Periódico Música Viva. Ano 1. Novembro 1940. Artigo assinado por Luís Heitor. FUNDAÇÃO BILIOTECA NACIONAL – DIVISÃO DE <strong>MÚSICA</strong> E ARQUIVO SONORO 91
92 a importância do trabalho do grupo frente à “realidade em transformação”, Koellreutter denuncia a estagnação do meio artístico e do ensino de música no Brasil. 10 Esse segundo momento ideológico é caracterizado pela substituição do conceito corrente de “indivíduo” − nos assuntos musicais elevado à categoria mítica e idealista −, pelo contemporâneo e recém-introduzido valor: “capacidade coletiva de uma geração”. MOMENTO III O segundo documento significativo produzido pelo Música Viva é o Manifesto 1946 ou Declaração de Princípios, levando os nomes de Egydio de Castro e Silva, Gení Marcondes, Heitor Alimonda, Santino Parpinelli, Eunice Katunda, Guerra Peixe, Cláudio Santoro, Koellreutter. Uma simples leitura deste documento, que se tornará referência oficial do movimento, torna evidente o grau de complexidade com que é tratado o fato musical, mediante os enfoques estético, social e econômico, refletindo, antes de uma coerência propriamente, um mosaico de flashes intensos de consciência. Reproduzimos a seguir alguns fragmentos: A música, traduzindo idéias e sentimentos na linguagem dos sons, é um meio de expressão; portanto, produto da vida social. /.../ A arte musical é o reflexo do essencial na realidade. A produção intelectual, servindo-se dos meios de expressão artística, é função da produção material e sujeita, portanto, como esta, a uma constante transformação, a lei da evolução. Música é movimento. / Música é vida. “<strong>MÚSICA</strong> VIVA” compreendendo este fato combate pela música que revela o eternamente novo, isto é: por uma arte musical que seja a expressão real da época e da sociedade. “<strong>MÚSICA</strong> VIVA” refuta a assim chamada arte acadêmica, negação da própria arte. “<strong>MÚSICA</strong> VIVA”, baseada nesse princípio fundamental, apoia tudo o que favorece o nascimento e crescimento do novo, escolhendo a revolução e repelindo a reação. “<strong>MÚSICA</strong> VIVA”, compreendendo que o artista é produto do meio e que a arte só pode florescer quando as forças produtivas tiverem atingido um certo nível de desenvolvimento, apoiará qualquer iniciativa em prol de uma educação não somente artística, como também ideológica; pois, não há arte sem ideologia. /.../ “<strong>MÚSICA</strong> VIVA”, adotando os princípios de arte-acão, abandona como ideal a preocupação exclusiva de beleza; pois, toda a arte de nossa época não organizada diretamente sobre o princípio da utilidade será desligada do real. /.../ “<strong>MÚSICA</strong> VIVA” acredita na função socializadora da música que é a de unir os homens, humanizando-os e universalizando-os. “<strong>MÚSICA</strong> VIVA”, compreendendo a importância social e artística da música popular, apoiará qualquer iniciativa no sentido de desenvolver e estimular a criação e divulgação da boa música popular, combatendo a produção de obras prejudiciais à educação artístico-social do povo. /.../ Consciente da missão da arte contemporânea em face da sociedade humana, o grupo “<strong>MÚSICA</strong> VIVA”, acompanha o presente no seu caminho de descoberta e de conquista, lutando pelas idéias novas de um mundo novo, crendo na força criadora do espírito humano e na arte do futuro. 11 Este grande painel de idéias, verdadeiro mural de intenções da modernidade musical brasileira, retrata com perfeição o papel revolucionário assumido pelo movimento e o engajamento visceral com que os membros do grupo se lançam às questões fundamentais da realidade social de seu tempo. No entanto, contém já em seu bojo as contradições essenciais que provocarão abalos consecutivos até sua ruptura definitiva. Santoro, que desde Agosto de 1947 estava fora do país, participa do “II Congresso Internacional de Compositores e Críticos Musicais”, realizado em Praga de 20 a 29 de Maio de 1948. O contato direto com os músicos progressistas e suas teses o levarão a compartilhar fervorosamente dos ideais do “realismo socialista”. Serão justamente as “Resoluções” e o “Apelo” elaborados nesse congresso – e editados em seguida no Música Viva nº16 (Agosto/1948), boletim que encerra a série de publicações –, que conferirão substrato formal para a polarização das divergências ideológicas entre Koellreutter e Santoro, notadamente, deflagrando no grupo o processo efetivo de dissolvência. Assim, se por um lado o movimento Música Viva
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