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19º Encontro <strong>da</strong> Associação Nacional <strong>de</strong> Pesquisadores em Artes Plásticas<br />

“Entre Territórios” – 20 a 25/09/2010 – Cachoeira – Bahia – Brasil<br />

DA SUPERFÍCIE PROFUNDA À CADEIA FANTASMÁTICA DE IMAGENS:<br />

A ARTE NA FRONTEIRA ENTRE PINTURA E FOTOGRAFIA<br />

RESUMO:<br />

Ricardo Maurício Gonzaga (Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo)<br />

O artigo analisa a influência paradigmática <strong>da</strong> fotografia como fator essencial para a<br />

mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> concepção <strong>da</strong> arte na transição do expressionismo-abstrato para a pop arte,<br />

limite entre o período mo<strong>de</strong>rno e o pós-mo<strong>de</strong>rno. Reflete também sobre o modo como as<br />

noções <strong>de</strong> retrato e auto-retrato se imbricam em uma forma emblemática do espírito do<br />

momento.<br />

Palavras-chave: Pintura, fotografia, mo<strong>de</strong>rnismo, pós-mo<strong>de</strong>rnismo, auto-retrato<br />

ABSTRACT:<br />

The article analyzes the paradigmatical influence of photography as an essential factor on<br />

changing the conception of art in the transition from Abstract-expressionism to Pop-art,<br />

boun<strong>da</strong>ry between mo<strong>de</strong>rn and post-mo<strong>de</strong>rn periods. It also reflects on the way in which the<br />

notions of portrait and auto-portrait overlap to produce an emblematic form of the Zetgeist.<br />

Key Words: Painting, photography, mo<strong>de</strong>rnism, post-mo<strong>de</strong>rnism, self-portrait<br />

Das profun<strong>de</strong>zas do ser<br />

Operando basicamente <strong>de</strong> acordo com os parâmetros categoriais <strong>de</strong>finidos pela<br />

teoria mo<strong>de</strong>rnista, principalmente por apresentar como centrais os aspectos<br />

relacionados a sua planari<strong>da</strong><strong>de</strong> constitutiva e a afirmação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> física,<br />

bidimensional, <strong>da</strong> <strong>superfície</strong> <strong>da</strong> tela, a pintura do Expressionismo-abstrato<br />

concentrava aparentemente em si to<strong>da</strong> sua carga <strong>de</strong> significação, realizando<br />

plenamente em regime <strong>de</strong> presentação, sua autonomia, pretensa e pretendi<strong>da</strong>, na<br />

prática e na teoria. Aqui, nos gestos e drippings <strong>da</strong> action painting, o conceito <strong>de</strong><br />

“reificação do signo” 1 , apresentado por Fredric Jameson, o “momento <strong>de</strong> autonomia,<br />

<strong>de</strong> uma existência relativamente livre e utópica” 2 , parecia ter encontrado sua plena<br />

configuração. O Expressionismo-abstrato estabelecia-se assim como etapa<br />

<strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira imediatamente anterior <strong>à</strong> eclosão <strong>de</strong> um novo paradigma, fronteira última<br />

do confronto entre as duas gran<strong>de</strong>s possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> arte do século XX: uma,<br />

mo<strong>de</strong>rna, a outra, num certo sentido, <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> por essa nova influência<br />

paradigmática, pós-mo<strong>de</strong>rna.<br />

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No entanto, contra as evidências do <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> afirmação <strong>da</strong> absoluta materiali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

planar <strong>da</strong> <strong>superfície</strong> pictórica, certo grau <strong>de</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> se mantinha aí – foi o<br />

próprio Clement Greenberg que observou que a única possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se evitar<br />

completamente a ilusão <strong>de</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> seria não <strong>da</strong>r nem mesmo uma única<br />

pincela<strong>da</strong>... Isto se tornara evi<strong>de</strong>nte quando algumas <strong>de</strong>ssas pinturas foram<br />

expostas lado a lado com as primeiras telas <strong>de</strong> Frank Stella, muito mais<br />

ostensivamente auto-referentes e presentes <strong>à</strong> <strong>superfície</strong> que aquelas. Segundo<br />

William S. Rubin, para Stella, a diferença <strong>de</strong>rivava do tipo <strong>de</strong> organização usado por<br />

ele: “cobrir a <strong>superfície</strong> to<strong>da</strong> produz um efeito <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> escala - a pintura<br />

parece estar mais na <strong>superfície</strong>, há menos profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>. E a pintura parece maior<br />

porque ela não recua <strong>de</strong> modo algum ou dilui-se nas bor<strong>da</strong>s” 3 .<br />

Rubin consi<strong>de</strong>ra esta mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> escala, que ele observa também em trabalhos <strong>de</strong><br />

outros pintores, tais como Keneth Noland e Al Held, como genérica: uma escala pósexpressionismo-abstrato,<br />

que teria surgido no final dos anos 50. Ain<strong>da</strong> segundo ele,<br />

seria esta diferença que produzia uma incompatibili<strong>da</strong><strong>de</strong> flagrante entre as telas <strong>de</strong><br />

Stella e as expressionistas-abstratas <strong>de</strong> dimensões equivalentes.<br />

Acontece que, para além <strong>de</strong>ssa relativização <strong>de</strong> seu propalado aspecto formal, a<br />

pintura expressionista-abstrata apresentava outras profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>de</strong> naturezas bem<br />

diversas, que se constituíam como distâncias entre duas situações. A primeira: a<br />

que se espacializava entre a própria singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> individual do autor –<br />

expressando-a – e a <strong>superfície</strong> <strong>da</strong> tela em que emergia, por meio <strong>da</strong> ação <strong>de</strong> pintar<br />

(a painting’s action <strong>da</strong> action painting). Como observou Rosalind Krauss, “o<br />

Expressionismo-abstrato era uma arte que expressava um conceito <strong>de</strong> interiori<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

baseado na i<strong>de</strong>alização <strong>da</strong> noção <strong>de</strong> individuali<strong>da</strong><strong>de</strong> como algo anterior <strong>à</strong><br />

experiência” 4 .<br />

Portanto, po<strong>de</strong>mos dizer que ain<strong>da</strong> se mantinha aí, na relação semântica entre<br />

esses dois elementos, o que expressa e o que é expresso - a expressão <strong>de</strong> “uma<br />

interiori<strong>da</strong><strong>de</strong> inefável” 5 , nas palavras <strong>de</strong> José Thomaz Brum - uma relação <strong>de</strong> representação.<br />

Abstratas e expressionistas, essas pinturas, obviamente não retratam<br />

ou expressam a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> interior <strong>de</strong> seus autores por meio <strong>da</strong> representação <strong>de</strong> suas<br />

fisionomias, mas preten<strong>de</strong>m fazê-la emergir diretamente, através <strong>da</strong> própria<br />

experiência <strong>de</strong> sua realização, corporificando-a em sua singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>, na matéria-<br />

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tinta, ou seja, nos limites impostos pela teoria mo<strong>de</strong>rnista, mas também em<br />

coerência tanto com a noção romântica, assim preserva<strong>da</strong>, do indivíduo genial,<br />

quanto com a própria noção <strong>de</strong> expressionismo. Eis aí a forma-limite do auto-retrato<br />

na sua concepção mo<strong>de</strong>rna: aqui, é a própria individuali<strong>da</strong><strong>de</strong> que, em coerência com<br />

os limites categoriais <strong>da</strong> pintura mo<strong>de</strong>rna, se reifica, materializando-se no elemento<br />

sensível, simultaneamente resultado e reali<strong>da</strong><strong>de</strong> viva do processo, <strong>da</strong> ação <strong>da</strong><br />

pintura.<br />

Igualmente se optarmos pela leitura que faz Harold Rosenberg <strong>da</strong> pintura<br />

expressionista abstrata como arena em que se <strong>de</strong>flagra uma ação, esta noção <strong>de</strong><br />

auto-retrato ain<strong>da</strong> é pertinente, na medi<strong>da</strong> em que esta ação - e esta pintura –<br />

configura-se como reali<strong>da</strong><strong>de</strong> única <strong>de</strong>riva<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma experiência única <strong>de</strong> um<br />

indivíduo singular: um “sin-signo” 6 por excelência, inimitável e irrepetível.<br />

É nesta perspectiva que se apresenta uma nova percepção <strong>de</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> própria<br />

a esta pintura: a que respon<strong>de</strong> ao paradigma mencionado acima, contra o qual ela<br />

contraditoriamente parecia reagir, o paradigma introduzido pela primeira <strong>da</strong>s<br />

<strong>imagens</strong> técnicas, a fotografia. Isto porque, como signo reificado que apresenta<br />

simultaneamente, na materiali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sua <strong>superfície</strong>, a fusão - e a separação - entre<br />

dois momentos, o do gesto – passado - e o <strong>de</strong> seu indício – presente – essa pintura<br />

respondia ao processo paradoxal introduzido pela fotografia <strong>de</strong> fusão e separação<br />

simultânea na <strong>superfície</strong> fotográfica em relação <strong>à</strong> “série real” 7 , a janela <strong>de</strong> folha<br />

dupla – janela-paisagem - <strong>da</strong> <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Barthes 8 . Configurava-se assim como<br />

resposta possível <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seus limites enquanto categoria mo<strong>de</strong>rna, ao novo<br />

<strong>de</strong>safio paradigmático.<br />

Sintoniza<strong>da</strong> a um só tempo com a tradição e com a mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> – e, nesta<br />

perspectiva, <strong>de</strong> certo modo até com a pós-mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>, a pintura expressionistaabstrata<br />

constituiu-se, portanto, taticamente, como hábil solução <strong>de</strong> compromisso,<br />

que, no entanto, apresentava um sério problema: fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> como era na<br />

quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> experiência profun<strong>da</strong> e irrepetível, ve<strong>da</strong>va-se a ela a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

se viabilizar como método contínuo <strong>de</strong> pesquisa, dilema que o próprio Pollock<br />

vivenciou e que, aparentemente, terminou por levá-lo a auto-<strong>de</strong>struição: impossível<br />

prosseguir se equilibrando no limiar do sublime, alçado pelo gesto heróico, sem<br />

repetir-se e cair em fórmula esvazia<strong>da</strong>. Como preservar e <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong><strong>de</strong> ao gesto<br />

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<strong>de</strong> rebeldia, quando o reconhecimento público tendia a asfixiá-lo, reinscrevendo-o no<br />

circuito do cotidiano? Como, xamã, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tocar a ponta dos <strong>de</strong>dos dos <strong>de</strong>uses<br />

numa <strong>da</strong>nça-música-com-tintas-e-pincéis, voltar incólume <strong>à</strong> banali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

cotidiana? Até que ponto é possível prosseguir acelerando? Até o impacto final. Para<br />

esta pintura e este pintor só uma possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> salvação: que, por existir a tela<br />

como testemunha viva <strong>da</strong>quela ação, o mundo se modificasse <strong>à</strong> sua semelhança: o<br />

retorno ao paraíso, espaço <strong>da</strong> re<strong>de</strong>nção absoluta ou o colapso.<br />

1.Jackson Pollock. East Hampton, 1950.<br />

Não por acaso, na fase final <strong>de</strong> sua vi<strong>da</strong>, em plena crise pessoal e profissional,<br />

Pollock bra<strong>da</strong>va alcoolizado em seus rompantes <strong>de</strong> fúria: “eu fiz! O que mais eles<br />

querem? Querem sangue? Eu <strong>de</strong>i tudo a eles!” 9 .<br />

O caso Pollock é, aliás, emblemático <strong>da</strong> fronteira <strong>de</strong> transição entre dois momentos<br />

do Zeitgeist, que tem sua razão profun<strong>da</strong> na transformação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> pela<br />

fotografia. Alçado pela revista Life <strong>à</strong> condição <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>r do expressionismo-abstrato -<br />

<strong>à</strong> revelia e para revolta dos <strong>de</strong>mais membros do grupo - por razões oriun<strong>da</strong>s <strong>à</strong> lógica<br />

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própria <strong>de</strong> um periódico <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> circulação – era um dos poucos nascidos em<br />

território americano; a revista encontraria dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> em “ven<strong>de</strong>r” um grupo, etc. –<br />

Jackson tornara-se a primeira celebri<strong>da</strong><strong>de</strong> do mundo <strong>da</strong>s artes plásticas. Mas,<br />

imprensado entre as exigências éticas e estéticas <strong>de</strong> um fazer comprometido com<br />

noções existenciais e profun<strong>da</strong>s <strong>de</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, autentici<strong>da</strong><strong>de</strong> e legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> - assim<br />

como com a intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s emoções correspon<strong>de</strong>ntes e constitutivas necessárias<br />

a sua manifestação - e a nova veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> midiática em sua dinâmica <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scartabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, acaba se tornando também, nas palavras <strong>de</strong> seu biógrafo Gregory<br />

White Smith, “a primeira fatali<strong>da</strong><strong>de</strong> neste campo” 10 . Em agosto <strong>de</strong> 1956, como<br />

acontecera pouco menos <strong>de</strong> um ano antes com James Dean, seu correlato<br />

cinematográfico, Pollock acaba com a própria vi<strong>da</strong> num aci<strong>de</strong>nte automobilístico.<br />

Expressão individual <strong>da</strong> revolta e do inconformismo como arte, única resposta<br />

aparente ao sistema massacrante <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> repressiva, a pintura <strong>de</strong>sse<br />

expressionismo, que se queria abstrato - e evi<strong>de</strong>ntemente não <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> sê-lo -<br />

ain<strong>da</strong> assumia assim a forma <strong>de</strong> um – último - auto-retrato. O ocaso do indivíduo<br />

romântico.<br />

Na <strong>superfície</strong> <strong>da</strong> imagem<br />

Como contraposição a esse espaço heróico, <strong>à</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> vertiginosa <strong>de</strong>ssa<br />

que<strong>da</strong> para cima, aparece Robert Rauschenberg, membro periférico do grupo dos<br />

expressionistas-abstratos, atuando no que ele próprio chamava <strong>de</strong> “lacuna entre arte<br />

e vi<strong>da</strong>” 11 . Seu trabalho operava um <strong>de</strong>slocamento fun<strong>da</strong>mental: fechava a porta <strong>da</strong><br />

estra<strong>da</strong> <strong>da</strong>s viagens <strong>de</strong> auto-conhecimento e abria outra, para a rua, permitindo que<br />

entrasse uma infini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>imagens</strong> e coisas provenientes <strong>da</strong> visuali<strong>da</strong><strong>de</strong> trivial<br />

urbana. Sua marchan<strong>de</strong> Illeana Sonnabend recor<strong>da</strong> uma frase <strong>de</strong> John Cage que,<br />

segundo ela, <strong>de</strong>screve <strong>à</strong> feição seu método <strong>de</strong> trabalho: - “ele abre a janela e o<br />

trabalho entra” 12 . O próprio Rauschenberg relata que to<strong>da</strong>s as suas histórias<br />

começa(va)m assim: “eu estava na rua...” 13 , observando que nas fases iniciais <strong>de</strong><br />

seu trabalho, em vez <strong>de</strong> ir <strong>à</strong> loja <strong>de</strong> tintas, ele “<strong>da</strong>va uma volta no quarteirão, se não<br />

conseguisse material suficiente para começar a trabalhar, <strong>da</strong>va outra” 14 . Esse<br />

processo <strong>de</strong> exteriorização, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sdramatização, característico <strong>de</strong> uma mu<strong>da</strong>nça no<br />

espírito <strong>da</strong> época, generalizou-se nos anos 60, não só no minimalismo ou nas<br />

shaped canvas do primeiro Frank Stella, mas também tanto na pintura hard edge<br />

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quanto na postpainterly abstraction, e ain<strong>da</strong> nos “últimos quadros” 15 , como Arthur C.<br />

Danto os <strong>de</strong>nomina, monocrômicos, <strong>de</strong> Robert Ryman ou <strong>de</strong> Ad Reinhardt, por<br />

exemplo. No que se refere a estes, a pintura instalava-se numa espécie <strong>de</strong> lugar<br />

privilegiado, atemporal e supra-histórico, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>ria continuar a se renovar<br />

in<strong>de</strong>fini<strong>da</strong>mente sem alterações fun<strong>da</strong>mentais quanto a seu funcionamento<br />

essencial, respal<strong>da</strong><strong>da</strong>, ironicamente, pela justificativa teórica do fim <strong>de</strong> sua própria<br />

história.<br />

Ora, neste ponto cabe mencionar outro aspecto apontado por Fredric Jameson<br />

como característico <strong>de</strong>ste momento <strong>de</strong> transição em que, não só a arte, mas a<br />

cultura como um todo, atinge o limiar <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> para ingressar entre outra<br />

fase, pós-mo<strong>de</strong>rna. Jameson aponta como sendo “um sintoma bastante significativo<br />

<strong>da</strong> cultura pós-mo<strong>de</strong>rna” 16 a crítica ao que ele <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> “mo<strong>de</strong>los <strong>da</strong><br />

profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>” entre os quais se incluem, principalmente:<br />

“o hermenêutico do fora e do <strong>de</strong>ntro [...]; o dialético, <strong>da</strong> essência e <strong>da</strong><br />

aparência [..]; o mo<strong>de</strong>lo freudiano do latente e do manifesto [...]; o mo<strong>de</strong>lo<br />

existencialista, <strong>da</strong> autentici<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> inautentici<strong>da</strong><strong>de</strong> [...]; e a oposição<br />

semiótica entre significante e significado” .<br />

Ain<strong>da</strong> segundo ele, “o que substitui esses diversos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> é, <strong>de</strong><br />

modo geral, uma concepção <strong>de</strong> práticas, discursos e jogos textuais [... em que] a<br />

profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> é substituí<strong>da</strong> pela <strong>superfície</strong>”.<br />

Jameson lembra também que esta crise <strong>da</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> não é vivi<strong>da</strong> apenas no<br />

plano metafórico, po<strong>de</strong>ndo ser “experimenta<strong>da</strong> física e “literalmente””. Ora, um dos<br />

fatores <strong>de</strong>terminantes do momento na arte em que esta crise po<strong>de</strong> ser<br />

sensivelmente experimenta<strong>da</strong> foi exatamente a recusa pela nova geração <strong>de</strong><br />

artistas, tanto pop como minimalistas, <strong>da</strong> noção <strong>de</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> expressiva que<br />

caracterizava a pintura <strong>da</strong> geração anterior.<br />

Agora, com o colapso <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e na medi<strong>da</strong> em que, com a crise<br />

<strong>da</strong>s crenças em ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s absolutas, todos os significados passavam a concentrarse<br />

na <strong>superfície</strong> reifica<strong>da</strong> <strong>da</strong> imagem, esta <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> ser membrana através <strong>da</strong> qual<br />

se <strong>da</strong>va o fluxo unidirecional do sentido em regime <strong>de</strong> representação e passava a<br />

<strong>de</strong>sejar atrair para si to<strong>da</strong>s as potências <strong>de</strong> sentido configurando-se, assim, como<br />

interface, significante autônomo e auto-suficiente, presentificado.<br />

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O momento em que a pop arte surge é expressivo <strong>de</strong> certo tipo <strong>de</strong> embate que opõe<br />

duas noções <strong>de</strong> arte conflitantes, que se pretendiam exclusivas e aparentavam , <strong>de</strong><br />

fato, ser mutuamente exclu<strong>de</strong>ntes. Se ao olhar historicamente distanciado não é<br />

problemático aceitar tanto o expressionismo-abstrato quanto a pop - ou a minimal -<br />

como arte, no calor <strong>da</strong> hora não era assim tão simples.<br />

A reação dos teóricos do mo<strong>de</strong>rnismo <strong>à</strong> pop evi<strong>de</strong>nciava a impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sua<br />

aceitação nos limites estabelecidos para a arte pela teoria mo<strong>de</strong>rna. Para Giulio<br />

Carlo Argan, por exemplo,<br />

“a pop [...] assinala o ponto <strong>de</strong> chega<strong>da</strong> do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção e<br />

dissolução do objeto enquanto termo individualizado num dualismo<br />

cognitivo, em que o outro termo é o sujeito, a pessoa; naturalmente, é a<br />

<strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção ou dissolução <strong>da</strong> pessoa enquanto sujeito, cuja ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

pensante fun<strong>da</strong>mental consiste em pôr as coisas como diferentes <strong>de</strong> si,<br />

como objetos” 17 .<br />

Crise, portanto, para Argan, do processo <strong>de</strong> formação <strong>da</strong> consciência e <strong>da</strong><br />

autoconsciência nos termos <strong>da</strong> conceituação <strong>de</strong> Hegel 18 . Crise, por outro lado, que<br />

<strong>de</strong>nota tanto uma incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vislumbrar as novas questões que se abriam<br />

relativas ao problema <strong>da</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> arte – questões inerentes ao momento<br />

posterior <strong>à</strong> aquisição <strong>da</strong> autoconsciência 19 - quanto <strong>à</strong> impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

compreensão <strong>da</strong> atração do objeto – e do sujeito - para a órbita <strong>de</strong> influência <strong>da</strong>s<br />

alterações perceptivas instaura<strong>da</strong>s pelas <strong>imagens</strong> técnicas.<br />

Já Clement Greenberg adota outra tática: apostando na continui<strong>da</strong><strong>de</strong> dos valores<br />

que <strong>de</strong>fendia, consi<strong>de</strong>ra que o melhor <strong>da</strong> arte norte-americana era representado por<br />

artistas <strong>da</strong> nova geração <strong>da</strong> “pintura abstrata” 20 - Morris Louis e Keneth Nolland - e<br />

se refere com <strong>de</strong>sdém <strong>à</strong> pop: “por mais diverti<strong>da</strong> que seja a pop arte, não a<br />

consi<strong>de</strong>ro realmente original. A pop arte <strong>de</strong>safia o gosto apenas superficialmente” 21 .<br />

Greenberg consi<strong>de</strong>rava que a pop equivalia “a um novo episódio na história do<br />

gosto, mas não a um episódio autenticamente novo na evolução <strong>da</strong> arte<br />

contemporânea” 22 , ou seja, não ultrapassava os limites transitórios <strong>de</strong> um simples<br />

modismo.<br />

Diferentes reações, uma percepção comum: a <strong>de</strong> que a pop se apresentava como<br />

uma manifestação estranha aos conceitos que fun<strong>da</strong>mentavam certa concepção <strong>de</strong><br />

arte vincula<strong>da</strong> a uma certa visão <strong>de</strong> mundo.<br />

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Por sua vez, Rosalind Krauss i<strong>de</strong>ntifica o elo que liga não só a pop, mas também o<br />

minimalismo a Duchamp, mencionando, no entanto, uma distinção entre as duas<br />

apropriações produtivas do conceito <strong>de</strong> ready-ma<strong>de</strong>, como “ready-ma<strong>de</strong> cultural” 23 :<br />

enquanto o artista pop trabalhava com a imagem super-utiliza<strong>da</strong> pelas técnicas <strong>de</strong><br />

comunicação <strong>de</strong> massa - material que li<strong>da</strong> com uma carga semântica prévia e se<br />

apropria <strong>de</strong>la, “os minimalistas se valiam <strong>de</strong> elementos aos quais nenhum tipo<br />

específico <strong>de</strong> conteúdo fora conferido [..., po<strong>de</strong>ndo] tratar o ready-ma<strong>de</strong> como uma<br />

uni<strong>da</strong><strong>de</strong> abstrata” 24 .<br />

Sem entrar aqui no mérito <strong>de</strong> tal neutrali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conteúdos – no mínimo duvidosa<br />

(refiro-me <strong>à</strong> pretensa “neutrali<strong>da</strong><strong>de</strong>” i<strong>de</strong>ológica do “cubo branco” do sistema <strong>de</strong> arte)<br />

- vale mencionar que tal distinção leva Krauss a conceber a utilização <strong>da</strong> herança<br />

duchampiana pela minimal, como assumindo “uma forma bem menos anedótica” 25<br />

que a <strong>da</strong> pop. Quanto a isto, no entanto, Lucy Lippard, enuncia: “a pop é<br />

principalmente her<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> uma tradição abstrata e não figurativa” 26 . De fato, a pop<br />

arte não se configura como retorno <strong>à</strong> figuração, nos mol<strong>de</strong>s <strong>da</strong> representação<br />

tradicional. Trata-se <strong>de</strong> algo completamente distinto.<br />

Tomemos, por exemplo, a pintura <strong>de</strong> Andy Warhol Vinte e Cinco Marilyns (2). Aqui,<br />

Warhol não está retratando Marilyn, nem mesmo reproduzindo uma foto <strong>de</strong> Marilyn.<br />

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2. Andy Warhol, Vinte e Cinco Marilyns, 1962, serigrafia sobre acrílica sobre tela, 205,7x169,<br />

5cm, Mo<strong>de</strong>rna Museet, Estocolmo.<br />

Está sim, através <strong>de</strong> um procedimento que torna constitutivo o enca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong><br />

técnicas <strong>de</strong> reprodução serial <strong>da</strong> imagem, produzindo uma imagem <strong>de</strong> outra or<strong>de</strong>m<br />

que tem como referente fun<strong>da</strong>mental esse mesmo processo em <strong>ca<strong>de</strong>ia</strong> - <strong>de</strong> <strong>imagens</strong><br />

<strong>de</strong> Marilyn. Se o referente originário é Marilyn, ou melhor, “o ser humano Norma<br />

Jean” 27 – o nome <strong>de</strong> batismo <strong>da</strong> atriz - a imagem pinta<strong>da</strong> foi esvazia<strong>da</strong> <strong>de</strong> qualquer<br />

relação semântica direta com esse referente. Não cabe perguntar quanto <strong>de</strong> Marilyn<br />

– muito menos <strong>de</strong> Norma Jean - resta nessa imagem pinta<strong>da</strong>, simplesmente porque<br />

não é mais disso que se trata: estamos em outro ambiente <strong>de</strong> significação. De fato,<br />

tanto a repetição serial horizontal, por assim dizer, quantitativa, <strong>da</strong> qual as vinte e<br />

cinco marilyns do título são uma indicação simbólica, quanto a vertical, qualitativa,<br />

que reproduz em profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> uma <strong>ca<strong>de</strong>ia</strong> contínua <strong>de</strong> simulacros nas etapas<br />

técnicas <strong>de</strong> reprodução, remetem a um ícone dinâmico que se distancia vários graus<br />

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<strong>de</strong> seu referente inicial. Introduz-se assim a memória - aliás, melhor seria dizer: a<br />

<strong>de</strong>smemória - do processo, que <strong>de</strong>sloca vertiginosamente a fotografia original para<br />

um turbilhão - paradoxalmente paralítico - <strong>de</strong> <strong>imagens</strong>, que <strong>de</strong>svaloriza to<strong>da</strong>s elas 28 .<br />

O processo esvazia <strong>de</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> o referente original, que, sugado pelo vampiro do<br />

simulacro, adquire na medi<strong>da</strong> mesma <strong>de</strong>sse esvaziamento, consistência como<br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong> autônoma. Sob o signo <strong>da</strong> reprodução fotográfica, per<strong>de</strong>-se <strong>de</strong> uma vez<br />

por to<strong>da</strong>s a aura benjaminiana - “a única aparição <strong>de</strong> algo longínquo, por mais<br />

próximo que possa estar” 29 - para que se adquira outra: a que envolve os novos<br />

mitos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> pós-mo<strong>de</strong>rna e pós-industrial e que talvez possa ser assim<br />

apresenta<strong>da</strong>: “a múltipla aparição <strong>de</strong> algo próximo, por mais distante que possa<br />

estar”. Entre as aspas <strong>da</strong> fotografia, Norma Jean agora é Marilyn, mas Marilyn<br />

também recebe mais e mais aspas em sucessivas etapas. De modo que, finalmente,<br />

referência longínqua <strong>de</strong>sta reali<strong>da</strong><strong>de</strong> primeira, originária, agora transforma<strong>da</strong> em<br />

“outra”, a Norma Jean suga<strong>da</strong> pelo processo (<strong>de</strong>s)aparece esmaeci<strong>da</strong> no horizonte<br />

fantasmático do simulacro. O próprio referente original fotografado pela primeira foto,<br />

ou seja, o “ser humano Norma Jean”, já não existe como tal, já que, afeta<strong>da</strong> pelo<br />

feedback do processo, ce<strong>de</strong> lugar ao ícone cultural Marilyn Monroe. A questão:<br />

“subsiste uma “pessoa real” no fundo <strong>de</strong>ste processo?” já não cabe, uma vez que a<br />

concepção <strong>de</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> foi radical, inapelável e irrecorrivelmente altera<strong>da</strong>.<br />

Obviamente esses “retratos” <strong>de</strong> Marilyn na<strong>da</strong> mais têm em comum com a noção<br />

anterior <strong>de</strong> re-trato. Po<strong>de</strong>ríamos talvez <strong>de</strong>nominá-los, na sua vocação<br />

propresentativa 30 , “pós-tratos”. Segundo Klaus Honnef, certa vez Andy Warhol<br />

dissera que “os lábios <strong>de</strong> Marilyn não <strong>de</strong>spertavam interesse para ser beijados, mas<br />

sim para ser fotografados” 31 : a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> aqui já se apresenta como imagem, “uma<br />

máscara <strong>de</strong> <strong>superfície</strong> pura” 32 , na expressão <strong>de</strong> Honnef. O que po<strong>de</strong> se esten<strong>de</strong>r <strong>à</strong><br />

questão do auto-retrato: “se você quiser saber tudo sobre Andy Warhol,<br />

simplesmente olhe para a <strong>superfície</strong> <strong>de</strong> minhas pinturas e filmes: lá estou eu. Não há<br />

na<strong>da</strong> por trás disso” 33 , <strong>de</strong>finiu o próprio. Mas, não nos ilu<strong>da</strong>mos: como explica<br />

Honnef, “na obra <strong>de</strong> Andy Warhol, a <strong>superfície</strong> parece <strong>de</strong> fato um abismo e não <strong>de</strong>ve<br />

ser confundi<strong>da</strong> com superficiali<strong>da</strong><strong>de</strong>” 34 .<br />

“Reconheci que tudo o que faço tem relação com a morte” 35 , disse certa vez Andy<br />

Warhol. Revelava assim a compreensão <strong>de</strong> que, no fundo <strong>da</strong> seqüência especular<br />

<strong>da</strong>s <strong>imagens</strong> técnicas, resta o espectro <strong>de</strong> uma lógica <strong>de</strong> produção que se alimenta<br />

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mais e mais <strong>da</strong> manipulação do <strong>de</strong>sejo mórbido que inci<strong>de</strong> sobre objetos <strong>de</strong> que<br />

nunca precisamos até que passem a nos parecer imprescindíveis, para, em segui<strong>da</strong>,<br />

tornar-se obsoletos, exigindo sua imediata substituição, o que constitui a lógica<br />

diabólica <strong>da</strong> espiral do consumismo compulsivo na era do capitalismo tardio.<br />

Enfrentar a lógica do sistema foi, portanto, para os artistas pop, saber li<strong>da</strong>r com o<br />

conceito <strong>de</strong> obsolescência fun<strong>da</strong>mental para seu funcionamento, conceito que não<br />

se aplica exclusivamente a coisas, mas esten<strong>de</strong>-se também aos indivíduos, que<br />

alimentam a máquina. Utilizados até o limite <strong>de</strong> sua “obsolescência”, tornam-se<br />

igualmente <strong>de</strong>scartáveis: “no futuro todos serão famosos por quinze minutos”.<br />

“Quinze minutos” que não se confirmaram apenas, tornaram-se um dos lugarescomuns<br />

mais repetidos dos últimos... quinze minutos. E dos próximos. Warhol intuiu:<br />

a veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> do processo ten<strong>de</strong> a aumentar inexoravelmente e controla também a<br />

noção <strong>de</strong> sucesso mun<strong>da</strong>no. Não por acaso, os temas recorrentes <strong>da</strong> pop arte –<br />

morte, sexo e comi<strong>da</strong> – remetem ao processo a que são submeti<strong>da</strong>s as massas<br />

ansiosas e acríticas pelo aparelho <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo, representa<strong>da</strong><br />

miticamente pela Mulher, sobre quem parecem se concentrar histericamente to<strong>da</strong>s<br />

as forças envolvi<strong>da</strong>s.<br />

Submetido <strong>à</strong> vertigem <strong>de</strong> fusão total/dissociação radical, o mundo passa a habitar<br />

um túnel <strong>de</strong> ilusões reais e reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s ilusórias em que tempo e espaço <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong><br />

contar como coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s confiáveis. Morte e eterni<strong>da</strong><strong>de</strong> se fun<strong>de</strong>m nesse<br />

amálgama pós-histórico: no mesmo movimento em que Norma Jean, traga<strong>da</strong> para o<br />

interior do gran<strong>de</strong> peixe, se <strong>de</strong>sintegra, Marilyn Monroe é regurgita<strong>da</strong> na praia <strong>da</strong><br />

eterni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Como <strong>de</strong>finiu Wernner Spies, “o que empurrou Marilyn Monroe para a<br />

morte foi precisamente este beijo dirigido a todo o mundo que Warhol imortalizou, a<br />

sua obrigação <strong>de</strong> permanecer sempre uma imutável marca registra<strong>da</strong>”. 36<br />

Argan consi<strong>de</strong>rava que o artista pop não era mais que um “técnico <strong>da</strong> informação” 37 ,<br />

um intelectual especializado na imagem, que punha em prática uma “oposição<br />

consenti<strong>da</strong> e até prevista” pelo sistema, <strong>de</strong> modo a oferecer uma “submissa<br />

colaboração [...] ao po<strong>de</strong>roso sistema <strong>de</strong> informação e comunicação”. Tendo como<br />

parâmetro “a violência, mas ao mesmo tempo a alta consciência do <strong>de</strong>ver do<br />

intelectual” com que o artista expressionista-abstrato atacara o establishment, Argan<br />

i<strong>de</strong>ntifica aquele momento, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, como o <strong>de</strong><br />

uma “ruptura <strong>de</strong>finitiva [...]: a recusa do artista em ser artista.” Esta ruptura po<strong>de</strong>ria<br />

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ser reli<strong>da</strong>, no entanto, <strong>de</strong> uma perspectiva <strong>de</strong>sloca<strong>da</strong>: apareceria então como recusa<br />

do artista em ser “aquele artista”, na mesma medi<strong>da</strong> em que, segundo Luciano<br />

Fabro, para Argan, “aquela era a arte” 38 .<br />

A diferença fun<strong>da</strong>mental consiste em que o artista pop (norte-americano) opera<br />

ironicamente em relação ao funcionamento do aparelho <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> massas<br />

consciente <strong>de</strong> to<strong>da</strong> sua complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>. A recusa em <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong><strong>de</strong> ao pathos<br />

expressionista-abstrato <strong>de</strong>riva <strong>da</strong> percepção <strong>da</strong> ingenui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>quela posição,<br />

evi<strong>de</strong>ncia<strong>da</strong> por sua impotência frente a sua cooptação pelas forças assimiladoras<br />

do sistema. Quando Andy Warhol disse que a razão pela qual pintava <strong>da</strong>quele modo<br />

é que queria “ser uma máquina” 39 , muito mais do que frase <strong>de</strong> efeito, a afirmação<br />

sinalizava sua plena compreensão do problema. Para o filósofo francês Jean<br />

Baudrillard, “ele pensava assim radicalmente: “eu não sou na<strong>da</strong> e funciono”. “Eu sou<br />

operacional em todos os planos, artístico, comercial, publicitário...” “Sou a própria<br />

operacionali<strong>da</strong><strong>de</strong>!”” 40 .<br />

Ou seja, incapaz <strong>de</strong> bater Golias, este David metamorfoseado em novo Jonas passa<br />

a operar do interior do aparelho, alucinando seus procedimentos <strong>de</strong> modo a expor o<br />

aspecto patológico e opressivo <strong>de</strong> seu funcionamento. Não se trata <strong>de</strong> sofisticar o<br />

processo <strong>de</strong> produção <strong>da</strong> imagem, mas <strong>de</strong> virá-lo pelo avesso e revelar seu<br />

funcionamento perverso. Ain<strong>da</strong> segundo Baudrillard,<br />

“Andy Warhol foi um gran<strong>de</strong> momento do século XX porque foi o único a ter<br />

sabido realmente dramatizar, ele fez com que a simulação fosse ain<strong>da</strong> um<br />

drama [...] entre duas fases, a passagem para a imagem e a equivalência<br />

<strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as <strong>imagens</strong>” 41 .<br />

Ao operar por meio do <strong>de</strong>slocamento dos elementos que constituem o vocabulário<br />

<strong>da</strong> mídia para o espaço <strong>da</strong> percepção estética, isto é, <strong>da</strong> arte, a pop recupera-os<br />

para o potencial crítico e reflexivo <strong>da</strong> visão. E é justamente graças a esta<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> subversiva implícita <strong>de</strong> ataque ao funcionamento simbólico do sistema,<br />

que a pop se constitui como arte. O resultado é uma espécie <strong>de</strong> raio-X do cadáver<br />

social: um esgar irônico - o sorriso <strong>da</strong> caveira - sintomaticamente tema <strong>de</strong> uma <strong>da</strong>s<br />

últimas séries <strong>de</strong> Warhol (3) – sua face oculta e incômo<strong>da</strong>: um auto-retrato<br />

consciente <strong>de</strong> sua face autêntica.<br />

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3. Andy Warhol. Skull Paintings, 1976, exposição no Andy Warhol Museum em 1994.<br />

Sintomaticamente, algo semelhante já havia se manifestado num trabalho <strong>de</strong><br />

Rauschenberg: uma gravura <strong>de</strong> 180 x 90 cm <strong>de</strong> 1967, intitula<strong>da</strong> “Booster” (4), a<br />

maior litografia até então impressa. Ao chegar a Los Angeles em fevereiro <strong>da</strong>quele<br />

ano para realizá-la, ao editor responsável pela série litográfica que lhe perguntara se<br />

já tinha em mente o que iria fazer, Rauschenberg teria respondido: “um auto-retrato<br />

do homem interior” 42 . Resposta enigmática, cuja ironia iria se revelar com o<br />

resultado final do trabalho: a imagem radiográfica <strong>de</strong> corpo inteiro do próprio<br />

Rauschenberg. O artista, que já havia apagado anteriormente um <strong>de</strong>senho <strong>de</strong><br />

Wilhelm De Kooning, respondia assim, - ironicamente - <strong>à</strong>s interiori<strong>da</strong><strong>de</strong>s e<br />

profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> noção anterior <strong>de</strong> auto-retrato, como expressão <strong>de</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

interiores.<br />

Entre duas <strong>imagens</strong> <strong>da</strong> morte, o esqueleto <strong>de</strong> Rauschenberg e a caveira <strong>de</strong> Warhol,<br />

o auto-retrato pós-histórico, fotográfico - do ser e do ser <strong>da</strong> arte - emerge: é a<br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do simulacro que vem a <strong>superfície</strong>. Realizando na contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong> o<br />

espírito do memento mori, estes quali-signos apontam, não para um fim individual,<br />

mas, simbolicamente, para o achatamento coletivo <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>s,<br />

atraí<strong>da</strong>s pela força gravitacional <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> coletiva no fluxo do presente absoluto dos<br />

aparelhos sociais.<br />

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4. Robert Rauschenberg. Booster, 1967, litografia e serigrafia impressa em cores, 181,7 x 89,3<br />

cm.<br />

1 Jameson, Fredric, Pós-Mo<strong>de</strong>rnismo – A Lógica Cultural do Capitalismo Tardio, São Paulo: Ática, 2002.<br />

2 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m.<br />

3 Stella, Frank, apud Rubin, William S., catálogo Frank Stella, Nova York: Museu <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna, 1985, p. 39.<br />

4 Krauss, Rosalind, Caminhos <strong>da</strong> escultura mo<strong>de</strong>rna, São Paulo: Martins Fontes, 1998.<br />

5 Brum, José Thomaz, Visões do Sublime: <strong>de</strong> Kant a Lyotard, in Pradilla, Ileana e Reis, Paulo (org.), Kant: crítica<br />

e estética na mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>, São Paulo: SENAC São Paulo, 1999, p. 65.<br />

6 Segundo a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> C.H. Peirce um “sin-signo” é um signo que <strong>de</strong>signa uma situação específica, ao passo<br />

que um “quali-signo”, seria um signo que se refere a uma lei geral.<br />

7<br />

De Duve, Thierry, Pose et instantané, ou le paradoxe photographique. In Essais Datés I: 1974/1986, Paris:<br />

Éditions <strong>de</strong> La Diférence, 1987.<br />

8 Barthes, “A Câmara Clara”, Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1984.<br />

9<br />

Depoimento pessoal <strong>de</strong> Nick Carone, artista e amigo <strong>de</strong> Pollock in Griffith, Teresa, Jackson Pollock - Life and<br />

Death on Long Island, 46’, DVD. BBC, 1999.<br />

10<br />

Depoimento pessoal <strong>de</strong> Gregory White Smith, biógrafo <strong>de</strong> Pollock, in Griffith, Teresa, Jackson Pollock - Life<br />

and Death on Long Island, 46’, DVD. BBC, 1999.<br />

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11 Thomas, Karen (dir.), Robert Rauschenberg, Inventive Genious, DVD, 60’. Winstar, 1999.<br />

12 Granlund, Chris (dir.), Robert Rauschenberg, man at work, DVD, London: Phaidon, 1997.<br />

13 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m.<br />

14 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m.<br />

15 Danto, Arthur C., Arte sem Paradigma. .In Arte & Ensaios, Ferreira, Glória, Venâncio Filho, Paulo, (org.) revista<br />

do Programa <strong>de</strong> Pós-graduação em Artes Visuais <strong>da</strong> EBA – UFRJ, ano VII, nº 7, 2000.<br />

16 Jameson, Fredric, op.cit., p. 40, para esta e as seguintes.<br />

17 Argan, Giulio Carlo, Arte mo<strong>de</strong>rna, São Paulo: Companhia <strong>da</strong>s Letras, 1992.<br />

18 Para Hegel, consciência é o “conhecimento <strong>de</strong> um objeto como ser-outro que não eu mesmo” e<br />

“autoconsciência” é o “conhecimento <strong>de</strong> eu-mesmo como distinto do objeto”.<br />

19 Para Arthur Danto, após ultrapassar uma fase “volta<strong>da</strong> sobretudo para a direção <strong>da</strong> autoconsciência, [a arte<br />

mo<strong>de</strong>rna] <strong>de</strong>fine uma forma diferente <strong>de</strong> narrativa na qual a toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> consciência <strong>da</strong> estrutura interna é muito<br />

mais importante”, Danto, A. C., op.cit.<br />

20 Greenberg, Clement, Abstração pós-pictórica, in Ferreira, Glória e Cotrim, Cecília (org.), Clement Greenberg e<br />

o <strong>de</strong>bate crítico, Rio <strong>de</strong> Janeiro: Funarte, Jorge Zahar, 1997.<br />

21 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 115.<br />

22 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m.<br />

23 Krauss, Rosalind, op.cit., p. 298.<br />

24 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m.<br />

25 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 300.<br />

26 Lippard, Lucy R., Pop Art, London: Thames and Hudson, 1966.<br />

27 Mellen, Joan, Marilyn Monroe, Rio <strong>de</strong> Janeiro: Artenova, 1973.<br />

28 Como observou Jean Baudrillard, “a multiplicação só é positiva em nosso sistema <strong>de</strong> acumulação. Na or<strong>de</strong>m<br />

simbólica, equivale a uma subtração. [...] Se um indivíduo morre, sua morte é um acontecimento consi<strong>de</strong>rável,<br />

enquanto que se mil indivíduos morrem, a morte <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um é mil vezes menos importante”, Baudrillard, Jean,<br />

“Tela total”, Porto Alegre: Sulina, 2002.<br />

29<br />

Benjamin, Walter, A Obra <strong>de</strong> Arte na Época <strong>de</strong> suas Técnicas <strong>de</strong> Reprodução, in Os Pensadores, volume<br />

XLVIII, Abril Cultural, São Paulo, Brasil, 1975.<br />

30 Para o conceito <strong>de</strong> propresentação ver, <strong>de</strong> minha autoria, Read Me, Ready Me: a caixa preta do ser em tempo<br />

real in Arte & Ensaios, Ferreira, Glória, Venâncio Filho, Paulo, (org.) revista do Programa <strong>de</strong> Pós-graduação em<br />

Artes Visuais <strong>da</strong> EBA – UFRJ, ano XIII, nº 13, 2.006 e Do significado <strong>à</strong> significância, anais eletrônicos do III<br />

congresso Internacional <strong>de</strong> Semiótica, Abes, 2007.<br />

31 Honnef, Klaus, Andy Warhol , 1928-1987: a comercialização <strong>da</strong> arte, Köln: Taschen, 1988, p. 58.<br />

32 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m.<br />

33<br />

Warhol, Andy, apud Compton, Michael, Pop art, (trad. do autor). Londres, Nova York, Sidney, Toronto: Hamlyn,<br />

1970.<br />

34 Honnef, Klaus, op.cit. p. 58.<br />

35 Warhol, Andy, apud Honnef, Klaus, op. cit., p. 61.<br />

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36 Spies, Wernner, apud Honnef, Klaus, op.cit., p. 61.<br />

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37 Argan, Giulio Carlo, op.cit, também para as seguintes.<br />

38 Segundo Fabro: “O que fazia com que <strong>de</strong>sconfiássemos <strong>de</strong>le era seu “dirigismo”. Ele dizia “a arte agora é<br />

assim”; “os artistas têm que fazer assim”. Tentava criar grupos porque AQUELA era a arte.” Fabro, Luciano,<br />

Entendo Shakespeare, posso até participar, mas falo como Dante, entrevista <strong>de</strong> Luciano Fabro a Glória Ferreira<br />

in Ferreira, Glória (ed.), catálogo Luciano Fabro, Rio <strong>de</strong> Janeiro: Centro <strong>de</strong> Arte Hélio Oiticica, 1997.<br />

39 Warhol, Andy apud Compton, Michael, op.cit.<br />

40 Baudrillard, Jean, A Arte <strong>da</strong> Desaparição, Rio <strong>de</strong> Janeiro: editora UFRJ / N-Imagem, 1997, p. 113.<br />

41 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m.<br />

42 Felsen, Sidney, in Thomas, Karen, op. cit.<br />

Referências<br />

BAUDRILLARD, Jean, A Arte <strong>da</strong> Desaparição, Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora UFRJ / N-Imagem,<br />

1997.<br />

JAMESON, Fredric, Pós-Mo<strong>de</strong>rnismo – A Lógica Cultural do Capitalismo Tardio, São Paulo:<br />

Ática, 2002.<br />

GRIFFITH, Teresa, Jackson Pollock - Life and Death on Long Island, 46’, DVD. London:<br />

BBC, 1999.<br />

THOMAS, Karen, Robert Rauschenberg, Inventive Genious, DVD, 60’. Winstar, 1999.<br />

GRANLUND, Chris, Robert Rauschenberg, man at work, DVD, London: Phaidon, 1997.<br />

Ricardo Maurício Gonzaga<br />

Doutor em Linguagens Visuais pelo Programa <strong>de</strong> Pós-graduação em Artes Visuais <strong>da</strong><br />

Escola <strong>de</strong> Belas Artes <strong>da</strong> UFRJ, tendo <strong>de</strong>fendido a tese Da membrana <strong>à</strong> interface do<br />

mundo: auto-retrato e autoconsciência na arte contemporânea em 2005, é artista plástico e<br />

professor adjunto do Departamento <strong>de</strong> Artes Visuais do Centro <strong>de</strong> Artes <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo, on<strong>de</strong> leciona as disciplinas Multimeios, Desenho e Gravura.<br />

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