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Apresentação <strong>atípica</strong> do linfoma de Burkitt: relato de caso / Caldeira SFJ et al.<br />
Relato de Caso<br />
Apresentação <strong>atípica</strong> do linfoma de Burkitt:<br />
relato de caso<br />
Sandro Ferreira Caldeira Junior1 , Lucas Rios Torres1 , Ricardo Mendes Rogério1 , Leonardo Lopes<br />
de Macedo1 , Francisco Ferri1 , Ricardo Pires de Souza2 Descritores:<br />
Linfoma de Burkitt; Tomografia; Abdome.<br />
Recebido para publicação em 29/5/2006. Aceito,<br />
após revisão, em 22/5/2007.<br />
Trabalho realizado no Serviço de Radiologia e Diagnóstico<br />
por Imagem do Hospital Heliópolis, São<br />
Paulo, SP.<br />
1<br />
Médicos Residentes do Serviço de Radiologia e<br />
Diagnóstico por Imagem do Hospital Heliópolis.<br />
2<br />
Médico Radiologista Assistente do Serviço de<br />
Radiologia e Diagnóstico por Imagem do Hospital<br />
Heliópolis, Doutor em Radiologia pela Universidade<br />
de São Paulo (USP).<br />
Correspondência: Dr. Sandro Ferreira Caldeira Junior.<br />
Rua Paulo Orozimbo, 1100, ap. 33, Cambuci.<br />
São Paulo, SP, 01535-001. E-mail: sandro_cal@<br />
yahoo.com.br<br />
Resumo<br />
Linfoma de Burkitt é um linfoma de células B altamente agressivo e proliferativo do tipo não-<br />
Hodgkin. Relatamos o caso de um adulto jovem com perda de peso e massa abdominal. A tomografia<br />
computadorizada do abdome evidenciava grande massa abdominal com calcificações. Não<br />
havia sido feito qualquer tipo de tratamento. O diagnóstico foi confirmado com estudo anatomopatológico<br />
e imuno-histoquímico.<br />
Atualmente, o linfoma de Burkitt é classificado como um subtipo de linfoma não-<br />
Hodgkin de alto grau, juntamente com os linfomas de grandes células e os linfoblásticos<br />
[1] . O caso aqui apresentado refere-se à variante esporádica da doença, abdominal,<br />
típica da forma americana [2] . Calcificações foram identificadas antes do tratamento,<br />
achado bastante raro em linfomas [2–8] . Apesar de muito agressivo e de crescimento<br />
rápido, o linfoma de Burkitt é potencialmente curável com o uso de poliquimioterapia<br />
específica [9] .<br />
RELATO DO CASO<br />
Paciente negro, do sexo masculino, 27 anos de idade, natural e procedente do<br />
estado da Bahia, procurou o serviço de cirurgia geral do Hospital Heliópolis/SP, com<br />
queixa de perda de peso associada a edema de todo o membro inferior direito. A<br />
doença evoluiu por dez meses e sem tratamento algum. Ao exame físico notou-se<br />
volumosa massa abdominal endurecida e indolor, que se estendia para a região<br />
suprapúbica. Havia também bloco linfonodal palpável e doloroso na fossa ilíaca<br />
direita. Edema importante de todo o membro inferior direito e linfocele foram<br />
observados. Exames posteriores mostraram sorologia negativa para HIV e EBV.<br />
O paciente foi submetido a tomografia computadorizada do abdome, que evidenciou<br />
extensa massa abdominopélvica com calcificações (Figs. 1 e 2).<br />
Foi realizada biópsia a céu aberto da massa abdominal e do bloco linfonodal à<br />
direita e o estudo anatomopatológico e imuno-histoquímico mostrou tratar-se de<br />
linfoma de Burkitt, com CD-20 positivo, Bcl-2 negativo e KI-67 de 90%. O paciente<br />
recebeu regime de quimioterapia combinada e já com duas semanas de tratamento<br />
observou-se redução visível do tumor (Fig. 3).<br />
DISCUSSÃO<br />
Descrito pela primeira vez em 1958 por Burkitt, na África [10] , esse linfoma comumente<br />
apresenta-se com adenopatia de crescimento rápido, sintomas B (febre<br />
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Caldeira SFJ et al. / Apresentação <strong>atípica</strong> do linfoma de Burkitt: relato de caso<br />
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➘<br />
Fig. 1 – Tomografia computadorizada sem contraste intravenoso<br />
demonstrando massa de atenuação semelhante a alças intestinais e<br />
com calcificações, ocupando toda a pelve e deslocando a bexiga<br />
lateralmente para a esquerda (seta).<br />
inexplicada, sudorese noturna e perda ponderal de<br />
mais de 10%) e elevado nível de desidrogenase lática [9] .<br />
Do ponto de vista epidemiológico, foram descritas quatro<br />
variantes: a forma esporádica, a endêmica, a associada<br />
à infecção pelo HIV e como uma desordem proliferativa<br />
pós-transplante [9] .<br />
A tomografia computadorizada é o exame de imagem<br />
de escolha, tanto para o diagnóstico como para o<br />
seguimento pós-tratamento [9,11–13] . A ressonância magnética<br />
tem papel fundamental no rastreamento do sistema<br />
nervoso e em pacientes com contra-indicações ao<br />
contraste iodado [13] .<br />
Massa abdominal e/ou pélvica, ascite, massa retroperitoneal,<br />
esplenomegalia, nefromegalia e espessamento<br />
da parede gástrica são alguns dos achados mais comuns<br />
na forma esporádica [14] . Calcificações em linfomas após<br />
radioterapia ou quimioterapia inferem bom prognóstico,<br />
podendo ocorrer, em média, oito meses após tratamento<br />
em 2% a 8% dos casos [2] . No entanto, sem nenhum<br />
tratamento prévio são achado extremamente raro<br />
(0,84%), com somente alguns poucos casos relatados na<br />
literatura [2–8] . Apter e cols. [2] , em estudo retrospectivo,<br />
observaram que os linfomas que se apresentavam com<br />
calcificações antes do tratamento tiveram comportamento<br />
mais agressivo. As calcificações podem ser provenientes<br />
tanto de topografia nodal como extranodal [2] .<br />
Morfologicamente, o linfoma de Burkitt aparece<br />
como um padrão difuso de células de médio tamanho,<br />
monomórficas, com núcleos redondos, múltiplos nucléolos<br />
e citoplasma basofílico [9] . Macrófagos espalhados<br />
caracterizam o que é chamado de padrão em “céu es-<br />
Fig. 2 – Tomografia computadorizada com contraste intravenoso<br />
demonstrando grande massa abdominal discretamente heterogênea,<br />
com área hipoatenuante em seu interior correspondendo a necrose.<br />
Esta última infere padrão rapidamente proliferativo da doença.<br />
Fig. 3 – Tomografia computadorizada sem contraste intravenoso duas<br />
semanas após o início do tratamento já demonstrando certa redução<br />
da massa e agrupamento das calcificações anteriormente descritas<br />
(comparar com a Fig. 1).<br />
trelado” [9] . O imunofenótipo geralmente demonstra<br />
antígenos associados a células B, como CD-10, CD-19,<br />
CD-20, CD-22 e CD-43 [9] . O uso de KI-67, um marcador<br />
ciclo-específico, geralmente demonstra mais de 95%<br />
das células no ciclo reprodutivo celular, denotando o<br />
padrão proliferativo da doença [9] . Bcl-6 positivo e Bcl-<br />
2 negativo também fazem parte do quadro [15] .<br />
CONCLUSÃO<br />
O linfoma de Burkitt é neoplasia rara e com a maior<br />
taxa de crescimento em relação a outras neoplasias em<br />
Rev Imagem 2007;29(1):25–27
seres humanos [13] . A suspeita diagnóstica sempre deve<br />
ser feita em paciente jovem com massa intra-abdominal<br />
de crescimento rápido. Além disso, o fato de haver calcificações<br />
durante a <strong>apresentação</strong> inicial não afasta a possibilidade<br />
de o tumor ser, de fato, um linfoma.<br />
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Apresentação <strong>atípica</strong> do linfoma de Burkitt: relato de caso / Caldeira SFJ et al.<br />
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14. Krudy AG, Dunnick NR, Magrath IT, Shawker TH, Doppman<br />
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Pathol 2005;29:1086–94.<br />
Abstract. Uncommon presentation of Burkitt’s lymphoma: a case report.<br />
Burkitt’s lymphoma is a rapidly proliferating, highly aggressive Bcell<br />
lymphoma of non-Hodgkin subtype. We present a case of a<br />
young adult with weight loss and abdominal mass. A computed<br />
tomography of abdomen showed a bulky abdominal mass with<br />
calcifications. It has not previously been done any type of treatment.<br />
The diagnostic was made by pathology and immunohistochemistry.<br />
Keywords: Burkitt’s lymphoma; Tomography; Abdomen.<br />
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