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Fernão Lopes, Crónica de D. João I – “Do alvoroço que foi na ...

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Leonor Teles, a “rainha viúva”, ocupou a regência <strong>de</strong> Portugal. Viviam-se<br />

tempos <strong>de</strong> crise, presente em todos os aspectos do quotidiano e, nesse aspecto<br />

Portugal não <strong>de</strong>stoou do panorama geral europeu, embora com aspectos muito<br />

próprios <strong>que</strong> o distinguem do restante mundo feudal.<br />

Após a aclamação <strong>de</strong> D. Beatriz e <strong>de</strong> D. <strong>João</strong> <strong>de</strong> Castela como reis <strong>de</strong> Portugal<br />

em todas as cida<strong>de</strong>s e vilas do Reino e ressalvados os seus direitos da regência, a<br />

Nação mostrou-se contrária ao <strong>que</strong> fora acordado, contestando <strong>na</strong>s ruas e<br />

provocando, inclusive, alguns tumultos em várias localida<strong>de</strong>s. Alguns fidalgos<br />

fervorosos “<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>listas” e muito povo cioso da in<strong>de</strong>pendência do Reino,<br />

<strong>de</strong>sejosos <strong>de</strong> um mo<strong>na</strong>rca verda<strong>de</strong>iramente português, revoltaram-se contra a<br />

conjuntura particularmente grave e contra duas das perso<strong>na</strong>lida<strong>de</strong>s <strong>que</strong> dirigiam<br />

os <strong>de</strong>stinos políticos <strong>de</strong> Portugal: D. <strong>João</strong> <strong>de</strong> Castela e D. Leonor Teles, a <strong>que</strong>m<br />

chamavam a Aleivosa. De modo <strong>que</strong> no Reino se protestava, fosse por interesse<br />

ou por medo <strong>de</strong> uns, fosse por vingança ou mesmo por patriotismo <strong>de</strong> outros,<br />

uma vez <strong>que</strong> a situação não admitia <strong>de</strong>longas.<br />

E assim o golpe eclodiu, gizado em gran<strong>de</strong> parte por Álvaro Pais, e contando<br />

com o apoio do movimento revolucionário <strong>de</strong> características sobretudo<br />

populares. No dia 6 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1383 D. <strong>João</strong>, Mestre <strong>de</strong> Avis, com o apoio<br />

do povo da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa (<strong>que</strong> houvera entretanto <strong>de</strong>positado no Mestre<br />

todos os seus anseios e esperanças), assassinou o nobre galego <strong>João</strong> Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>s<br />

An<strong>de</strong>iro <strong>que</strong>, segundo as más-línguas da época, se tor<strong>na</strong>ra amante <strong>de</strong> Leonor<br />

Teles. Depois, as circunstâncias precipitaram a história: o povo amotinou-se, a<br />

rebelião alastrou pelo Reino, a regente fugiu <strong>de</strong> Lisboa para Alen<strong>que</strong>r e, <strong>de</strong>pois,<br />

para Santarém, o Reino <strong>foi</strong> invadido militarmente por D. <strong>João</strong> I <strong>de</strong> Castela e o<br />

Mestre <strong>de</strong> Avis <strong>foi</strong> proclamado “Regedor e Defensor do Reino <strong>de</strong> Portugal”.<br />

2) Dezembro <strong>de</strong> 1383 a Abril <strong>de</strong> 1385 <strong>–</strong> o Interregno<br />

E com a nomeação do Mestre <strong>de</strong> Avis como “Regedor e Defensor do Reino <strong>de</strong><br />

Portugal” pelo povo <strong>de</strong> Lisboa, à revelia <strong>de</strong> todo o direito e contra todos os<br />

tratados da época, D. Beatriz e D. <strong>João</strong> <strong>de</strong> Castela, anteriormente aclamados,<br />

vêem o seu rei<strong>na</strong>do chegar ao fim e, com isso, a regência <strong>de</strong> D. Leonor Teles.<br />

Entrou-se assim num período em <strong>que</strong> não havia rei ou autorida<strong>de</strong> <strong>que</strong> actuasse<br />

em seu nome, num interregno, numa verda<strong>de</strong>ira crise. A situação <strong>que</strong> se vivia<br />

era tudo menos confortável. Com efeito, para além dos ânimos “efervescentes”<br />

<strong>que</strong> se sentiam por todo o Reino, o seu “Defensor” tinha ainda <strong>de</strong> contar com a<br />

ira do rei legítimo, D. <strong>João</strong> I <strong>de</strong> Castela, <strong>que</strong> se aprontava para invadir Portugal,<br />

com o apoio da Aleivosa. As opiniões dividiam-se, <strong>que</strong>braram-se juramentos e<br />

duas facções se afirmaram: a do Mestre <strong>de</strong> Avis, contando com o apoio <strong>de</strong> todos<br />

os fidalgos, prelados e povo; e a <strong>de</strong> D. <strong>João</strong> I, rei <strong>de</strong> Castela, <strong>que</strong> contava com o<br />

apoio <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte da nobreza e do clero <strong>de</strong> Portugal.<br />

Assim, em Janeiro <strong>de</strong> 1384, o mo<strong>na</strong>rca castelhano <strong>foi</strong> recebido em Portugal.<br />

Entretanto, D. Leonor Teles renunciou ao governo do Reino em favor <strong>de</strong> D.<br />

Beatriz e do seu marido. Foi feita prisioneira e enviada para o Mosteiro <strong>de</strong><br />

Tor<strong>de</strong>silhas. Lisboa <strong>foi</strong> cercada mas, e por<strong>que</strong> bem provida <strong>de</strong> armas e<br />

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