Fronteiras Invisíveis e Territórios Movediços entre o Teatro de ...
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teatro <strong>de</strong> animação contemporâneo brasileiro, que vem reafirmando uma poética<br />
específica e peculiar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 70, po<strong>de</strong>ndo ser a plasticida<strong>de</strong> um dos<br />
elementos marcantes do grupo. Segundo Malafaia (2006, p. 182),<br />
O Giramundo está e sempre estará ligado ao trabalho e pensamento <strong>de</strong><br />
Álvaro Apocalypse. [figura] arrojada, conservadora, metódica, orgulhosa,<br />
educada, colérica e tímida. Amante da rotina, dos prazeres que consomem,<br />
do silêncio, do conforto do campo, da civilida<strong>de</strong> das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s e das<br />
páginas dos livros. Cosmopolita sempre a retomar, mecânico plástico, doce<br />
mestre terrível, Álvaro Apocalypse retirou o Giramundo do nada,<br />
cavalgou-o com papel e lápis, inflou-o com mil bonecos e soltou-o no ar ao<br />
partir. (Grifo meu)<br />
Essa citação do Marcos Malafaia revela a percepção sobre o paradoxal<br />
sentimento perante o “doce mestre terrível” que retira o “Giramundo do nada”,<br />
percorreu “com papel e lápis” e sopra Anima (alma, vida, movimento) no grupo.<br />
O Giramundo tem em seu histórico mais <strong>de</strong> 30 montagens <strong>de</strong> espetáculos, o<br />
que <strong>de</strong>monstra sua experiência, atuando tanto na produção, como na investigação<br />
plástica e cênica, orientando sua poética.<br />
Aos olhos da pequena Ouro Fino, cida<strong>de</strong> do interior mineiro, em 14 <strong>de</strong> janeiro<br />
<strong>de</strong> 1937, nasce aquele que seria um dos artistas mais importantes para a história do<br />
teatro <strong>de</strong> bonecos no Brasil, o que po<strong>de</strong>ríamos chamar, fazendo menção a um<br />
personagem literário <strong>de</strong> Carlo Collodi, o carpinteiro, o Gepeto Brasileiro.<br />
As experiências <strong>de</strong> minha infância em Ouro Fino refletem diretamente na<br />
minha atuação. Tanto na pintura quanto nos <strong>de</strong>senhos ou teatro, utilizo<br />
fatos extraordinários, fantasiosos e imaginários intimamente ligados à magia<br />
da minha infância naquela cida<strong>de</strong>. Foi um período cheio <strong>de</strong> invenções e<br />
criações [...] Então meus irmãos criaram uma brinca<strong>de</strong>ira da qual tornei-me<br />
her<strong>de</strong>iro, chamava-se “hominho”. Construíamos uma cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> papel sobre<br />
a mesa <strong>de</strong> pingue-pongue, reproduzíamos as fachadas das casas e<br />
recortávamos bonequinhos <strong>de</strong> papelão para serem os habitantes da cida<strong>de</strong>.<br />
Era uma verda<strong>de</strong>ira dramatização. [...] Tudo isso acho que favoreceu, e<br />
muito, a nossa imaginação. Sobretudo porque a maioria dos nossos<br />
brinquedos era fabricada por nós mesmos, acho que a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
construção <strong>de</strong> coisas faz com que a criança tenha mais iniciativa, mais<br />
criativida<strong>de</strong> do que teria ao brincar com brinquedos prontos. O <strong>de</strong>senho era<br />
fato comum em casa. Meus irmãos <strong>de</strong>senhavam muito, faziam pequenos<br />
<strong>de</strong>senhos criando historinhas nos cantos dos livros e ca<strong>de</strong>rnos. Quando<br />
folheadas rapidamente, as páginas com os <strong>de</strong>senhos adquiriam vida,<br />
transformando-se num <strong>de</strong>senho animado. (APOCALYPSE, 2001, p. 9 -11).<br />
As habilida<strong>de</strong>s plásticas, sempre tão presentes em seu convívio familiar, por<br />
meio dos <strong>de</strong>senhos na lousa do seu pai, médico e professor, traçavam a anatomia<br />
humana para melhor ilustrar suas aulas, além da sua irmã, excelente pintora,<br />
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