12.04.2013 Views

Veja um Excerto do Livro - Angelus-Novus

Veja um Excerto do Livro - Angelus-Novus

Veja um Excerto do Livro - Angelus-Novus

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

o f o r m a t o m u l h e r<br />

cantou maria teresa horta nos anos setenta, explicitan<strong>do</strong> <strong>um</strong>a subversão<br />

que é também a das novas cartas portuguesas. ao cabo <strong>do</strong>s anos oitenta,<br />

ana luísa amaral pergunta-se (ou talvez não), Minha senhora de quê, n<strong>um</strong><br />

gesto de quem lucidamente recolhe as heranças difíceis de <strong>um</strong> progresso<br />

acidenta<strong>do</strong> e, reconhecida, faz suas as lutas que hoje lhe garantem a sua<br />

relativa segurança e lhe permitem exercitar a diferença e a própria fragili-<br />

dade para além das igualdades que se vão conquistan<strong>do</strong>. (santos 1989/90,<br />

124)<br />

a prospecção arqueológica e o recolhimento transforma<strong>do</strong>r das<br />

“heranças difíceis” da história cultural das mulheres portuguesas são<br />

desta forma ass<strong>um</strong>i<strong>do</strong>s como matrizes enforma<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> livro, cujo<br />

título ao mesmo tempo acentua e explica as coordenadas da sua<br />

historicidade. a continuidade e o desvio coexistem na relação que<br />

Minha Senhora de Quê estabelece para com Minha Senhora de Mim:<br />

por <strong>um</strong> la<strong>do</strong>, trata-se de <strong>um</strong> acto de homenagem e de solidariedade<br />

(“faz suas as lutas”); por outro, o livro encarna <strong>um</strong> movimento<br />

agónico de ultrapassagem geracional que exige o direito não<br />

apenas à própria diferença de gnose e expressão, mas também,<br />

mais particularmente, à indefinição, dúvida e “fragilidade” como<br />

atributos legítimos <strong>do</strong> sujeito poetizante no feminino. é de notar<br />

que, além <strong>do</strong>s outros efeitos aponta<strong>do</strong>s e por apontar, o gesto<br />

performativo consubstancia<strong>do</strong> no título Minha Senhora de Quê<br />

reafirma, à boa maneira bloomiana, a centralidade da personagem<br />

e até da intencionalidade <strong>do</strong> autor – ou melhor, e crucialmente, da<br />

autora – no processo da inscrição <strong>do</strong> livro no macrotexto cultural<br />

que lhe antecede e o rodeia. que este confronto entre as duas poetas,<br />

e não apenas entre os <strong>do</strong>is livros, seja o evento focal na construção<br />

de <strong>um</strong>a linhagem feminina na poesia portuguesa contemporânea<br />

corrobora a constatação de jay Clayton e eric rothman de que a<br />

instr<strong>um</strong>entalização <strong>do</strong> protagonismo <strong>do</strong>/da autor/a se tem afirma<strong>do</strong><br />

como <strong>um</strong>a posição vantajosa para as incursões críticas feministas<br />

nos <strong>do</strong>mínios histórico-literários da influência e/ou intertextualida-<br />

de (10). O que torna o caso particular <strong>do</strong> diálogo poético entre ana<br />

324

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!