11.04.2013 Views

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA ...

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA ...

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>SECRETARIA</strong> <strong>DE</strong> <strong>ESTADO</strong> <strong>DA</strong> <strong>EDUCAÇÃO</strong><br />

<strong>SUPERINTENDÊNCIA</strong> <strong>DA</strong> <strong>EDUCAÇÃO</strong><br />

<strong>DE</strong>PARTAMENTO <strong>DE</strong> POLÍTICAS<br />

E PROGRAMAS EDUCACIONAIS<br />

COOR<strong>DE</strong>NAÇÃO ESTADUAL DO P<strong>DE</strong><br />

GRAVI<strong>DE</strong>Z NA ADOLESCÊNCIA: UMA PROPOSTA <strong>DE</strong> AÇÕES<br />

COLABORATIVAS NO CONTEXTO DO PROGRAMA <strong>DE</strong><br />

<strong>DE</strong>SENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DO PARANÁ<br />

PROFESSORA P<strong>DE</strong>: MAGALI APARECI<strong>DA</strong> BULLA LARENTIS<br />

PROFESSORA ORIENTADORA IES: Ms. <strong>DA</strong>NIELA FRIGO FERRAZ<br />

CASCAVEL<br />

2009


GRAVI<strong>DE</strong>Z NA ADOLESCÊNCIA: UMA PROPOSTA <strong>DE</strong> AÇÕES<br />

COLABORATIVAS NO CONTEXTO DO PROGRAMA <strong>DE</strong><br />

<strong>DE</strong>SENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DO PARANÁ<br />

Magali Aparecida Bulla Larentis 1<br />

Daniela Frigo Ferraz 2<br />

RESUMO: Durante muito tempo, a sexualidade foi considerada de pouca<br />

importância para o desenvolvimento das pessoas e voltada para uma única<br />

finalidade: a reprodução. Hoje, seu estudo envolve o crescimento global do<br />

indivíduo: intelectual, físico, emocional e sexual propriamente dito. Os adolescentes,<br />

nos dias atuais, têm acesso à informação, porém são imprudentes quando se<br />

deparam com a aplicação do conhecimento em situações reais, eles se deixam levar<br />

por impulsos momentâneos, sem pensar nas consequências que isso possa<br />

acarretar em suas vidas e na de outros. Neste sentido, verifica-se a necessidade de<br />

que ocorra a tradução dessas informações em conhecimento e este em mudança de<br />

comportamento. A abordagem utilizada no presente artigo tem caráter de pesquisaação,<br />

enquanto linha de pesquisa associada a diversas formas de ações coletivas.<br />

Os instrumentos de coleta de dados utilizados para essa pesquisa foram:<br />

questionários aplicados a vinte e cinco alunos do ensino fundamental e médio e<br />

entrevistas áudio gravadas com dez professores das diversas disciplinas<br />

curriculares, da Escola Estadual Padre Carmelo Perrone, localizada na cidade de<br />

Cascavel - PR. Este trabalho de pesquisa proporcionou a todos os envolvidos na<br />

questão da sexualidade: família, professores e o próprio estudante, a interação<br />

coletiva no desdobramento das ações mobilizando-os de forma interdisciplinar, com<br />

o intuito de prevenir a gravidez na adolescência possibilitando o exercício da<br />

sexualidade com responsabilidade.<br />

Palavras-chave: Sexualidade. Gravidez na Adolescência. Ações colaborativas.<br />

PREGNANCY IN THE ADOLESCENCE: A PROPOSAL OS<br />

COLLABORATIVE ACTIONS IN THE CONTEXT OF THE<br />

EDUCATIONAL <strong>DE</strong>VELOPMENT PROGRAM FROM PARANA STATE<br />

1 Professora da Rede Estadual de Ensino, atuante na área de Ciências Biológicas, participante ao<br />

Programa de Desenvolvimento Educacional, ano 2008.<br />

2 Professora orientadora Assistente do Curso de Ciências Biológicas/CCBS/UNIOESTE/ Cascavel/<br />

PR.


ABSTRACT: For a long time, the sexuality was considering the less important thing<br />

for people’s development, it was turned to a single purpose: procreation. Now days,<br />

its study involves the person’s whole development: intellectual, physics, emotional as<br />

well as sexual. The adolescents, today, have access to information, however they<br />

are not prudent when they face a real situation to put in practice their sexual<br />

knowledge, they yield to momentary impulse without thinking about the<br />

consequences that it can produce in their lives and the others. In this case, it’s<br />

necessary to transform these informations in knowledge and in a behaviour change.<br />

The used approach in the present article is an action research that is in a study line<br />

associated to several ways of collective actions. The instruments for data collection<br />

used to this work were questionaries applied for twenty-five students from elementary<br />

and second level and audio-recorded interviews with ten teachers of different<br />

subjects from Padre Carmelo Public School from Cascavel city, Parana state. This<br />

research provided to all involved in the issue of sexuality: family, teachers and the<br />

students, collectively interact in the production of actions mobilizing them across the<br />

disciplines in order to prevent adolescent pregnancy to exercise of their sexual<br />

responsibly.<br />

Keywords: Sexuality. Adolescence Pregnancy. Collaborative Actions.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

O Programa de Desenvolvimento Educacional – P<strong>DE</strong> proporciona aos<br />

professores da rede pública do Estado do Paraná a oportunidade do retorno às<br />

atividades acadêmicas, à pesquisa, à atualização e aprofundamento de seus<br />

conhecimentos, levando à reflexão e possibilitando mudanças na prática escolar<br />

(P<strong>DE</strong>, 2008).<br />

Educar nos dias atuais é muito mais que ensinar e transmitir conteúdos. A<br />

função da escola é formar cidadãos conscientes e atuantes na sociedade, com<br />

capacidade de agir e interagir com os seus pares.<br />

Desta forma, este trabalho se justifica pela necessidade de entender a<br />

ocorrência de casos de gravidez sem planejamento entre adolescentes, que ocorrem<br />

na comunidade em que se encontra o Colégio Estadual Padre Carmelo Perrone,<br />

localizado no bairro Alto Alegre, Cascavel – PR, onde atua a professora<br />

pesquisadora P<strong>DE</strong>. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a<br />

gravidez na adolescência é considerada de alto risco, devido às repercussões sobre<br />

a saúde da mãe e do bebê. Dados estatísticos do Ministério da Saúde estão<br />

preocupando pais, educadores e médicos, pois revelam que de 45% a 60% dos<br />

2


adolescentes brasileiros iniciam a vida sexual sem nenhum método contraceptivo<br />

(BRASIL, 2006).<br />

Sabendo da importância que o tema sexualidade e gravidez na adolescência<br />

representam na vida do adolescente, o estudo e a pesquisa sobre o este tema em<br />

todas as séries de uma escola pública, tornou-se fundamental na busca de<br />

esclarecimentos e na tentativa de minimizar, por meio de ações coletivas nas<br />

diferentes disciplinas curriculares, os problemas decorrentes da desinformação.<br />

Sendo assim, algumas questões surgem quando se pensa em abordar a<br />

sexualidade na escola:<br />

Quais são os fatores que contribuem para o número elevado da ocorrência de<br />

gravidez não planejada na adolescência? Há um conhecimento por parte dos alunos<br />

sobre as questões relativas à sua sexualidade? Como motivar e sensibilizar os<br />

alunos para se tornarem multiplicadores dos conhecimentos técnicos e científicos<br />

referentes ao tema abordado? Será que os professores conseguem abordar esse<br />

tema de forma a atender às demandas do problema na adolescência? Que ações<br />

são necessárias para contribuir com a diminuição dos índices de gravidez não<br />

planejada no contexto escolar? Qual o papel da família no processo de educar<br />

sexualmente seus filhos? Como a escola, mediante a ação educativa formal pode<br />

promover o exercício da cidadania frente à vida e à sexualidade, na efetivação do<br />

processo educacional?<br />

Observar adolescentes grávidas na escola, provoca o repensar sobre o papel<br />

que o educador exerce. O que se pode fazer para mudar essa situação? Como<br />

minimizar este problema? Investir em um projeto que contemple ações colaborativas<br />

entre as diversas disciplinas curriculares possibilitou a discussão e a reflexão sobre<br />

a valorização do ser humano e do autoconhecimento que leva à compreensão do<br />

respeito e do amor pela vida.<br />

Os dados estatísticos do Ministério da Saúde mostram o caráter de urgência<br />

relacionado a esta problemática, em relação aos adolescentes. Assim, torna-se<br />

importante as investigações que levam à reflexão e à análise do tema sexualidade e<br />

gravidez na adolescência, possibilitando uma compreensão dos principais<br />

problemas socioculturais que marcam a nossa prática educacional. Para Gandra,<br />

Pires e Lima (2002, p. 8), “ignorar, ocultar ou reprimir não são atitudes desejáveis<br />

para quem tem a missão de formar cidadãos”. Cabe aos educadores mediar a<br />

3


discussão do tema sexualidade, para que esta possa ser exercida de forma salutar e<br />

responsável por todos.<br />

A sensibilização dos alunos, incitando-os a refletir sobre a sua sexualidade e<br />

também do outro, de maneira consciente e saudável na construção da sua<br />

autoestima, realizou-se por meio de visitas à Casa de Amparo à Gestante e ao Lar<br />

dos Bebês. Além disso, promoveu-se a reflexão e o debate sobre a gravidez na<br />

adolescência, identificando as possíveis causas do alto índice de gravidez precoce<br />

no bairro e reconhecendo a contracepção como recurso essencial para ampliar as<br />

possibilidades de se exercer a sexualidade com responsabilidade.<br />

Por meio de programas de prevenção à gravidez na adolescência e a<br />

doenças sexualmente transmissíveis, em parceria com o Centro Especializado de<br />

Doenças Infecto-Parasitárias (CEDIP), houve em abril de 2009, a formação de<br />

jovens multiplicadores de uma forma reflexiva, investigativa e participativa,<br />

capacitando-os a apresentarem para a sua comunidade escolar o resultado das<br />

reflexões e pesquisas realizadas pelo grupo, por meio de paródias, jogral e teatro.<br />

Este trabalho, também sensibilizou os professores para uma ação pedagógica<br />

de caráter educativo e participativo na promoção da sexualidade, por meio de sua<br />

socialização e aplicação de dinâmicas ao grupo docente, formando um grupo de<br />

apoio com professores de diferentes disciplinas curriculares.<br />

Sendo assim, objetivou-se mobilizar alunos e professores para o<br />

desenvolvimento de ações colaborativas de forma interdisciplinar, contribuindo com<br />

a questão da sexualidade e gravidez na adolescência, no contexto escolar do<br />

professor pesquisador P<strong>DE</strong>.<br />

2 A FAMÍLIA NO ATO <strong>DE</strong> EDUCAR SEXUALMENTE OS FILHOS<br />

Durante muito tempo, a sexualidade foi considerada de pouca importância<br />

para o desenvolvimento das pessoas e voltada para uma única finalidade: a<br />

reprodução.<br />

As mudanças tecnológicas ocorridas no século XIX e a revolução sexual, no<br />

século XX, provocaram mudanças no processo de socialização e de educação dos<br />

indivíduos contribuindo para uma modificação nas atitudes morais e nas questões<br />

4


ligadas ao sexo e à sexualidade, porém esse assunto ainda assim continua sendo<br />

um tabu (AZEVEDO; MOREIRA; CONFORTO, 2008).<br />

Nossa cultura ainda está muito arraigada à ideia de que a sexualidade está<br />

diretamente relacionada ao ato sexual. Segundo Beraldo (2009, p. 1), “o estudo da<br />

sexualidade envolve o crescimento global do indivíduo, tanto intelectual, físico,<br />

afetivo, emocional e sexual propriamente dito”.<br />

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a sexualidade é uma<br />

necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado de<br />

outros aspectos da vida. Sexualidade não é sinônimo de coito e não se limita à<br />

presença ou não de orgasmo. Sexualidade é muito mais do que isso, é a energia<br />

que motiva o encontro, o amor, o contato, a intimidade. A sexualidade influencia<br />

pensamentos, sentimentos, ações e interações e tanto a saúde física como a<br />

mental. Se a saúde é um direito fundamental, a saúde sexual também deve ser<br />

considerada um direito humano básico. Por isso, a sexualidade não se restringe<br />

somente ao ato sexual e falar desse assunto é falar da própria vida. Como pontua o<br />

Ministério da Saúde - 2006: “A sexualidade envolve, além do nosso corpo, nossa<br />

história, nossos costumes, nossas relações afetivas e nossa cultura, sendo<br />

construída desde o nascimento até a morte” (BRASIL, 2006).<br />

Gandra, Pires e Lima (2002, p. 21) ainda argumentam:<br />

Os pais são os primeiros no ato de educar sexualmente seus filhos, apesar<br />

de não se darem conta desse papel. [...] É no ambiente familiar, que a<br />

criança recebe com maior intensidade informações e estímulos, permitindo<br />

a construção e a expressão de sua sexualidade.<br />

Atualmente, o diálogo sobre sexualidade entre pais e filhos está se tornando<br />

restrito. Essa dificuldade ocorre na maioria das vezes pelas diferenças geracionais,<br />

pois muitos pais de adolescentes foram educados num ambiente de repressão às<br />

manifestações sexuais e também pela desculpa do “corre-corre” do cotidiano,<br />

esquecendo-se que o que realmente importa não é o tempo que ficam com seus<br />

filhos mais a qualidade desse tempo. Como reflexo, segundo Lopes (2008), a mídia<br />

ocupa esse espaço que a família e a escola deixam vago e, na maioria das vezes,<br />

as informações que transmitem são enganosas, pois veiculam o sexo com<br />

pouquíssimas referências sobre a contracepção e doenças sexualmente<br />

transmissíveis.<br />

5


Em pesquisas realizadas por Ramos, Monticelli e Nitschke (2000),<br />

constatou-se a grande dificuldade de alguns pais para exteriorizarem suas<br />

experiências educativas com os filhos, além de despreparo para lidar com as<br />

mudanças físicas e psicológicas de seus filhos adolescentes. A maior preocupação<br />

relatada estava ligada aos aspectos biológicos da reprodução humana e as<br />

consequências da iniciação sexual, ou seja, perda da virgindade, gravidez<br />

inesperada, doenças sexualmente transmissíveis e homossexualidade.<br />

De acordo com Beraldo (2009, p. 1):<br />

A maioria dos pais acham constrangedor conversar sobre sexo com seus<br />

filhos, ora pela educação recebida de seus pais, ora pela repressão ou por<br />

não saberem como abordar o tema. Assim, os filhos na maioria das vezes,<br />

ficam sem respostas para suas dúvidas, gerando conflitos ou acidentes<br />

inesperados por terem informações errôneas ao consultar variadas fontes<br />

impróprias.<br />

Desta forma, a família tem um papel primordial e fundamental na formação de<br />

seus filhos. Como enfatizam Gandra, Pires e Lima (2002, p. 21), “as palavras,<br />

comportamentos e ações dos pais configuram o primeiro e mais importante modelo<br />

de educação sexual das crianças”, pois estes se espelham nos atos dos pais para a<br />

construção de valores que irão refletir em seu desenvolvimento afetivo e social.<br />

3 A ESCOLA E A SEXUALI<strong>DA</strong><strong>DE</strong> DOS ADOLESCENTES<br />

A escola também tem dificuldades para trabalhar questões que envolvam a<br />

sexualidade e, como espaço de formação e informação, ele exerce grande influência<br />

na vida do adolescente.<br />

Segundo Egypto (2003), o tema sexualidade na escola é uma questão que<br />

exige revisão de conceitos, superação de preconceitos e estereótipos, um olhar<br />

reflexivo sobre os diversos, medos e vergonhas. Exige acima de tudo, dedicação e<br />

estudo. Contudo, parece difícil encarar tudo isso com tranquilidade, motivo pelo qual<br />

muitas escolas fogem desta responsabilidade.<br />

Na visão de Oliveira (2006), o tema sexualidade tem sido tratado como<br />

conteúdo disciplinar nas aulas de ciências, com uma abordagem muito restrita,<br />

6


concentrando-se na transmissão de regras de comportamento. O caráter biológico e<br />

tecnicista como é trabalhado reduz a sexualidade simplesmente ao caráter genital.<br />

Conforme Salla et al. (apud OLIVEIRA 2006, p. 56):<br />

Neste sentido, entende-se que o corpo compreende o substrato orgânico<br />

fornecido pelo organismo quando passa a ter um lugar social, um papel na<br />

história e um psiquismo. Considerando-se estas definições, parece que as<br />

concepções acerca da sexualidade estão mais associadas ao “organismo”<br />

do que ao “corpo” propriamente dito, realizando uma cisão que elimina o<br />

desejo e o afeto e reduzindo, assim, a sexualidade ao organismo.<br />

A escola realiza a promoção da saúde e a orientação sexual na exata medida<br />

em que se empenha em ser escola: cenário privilegiado para a promoção e o<br />

desenvolvimento global do ser humano.<br />

Também se pode observar o despreparo do professor, a vergonha, a<br />

insegurança, a falta de confiança ao abordar o tema em suas aulas. Os professores<br />

têm dificuldades, pois a preocupação não está em ouvir os adolescentes, mas em<br />

transmitir-lhes informações que se encontram no plano do senso comum,<br />

perpetuando valores, conceitos e preconceitos, com uma representação da<br />

sexualidade humana atrelada ao sexo orgânico (SILVA; MEGID NETO, 2006).<br />

Nesse sentido, argumenta Foucault (1980, p. 27):<br />

Deve-se falar de sexo, e falar publicamente, de uma maneira que não<br />

seja ordenada em função da demarcação entre o lícito e o ilícito, mesmo se<br />

o locutor preservar para si a distinção (é para mostrá-lo que servem essas<br />

declarações solenes e liminares); cumpre falar de sexo como de uma coisa<br />

que não se deve simplesmente condenar ou tolerar, mas gerir, inserir em<br />

sistemas de utilidade, regular para o bem de todos, fazer funcionar segundo<br />

um padrão ótimo. O sexo não se julga apenas administra-se. (Grifo do<br />

autor).<br />

Por outro lado, o número de profissionais preparados para orientação sexual<br />

na escola continua insuficiente, não obstante seja grande o número de<br />

estabelecimentos de ensino que procuram promovê-la. Em sua formação, seja nos<br />

cursos de magistério ou nas universidades, os professores não recebem qualquer<br />

orientação em educação sexual (AZEVEDO; MOREIRA; CONFORTO, 2008).<br />

Segundo Oliveira (1998, p.107), “os cursos de formação de professores não<br />

consideram a sexualidade como conteúdo “ensinável”, ou seja, parecem entender<br />

que professores e alunos conseguem se desvencilhar das suas sexualidades para<br />

irem à escola”.<br />

Nessa direção, destacam Gandra, Pires e Lima (2002, p. 11), que:<br />

7


Trabalhar com o tema “sexualidade” não é fácil. Na nossa sociedade<br />

existem muitos preconceitos e diferentes aspectos culturais que temos que<br />

levar em conta. Não podemos simplesmente impor conceitos repletos de<br />

modernismo sem nos preocuparmos com os efeitos que causarão ao<br />

adolescente.<br />

Em contrapartida, mesmo estando despreparado, não tem como o professor,<br />

seja ele de que área for, deixar de abordar as questões sobre sexualidade que<br />

surgem na sala de aula. Na escola, as disciplinas não deveriam ser trabalhadas<br />

isoladamente e não deveria ser diferente com a sexualidade.<br />

Para Gandra, Pires e Lima (2002, p. 19):<br />

Nossos adolescentes querem viver sua sexualidade sem máscaras ou<br />

repressões: cabe a nós educadores, criar novos paradigmas para ajudá-los<br />

trazendo o respeito e o acompanhamento psicológico que falta a esses<br />

jovens, para que eles possam interiorizar sua sexualidade e não vivê-la<br />

como agressão á sociedade.<br />

Ser adolescente é viver entre o “ser e o não ser”. E é nesse turbilhão de<br />

emoções que normalmente o adolescente começa a entrar em contato com sua<br />

sexualidade. Essa fase implica um período de mudanças físicas e emocionais, uma<br />

época marcante no ciclo existencial da pessoa, uma tomada de posição social,<br />

familiar, sexual e entre o grupo. Conforme afirmam Gandra, Pires e Lima (2002,<br />

p. 5): “É necessário atentar-se para as mudanças que ocorrem com o adolescente a<br />

fim de esclarecer e questionar conceitos e definições sobre tabus e mitos sexuais”.<br />

Esse tempo é marcado por medo e ansiedade e, principalmente, pela falta de<br />

informação a respeito do que pode acontecer. Então, reconhecer o que ocorre com o<br />

corpo é fundamental para entender o processo de maturidade pelo qual o organismo<br />

está passando.<br />

Atualmente, as adolescentes estão tendo sua primeira menstruação e o início<br />

de sua atividade sexual mais cedo. Muitos fatores têm colaborado na promoção da<br />

precocidade da maturação do sistema reprodutor e desejo sexual, entre eles, a<br />

erotização provocada pela mídia, a alimentação industrializada e as alterações<br />

climáticas são alguns exemplos que contribuem para que ocorram mudanças no<br />

interior adolescente. Com isso, também ocorrem consequências indesejáveis<br />

imediatas, como o aumento da frequência de doenças sexualmente transmissíveis<br />

nessa faixa etária e de gravidez, muitas vezes também indesejável e que, por isso,<br />

pode terminar em aborto (VITALLE; AMANCIO, 2001).<br />

8


Estudos realizados por Camarano (1998), Almeida (2002) e Longo (2002)<br />

mostram que em adolescentes que iniciam a vida sexual precocemente e<br />

engravidam ocorrem consequências, tanto para a adolescente quanto para o<br />

recém-nascido. A adolescente poderá apresentar problemas de crescimento e<br />

desenvolvimento, emocionais e comportamentais, educacionais e de aprendizado,<br />

além de complicações da gravidez e problemas de parto. De acordo com Camarano<br />

(1998, p. 110):<br />

Considera-se a fecundidade das mulheres com menos de 20 anos ‘precoce’,<br />

não apenas por razões biológicas relacionadas ao desenvolvimento<br />

humano, mas principalmente, porque a gestação nesta idade antecipa os<br />

movimentos socialmente institucionalizados para a reprodução e, com isto,<br />

traz uma série de resultados indesejados para as mulheres e filhos.<br />

Segundo a Organização Mundial de Saúde, o Brasil é o país onde mais se<br />

pratica o aborto (10% dos abortos mundiais). Cerca de 1,1 milhões de adolescentes<br />

engravidam por ano no Brasil e esse número continua crescendo. O índice de<br />

adolescentes e jovens brasileiras grávidas é hoje 2% maior que na última década; as<br />

meninas de 10 a 20 anos respondem por 25% dos partos feitos no país, segundo o<br />

Ministério da Saúde. A maioria não tem condições financeiras nem emocionais para<br />

assumir essa maturidade (GLOBO.COM, 2006).<br />

De acordo com pesquisas realizadas pela UNESCO, os dois últimos censos<br />

mostraram que esse aumento de 25% não foi uniforme em todas as camadas<br />

socioeconômicas. Foi mais expressivo entre as jovens menos escolarizadas,<br />

alcançando 44% e, entre as mais pobres o aumento foi de 42%. Embora mais<br />

intenso nas áreas urbanas, o aumento ocorreu também no meio rural.<br />

(ABRAMOVAY; CASTRO; SILVA, 2004).<br />

Nas quatro últimas décadas, assistiu-se a um decréscimo acentuado na taxa<br />

de fecundidade das mulheres brasileiras (em 1940, a média nacional era de<br />

6,2 filhos e, em 2000, passa a ser de 2,3 filhos por mulher). Em contrapartida, entre<br />

adolescentes e jovens, o sentido foi inverso. Identificou-se o aumento de 25% da<br />

taxa de fecundidade entre meninas de 15 a 19 anos, durante os anos 1990,<br />

(ABRAMOVAY; CASTRO; SILVA, 2004), assim como a associação entre gravidez<br />

na adolescência e evasão escolar.<br />

Os fatores que agravam o crescimento do índice de gravidez na adolescência<br />

são entre outros, a liberalização da sexualidade, a desinformação sobre o tema, a<br />

9


falta de acesso aos métodos contraceptivos, a degradação familiar, a urbanização<br />

acelerada, as precariedades das condições de vida e a influência dos meios de<br />

comunicação (LEITE, 2008).<br />

Conforme Moço (2008), em sua reportagem na Revista Nova Escola, 500 mil<br />

crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos deram à luz no Brasil no ano de 2007.<br />

Pesquisa do Departamento de Pediatria do Hospital Universitário de Brasília indica<br />

que 63% das garotas que engravidam param de estudar e, deles, 60% abandonam<br />

de vez a escola ao se tornarem mães. Terceira causa de mortalidade de jovens<br />

nesta faixa etária e principal motivo de evasão escolar entre as meninas, a<br />

maternidade precoce não preocupa apenas os agentes de saúde em todo país, mas<br />

também os educadores.<br />

Segundo dados do IBGE, UNESCO, Ministério de Saúde e Hospital<br />

Universitário da UnB:<br />

• 20% dos bebês nascidos em 2006 são filhos de mães adolescentes.<br />

• 25% das jovens que largam a escola o fazem por causa da gravidez.<br />

• 72 meninas com menos de 14 anos dão à luz diariamente no país.<br />

• 5% das mortes de garotas entre 10 e19 anos são provocadas por<br />

problemas relacionados à gestação.<br />

• 63% das alunas gestantes param de estudar e só 40% voltam à escola<br />

depois do parto.<br />

Diante desse problema, não se pode apontar um único fator para explicar o<br />

aumento da incidência da gravidez na adolescência.<br />

Os adolescentes estão na fase da descoberta, seu universo é recheado de<br />

curiosidades acerca de sua sexualidade e da sexualidade do sexo oposto e lidar<br />

com o adolescente é um repensar constante na prática pedagógica, porém cabe aos<br />

educadores e familiares resgatar o verdadeiro papel social do homem e da mulher, o<br />

respeito por si e pelo outro. Fala-se muito que os adolescentes nos dias atuais têm<br />

acesso à informação. Porém, deixa-se de observar a dificuldade para se traduzir a<br />

informação em conhecimento e este em mudança de comportamento. Se o<br />

adolescente possui informações sobre sexo e sexualidade e suas consequências,<br />

por que esta não surte efeito?<br />

O intuito desse trabalho não é criar um modelo de valores de comportamento<br />

sexual para os alunos, mas tratar a educação sexual de forma clara e informativa,<br />

10


para que o educando possa encarar a sua sexualidade e a dos outros o mais<br />

naturalmente possível. Isto possibilitará que ele conheça e respeite o seu corpo e<br />

seus sentimentos pela construção conjunta de conhecimentos e de ação e reflexão a<br />

partir de observações, questionamentos e pesquisa da realidade.<br />

Com este estudo buscou-se desencadear novas posturas éticas de respeito e<br />

cuidado com o corpo na prevenção de uma gravidez precoce não planejada, para<br />

que possa ocorrer o exercício da liberdade com responsabilidade.<br />

4 ASPECTOS METODOLÓGICOS E <strong>DE</strong>SENVOLVIMENTO <strong>DA</strong> PESQUISA<br />

A pesquisa tem caráter de “[...] pesquisa-ação, enquanto linha de pesquisa<br />

associada a diversas formas de ação coletiva [que] orientada em função de<br />

resoluções de problemas ou de objetivos de transformação” (THIOLLENT, 2002), ou<br />

seja, aprofundou-se no tema em busca de propostas, mecanismos e possíveis<br />

soluções que contribuam para minimizar a problemática da gravidez na<br />

adolescência.<br />

Segundo Thiollent (2002), a pesquisa-ação não se limita a uma forma de<br />

ação: pretende-se aumentar o conhecimento dos pesquisadores e o conhecimento<br />

ou o “nível de consciência” das pessoas e grupos considerados. Com ela é<br />

necessário produzir conhecimentos, adquirir experiências, contribuir para a<br />

discussão ou fazer avançar o debate acerca das questões abordadas.<br />

Para realizar a coleta de dados, um questionário foi implementado em grupo<br />

de alunos de 7ª e 8ª séries do ensino fundamental e 1º ano do ensino médio da<br />

Escola Estadual Padre Carmelo Perrone, localizada no bairro Alto Alegre em<br />

Cascavel - Paraná. A escolha do grupo de alunos sujeitos da pesquisa foi aleatória,<br />

priorizando-se a disponibilidade e o comprometimento em desenvolver as atividades<br />

propostas. O grupo definido foi constituído por 25 alunos, entre o sexo masculino e<br />

feminino.<br />

Ao optar-se por iniciar o estudo de intervenção na escola com um<br />

questionário, pretendeu-se verificar o nível de conhecimento que cada aluno possuía<br />

sobre as consequências de uma gravidez não desejada na adolescência e focalizar<br />

a problemática envolvida. Segundo Gil (2005), a técnica de investigação que usa<br />

11


questionários tem limitações, porém ela possibilita de forma rápida o conhecimento<br />

que o grupo possui a respeito do assunto.<br />

Em um segundo momento, houve uma reunião com os pais para<br />

apresentação deste trabalho de intervenção pedagógica e para um diálogo sobre a<br />

importância do conhecimento da sexualidade na prevenção da gravidez na<br />

adolescência. Aproveitou-se o momento para obter a assinatura dos pais em um<br />

termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), que permitiu a participação dos<br />

alunos na pesquisa.<br />

Como sequência, em contraturno e sob orientação do professor P<strong>DE</strong>, os<br />

alunos fizeram um levantamento de dados, por meio de entrevistas com<br />

adolescentes grávidas ou que já estiveram grávidas e profissionais de saúde no<br />

Posto de Saúde do Bairro Alto Alegre, tentando detectar as possíveis causas do<br />

problema.<br />

Para a coleta de dados com os professores do ensino fundamental e médio,<br />

envolvidos nesta pesquisa, foi realizada uma entrevista audiogravada, com um<br />

professor de cada disciplina curricular (Português, Matemática, Ciências, História,<br />

Geografia, Inglês, Artes, Educação Especial e Educação Física), totalizando<br />

10 professores, para obter informações de como ocorreu o desenvolvimento das<br />

atividades e a incorporação do tema sexualidade e gravidez na adolescência nas<br />

demais disciplinas.<br />

Os sujeitos desta pesquisa foram os alunos de 7ª e 8ª séries do ensino<br />

fundamental e 1º ano do ensino médio do Colégio Estadual Padre Carmelo Perrone,<br />

totalizando 25 alunos e 10 professores do período matutino e vespertino que se<br />

envolveram na pesquisa de forma interdisciplinar. Os alunos e professores são<br />

apresentados neste trabalho por nomes fictícios.<br />

Entendendo que a escola, pela ação educativa formal pode promover o<br />

exercício da cidadania frente à vida e à sexualidade na efetivação do processo<br />

educacional, verificou-se que a aplicação deste trabalho mobilizou todos os<br />

envolvidos na questão da sexualidade: família, professores e o próprio estudante no<br />

desenvolvimento de ações colaborativas de forma interdisciplinar, contribuindo com<br />

novos conceitos sobre o tema com o intuito de prevenir a gravidez na adolescência<br />

possibilitando o exercício da sexualidade com responsabilidade.<br />

Na sequência, são propostos alguns passos para melhor visualizar as ações<br />

desenvolvidas.<br />

12


4.1 QUANTO AO GRUPO <strong>DE</strong> APOIO FORMADO COM PROFESSORES<br />

SUJEITOS <strong>DA</strong> PESQUISA<br />

Inicialmente, o Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola, elaborado pela<br />

professora P<strong>DE</strong> foi apresentado à equipe administrativa e pedagógica do Colégio<br />

que se mostrou aberta à colaboração com o trabalho, desde o primeiro momento em<br />

que houve a explanação. Propuseram-se a colaborar em tudo que fosse necessário<br />

para a realização das atividades elencadas no referido trabalho. Sem esta<br />

contribuição seria impossível obter êxito na execução do projeto.<br />

Em um segundo momento, ocorreu uma reunião com os professores para<br />

apresentação do Trabalho de Intervenção Pedagógica na Escola, com o objetivo de<br />

obter apoio e firmar compromisso no envolvimento interdisciplinar na implementação<br />

desta pesquisa na escola.<br />

Na sequência, durante a Semana Pedagógica, houve a retomada de<br />

discussões sobre o Trabalho de Implementação Pedagógica com a equipe<br />

pedagógica e corpo docente, quando foi solicitada a colaboração dos professores na<br />

implementação, para que pudessem contemplar em seus planejamentos a<br />

incorporação do tema “sexualidade” em seus conteúdos curriculares, no primeiro<br />

semestre de 2009 e desenvolver estratégias que nortearam as nossas ações.<br />

Constatou-se uma boa receptividade por parte dos professores e, durante a<br />

elaboração do planejamento, pode-se verificar a devida incorporação do tema aos<br />

conteúdos. A participação dos professores do colégio nesta implementação foi de<br />

suma importância para que a pesquisa pudesse alcançar os objetivos a que se<br />

propôs no intuito de desenvolver ações colaborativas.<br />

A formação de um Grupo de Apoio à Implementação do Trabalho na Escola<br />

possibilitou a discussão e reflexão sobre as bases teórico-metodológicas que<br />

orientaram a pesquisa de Intervenção do professor P<strong>DE</strong>, analisando a pertinência e<br />

adequação das atividades e auxiliando na sua programação e desenvolvimento. Os<br />

Encontros do Grupo de Apoio foram realizados aos sábados com carga horária de<br />

32 horas e contaram com a participação dos professores sujeitos da pesquisa.<br />

No decorrer do curso, o grupo reuniu-se mensalmente para a realização de<br />

estudos sobre o tema, com base em textos previamente selecionados e sob a<br />

13


coordenação do professor pesquisador P<strong>DE</strong>, participando ativamente do estudo<br />

proposto e demonstrando certa superação dos medos e tabus ao trabalhar o tema<br />

“sexualidade” com os alunos. Ao final do curso, cada professor produziu um plano<br />

de aula, incorporando o tema sexualidade em seus conteúdos curriculares que<br />

foram implementados em suas séries de atuação.<br />

A análise dos objetivos e metodologias elencados nos referidos<br />

planejamentos, demonstrou que a maioria dos professores deu um enfoque mais<br />

amplo em seus encaminhamentos ao abordar o tema sexualidade, como se pode<br />

verificar a seguir:<br />

CONTEÚDO: Reading (skimming and scanning) a text / Leitura do texto.<br />

OBJETIVOS: conscientizar os alunos sobre a importância da preservação<br />

da saúde de seu corpo; - refletir sobre o tema e formar opiniões sobre<br />

sexualidade e responsabilidade; - ler e interpretar textos em Inglês; -<br />

produzir cartazes conscientizando sobre sexualidade com responsabilidade;<br />

- adquirir novo vocabulário em Inglês (Professora Joana, disciplina de<br />

Língua Inglesa).<br />

CONTEÚDO: Arte Grafite.<br />

OBJETIVO: Reconhecer a arte grafite como uma expressão humana<br />

artística que a humanidade construiu ao longo do tempo, por meio das<br />

inscrições feitas em paredes e muros, conscientizando-os para a realidade<br />

atual no qual se tem a grande problemática da sociedade, os números<br />

elevados de gravidez na adolescência e as DSTs”. (Professora Sueli,<br />

disciplina de Artes).<br />

CONTEÚDO: Valores e normas sociais e religiosas.<br />

OBJETIVOS: Identificar através dos valores e normas sociais e religiosas a<br />

importância da conscientização sobre a Sexualidade na formação moral do<br />

ser humano (Professora Fátima, disciplina de Ensino Religioso).<br />

CONTEÚDO: Tabelas e gráficos: faixa etária/porcentagens de adolescentes<br />

grávidas.<br />

OBJETIVOS: Que através de dados estatísticos e índices numéricos, os<br />

alunos visualizem e comparem os altos índices de gravidez na adolescência<br />

e suas consequências (Professora Inês, disciplina de Matemática).<br />

Observou-se o engajamento dos professores nas diversas áreas curriculares,<br />

que executaram o tema sexualidade em seus planejamentos, levando o aluno a<br />

refletir sobre sua sexualidade e autoestima. Os Planejamentos mostram que é<br />

possível incorporar o tema nas diversas disciplinas de forma criativa e com o<br />

propósito de refletir sobre a sexualidade com responsabilidade.<br />

Este grupo foi de extrema riqueza para a implementação da pesquisa, com<br />

ele também foi possível perceber a importância de se ter trabalhado o tema. Essa<br />

comprovação se evidencia em relatos dos professores, tais como:<br />

14


Acredito que os textos lidos e discussões ampliaram nosso horizonte de<br />

expectativa ao tratarmos da temática em sala de aula, nos dando mais<br />

segurança ao relacionar conteúdos entre si, assuntos tão complexos e<br />

importantes para as vidas de nossos adolescentes [...] (Professora Fátima,<br />

disciplina de Ensino Religioso).<br />

A orientação da professora coordenadora dentro do grupo de apoio foi<br />

perspicaz e inteligente direcionando as discussões de forma a possibilitar<br />

que todos os membros participantes pudessem falar abertamente sobre<br />

sexualidade. [...] aprendemos a abordar o assunto “sexualidade – Gravidez<br />

na Adolescência” em sala de aula de forma simples e natural. Cada<br />

professor voltando o assunto para sua disciplina, de maneiras diferenciadas,<br />

porém, com objetivos comuns. Aprendemos a praticar a<br />

interdisciplinaridade [...] (Professora Inês, disciplina de Matemática, grifo<br />

do autor).<br />

O fator que mais contribuiu para que o grupo de apoio tivesse sucesso, nesse<br />

caso, foi a sua constituição por professores da escola que estão se envolvendo no<br />

trabalho como sujeitos da pesquisa, possibilitando a discussão do tema, das ações<br />

previstas e sua implementação nas diferentes disciplinas.<br />

Constatou-se também, certo constrangimento por parte dos professores em<br />

seus relatos, quando perguntados: Como você se sentiu ao abordar esse tema com<br />

os alunos em sua disciplina de atuação?<br />

Bom, foi muiiiiito bom os encontros que a gente teve no grupo de apoio do<br />

seu projeto, por que por livre iniciativa minha eu teria muito mais<br />

dificuldades, mas ali com os professores de ciências dando algumas dicas<br />

de como se posicionar frente às questões constrangedoras, polêmicas;<br />

então eu acho que me saí bem. O que eu não pude responder, eu pedi para<br />

eles perguntarem para os professores de ciências, mas respondi tudo<br />

assim, sempre relacionando a saúde do corpo, a importância de se valorizar<br />

a saúde do corpo e da mente para ser uma pessoa feliz e saudável<br />

(Professora Joana, disciplina de Língua Inglesa).<br />

Olha, eu assim, me preparei, mais com o curso que você deu para nós,<br />

através desse curso a gente teve esse preparo, aí já eu estava mais segura<br />

para falar com eles. E assim, aí eu achei que não tive medo de comentar<br />

com eles, aconteceu de forma natural, mas eles foram mais os<br />

protagonistas do que eu, falaram mais do que eu (Professora Marta,<br />

disciplina de Matemática).<br />

Há, eu achei que foi natural, só que às vezes tem algumas falas que eles<br />

jogam, que você tem às vezes que ter um jogo de cintura, por que às vezes<br />

eles deixam você até um pouco constrangida, sem noção da resposta,<br />

falando que sexo é bom e tal. Claro que sexo é bom, mas só que tem que<br />

ter sexo seguro pela questão da sexualidade mesmo (Professora Sueli,<br />

disciplina de Artes).<br />

Pode-se verificar que ainda existe preconceito e insegurança por parte dos<br />

professores ao abordar o tema sexualidade em suas aulas. Quanto a essa questão,<br />

Silva e Megid Neto (2006), comentam que há certa falta de confiança do professor<br />

ao abordar o assunto em suas aulas, porém não se pode esquecer que eles não<br />

15


tiveram uma formação para abordar o tema em questão e se têm algum preconceito,<br />

de uma forma ou de outra acabam repassando isso para os alunos.<br />

Por outro lado, os professores confirmam que houve grande participação dos<br />

alunos durante as aulas em que o assunto foi abordado nas diferentes disciplinas:<br />

[...] eles assistiram aos vídeos com muita atenção, um silêncio que eu não<br />

tenho em outras aulas, e assim, eles absorveram tudo que foi colocado.<br />

Ficaram atentos a tudo que eu estava falando e mostrando, mas eles tem<br />

uma certa vergonha de falar [...] (Professora Joana, disciplina de Língua<br />

Inglesa).<br />

Observou-se a preocupação dos alunos com o crescimento dos índices e<br />

houve a correlação também dos índices da gravidez com o afastamento do<br />

adolescente da escola e com os problemas sociais (Professora Inês,<br />

disciplina de Matemática).<br />

Nossa, eles adoram. Surgem muitas dúvidas. Esse tema é o que mais<br />

chama a atenção. Todos os trabalhos feitos com eles sobre o tema, eles<br />

produzem (Professora Táxis, disciplina de Ciências).<br />

Diante desses relatos percebe-se o entusiasmo com que os alunos participam<br />

das aulas quando o assunto é a sexualidade, demonstrando a urgência em<br />

satisfazer as suas curiosidades em relação a este tema. É necessário possibilitar<br />

que o aluno reflita sobre sua própria sexualidade, independente da disciplina de<br />

atuação do docente. Para Egypto (2003, p.133), “se a questão da sexualidade não<br />

for objeto de elaboração pessoal e reflexão não é possível obter uma postura<br />

genuína de abertura para discussões mais consistentes com os alunos”.<br />

Na análise dos relatos, a seguir, nota-se certa excitação e comprometimento<br />

do educador, quando questionados sobre a importância de se discutir sexualidade<br />

na escola. Foram obtidas as seguintes respostas:<br />

16<br />

Até tempos atrás a gente não pensava no assunto, a gente achava que não<br />

fazia parte do conteúdo da gente, mas vendo o homossexualismo que existe<br />

aí na mídia, na escola já aparece, os problemas de gravidez, do namoro que<br />

a gente vê na escola, a gente vê que faz parte da vida do aluno, faz parte da<br />

nossa própria vida. A gente não deixa a sexualidade em casa para vir dar<br />

aula e a gente tem que relacionar, enxergando os alunos como seres<br />

humanos, sexuados e trabalhar esse assunto antes que a mídia trabalhe de<br />

uma outra forma que seja prejudicial a eles (Professora Joana, disciplina de<br />

Língua Inglesa).<br />

Acho que importante para cada pessoa se sentir bem com a sua<br />

sexualidade, desde que a escola abra um espaço para isso, né. Acho que a<br />

gente teria que receber até pessoas que trabalhem dentro dessa área para<br />

trabalhar com os professores, pois tem muito preconceito e falta de<br />

conhecimento sobre o assunto (Professora Tássia, disciplina de Ciências).<br />

Eu acho primordial na escola a gente estar sempre falando da questão de<br />

valores, terem perspectivas na vida, com sonhos. A gente trabalha o tema<br />

sexualidade quando envolve a arte, os valores da arte, a questão da<br />

valorização da beleza. Mas sempre assim, sempre que surge a


oportunidade a gente deve e pode abordar o assunto (Professora Sueli,<br />

disciplina de Artes).<br />

Apesar de não terem sido preparados, durante sua formação inicial, para<br />

abordar as questões relativas à sexualidade que surgem na sala de aula, questão<br />

abordada pelos autores Azevedo, Moreira e Conforto (2008), quando afirmam que<br />

os professores não recebem orientação sobre este assunto em sua formação, os<br />

professores demonstraram grande preocupação na forma de encaminhar o assunto,<br />

destacando a importância dessa interdisciplinaridade no desenvolvimento de ações<br />

colaborativas, percebendo desta forma a sexualidade como fator primordial no<br />

desenvolvimento de todo ser humano normal e saudável.<br />

4.2 QUANTO AO GRUPO <strong>DE</strong> ALUNOS PESQUISADORES E<br />

MULTIPLICADORES SUJEITOS <strong>DA</strong> PESQUISA<br />

Por meio de um questionário aplicado a alunos de 7ª e 8ª séries do ensino<br />

fundamental e 1º ano do ensino médio, foi selecionado o grupo de alunos sujeitos da<br />

pesquisa com a ajuda da equipe pedagógica, sendo que o número de inscritos<br />

ultrapassou as expectativas, o critério de seleção adotado foram as respostas do<br />

questionário inicial, bem como sua disponibilidade e comprometimento no<br />

desenvolvimento das ações previstas para a pesquisa.<br />

Dos cento e cinquenta alunos inscritos, apenas cento e seis responderam ao<br />

questionário inicial. Os demais não tinham a disponibilidade para a participação que<br />

o trabalho de pesquisa requeria.<br />

O que mais chamou atenção nas respostas dos adolescentes às questões<br />

formuladas foi sobre onde buscam informações a respeito de sexualidade e<br />

prevenção. As respostas obtidas são apresentadas no gráfico abaixo:<br />

17


48<br />

ON<strong>DE</strong> BUSCAM INFORMAÇÕES SOBRE SEXUALI<strong>DA</strong><strong>DE</strong> E<br />

PREVENÇÃO?<br />

6<br />

34<br />

18<br />

Com amigos, livros, revistas e<br />

outros.<br />

Na escola.<br />

Com meus pais.<br />

Na internet.<br />

Constata-se pelos dados contidos no gráfico, que 45,29% dos alunos buscam<br />

informações em relação à sexualidade na internet, o que pode interferir tanto de<br />

forma positiva como negativa na educação dos jovens, como se pode verificar na<br />

visão de Egypto (2003, p. 17):<br />

A sexualidade que é passada pelos meios de comunicação é consumo, é<br />

excitação, atrai e estimula crianças e adolescentes. [...] Os jovens, e mesmo<br />

as crianças são plateia garantida. Mas o que recebem com isso? Muito<br />

estímulo e nenhuma reflexão.<br />

Em contrapartida, muitos pais evitam conversar e informar sobre sexualidade<br />

com seus filhos sem ter noção da importância e confiabilidade de suas informações,<br />

reforçando assim a grande procura dos adolescentes por informações na mídia, pois<br />

ele está em busca do conhecimento sobre seu corpo, sente necessidade de<br />

satisfazer as suas curiosidades, em relação à sua sexualidade e à dos outros.<br />

Autores como Gandra, Pires e Lima (2002), também destacam a importância do<br />

esclarecimento sobre o assunto com os adolescentes. A partir deste questionário<br />

inicial o grupo ficou constituído por 25 alunos e ficou clara a necessidade de se<br />

trabalhar o conhecimento formal sobre o assunto.<br />

Em seguida, aconteceu uma reunião com os pais dos alunos sujeitos da<br />

pesquisa em que houve uma explanação do trabalho a ser desenvolvido com seus<br />

filhos juntamente com o professor/pesquisador – P<strong>DE</strong>. Neste momento, os pais<br />

18


presentes à reunião assinaram os Termos de Consentimento Livre Esclarecido<br />

(TCLE), conforme previsto pelo Comitê de Ética da Unioeste (CEPE). Esse vínculo<br />

com os pais foi importante para envolvê-los de forma mais efetiva nas discussões e<br />

ações propostas, onde todos se propuseram a ajudar no que fosse necessário.<br />

Na etapa seguinte, foi realizada uma capacitação com os vinte e cinco (25)<br />

alunos sujeitos da pesquisa e com três (3) professores da escola, em parceria com o<br />

Centro Especializado em Doenças Infecto-Parasitárias (CEDIP), para a formação de<br />

alunos multiplicadores sobre sexualidade, DST e AIDS. O evento teve duração de<br />

oito horas, com os alunos participando ativamente de todas as dinâmicas aplicadas<br />

pela psicóloga do CEDIP. Essa capacitação foi muito importante, pois se trata de um<br />

órgão especializado no tema orientação sexual, em especial no que se refere à<br />

questão das DSTs e AIDS, promovendo um aprofundamento do assunto a ser<br />

abordado na escola envolvida.<br />

Dando continuidade à pesquisa, fez-se uma visita à Casa de Amparo a<br />

Gestante do Bairro Alto Alegre, onde o grupo de alunos sujeitos da pesquisa<br />

vivenciou as dificuldades de uma gravidez não planejada e a falta do amparo da<br />

família com base em entrevistas com jovens adolescentes grávidas ou que já<br />

estiveram grávidas que se encontravam no local da visita.<br />

Ao visitar o Lar dos Bebês, os alunos puderam perceber as responsabilidades<br />

que são necessárias com um bebê. Neste dia o Lar estava com 46 crianças de 0 a<br />

5 anos, na grande maioria filhos de mães solteiras e drogadas.<br />

Após a visita, o grupo refletiu e debateu sobre uma gravidez não planejada na<br />

adolescência e as responsabilidades e riscos que um bebê, nesta fase da vida, pode<br />

acarretar para um adolescente, confirmando a visão de Camarano (1998), em<br />

relação às dificuldades de uma gravidez nessa fase da vida. O grupo demonstrou<br />

uma extrema preocupação em relação à imaturidade e a falta de conhecimento das<br />

mães adolescentes, também em relação à grande quantidade de crianças que se<br />

encontravam nesse espaço para adoção. Seguem abaixo trechos de relatos dos<br />

alunos:<br />

19<br />

[...] eu não me conformo, muitas mães adolescentes abandonam seus filhos<br />

por que dizem não ter condições, mas se não tinham condições pra ter um<br />

filho por que não se cuidaram na hora de ter relações sexuais. (Ana, 12<br />

anos).<br />

[...] só quero ver eu aguentar dia e noite cuidando de uma criança. Dá dó<br />

por que as crianças a maioria são filhos de mães envolvidas com drogas,<br />

pais irresponsáveis, a maioria adolescente sem capacidade de cuidar. Eu


gostei muito de lá só que não quero filho cedo eu quero aproveitar a vida.<br />

Tudo no seu tempo (Marcos, 12 anos).<br />

Um filho na adolescência por mais “lindo” que seja é difícil. A menina para<br />

de estudar, às vezes nem chega a se formar, trabalham muito cedo,<br />

adquirem muita responsabilidade, às vezes com 12, 13, 14 anos! Isso<br />

quando não “abortam” ou abandonam os filhos assim que nascem! (Márcia,<br />

12 anos).<br />

[...] deu para ver que ser mãe na adolescência pode até ser normal mais é<br />

muito complicado, não é fácil você ser mãe muito jovem porque uma criança<br />

exige muita atenção e lá na casa de amparo eu vi o sofrimento que é você<br />

ser uma criança e de repente começar a se ver mãe de uma criança.<br />

(Marisa, 14 anos).<br />

Pode-se verificar, pelos relatos dos alunos, que a realidade constatada não foi<br />

atraente para os participantes, porém alcançou os objetivos os quais esse projeto se<br />

propôs, por proporcionar aos alunos sujeitos da pesquisa um contato mais direto<br />

com realidades que não teriam a oportunidade de vivenciar, observando as<br />

dificuldades que uma gravidez não planejada na adolescência pode acarretar ao<br />

jovem, corroborando com as afirmações de Moço (2008), ao enfatizar os problemas<br />

de uma maternidade precoce, reconhecendo que a sexualidade deve ser exercida<br />

com responsabilidade.<br />

Prosseguindo com a pesquisa, realizou-se uma entrevista com uma<br />

profissional da saúde, que atua há 28 anos na área da saúde coletiva assistencial e,<br />

destes, há 2 anos e 8 meses no Posto de saúde do Bairro Alto Alegre, que foi<br />

bastante importante para se obter informações a respeito dos problemas que uma<br />

gravidez na adolescência pode acarretar para uma jovem. Nesta entrevista, ficou<br />

bem claro, na fala da enfermeira que, em relação à saúde física e mental da<br />

adolescente, uma gravidez pode ocasionar transtornos psicológicos, problemas<br />

cardíacos, pulmonares, de estruturação óssea, além da falta de apoio da família. O<br />

que se percebe é que a incidência da gravidez não planejada ocorre principalmente<br />

pela falta de conhecimento e de maturidade dos adolescentes relacionados à falta<br />

de diálogo com os pais e, principalmente, o conhecimento dos métodos<br />

contraceptivos. Atualmente, alguns pais estão se ausentando das responsabilidades<br />

enquanto os primeiros educadores dos filhos, opinião também abordada por Gandra,<br />

Pires e Lima (2002), ao destacarem a importância da família no ato de educar<br />

sexualmente os jovens.<br />

Paralelamente às ações desempenhadas na pesquisa, foi aplicada, ao grupo<br />

de alunos sujeitos da pesquisa, a Produção Didática Pedagógica, material produzido<br />

20


pelo professor/pesquisador P<strong>DE</strong>, em situações próprias do processo ensino<br />

aprendizagem, considerando-se prioritariamente os sujeitos da escola que o material<br />

deve atingir e os objetivos aos quais se destinam a sua produção: a escola pública<br />

paranaense. A Unidade Didática produzida, cujo título é Reprodução humana e<br />

sexualidade, contém textos de fundamentação com as respectivas atividades a<br />

serem desenvolvidas.<br />

O tema em questão foi abordado conforme planejado na Unidade Didática,<br />

tentando esclarecer todas as dúvidas que surgiam por parte dos alunos, porém com<br />

a seriedade que assunto requer. As atividades propostas nesta unidade didática<br />

foram desenvolvidas pelos alunos naturalmente, que demonstraram bastante<br />

interesse ao executá-las, como se pode observar nos trechos dos relatos<br />

destacados a seguir:<br />

[...] trabalhamos o tema sexualidade que é um tema muito importante na<br />

vida de todos. Foi como se tivéssemos entrado num mundo diferente e que<br />

só soubéssemos coisas insignificantes e erradas desse mundo, mas foi<br />

muito bom por que isso nos fez parar e refletir sobre nossos atos e aprender<br />

coisas novas e muito importantes para a nossa vida e para o nosso futuro”.<br />

(Paula, 13 anos).<br />

As atividades foram ótimas, pois de um jeito fácil e prático a maioria da sala<br />

pode entender tudo o que foi explicado sobre reprodução e sexualidade. [...]<br />

foi difícil não entender, com o que foi aprendido ninguém terá surpresas na<br />

vida sexual. (Gerson, 13 anos).<br />

Com as atividades realizadas nesta unidade através de slides, cartazes,<br />

dinâmicas, aprendi que ter cuidado e atenção é o essencial para uma vida<br />

tranquila e um corpo saudável (Bianca, 15 anos).<br />

Foi muito bom, por que nós todos aprendemos tudo que nós não sabíamos<br />

ainda, ficamos todos interessados, fomos muito participativos com as aulas.<br />

A professora foi explicando tudo com calma para nós aprendermos direito o<br />

que pode e o que na pode, e foi bom demais as aulas de Ciências. (Lucas,<br />

13 anos).<br />

[...] aprender tudo isso para mim foi legal por que não tinha a quem<br />

perguntar na minha casa, portanto aprender desde prevenção, DST, entre<br />

outras foi uma coisa que eu não vou esquecer para o resto da vida (Pedro,<br />

13 anos).<br />

[...] com esse estudo, nós ficamos mais responsáveis e com mais<br />

consciência sobre nosso corpo e nossa vida. (Alice, 12 anos).<br />

A clareza, o debate aberto, a metodologia participativa, as dinâmicas que<br />

foram utilizadas se destacaram como fatores importantes e refletiram no processo<br />

de construção do conhecimento, indicando que esta Unidade Didática foi de extrema<br />

riqueza, no desenvolvimento deste trabalho de pesquisa.<br />

21


Percebeu-se ainda, que o trabalho desenvolvido alcançou seus objetivos,<br />

levando o educando a perceber a importância de compreender o tema e ter<br />

consciência de sua sexualidade.<br />

Dando seguimento ao trabalho, após a obtenção e análise dos dados<br />

coletados na pesquisa de campo, citados nas ações anteriores e o estudo sobre o<br />

tema em questão, o grupo de alunos sujeitos da pesquisa, juntamente com o<br />

professor pesquisador P<strong>DE</strong>, realizaram a produção de uma peça teatral intitulada:<br />

Sexualidade à flor da pele, produziram paródias com temas relacionados à<br />

sexualidade, gravidez na adolescência, DSTs e AIDS e ainda um jogral da<br />

contracepção.<br />

Houve bastante empenho e colaboração por parte do grupo, comparecendo<br />

aos encontros e realizando as atividades propostas. Observou-se nestes encontros<br />

uma nova postura dos alunos frente à sexualidade, demonstrando uma visão mais<br />

preventiva, de um maior respeito e valorização do corpo e de autoestima.<br />

Essas produções foram apresentadas a todos os alunos do Colégio Padre<br />

Carmelo Perrone em quatro momentos, com séries diferentes, socializando desta<br />

forma os conhecimentos adquiridos até o momento sobre “Sexualidade com<br />

responsabilidade”, durante a implementação deste trabalho, na formação do grupo<br />

de alunos multiplicadores. Durante a realização do evento, observou-se a<br />

identificação do público com o elenco que integrava as apresentações. O público<br />

vivenciou cada momento interagindo de forma positiva e demonstrando<br />

entendimento de que para exercer a sua sexualidade com responsabilidade é<br />

necessário respeitar-se, valorizar-se e ter um objetivo na vida.<br />

Ao término das apresentações o grupo de alunos sujeitos da pesquisa foi<br />

consultado em relação ao desenvolvimento do trabalho e quando perguntado qual a<br />

importância de sua participação na implementação deste trabalho de pesquisa nesta<br />

escola, destacaram-se as seguintes falas:<br />

Muitos conhecimentos. Através desse trabalho deu para se aprender como<br />

não ter uma gravidez indesejada e nem pegar doença sexualmente<br />

transmissível. Eu particularmente acho muito importante tratar sobre esse<br />

assunto na escola por que a maioria da gravidez indesejada acontece nessa<br />

faixa etária. (Julia, 13 anos).<br />

Eu me senti muito bem ao perceber que estava orientando outras pessoas e<br />

me orientando também. Muitas coisas que eu tinha dúvidas, eu aprendi<br />

nessa pesquisa [...]. (Deise, 13 anos)<br />

Que prevenção é tudo, para você não correr riscos com uma gravidez, uma<br />

DST [...]. (Fátima, 12 anos).<br />

22


Eu gostei muito da ideia que na escola tivesse um trabalho como este, por<br />

fazer parte de um grupo que leva muitas coisas boas para os adolescentes,<br />

pois assim eles pensarão antes de ter uma relação sexual sem camisinha,<br />

evitando não só a gravidez, mas também uma doença sexualmente<br />

transmissível. (Josiane, 12 anos).<br />

Estarmos repassando o conhecimento que nós adquirimos é muito bom,<br />

pois assim as pessoas que não participaram deste estudo, também<br />

adquirem esses conhecimentos. (Kátia, 13 anos).<br />

Saber se valorizar, cuidar do nosso corpo, do nosso futuro repassar as<br />

coisas boas que chegam até a gente, eu não tenho vontade de parar!<br />

(Izabela, 12 anos).<br />

Entender as dúvidas e poder repassar na escola o que a gente aprendeu,<br />

ensinando a algumas pessoas como se prevenir e cuidar de si próprio<br />

conhecendo mais o seu corpo, me deixou muito feliz. (Keite, 14 anos).<br />

Os trechos citados acima refletem a seriedade com a qual o grupo de alunos<br />

pesquisadores realizou o trabalho em questão, repassando aos demais<br />

adolescentes do colégio todos os dados obtidos e analisados durante a pesquisa de<br />

uma forma dinâmica e criativa, por meio de encenação teatral, jogral e paródias,<br />

levando o público a refletir sobre a sua sexualidade e a do outro.<br />

Não há educação e aprendizagem sem sujeito da educação e da<br />

aprendizagem. Segundo Freire (1996, p. 52), “ensinar não é transferir conhecimento,<br />

mas criar as possibilidades para a sua produção e construção”. Portanto, é<br />

imprescindível que os envolvidos no processo reflitam e incorporem as informações<br />

adquiridas, transformando-as em conhecimento e atuando como cidadãos<br />

transformadores da sociedade em que se encontram inseridos.<br />

Estou ciente que não vou obter resultados imediatos com os adolescentes em<br />

relação à temática da gravidez na adolescência não planejada, porém estamos<br />

plantando a “sementinha”, levando o jovem a refletir sobre a sua sexualidade e<br />

vamos continuar “regando-a”, para que “germine e dê frutos”.<br />

5 CONSI<strong>DE</strong>RAÇÕES FINAIS<br />

O Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado de Paraná foi de<br />

extrema importância para possibilitar o desenvolvimento deste trabalho,<br />

proporcionando o tempo necessário de afastamento da escola para a efetivação da<br />

pesquisa e produção do material didático. Também oportunizou a sua aplicação e<br />

23


implementação para obtenção dos dados relatados neste trabalho para efetiva<br />

concretização do estudo.<br />

O Trabalho desenvolvido não resolverá a problemática da gravidez não<br />

planejada. No entanto, o grupo de alunos multiplicadores deverá, sob minha<br />

orientação, dar continuidade nas ações de divulgação, esclarecimento e discussão,<br />

através de oficinas, palestras, teatros, panfletagem e outros, para que os alunos do<br />

Colégio Padre Carmelo Perrone transformem a informação em conhecimento,<br />

desenvolvendo uma visão mais clara e consciente da sexualidade e da<br />

responsabilidade.<br />

Como esta temática é algo que me instiga enquanto educadora, farei o<br />

possível para dar continuidade como Projeto Pedagógico da Escola, para que seja<br />

incorporado nas ações dos professores fazendo parte do planejamento anual, nas<br />

diferentes disciplinas curriculares.<br />

É interessante ressaltar que os professores possuem conhecimento de sua<br />

falta de preparo para trabalhar o tema sexualidade em suas disciplinas de atuação e<br />

procuram não explorar muito a temática para não terem muitos questionamentos em<br />

relação ao assunto. Contudo, não negam a importância de se trabalhar<br />

“sexualidade” em todas as disciplinas e a necessidade de cursos sobre o assunto,<br />

para que possam obter mais conhecimentos e informações a respeito do tema em<br />

questão.<br />

Em relação à produção e execução da Unidade Didática: Reprodução e<br />

sexualidade, verificou-se a importância de se ter trabalhada a sexualidade<br />

contextualizada no conteúdo estruturante “Sistema Reprodutor”, de forma<br />

fundamentada e problematizada, induzindo o jovem a refletir criticamente sobre a<br />

sua própria sexualidade, de uma forma dinâmica, participativa e que foi<br />

demonstrada, também, por meio de atividades lúdicas, como poesias, paródias,<br />

motivando-o à construção do conhecimento científico e à valorização e respeito de<br />

seu corpo e do outro.<br />

O grupo de alunos sujeitos da pesquisa trabalhou durante a execução e<br />

aplicação das ações da pesquisa, de forma envolvente, colaborativa e crítica, com<br />

uma participação ativa, produzindo teatro, jogral e paródias e apresentando para<br />

toda a escola. Observou-se a seriedade e o compromisso social que norteou as<br />

atividades desde o início até a apresentação, tendo demonstrado o cunho científico<br />

ao qual foi encaminhado todo o Trabalho.<br />

24


De acordo com relatórios e entrevistas realizados pelos participantes do<br />

estudo, o trabalho alcançou os objetivos a que se propôs. Compreendeu-se também,<br />

que o desenvolvimento deste trabalho só obteve resultados satisfatórios porque<br />

houve a somatória de forças na construção da autonomia dos sujeitos desta<br />

instituição de ensino e das condições para o trabalho coletivo da aprendizagem. É o<br />

exercício contínuo da cidadania.<br />

REFERÊNCIAS<br />

ABRAMOVAY, M; CASTRO, M. G; SILVA, L. B. Juventudes e sexualidades.<br />

Brasília: UNESCO, 2004.<br />

ALMEI<strong>DA</strong>, M. A. S. Treze meninas e suas histórias: um estudo sobre gravidez<br />

adolescente. In: ENCONTRO <strong>DA</strong> ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA <strong>DE</strong> ESTUDOS<br />

POPULACIONAIS, 13, 2002, Ouro Preto. Anais... Ouro Preto: ABEP, 2002.<br />

Disponível em:<br />

http://www.abep.nepo.unicamp.br/docs/anais/pdf/2002/Com_JUV_PO25_Almeida_te<br />

xto.pdf. Acesso em: 9 dez. 2009.<br />

AZEVEDO, M. P. S. M. T.; MOREIRA, J. A. A.; CONFORTO, M. T. A. Educação<br />

sexual ou orientação sexual? 2001. Disponível em:<br />

http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2001/se2/se2txt1.htm-27k-. Acesso em: 3<br />

mar. 2008.<br />

BERALDO, Flávia Nunes de Moraes. Sexualidade e escola: um espaço de<br />

intervenção. Psicol. Esc. educ., v. 7, n. 1, p. 103-104, 2003. Disponível em:<br />

http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-8557200300010<br />

0012&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 12 nov. 2009.<br />

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria da Vigilância em Saúde. Saúde e<br />

prevenção nas escolas: Guia para a formação de profissionais de saúde e de<br />

educação. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 160 p.<br />

CAMARANO, A. A. Fecundidade e anticoncepção da população jovem. In:<br />

COMISSÃO NACIONAL <strong>DE</strong> POPULAÇÃO E <strong>DE</strong>SENVOLVIMENTO. Jovens<br />

acontecendo na trilha das políticas públicas. Brasília: CNPD, 1998. v. 1,<br />

p. 109-133,<br />

EGYPTO, A. C. Orientação sexual na escola. Um projeto apaixonante. São Paulo:<br />

Cortez, 2003. 144 p.<br />

25


FOUCAULT, Michel. História da sexualidade 1. A vontade de saber. Trad. de Maria<br />

Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhan Albuquerque. 3. ed. Rio de Janeiro:<br />

Graal, 1980.<br />

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática<br />

educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura).<br />

GANDRA, F. R.; PIRES, C. V. G.; LIMA, R. C. V. O dia-a-dia do professor.<br />

Adolescência: afetividade, sexualidade e drogas. Belo Horizonte: Fapi, 2002. 5 v.<br />

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa em educação ambiental. In: PHILIPPI JR.<br />

A.; PELICIONI, M. C. F. Educação ambiental e sustentabilidade. São Paulo:<br />

Manole, 2005. p. 577-597.<br />

GLOBO.COM/NOTÍCIAS. Índice de gravidez na adolescência continua a crescer<br />

no Brasil. São Paulo. 2006. Disponível em: <<br />

http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,AA1372177-5598-948,00.html> Acesso em: 3<br />

mar 2008.<br />

LEITE, E. P. Gravidez na adolescência. 2007. Disponível em:<br />

http://www.portaldomarketing.com.br/Artigos_Psicologia/Gravidez_na_adolescencia.<br />

htm. Acesso em: 9 maio 2008.<br />

LONGO, L. A. F. Juventude e contracepção: um estudo dos fatores que influenciam<br />

o comportamento contraceptivo das jovens brasileiras de 15 a 24 anos. In:<br />

ENCONTRO <strong>DA</strong> ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA <strong>DE</strong> ESTUDOS POPULACIONAIS, 13,<br />

2002, Ouro Preto. Anais... Ouro Preto: ABEP, 2002. Disponível em:<br />

. Acesso em 09 dez. 2009.<br />

LOPES, Gerson. O papel da mídia na educação sexual do filho. Disponível em:<br />

http://www.vinhoesexualidade.com.br/Sexualidade/Artigos/O-papel-da-midia/.<br />

Acesso em: 11 nov. 2009.<br />

MOÇO, Anderson. Gravidez precoce: questão de escolha, agora e no futuro.<br />

Revista Nova Escola. Fundação Victor Civita, Editora Abril, São Paulo, n. 212,<br />

p. 82-85. maio 2008.<br />

OLIVEIRA, D. L. Sexo e saúde na escola: isto não é coisa de médico? In: MEYER,<br />

Dagmar E. Estermann (org.). Saúde e sexualidade na escola. 2. ed. Porto Alegre:<br />

Mediação, 1998. p. 97-109. (Cadernos da Educação Básica, 4).<br />

OLIVEIRA, E. F. Sexualidade: quem tiver que se revele! In: FREITAS, Deise Sangoi;<br />

HALMANN, Adriane Lizbehd. (org.). Orientação sexual: um trabalho para<br />

professores? Santa Maria: UFSM, Grupo Internexus, 2006. p. 51-56.<br />

PROGRAMA <strong>DE</strong> <strong>DE</strong>SENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – P<strong>DE</strong>. Apostila. Faxinal<br />

do Céu, 2008.<br />

26


RAMOS, F. R. S.; MONTICELLI, M.; NITSCHKE, R. G. (org.). Projeto acolher: Um<br />

encontro da enfermagem com o adolescente brasileiro. Brasília: ABEn/Governo<br />

Federal, 2000. 196 p.<br />

SALLA, L. F. et. al. A sexualidade enquanto tema transversal: educadores e suas<br />

representações. Cadernos de Educação Especial. Santa Maria, v. 1, n. 19, 2002,<br />

114p.<br />

SILVA, R. C. P; MEGID NETO, J. Formação de professores e educadores para<br />

abordagem da educação sexual na escola: o que mostram as pesquisas. In: Ciência<br />

& Educação. Bauru, v. 12, n. 2, p. 185-197, 2006.<br />

THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 11. ed. São Paulo: Cortez, 2002.<br />

VITALLE, M. S. S.; AMÂNCIO, O. M. S. Gravidez na adolescência. 2001.<br />

Disponível em: http://www.brazilpednews.org.br/set2001/bnpar101.htm. Acesso em:<br />

9 maio 2008.<br />

27

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!