Apologia de Sócrates, Banquete - Universidade de Coimbra
Apologia de Sócrates, Banquete - Universidade de Coimbra
Apologia de Sócrates, Banquete - Universidade de Coimbra
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Ana Elias Pinheiro<br />
necessárias especulações sobre a historicida<strong>de</strong> dos textos<br />
socráticos <strong>de</strong> Xenofonte e da sua relação com o filósofo.<br />
O próprio Xenofonte, <strong>de</strong> resto, assume, na sua<br />
obra, que a importância do seu testemunho se baseia<br />
no seu conhecimento 16 : o seu retrato <strong>de</strong> <strong>Sócrates</strong> é mais<br />
correcto que o <strong>de</strong> outros porque ele conheceu <strong>Sócrates</strong>,<br />
como diz em 4.8.11., ao encerrar as sua recordações:<br />
«sendo ele, <strong>de</strong> facto, tal como o <strong>de</strong>screvi» Mesmo<br />
reconhecendo-lhe a parcialida<strong>de</strong> que resulta do excesso<br />
<strong>de</strong> zelo que imprime à sua <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> <strong>Sócrates</strong> não teremos<br />
talvez razão para duvidar da sua afirmação; só uma<br />
relação forte, mesmo que fugaz com o filósofo po<strong>de</strong>ria,<br />
<strong>de</strong> resto, ter dado origem a tal empenho na sua reabilitação.<br />
o Ba n q u e t e e o s Me M o rá ve i s<br />
Ao contrário do <strong>Banquete</strong> <strong>de</strong> Platão, que é um<br />
texto sério, este <strong>de</strong> Xenofonte é, assumidamente, um<br />
texto burlesco. E digo assumidamente porque o próprio<br />
Xenofonte faz questão <strong>de</strong> precisar no início (1.1) que<br />
vai lembrar momentos em que <strong>Sócrates</strong> e os que frequentavam<br />
a sua companhia se <strong>de</strong>dicavam a ‘criancices’,<br />
porque lhe parece que esses também são «momentos<br />
dignos <strong>de</strong> lembrança», ou seja, ‘memoráveis’.<br />
16 A tendência para <strong>de</strong>svalorizar esta informação tem vindo, <strong>de</strong><br />
facto, a esbater-se. Vi<strong>de</strong> G. Giannantoni, SSR 4, 209-222 (apud<br />
Viano 2001: 99 e n.7), que coteja todas as passagens <strong>de</strong> Xenofonte<br />
que a crítica consi<strong>de</strong>rava como inautênticas e imputáveis a Antístenes<br />
e que são vistas agora como fruto, apenas, <strong>de</strong> temas comuns aos<br />
escritos socráticos em geral.<br />
24