MÚSICA ERUDITA BRASILEIRA - Departamento Cultural
MÚSICA ERUDITA BRASILEIRA - Departamento Cultural
MÚSICA ERUDITA BRASILEIRA - Departamento Cultural
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
O curso de composição foi concluído em 1943,<br />
no Conservatório Brasileiro de Música, sempre com<br />
Pádua. Criou, nesse período um grande número<br />
de composições, desde experiências sinfônicas até<br />
pequenas peças para instrumento só, porém,<br />
extremamente crítico consigo, colocou-as num “index”<br />
de composições proibidas de serem tocadas, com<br />
poucas exceções. Mas compôs também música<br />
popular.<br />
A primeira peça que mereceu entrar no “Catálogo<br />
de Obras” (por ele chamado de “cata logo”),<br />
manuscrito precioso onde anotou todas as obras até<br />
a última, várias vezes expressando idéias, foi<br />
a Sonatina 1944 para flauta e clarinete.<br />
“Convertido” ao dodecafonismo, após seu<br />
encontro com Hans Joachin Koellreutter, com quem<br />
passou a estudar, seguiu esta linha estética durante seis<br />
anos (1944-1950), na verdade dividido em dois: o cada<br />
vez mais solicitado e dedicado arranjador e compositor<br />
de música popular e o compositor erudito, segundo ele<br />
próprio “sem a menor preocupação nacionalizante”.<br />
Integrando o Grupo Música Viva, dos seguidores<br />
de Koellreutter, onde teve como colegas os notáveis<br />
compositores Cláudio Santoro, Edino Krieger e Eunice<br />
Katunda, foi que suas obras ganharam projeção<br />
internacional e a admiração de personalidades como<br />
Juan Carlos Paz e Hermann Scherchen, que regeram<br />
obras suas respectivamente em Buenos Aires e Zurich.<br />
Mas as origens do compositor eram muito fortes<br />
e as “linhas cosmopolitas” começaram a fraquejar<br />
quando, Guerra-Peixe buscou um possível encontro<br />
entre dodecafonismo e música brasileira. As idéias<br />
de Mário de Andrade estavam vivas em seu<br />
pensamento, fazendo-o sentir a necessidade de uma<br />
saída para a música brasileira chamada erudita,<br />
até então baseada num discutível folclore. Também<br />
colocou-se o problema da comunicação da nova<br />
música com o público, tão descurado no Século XX.<br />
Tiveram início suas discussões com Mozart<br />
de Araújo que culminaram em sua primeira visita ao<br />
Recife em 1949 onde teve contacto com uma música<br />
viva, nacional, sem manipulação alguma. O resultado<br />
foi a ruptura com o dodecafonismo. Em seguida<br />
ocorreu uma coincidência: Scherchen passou pelo Rio<br />
de Janeiro e convidou Guerra-Peixe para ir estudar<br />
com ele em Zurich, sendo seu hóspede e trabalhando<br />
na rádio local. Ao mesmo tempo recebeu também um<br />
convite de Recife para trabalhar também em rádio.<br />
Guerra preferiu o Recife e sempre disse que foi<br />
a melhor coisa que fez na vida. Foi um dos períodos<br />
mais férteis de sua vida quando, além de compositor<br />
erudito, seguindo novas linhas estéticas, e orquestrador,<br />
iniciou suas atividades de professor, articulista<br />
e a grande obra de pesquisador.<br />
Pesquisou Maracatu, Xangô, Catimbó, Côco, Pastoril,<br />
Zabumba (conjunto instrumental), Cabocolinhos, Reza-dedefunto,<br />
Frevo, Pregões, toques de vendedores ambulantes,<br />
manifestações culturais religiosas ou não, folguedos,<br />
atividades sociais, todas com músicas próprias, em dez<br />
cidades pernambucanas.<br />
Na época foram seus alunos: Clóvis Pereira, Jarbas<br />
Maciel, Guedes Peixoto, Lourenço da Fonseca Barbosa<br />
(“Capiba”) e Severino Dias de Oliveira (“Sivuca”).<br />
A permanência em Recife foi de três anos, quando<br />
novas obras importantes foram criadas e surgiu seu<br />
mais importante<br />
trabalho de pesquisa:<br />
o ensaio “Maracatus do<br />
Recife”, que décadas<br />
mais tarde serviu para<br />
salvar tal manifestação<br />
do desaparecimento.<br />
Imediatamente após<br />
o período recifense,<br />
seguiu-se outro maior<br />
e tão proveitoso quanto<br />
o nordestino: oito anos<br />
em S. Paulo, quando,<br />
com o apoio de Rossini<br />
Tavares de Lima,<br />
secretário da Comissão<br />
Paulista de Folclore<br />
iniciou naquele Estado<br />
outra grande pesquisa,<br />
incluindo Jongo, Tambú,<br />
Cateretê, Cururu, Dança<br />
de Santa Cruz, Dança de Guerra-Peixe.<br />
FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL<br />
São Gonçalo, Folia de Reis, – DIVISÃO DE <strong>MÚSICA</strong> E ARQUIVO SONORO<br />
105