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Fernão Lopes, Crónica de D. João I – “Do alvoroço que foi na ...

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<strong>Fernão</strong> <strong>Lopes</strong>, <strong>Crónica</strong> <strong>de</strong> D. <strong>João</strong> I <strong>–</strong> <strong>“Do</strong> <strong>alvoroço</strong> <strong>que</strong> <strong>foi</strong><br />

<strong>na</strong> cida<strong>de</strong> cuidando <strong>que</strong> matavom o Meestre, e como aló <strong>foi</strong><br />

Alvaro Paaes e muitas gentes com ele” (Capítulo XI) <strong>–</strong><br />

Dramatização.<br />

1<br />

Autoria: Vanda Jordão<br />

Adaptação e revisão: A.P.H.<br />

Preten<strong>de</strong>-se contrariar a falta <strong>de</strong> comunicação, o <strong>de</strong>sânimo, o distanciamento <strong>na</strong> sala <strong>de</strong><br />

aula através da partilha, da valorização das competências huma<strong>na</strong>s, da utilização <strong>de</strong><br />

elementos lúdicos. As activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> expressão dramática potenciam o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> aptidões artísticas e a troca <strong>de</strong> experiências pessoais ao mesmo tempo <strong>que</strong> se revelam<br />

métodos <strong>de</strong> trabalho eficazes e pessoalmente transformadores, consolidando processos<br />

<strong>de</strong> crescimento e maturação através da reflexão, crítica, <strong>de</strong>bate, solidarieda<strong>de</strong>, respeito<br />

mútuo. Os alunos po<strong>de</strong>rão fazê-lo através <strong>de</strong> problemas mais prementes, <strong>que</strong> existam<br />

<strong>de</strong>ntro ou fora da escola, escrevendo os seus próprios textos, ou apropriando-se <strong>de</strong><br />

outros <strong>que</strong> po<strong>de</strong>rão dar origem a pe<strong>que</strong>nos sketches ou a trabalhos mais elaborados. O<br />

recurso a jogos dramáticos, à expressão corporal, a exercícios <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinibição, ao<br />

improviso, ao trabalho <strong>de</strong> voz, à concentração, são também aspectos importantes <strong>que</strong><br />

<strong>de</strong>vem ser introduzidos neste tipo <strong>de</strong> trabalhos <strong>que</strong> compete ao professor gerir e<br />

di<strong>na</strong>mizar.<br />

É também uma activida<strong>de</strong> catalisadora <strong>de</strong> experiências multidiscipli<strong>na</strong>res, para on<strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>rão convergir os contributos <strong>de</strong> várias discipli<strong>na</strong>s: Educação Física (o controlo do<br />

corpo, dos movimentos é fundamental), Educação Visual ou Desenho (<strong>na</strong> construção <strong>de</strong><br />

cenários, por exemplo), Português e História, ou ainda Educação Musical e Têxteis,<br />

quando exista.<br />

Para este exemplo específico <strong>que</strong> aqui se propõe, professor e aluno são (re)criadores, os<br />

últimos igualmente actores e, simultaneamente, ence<strong>na</strong>dores, transformando um texto<br />

<strong>na</strong>rrativo em dramático, inserindo-o no contexto das crises e da revolução do século<br />

XIV em Portugal. Em simultâneo trabalhar-se-ão conceitos <strong>de</strong> “in<strong>de</strong>pendência<br />

<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l”, “i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>”, “revolução”.<br />

A turma teria <strong>de</strong> dividir-se numa primeira fase em grupos <strong>de</strong> trabalho: o dos actores, os<br />

ence<strong>na</strong>dores, os responsáveis pelo guarda-roupa, os cenógrafos. Previamente o texto<br />

origi<strong>na</strong>l <strong>de</strong>veria ser trabalhado, reformulado, reescrito <strong>na</strong> tentativa <strong>de</strong> o simplificar ou<br />

adaptar.


Título provável: O rei <strong>que</strong> o povo escolheu<br />

D. <strong>João</strong> I, décimo Rei <strong>de</strong> Portugal, <strong>na</strong>sceu em<br />

Lisboa a 11 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1357 e morreu <strong>na</strong><br />

mesma cida<strong>de</strong> a 14 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1433.<br />

D. <strong>João</strong> era filho ilegítimo do rei D. Pedro I e<br />

<strong>de</strong> Teresa Lourenço (uma jovem filha do<br />

mercador lisboeta Lourenço Martins; embora<br />

durante muito tempo se tenha sustentado <strong>que</strong><br />

era <strong>de</strong> origem galega). Em 1364 <strong>foi</strong> consagrado<br />

Grão Mestre da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Avis.<br />

D. <strong>João</strong> I<br />

In http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_I_<strong>de</strong>_Portugal (acedido em 25.08.2008)<br />

O rei <strong>que</strong> o povo escolheu<br />

Autor <strong>–</strong> <strong>Fernão</strong> <strong>Lopes</strong><br />

Adaptação <strong>–</strong> Alunos da turma ___<br />

Ence<strong>na</strong>ção:<br />

Cenários:<br />

Guarda-roupa:<br />

Actores por or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> entrada em ce<strong>na</strong><br />

Narradores:<br />

Pajem:<br />

Álvaro Pais:<br />

Povo:<br />

Mestre:<br />

As do<strong>na</strong>s da cida<strong>de</strong>:<br />

Con<strong>de</strong>:<br />

2


Cronologia dos Acontecimentos<br />

1383<br />

1384<br />

1385<br />

Paz entre D. Fer<strong>na</strong>ndo <strong>de</strong> Portugal e <strong>João</strong> I <strong>de</strong> Castela, firmada em Elvas.<br />

Foi assi<strong>na</strong>do o contrato <strong>de</strong> casamento, em Salvaterra <strong>de</strong> Magos, entre a infanta D.<br />

Beatriz, filha <strong>de</strong> D. Fer<strong>na</strong>ndo e D. Leonor Teles, e <strong>João</strong> I <strong>de</strong> Castela.<br />

Morreu D. Fer<strong>na</strong>ndo, nono rei <strong>de</strong> Portugal.<br />

Regência <strong>de</strong> D. Leonor Teles.<br />

Revolução <strong>de</strong> Lisboa.<br />

<strong>João</strong> Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>s An<strong>de</strong>iro <strong>foi</strong> assassi<strong>na</strong>do pelo Mestre <strong>de</strong> Avis.<br />

O Mestre <strong>de</strong> Avis mandou pedir auxílio militar a Ricardo II <strong>de</strong> Inglaterra, por<br />

intermédio <strong>de</strong> Lourenço Martins e Daniel Inglês.<br />

O Mestre <strong>de</strong> Avis <strong>foi</strong> elevado, em Dezembro, a regedor e <strong>de</strong>fensor do Reino, após a<br />

revolta <strong>de</strong> Lisboa.<br />

O Bispo da Guarda facilitou a entrada do mo<strong>na</strong>rca castelhano <strong>na</strong><strong>que</strong>la cida<strong>de</strong>.<br />

D. <strong>João</strong> I <strong>de</strong> Castela chegou a Santarém, on<strong>de</strong> se encontrava Leonor Teles.<br />

D. <strong>João</strong> I <strong>de</strong> Castela cercou Lisboa.<br />

Batalha dos Atoleiros.<br />

D. <strong>João</strong> I <strong>de</strong> Castela seguiu para Sevilha.<br />

Epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Peste.<br />

Cortes <strong>de</strong> Lisboa.<br />

Início do rei<strong>na</strong>do <strong>de</strong> D. <strong>João</strong> I.<br />

Batalha <strong>de</strong> Aljubarrota.<br />

Batalha <strong>de</strong> Trancoso.<br />

Batalha <strong>de</strong> Valver<strong>de</strong>.<br />

Contexto histórico dos acontecimentos<br />

1) Outubro a Dezembro <strong>de</strong> 1383 <strong>–</strong> Regência <strong>de</strong> D. Leonor Teles<br />

Após a morte <strong>de</strong> D. Fer<strong>na</strong>ndo, ocorrida a 22 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1383 e, em<br />

conformida<strong>de</strong> com o Tratado <strong>de</strong> Salvaterra <strong>de</strong> Magos, <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1383, D.<br />

3


Leonor Teles, a “rainha viúva”, ocupou a regência <strong>de</strong> Portugal. Viviam-se<br />

tempos <strong>de</strong> crise, presente em todos os aspectos do quotidiano e, nesse aspecto<br />

Portugal não <strong>de</strong>stoou do panorama geral europeu, embora com aspectos muito<br />

próprios <strong>que</strong> o distinguem do restante mundo feudal.<br />

Após a aclamação <strong>de</strong> D. Beatriz e <strong>de</strong> D. <strong>João</strong> <strong>de</strong> Castela como reis <strong>de</strong> Portugal<br />

em todas as cida<strong>de</strong>s e vilas do Reino e ressalvados os seus direitos da regência, a<br />

Nação mostrou-se contrária ao <strong>que</strong> fora acordado, contestando <strong>na</strong>s ruas e<br />

provocando, inclusive, alguns tumultos em várias localida<strong>de</strong>s. Alguns fidalgos<br />

fervorosos “<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>listas” e muito povo cioso da in<strong>de</strong>pendência do Reino,<br />

<strong>de</strong>sejosos <strong>de</strong> um mo<strong>na</strong>rca verda<strong>de</strong>iramente português, revoltaram-se contra a<br />

conjuntura particularmente grave e contra duas das perso<strong>na</strong>lida<strong>de</strong>s <strong>que</strong> dirigiam<br />

os <strong>de</strong>stinos políticos <strong>de</strong> Portugal: D. <strong>João</strong> <strong>de</strong> Castela e D. Leonor Teles, a <strong>que</strong>m<br />

chamavam a Aleivosa. De modo <strong>que</strong> no Reino se protestava, fosse por interesse<br />

ou por medo <strong>de</strong> uns, fosse por vingança ou mesmo por patriotismo <strong>de</strong> outros,<br />

uma vez <strong>que</strong> a situação não admitia <strong>de</strong>longas.<br />

E assim o golpe eclodiu, gizado em gran<strong>de</strong> parte por Álvaro Pais, e contando<br />

com o apoio do movimento revolucionário <strong>de</strong> características sobretudo<br />

populares. No dia 6 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1383 D. <strong>João</strong>, Mestre <strong>de</strong> Avis, com o apoio<br />

do povo da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa (<strong>que</strong> houvera entretanto <strong>de</strong>positado no Mestre<br />

todos os seus anseios e esperanças), assassinou o nobre galego <strong>João</strong> Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>s<br />

An<strong>de</strong>iro <strong>que</strong>, segundo as más-línguas da época, se tor<strong>na</strong>ra amante <strong>de</strong> Leonor<br />

Teles. Depois, as circunstâncias precipitaram a história: o povo amotinou-se, a<br />

rebelião alastrou pelo Reino, a regente fugiu <strong>de</strong> Lisboa para Alen<strong>que</strong>r e, <strong>de</strong>pois,<br />

para Santarém, o Reino <strong>foi</strong> invadido militarmente por D. <strong>João</strong> I <strong>de</strong> Castela e o<br />

Mestre <strong>de</strong> Avis <strong>foi</strong> proclamado “Regedor e Defensor do Reino <strong>de</strong> Portugal”.<br />

2) Dezembro <strong>de</strong> 1383 a Abril <strong>de</strong> 1385 <strong>–</strong> o Interregno<br />

E com a nomeação do Mestre <strong>de</strong> Avis como “Regedor e Defensor do Reino <strong>de</strong><br />

Portugal” pelo povo <strong>de</strong> Lisboa, à revelia <strong>de</strong> todo o direito e contra todos os<br />

tratados da época, D. Beatriz e D. <strong>João</strong> <strong>de</strong> Castela, anteriormente aclamados,<br />

vêem o seu rei<strong>na</strong>do chegar ao fim e, com isso, a regência <strong>de</strong> D. Leonor Teles.<br />

Entrou-se assim num período em <strong>que</strong> não havia rei ou autorida<strong>de</strong> <strong>que</strong> actuasse<br />

em seu nome, num interregno, numa verda<strong>de</strong>ira crise. A situação <strong>que</strong> se vivia<br />

era tudo menos confortável. Com efeito, para além dos ânimos “efervescentes”<br />

<strong>que</strong> se sentiam por todo o Reino, o seu “Defensor” tinha ainda <strong>de</strong> contar com a<br />

ira do rei legítimo, D. <strong>João</strong> I <strong>de</strong> Castela, <strong>que</strong> se aprontava para invadir Portugal,<br />

com o apoio da Aleivosa. As opiniões dividiam-se, <strong>que</strong>braram-se juramentos e<br />

duas facções se afirmaram: a do Mestre <strong>de</strong> Avis, contando com o apoio <strong>de</strong> todos<br />

os fidalgos, prelados e povo; e a <strong>de</strong> D. <strong>João</strong> I, rei <strong>de</strong> Castela, <strong>que</strong> contava com o<br />

apoio <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte da nobreza e do clero <strong>de</strong> Portugal.<br />

Assim, em Janeiro <strong>de</strong> 1384, o mo<strong>na</strong>rca castelhano <strong>foi</strong> recebido em Portugal.<br />

Entretanto, D. Leonor Teles renunciou ao governo do Reino em favor <strong>de</strong> D.<br />

Beatriz e do seu marido. Foi feita prisioneira e enviada para o Mosteiro <strong>de</strong><br />

Tor<strong>de</strong>silhas. Lisboa <strong>foi</strong> cercada mas, e por<strong>que</strong> bem provida <strong>de</strong> armas e<br />

4


mantimentos, acabou por resistir ao assédio castelhano. Ape<strong>na</strong>s a fome e,<br />

<strong>de</strong>pois, a peste, puseram em <strong>de</strong>bandada o rei e as tropas castelha<strong>na</strong>s, em<br />

Setembro <strong>de</strong> 1384. O cerco a Lisboa contribuiu para <strong>que</strong> o Reino se unisse em<br />

prol <strong>de</strong> uma causa <strong>que</strong> já não era ape<strong>na</strong>s <strong>de</strong> uns mas <strong>de</strong> todos: a <strong>de</strong> um Portugal<br />

erguido contra Castela. Depois a história encarrega-se <strong>de</strong> contar o resto e a 6 <strong>de</strong><br />

Abril <strong>de</strong> 1385, as Cortes celebradas em Coimbra, puseram fim ao Interregno e<br />

aclamaram o Mestre <strong>de</strong> Avis como legítimo rei <strong>de</strong> Portugal.<br />

O rei <strong>que</strong> o povo escolheu<br />

Adaptação do Capítulo XI da <strong>Crónica</strong> <strong>de</strong> <strong>Fernão</strong> <strong>Lopes</strong>, D.<br />

<strong>João</strong> I ou <strong>“Do</strong> <strong>alvoroço</strong> <strong>que</strong> <strong>foi</strong> <strong>na</strong> cida<strong>de</strong> cuidando <strong>que</strong><br />

matavom o Meestre, e como aló <strong>foi</strong> Alvaro Paaes e muitas<br />

gentes com ele”<br />

Narrador (1): o pajem do Mestre estava à porta. Como lhe disseram <strong>que</strong> fosse pela vila<br />

segundo já era percebido, começou <strong>de</strong> ir rijamente a galope em cima do<br />

cavalo em <strong>que</strong> estava, dizendo em altas vozes, bradando pela rua:<br />

Pajem: Matam o Mestre!<br />

Matam o Mestre nos paços da rainha!<br />

Accorrei ao Mestre matam!<br />

Narrador (2): as gentes <strong>que</strong> isto ouviam, saíam à rua ver <strong>que</strong> coisa era; e começando a<br />

falar uns com os outros, alvoraçavam-se <strong>na</strong>s vonta<strong>de</strong>s, e começavam a<br />

tomar armas, cada um como melhor e mais asinha podia.<br />

Narrador (3): Álvaro Pais, <strong>que</strong> estava pronto e armado com uma coifa <strong>na</strong> cabeça (…),<br />

cavalgou logo à pressa (…), com todos os seus aliados, bradando a<br />

quais<strong>que</strong>r <strong>que</strong> achava, dizendo:<br />

Álvaro Pais: acorramos ao Mestre, amigos, acorramos ao Mestre <strong>que</strong> filho é d’El Rei<br />

D. Pedro!<br />

Narrador (4): Soaram as vozes do arruído pela cida<strong>de</strong>, ouvindo todos bradar <strong>que</strong><br />

matavam o Mestre; e assim (…) se dirigem todos <strong>de</strong> mão armada,<br />

correndo à pressa para on<strong>de</strong> diziam <strong>que</strong> tal se passava, para lhe darem a<br />

vida e o livrarem da morte.<br />

Narrador (5): Álvaro Pais não <strong>que</strong>dava <strong>de</strong> ir para lá, bradando a todos:<br />

Álvaro Pais: acorramos ao Mestre, amigos, acorramos ao Mestre <strong>que</strong> o matam sem<br />

porquê!<br />

Narrador (1): a gente começou <strong>de</strong> se juntar a ele e era tanta <strong>que</strong> era estranha coisa <strong>de</strong><br />

ver. Não cabiam pelas ruas principais, e atravessavam lugares escusos,<br />

5


<strong>de</strong>sejando cada um ser o primeiro; e perguntando uns aos outros <strong>que</strong>m<br />

matava o Mestre, não faltava <strong>que</strong>m respon<strong>de</strong>sse <strong>que</strong> o matava o con<strong>de</strong><br />

<strong>João</strong> Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>s, a mando da rainha.<br />

Narrador (2): e por vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, todos feitos dum coração com vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> o<br />

vingar, como foram às portas do Paço <strong>que</strong> eram já serradas (…),<br />

começaram a dizer:<br />

Povo:<br />

Uns: on<strong>de</strong> matam o Mestre?<br />

Outros: <strong>que</strong> é do Mestre?<br />

Uns: <strong>que</strong>m serrou estas portas?<br />

Narrador (3): ali eram ouvidos brados <strong>de</strong> <strong>de</strong>svairadas maneiras. Tais I havia <strong>que</strong><br />

certificavam <strong>que</strong> o Mestre era morto, pois as portas estavam serradas,<br />

dizendo <strong>que</strong> as britassem para entrar lá <strong>de</strong>ntro, e ver o <strong>que</strong> era feito do<br />

Mestre, ou <strong>que</strong> coisa era a<strong>que</strong>la.<br />

Narrador (4): dali bradavam por lenha e lume para porem no fogo aos paços, e <strong>que</strong>imar<br />

o traidor e a aleivosa. Outros se ficavam pedindo escadas para subir<br />

acima, para verem o <strong>que</strong> era feito do Mestre; e em tudo isto era o arruído<br />

tão gran<strong>de</strong> <strong>que</strong> se não entendiam uns com os outros, nem <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>vam<br />

coisa alguma.<br />

Narrador (5): <strong>de</strong> cima não faltava <strong>que</strong>m dissesse <strong>que</strong> o Mestre era vivo, e o con<strong>de</strong> <strong>João</strong><br />

Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>s morto; mas nisso não <strong>que</strong>ria nenhum crer, dizendo:<br />

Povo: pois se vivo é, mostrai-no-lo e vê-lo-emos!<br />

Narrador (1): então os do Mestre vendo tão gran<strong>de</strong> <strong>alvoroço</strong> como este, (…), disseram<br />

<strong>que</strong> fosse sua mercê <strong>de</strong> se mostrar à<strong>que</strong>las gentes, pois <strong>de</strong> outra maneira<br />

po<strong>de</strong>riam <strong>que</strong>brar as portas, ou pôr-lhes fogo.<br />

Narrador (2): ali se mostrou então o Mestre a uma gran<strong>de</strong> janela <strong>que</strong> vinha sobre a rua<br />

on<strong>de</strong> estava Álvaro Pais e as gentes e disse:<br />

Mestre: amigos, pacificai-vos, cá eu vivo e são sou, a Deus graças!<br />

Narrador (3): e (…) conhecendo-o todos claramente, houveram gran<strong>de</strong> prazer quando<br />

o viram, e diziam uns contra os outros:<br />

Povo:<br />

Uns: oh! Que mal fez! Pois <strong>que</strong> matou o traidor do con<strong>de</strong>, <strong>que</strong> não matou logo a<br />

aleivosa com ele!<br />

Outros: cre<strong>de</strong>s em Deus, ainda lhe há-<strong>de</strong> vir algum mal por ela!<br />

Uns: olhai e ve<strong>de</strong>, <strong>que</strong> malda<strong>de</strong> tão gran<strong>de</strong>! Mandaram-no chamar on<strong>de</strong> ia já <strong>de</strong> seu<br />

caminho, para o matarem aqui por traição!<br />

Outros: oh! Aleivosa! Já nos matou um senhor, e agora nos <strong>que</strong>ria matar outro!<br />

6


Uns: <strong>de</strong>ixai-a, cá ainda há mal <strong>de</strong> acabar por estas cousas <strong>que</strong> faz!<br />

Narrador (4): e, sem dúvida, se eles entrassem <strong>de</strong>ntro não se escusara a rainha <strong>de</strong><br />

morte, e fora maravilha quantos eram da sua parte e do con<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>rem<br />

escapar.<br />

Narrador (5): o Mestre estava à janela, e todos olhavam contra ele dizendo:<br />

Povo:<br />

Uns: oh, senhor! Como vos quiseram matar por traição!<br />

Outros: bento seja Deus <strong>que</strong> vos guardou <strong>de</strong>sse traidor!<br />

Uns: vin<strong>de</strong>-vos, daí ao <strong>de</strong>mo esses paços, não sejais lá mais!<br />

Narrador (1): e em dizendo isto, muitos choravam com prazer <strong>de</strong> o ver vivo. Vendo ele<br />

então <strong>que</strong> nenhuma dúvida tinha em sua segurança, <strong>de</strong>sceu afundo e<br />

cavalgou com os seus, acompanhado <strong>de</strong> todos os outros, <strong>que</strong> era<br />

maravilha <strong>de</strong> ver. Os quais (…) bradavam dizendo:<br />

Povo:<br />

Uns: <strong>que</strong> nos mandais fazer, senhor?<br />

Outros: <strong>que</strong> <strong>que</strong>reis <strong>que</strong> façamos?<br />

Narrador (2): e ele lhe respondia, (…), <strong>que</strong> lho agra<strong>de</strong>cia muito, mas <strong>que</strong> por estonce<br />

não havia <strong>de</strong>les mais mester. E assim encaminhou para os paços do<br />

Almirante, on<strong>de</strong> pousava o con<strong>de</strong> D. <strong>João</strong> Afonso, irmão da rainha, com<br />

<strong>que</strong>m havia <strong>de</strong> comer.<br />

Narrador (3): as do<strong>na</strong>s da cida<strong>de</strong>, pela rua por on<strong>de</strong> ele ia, saíam todas às janelas com<br />

prazer, dizendo a altas vozes:<br />

As do<strong>na</strong>s da cida<strong>de</strong>:<br />

Umas: mantenha-vos Deus, senhor!<br />

Outras: bento seja Deus <strong>que</strong> vos guardou <strong>de</strong> tamanha traição, qual vos tinham<br />

bastecida!<br />

Narrador (4): e indo assim até à entrada do Rossio, e o con<strong>de</strong> vinha com todos os seus,<br />

e outros bons da cida<strong>de</strong> <strong>que</strong> o aguardavam (…), e outros fidalgos; e<br />

quando viu o Mestre ir da<strong>que</strong>la guisa, <strong>foi</strong>-o abraçar com prazer e disse:<br />

Con<strong>de</strong>: mantenha-vos Deus, senhor! Sei <strong>que</strong> nos tiraste <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> cuidado, mas vós<br />

merecíeis esta honra melhor do <strong>que</strong> nós. Andai, vamos logo a comer.<br />

Narrador (5): e assim foram para os Paços hu pousava o con<strong>de</strong> e (…) se assentaram à<br />

mesa.<br />

7


Bibliografia específica<br />

AMORIM, Tito Agra (1995). Encontros <strong>de</strong> teatro <strong>na</strong> escola <strong>–</strong> história <strong>de</strong> um movimento. Porto: Porto<br />

Editora.<br />

LEENHARDT, Pierre (1997, 4ª ed.). A criança e a expressão dramática. Lisboa: Editorial Estampa.<br />

LOPES, Maria Virgílio Cambraia (1999). Texto e criação teatral <strong>na</strong> escola. Lisboa: Edições ASA.<br />

SEIXO, Maria Alzira (direcção e coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção); AMADO, Teresa (apresentação crítica, selecção, notas e<br />

sugestões para análise literária) (1980). <strong>Fernão</strong> <strong>Lopes</strong>, <strong>Crónica</strong> <strong>de</strong> D. <strong>João</strong> I (Textos escolhidos).<br />

Lisboa: Seara Nova/Editorial Comunicação.<br />

SOUSA, Alberto B. (1980). A expressão dramática: imitação, mímica, expressão oral, improvisação e<br />

dramatização. Aveiro: Básica Editora.<br />

8

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