Veja um Excerto do Livro - Angelus-Novus
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e v á r i o s o s c a m i n h o s<br />
programaticamente se integra nesta veia, já alguns outros textos da<br />
mesma secção – sintomaticamente inserta no meio, e não no início,<br />
<strong>do</strong> livro – poderiam ser li<strong>do</strong>s como pastiches delica<strong>do</strong>s e harmonio-<br />
sos, exercícios de imitatio transtextual cujos impulsos subjacentes<br />
são reconhecimento e homenagem, e que operam <strong>um</strong>a espécie de<br />
fusão estilística e imagética entre as duas poéticas, aparentemente<br />
tão divergentes. assim, por exemplo, “que se abram os meus olhos”<br />
(50-51), “Navegações <strong>do</strong>entes” (47) ou “linguagens” (50):<br />
Pássaro nulo<br />
a configuração da tua ausência<br />
o corpo a preencher-se<br />
em ressalvas de me<strong>do</strong><br />
ao meu la<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong>ìdamente longe<br />
dir-te-ia <strong>do</strong> sóli<strong>do</strong><br />
confronto que imagino<br />
ou <strong>do</strong> confronto de te poder ter<br />
em figura de estilo<br />
interessará reparar que é precisamente este último poema o<br />
escolhi<strong>do</strong> por maria irene ramalho de sousa santos para ilustrar<br />
<strong>um</strong> <strong>do</strong>s “grandes temas” que a poesia de ana luísa amaral aborda<br />
e que “na tradição literária ocidental se constituem fontes de sen-<br />
ti<strong>do</strong> poético”: no caso, “o amor; ou, talvez melhor, esse tema por<br />
excelência, quinta essência <strong>do</strong> lirismo português, que é a saudade <strong>do</strong><br />
amor” (“duplo posfácio” 98-99). embora a relação entre ana luísa<br />
amaral e maria teresa horta não seja, neste contexto particular,<br />
evocada pela crítica, note-se que a comunicação das duas poéticas no<br />
cenário lírico tão portuguesmente tradicional como o da “saudade <strong>do</strong><br />
amor” inscreve o seu diálogo no centro consagra<strong>do</strong> <strong>do</strong> macrotexto<br />
histórico-literário nacional. O que por sua vez permite observar que<br />
também o diálogo com a tradição desenvolvi<strong>do</strong> em Minha Senhora<br />
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