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E m F o c o<br />

C AMPO GRANDE - SETEMBRO - 2007<br />

R E S E N H A S<br />

M ARCO - Com Sargent Peppers os Beatles elevaram o Rock à categoria de arte e marcaram o cenário musical<br />

O álbum que mudou a história<br />

Pedro Martinez<br />

Um dos álbuns mais importantes<br />

da história do Rock,<br />

que foi lançado em vinil, o<br />

Sargent Peppers traz uns<br />

Beatles bem diferentes daqueles<br />

que todo mundo conhecia.<br />

Todas as psicodelias conhecidas<br />

da época num só disco.<br />

Além da criatividade de cada<br />

um dos integrantes, o uso de<br />

alucinógenos também contribuiu<br />

muito para a “piração”<br />

que é demonstrada nas canções.<br />

Se formos comparar a história<br />

do Rock com a vida, pensaríamos<br />

assim sobre o<br />

Sargent Peppers: a vida tem<br />

três estágios, o primeiro é a<br />

infância onde somos, inevitavelmente,<br />

ingênuos e inocentes,<br />

sem se preocupar com<br />

nenhuma coisa além dos nossos<br />

instintos primários, vivemos<br />

para brincar somente.<br />

Depois vem a idade adulta<br />

onde descobrimos, devido à<br />

nossa percepção mais apurada,<br />

coisas que jamais pensávamos<br />

existir e além disso, é<br />

claro, temos que nos preocupar<br />

com coisas maiores que só<br />

a brincadeira. E por fim vem a<br />

velhice que tem os mesmos<br />

aspectos da vida adulta mais<br />

o temor da morte e o aparecimento<br />

das limitações físicas.<br />

No meio dessa vida, entre<br />

a infância e a fase adulta existe<br />

a adolescência, um período<br />

onde acontece nossa mudan-<br />

L ITERATURA<br />

Foto: ymskrecordings.com<br />

Trans formação - As músicas de Sargent Peppers mostram um grupo amadurecido em suas idéias<br />

ça de caráter e quando tentamos<br />

colocar a nossa cara no<br />

mundo com as “novidades”<br />

que descobrimos sobre a existência.<br />

Exatamente o que o<br />

Sargent Peppers representa na<br />

história do Rock, uma fase de<br />

mudanças do pensamento<br />

musical do grupo, um amadurecimento<br />

de suas idéias.<br />

O disco abre com<br />

“Sgt.Pepper’s Lonely Hearts<br />

Club Band”, que serve como<br />

uma introdução à Banda do<br />

Sargento Pimenta; ao final, há<br />

a apresentação de um tal de<br />

“Billy Shears”, representado<br />

por Ringo, que entra cantando<br />

“A Little Help From My<br />

Friends”, faixa que acabou<br />

sendo banida das rádios inglesas<br />

à época pelo verso “I get<br />

Conto feito de nuances<br />

Thiago Andrade<br />

Um jovem rapaz, que<br />

pouco antes de casar, descobre-se<br />

completamente arruinado<br />

financeiramente e decide<br />

que não lhe resta escolha<br />

alguma além do suicídio.<br />

Desta história simples e trágica<br />

surge “A Viuvinha”, um<br />

conto de não mais que 40<br />

páginas que o autor José de<br />

Alencar escreveu no início<br />

de sua carreira. Apesar da<br />

suposta simplicidade, o autor<br />

é capaz de ampliar a história,<br />

enchendo-a de<br />

nuances e reviravoltas que<br />

abrem espaço para que se trate<br />

de temas românticos, como<br />

a dor da perda ou a recuperação<br />

depois de uma grande<br />

queda, com certa profundidade.<br />

Publicado em 1857, “A<br />

Viuvinha” é quase uma continuação<br />

do conto “Cinco<br />

Minutos”, escrito um ano<br />

antes. Ambos têm muito em<br />

comum, tanto em um como<br />

no outro estão presentes: o<br />

mesmo narrador; a prima<br />

para quem as cartas foram<br />

escritas; Carlota, mulher do<br />

narrador, e o mesmo cenário.<br />

José de Alencar em momento<br />

algum dá nome ao<br />

narrador à prima, ele a chama<br />

apenas de D em ambas<br />

histórias. Talvez seja uma<br />

forma de fazer com que os<br />

leitores, na sua maioria mulheres<br />

burguesas da época, se<br />

identificassem com o que<br />

liam.<br />

Ambos os textos são marcados<br />

pela verossimilhança.<br />

As duas estórias estão cheias<br />

de citações de horários<br />

precisos e alusões a situações<br />

características da vida carioca<br />

na época, assim como também<br />

existem referências a<br />

obras e lugares do Rio de Janeiro.<br />

Retirando assim o caráter<br />

fictício da narrativa, José<br />

explora o lado subjetivo de<br />

seus personagens. Jorge, um<br />

burguês consternado ou Carolina,<br />

a jovem virgem apai-<br />

Autor - José de Alencar escreveu o conto “A viuvinha” em 1857<br />

xonada, personagens cheios<br />

de ingênuo romantismo; ou o<br />

Sr. Almeida, paternal e seco,<br />

eles formam a tríade central da<br />

história.<br />

É interessante prestar atenção<br />

na forma como José de<br />

Alencar trabalha a tensão entre<br />

o tema romântico em um<br />

ambiente completamente realista.<br />

E como ele retrata a burguesia<br />

sem nenhum preconceito,<br />

fazendo uma ode à vida<br />

que existe apenas para o amor,<br />

tratando o trabalho como um<br />

castigo árduo.<br />

Enquanto em “Cinco Minutos”,<br />

o narrador é o personagem<br />

principal e representa bem<br />

o burguês que não trabalha,<br />

vive apenas para encontrar o<br />

amor que busca com todo afinco;<br />

em “A Viuvinha”, o jovem<br />

Jorge é o burguês que enfrenta<br />

um dos seus maiores pesadelos,<br />

o empobrecimento. Antes<br />

de decidir procurar trabalho,<br />

encontrar alguma forma de se<br />

enriquecer novamente, Jorge<br />

abandona tudo, seu casamento,<br />

seu nome, sua própria<br />

vida e decidi acabar com<br />

a própria vida.<br />

Apesar das doses cavalares<br />

de romantismo, o texto<br />

acaba prendendo a atenção<br />

devido aos acontecimentos<br />

inusitados e a forma como<br />

José amarra tudo isso e cria<br />

um desfecho instigante. O<br />

narrador revela que soube de<br />

toda história por ser vizinho<br />

de Jorge e Carolina, os personagens<br />

centrais de “A<br />

Viuvinha” e que sua esposa,<br />

Carlota é grande amiga de<br />

Carolina e daí surge à ligação<br />

entre “Cinco Minutos”<br />

e “A Viuvinha”.<br />

Considerado um romance<br />

urbano, o livro mostra os<br />

vícios da sociedade que retrata<br />

e ao tratar de temas<br />

como pobreza e amor, permanece<br />

atual, mas não se<br />

pode esperar a mesma ingenuidade<br />

que percebe-se no<br />

final do século passado.<br />

high with a little help from my<br />

friends”, pois muitos viam<br />

nestes versos uma alusão às<br />

drogas (“ficar alto com uma<br />

mãozinha de meus amigos...”).<br />

Depois temos a polêmica<br />

“Lucy In The Sky With<br />

Diamonds” que, de acordo<br />

com Paul, foi inspirada em<br />

alguns desenhos feitos por<br />

Julian, filho de John. Polêmi-<br />

cas à parte, o fato é que além<br />

de suas iniciais formarem o<br />

termo L.S.D., esta faixa se tornou<br />

um clássico do<br />

psicodelismo, pela sua letra e<br />

arranjos “surreais”. Prossegue<br />

com “Getting Better”, canção<br />

com clima e letra bastante otimistas.<br />

Depois vem “Fixing A<br />

Hole” no qual Paul faz uma<br />

analogia com “o buraco na sua<br />

estrutura que impede sua mente<br />

de seguir em frente” e segue<br />

com “She’s Leaving<br />

Home”, que relata de forma<br />

triste o conflito de gerações,<br />

pois conta a história de uma<br />

jovem que abandona a casa<br />

dos pais por sentir falta de<br />

atenção e carinho, ao que estes<br />

ficam perplexos, pois “nós<br />

lhe demos tudo que o dinheiro<br />

pode comprar”.<br />

Para encerrar o Lado A temos<br />

“Being For The Benefit Of<br />

Mr.Kite!”, canção que serve de<br />

contraponto à melancolia da<br />

anterior, devido à atmosfera<br />

meio “circense” recriada pela<br />

banda.<br />

O Lado B começa com<br />

“Within You, Without You”,<br />

composição de Harrison que<br />

segue a linha de seus trabalhos<br />

da época com influências<br />

indianas. Depois temos<br />

quatro faixas bem divertidas e<br />

descompromissadas: a primeira<br />

é “When I’m Sixty-Four”,<br />

no qual Paul canta as alegrias<br />

de ter 64 anos(!) de idade – de<br />

acordo com ele, esta canção foi<br />

feita em homenagem ao seu<br />

15<br />

pai; a segunda é “Lovely Rita<br />

Meter Maid”, dedicada às<br />

moças que cuidavam do<br />

parquímetro (aparelho utilizado<br />

para controlar o tempo em<br />

que um carro permanecia estacionado<br />

nos EUA e Inglaterra<br />

naquela época – processo<br />

similar ao que no Brasil chamamos<br />

de “Área Azul”).<br />

Após o canto de um galo<br />

temos a terceira faixa – “Good<br />

Morning, Good Morning”, canção<br />

animadíssima que serve de<br />

prenúncio à despedida da<br />

Banda do Sargento Pimenta<br />

em “Sgt.Pepper’s Lonely<br />

Hearts Club Band (reprise)”.<br />

Mas enquanto a banda vai se<br />

despedindo começam os primeiros<br />

acordes de “A Day In<br />

The Life”, intrigante canção<br />

que forma um verdadeiro painel<br />

sonoro ao mesmo tempo<br />

em que trata de problemas<br />

existenciais de uma forma totalmente<br />

inédita até então! Ao<br />

final dela temos um longo<br />

acorde (cerca de 40 segundos)<br />

produzido por três pianos, e<br />

em seguida um som emitido<br />

em 20 mil hertz – audível somente<br />

para cães.<br />

Descrito assim, através de<br />

palavras, é impossível se ter<br />

uma idéia da riqueza dos arranjos,<br />

mas ouçam e descubram<br />

porque esse é um dos<br />

álbuns mais importantes da<br />

história do Rock, pois com ele<br />

o Rock foi elevado à categoria<br />

de “Arte”e o mundo nunca<br />

mais foi o mesmo.<br />

Foto: johngushue.typepad.com<br />

Obra-prima - Radiohead imprime som experimental em Ok Computer e revela medos de integrantes<br />

Músicas compostas de traumas<br />

Felipe Duarte<br />

O 3º álbum do Radiohead,<br />

o OK Computer, faz 10 anos<br />

em 2007. Lançado sob muitas<br />

suspeitas se seria um bom<br />

trabalho dando continuidade<br />

aos dois primeiros CD’s, cheios<br />

de hits, OK Computer mudou<br />

um pouco a face do grupo,<br />

se utilizando de muitas<br />

ferramentas experimentais,<br />

que nos dois álbuns seguintes<br />

ficou muito claro, pois<br />

não foi utilizado nenhuma<br />

guitarra num CD de banda de<br />

rock.<br />

Este terceiro disco contribui<br />

para mostrar a personalidade<br />

do grupo, principalmente<br />

do vocalista Thom<br />

Yorke. Já em sua primeira<br />

música, Airbag, mostra um<br />

dos traumas do vocalista.<br />

Thom tem muito medo de<br />

andar de carros, pela quantidade<br />

de acidentes que se<br />

mostra. Airbag é uma das<br />

músicas destinadas a este<br />

tema. Uma de suas composições,<br />

que não se encontra<br />

neste CD, se intitula Killer<br />

Cars (Carros Assassinos), o<br />

que já fala muito por si só.<br />

Na segunda faixa,<br />

Paranoid Android (Andróide<br />

Paranóico), a letra é inspirada<br />

no livro, que mais tarde<br />

virou filme, Guia do<br />

Mochileiro das Galáxias,<br />

mais precisamente do robô<br />

que acompanhava os viajantes.<br />

Todas as referências do<br />

Radiohead mostra suas<br />

vivências, sejam elas a própria<br />

vida, um filme, notícias<br />

que viram na TV, etc.<br />

Diferente do esperado,<br />

este álbum atingiu grande<br />

conceito, e teve muitas músicas<br />

de sucesso. A mais destacada<br />

é a Karma Police (Polícia<br />

do Carma), que com um<br />

ritmo cheio de amargor e voz<br />

desesperadora faz o ouvinte<br />

repensar ações e pensar em<br />

melhoras num futuro. Mas a<br />

amargura não se prende só a<br />

esta música. A quarta faixa,<br />

Exit Music(For a Film) Música<br />

de Sáida(Para um Filme),<br />

o grupo fez com o intuito de<br />

tocar no fim de um filme,<br />

pois, para o grupo, é perfeita<br />

para qualquer um. Mas a melodia<br />

é levada em ritmo de<br />

suicídio ao cortar os pulsos,<br />

angustiante e vagarosamente.<br />

Obra-prima do rock alternativo,<br />

OK Computer, traz o<br />

uso dos efeitos eletrônicos<br />

nas composições sem exageros,<br />

como feito nos anos 80.<br />

Este álbum não pode se encaixar<br />

em um estilo, pois<br />

trouxe uma sobrevida ao<br />

rock, que em ciclos, volta a<br />

vida por um grupo que inova.<br />

Ainda em 2007, é esperado<br />

um novo CD do<br />

Radiohead, que lançou seu<br />

sexto álbum em 2003, e nunca<br />

ficou tanto tempo sem lançar<br />

algo.

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