PD 18 - Fundação Astrojildo Pereira
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IX. Documento – Ano Caio Prado Jr.<br />
estruturas feudais. Uma interpretação como essa leva naturalmente<br />
à conclusão – e é realmente o que se tem verificado no caso da defeituosa<br />
teoria da revolução brasileira até hoje consagrada – que a<br />
luta dos trabalhadores rurais brasileiros teria essencialmente por<br />
objetivo (como seria o caso se se tratasse de fato de camponeses) a<br />
livre ocupação e utilização da terra que hoje trabalham a título de<br />
empregados da grande exploração. E se dirigiria assim no sentido da<br />
reivindicação dessa terra. [...]<br />
Ora, isso vai frontalmente de encontro aos fatos mais evidentes da<br />
realidade brasileira; e mostra como essa errônea interpretação teórica<br />
pode conduzir, como de fato tem conduzido no Brasil, à desorientação<br />
na prática. As aspirações e reivindicações essenciais da grande<br />
e principal parte da massa trabalhadora rural do país não têm aquele<br />
sentido apontado. Refiro-me naturalmente à parcela maior e mais<br />
expressiva dos trabalhadores rurais brasileiros que se concentram<br />
nas grandes explorações agrárias do país – da cana-de-açúcar, do<br />
café, do algodão, do cacau e outras da mesma categoria. Não é pela<br />
ocupação e utilização individual e parcelária dessa terra onde hoje<br />
trabalham coletivamente entrosados no sistema da grande exploração,<br />
que aqueles trabalhadores procuram solucionar seus problemas<br />
de vida e superar as miseráveis condições de existência que são as<br />
suas. Nos maiores e principais setores da agropecuária brasileira,<br />
naqueles que constituem em conjunto o cerne da economia agrária<br />
do país e onde se concentra a maior parcela da população rural, os<br />
trabalhadores, como empregados que são da grande exploração, simples<br />
vendedores de força de trabalho, portanto, e não “camponeses”,<br />
no sentido próprio, aquilo pelo que aspiram e o que reivindicam, o<br />
sentido principal de sua luta é a obtenção de melhores condições de<br />
trabalho e emprego. [...]<br />
A reivindicação da terra e utilização dela pelo próprio trabalhador,<br />
manifestando-se de maneira apreciável e não apenas através<br />
de vagas aspirações desacompanhadas de qualquer ação e pressão<br />
efetivas, isso se circunscreve no Brasil praticamente a três setores<br />
apenas, todos eles de importância relativa e secundária. E o que é<br />
mais, assumindo em dois deles pelo menos (para não dizer todos<br />
três) formas e aspectos particulares e específicos que nada têm a ver<br />
nem podem ter com sistemas agrários feudais ou derivados, e eventuais<br />
restos e remanescentes de tais sistemas. 2 [...]<br />
2 O autor se refere a: 1) áreas intermediárias entre a zona da mata e o agreste, onde<br />
a propriedade se acha relativamente subdividida e se desenrolavam as atividades<br />
das Ligas Camponesas; 2) áreas de ocupação de terras virgens em zonas pioneiras,<br />
particularmente Oeste paranaense e Centro-Norte de Goiás; trata-se de regiões de<br />
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Política Democrática · Nº <strong>18</strong>