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<strong>Holocausto</strong> <strong>Judeu</strong> <strong>–</strong> <strong>didactização</strong>.<br />
Autoria: Fernanda Gabriela Sousa Henriques<br />
1<br />
Adaptação e revisão: A.P.H.<br />
O <strong>Holocausto</strong>, ou sacrifício de milhões de vítimas, circunscreve-se aqui aos judeus.<br />
Estabelece-se um percurso semelhante àquele sentido pelo espectador que assiste a uma<br />
peça: apresenta-se um palco e um cenário, com cores e formas que o situam no tempo e<br />
no espaço, que começam a oferecer-lhes pistas, dados. De seguida apresentam-se os<br />
protagonistas, conhecemos-lhes a história. Por fim desenrola-se a acção, permanecendo<br />
sobretudo algumas imagens, uma percepção global do fenómeno mas,<br />
fundamentalmente, as interrogações, novas perspectivas, opiniões.<br />
Não se pretende aqui a exaustividade na abordagem do fenómeno. Optou-se antes pela<br />
definição a partir de vectores principais: quando começou, através de que mecanismos,<br />
em que consistiu. As fontes e os textos são infinitamente mais loquazes. Deixemo-los<br />
falar.<br />
Protagonistas da acção<br />
Como numa peça de teatro, começa por montar-se o cenário: será ele o primeiro<br />
elemento que situará o público.<br />
Deixando na obscuridade os regimes autoritários da Itália de Mussolini ou da Espanha<br />
de Franco, o destaque far-se-á para uma Alemanha que, ao longo dos anos trinta do<br />
século XX, colocou em causa o sistema internacional da Sociedade das Nações. Como?<br />
Através da infracção gradual dos princípios da segurança colectiva delineados por esta<br />
última. Sustentado pelo Tratado de Versalhes, segundo o qual as medidas concernentes<br />
ao desarmamento alemão seriam seguidas a médio e longo prazo de uma limitação<br />
global dos armamentos a todas as nações, a Alemanha defendeu que caso esta situação<br />
não se concretizasse, não existia legitimidade para lhe ser exigido acto semelhante<br />
(Bernard Droz, 1988, p. 66).<br />
Em 1933 a Alemanha abandonou a Sociedade das Nações e iniciou o rearmamento.<br />
Perante a tentativa de expansão territorial alemã, os países ocidentais adoptaram uma<br />
política inicial de apaziguamento, conciliação, negociação. A guerra civil de Espanha,<br />
em 1936, constituiu um ensaio militar e diplomático entre várias potências. Em 29 de<br />
Setembro de 1938, os Aliados reuniram-se com a Alemanha e a Itália (Conferência de
Munique), numa outra tentativa de apaziguamento (a ocupação da Áustria e a separação<br />
do “País dos Sudetas” deveria ser suficiente para os alemães). Em 23 de Agosto de 1939<br />
assinou-se o Pacto de Não Agressão Germano-Soviético, que garantia a segurança das<br />
fronteiras a Leste, mas o “corredor polaco” foi invadido a 1 de Setembro pela<br />
Alemanha. Dois dias mais tarde, a França e a Inglaterra declararam guerra à Alemanha.<br />
Adolf Hitler<br />
Nasceu em Braunau, a 20 de Abril de 1889.<br />
Propõe-se a elaboração de uma biografia sintetizada.<br />
Os <strong>Judeu</strong>s<br />
Segundo uma estatística datada de 1938 (ver Grande Enciclopédia Portuguesa e<br />
Brasileira, Volume XIV, p. 345), o número de judeus que habitava o espaço alemão era<br />
de 450.000 (cerca de 0,7% da população), quantidade menor quando comparada com os<br />
3.050.000 da Polónia (10,4% da população) ou os 4.500.000 dos Estados Unidos da<br />
América (3,5% da população).<br />
De acordo com o Antigo Testamento, todos têm origem em Abraão, o primeiro homem<br />
a quem Deus se revelou, estabelecendo com ele e com a sua descendência uma aliança<br />
em que lhe entrega a terra prometida e preconiza o exílio e a diáspora: “O Senhor disselhe:<br />
«fica desde já a saber que os teus descendentes habitarão como estrangeiros numa<br />
terra que não é deles, que serão reduzidos à escravidão e oprimi-los-ão durante<br />
quatrocentos anos. Mas julgarei também a nação que os escravizar, e sairão, depois,<br />
com grandes riquezas dessa terra. (…) Apenas à quarta geração eles voltarão para aqui».<br />
(…) Naquele dia, o Senhor estabeleceu aliança com Abraão, dizendo-lhe: «dou esta<br />
terra à tua descendência desde o rio do Egipto até ao grande rio, o Eufrates»” (Gn 15, in<br />
Bíblia Sagrada (1982). S.l.: Verbo). Por terem sido escolhidos entre tantos povos e terlhes<br />
sido prometida “a terra dos Quineus, dos Quineseus, dos Cadomneus, dos Heteus,<br />
dos Refaim, dos Ferezeus” (idem) entre outros, denominaram-se “o povo escolhido”.<br />
Depois da partida de Abraão para o Egipto e, mais tarde, depois do êxodo liderado por<br />
Moisés que recebeu a revelação da Tora no Monte Sinai (conjunto de textos sagrados<br />
que, entre outros aspectos, referem a concepção do mundo e os princípios que o Homem<br />
deve seguir para se aproximar de Deus e dos seus desígnios), o povo judeu seria<br />
condenado a vaguear pelo deserto durante quarenta anos. Seria o primeiro dos exílios. A<br />
dispersão do povo judeu prolonga-se desde a Antiguidade até ao século XX. Este povo<br />
que perdera a pátria, disseminou-se pelo mundo depois de os romanos conquistarem um<br />
Império e adaptou-se a uma sociedade cristã que reconhecera em Jesus Cristo o<br />
Messias, embora continuasse a aguardar a era messiânica e o renascimento de Israel,<br />
após a quarta geração, conforme a palavra de Deus.<br />
2
Acusados da morte de Jesus Cristo e marginalizados, veriam estipulada a proibição da<br />
vivência em comunidade entre judeus e cristãos no III Concílio de Latrão, em 1179.<br />
Surgiram assim as judiarias, espaços nos centros urbanos onde se concentravam os<br />
judeus, separados da população cristã, mas próximos dos circuitos comerciais. O judeu<br />
não se escondia, diferenciava-se pela religião, pela roupa, pelos hábitos culturais. Fazia<br />
parte da sua formação a leitura dos textos sagrados, a sua interpretação e argumentação<br />
e, enquanto a maioria da população era analfabeta, qualquer judeu sabia ler, escrever,<br />
fazer cálculos aritméticos. Em determinados reinos foram proibidos de possuir terras,<br />
mas de certa forma isso abriu-lhes as portas ao desenvolvimento das transacções<br />
comerciais, das actividades artesanais, do estudo das ciências (grande número dos<br />
médicos do reino português eram judeus e foram físicos do rei D. João I, de D. Afonso<br />
V, de D. Manuel), da prática da usura <strong>–</strong> proibida aos cristãos, exercida por indivíduos<br />
com riqueza proveniente do comércio. Ao longo do tempo, a imagem do judeu foi<br />
sendo construída a partir da antipatia social, do ressentimento perante a sua riqueza e<br />
conhecimentos. Um ano em que as más colheitas, as pestes ou guerras trouxessem a<br />
miséria e a insegurança era um ano marcado por pogroms, ataques maciços, dirigidos,<br />
que tinham como alvo frequente os judeus. Alvo de baptismos forçados ou de<br />
expulsões, dirigiram-se nos séculos XV e XVI para as Províncias Unidas, Itália,<br />
Turquia, continuando a assegurar o contacto com os circuitos comerciais, mantendo<br />
práticas e princípios religiosos. O século XIX veria nascer o conceito de anti-semitismo<br />
ou racismo científico (G. Miedzianagora e G. Jofer, 1995, p. 16), concentrado na<br />
população judaica considerada uma raça inferior, degenerescente, a quem eram<br />
atribuídos objectivos de destruição das raças puras com as quais se cruzavam. A<br />
teorização sobre estes conceitos foi vasta e a raça branca destacava-se da negra e da<br />
amarela mas, dentro da branca, os arianos eram claramente superiores (Arthur de<br />
Gobineau) e a sua sobrevivência dependia também da selecção dos melhores elementos<br />
e da eliminação dos inferiores e perniciosos.<br />
3
Materiais<br />
O processo de genocídio <strong>–</strong> cronologia<br />
A partir do momento em que Hitler se tornou chanceler da Alemanha (a 30 de Janeiro<br />
de 1933) e a Alemanha abandonou a Sociedade das Nações (em Outubro do mesmo<br />
ano), a concepção política que apresentara na sua obra, fundamentada numa série de<br />
teorias, passa à fase de concretização e a discriminação foi legislada (G. Miedzianagora<br />
e G. Jofer, 1995):<br />
1933<br />
Os judeus emigrantes foram desnaturalizados.<br />
Foi negado aos judeus o direito de exercerem serviço na função pública.<br />
Foram impedidos de trabalhar na imprensa e na rádio.<br />
Foram excluídos da actividade agrícola.<br />
1934<br />
Foram proibidos de participar na bolsa de valores, assim como serem cambistas ou<br />
correctores.<br />
1935<br />
Os judeus alemães foram impedidos do uso da cidadania.<br />
Foram proibidos de casar ou ter relações extramatrimoniais com pessoas de sangue<br />
alemão.<br />
Foram excluídos das forças armadas.<br />
Passaram a ser distinguidos dentro dos povos “não arianos”, definição feita a partir da<br />
presença de judeus na ascendência individual.<br />
1936<br />
Foi-lhes negado o direito ao voto.<br />
1938<br />
Considerados inferiores, foram-lhes negadas liberdades e privilégios, nomeadamente o<br />
acesso a certas áreas da cidade, passeios públicos, transportes, locais de divertimento e<br />
restaurantes.<br />
Foi-lhes proibida a prática legal da medicina.<br />
Foram excluídos dos negócios alemães.<br />
Todas as fortunas de valor superior a 5000 marcos passaram a ser obrigatoriamente<br />
entregues às autoridades.<br />
A partir de 23 de Julho passaram a utilizar um Bilhete de Identidade diferente.<br />
4
A partir de 27 de Agosto tiveram que acrescentar “Sara” ou “Israel” aos seus próprios<br />
nomes.<br />
A partir de 5 de Outubro devia constar um J vermelho nos seus passaportes.<br />
As crianças foram expulsas das escolas alemãs.<br />
Na Alemanha e na Áustria, de 9 para 10 de Novembro (a “Noite de Cristal” <strong>–</strong><br />
Kristallnacht) partiram-se vidros das lojas que entretanto se destruíram, sinagogas,<br />
habitações, causando a morte de cerca de 2000 judeus e a detenção de cerca de 30000.<br />
Foi justificada por causa de um alegado assassinato cometido por um judeu a um adido<br />
da embaixada alemã em França.<br />
1939<br />
Foram proibidos da prática de odontologia.<br />
1941<br />
Foi definido um plano cronológico do genocídio do povo judeu <strong>–</strong> a solução final. Em<br />
Auschwitz-Birkenau seriam mortos mais de um milhão de judeus. Em Belzec foram<br />
gaseados cerca de 600.000, em Treblinka 700.000, para além de Dachau. A<br />
correspondência oficial que circulava entre as altas patentes das forças armadas alemãs<br />
falava de procedimentos para evitar a inquietude dos que iam morrer, de custos, da<br />
eficácia dos instrumentos utilizados e ainda de experiências científicas, de testes à<br />
resistência humana (ver documentos). Morreram 6.000.000 de pessoas (documento 6)<br />
A estrela de David cozida na roupa identificava-os. Foram separados em guetos e depois<br />
seleccionados entre aptos e não aptos para o trabalho. Os últimos eram exterminados,<br />
mas tudo o que lhes pertencia era aproveitado (documento 4): “Em adenda à minha<br />
directiva de 20 de Junho de 1944, solicito que as pessoas sujeitas ao tratamento especial<br />
sejam enviadas para um crematório para serem cremadas se possível” (Memorando do<br />
Quartel-General da Gestapo, 15 de Janeiro de 1944 in Trials of War Criminals before<br />
the Nuremberg Military Tribunals. Washington: U.S. Government Print Office, vol. IV<br />
1949-1953, p. 1166).<br />
Com a proximidade do fim da guerra tentou apagar-se a memória exumando corpos,<br />
queimando ossos, desfazendo-os, queimando documentos. Depois da guerra terminada,<br />
muitos recusaram acreditar.<br />
5
In http://www.us-israel.org/jsource/holocaust.html<br />
7
In http://www.us-israel.org/jsource/holocaust.html<br />
8
In http://www.us-israel.org/jsource/holocaust.html<br />
9
In http://www.mazal.org/archive.htm<br />
10
In http://www.us-israel.org/jsource/holocaust.html<br />
11
In http://www.us-israel.org/jsource/holocaust.html<br />
12
Antes da visualização do filme A Lista de Schindler, realizado por Steven Spielberg, em<br />
1993, propõe-se a leitura do seguinte texto:<br />
Leon Uris, Exodus (excerto):<br />
13
Leon Uris (1958?). Exodus (capítulo XIV). s.l.: Publicações Europa-América, pp. 87-90<br />
Guião<br />
Realizado por Steven Spielperg, em 1993, retrata o genocídio judeu durante a Segunda<br />
Guerra Mundial.<br />
Elenco: Liam Neeson (Oskar Schindler); Bem Kingsley (Itzhak Stern); Ralph Fiennes<br />
(Amon Goeth); Caroline Goodall (Emilie Schindler)…<br />
14
Oskar Schindler foi um alemão que, durante a Segunda Guerra Mundial utilizou, na sua<br />
fábrica situada na Polónia ocupada, mão-de-obra escrava judia. Quando, a partir de<br />
1944, o Estado Alemão se apercebeu da proximidade da derrota, acelerou a “solução<br />
final”, um projecto para exterminar o povo judeu. O genocídio já em curso desde finais<br />
dos anos trinta, acelerou-se.<br />
Foi nesta altura que, através da astúcia e do dinheiro, Oskar Schindler procurou salvar<br />
as vidas daqueles que trabalhavam para si. Elaborou uma lista com cerca de 1200<br />
nomes, requisitando-os para trabalharem na sua fábrica, justificando tal acto com a<br />
necessidade de pessoal especializado. Nas palavras de Itzhak Stern “a lista é vida”.<br />
Ver http://alistadeschindler.com/Filme; http://alistadeschindler.com/OskarSchindler; http://alistadeschindler.com/GuetoDeCracovia;<br />
http://alistadeschindler.com/<strong>Holocausto</strong> (acedidos em 28.08.2008)<br />
Repare nos seguintes aspectos:<br />
Nos textos introdutórios e nas datas.<br />
Na burocracia.<br />
Na organização dos guetos.<br />
Na selecção dos judeus.<br />
Nos objectos pessoais dos judeus.<br />
Nos discursos.<br />
Nos meios de controle da população.<br />
Nos meios de transporte dos judeus.<br />
Actividade escrita:<br />
1. Situe o local onde decorre a acção.<br />
2. Identifique a condição necessária ao sucesso de qualquer negócio, segundo<br />
Schindler.<br />
3. Refira o fim dado aos objectos pessoais dos judeus.<br />
4. Refira o que distinguia a divisão do gueto de Cracóvia, em 1942.<br />
5. Relacione o destino dado aos prisioneiros judeus com a profissão exercida por<br />
cada um.<br />
6. Descreva o processo de execução do genocídio.<br />
15
Bibliografia:<br />
(para além da referenciada nos materiais)<br />
DROZ, Bernard e ROWLEY, Anthony (1988). História do século XX. Lisboa: Publicações<br />
Dom Quixote.<br />
MIEDZIANAGORA, G. e JOFER, G. (1995). Objectivo extermínio. s.l.: Veja.<br />
NOUSHI, Marc (s.d.). O século XX. s.l.: Instituto Piaget.<br />
SZLAKMONN, Charles (1998). Judaísmo para principiantes. Lisboa: Publicações Dom<br />
Quixote.<br />
VIDAL, César (1995). El <strong>Holocausto</strong>. Madrid: Alianza Editorial, co.<br />
http://www.mazal.org/Auschwitz%20Aerial/08-25-44%20001.htm<br />
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