Veja um Excerto do Livro - Angelus-Novus
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e v á r i o s o s c a m i n h o s<br />
de <strong>um</strong> segre<strong>do</strong> guarda<strong>do</strong> a <strong>do</strong>is (entre o corpo amoroso da mulher<br />
que fala no poema e o seu amante, ou – no caso de Whitman –<br />
entre o sujeito-poeta e os seus destinatários, que apesar de serem<br />
múltiplos não deixam de ser aborda<strong>do</strong>s individualmente na maior<br />
das intimidades) 182 com a divulgação muito pública de to<strong>do</strong>s os<br />
segre<strong>do</strong>s pelo eu supremamente indiscreto que, parecen<strong>do</strong> dizer<br />
tu<strong>do</strong>, ainda assim se compraz em fazer soltar a imaginação de quem<br />
lê para além <strong>do</strong>s limites <strong>do</strong> dizível:<br />
Não contes <strong>do</strong> meu<br />
vesti<strong>do</strong><br />
que tiro pela cabeça<br />
(...)<br />
Não contes <strong>do</strong> meu<br />
novelo<br />
nem da roca de fiar<br />
nem o que faço<br />
com eles<br />
a fim de te ouvir gritar<br />
(342-43)<br />
Por contraste, o eu lírico de Minha Senhora de Quê só raramente<br />
implica na sua “discreta arte” (21) <strong>um</strong> tu intimamente referenciável<br />
ao sujeito da enunciação: trata-se, quan<strong>do</strong> muito, de <strong>um</strong> “tu (sem<br />
descrições maiores)” que em “estátuas mortas” (o primeiro poema<br />
<strong>do</strong> vol<strong>um</strong>e em que aparece) apenas se manifesta sob a forma de <strong>um</strong><br />
pronome oblíquo (16):<br />
182 é a esta individualização público-privada <strong>do</strong>s destinatários <strong>do</strong>s versos de Whitman<br />
que responde, embeveci<strong>do</strong> e grato, o Campos da “saudação a Walt Whitman” ao exaltar no<br />
seu interlocutor o “grande democrata epidérmico” e “cantor da fraternidade feroz e terna<br />
com tu<strong>do</strong>” (Pessoa 1987, 270).<br />
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