12.04.2013 Views

A Rosa do curu

A Rosa do curu

A Rosa do curu

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

PAPI JUNIOR Sl<br />

lhe nas próprias carnes em vibrações ásperas de morte.<br />

Tanto bastou para que o aban<strong>do</strong>nasse, violentada pela<br />

emoção cruciante desta <strong>do</strong>r, para vê-lo depois, pouco adi­<br />

ante, boian<strong>do</strong> inteiriça<strong>do</strong> como um tronco, ro<strong>do</strong>piar três<br />

·vêzes sôbre as águas e nelas se sumir subitamente .<br />

Nesse momento só podia ficar-lhe na razão o mesqui-<br />

11ho vislumbre de salvar-se. No seu organismo esfacela<strong>do</strong>,<br />

apenas, trabalhavam as normas d.J instinto, porque, a al­<br />

ma, essa se acaara em haustos, nos soluços que o rumor<br />

das águas abafava .<br />

Muitas vêzes tentou fugir em arranques repeti<strong>do</strong>s da<br />

li:t1:t1a arrastante da corrente, mas as fôrças físicas nega­<br />

"Valn-ll1e auxílio para acudir à,J imperativa vontade de vi­<br />

·ver. Ma.s, daí para diante, a ravina começou a abrir para<br />

a direita espaços largos de águas espraiadas em várzeas<br />

a.lagadas, com o ensejo propicioso p·ara, o derraclelro esfôr­<br />

·;·o . E fê-lo, uma, 1n1.1itas 1;êzes, com braçadas fortes, · até<br />

q.tle se ;_;entiu com o 11a<strong>do</strong> livre n.e> remanso, e as plantas<br />

tcca .. rem-lhe terrenos firmes, submersos. Pôs-se, então, de<br />

p·J , e la11çou a vista compungida para trás, como se estives­<br />

se a ver, de olhos m9,Jreja<strong>do</strong>s, o saimento de um féretro<br />

querid., e, de braços abertos atira<strong>do</strong>s para lá, cltlas ·rêzes<br />

gritou, ferin<strong>do</strong> a solidão da noite crua:<br />

.<br />

- P ai. ·r . . . M eu pa1.<br />

· "'l<br />

1 , . . . ape_o que a no1 ·t e, apel1uS, <br />

acudiu c.om a sonância tristísima de un1 ai! perdi<strong>do</strong> ao<br />

lon:se, como esvaí<strong>do</strong> de um seio apunhala<strong>do</strong> .<br />

Agora já. estava sob o abrigo <strong>do</strong>s ramalhu<strong>do</strong>s galhos<br />

de uma árvore, e ali ficou por muito tempo, extática, sinis-<br />

tra, es._5uia, na c.Jnfiguração fantástica de u111 ser lendá­<br />

rio, ima g·inoso, os ca.belos empasta<strong>do</strong>s nas espádlias, com<br />

farrapos sujos velan<strong>do</strong>-lhe a nudez, a tiritar de frio, a ti­<br />

ritar de horror, os dentes a lhe baterem com estrépito1 e a<br />

I

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!