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actividades - Agrupamento de Escolas de Caldas de Vizela

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CLUBE DE SABERES E<br />

SABORES<br />

Pão Embrulhado em Poesia<br />

Para além <strong>de</strong> toda a poesia que encontrámos no convívio da viagem, no pão,<br />

no frio que se fazia sentir e no duro edifício da fábrica <strong>de</strong> lanifícios, encontrámos ainda<br />

a poesia da neve! Invadiu-nos o seu encanto e a sua graça, oferecendo o tão <strong>de</strong>sejado<br />

toque lírico à nossa jornada.<br />

No âmbito do projecto “Pão<br />

embrulhado em poesia”, projecto este que<br />

envolve dois clubes, Clube da Palavra e Clube<br />

<strong>de</strong> Saberes e Sabores, distintos na estrutura<br />

mas ligados em conteúdo, partimos dia 3 <strong>de</strong><br />

Janeiro, com <strong>de</strong>stino a Seia, terra on<strong>de</strong> o pão<br />

e a poesia são feitos da mesma massa.<br />

A partida <strong>de</strong> <strong>Vizela</strong> <strong>de</strong>u-se por volta<br />

das sete horas, quando ainda nem um raio <strong>de</strong> sol havia espreitado. À chegada a Seia,<br />

por volta das 11, já pu<strong>de</strong>mos ter mais luz na nossa visita.<br />

À nossa espera estava um pitoresco comboio<br />

turístico que nos levaria, encosta acima, até aos portões do<br />

Museu do Pão. Vimos então um edifício rústico e belo, a<br />

fazer lembrar uma verda<strong>de</strong>ira casa campestre, com as suas<br />

varandas e as suas janelas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. Fomos recebidos<br />

por uma simpática guia, que nos conduziu à primeira sala<br />

do Museu, <strong>de</strong>stinada aos mais novos. Esta sala pretendia dar a conhecer o que a<br />

guia apelidou <strong>de</strong> “Ciclo do Pão” e a vida daqueles que faziam <strong>de</strong>le o seu meio <strong>de</strong><br />

subsistência. Familiarizamo-nos com as etapas <strong>de</strong><br />

produção do pão, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o cultivo dos cereais até<br />

à sua cozedura: a sala estava repleta <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los<br />

animados que tornavam apelativa e divertida a<br />

aprendizagem.<br />

Como prova <strong>de</strong> que a criativida<strong>de</strong>,<br />

aplicada a algo do dia-a-dia, <strong>de</strong> que é exemplo o<br />

pão, po<strong>de</strong> transformar e criar algo completamente<br />

novo e divertido, fomos conduzidos a uma espécie <strong>de</strong> ateliê on<strong>de</strong> pu<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>corar<br />

livremente umas pequenas “telas” feitas <strong>de</strong> pão.<br />

Seguimos então para uma sala <strong>de</strong>dicada à exibição dos utensílios autênticos<br />

ligados à panificação, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> tempos idos. Havia a reprodução do interior <strong>de</strong> dois<br />

moinhos: a mó, o rodízio, o peso, todos em funcionamento, apesar <strong>de</strong> a electricida<strong>de</strong> ter<br />

tirado o lugar à água como força motora. Em exposição<br />

estavam também utensílios não muito familiares, mas<br />

que o eram para todos no início do século: a peneira, os<br />

carros <strong>de</strong> bois, as bicicletas <strong>de</strong> distribuição, entre outros.<br />

Pu<strong>de</strong>mos perceber também a importância da eira e da<br />

bem-arquitectada construção dos espigueiros.<br />

Na sala seguinte, encontravam-se expostos<br />

documentos antigos relacionados com a produção do pão em Portugal, registos<br />

<strong>de</strong> venda, recortes <strong>de</strong> jornais e artigos sobre a importância <strong>de</strong>ste alimento nos<br />

tempos <strong>de</strong> crise para a população portuguesa, datados do jugo Salazarista, em que<br />

era evi<strong>de</strong>nte a escassez <strong>de</strong>ste bem <strong>de</strong> primeira necessida<strong>de</strong>.<br />

Foi-nos ainda dado a conhecer que, neste tempo <strong>de</strong> fome, a falsificação<br />

dos produtos alimentares era frequente, tal como <strong>de</strong>monstravam os cartoons do<br />

gran<strong>de</strong> artista português Carlos Brito. A farinha era, por vezes, substituída por cal,<br />

a manteiga por glicerina.<br />

A cafetaria do Museu estava <strong>de</strong>corada com verda<strong>de</strong>ira arte feita em pão:<br />

quadros, esculturas e mesmo os próprios can<strong>de</strong>eiros.<br />

Estava ainda, em exposição temporária, uma<br />

colecção <strong>de</strong> postais, com publicida<strong>de</strong> a géneros alimentares:<br />

vinhos, café, água, açúcar, bolachas, entre outros.<br />

Após uma pequena pausa para almoço na Escola<br />

Secundária <strong>de</strong> Seia, rumámos até à Covilhã, para uma visita<br />

ao Museu dos Lanifícios. A viagem foi agradável, com oliveiras e rebanhos <strong>de</strong><br />

ovelhas a espalharem a sua graça pela paisagem.<br />

Já no <strong>de</strong>stino, começámos por assistir a um pequeno filme, em forma<br />

<strong>de</strong> documentário, acerca do museu e do seu contexto<br />

histórico, geográfico e social.<br />

A região da Covilhã, pela sua tradição pastorícia,<br />

foi uma cida<strong>de</strong> privilegiada para o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

indústria dos lanifícios, sendo também favorecida pelas<br />

suas condições geográficas – presença <strong>de</strong> ribeiras e rios<br />

que facilitavam o acesso à água corrente, essencial a todo<br />

o processo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> tecido – atingindo o seu auge quando, no séc. XVIII,<br />

foi fundada, pelo Marquês <strong>de</strong> Pombal, a Real Casa das Lãs.<br />

<strong>activida<strong>de</strong>s</strong><br />

REFLEXOS - Março 2008 13<br />

Ao avançarmos <strong>de</strong> sala para sala, fomo-nos apercebendo <strong>de</strong> todo o<br />

processo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> lã, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a obtenção do fio até ao seu tingimento,<br />

utilizando para esse fim diversos corantes naturais (índigo, uma planta que<br />

funcionava como corante azul, sumagre, etc.). Pu<strong>de</strong>mos também <strong>de</strong>notar as<br />

penosas condições <strong>de</strong> trabalho a que os funcionários da época estavam sujeitos - as<br />

altas temperaturas das cal<strong>de</strong>iras, o chão em terra batida e a<br />

ausência <strong>de</strong> telhado em vários locais da linha <strong>de</strong> produção<br />

<strong>de</strong>veriam tornar o serviço na Real Casa das Lãs agressivo<br />

e, por vezes, doloroso.<br />

Até à década <strong>de</strong> 80, não se<br />

tinha conhecimento <strong>de</strong> que o robusto<br />

prédio, <strong>de</strong> relevância internacional,<br />

tinha inicialmente sido utilizado<br />

como fábrica <strong>de</strong> lanifícios, já que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do séc. XX servia como quartel<br />

e ninguém vivo testemunhara a sua anterior activida<strong>de</strong>. No entanto, escavações<br />

para a sua reconstrução evi<strong>de</strong>nciaram as estruturas dos fornos e das cal<strong>de</strong>iras,<br />

vindo mais tar<strong>de</strong> a serem encontradas provas, nos arquivos da Torre do Tombo,<br />

<strong>de</strong> que o edifício era, originalmente, <strong>de</strong>stinado a estas manufacturas.<br />

Uma vez que tínhamos ainda algum tempo antes do jantar - que viria<br />

a ser por volta das 19 horas, no refeitório do hospital da Covilhã, como estava<br />

programado - pu<strong>de</strong>mos espreitar o Serra Shopping, on<strong>de</strong> nos divertimos a escolher<br />

lembranças e a explorar o espaço.<br />

Após o jantar, havia que tomar a direcção última: a Serra. Durante todo o<br />

dia tinha estado a nevar, por isso as estradas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o sopé da montanha estavam<br />

praticamente intransitáveis. Apesar do trabalho dos<br />

limpa-neves que tentavam <strong>de</strong>simpedir o caminho,<br />

afigurava-se ainda arriscado <strong>de</strong>slocarmo-nos à<br />

pousada, que nos daria guarida nocturna. Após algum<br />

tempo <strong>de</strong> expectativa, em que duvidávamos que fosse<br />

possível subirmos a Serra para chegarmos à Pousada<br />

da Juventu<strong>de</strong>, os professores conseguiram ultrapassar<br />

o impasse e, negociando uma escolta da<br />

GNR e <strong>de</strong> limpa-neves, fizeram-nos chegar em<br />

segurança ao <strong>de</strong>stino. A subida foi efectuada<br />

sob alguma tensão, porque não sabíamos se a<br />

qualquer momento iríamos ter <strong>de</strong> voltar para trás.<br />

Contudo, apesar disso e <strong>de</strong> ser já noite cerrada,<br />

em baixo, a cida<strong>de</strong> da Covilhã, iluminada,<br />

constituía uma bela paisagem, a par das bermas com árvores cobertas <strong>de</strong> neve.<br />

A pousada era acolhedora, com uma gran<strong>de</strong> lareira no salão <strong>de</strong> convívio,<br />

que parecia crepitar alegremente com a nossa chegada. Assim que <strong>de</strong>sfizemos<br />

as malas e calçámos botas e luvas, não resistimos à neve que caía e fomos<br />

brincar.<br />

O dia seguinte amanheceu cheio <strong>de</strong> um sol revigorante, que nos encheu <strong>de</strong><br />

energia e vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> aproveitarmos a manhã para o convívio, para as inevitáveis<br />

guerras <strong>de</strong> neve, para as sessões fotográficas – que<br />

captaram não só belos quadros naturais como o<br />

fantástico espírito difundido no grupo - e para<br />

agradáveis passeios que nos permitiram <strong>de</strong>sfrutar<br />

da <strong>de</strong>slumbrante e esplendorosa paisagem que<br />

aparecia diante dos nossos olhos. Os telhados,<br />

as árvores, cobertos <strong>de</strong><br />

neve, riachos que corriam<br />

jubilosos por entre todo<br />

aquele marfim e ao fundo a Torre, <strong>de</strong> um branco imaculado.<br />

A manhã foi, portanto, <strong>de</strong> maravilha para todo o grupo.<br />

Após o almoço na pousada, como não podia <strong>de</strong>ixar<br />

<strong>de</strong> ser, visitamos a Torre. Lá em cima, a neve atingira uma altura consi<strong>de</strong>rável e<br />

a diversão, com todas as referidas brinca<strong>de</strong>iras típicas, continuou.<br />

O tempo <strong>de</strong> recreio terminou mais cedo do que <strong>de</strong>sejávamos<br />

e a hora <strong>de</strong> iniciar a viagem <strong>de</strong> regresso chegou. Partimos pelas<br />

16 horas. Foi engraçado ver a neve a <strong>de</strong>saparecer da paisagem à<br />

medida que íamos <strong>de</strong>scendo a montanha e ver, <strong>de</strong>pois, ao longe, a<br />

imensidão da brancura envolvente. As copas das árvores voltaram<br />

a estar ver<strong>de</strong>s e voltámos a ver as oliveiras e as<br />

ovelhinhas a pastar no prado. Chegámos a <strong>Vizela</strong><br />

por volta das 20 horas.<br />

A visita <strong>de</strong> estudo foi realmente<br />

enriquecedora – crescemos a nível humano,<br />

aumentou a coesão dos grupos e saíram reforçados<br />

os laços entre professores e alunos; cresceram os<br />

nossos conhecimentos relativos ao pão e a todos<br />

os aspectos relacionados com o seu fabrico, <strong>de</strong> que tencionamos servir-nos, tanto<br />

para produzir rosca e broas, como para produzir<br />

quadras e sonetos. E voltámos com uma inspiração<br />

renovada: para a arte das palavras e para a arte<br />

dos sabores!<br />

Ana Cláudia Pimenta, 11.º A

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