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Apologia de Sócrates, Banquete - Universidade de Coimbra

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ap o l o g i a d e Só c ra t e S<br />

este que não parece saber que aquele que <strong>de</strong> nós os dois<br />

tenha <strong>de</strong>ixado, para todo o sempre, as obras mais úteis<br />

e mais belas, esse será o vencedor. Mas — diz-se que<br />

acrescentou — tal como Homero fez com que, no momento<br />

em que a vida as abandonava, algumas das suas<br />

personagens ganhassem dons proféticos 16 , também eu<br />

Ânito é tradicionalmente apontado como o verda<strong>de</strong>iro mentor do processo,<br />

a partir <strong>de</strong> uma observação <strong>de</strong> <strong>Sócrates</strong>, que, na <strong>Apologia</strong> <strong>de</strong> Platão<br />

(18b), usa a expressão Ânito e os do seu grupo, para se referir aos seus acusadores;<br />

a suposição é corroborada por Diógenes Laércio, 2.38.<br />

Era um cidadão importante, pertencente a uma família <strong>de</strong> ricos comerciantes<br />

<strong>de</strong> curtumes (Platão, Ménon, 90a; escólio a Platão, <strong>Apologia</strong>,<br />

18b). Fora general ao serviço <strong>de</strong> Atenas, durante a guerra do Peloponeso, e<br />

enfrentara um processo por traição <strong>de</strong>pois da <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong> Pilos (Aristóteles,<br />

Constituição <strong>de</strong> Atenas, 27.5). O seu <strong>de</strong>staque na cena política ateniense<br />

<strong>de</strong>via-se sobretudo ao papel <strong>de</strong>sempenhado na revolta <strong>de</strong>mocrática <strong>de</strong> 403<br />

contra o domínio dos Trinta Tiranos, on<strong>de</strong> ganhara a simpatia popular<br />

por não ter querido ser compensado dos prejuízos económicos que sofrera<br />

durante a oligarquia. Contudo, tendo sido um dos subscritores da referida<br />

Amnistia <strong>de</strong> 403 (Aristóteles, Constituição <strong>de</strong> Atenas, 34.3), parece pouco<br />

provável que as razões que o levaram a acusar <strong>Sócrates</strong> se pren<strong>de</strong>ssem com<br />

as críticas do filósofo às instituições <strong>de</strong>mocráticas. Ele próprio seria um<br />

mo<strong>de</strong>rado, o que não faria <strong>de</strong>le um <strong>de</strong>fensor fervoroso da <strong>de</strong>mocracia popular<br />

(Erbse 1961:261).<br />

Platão apresenta, no Ménon (89e-95a), razões possíveis para a animosida<strong>de</strong><br />

entre os dois homens, que po<strong>de</strong>ria ser motivada pelas posições<br />

<strong>de</strong> <strong>Sócrates</strong> acerca dos políticos <strong>de</strong>mocráticos, mas, mais provavelmente,<br />

pelo relacionamento estabelecido entre <strong>Sócrates</strong> e o filho <strong>de</strong> Ânito, a que<br />

Xenofonte alu<strong>de</strong> na <strong>Apologia</strong> (29-31); aparece também, no mesmo texto<br />

<strong>de</strong> Platão, como um radical opositor aos Sofistas. Xenofonte testemunha<br />

aqui, na <strong>Apologia</strong> (31), o <strong>de</strong>scrédito que a figura <strong>de</strong> Ânito sofrera <strong>de</strong>vido à<br />

sua participação na morte <strong>de</strong> <strong>Sócrates</strong> (cf. Plutarco, 18.762d) e uma tradição<br />

duvidosa (Temístocles, 20.239c), her<strong>de</strong>ira talvez do testemunho <strong>de</strong><br />

Diógenes Laércio (2.43), refere que teria sido exilado por essa mesma razão<br />

e teria sido morto nesse exílio, em Heracleia.<br />

16 Cf. Ilíada, 16.851-854: Pátroclo prevê a morte <strong>de</strong> Heitor; 22.358-<br />

360: Heitor prevê a morte <strong>de</strong> Aquiles. Também em Platão, <strong>Apologia</strong>, 39c.<br />

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