12.04.2013 Views

Veja um Excerto do Livro - Angelus-Novus

Veja um Excerto do Livro - Angelus-Novus

Veja um Excerto do Livro - Angelus-Novus

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

o f o r m a t o m u l h e r<br />

Voltemos, pois, a Florbela espanca espanca. No posfácio ao volu-<br />

me, também de autoria de Osval<strong>do</strong> silvestre, a questão da actuação<br />

equívoca de Florbela na poesia de adília lopes é colocada em termos<br />

mais explícitos <strong>do</strong> que no ensaio anteriormente cita<strong>do</strong>, mas que<br />

confirmam fundamentalmente o diagnóstico <strong>do</strong> seu papel elíptico<br />

de “pessoa interposta”. No contexto destas reflexões interessa reter<br />

sobretu<strong>do</strong> a observação inicial <strong>do</strong> crítico:<br />

mas o que significa esta convocação de Florbela para o limiar e hori-<br />

zonte semântico de <strong>um</strong> livro? Como parece evidente a <strong>um</strong>a leitura atenta,<br />

significa muito pouco, se intentarmos lê-la como recuperação, mais ou<br />

menos aurática, de <strong>um</strong>a personagem exemplar na débil narrativa femi-<br />

nina ou feminista das letras portuguesas. (1999, 67)<br />

Com efeito, <strong>um</strong>a leitura atenta de Florbela espanca espanca não<br />

pode senão confirmar que, depois <strong>do</strong> impacto inicial atribuível ao<br />

título <strong>do</strong> vol<strong>um</strong>e e ao notório poema de abertura que parodia o<br />

soneto “amar!” de Charneca em Flor, a poesia de Florbela não retém<br />

explicitamente o estatuto <strong>do</strong> intertexto condutor <strong>do</strong> conjunto (ao<br />

contrário <strong>do</strong> que acontece, por exemplo, nos <strong>do</strong>is vol<strong>um</strong>es de poesia<br />

de adília lopes que evocam a paixão de mariana alcofora<strong>do</strong>, Marquês<br />

de Chamilly [Kabale und Liebe] e o regresso de Chamilly). Não se trata,<br />

portanto, como não diz mas podia dizer silvestre, de <strong>um</strong> gesto<br />

clássico de revisionismo literário, opera<strong>do</strong> desde <strong>um</strong>a perspectiva<br />

inicialmente surgida na “segunda vaga” feminista <strong>do</strong>s anos sessenta<br />

e setenta <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>: <strong>um</strong>a recuperação reivindicativa de<br />

modelos literários, históricos e míticos <strong>do</strong> protagonismo feminino, em<br />

aliança estratégica com <strong>um</strong>a desconstrução da tradição de produção<br />

simbólica sexuada no masculino e solidária das estruturas <strong>do</strong> poder<br />

patriarcal. e no entanto, não creio que seja inteiramente verdade<br />

a selecção <strong>do</strong>s poetas que integram a antologia foi o resulta<strong>do</strong> das preferências exprimidas<br />

pelos colabora<strong>do</strong>res convida<strong>do</strong>s, representan<strong>do</strong> portanto <strong>um</strong> reflexo razoavelmente fiável<br />

<strong>do</strong> consenso crítico quanto à relevância estética e histórico-literária <strong>do</strong>s autores incluí<strong>do</strong>s (e,<br />

correlatamente, também <strong>do</strong>s “excluí<strong>do</strong>s”).<br />

316

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!