Cobras em compota - Ministério da Educação
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para a aula de Português, coisa que eu já<br />
havia feito. A minha e <strong>da</strong> Débora, que era<br />
péssima <strong>em</strong> re<strong>da</strong>ção. Acrescentei mais três<br />
colheres de açúcar ao meu Nescau já açucarado.<br />
Ela tirou o copo <strong>da</strong> minha frente.<br />
“Que loucura é essa?”, perguntou.<br />
“Eu é que pergunto. Neurose?”<br />
“Eu vou ligar para a sua mãe agora<br />
mesmo”, disse a psiquiatra.<br />
Os olhos de Débora se encheram de<br />
lágrimas, os meus também. Choramos<br />
juntas. Foi comovente. Aos onze anos de<br />
i<strong>da</strong>de eu tinha o fantástico dom de conseguir<br />
chorar quando b<strong>em</strong> quisesse. Era tão<br />
simples quanto virar uma pirueta.<br />
“Par<strong>em</strong> já com isso!”<br />
Estávamos aos prantos, agarra<strong>da</strong>s uma<br />
à outra. A psiquiatra atrasa<strong>da</strong> não encontrava<br />
a agen<strong>da</strong> com o telefone <strong>da</strong> minha<br />
mãe. Eu sabia de casos de pacientes doidos<br />
que, por fi car<strong>em</strong> esperando na salinha de<br />
recepção por muito t<strong>em</strong>po, começavam a<br />
se sentir rejeitados e zupt – voavam pela<br />
janela.<br />
“Qual o seu telefone?”<br />
Dei o telefone errado, mas por um número<br />
apenas. O seis pelo três. A psiquiatra