Fronteiras Invisíveis e Territórios Movediços entre o Teatro de ...
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nós tivemos coragem <strong>de</strong> mostrar os bonecos? Não levamos pra exposição, pra<br />
nada. Ficamos com a mala no hotel. E ele nos jogou pra frente. E esse festival <strong>de</strong><br />
1972, em Charleville, foi o festival mais espetacular que o UNIMA patrocinou e fez.<br />
Vieram grupos <strong>de</strong> vários países, e os maiores marionetistas. Nós saímos <strong>de</strong> lá<br />
malucos. Quando voltamos, fizemos O Baú <strong>de</strong> fundo fundo, que é um pulo em<br />
relação ao que já tínhamos feito. Depois do Baú, remontamos a Bela, com a mesma<br />
técnica: aqueles <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> punho. Esse cara é uma maravilha. Trabalha com<br />
cem, duzentos fios num boneco. Ele tem uma garça que levanta pena por pena. Dá<br />
até um arrepio. E tem que ter mais <strong>de</strong> cinqüenta anos <strong>de</strong> boneco pra po<strong>de</strong>r fazer<br />
uma coisa <strong>de</strong>ssas. E ele apresenta há cinqüenta anos, o mesmo espetáculo. Sul<br />
americano agüenta isso? Não agüenta. A gente quer novida<strong>de</strong>. E no nosso caso,<br />
especificamente, a gente quer mais ainda, porque a gente quer fazer mais bonecos.<br />
E foi muito bom, que com a partida precoce do Álvaro e da Thereza, o Giramundo<br />
herdou para os jovens um conjunto enorme <strong>de</strong> espetáculos. Eu <strong>de</strong>sconheço grupo<br />
<strong>de</strong> teatro que tem repertório tão gran<strong>de</strong> como o Giramundo. Po<strong>de</strong> até haver, mas eu<br />
não conheço.<br />
A manipulação direta surgiu com um marionetista suíço, radicado nos Estados<br />
Unidos. O nome <strong>de</strong>le me fugiu agora. Ele esteve nesse festival nos Estados Unidos.<br />
E era uma maravilha. O cara era uma artista. A mão <strong>de</strong>le era <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za,<br />
que não parecia no gesto. O boneco era muito importante. E eram verda<strong>de</strong>iras<br />
esculturas. Pareciam uma porcelana, <strong>de</strong>sse tamainho. E daí, difundiu. Mas o<br />
primeiro que eu vi foi esse. Depois o Marcos Rivas, que hoje está em Parati, difundiu<br />
no Brasil. Ele faz um trabalho muito bonito. Aquele teatro mais lento. Ele faz um<br />
trabalho muito caprichado. E dá curso até hoje. É um obstinado. Ele tem uma<br />
escola. É um pesquisador também. Sabe <strong>de</strong>senhar. Os únicos que eu conheço<br />
<strong>de</strong>sse gênero é o pessoal do grupo do Triângulo, cuja origem são artistas plásticos e<br />
o Rozer.<br />
Fábio - Esses seriam os mestres <strong>de</strong> vocês?<br />
Madu - Nós nunca estudamos com eles. Mas só <strong>de</strong> ver, se apren<strong>de</strong>. Pro mero<br />
espectador que não é bonequeiro, os movimentos do boneco são como mágica. Mas<br />
se você conseguir ver por trás do boneco, vai ver os mecanismos. A gente se<br />
interessa muito por isso. O Rozer é uma pessoa que <strong>de</strong>ve ter ajudado muitos<br />
marionetistas.<br />
Fábio - Teve algum grupo com o qual vocês tiveram alguma formação, que vocês<br />
consi<strong>de</strong>ram influente na estética <strong>de</strong> vocês?<br />
Madu - Não. Nós vimos coisas maravilhosas. Mas nunca a<strong>de</strong>rimos a algum. O<br />
europeu é muito diferente da gente. O ritmo é mais lento. É muito bonito, mas não<br />
tem aquela agilida<strong>de</strong> e nem conseguem trabalhar num espetáculo com a quantida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> bonecos que a gente trabalha. O Cobra Norato, na última contagem, tinha oitenta<br />
e três bonecos.<br />
Fábio - Quanto tempo você ficou no Cobra Norato?<br />
Madu - Eu fiquei <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia em que ele foi feito, até quando eu saí do Giramundo.<br />
É o espetáculo, até hoje, mais apresentado do Giramundo.<br />
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