos <strong>de</strong> manuscritos mas suficientemente<br />

informativo e elaborado segundo um formato estruturado<br />

contendo os seguintes itens:<br />

4.2.1.1. Os resumos <strong>de</strong> artigos <strong>de</strong> investigação original,<br />

publicações breves e revisões quantitativas <strong>de</strong>vem<br />

ser estruturados (introdução, métodos, resultados,<br />

dis cussão e conclusões) e apresentar conteúdo<br />

seme lhante ao do manuscrito.<br />

4.2.1.2. Nos casos clínicos e séries <strong>de</strong> casos, <strong>de</strong>vem ser<br />

estruturados em introdução, relato do(s) caso(s),<br />

dis cussão (incluindo a conclusão); a conclusão<br />

<strong>de</strong>ve <strong>de</strong>stacar os aspectos que justificam a publicação<br />

do caso ou serie <strong>de</strong> casos.<br />

4.2.1.3. Os resumos <strong>de</strong> manuscritos referentes a revisões não<br />

sistemáticas e artigos <strong>de</strong> opinião não são estruturados<br />

segundo as secções referidas na alínea anterior.<br />

Nos resumos não <strong>de</strong>vem ser utilizadas referências e as abreviaturas<br />

<strong>de</strong>vem limitar-se ao mínimo.<br />

4.2.2. Palavras-chave - Devem ser indicadas logo a seguir ao resumo<br />

até seis palavras-chave, em português e em inglês, prefe ren cial -<br />

mente em concordância com o Medical Subject Headings<br />

(MeSH) utilizado no In<strong>de</strong>x Medicus. Para a selecção correcta<br />

das palavras-chave recomenda-se a consulta das lis tas <strong>de</strong> palavras<br />

usadas nos motores <strong>de</strong> busca: para por tuguês em<br />

http://www.bireme.br/php/<strong>de</strong>csws.php ou em http://<strong>de</strong>cs.bvs.br/<br />

e em inglês http://www.nlm.nih.gov/mesh/meshhome.html.<br />

Nos manuscri tos que não incluem resumos, as palavras-chave<br />

<strong>de</strong>vem ser apresentadas no final do manuscrito.<br />

4.3. Texto.<br />

O texto po<strong>de</strong>rá ser apresentado em português ou inglês (po<strong>de</strong>rá ser<br />

excepcionalmente consi<strong>de</strong>rada a submissão <strong>de</strong> textos noutras línguas,<br />

<strong>de</strong> reconhecida divulgação internacional).<br />

Os números <strong>de</strong> um a quinze <strong>de</strong>vem ser escritos por extenso, excepto<br />

quando têm <strong>de</strong>cimais ou se seguidos <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> medida. Nú me -<br />

ros superiores a quinze são escritos em algarismos, salvo no início <strong>de</strong><br />

uma frase. As casas <strong>de</strong>cimais <strong>de</strong>vem assinalar-se com vírgulas.<br />

4.3.1. Introdução - Deve conter essencialmente os argumentos<br />

científicos que fundamentam a realização do estudo e justificam<br />

os objectivos. Po<strong>de</strong> concluir com o enunciado dos<br />

objectivos do estudo. Esta secção <strong>de</strong>ve apenas conter as<br />

referências bibliográficas indispensáveis para o fundamento<br />

e os objectivos do estudo.<br />

4.3.2. Objectivos - Os objectivos do estudo po<strong>de</strong>m ser apresentados<br />

no final da Introdução ou em secção própria, <strong>de</strong>vendo<br />

ser claros, explícitos e não conter elementos metodológicos<br />

no enunciado.<br />

4.3.3. Métodos – Esta secção po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>nominar-se, consoante a<br />

natureza do estudo, “Métodos”, “Material e Métodos”,<br />

“Amostra e Métodos”, “População e Métodos”, ou simplesmente<br />

“Metodologia”. Nesta secção <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>screver-se:<br />

4.3.3.1. A amostra ou a população em estudo (especificando<br />

a sua <strong>de</strong>finição e forma <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação, recrutamento<br />

ou selecção);<br />

4.3.3.2. A localização do estudo no tempo e no espaço;<br />

4.3.3.3. O <strong>de</strong>senho do estudo;<br />

4.3.3.4. Os métodos <strong>de</strong> recolha <strong>de</strong> dados;<br />

4.3.3.5. Os métodos <strong>de</strong> análise dos dados: Os métodos estatísticos<br />

<strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>scritos com o <strong>de</strong>talhe sufi -<br />

ciente <strong>de</strong> modo a possibilitar a reprodução dos<br />

resul tados apresentados. Sempre que possível <strong>de</strong>ve<br />

ser quantificada a imprecisão das estimativas apresentadas,<br />

<strong>de</strong>signadamente através da apresentação<br />

<strong>de</strong> intervalos <strong>de</strong> confiança. Deve evitar-se uma utilização<br />

excessiva <strong>de</strong> testes <strong>de</strong> hipóteses, com o uso<br />

<strong>de</strong> valores <strong>de</strong> p, que não fornecem informação<br />

quantitativa importante. Deve ser mencionado o<br />

LIX


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):LVII-LXII Normas <strong>de</strong> Publicação<br />

LX<br />

software utilizado na análise dos dados, referindo o<br />

seu fabricante e, se consi<strong>de</strong>rado necessário, inse -<br />

rindo a referência <strong>de</strong> citação.<br />

4.3.3.6. As consi<strong>de</strong>rações éticas <strong>de</strong>vem figurar no final<br />

<strong>de</strong>sta secção. Os autores <strong>de</strong>vem assegurar que todas<br />

as investigações envolvendo seres humanos foram<br />

aprovadas por comissões <strong>de</strong> ética das instituições<br />

em que a investigação foi realizada, <strong>de</strong> acordo com<br />

a Declaração <strong>de</strong> Helsínquia da Associação Médica<br />

Mundial . Nesta secção <strong>de</strong>ve ser mencionada esta<br />

aprovação e a obtenção <strong>de</strong> consentimento informado,<br />

se aplicável.<br />

4.3.4. Resultados - Os resultados <strong>de</strong>vem ser apresentados no tex -<br />

to, usando eventualmente Ilustrações (Quadros e Figuras),<br />

seguindo uma sequência lógica. Não <strong>de</strong>ve ser fornecida<br />

informação redundante, aparecendo em duplicado no texto<br />

e nas ilustrações, bastando <strong>de</strong>screver a principais observações<br />

referidas nas ilustrações. (vi<strong>de</strong> infra as recomendações<br />

sobre Ilustrações).<br />

4.3.5. Discussão - Na discussão não <strong>de</strong>ve ser repetida <strong>de</strong>talhadamente<br />

a informação fornecida na secção <strong>de</strong> Resultados. A<br />

discussão <strong>de</strong>ve incidir nas limitações do estudo, na relação<br />

dos resultados obtidos com o observado noutras investigações,<br />

<strong>de</strong>vem ser evi<strong>de</strong>nciados os aspectos inovadores do<br />

estudo e as conclusões que <strong>de</strong>les resultam. Nesta secção<br />

apenas <strong>de</strong>vem ser incluídas as referências indispensáveis<br />

para discutir os resultados do estudo.<br />

4.3.6. Conclusão – Esta secção po<strong>de</strong> surgir separada da Discussão<br />

ou incluída no final da mesma. É importante que as conclusões<br />

estejam <strong>de</strong> acordo com os objectivos do estudo, <strong>de</strong>vendo-se<br />

evitar afirmações e conclusões que não sejam completamente<br />

apoiadas pelos resultados da investigação realizada.<br />

4.4. Ilustrações.<br />

As Ilustrações <strong>de</strong>vem ser anexadas após as referências bibliográficas.<br />

As Figuras <strong>de</strong>vem ser anexas após os Quadros.<br />

Cada Quadro ou Figura <strong>de</strong>ve ser apresentada em páginas separadas,<br />

juntamente com os respectivos título e as notas explicativas.<br />

Os Quadros e Figuras <strong>de</strong>vem ser numeradas separadamente (numeração<br />

romana para Quadros e numeração árabe para Figuras) <strong>de</strong><br />

acordo com a or<strong>de</strong>m com que são apresentadas no texto.<br />

Devem ser mencionadas no texto todos os Quadros e Figuras.<br />

Cada Quadro ou Figura <strong>de</strong>ve ser acompanhado <strong>de</strong> um título e notas<br />

explicativas (ex. <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> abreviaturas) <strong>de</strong> modo a serem compreendidas<br />

e interpretadas sem recurso ao texto do manuscrito. Se<br />

a ilustração possui uma tabela ou gráfico que inclua o resultado da<br />

análise estatística, <strong>de</strong>vem ser referidos o teste estatístico usado e o<br />

seu nível <strong>de</strong> significância (no caso do cálculo do risco relativo ou<br />

do odds ratio, <strong>de</strong>vem ser incluídos os seus intervalos <strong>de</strong> confiança).<br />

O título <strong>de</strong> cada Quadro ou Figura <strong>de</strong>ve ter uma explicação sucinta<br />

do conteúdo, que chame a atenção do leitor para o seu aspecto mais<br />

importante e/ou que auxilie a sua compreensão.<br />

Nos Quadros, o título e notas explicativas encimam a tabela; nas<br />

Figuras, o título e notas explicativas colocam-se por baixo da ilustração.<br />

Para as notas explicativas dos Quadros ou Figuras <strong>de</strong>vem ser utilizados<br />

os seguintes símbolos, nesta mesma sequência: *, †, ‡, §, ||,<br />

, **, ††, ‡‡ .<br />

Nas tabelas <strong>de</strong>vem ser utilizadas apenas linhas <strong>de</strong> limite hori -<br />

zontais.<br />

As Figuras, incluindo gráficos, mapas, ilustrações, fotografias ou<br />

outros materiais, <strong>de</strong>vem ser formatadas em computador ou digitalizadas.<br />

Nos gráficos, as legendas dos eixos <strong>de</strong>vem ser preferencialmente<br />

escritas paralelamente aos eixos das or<strong>de</strong>nadas e das abcissas, indicando<br />

as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> medida. Esses eixos <strong>de</strong>vem ter marcas correspon<strong>de</strong>ntes<br />

aos valores.<br />

Quando digitalizadas, as legendas, símbolos, setas ou letras <strong>de</strong>vem<br />

ser inseridas no ficheiro da imagem das fotografias ou ilustrações<br />

correspon<strong>de</strong>ntes. Os símbolos, setas ou letras <strong>de</strong>vem contrastar<br />

suficientemente com o fundo <strong>de</strong> fotografias ou ilustrações.<br />

As ilustrações que incluam fotografias <strong>de</strong> doentes, <strong>de</strong>verão ser<br />

acom panhadas pela autorização do doente ou do seu responsável<br />

legal, permitindo a sua publicação, <strong>de</strong>vendo ter os olhos tapados ou<br />

<strong>de</strong>sfocados digitalmente, <strong>de</strong> modo a impedir a sua i<strong>de</strong>ntificação,<br />

<strong>de</strong>s <strong>de</strong> que isso não <strong>de</strong>svirtue a intenção da apresentação da imagem.<br />

A dimensão das ilustrações é habitualmente reduzida à largura <strong>de</strong><br />

uma coluna, pelo que as mesmas e o texto que as acompanha <strong>de</strong>vem<br />

ser facilmente legíveis após redução.<br />

A resolução <strong>de</strong> imagens a preto e branco <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> pelo menos<br />

1200 dpi e a <strong>de</strong> imagens com tons <strong>de</strong> cinzento ou a cores <strong>de</strong>ve ser<br />

<strong>de</strong> pelo menos 300 dpi.<br />

Uma vez que a impressão final da APP é predominantemente a<br />

preto e branco ou em tons <strong>de</strong> cinzento, os gráficos não <strong>de</strong>verão conter<br />

cores. A submissão <strong>de</strong> imagens a cores <strong>de</strong>ve ser reduzida ao<br />

mínimo necessário, dado o número limitado <strong>de</strong> páginas a cores possível<br />

em cada número da APP. O excesso <strong>de</strong> imagens a cores po<strong>de</strong>rá<br />

atrasar a data <strong>de</strong> publicação até haver disponibilida<strong>de</strong> editorial.<br />

Na primeira submissão do manuscrito não <strong>de</strong>vem ser enviados originais<br />

<strong>de</strong> fotografias, ilustrações ou outros materiais, como pelí -<br />

culas <strong>de</strong> raios-X. As figuras criadas em computador ou convertidas<br />

em formato electrónico após digitalização <strong>de</strong>vem ser preferencialmente<br />

inseridas no ficheiro do manuscrito.<br />

Em caso <strong>de</strong> aceitação do manuscrito, serão solicitadas as Ilustrações<br />

nos formatos mais a<strong>de</strong>quados para a sua reprodução na revista.<br />

4.5. Referências.<br />

As referências <strong>de</strong>vem ser listadas após o texto principal, numeradas<br />

sequencialmente, pela or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> citação no texto e com o mesmo<br />

formato <strong>de</strong> letra com que figura no texto.<br />

No texto, os números das referências <strong>de</strong>vem ser apresentados em<br />

expoente, antes <strong>de</strong> vírgulas ou pontos finais (ex.: “segundo alguns<br />

autores 3,5,7 ”). Referências sequenciais <strong>de</strong>vem ser feitas indicando<br />

apenas a primeira e a última, unidas por hífen (ex.: “segundo alguns<br />

autores 5-7 ”).<br />

Não <strong>de</strong>ve ser utilizado software para numeração automática das<br />

referências.<br />

Deve evitar-se a citação <strong>de</strong> referências secundárias (textos que<br />

fazem referência às publicações originais), resumos e comunicações<br />

pessoais (estas serão referidas no texto como tal).<br />

Os autores <strong>de</strong>vem verificar se todas as referências estão <strong>de</strong> acordo<br />

com os documentos originais.<br />

Devem ser utilizados os nomes abreviados das publicações, <strong>de</strong> acordo<br />

com o adoptado pelo In<strong>de</strong>x Medicus. Os nomes abreviados <strong>de</strong>vem ser<br />

es critos em itálico, sem pontuação. Em caso <strong>de</strong> dúvida sobre qual o no -<br />

me abreviado correcto <strong>de</strong> publicações internacionais po<strong>de</strong> ser consultado<br />

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?cmd=search&db=journals.<br />

Uma <strong>de</strong>scrição pormenorizada do formato dos diferentes tipos <strong>de</strong> refe -<br />

rências conforme as regras <strong>de</strong> URMSBJ – ICMJE, po<strong>de</strong> ser encon tra -<br />

da em http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html ou em<br />

http://www.icmje.org.<br />

Citam-se apenas alguns tipos <strong>de</strong> referenciação:<br />

4.5.1. Artigo <strong>de</strong> revista: Relação <strong>de</strong> todos os autores - apelido<br />

seguido das iniciais dos primeiros nomes, sem pontos (se<br />

mais <strong>de</strong> seis autores, constarão os seis primeiros, seguidos<br />

<strong>de</strong> “et al”, em itálico). Título do artigo. Nome da revista<br />

(abreviada e em itálico), ano <strong>de</strong> publicação seguido <strong>de</strong> pon -<br />

to e vírgula, número do volume seguido <strong>de</strong> dois pontos, e<br />

primeira e última páginas (exemplo 1). Em muitas revistas,<br />

os artigos que não têm estrita natureza científica têm numeração<br />

romana (exemplo 2). Em casos excepcionais a paginação<br />

inicia-se em cada número do mesmo volume, nestes<br />

casos, o número <strong>de</strong>ve figurar entre parêntesis logo a seguir<br />

ao volume (exemplo 3); na maioria das revistas médicas a


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):LVII-LXII Normas <strong>de</strong> Publicação<br />

paginação é contínua ao longo <strong>de</strong> todo o volume e neste<br />

caso o número <strong>de</strong>ve ser omitido. Quando se trata <strong>de</strong> um<br />

suplemento <strong>de</strong>ve figurar logo a seguir ao volume, com indicação<br />

da numeração do suplemento se este for o caso<br />

(exem plo 4). No caso <strong>de</strong> carta ao editor ou resumo, <strong>de</strong>ve ser<br />

assinalado em parêntesis recto logo a seguir ao título do artigo<br />

(exemplo 5).<br />

Exemplos:<br />

E1 - Levy ML. Adolescência e adolescentes. <strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr<br />

Port 1995;5:255-8.<br />

E2 - Chadwick R, Schuklenk U. The politics of ethical consensus<br />

finding. Bioethics 2002;16:iii-v.<br />

E3 - Diabetes Prevention Program Research Group. Hyper -<br />

tension, insulin, and proinsulin in participants with impaired<br />

glucose tolerance. <strong>Ped</strong>iatr Nurs Rev 2002;40(2):679-86.<br />

E4 - Geraud G, Spierings EL, Keywood C. Tolerability and<br />

safety of frovatriptan with short- and long-term use for<br />

treat ment of migraine and in comparison with sumatriptan.<br />

Headache 2002;42 Suppl 2:S93-9.<br />

E5 - Tor M, Turker H. International approaches to the prescription<br />

of long-term oxygen therapy [letter]. Eur Respir J<br />

2002;20:242.<br />

4.5.2. Artigo em publicação electrónica:<br />

Exemplos:<br />

– Yu WM, Hawley TS, Hawley RG, Qu CK. Immor ta li za -<br />

tion of yolk sac-<strong>de</strong>rived precursor cells. Blood 2002 Nov<br />

15;100(10):3828-31. Epub 2002 Jul 5.<br />

– Abood S. Quality improvement initiative in nursing<br />

homes: the ANA acts in an advisory role. Am J Nurs [se -<br />

rial on the Internet]. 2002 Jun [cited 2002 Aug 12];<br />

102(6):[about 3p.]. Acessível em: http://www.nursingworld.org/AJN/2002/june/Wawatch.htm<br />

4.5.3. Livro: Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros<br />

nomes do(s) autor(es). Título do livro em itálico e iniciais<br />

maiúsculas. Edição. Cida<strong>de</strong>: nome da casa editora; ano <strong>de</strong><br />

publicação.<br />

– Murray PR, Rosenthal KS, Kobayashi GS, Pfaller MA.<br />

Medical Microbiology. 4th ed. St. Louis: Mosby; 2002.<br />

4.5.4. Capítulo <strong>de</strong> livro: Nome(s) - apelido seguido das iniciais<br />

dos primeiros nomes do(s) autor(es) do capítulo. Título do<br />

capítulo. In: Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros<br />

nomes do(s) editor(es), eds. Título do livro em itá -<br />

lico e iniciais maiúsculas. Número da edição. Cida<strong>de</strong>: nome<br />

da casa editora; ano <strong>de</strong> publicação. Número da primeira e<br />

última páginas.<br />

– Arvin AN. Infection control. In: Behrman RE, Kliegman<br />

RM, Arvin AM, editors. Nelson Textbook of <strong>Ped</strong>iatrics.<br />

15th ed. Phila<strong>de</strong>lphia: WB Saun<strong>de</strong>rs Company; 1996;<br />

1027-8.<br />

4.5.5. Comunicação em jornadas, congressos e similares:<br />

Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros nomes<br />

do(s) autor(es) da comunicação. Título da comunicação. In:<br />

Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros nomes<br />

do(s) editor(es), eds. Livro <strong>de</strong> publicação das comunicações;<br />

data e local da reunião. Cida<strong>de</strong> e nome da casa editora<br />

(se referido); ano <strong>de</strong> publicação. Número da primeira e<br />

última páginas.<br />

– Christensen S, Oppacher F. An analysis of Koza’s computational<br />

effort statistic for genetic programming. In:<br />

Foster JA, Lutton E, Miller J, Ryan C, Tettamanzi AG,<br />

eds. Genetic programming. EuroGP 2002: Proceedings of<br />

the 5th European Conference on Genetic Programming;<br />

2002 Apr 3-5; Kinsdale, Ireland. Berlin: Springer; 2002.<br />

p. 182-91.<br />

4.5.6. Página web:<br />

– Cancer-Pain.org [homepage on the Internet]. New York:<br />

Association of Cancer Online Resources, Inc.; c2000-01<br />

[updated 2002 May 16; cited 2002 Jul 9]. Acessível em:<br />

http://www.cancer-pain.org/.<br />

5. Autorizações.<br />

Antes <strong>de</strong> submeter um manuscrito à APP, os autores <strong>de</strong>vem ter em sua<br />

posse os seguintes documentos que po<strong>de</strong>rão ser solicitados pelo corpo<br />

editorial:<br />

– consentimento informado <strong>de</strong> cada participante;<br />

– consentimento informado relativamente a cada indivíduo presente<br />

em fotografias, mesmo após tentativa <strong>de</strong> ocultar a respectiva<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>;<br />

– transferência <strong>de</strong> direitos <strong>de</strong> autor <strong>de</strong> imagens ou ilustrações;<br />

– autorizações para utilização <strong>de</strong> material previamente publicado;<br />

– autorização dos colaboradores mencionados na secção <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimentos.<br />

6. Revisão <strong>de</strong> Manuscritos.<br />

No caso do artigo ser aceite condicionado a modificações, estas <strong>de</strong>vem ser<br />

realizadas pelos autores no prazo indicado pela APP. O reenvio <strong>de</strong> nova<br />

versão do manuscrito <strong>de</strong>ve acompanhar-se <strong>de</strong> uma carta on<strong>de</strong> os autores<br />

respondam às sugestões feitas pelos revisores.<br />

No momento da aceitação, os autores serão informados se <strong>de</strong>vem ser<br />

enviadas as ilustrações num formato diferente àquele em que foram inicialmente<br />

enviadas.<br />

As provas tipográficas serão enviadas aos autores, contendo a indicação<br />

do prazo <strong>de</strong> revisão em função das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> publicação da APP. A<br />

revisão <strong>de</strong>ve ser aprovada por todos os autores. Nesta fase aceitam-se apenas<br />

modificações que <strong>de</strong>corram da correcção <strong>de</strong> erros tipográficos. A correcção<br />

<strong>de</strong>ve ser efectuada em documento à parte, referindo a página, coluna,<br />

parágrafo e linha na qual se preten<strong>de</strong> que se proceda às correcções.<br />

O não respeito do prazo <strong>de</strong>sobriga a APP a aceitar a revisão pelos autores,<br />

po<strong>de</strong>ndo a revisão ser efectuada exclusivamente pelos serviços da APP.<br />

Juntamente com a correcção das provas tipográficas, <strong>de</strong>ve ser enviada<br />

uma <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> direitos <strong>de</strong> autor para APP, assinada<br />

por todos os autores (documento fornecido pela APP).<br />

7. Separatas.<br />

Após a publicação <strong>de</strong> cada número da APP, os artigos publicados serão<br />

enviados em formato PDF pelo Secretariado da APP ao primeiro autor.<br />

Po<strong>de</strong>rá ser solicitado ao Secretariado da APP o envio em formato PDF <strong>de</strong><br />

artigos publicados recentemente, enquanto não estiverem disponíveis na<br />

página electrónica da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria (www.spp.pt).<br />

8. Ficha <strong>de</strong> verificação para os autores.<br />

A APP recomenda aos autores que verifiquem na Ficha anexa o cumprimento<br />

dos requisitos contidos nestas Normas <strong>de</strong> Publicação, o que ace lera<br />

o processo editorial.<br />

LXI


<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iatr Port 2008:39(3):LVII-LXII Normas <strong>de</strong> Publicação<br />

Ficha <strong>de</strong> verificação para os autores<br />

Título: na língua original do manuscrito, em inglês e na versão abreviada<br />

Autores: os nomes, a filiação institucional, a contribuição <strong>de</strong> cada autor<br />

Contacto: nome e contactos do autor que <strong>de</strong>ve receber a correspondência<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Fontes <strong>de</strong> financiamento<br />

Declaração <strong>de</strong> Conflito <strong>de</strong> Interesses<br />

Contagem <strong>de</strong> palavras: para cada resumo e para o texto principal<br />

Resumo e Abstract: estruturado conforme a tipologia do manuscrito<br />

Palavras-chave: em concordância com o Medical Subject Headings (MeSH)<br />

Texto: estrutura, conteúdo, acrónimos e inserção <strong>de</strong> referências<br />

Ilustrações: formatação e numeração dos Quadros e Figuras; autorizações<br />

Referências: em concordância com as regras <strong>de</strong> URMSBJ – ICMJE<br />

Carta <strong>de</strong> Apresentação à APP<br />

Autorizações: autoria, agra<strong>de</strong>cimentos, utilização <strong>de</strong> imagens e material publicado<br />

Declaração <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> direitos <strong>de</strong> autor para APP<br />

Data: .…... / ....... / …….....<br />

Assinatura do autor principal: ……………………………………………………….......<br />

<strong>Acta</strong> <strong>Ped</strong>iátrica <strong>Portuguesa</strong>. <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria.<br />

Rua Amílcar Cabral, 15 r/c I, 1750-018 Lisboa. Tel.: 217547680. Fax.: 217577617. secretariado@spp.pt<br />

LXII


✄<br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

Nome:<br />

Morada:<br />

PROPOSTA DE NOVO SÓCIO<br />

ACTUALIZAÇÃO DE MORADA<br />

Cód. Postal - Telef.:<br />

Instituição:<br />

Telef.:<br />

e-mail: @<br />

Enviar a:<br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

Rua Amílcar Cabral, 15 r/c I, 1750-018 Lisboa<br />

Tel.: 217 574 680 – Fax: 217 577 617<br />

e-mail: secretariado@spp.pt<br />

Notas:<br />

• Esta proposta <strong>de</strong> novo sócio <strong>de</strong>verá ser acompanhada por um cheque <strong>de</strong> € 7,50 que se<br />

<strong>de</strong>stinará ao pagamento da primeira anualida<strong>de</strong>.<br />

• Em caso <strong>de</strong> preten<strong>de</strong>r mudança <strong>de</strong> morada <strong>de</strong>verá indicar-nos qual a antiga para que se<br />

processe a actualização da mesma.


✄<br />

Nome:<br />

Morada:<br />

Instituição:<br />

Especialida<strong>de</strong>:<br />

Telefone:<br />

Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vigilância <strong>Ped</strong>iátrica<br />

da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

- Portuguese Paediatric Surveillance Unit -<br />

INSCRIÇÃO DE NOVO NOTIFICADOR<br />

OU ACTUALIZAÇÃO DE CONTACTOS<br />

- ,<br />

e-mail: @<br />

Enviar para:<br />

Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vigilância <strong>Ped</strong>iátrica da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

Rua Amílcar Cabral, 15 r/c I, 1750-018 Lisboa – Tel.: 217 547 680 – Fax: 217 577 617<br />

e-mail: uvp-ppsu@spp.pt<br />

Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vigilância <strong>Ped</strong>iátrica / Portuguese Paediatric Surveillance Unit. <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Ped</strong>iatria<br />

Rua Amílcar Cabral, 15 r/c I, 1750-018 Lisboa – Tel.: 217 547 680 – Fax: 217 577 617 – e-mail: uvp-ppsu@spp.pt

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