Cobras em compota - Ministério da Educação
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Psicologia infantil<br />
A mãe de Débora era psiquiatra e<br />
quando eu acrescentei três colheres de<br />
açúcar ao Nescau, ela disse que não precisava,<br />
pois se eu reparasse no rótulo e lesse<br />
instruções uma vez na minha vi<strong>da</strong>, eu<br />
veria que ali estava escrito que o produto<br />
já era açucarado. Mas eu, pelo menos, não<br />
atropelava as bicicletas <strong>da</strong>s crianças <strong>da</strong><br />
rua, como ela fazia quando estava atrasa<strong>da</strong><br />
para uma consulta com seus clientes doidos,<br />
e passava com seu carro por cima <strong>da</strong>s<br />
nossas bicicletas, e ain<strong>da</strong> botava a cabeça<br />
para fora do carro e nos xingava. Ah, sim,<br />
porque apesar dos termos que ela usava:<br />
depressivos e esquizofrênicos, no fi m era<br />
tudo doido. E, também, eu não tinha um<br />
fi lho que guar<strong>da</strong>va uma cobra morta dentro<br />
de um jarro de maionese, coisa que ela<br />
tinha. Além do mais, eu tinha onze anos<br />
de i<strong>da</strong>de, e isso ela nunca mais teria. Eu<br />
não precisava passar a tarde ouvindo gente<br />
doi<strong>da</strong> falando um monte de asneiras.<br />
Minha única obrigação era uma re<strong>da</strong>ção<br />
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