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Prefeito restaura censura em Salvador - Revista Metrópole

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Trânsito<br />

Motoristas assassinos<br />

nunca são punidos<br />

Sindicalismo<br />

Sindicatos são<br />

péssimos patrões<br />

Entrevista<br />

José Dirceu fala<br />

até sobre sexo<br />

João<br />

mandou<br />

calar<br />

<strong>Prefeito</strong> <strong>restaura</strong><br />

<strong>censura</strong> <strong>em</strong><br />

<strong>Salvador</strong><br />

2


Índice<br />

A Quinta dos<br />

Infernos 40<br />

Cartas<br />

Nobre Mário e Equipe,<br />

Salvas e hosanas pelo lançamento desta<br />

revista que, suplantando heresias e<br />

hipocrisias, veio preencher a lacuna<br />

existente na sede da informação e de<br />

conhecimentos. Por isso, julgo-me um<br />

privilegiado <strong>em</strong> ter obtido este ex<strong>em</strong>plar<br />

nº 1 que, espero, adicionar a outros<br />

tantos que virão.<br />

Atenciosamente,<br />

Valtair Antonio Menin<br />

À redação da <strong>Metrópole</strong>,<br />

Serei breve, como um gozo pr<strong>em</strong>aturo,<br />

ao traduzir o gosto bom que senti ao ler<br />

a revista <strong>Metrópole</strong> nº1. Há t<strong>em</strong>pos não<br />

fazia uma leitura tão agradável. É bom<br />

saber que existe (enfim!) uma publicação<br />

baiana que ainda não industrializou, no<br />

pior sentido da palavra, a notícia. O que se<br />

vê por aqui é notícia enlatada, que apodrece<br />

antes mesmo da data de validade, reflexo da<br />

fabricação <strong>em</strong> série dos jornalistas que sa<strong>em</strong><br />

das faculdades de <strong>Salvador</strong>. Concordo com<br />

Juliana Cunha. Os leitores baianos estão<br />

morrendo por inanição.<br />

Alex Mendes<br />

Prezado Mário Kertész,<br />

Parabéns pela publicação <strong>Metrópole</strong>. É<br />

muito bom um projeto desassombrado,<br />

inteligente e completamente<br />

descompromissado com o poder público.<br />

Finalmente, num mar de coisas insossas e<br />

imbecis, uma ilha onde somente soprarão<br />

bons e novos ventos.<br />

Luiz Armando Mattos<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007<br />

capa<br />

<strong>Prefeito</strong><br />

<strong>censura</strong><br />

<strong>Metrópole</strong> 04<br />

consumo<br />

Pra que Cesta<br />

do Povo? 09<br />

trânsito<br />

Motoristas voam e<br />

Justiça se arrasta 10<br />

justiça<br />

A intolerância mata<br />

e o preconceito<br />

enterra 14<br />

fucs-fucs 17<br />

defesa do consumidor<br />

É tabelado 18<br />

sindicalismo<br />

Pimenta no cu dos<br />

outros é refresco 20<br />

crônica<br />

À equipe da revista <strong>Metrópole</strong>,<br />

Parabéns! A <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> t<strong>em</strong><br />

tudo para ser um sucesso. Uma<br />

equipe de excelentes profissionais<br />

e muita qualidade no projeto<br />

gráfico, na edição, nos textos e nas<br />

ilustrações. A equipe da Assessoria<br />

de Imprensa da Comunicação<br />

Institucional da Petrobras acredita<br />

no sucesso dessa nova e irreverente<br />

publicação.<br />

Amanda Veloso, Cristina Apulto e Paulo Dantão<br />

Equipe <strong>Metrópole</strong>,<br />

Tive a oportunidade de apreciar a<br />

publicação do material editado por<br />

vocês e quero parabenizá-los pela<br />

iniciativa e qualidade do conteúdo,<br />

diagramação e textos. Jornalismo<br />

não é arte, mas a criatividade<br />

funciona quando está acompanhada<br />

de boa interpretação, enfoque<br />

diferenciado, velocidade e do bom<br />

caráter humano de qu<strong>em</strong> o produz,<br />

el<strong>em</strong>entos essenciais para resultados<br />

satisfatórios.<br />

Cláudio Ferreira<br />

Caro Mário,<br />

Quero cumprimentá-lo pela qualidade<br />

gráfica e a variedade dos artigos. É<br />

um bom pano de amostra do que<br />

ter<strong>em</strong>os daqui <strong>em</strong> diante <strong>em</strong> matéria<br />

de leitura mensal. Que genial a idéia<br />

de distribuí-la de graça ao povo.<br />

Abraços e votos de contínuo sucesso.<br />

Germano Tabacof<br />

cultura<br />

Museu Rodin<br />

<strong>em</strong> duas fases 30<br />

roda baiana<br />

Carnateatro 32<br />

saúde<br />

População<br />

paga o pato 34<br />

cidade<br />

Monumento ao<br />

abandono 38<br />

Um monstrengo<br />

na orla 47<br />

À equipe <strong>Metrópole</strong>,<br />

É com satisfação ter tido a oportunidade<br />

de receber o ex<strong>em</strong>plar da revista <strong>Metrópole</strong><br />

edição número 01. Como ouvinte da rádio<br />

e agora leitor deixo aqui registrado que<br />

o sucesso irá mais adiante, pois a linha<br />

editorial da revista está de uma linguag<strong>em</strong><br />

de singular respeito, seguindo a linha da<br />

rádio. Ao mesmo <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po que, com<br />

seriedade, trata dos mais diversos assuntos e<br />

abordagens, brinca e descontrai outros <strong>em</strong><br />

tantos assuntos que possam vir a trilhar.<br />

Parabéns e sucesso.<br />

Itajacy Diniz Garrido<br />

Caro Mário,<br />

Excepcional, fantástica, no ponto. Com<br />

conteúdo, leitura fácil, t<strong>em</strong>as b<strong>em</strong><br />

escolhidos, enfim, algo que eleva o nível<br />

editorial da Bahia e não deixa dever<br />

nada às melhores publicações nacionais.<br />

Parabéns, irmão, a você, e a toda equipe.<br />

Sucesso.<br />

Paulo Roberto Sampaio<br />

E-mails com críticas,<br />

sugestões e elogios dev<strong>em</strong><br />

ser encaminhados para<br />

revistametropole@ksz.com.br.<br />

Por questão de espaço,<br />

eventualmente não<br />

publicar<strong>em</strong>os na íntegra<br />

as mensagens recebidas.<br />

metrópole<br />

entrevista<br />

José Dirceu 22<br />

“Eu tenho orgulho<br />

de ser cassado”<br />

pingue-pongue<br />

Ivete Sangalo 42<br />

artigos<br />

Valeu, João. Valeu!<br />

Antonio Risério<br />

Abaixo os imbecis 08<br />

Tom Tavares<br />

Zé Carioca 12<br />

Renato Pinheiro<br />

Relax<strong>em</strong> e goz<strong>em</strong> 16<br />

Paulo Alves<br />

A procissão do Encantado 28<br />

Dr. Albergalhão<br />

Picardia do macho pós-moderno!<br />

Primeira pincelada. 36<br />

Malu Fontes<br />

Jornali$mo do B<strong>em</strong> - um<br />

aleijão provinciano 44<br />

Juliana Cunha<br />

Pela descriminação<br />

do preconceito 46<br />

Mário Kertész<br />

Mudança para o mesmo lugar 48<br />

O número 1 da revista <strong>Metrópole</strong> foi um sucesso. Os 30 mil ex<strong>em</strong>plares impressos<br />

foram distribuídos <strong>em</strong> menos de uma s<strong>em</strong>ana. Não deu para qu<strong>em</strong> quis. Ao povo de <strong>Salvador</strong>,<br />

leitores de nossa revista e ouvintes da 101.3, os nossos sinceros agradecimentos,<br />

pois sab<strong>em</strong>os que nada disso seria possível s<strong>em</strong> a sua participação. Vocês são a única razão<br />

de nossa existência.<br />

Mas a <strong>Metrópole</strong> dedica um agradecimento especial a um ilustre personag<strong>em</strong>. Um<br />

cidadão que, abnegado que é e ciente da grande procura pela nossa edição número 1,<br />

gentilmente cedeu o seu ex<strong>em</strong>plar, que lhe foi presenteado pela nossa repórter Gabriela<br />

de Paula, ao seu advogado.<br />

É, estamos falando dele mesmo, do prefeito de nossa cidade, João Henrique Barradas<br />

Carneiro, que travestido <strong>em</strong> tiranete de província determinou a destruição dos outdoors que<br />

faziam a divulgação de nossa revista.<br />

A supressão das placas da revista <strong>Metrópole</strong>, que virou notícia nacional, só aumentou<br />

a curiosidade e a procura pela nossa publicação, contribuindo para que esta se esgotasse<br />

<strong>em</strong> t<strong>em</strong>po recorde e comprovando que, como administrador, o nosso alcaide é um grande<br />

marqueteiro. Arriscamos a dizer que talvez este tenha sido um dos atos mais notáveis<br />

do nosso gestor municipal até agora. Feito comparável apenas ao seu desfile de jegue na<br />

Mudança do Garcia, no Carnaval deste ano.<br />

A estratégia de João Henrique, porém, não se limitou à retirada dos outdoors. Mostrando<br />

que é capaz de se superar, mesmo quando se supõe ter atingido o ápice de sua<br />

atuação propagandística, nosso prefeito inova e, com o beneplácito da Justiça, consegue<br />

a proibição da citação ou alusão ao seu nome por qualquer meio de comunicação do<br />

Grupo <strong>Metrópole</strong> (rádio, revista, site, blog, etc.).<br />

O resultado dessa <strong>censura</strong> é que, b<strong>em</strong> antes desta edição número 2 ficar pronta, nosso<br />

site foi abarrotado com pedidos de leitores que quer<strong>em</strong> garantir antecipadamente o recebimento<br />

da nossa revista. Como se vê, mais uma grande jogada de marketing do nosso<br />

Hugo Chávez made in Feira de Santana.<br />

Graças ao sucesso editorial <strong>em</strong> que a perseguição do prefeito transformou a revista <strong>Metrópole</strong><br />

hoje, faz<strong>em</strong>os coro com o bordão oficial: “Valeu, João. Valeu.” •<br />

Expediente<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong><br />

Uma publicação da Editora KSZ.<br />

Publisher Mário Kertész<br />

Diretor Executivo Chico Kertész<br />

Conselho Editorial Humberto Sampaio,<br />

André Ferraro e Marcelo Kertész.<br />

Redator Chefe Humberto Sampaio (RZ<br />

Comunicação)<br />

Redação André Teixeira, Camila Cintra,<br />

Gabriela de Paula, Marcos Antonio Cruz e<br />

Victor Uchôa<br />

Colaboradores Antonio Risério, Roberto<br />

Albergaria, Juliana Cunha, Malu Fontes,<br />

Renato Pinheiro, Tom Tavares, Paulo<br />

Alves, Gilda Fucs, Álvaro Figueiredo,<br />

Jéssica Senra, Welinton Aragão e ouvintes<br />

da <strong>Metrópole</strong> FM<br />

Projeto Gráfico Marcelo Kertész<br />

Diagramação Dimitri Cerqueira<br />

Ilustrações Ferré, Ananda Nahu, Izolag,<br />

Daniel Garcia e Flávio Luiz<br />

Produção Gráfica Evandro Brandão<br />

Fotos Valter Pontes e divulgação<br />

Revisão Marta Escaleira<br />

<strong>Metrópole</strong> - Rua Conde Pereira<br />

Carneiro, 226, Pernambués, CEP<br />

41.100-010, <strong>Salvador</strong> - BA.<br />

Tel.: (71) 3460-8500<br />

www.revistametropole.com.br<br />

E-mail: revistametropole@ksz.com.br<br />

Os artigos e matérias assinadas não<br />

expressão, necessariamente, a opinião do<br />

Grupo <strong>Metrópole</strong>.


Censura<br />

Tiro no pé<br />

<strong>Prefeito</strong> tenta calar Grupo <strong>Metrópole</strong>, mas só consegue piorar a própria imag<strong>em</strong><br />

Da redação<br />

Raiva, frustração, intolerância,<br />

autoritarismo. Qualquer<br />

dos substantivos acima<br />

poderia muito b<strong>em</strong> explicar<br />

o motivo que levou o Grupo<br />

<strong>Metrópole</strong> (rádio, revista<br />

e internet) a sofrer o mais<br />

grave atentado à liberdade de<br />

imprensa que se t<strong>em</strong> notícia<br />

no Brasil desde o fim da ditadura<br />

militar, há mais de 20<br />

anos. Foram atos sucessivos<br />

de <strong>censura</strong> que incluíram da<br />

destruição de placas publicitárias<br />

à proibição de citação<br />

ou qualquer alusão ao nome<br />

do prefeito João Henrique de<br />

Barradas Carneiro (PMDB).<br />

O absurdo não prosperou.<br />

O des<strong>em</strong>bargador José Olegário<br />

Monção Caldas, acatando<br />

um agravo de instrumento<br />

apresentado pelo Grupo <strong>Metrópole</strong>,<br />

acabou com a <strong>censura</strong><br />

imposta dias antes pela juíza<br />

da 2ª Vara Cível da capital,<br />

Sílvia Lúcia Bonifácio. Findado<br />

o arbítrio, ficou a triste<br />

m<strong>em</strong>ória de um prefeito que<br />

não consegue conviver com a<br />

crítica e apela à mordaça para<br />

calar a imprensa.<br />

No último dia 12 junho,<br />

Dia dos Namorados, o prefeito<br />

João Henrique, através<br />

de seus sequazes de gabinete,<br />

fez uma declaração de amor<br />

às avessas a <strong>Salvador</strong>, determinando<br />

a destruição dos outdoors<br />

alugados para divulgar<br />

a edição número 1 da revista<br />

<strong>Metrópole</strong>, que começaria a<br />

Valter Pontes<br />

A ord<strong>em</strong> do prefeito de retirar os outdoors da <strong>Metrópole</strong> só fez aumentar a procura pela revista, que teve os 30 mil ex<strong>em</strong>plares esgotados <strong>em</strong> apenas cinco dias<br />

ser gratuitamente distribuída<br />

para a população da capital<br />

no dia seguinte.<br />

Segundo José Linhares,<br />

proprietário da <strong>em</strong>presa responsável<br />

pelos outdoors, um<br />

telefon<strong>em</strong>a vindo do gabine-<br />

te do prefeito determinou a<br />

r<strong>em</strong>oção imediata das placas<br />

com a publicidade da revista.<br />

O motivo alegado era<br />

que a mesma feria o código<br />

de publicidade, pois ofendia<br />

a imag<strong>em</strong> impoluta de João<br />

Henrique. O cartaz trazia <strong>em</strong><br />

seu canto esquerdo a foto da<br />

capa da edição número 1 da<br />

<strong>Metrópole</strong>, que estampa uma<br />

ilustração b<strong>em</strong>-humorada e a<br />

manchete da matéria principal<br />

da publicação: “A cidade<br />

no buraco – <strong>Salvador</strong> afunda<br />

<strong>em</strong> dívidas, lixo e bagunça”.<br />

T<strong>em</strong>eroso de represálias<br />

por parte do poder público<br />

municipal, que concede as licenças<br />

para exploração de placas<br />

publicitárias, o proprietário<br />

da A. Linhares Outdoors<br />

n<strong>em</strong> esperou pela notificação<br />

oficial, que segundo o telefon<strong>em</strong>a<br />

viria da Sucom - mas<br />

que acabou nunca aparecendo<br />

- determinando aos seus<br />

funcionários que iniciass<strong>em</strong> a<br />

destruição dos cartazes com a<br />

publicidade da <strong>Metrópole</strong>.<br />

O ato de <strong>censura</strong> do outdoor<br />

da <strong>Metrópole</strong> foi um<br />

verdadeiro tiro no próprio<br />

pé do prefeito. A notícia da<br />

r<strong>em</strong>oção das placas ganhou<br />

destaque na imprensa local e<br />

nacional e serviu como publicidade<br />

gratuita para a publicação,<br />

cujos 30 mil ex<strong>em</strong>plares<br />

foram esgotados <strong>em</strong> apenas<br />

cinco dias de distribuição.<br />

Batido <strong>em</strong> sua primeira<br />

investida contra a revista, o<br />

prefeito resolveu adotar outra<br />

estratégia para tentar calar<br />

todos os veículos do Grupo<br />

<strong>Metrópole</strong>. No mesmo dia <strong>em</strong><br />

que os últimos ex<strong>em</strong>plares da<br />

primeira edição da <strong>Metrópole</strong><br />

esgotaram, o prefeito entrou<br />

com uma ação ordinária solicitando<br />

não apenas a retirada<br />

do outdoor mas a proibição<br />

de veicular, divulgar, publicar,<br />

noticiar, transmitir na<br />

programação da rádio quaisquer<br />

alusões e referências,<br />

explícitas ou implícitas, depreciativas<br />

ao nome dele. O<br />

pedido foi acatado pela titular<br />

da 2ª Vara Cível de <strong>Salvador</strong><br />

dois dias depois.<br />

Na petição, o prefeito,<br />

através de seu advogado,<br />

Alexandro de Souza, exigia<br />

também o recolhimento, num<br />

prazo de 24 horas, de todos os<br />

ex<strong>em</strong>plares da primeira edição<br />

da <strong>Metrópole</strong> - sob pena de<br />

multa de R$200 mil -, o que<br />

foi impossível, pois a revista<br />

já estava esgotada.<br />

4 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 5<br />

notas da <strong>Metrópole</strong><br />

Racha 1<br />

Parceiros inseparáveis por<br />

muitos anos no combate ao<br />

carlismo, PT e PCdoB se<br />

digladiam <strong>em</strong> busca de espaço<br />

no governo Wagner. Os<br />

comunistas foram preteridos<br />

para a Secretaria da Cultura e<br />

não receberam o apoio esperado<br />

para fazer de Edson Pimenta<br />

presidente da Ass<strong>em</strong>bléia<br />

Legislativa. A falta de espaço<br />

que o PCdoB teve na gestão<br />

Wagner foi um dos tantos<br />

fatores que levaram ao impasse<br />

as negociações entre o governo<br />

e APLB este ano. O resultado<br />

foi a segunda mais longa greve<br />

já realizada pelos professores<br />

estaduais.<br />

Racha 2<br />

Mas não é só na base do governo<br />

que a coisa não vai b<strong>em</strong> entre<br />

aliados. Na oposição a coisa<br />

também não anda nada boa. O<br />

lançamento da candidatura do<br />

deputado José Carlos Aleluia pode<br />

levar a bancada municipal do<br />

DEM ao esvaziamento completo.<br />

Os cinco vereadores do partido<br />

se recusam a aceitar o nome<br />

do deputado como candidato.<br />

Entend<strong>em</strong> que Aleluia não t<strong>em</strong> a<br />

menor ligação com a cidade n<strong>em</strong><br />

qualquer relacionamento com o<br />

diretório do próprio partido <strong>em</strong><br />

<strong>Salvador</strong>. “Essa candidatura seria<br />

uma imposição inaceitável da<br />

Executiva estadual”, garante um<br />

vereador d<strong>em</strong>ocrata.<br />

É Nossa<br />

Enquanto os aliados políticos<br />

do prefeito João Henrique se<br />

calaram diante da tentativa<br />

do alcaide de <strong>censura</strong>r a<br />

<strong>Metrópole</strong>, a primeira-dama<br />

do Estado, Fátima Mendonça,<br />

marcou posição. Ao encontrar<br />

nosso Diretor Executivo no<br />

<strong>restaura</strong>nte Piola, onde jantava<br />

com o marido, ela exclamou <strong>em</strong><br />

alto e bom tom: “Esse negócio<br />

de <strong>censura</strong> não está com<br />

nada. Nessa história eu sou<br />

<strong>Metrópole</strong>”. Valeu, primeiradama!<br />

Segundo a A. Linhares,<br />

<strong>em</strong>presa responsável pelos<br />

outdoors, a ord<strong>em</strong> para<br />

<strong>censura</strong>r as placas da edição<br />

número 1 da revista <strong>Metrópole</strong><br />

partiu do gabinete do prefeito<br />

Daniel alVes<br />

Funcionários da A. Linhares flagrados enquanto cobriam placa da <strong>Metrópole</strong> na Avenida Tancredo Neves<br />

Valter Pontes<br />

Besta<br />

Entre os motivos elencados<br />

por João Henrique para a<br />

<strong>censura</strong> do Grupo <strong>Metrópole</strong><br />

estavam a alegação de que a<br />

revista trazia “matérias ofensivas”<br />

ao prefeito, uma mentira<br />

evidente para todos os<br />

que tiveram acesso à publicação.<br />

Além disso, a petição<br />

afirmava que a imag<strong>em</strong> da<br />

capa representava o prefeito<br />

com o “símbolo da Besta” es-


tampado na testa. Um exercício<br />

de pura imaginação, pois<br />

apenas um código de barras<br />

ilustrava a imag<strong>em</strong> da capa,<br />

b<strong>em</strong> como uma mancha vermelha<br />

que foi identificada<br />

como um nariz de palhaço.<br />

Para muitos ouvintes que ligaram<br />

para a 101.3 FM para<br />

protestar contra o ato de cen-<br />

sura, as alegações do prefeito<br />

soaram como uma confissão<br />

de culpa. “Nariz de palhaço,<br />

símbolo da Besta na testa?!<br />

Pra mim o prefeito vestiu a<br />

carapuça”, resumiu a ouvinte<br />

Bernadete Novaes.<br />

Outra alucinação do prefeito<br />

com relação à capa da<br />

edição número 1 foi enxergar<br />

um punhal nas mãos do personag<strong>em</strong><br />

da ilustração. “Não há<br />

punhal algum. E é novidade<br />

para mim que o código de barras<br />

simbolize a Besta do Apocalipse”,<br />

afirmou o jornalista<br />

Ricardo Noblat, ao comentar<br />

a <strong>censura</strong> <strong>em</strong> seu blog, um dos<br />

mais lidos do País.<br />

Se a cassação dos outdoors<br />

da revista já havia sido<br />

noticiada nacionalmente, a<br />

<strong>censura</strong> imposta ao Grupo<br />

<strong>Metrópole</strong> virou notícia internacional.<br />

O site mundial<br />

da organização Reporteros<br />

Sin Fronteras, que denuncia<br />

atentados à liberdade de<br />

imprensa <strong>em</strong> todo o mundo,<br />

deu destaque à tentativa do<br />

prefeito de calar a <strong>Metrópole</strong>.<br />

O assunto também foi<br />

notícia na Folha de S.Paulo,<br />

que dedicou duas matérias<br />

sobre o assunto. No blog dos<br />

jornalistas Cláudio Humberto<br />

e Chico Bruno, no site<br />

da Veja, todos os jornais lo-<br />

cais e os noticiários da TV<br />

Bahia, a de maior audiência<br />

no Estado, também destacaram<br />

o assunto.<br />

A decisão da juíza de acatar<br />

a <strong>censura</strong> solicitada por João<br />

Henrique ao Grupo <strong>Metrópole</strong><br />

provocou reações e manifestações<br />

de apoio à rádio e<br />

à revista de todo o Pais. Políticos,<br />

jornalistas, <strong>em</strong>presários<br />

e representantes das mais<br />

diversas entidades, como Ord<strong>em</strong><br />

dos Advogados do Brasil<br />

(OAB) e Federação Nacional<br />

dos Jornais (Fenaj), ligaram ou<br />

escreveram para a <strong>Metrópole</strong>,<br />

d<strong>em</strong>onstrando o descontentamento<br />

com a decisão judicial.<br />

O presidente da seção baiana<br />

da OAB, Saul Quadros, afirmou<br />

que a <strong>censura</strong> imposta<br />

pela juíza era “um ex<strong>em</strong>plo<br />

que não pode ser seguido pela<br />

magistratura brasileira, por se<br />

tratar de um ato próprio dos<br />

regimes ditatoriais”.<br />

O jornalista Samuel Ce-<br />

lestino, presidente da Associação<br />

Bahiana de Imprensa<br />

(ABI), chegou a afirmar <strong>em</strong><br />

sua coluna ao comentar a <strong>censura</strong>:<br />

“A justiça baiana (com<br />

‘j’ minúsculo mesmo) extrapola.<br />

Para pior”. O blogueiro<br />

David Zilbersztajn, do portal<br />

Globo.com, foi mais além <strong>em</strong><br />

sua crítica à juíza Silvia Lúcia<br />

Bonifácio. “Na hora que um<br />

m<strong>em</strong>bro do Poder Judiciário<br />

começa a se manifestar sobre<br />

o que é e o que não é necessário<br />

para informar ou atender<br />

ao interesse público, estamos<br />

fritos”, afirmou. E completou:<br />

“Estou torcendo para que, na<br />

apelação, esta juíza tome um<br />

pito e um puxão de orelha de<br />

um des<strong>em</strong>bargador”.<br />

Os anseios de Zilbersztajn<br />

– e de todos os que prezam<br />

pela liberdade de expressão –<br />

foram atendidos. Na tarde do<br />

dia 25 de junho, o des<strong>em</strong>bargador<br />

José Olegário Monção<br />

Caldas acatou o agravo de instrumento<br />

impetrado contra a<br />

liminar da juíza da 2ª Vara<br />

Cível da capital e libertou da<br />

<strong>censura</strong> os veículos de comunicação<br />

do Grupo <strong>Metrópole</strong>.<br />

Para basear sua decisão, o des<strong>em</strong>bargador<br />

apelou para a Lei<br />

de Imprensa e para a Constituição<br />

Federal, que disciplina<br />

a questão da garantia ao direito<br />

à liberdade. “O artigo 220<br />

expressamente determina que<br />

a manifestação do pensamento,<br />

a criação, a expressão e a<br />

informação, sob qualquer for-<br />

ma, processo ou veículo não<br />

sofreram qualquer restrição”,<br />

explica José Olegário.<br />

O des<strong>em</strong>bargador destacou<br />

ainda que a <strong>Metrópole</strong>, <strong>em</strong><br />

todos os momentos <strong>em</strong> que<br />

se referiu ao prefeito, “apenas<br />

transmitiu notícia e crítica,<br />

que, gize-se, possui conotação<br />

<strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente de interesse<br />

público”. Acrescentando<br />

que, <strong>em</strong> nenhum momento,<br />

viu ter ocorrido individualização<br />

da pessoa física que<br />

exerce o cargo criticado - no<br />

caso, o prefeito. José Olegário<br />

ainda citou Ruy Barbosa para<br />

justificar sua decisão: “Queiram<br />

ou não queiram, os que<br />

se consagram à vida pública,<br />

até a sua vida particular deram<br />

paredes de vidro”. •<br />

6 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 7<br />

notas da <strong>Metrópole</strong><br />

Comigo não<br />

Quadros do DEM <strong>em</strong><br />

<strong>Salvador</strong> avaliam que o<br />

partido poderia apoiar a<br />

candidatura do tucano<br />

Antônio Imbassahy à<br />

sucessão municipal. Poderia,<br />

se não fosse a aversão que<br />

o deputado federal Jutahy<br />

Magalhães t<strong>em</strong> a alianças com<br />

o carlismo. Esse asco pode<br />

custar ao PSDB o Palácio<br />

Tomé de Souza.<br />

Vice<br />

Os 57 dias de paralisação dos<br />

professores da rede estadual neste<br />

primeiro ano do governo Wagner<br />

fez desta a segunda mais longa<br />

greve na história da categoria. O<br />

movimento deste ano bateu os<br />

50 dias que a categoria paralisou<br />

as atividades no primeiro ano<br />

do governo Waldir Pires e ficou<br />

a apenas três dias do recorde<br />

de 60 dias da greve ocorrida no<br />

governo João Durval.<br />

Nos pontos de ônibus e nas<br />

sinaleiras a procura pela<br />

revista foi intensa<br />

Ruim e ordinário<br />

“Mário, você aproveitou a<br />

publicidade gratuita que João<br />

Henrique fez pra fazer barulho<br />

<strong>em</strong> torno de um produtinho<br />

ruim e ordinário. Muito fraco<br />

esse negócio!” Frase de um<br />

ouvinte da <strong>Metrópole</strong>, que expôs<br />

no ar sua opinião sobre a revista.<br />

Valter Pontes<br />

Valter Pontes


Ant o n i o RiséRio<br />

Abaixo os imbecis<br />

Passamos muito t<strong>em</strong>po lutando contra a ditadura. De uma<br />

parte, perd<strong>em</strong>os t<strong>em</strong>po. De outra, ganhamos. Perd<strong>em</strong>os, é claro,<br />

porque é desperdício o que se joga fora, <strong>em</strong> criatividade e energia,<br />

numa briga contra fascistas de província, que, <strong>em</strong> matéria mental,<br />

são incapazes de distinguir entre uma roseira e um extintor de incêndio.<br />

E ganhamos – porque, afinal, as bananas ficaram amargas<br />

e os macacos acabaram descendo dos galhos, deixando a árvore<br />

crescer por si mesma, mais leve, mais bonita e mais livre.<br />

Nesse período, um dos nossos grandes probl<strong>em</strong>as foi a <strong>censura</strong>.<br />

B<strong>em</strong>, toda <strong>censura</strong> é ridícula. Mas a <strong>censura</strong> brasileira, na passag<strong>em</strong><br />

entre as décadas de 1960 e 1970, conseguiu ser mais ridícula do<br />

que o ridículo. Aqui, na Bahia, até o então governador Luiz Viana<br />

Filho teve probl<strong>em</strong>a por seu governo ter apoiado a edição da obra<br />

poética de Gregório de Mattos. E Caetano Veloso se viu obrigado a<br />

enviar um mapa da cidade, pros então poderosos babacas de Brasília,<br />

mostrando que havia uma Rua Chile <strong>em</strong> <strong>Salvador</strong> – e que seu verso<br />

carnavalesco “a Rua Chile s<strong>em</strong>pre chega pra qu<strong>em</strong> quer” não era<br />

uma referência celebratória ao Chile socialista de <strong>Salvador</strong> Allende.<br />

Na época, aliás, Caetano me dizia: “Eles podiam me mandar uma<br />

lista dizendo as palavras que não posso usar; com o restante, eu ia<br />

me divertir à vontade”. Chico Buarque, por sinal, passou a enviar à<br />

<strong>censura</strong> letras que assinava com pseudônimo: Julinho da Adelaide.<br />

Se fosse com o nome dele, não passava.<br />

Imagin<strong>em</strong> a cara de um censor. O sujeito de cara fechada,<br />

examinando sílabas, babando <strong>em</strong> busca de ofensas ao regime, à<br />

família, à moral e aos costumes. É coisa de qu<strong>em</strong> não t<strong>em</strong> o que<br />

fazer. Os imbecis proibiram peças escritas na Grécia clássica, <strong>em</strong><br />

Atenas, como se aqueles autores gregos estivess<strong>em</strong> preocupados<br />

com a ditadura brasileira. Como se Ésquilo não fosse com a cara de<br />

Costa e Silva ou de Médici. E invadiram armados o Teatro Castro<br />

Alves por conta da encenação de uma peça (“As Senhoritas”, se<br />

não me falha a m<strong>em</strong>ória) dirigida por Álvaro Guimarães.<br />

Mas, enfim, a ditadura fez água, o navio afundou, ficamos<br />

livres daquela merda. E da <strong>censura</strong>. Até que, um belo dia, nos<br />

aparece o atual prefeito de <strong>Salvador</strong> e parte pra tentar <strong>censura</strong>r<br />

esta revista. E o que é impressionante: ganha uma coisa qualquer<br />

na Justiça, proibindo a gente de citar o nome dele! Alguém acre-<br />

dita nisso? Pode acreditar, aconteceu. O sujeito, <strong>em</strong> vez de cuidar<br />

da cidade, que está aí naufragando <strong>em</strong> dívidas e montes de lixo,<br />

queria tapar a boca dos outros (a nossa, no caso), já que não t<strong>em</strong><br />

mais como tapar o sol com a peneira.<br />

O pior é que, n<strong>em</strong> assim, conseguiu tirar uma dúvida minha.<br />

Me pergunto, há t<strong>em</strong>pos, se t<strong>em</strong>os ou não t<strong>em</strong>os prefeito nesta cidade.<br />

Há qu<strong>em</strong> me diga que sim – mas se apoiando no formalismo<br />

jurídico-político: alguém foi eleito para o cargo. E a imbecilidade<br />

eleitoral decorreu da conjuntura. Os soteropolitanos não votaram<br />

com a cabeça, mas na base da raiva e do ressentimento. Queriam<br />

nocautear Antonio Carlos. Mas, pra nocautear Antonio Carlos,<br />

era preciso foder a cidade? Não, acho que não t<strong>em</strong>os prefeito.<br />

Até prova <strong>em</strong> contrário, o que t<strong>em</strong>os, no máximo, é um projeto<br />

chinfrim de censor.<br />

Mas não me surpreendo. O que t<strong>em</strong>os hoje, ali, no prédio da<br />

prefeitura, é um produto da pobreza política local (vou atender<br />

ao desejo do distinto: o nome dele não vai aparecer neste texto).<br />

O filho de um ex-governador direitista, colocado no posto por<br />

Antonio Carlos. Qu<strong>em</strong> conhece essa história, sabe. O atual prefeito,<br />

imprefeito, desprefeito ou antiprefeito de <strong>Salvador</strong> é cria<br />

de curral manjado. Nasceu num rodeio de rotina. No que havia<br />

de mais reacionário dentro do próprio “carlismo”. B<strong>em</strong> vistas as<br />

coisas, é um dos novilhos do carlismo touro-sertanejo.<br />

E deve detestar esta cidade. Afinal, vive maquinando: qual<br />

a forma mais rápida e eficaz de destruir <strong>Salvador</strong>? Acumulando<br />

dívidas? Deixando que o lixo tome conta de tudo? Fazendo de<br />

conta que a Estação da Lapa não existe? Ampliando o leque de<br />

aliados? Abandonando a saúde pública e as escolas municipais?<br />

Incr<strong>em</strong>entando o caos administrativo?<br />

Mas uma coisa ficou no ar. Fácil, mas difícil de entender. Os<br />

bravos companheiros “de esquerda”, que tanto esbravejaram contra<br />

a <strong>censura</strong> t<strong>em</strong>pos atrás, desta vez se fingiram de mortos. Ficaram<br />

quietos. Caladinhos. Por quê? Estão tirando suas lasquinhas no<br />

poder municipal? B<strong>em</strong>, só espero que não tenham a cara de pau<br />

de tentar me provar que o desprefeito é “progressista”. Quanto<br />

aos moradores da cidade, que pens<strong>em</strong> um pouco. Elegeram esse<br />

cara uma vez. Duas, vai ser d<strong>em</strong>ais. •<br />

Consumo<br />

Pra que Cesta do Povo?<br />

Com preços até mais caros que outros supermercados, Ebal perde razão de existir<br />

Camila Cintra<br />

A Ebal, administradora das lojas da<br />

Cesta do Povo, é um probl<strong>em</strong>a para o governo<br />

do Estado. Isto é um fato público<br />

e notório. Se o incauto leitor discorda, os<br />

números abaixo mostram claramente por<br />

que se permite fazer tal afirmação.<br />

As 261 lojas da Cesta do Povo que já<br />

foram reabertas custaram aos cofres do governo<br />

do Estado, <strong>em</strong> média, R$7.889.272<br />

por mês. Além disso, foram investidos<br />

R$1.447.307 para a reabertura destas<br />

lojas. Somando os números, apenas nos<br />

seis primeiros meses de 2007 o governo<br />

investiu R$48.732.939,00 na Cesta do<br />

Povo. Quando as 425 lojas estiver<strong>em</strong> funcionando<br />

normalmente - o que é normal<br />

para eles pouco importa -, o custo mensal<br />

vai subir para R$12, 9 milhões. Em um<br />

ano, a brincadeirinha vai subtrair mais de<br />

R$154 milhões dos cofres estaduais ou, se<br />

preferir, do seu bolso.<br />

A missão da Ebal, segundo o site da<br />

<strong>em</strong>presa, é “garantir à população de menor<br />

poder aquisitivo do Estado da Bahia acesso<br />

a alimentos, produtos de higiene e limpeza<br />

de qualidade a preços baixos e serviços de<br />

interesse social”. Mas, uma pesquisa feita<br />

pela reportag<strong>em</strong> da <strong>Metrópole</strong> já comprovou<br />

que outras redes de supermercados,<br />

que vend<strong>em</strong> no atacado e também no varejo,<br />

consegu<strong>em</strong> comercializar os mesmos<br />

produtos com preços muito mais <strong>em</strong> conta.<br />

Ou seja, o objetivo a que se propõe não é<br />

Nas lojas da Ebal, até que os consumidores encontram produtos variados, mas preço baixo, que é bom, está difícil<br />

alcançado. Quanto aos serviços de interesse<br />

social, quais seriam? Em bom baianês,<br />

qu<strong>em</strong> souber morre!<br />

Além de mostrar-se mat<strong>em</strong>aticamente<br />

desnecessária, a Ebal possui hoje uma dívida<br />

de mais de R$ 319.834.420, segundo<br />

a assessoria da própria <strong>em</strong>presa. A dívida<br />

é uma herança do governo passado, mas<br />

a CPI instalada na Ass<strong>em</strong>bléia Legislativa<br />

para investigar o que levou a Ebal ao buraco<br />

mostra que o rombo continua aumentando<br />

na atual administração.<br />

Ao depor na CPI, o então diretor Ad-<br />

ministrativo e Financeiro da Ebal, Eduardo<br />

Carneiro (d<strong>em</strong>itido dois dias depois de depor<br />

na CPI), revelou que, neste ano, a Cesta do<br />

Povo t<strong>em</strong> dado um prejuízo mensal de R$5<br />

milhões. E isso com menos da metade das<br />

lojas funcionando.<br />

Outros depoimentos e informações levantada<br />

pela CPI mostram evidências da<br />

existência de superfaturamento e contratação<br />

de prestação de serviços s<strong>em</strong> licitação.<br />

O probl<strong>em</strong>a, segundo Carneiro, é que muitos<br />

dos contratos irregulares ainda estão<br />

vigentes e alguns até foram renovados. •<br />

8 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 9<br />

notas da <strong>Metrópole</strong><br />

Transparência<br />

Por falta de transparência<br />

ninguém pode criticar a<br />

presidente da Bahiatursa, Emília<br />

Silva. Recent<strong>em</strong>ente, numa festa<br />

que a TAM realizou <strong>em</strong> Buenos<br />

Aires para promover o vôo<br />

direto entre <strong>Salvador</strong> e a capital<br />

argentina, ela causou espanto<br />

ao desfilar trajando uma blusa<br />

preta transparente sob a qual se<br />

revelava um sutiã tamanho 54.<br />

Verão<br />

Qu<strong>em</strong> acessa o site da <strong>em</strong>presa<br />

oficial de turismo da Bahia -<br />

www.bahiatursa.ba.gov.br - pode<br />

ser levado a crer que o trabalho<br />

da entidade acabou com o verão.<br />

A última notícia divulgada no<br />

dito site data de 31 de janeiro<br />

de 2007.<br />

Valter Pontes


Trânsito<br />

Motoristas voam e<br />

Justiça se arrasta<br />

22 de julho de 2002.<br />

Um policial dirigindo<br />

<strong>em</strong> alta velocidade<br />

perde o controle<br />

do carro e atropela<br />

3 pessoas – duas<br />

morr<strong>em</strong> degoladas<br />

e a terceira sofre<br />

ferimentos graves.<br />

O motorista foge s<strong>em</strong><br />

socorrer as vítimas<br />

Jéssica Senra<br />

O acidente acima ocorreu <strong>em</strong> <strong>Salvador</strong> e,<br />

assim como outros dois que serão abordados<br />

nesta matéria, está sendo tratado como crime<br />

de trânsito. A s<strong>em</strong>elhança entre esses crimes é<br />

que, além de matar e aleijar inocentes, nenhum<br />

deles, até agora, encontrou na Justiça uma resposta<br />

às vítimas, à suas famílias e à própria<br />

sociedade. O mais recente há pouco mais de<br />

um ano, e o mais antigo há mais de dez, são<br />

ex<strong>em</strong>plos de tantos casos que se arrastam no<br />

judiciário por conta do excesso de processos,<br />

pela falta de juízes substitutos e pelas brechas<br />

da lei que permit<strong>em</strong> aos criminosos protelar<strong>em</strong><br />

seus julgamentos. A pilha de processos não<br />

concluídos traz à sociedade a sensação de impunidade<br />

que outros episódios reforçam.<br />

Um claro ex<strong>em</strong>plo da deficiência da Justiça<br />

é o processo que envolve o agente policial João<br />

Carlos Paranhos Cerqueira. Em julho de 2002,<br />

ele perdeu o controle do carro, que dirigia <strong>em</strong><br />

alta velocidade, numa curva da Avenida Luís<br />

Eduardo Magalhães. O automóvel, um viatura<br />

da Polícia Civil, subiu no passeio e atingiu Cr<strong>em</strong>ilda<br />

Pereira de Farias, de 52 anos, Lindaura<br />

Dias da Silva, de 61, que morreram degoladas<br />

na hora, além de Márcio José da Silva Barbosa,<br />

de 24 anos, que ficou grav<strong>em</strong>ente ferido.<br />

O policial, descumprindo a lei, fugiu s<strong>em</strong><br />

prestar socorro às vítimas. Em depoimento,<br />

João Cerqueira afirmou que não sabia da existência<br />

de vítimas e que estava dirigindo na<br />

velocidade permitida. No entanto, o laudo<br />

pericial da própria Polícia Civil atesta que o<br />

acidente foi causado pela velocidade elevada,<br />

incompatível com a segurança do tráfego.<br />

Cinco anos depois, o processo, que está na<br />

2ª Vara de Acidentes de Veículos, ainda está na<br />

fase de instrução. Das onze audiências marcadas,<br />

apenas duas foram realizadas, a primeira <strong>em</strong><br />

10/10/2002 e a última delas <strong>em</strong> 22/08/2005.<br />

agência a tarDe/Walter carValho<br />

Nelas, apenas o réu e algumas test<strong>em</strong>unhas foram<br />

ouvidos. Os motivos para os cancelamentos<br />

são os mais variados e absurdos: uma vez o<br />

promotor estava de férias, <strong>em</strong> outra o juiz foi<br />

deslocado para atuar no Tribunal Regional Eleitoral<br />

(TRE), numa terceira o promotor estava<br />

de licença-médica e teve até um cancelamento<br />

porque o juiz teve que ir resolver assuntos no<br />

Tribunal de Justiça da Bahia.<br />

A próxima audiência está marcada para<br />

23 de outubro deste ano. Se for realizada,<br />

deverão ser ouvidas a vítima que sobreviveu e<br />

outras test<strong>em</strong>unhas de acusação. Depois serão<br />

marcadas as sessões para as test<strong>em</strong>unhas de<br />

defesa depor<strong>em</strong>. Só então é que virá a fase das<br />

últimas observações por parte da acusação e<br />

da defesa até que o veredicto possa ser dado<br />

e, se não houver recurso, executado.<br />

Outro caso que parece seguir pelo mesmo<br />

lento caminho é o do ônibus da <strong>em</strong>presa Modelo,<br />

que levava cerca de 50 passageiros quando<br />

tombou sobre o canteiro central da Avenida<br />

Luís Eduardo Magalhães, <strong>em</strong> fevereiro do ano<br />

passado. Segundo test<strong>em</strong>unhas, o motorista<br />

Edevaldo Pinto dos Santos também dirigia <strong>em</strong><br />

alta velocidade, além de conversar com um<br />

rapaz de identidade ignorada ao mesmo t<strong>em</strong>po<br />

<strong>em</strong> que falava ao telefone celular. Ao fazer uma<br />

curva, o motorista perdeu o controle e o veículo<br />

virou sobre o canteiro central. O rodoviário<br />

fugiu com medo de ser linchado.<br />

A passageira Maria das Graças Nascimento,<br />

de 54 anos, foi socorrida, mas morreu a caminho<br />

do Hospital Geral do Estado. Outras 26 pessoas<br />

ficaram feridas, entre elas, Daniele Costa Neves,<br />

de 18 anos, e Priscila dos Santos Oliveira, de 14,<br />

que tiveram os braços esquerdos decepados.<br />

O inquérito policial foi concluído e enviado,<br />

<strong>em</strong> maio do ano passado, ao Ministério<br />

Público, que denunciou Edevaldo Santos por<br />

homicídio culposo. A primeira audiência, se<br />

acontecer, será no dia 8 de nov<strong>em</strong>bro, ou seja,<br />

um ano e nove meses depois do acidente.<br />

Mas um veredicto na Vara Crime n<strong>em</strong><br />

s<strong>em</strong>pre significa o fim do caminho n<strong>em</strong> a punição<br />

dos culpados. Há onze anos, as famílias<br />

de Alexandre Meirelles Nascimento, Gustavo<br />

André Ribeiro do Carmo e Laerte Pereira de<br />

Oliveira esperam uma resposta da Justiça.<br />

Alexandre Nascimento e Gustavo do Carmo<br />

morreram e Laerte Oliveira ficou grav<strong>em</strong>ente<br />

ferido, carregando seqüelas até hoje do<br />

acidente que envolveu o carro <strong>em</strong> que estavam,<br />

na noite de 4 de julho de 1996, e uma<br />

BMW pilotada pelo <strong>em</strong>presário Luciano Alves<br />

Rocha, que dirigia <strong>em</strong> alta velocidade e ainda<br />

ultrapassou o sinal vermelho. O <strong>em</strong>presário<br />

agência a tarDe/geralDo ataíDe<br />

fugiu s<strong>em</strong> prestar socorro às vítimas.<br />

O processo levou quatro anos na Justiça<br />

criminal até que, <strong>em</strong> 28 de agosto de 2000,<br />

a juíza Rita de Cássia Machado Magalhães<br />

Filgueiras Nunes, então substituta da 2ª Vara<br />

Criminal Especializada da Infância e da Juventude,<br />

absolveu o réu. Pelo entendimento<br />

dela, não foi possível concluir que Luciano<br />

Rocha foi o responsável pelo acidente, mesmo<br />

com test<strong>em</strong>unhas afirmando que o bacana da<br />

BMW avançou o sinal <strong>em</strong> alta velocidade.<br />

Apesar do desfecho <strong>em</strong> primeira instância do<br />

processo criminal, as famílias das vítimas conseguiram<br />

na Justiça uma vitória. Paralelamente ao<br />

julgamento na Vara Crime, eles moveram uma<br />

ação cível exigindo indenização do “monstrorista”.<br />

Dois anos depois do acidente, <strong>em</strong> 20 de<br />

dez<strong>em</strong>bro de 2002, o titular da 20 a Vara Cível,<br />

juiz Renato Ribeiro Marques da Costa, entendeu<br />

pela culpa do réu e condenou Luciano Alves<br />

da Rocha ao ressarcimento a título indenizatório<br />

para as famílias das vítimas.<br />

Porém, após 4 anos de publicação da sentença,<br />

as famílias de Alexandre Nascimento,<br />

Gustavo do Carmo e Laerte Oliveira ainda<br />

não receberam um centavo. Durante esses<br />

dez anos, o processo foi bastante tumultuado.<br />

6 de fevereiro de 2006.<br />

Um ônibus com 50<br />

passageiros tomba na<br />

Paralela, matando uma<br />

pessoa e deixando outras<br />

26 feridas, entre elas<br />

duas adolescentes que<br />

perderam os braços<br />

Além das manobras para protelar a ação, surgiram<br />

diversas acusações de tráfico de influência<br />

e de que o <strong>em</strong>presário Luciano Rocha estava<br />

transferindo seu patrimônio para o nome de<br />

familiares para não pagar as indenizações.<br />

Os crimes de trânsito são julgados com<br />

base no Código Brasileiro de Trânsito (CBT),<br />

que determina, nos casos de homicídio culposo<br />

na direção do veículo, além de suspensão<br />

da habilitação, de dois a quatro anos de cadeia<br />

para o assassino. Se houver agravantes, como<br />

deixar de prestar socorro à vítima, a pena pode<br />

ser aumentada de um terço à metade. No caso<br />

de existir mais de uma vítima, o réu pode ser<br />

4 de julho de 1996.<br />

Uma BMW <strong>em</strong> alta velocidade invade<br />

o sinal vermelho e bate <strong>em</strong> outro<br />

veículo, matando dois passageiros e<br />

ferindo outro<br />

julgado por uma delas e ter a pena acrescida<br />

de 1/6 à metade ou pode ser julgado por cada<br />

vítima e ter as penas somadas.<br />

Um detalhe: os crimes de trânsito geralmente<br />

são considerados culposos, ou<br />

seja, s<strong>em</strong> intenção. Dessa forma, a pena de<br />

prisão pode ser substituída por uma pena<br />

alternativa. Mesmo assim, os criminosos do<br />

trânsito apresentados nesta matéria estão<br />

longe até mesmo do pagamento de cestas<br />

básicas ou dos trabalhos comunitários que<br />

geralmente são imputados aos condenados<br />

por esse tipo de crime. •<br />

10 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 11


Em 1941, o desenhista e<br />

cineasta Walt Disney visitou o<br />

Brasil numa viag<strong>em</strong> que objetivava<br />

o estreitamento das relações<br />

entre os Estados Unidos<br />

e o nosso País. Chegando ao<br />

Rio de Janeiro, de olhos b<strong>em</strong><br />

abertos neste sentido, buscou<br />

informações que pudess<strong>em</strong><br />

subsidiar a criação de um personag<strong>em</strong><br />

tupiniquim para os<br />

seus desenhos animados.<br />

É bom l<strong>em</strong>brar que Disney<br />

História<br />

se notabilizou por dar status<br />

humano aos seus bichinhos<br />

animados. Gatos, ratos, patos,<br />

cachorros, elefantes,<br />

etc., cantavam, dançavam,<br />

falavam, dirigiam carros,<br />

constituíam família... enfim,<br />

tinham personalidade. Aqui,<br />

sua pergunta de algibeira era:<br />

‘Como seria um tipo brasileiro<br />

interessante, que pudesse<br />

ser levado às telas?’<br />

Nesta tarefa, o americano<br />

recebeu ajuda de inúmeros palpiteiros,<br />

dentre eles o ilustrador<br />

J. Carlos, que apresentou ao<br />

nobre visitante americano um<br />

animalzinho que b<strong>em</strong> poderia<br />

representar o pavilhão verde e<br />

amarelo naquele universo imaginário:<br />

um papagaio. E os nossos<br />

bons anfitriões completaram a<br />

oferta de idéias, construindo detalhadamente<br />

o perfil da tal animada<br />

figura, dando-lhe caráter<br />

humano, tendo como espelho o<br />

malandro carioca.<br />

Foi assim que, pouco t<strong>em</strong>po<br />

depois, Walt Disney colocou <strong>em</strong><br />

película o seu novo personag<strong>em</strong>:<br />

um tipo b<strong>em</strong> falante, bom de<br />

lábia, vivaldino, capaz de enrolar<br />

a namorada por décadas, pendurar<br />

eternamente as contas na<br />

banca do melhor amigo, famoso<br />

No início da década de 1940,<br />

<strong>em</strong> plena 2ª Guerra Mundial,<br />

os Estados Unidos, preocupados<br />

com a aproximação e a simpatia<br />

de Getúlio Vargas com a<br />

Al<strong>em</strong>anha de Hitler, enviaram<br />

para o Brasil seus melhores<br />

relações públicas - os astros e<br />

estrelas de Hollywood - para<br />

ganhar a simpatia dos brasileiros<br />

à causa aliada. Entre eles, Walt<br />

Disney e Orson Welles.<br />

tom tA v A R e s<br />

Zé Carioca<br />

pela habilidade <strong>em</strong> dar rasteiras<br />

quando de suas negociações, motivando<br />

até mesmo a criação de<br />

uma grandiosa organização cuja<br />

existência se justificava na sua<br />

própria denominação: ANACO-<br />

ZECA – Associação Nacional de<br />

Cobradores do Zé Carioca.<br />

Quando a idéia ganhou vida<br />

e o Zé chegou às telas dos cin<strong>em</strong>as,<br />

foi uma festa só. Ali estava<br />

representado o mais autêntico<br />

carioca, segundo orientação de<br />

<strong>em</strong>inentes artistas daquelas belas<br />

terras banhadas pelas águas<br />

da Baía de Guanabara: malandro,<br />

folgado, enrolado, caloteiro,<br />

treteiro. Se alguma coisa<br />

b<strong>em</strong> fizesse, talvez fosse um<br />

bom peladeiro! Da Mangueira<br />

ao Corcovado, do Galeão ao<br />

Leblon, nenhuma repulsa provocou.<br />

O povo do Rio achou<br />

tudo muito comum, normal,<br />

muito igual e legal, até.<br />

Abro aqui um parênteses para<br />

dizer que morei naquela antiga<br />

capital do Brasil e sou test<strong>em</strong>unha<br />

do orgulho com que a<br />

maioria dos nativos se referia a<br />

si mesmos como grandes malandros,<br />

apontando para os d<strong>em</strong>ais<br />

habitantes do país como “manés”.<br />

Em outras palavras, o carioca era<br />

o vivo, o esperto, sendo o resto da<br />

população brasileira constituído<br />

por um bando de otários, gente<br />

facilmente enganável. A louvação<br />

ao malandro foi levada tão a sério<br />

que a prática da malandrag<strong>em</strong><br />

acabou por se tornar uma espécie<br />

de guia, manual de conduta do<br />

cidadão que teria na Lapa a sua<br />

faculdade. Ganhou até ópera!<br />

Pois é. O t<strong>em</strong>po foi passando<br />

e o tal meliante foi se multiplicando<br />

na cara da autoridade, nas<br />

barbas da população. Como resultado,<br />

no Rio de hoje o povo<br />

está preso <strong>em</strong> casa enquanto o<br />

Zé Carioca está solto nas ruas,<br />

comandando as massas, praças<br />

e instituições falidas. T<strong>em</strong> um<br />

pé no morro, outro no palácio,<br />

mão esquerda no Maracanã, mão<br />

direita sobre Copacabana e a<br />

boca aberta <strong>em</strong> direção ao Pão<br />

de Açúcar. Com o sol s<strong>em</strong>pre<br />

brilhando, sua sombra se alastra,<br />

apavora, determina, manda<br />

e desmanda, domina.<br />

No ponto <strong>em</strong> que a situação<br />

chegou, os meus bons amigos<br />

cariocas (sim, há muitos cariocas<br />

bons!) não têm outra alternativa:<br />

<strong>em</strong> legítima defesa, vão<br />

ter que matar o Zé.<br />

Para o carioca sobreviver, Zé<br />

Carioca – “muso” inspirador –<br />

terá que morrer. •<br />

12 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 5


Justiça<br />

A intolerância mata e<br />

o preconceito enterra<br />

Um gay é assassinado a cada duas s<strong>em</strong>anas no Brasil e os assassinos quase nunca são presos<br />

Welinton Aragão e<br />

Victor Uchôa<br />

Os assassinatos de cinco<br />

gays este ano, na Bahia, entraram<br />

para as estatísticas que colocam<br />

o Estado na rotina dos<br />

crimes de ódio. São aqueles<br />

insultos, danos morais e materiais,<br />

agressão física e homicídios,<br />

praticados <strong>em</strong> razão da<br />

raça, sexo, religião, orientação<br />

sexual ou etnia da vítima.<br />

Em 2006, a Bahia apareceu<br />

como o terceiro Estado<br />

brasileiro onde mais se matou<br />

gays. Sete casos. Do ponto<br />

de vista legal, alguns crimes<br />

são piores que os outros. Do<br />

ponto de vista social, a sociedade<br />

baiana parece colocar os<br />

crimes contra homossexuais<br />

na última escala de prioridade,<br />

todos parec<strong>em</strong> iguais.<br />

O ex<strong>em</strong>plo é a morte do<br />

professor do Instituto de<br />

Geociências da UFBA, João<br />

Lamarck Argolo, um homossexual<br />

assassinado provavelmente<br />

por rapazes que freqüentavam<br />

seu apartamento.<br />

Qu<strong>em</strong> quiser saber sobre o<br />

crime contra o professor não<br />

encontrará notícias nos jornais<br />

n<strong>em</strong> nas televisões. A<br />

morte do professor virou notinha<br />

e a investigação policial<br />

caminha lenta. As estatísticas<br />

mostram que menos de 10%<br />

dos autores de crimes contra<br />

gays são identificados.<br />

O professor foi mais uma<br />

vítima de um tipo de crime<br />

que está se tornando comum,<br />

rotina <strong>em</strong> uma sociedade que<br />

sofre de homofobia coletiva:<br />

o homossexual leva para casa<br />

um garoto de programa que o<br />

rouba e muitas vezes o mata.<br />

Conhecer o perfil desses assassinos<br />

t<strong>em</strong> sido uma tarefa<br />

difícil para os militantes. Os<br />

casos não são apurados e a<br />

vítima é tratada como réu.<br />

No fundo, pensa a polícia: “a<br />

bicha foi descuidada e mereceu<br />

morrer”.<br />

O psicólogo Cláudio Picazio<br />

acredita que os homossexuais<br />

são vítimas porque é<br />

um público-alvo mais fácil.<br />

“O cara pensa: ‘vou lá, vai<br />

ser fácil e o cara não vai denunciar’....<br />

O gay é mais indefeso, t<strong>em</strong> medo do<br />

ladrão e da polícia. Acredito que o<br />

crime gay acontece por vários motivos.<br />

Um deles é a homofobia coletiva<br />

provocada por diversos fatores, e um<br />

destes fatores é a própria internalização<br />

da crença de ser um ser menor”,<br />

explica.<br />

Especialista <strong>em</strong> sexualidade humana,<br />

consultor do Ministério da Saúde,<br />

Cláudio Picazio acha que é muito complicado<br />

traçar o perfil do assassino de<br />

gays: “Já sab<strong>em</strong>os coisas desses assassinos<br />

como, por ex<strong>em</strong>plo, os que atacam<br />

por grupos. Exist<strong>em</strong> vários tipos<br />

de agressões. A idéia geral é ‘vamos exterminar<br />

qu<strong>em</strong> vale menos’. Uma única<br />

teoria não dá conta da questão. T<strong>em</strong><br />

que haver uma prudência neste perfil,<br />

assim como <strong>em</strong> todos os<br />

outros tipos de assassinos,<br />

para que não fique persecutório<br />

com alguns grupos, o<br />

que evident<strong>em</strong>ente não resolve<br />

o probl<strong>em</strong>a e sim o<br />

amplia”.<br />

O antropólogo Luís Mott,<br />

fundador do Grupo Gay da<br />

Bahia (GGB), um respeitado<br />

militante, faz a pergunta e<br />

ele mesmo responde: “Por<br />

que tantos homossexuais são<br />

assassinados? O que explicaria<br />

a ocorrência de tantos<br />

crimes de ódio <strong>em</strong> nosso<br />

País? Comec<strong>em</strong>os analisando<br />

pelo lado dos assassinos.<br />

Em sua maior parte, o jov<strong>em</strong><br />

ou hom<strong>em</strong> adulto que mata<br />

gay ou travesti t<strong>em</strong> sérios<br />

probl<strong>em</strong>as com a própria sexualidade.<br />

Muitas vezes, são<br />

rapazes ou homens possuidores de forte<br />

desejo homoerótico, mas que não têm<br />

estrutura <strong>em</strong>ocional n<strong>em</strong> culhões para<br />

enfrentar a barra que é ser bicha neste<br />

País onde só t<strong>em</strong> poder qu<strong>em</strong> aparenta<br />

ser machão”.<br />

No fundo, continua Luís Mott,<br />

grande parte dos matadores de gays<br />

gostaria, eles próprios, de ser<strong>em</strong> gays<br />

ou travestis. “Eles matam, muitas vezes,<br />

depois de ter<strong>em</strong> transado com outro<br />

hom<strong>em</strong>, lavando com o sangue da vítima<br />

a culpa e o pecado que não suportam<br />

carregar depois do orgasmo”.<br />

Na mesma linha de pensamento,<br />

Cláudio Picazio concorda com Mott<br />

que a maioria dos matadores de gays<br />

é de viado enrustido, mas ressalta que<br />

não pod<strong>em</strong>os generalizar para todos<br />

os assassinos. “Há uma diferença entre<br />

Homofobia<br />

Caracteriza o medo e o resultante desprezo pelos homossexuais<br />

que alguns indivíduos sent<strong>em</strong>. Os intelectuais mais progressistas<br />

e as bibas militantes costumam dizer que, para muitas pessoas,<br />

a homofobia é fruto do medo delas próprias ser<strong>em</strong> bichas ou<br />

de que os outros pens<strong>em</strong> que elas são. A afirmação é polêmica,<br />

generalista, mas atinge <strong>em</strong> cheio as pessoas que passam boa parte<br />

da vida rejeitando a sexualidade alheia. O termo homofobia<br />

é usado para descrever uma repulsa face às relações afetivas e<br />

sexuais entre pessoas do mesmo sexo, um ódio generalizado aos<br />

homossexuais e todos os aspectos do preconceito heterossexista e<br />

da discriminação anti-homossexual.<br />

Crime de Ódio<br />

São crimes motivados pelo racismo, machismo, intolerância<br />

religiosa, homofobia e etnocentrismo, levando seus autores<br />

geralmente a praticar<strong>em</strong> elevado grau de violência física e<br />

desprezo moral contra a vítima, sendo tais mortes muitas<br />

vezes antecedidas de tortura, uso de múltiplas armas e grande<br />

número de golpes.<br />

atitude e desejo. Desejo é o impulso e<br />

t<strong>em</strong> o recheio erótico. Atitude é uma<br />

transa s<strong>em</strong> conteúdo de desejo (é quase<br />

que uma masturbação a dois). Alguns<br />

casos pod<strong>em</strong> ser realmente homofobia.<br />

Outros, não. Não é uma regra geral. Se<br />

fosse regra, todos os gays que têm uma<br />

homofobia seriam pessoas agressivas e<br />

isso não é verdade. Muitos até se autoagrid<strong>em</strong>,<br />

outros se defend<strong>em</strong>. Não pod<strong>em</strong>os<br />

cair nessa idéia de que gay encubado,<br />

que não se aceita, é um assassino<br />

<strong>em</strong> potencial. Essa idéia é perigosa”.<br />

No Brasil, de acordo com um levantamento<br />

do GGB, foram assassinados<br />

este ano 65 homossexuais, 23 a menos<br />

que o total de 2006. Nos últimos 27<br />

anos, foram 2.745 mortes, uma execução<br />

a cada duas s<strong>em</strong>anas. Uma preocupação<br />

do movimento gay é como<br />

ensinar os homossexuais a<br />

se defender<strong>em</strong>. “Uma for-<br />

ma de combater o probl<strong>em</strong>a<br />

é dizer ao gay que ele é um<br />

cidadão e não um ser menor<br />

no contexto social. Ele<br />

t<strong>em</strong> direitos e deve buscar a<br />

proteção que é devida a todos<br />

os cidadãos. Formar a<br />

população policial, ações<br />

sociais e repressão sim,<br />

com leis que criminaliz<strong>em</strong><br />

o preconceito com gays”,<br />

afirma Picazio.<br />

Para combater os assassinatos<br />

o Grupo Gay da<br />

Bahia produziu o documento<br />

“Gay vivo não dorme<br />

com o inimigo”. São 10<br />

instruções de como evitar a<br />

violência anti-homossexual<br />

(veja no site www.ggb.org.<br />

br/manual). •<br />

14 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 15<br />

notas da <strong>Metrópole</strong><br />

Liberou geral<br />

A legislação municipal proíbe a<br />

colocação de faixas publicitárias<br />

nos postes e vias públicas da<br />

cidade. Mas o prefeito João<br />

Henrique se sente superior à lei.<br />

A foto abaixo foi tirada no dia<br />

27 de junho, nove dias após do<br />

evento que anuncia.


Ren A t o PinheiRo<br />

Relax<strong>em</strong> e goz<strong>em</strong><br />

Andei refletindo bastante sobre a histórica<br />

frase da nossa ministra do Turismo,<br />

Marta Suplicy, quando, rel<strong>em</strong>brando<br />

seus t<strong>em</strong>pos de sexóloga da Rede Globo,<br />

aconselhou os turistas afetados pelo<br />

apagão aéreo a “relaxar e gozar”. Taí um<br />

bom conselho. Se não bom, pelo menos<br />

realista. Uma frase curta, simples, mas<br />

que, b<strong>em</strong> traduzida, reflete toda a complexidade<br />

da situação.<br />

A rigor, o que a ministra na verdade<br />

disse foi o seguinte:<br />

- Olha aqui, meu filho, você quer saber<br />

o que é que eu vou dizer aos turistas?<br />

O que é que você quer que eu diga?<br />

Que é essa merda mesmo que todos estão<br />

vendo? Que a aviação civil brasileira está<br />

desmoralizada, ninguém mais se respeita<br />

nessa área? Os vôos atrasam, são cancelados,<br />

seja por causa de chuva, de nevoeiro,<br />

de equipamentos, de cachorro na pista,<br />

mas no fundo, no fundo é tudo desculpa,<br />

os controladores de vôo é que estão por<br />

trás da confusão toda?<br />

- E o governo ao qual pertenço – continu<strong>em</strong>os<br />

traduzindo a ministra - está <strong>em</strong>purrando<br />

o probl<strong>em</strong>a com a barriga, não<br />

está negociando nada, t<strong>em</strong> medo de irritar<br />

a Aeronáutica, não aumenta os salários<br />

dos caras, não desmilitariza o controle<br />

do tráfego aéreo, aí os caras sacaneiam,<br />

faz<strong>em</strong> operação-padrão, as companhias<br />

aéreas aproveitam para também desrespeitar<br />

ao máximo os direitos dos passageiros,<br />

o ministro da Defesa aperta os olhinhos<br />

e dá uma desculpa esfarrapada qualquer,<br />

a coisa não ata n<strong>em</strong> desata e a cada fim<br />

de s<strong>em</strong>ana, a cada feriadão, instala-se o<br />

caos. É isso que está acontecendo, meu<br />

caro. É isso que você quer que eu diga<br />

para os turistas? Não, meu filho, isso eu<br />

não posso dizer. O melhor que eu tenho<br />

a fazer é aconselhar: já que estão mesmo<br />

sendo estuprados, relax<strong>em</strong> e goz<strong>em</strong>.<br />

Portanto, que não se acuse a ministra<br />

Marta de insincera. Ela apenas não<br />

podia dizer tudo, coitada. Por isso, com<br />

admirável poder de síntese, optou por<br />

erotizar o probl<strong>em</strong>a e apelar para o chamamento<br />

orgástico. Relax<strong>em</strong> e goz<strong>em</strong>.<br />

Eu, de minha parte, como turista quase<br />

compulsivo que sou, declaro que acato<br />

plenamente o conselho ministerial e até<br />

já me antevejo ejaculando <strong>em</strong> pleno salão<br />

de <strong>em</strong>barque do aeroporto, numa quilométrica<br />

fila de check-in da Gol.<br />

E não seria exagerado especular que,<br />

se todos seguiss<strong>em</strong> o conselho da ministra,<br />

poderia acontecer um tr<strong>em</strong>etr<strong>em</strong>e<br />

geral nos aeroportos brasileiros,<br />

um orgasmo múltiplo e coletivo jamais<br />

visto ou registrado. Pelo menos nunca<br />

na história deste País. •<br />

Este é um espaço dedicado a qu<strong>em</strong> gosta e a qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> curiosidade pelo t<strong>em</strong>a SEXO! Aqui os leitores pod<strong>em</strong><br />

tirar suas dúvidas com a sexóloga Gilda Fucs. Basta enviar sua pergunta para revistametropole@ksz.com.br que nós<br />

publicar<strong>em</strong>os. Não se preocupe se você é broxa ou frígida, sua identidade será mantida <strong>em</strong> sigilo.<br />

CDS, 29 anos, casada.<br />

Dra. Gilda, meu marido me adula para fazer<br />

sexo oral comigo, eu sou evangélica e não creio<br />

que isso seja saudável, mas tenho curiosidade<br />

de experimentar, até porque tenho medo que<br />

meu marido tente conseguir na rua o que eu<br />

não concedo <strong>em</strong> casa. O que eu devo pesar para<br />

resolver esse dil<strong>em</strong>a? Por favor, me ajude.<br />

Gilda Fucs - Antes de qualquer coisa, você t<strong>em</strong> que se posicionar.<br />

Se a vontade de experimentar o sexo oral for grande, pense <strong>em</strong><br />

satisfazer o seu desejo, mas leve <strong>em</strong> consideração a possibilidade<br />

de ficar grilada pelo resto da vida devido ao rompimento com as<br />

regras e os preceitos da sua religião. Essa é uma situação desconfortável,<br />

e o poder de decisão está <strong>em</strong> suas mãos, l<strong>em</strong>brando que<br />

é preciso pesar com bastante critério, porque você está dividida<br />

entre a força de querer provar uma sensação nova e a necessidade<br />

de seguir o que estabelece a religião.<br />

BCP, 36 anos, casado.<br />

Dra. Gilda, dependendo da posição <strong>em</strong> que<br />

eu e minha mulher transamos, a vagina dela<br />

faz um barulho estranho, que às vezes me deixa<br />

constrangido. Em alguns momentos, o meu<br />

tesão chega a diminuir. O que eu faço?<br />

Gilda Fucs - Estes sons são gases vaginais que realmente aparec<strong>em</strong><br />

dependendo da posição <strong>em</strong> que o casal tenha a sua relação<br />

sexual. Estes gases geralmente não têm mau cheiro, mas muitos<br />

casais reclamam que na hora da relação eles se tornam constrangedores.<br />

Então, a única forma de melhorar isso é buscar posições <strong>em</strong><br />

que o barulho não aconteça. Buscar uma posição prazerosa, s<strong>em</strong> o<br />

som desagradável. Por outro lado, se o cheiro dos gases incomodar,<br />

isso significa que existe uma infecção na vagina, portanto, a mulher<br />

deve procurar um ginecologista. Mas se a pessoa estiver sadia, não<br />

t<strong>em</strong> mau cheiro e a única solução é a mudança de posição.<br />

JFAD, 23 anos, solteira.<br />

Dra. Gilda, meu namorado t<strong>em</strong> o pênis<br />

muito grande e às vezes me machuca quando<br />

transamos por um período mais prolongado ou<br />

com entusiasmo maior. Como faço para evitar<br />

me machucar e será que posso ficar “folgada”<br />

e sentir menos prazer na relação com homens<br />

de proporções normais?<br />

Gilda Fucs - Pra ficar menos machucada é preciso que o casal<br />

escolha determinadas posições <strong>em</strong> que o pênis do rapaz não penetre<br />

tão profundamente na vagina da parceira. Em casos assim,<br />

qu<strong>em</strong> deve ter o maior cuidado é hom<strong>em</strong>, que deve agir com<br />

cautela para que a relação seja prazerosa e não dolorosa. Homens<br />

que têm o pênis muito grande não pod<strong>em</strong> agir int<strong>em</strong>pestivamente.<br />

Quanto ao t<strong>em</strong>or de ficar folgada, esta é uma possibilidade<br />

nula, pois a vagina é um tubo flexível, que pode passar por um<br />

alargamento durante a relação e depois voltar ao normal. A vagina<br />

não é formada por paredes rígidas, e sim por paredes elásticas,<br />

tanto é que no momento do parto passa por ali um bebê que<br />

pode chegar a 3,5 kg. Então, quando a mulher tiver, futuramente,<br />

uma relação com um hom<strong>em</strong> de proporções normais ela sentirá<br />

o mesmo prazer, pois a vagina é bastante elástica.<br />

16 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 17


Da redação<br />

N<strong>em</strong> gaste sua gasolina rodando <strong>em</strong><br />

busca de um preço mais <strong>em</strong> conta nos<br />

postos de combustíveis da cidade. É tudo<br />

a mesma coisa. E o pior, a qualidade do<br />

produto é questionável e as autoridades<br />

não tomam qualquer providência. O<br />

nome disso é cartel, é crime, mas como<br />

deve envolver muito dinheiro ninguém<br />

t<strong>em</strong> corag<strong>em</strong> de mexer.<br />

Segundo o dicionário Houaiss, cartel<br />

significa “acordo comercial entre <strong>em</strong>presas,<br />

visando à distribuição entre elas das<br />

cotas de produção e do mercado com a<br />

finalidade de determinar os preços e limitar<br />

a concorrência”.<br />

Já ocorreram duas CPIs na Ass<strong>em</strong>bléia<br />

Legislativa, existe inquérito criminal na<br />

Polícia Federal, ação civil pública na 2 a<br />

Vara de Defesa do Consumidor, mas nada<br />

que anime e crie a perspectiva de que as<br />

pessoas que comet<strong>em</strong> tal crime virão a ser<br />

punidas por isso. Ou, pelo menos, que a<br />

prática será banida.<br />

O diretor do Departamento de Crimes Contra<br />

o Patrimônio, Arthur Gallas, esteve à frente<br />

de uma investigação policial entre 2000 e<br />

2001, para apurar a questão do Cartel na<br />

Bahia. Na época, Gallas era responsável<br />

notas da <strong>Metrópole</strong><br />

Vale tudo<br />

O vale-transporte de papel está<br />

prestes a ser extinto da capital<br />

baiana, mas ainda é aceito <strong>em</strong><br />

muitos estabelecimentos. O<br />

mais incrível é que t<strong>em</strong> posto<br />

de combustível que aceita vale<br />

pra abastecer os veículos, como<br />

este da Orla. Será que aceitará<br />

também o <strong>Salvador</strong> Card?<br />

Defesa do Consumidor<br />

É tabelado<br />

<strong>Salvador</strong> é a capital com menor variação de preços de combustíveis<br />

pela Delegacia de Crimes Econômicos e<br />

Contra a Administração Pública. O inquérito<br />

Policial resultou no indiciamento de<br />

mais de 80 pessoas pela prática de cartel,<br />

inclusive donos de postos. Foi oferecida<br />

denúncia que resultou na abertura de processo<br />

que corre, ou melhor, se arrasta na<br />

Justiça, s<strong>em</strong> que ninguém seja condenado,<br />

muito menos preso.<br />

O promotor do Ministério Público da<br />

Bahia, Solon Dias Rocha Filho, que acompanhou<br />

os trabalhos da segunda CPI dos<br />

Combustíveis, <strong>em</strong> 2006, afirma que apenas<br />

uma investigação de natureza policial pode<br />

atestar a existência de ajuste de preços entre<br />

os donos de postos. Segundo o promotor,<br />

já existe, há algum t<strong>em</strong>po, um inquérito<br />

<strong>em</strong> andamento na Polícia Federal.<br />

O promotor Ivan Machado, coordenador<br />

do Grupo de Atuação Especial<br />

de Combate à Sonegação Fiscal e aos<br />

Crimes Contra a Ord<strong>em</strong> Tributária, que<br />

analisa e aprofunda as investigações a<br />

partir dos relatórios entregues <strong>em</strong> 2006<br />

pela última CPI dos Combustíveis da<br />

Ass<strong>em</strong>bléia Legislativa, explica que, do<br />

ponto de vista material, não há como<br />

concluir pela existência de cartel. “O<br />

que existe são apenas indícios, <strong>em</strong> função<br />

dos preços muito próximos pratica-<br />

dos pelos postos. Na verdade, <strong>em</strong> <strong>Salvador</strong><br />

exist<strong>em</strong> postos de pequeno, médio e<br />

grande porte, com os produtos vendidos<br />

pelos mesmos preços”, explica.<br />

Outro detalhe que chama a atenção e<br />

que o Ministério Público deve aprofundar<br />

a investigação é, segundo Ivan Machado,<br />

que apenas quatro redes dominam aproximadamente<br />

75% dos postos de <strong>Salvador</strong>,<br />

o que diminui a competição de preços e<br />

prejudica a população.<br />

A Ass<strong>em</strong>bléia Legislativa do Estado já<br />

teve duas CPIs dos Combustíveis. A primeira,<br />

CPI sobre Cartel dos Combustíveis,<br />

aconteceu entre janeiro de 2000 e agosto<br />

de 2001. O objetivo era apurar a cartelização<br />

dos preços dos combustíveis no Estado.<br />

O presidente foi o então deputado estadual<br />

José Carlos Araújo (era do PFL, hoje preside<br />

o PR na Bahia). A vice-presidência ficou<br />

a cargo de Luiz Bassuma (PT). O que se<br />

pode constatar, de fato, da atuação desta<br />

CPI? Os dois elegeram-se, <strong>em</strong> outubro,<br />

deputados federais. Fora isso, mais nada,<br />

n<strong>em</strong> o relatório final foi votado.<br />

Em 2003, o já deputado federal Bassuma<br />

solicitou audiências públicas e diligências<br />

no Estado para investigar cartel dos<br />

combustíveis, alegando “quadro grave de<br />

adulteração e cartelização de combustíveis<br />

Pizza<br />

Acabou <strong>em</strong> pizza o encontro<br />

entre o marqueteiro de Lula,<br />

João Santana, o governador<br />

Jaques Wagner e o ministro<br />

Geddel Vieira Lima. Não<br />

poderia ser diferente, pois o<br />

encontro aconteceu na Piola,<br />

nova sensação gastronômica da<br />

cidade e cujo dono é o próprio<br />

Santana.<br />

e ao fato de a CPI dos Combustíveis não<br />

ter apresentado nenhum resultado efetivo<br />

para a sociedade”. Ou seja, admitiu o fracasso<br />

da comissão da qual participou.<br />

Entre maio de 2005 e agosto de 2006,<br />

mais uma CPI dos Combustíveis foi instalada<br />

na Ass<strong>em</strong>bléia Legislativa da Bahia.<br />

Presidida pelo deputado e proprietário de<br />

posto de gasolina, Targino Machado<br />

(PMDB), e com a vice-presidência a<br />

cargo do deputado Yulo Oiticica (PT),<br />

esta CPI teve como objetivos o combate<br />

à sonegação fiscal, à adulteração<br />

de combustível e quebra de bandeira.<br />

Esta última consiste <strong>em</strong> ostentar uma<br />

bandeira de fornecimento e comercializar<br />

produto de uma outra.<br />

O deputado Yulo Oiticica afirmou<br />

que, já durante os trabalhos<br />

da Comissão, a adulteração de<br />

gasolina diminuiu cerca de<br />

10% no Estado e houve<br />

um aumento da arrecadação<br />

de ICMS nos<br />

postos de 153%.<br />

A CPI, entretanto,<br />

não conseguiu<br />

identificar<br />

o crime de<br />

cartel. Atestou<br />

apenas<br />

os fortes indícios,<br />

mas<br />

nada conclusivo.Oiticica<br />

alega<br />

que esta é uma<br />

missão verdadeiramente<br />

difícil,<br />

pois, para atestar este<br />

crime, os investigadores<br />

depend<strong>em</strong>, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

de uma confissão de culpa. O<br />

Corte<br />

O Ministro Geddel Vieira Lima<br />

anda falando à boca miúda que<br />

cortará na própria carne. Calma,<br />

não se trata de uma estratégia<br />

de redução nos investimentos<br />

do Ministério da Integração<br />

Nacional, mas da cirurgia<br />

plástica que fará <strong>em</strong> breve para<br />

reduzir a enorme papada que<br />

hoje ostenta.<br />

que, naturalmente, não houve.<br />

Em <strong>Salvador</strong>, uma simples pesquisa<br />

feita entre os dias 12 e 15 de maio, por<br />

amostrag<strong>em</strong>, <strong>em</strong> mais de 30 postos de<br />

todos os pontos da cidade, mostra claramente<br />

que os preços do álcool variam,<br />

no máximo, 13 centavos (entre R$1,66<br />

e R$1,79) e, com relação<br />

à gasolina, a variação<br />

é quase<br />

n e n h u m a ,<br />

apenas 3<br />

centavos, indo de R$2,66 a R$2,69, isso<br />

<strong>em</strong> 35 postos pesquisados.<br />

Mesmo com uma variação mais ampla,<br />

o álcool também muda muito pouco<br />

de um posto para outro. Dezenove postos<br />

vend<strong>em</strong> o produto por R$1,76, outros sete<br />

comercializam entre R$1,77 e 1,79, cinco<br />

cobram exatamente R$1,74, três vend<strong>em</strong><br />

por R$1,66 e, finalmente, apenas um posto<br />

comercializa o álcool por R$1,69.<br />

Em meados de junho, após a forte<br />

queda do dólar, uma outra pesquisa por<br />

amostrag<strong>em</strong> revelou um aumento nas diferenças<br />

de preços. No álcool a variação foi<br />

de R$1,61 a R$1,69 e a gasolina<br />

oscilou entre R$2,45 a<br />

R$2,55, mas a maioria<br />

dos postos vendia<br />

o combustível<br />

com preços<br />

entre R$2,53 e<br />

R$2,55. Depois<br />

do São<br />

João, quando<br />

todos voltaram<br />

cansados de<br />

viag<strong>em</strong>, veio o<br />

susto: álcool e<br />

gasolina mais<br />

caros.<br />

Um dos asp<br />

e c t o s m a i s<br />

curiosos evidenciados<br />

na venda<br />

de combustíveis na<br />

capital baiana é um<br />

coeficiente de dispersão<br />

extr<strong>em</strong>amente<br />

baixo, algo injustificável<br />

para uma cidade tão<br />

grande, com bairros distintos<br />

e variações sociais e<br />

econômicas evidentes. •<br />

18 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 19


Sindicalismo<br />

Pimenta no cu dos<br />

outros é refresco<br />

Quando o assunto é a relação com os próprios funcionários, os<br />

sindicatos se mostram péssimos patrões<br />

Da redação<br />

Qu<strong>em</strong> vê os discursos inflamados dos<br />

sindicalistas <strong>em</strong> nome dos trabalhadores nas<br />

portas das <strong>em</strong>presas, escolas, bancos e estabelecimentos<br />

comerciais jamais pode imaginar<br />

o que acontece com os funcionários dos<br />

seus próprios sindicatos. Com raras exceções,<br />

os sindicalistas baianos são péssimos patrões,<br />

atrasam os salários dos trabalhadores, comet<strong>em</strong><br />

assédios sexuais e morais, não recolh<strong>em</strong> o INSS<br />

n<strong>em</strong> o FGTS, terceirizam a mão-de-obra e,<br />

geralmente, obrigam o funcionário a se filiar<br />

ao partido político que comanda a categoria.<br />

“Os discursos não referendam a prática”, afirma<br />

Clenice de Jesus Souza, presidente do Sintec<br />

(Sindicato dos Trabalhadores <strong>em</strong> Sindicatos e<br />

Entidades de Classe do Estado da Bahia).<br />

Na realidade, o Sintec funciona como uma<br />

espécie de ouvidoria dos trabalhadores contratados<br />

pelos sindicatos. De acordo com a presidente<br />

da entidade, quando estão do outro lado do<br />

“balcão”, os sindicalistas têm um comportamento<br />

muito diferente e reprim<strong>em</strong> os seus “funcionários”.<br />

“Exist<strong>em</strong> sindicatos que não permit<strong>em</strong><br />

sequer que os seus trabalhadores sejam filiados à<br />

entidade que os representa”, acrescenta Clenice<br />

de Jesus Souza. Atualmente, o Sintec congrega<br />

cerca de 2.000 trabalhadores, mas menos de<br />

400 contribu<strong>em</strong> regularmente (1% do salário)<br />

para a manutenção de todas as atividades do<br />

“representante dos trabalhadores <strong>em</strong> sindicatos”.<br />

“Por mais absurdo que possa parecer, exist<strong>em</strong><br />

sindicatos que descontam o percentual dos seus<br />

funcionários, mas não faz<strong>em</strong> o repasse para o<br />

Sintec”, ressalta Clenice de Jesus Souza.<br />

Apesar de arrecadar pouco por mês (cerca<br />

de R$3.000), o Sintec conseguiu comprar<br />

uma sede própria. Até dois anos atrás, a entidade<br />

funcionava <strong>em</strong> uma pequena sala alugada,<br />

no bairro de Nazaré. Agora, t<strong>em</strong> uma<br />

ampla casa no Barbalho (rua Dr. Arthur César<br />

Rios, 79), comprada por R$35 mil - com os<br />

investimentos realizados no local, o espaço<br />

está avaliado agora <strong>em</strong> R$110 mil.<br />

A média salarial dos trabalhadores dos sindicatos<br />

baianos d<strong>em</strong>onstra que os “patrões”<br />

também não gostam de valorizar os seus “fun-<br />

Valter Pontes<br />

Presidente do Sintec: “ Seria muito bom que os sindicalistas não<br />

agiss<strong>em</strong> do mesmo modo que os patrões, que só pensam <strong>em</strong> seus lucros”<br />

cionários”. Apesar de o aumento salarial estar na<br />

pauta de quase todas as negociações da categoria,<br />

os sindicalistas “esquec<strong>em</strong>” de reajustar os vencimentos<br />

dos seus “<strong>em</strong>pregados”. Um levantamento<br />

realizado pelo Sintec revela que mais de<br />

90% dos trabalhadores contratados pelos sindicatos<br />

receb<strong>em</strong> um salário mínimo (R$380) por<br />

mês. “Somente os funcionários que têm mais de<br />

15 anos de carteira assinada é que têm média<br />

salarial de R$600”, disse Clenice Souza.<br />

Nos últimos dois anos alguns dos principais<br />

sindicatos da Bahia, a ex<strong>em</strong>plo do<br />

Sindicato dos Bancários, também aderiram<br />

à terceirização da mão-de-obra, uma medida<br />

adotada para fugir do pagamento dos impostos<br />

e contribuições sociais. “Seria muito bom<br />

que os sindicalistas, que s<strong>em</strong>pre condenaram<br />

a terceirização, não agiss<strong>em</strong> do mesmo modo<br />

que os patrões que só pensam <strong>em</strong> seus lucros”,<br />

afirmou a presidente do Sintec.<br />

Mesmo sendo o representante legal dos trabalhadores<br />

contratados pelos sindicatos, o Sintec<br />

recebe poucas denúncias. O motivo é simples:<br />

os funcionários têm medo de perder o <strong>em</strong>prego.<br />

Mesmo assim, as queixas registradas pelo órgão<br />

cresceram 30% nos primeiros seis meses deste<br />

ano, <strong>em</strong> relação ao mesmo período de 2006.<br />

Uma das mais graves foi registrada por S.C.S.<br />

(o Sintec preserva a identidade dos seus associados).<br />

Ex-funcionária do Unibanco, S.C.S.<br />

trabalhava <strong>em</strong> São Paulo quando optou pelo<br />

retorno à Bahia para cuidar de sua mãe, que<br />

apresenta probl<strong>em</strong>as de saúde. Contratada por<br />

um sindicato para trabalhar no departamento<br />

jurídico, S.C.S. entrou <strong>em</strong> depressão e passou<br />

a tomar r<strong>em</strong>édios controlados depois de ser assediada<br />

moralmente. “Uma outra mulher teve<br />

de ser trocada de setor porque foi assediada sexualmente”,<br />

disse a presidente do Sintec.<br />

Outra prática adotada por muitos sindicatos<br />

baianos é uma afronta à d<strong>em</strong>ocracia<br />

e à Constituição. Em troca da “garantia de<br />

<strong>em</strong>prego”, os sindicalistas exig<strong>em</strong> que os seus<br />

funcionários sejam filiados ao partido político<br />

que controla a entidade (<strong>em</strong> todo o Estado, os<br />

principais sindicatos estão nas mãos do PT e<br />

do PCdoB). “Ninguém fala isto abertamente,<br />

até porque seria um escândalo, mas é evidente<br />

que a pressão é muito grande porque quase<br />

todos os sindicalistas sonham com uma carreira<br />

política”, acrescenta Clenice de Jesus Souza.<br />

De acordo com ela, os ex<strong>em</strong>plos b<strong>em</strong>-sucedidos<br />

de sindicalistas que se destacaram na<br />

política estimulam a medida - só para citar dois<br />

casos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou<br />

a sua carreira “política” no Sindicato dos<br />

Metalúrgicos do ABC paulista (à época, começo<br />

dos anos 80, o maior da América Latina). Na<br />

Bahia, o governador Jaques Wagner também foi<br />

diretor do Sindicato dos Petroquímicos. “Basta<br />

a gente fazer uma análise rigorosa na lista de<br />

candidatos a cargos eletivos para perceber que<br />

há muitos sindicalistas que se submet<strong>em</strong> ao<br />

voto”, disse a presidente do Sintec.<br />

Nos dias 25, 26 e 27 de abril deste ano, Clenice<br />

de Jesus Souza foi reconduzida com 95%<br />

de votos à presidência do Sintec. Apesar de ter<br />

ampla maioria entre os 281 votantes, a presidente<br />

teve de enfrentar a fúria dos “patrões”<br />

sindicalistas. “Por mais incrível que pareça,<br />

eles (os sindicalistas) registraram uma chapa no<br />

último dia, tendo como componentes velhos<br />

sindicalistas que se perpetuam há décadas nas<br />

diretorias das entidades, todos atrelados a partidos<br />

políticos e com o ranço do aparelhismo.<br />

Travestidos de bons moços, todos tinham o<br />

mesmo objetivo, que era aparelhar também<br />

o Sintec e calar a nossa voz. Ainda b<strong>em</strong> que<br />

foram expurgados da nossa entidade.” •<br />

Tá tudo dominado<br />

Partidos políticos controlam principais sindicatos<br />

Nos últimos 20 anos grandes transformações ocorreram no planeta, mas nos principais sindicatos baianos nenhuma<br />

mudança ocorreu. Há décadas eles atuam como feudos de partidos políticos e seus filiados. Veja ex<strong>em</strong>plos:<br />

Sindicato dos Bancários – Com cerca de 12 mil filiados, é um dos poucos do Brasil a ter<br />

um jornal e um programa de televisão diários. Desde 87, quando o deputado estadual Álvaro Gomes<br />

chegou à presidência, é comandado pelo PCdoB. Por mais de oito anos, Álvaro Gomes comandou<br />

oficialmente a entidade, que é sua principal base eleitoral. Apesar de afastado da presidência desde que<br />

assumiu o mandato parlamentar, o deputado ainda comanda os bancários.<br />

Sindicato dos Domésticos – O Sindomésticos conta com 3 mil associados, e é presidido<br />

por Marinalva Barbosa, integrante do grupo de Creuza Maria Oliveira, fundadora do sindicato <strong>em</strong> 1990<br />

e sua presidente até 2002. As duas são filiadas ao PT, e afirmam que mantêm contato com dirigentes<br />

do partido, mas atestam que essa é uma relação pessoal, s<strong>em</strong> ligação com a atuação do sindicato.<br />

Sindicato dos Rodoviários – Um dos maiores sindicatos do Estado, t<strong>em</strong> mais de 30 mil<br />

filiados. Desde 1989, o PT dá as cartas na entidade, sob o comando do deputado estadual J. Carlos. Nesses<br />

18 anos, ele praticamente esmagou a oposição e atualmente controla com folga toda a diretoria, quase<br />

toda ela ligada ao Partido dos Trabalhadores. Atualmente, J. Carlos divide seu t<strong>em</strong>po entre a Ass<strong>em</strong>bléia<br />

Legislativa e o sindicato, onde exerce seu quarto mandato como presidente.<br />

Sindicato dos Vendedores de Jornais e <strong>Revista</strong>s – A entidade representa os vendedores<br />

ambulantes e das bancas, além dos <strong>em</strong>pregados das distribuidoras. Na Bahia, são aproximadamente 9 mil<br />

profissionais, metade na Região Metropolitana de <strong>Salvador</strong>. Pouco mais de 500 são associados ao sindicato, e<br />

não passam de 120 os aptos a votar. Essas informações são do presidente do sindicato, Valter Ferreira da Silva,<br />

que s<strong>em</strong> oposição, desde 1974 é s<strong>em</strong>pre reconduzido ao cargo. Valter é filiado ao PDT.<br />

APLB – Este sindicato que comanda os professores licenciados da Bahia t<strong>em</strong> integrantes do PSB,<br />

PDT e PCdoB <strong>em</strong> sua diretoria, que comanda <strong>em</strong> forma de colegiado, s<strong>em</strong> presidente. Fundado há<br />

55 anos e responsável pela realização de uma das maiores greves da história da Bahia (mais de 50 dias<br />

só este ano), a APLB t<strong>em</strong> no PCdoB o seu “controle majoritário”. O 1º secretário da entidade, Rui<br />

Oliveira, que é comunista, disse que o partido trabalha <strong>em</strong> prol da categoria e que está identificado<br />

com os anseios populares. Os deputados comunistas Javier Alfaya (estadual) e Alice Portugal (federal)<br />

são os mais ligados à APLB.<br />

Sindicato dos Taxistas – Em <strong>Salvador</strong> trabalham aproximadamente 6 mil taxistas. Apenas 280 são<br />

filiados ao Sinditáxi, o que já é muito. Em 2006, quando Carlos Augusto Dias, o Assanhaço, assumiu a presidência<br />

da entidade, apenas os 52 associados da época participaram da eleição. Devido a esse número reduzido, a<br />

Associação Metropolitana dos Taxistas contesta a legitimidade do pleito. O presidente da Associação, Valdeilson<br />

Miguel, diz que Carlos Augusto pertence ao grupo de Manoel Lima, que presidiu o sindicato por 22 anos até 2000,<br />

e Jorge Nascimento, a qu<strong>em</strong> Assanhaço substituiu. Valdeilson diz ainda que esse grupo s<strong>em</strong>pre foi vinculado ao<br />

PFL (atual DEM). Assanhaço confirma a informação, mas não comenta a sua ligação com os ex-dirigentes. Em<br />

2004, ele candidatou-se a vereador pelo PTN, mas afirma que sairá do partido <strong>em</strong> breve e que ainda não sabe a<br />

qual legenda irá filiar-se.<br />

Sindicato dos Metalúrgicos – Com quase 15 mil filiados, também é controlado pelo<br />

PCdoB. Em sua orig<strong>em</strong>, era controlado pela “Articulação”, uma das tendências do PT. Depois, o PCdoB<br />

passou a dominar os principais cargos diretivos, inclusive a presidência. O diretor Jorge Luiz Cerqueira,<br />

no entanto, faz uma ressalva. “Neste sindicato o PCdoB e o PT se entend<strong>em</strong> muito b<strong>em</strong>.”<br />

Sindicato dos Comerciários – Com 18 mil associados, a entidade é comandada pelo<br />

PCdoB desde 1984. O presidente é Jaelson Dourado, mas qu<strong>em</strong> manda de fato é o vereador Reginaldo<br />

Oliveira (PCdoB), presidente licenciado do sindicato.<br />

20 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007<br />

21


Valter Pontes<br />

Com os direitos políticos cassados<br />

desde 2005, o ex-todo-poderoso dos<br />

primeiros dois anos do governo Lula<br />

afirma que, apesar de ainda se sentir<br />

um hom<strong>em</strong> do governo, agora t<strong>em</strong><br />

muito mais liberdade para atuar politicamente.<br />

Dizendo-se orgulhoso de sua<br />

cassação, Dirceu conta para os leitores<br />

de <strong>Metrópole</strong> como ganhou a fama de<br />

maior garanhão da esquerda brasileira<br />

e que Jaques Wagner pode esperar<br />

<strong>Metrópole</strong> Entrevista<br />

Zé Dirceu<br />

2018 para se candidatar à Presidência<br />

da República. Além dos integrantes do<br />

nosso Conselho Editorial, Metropole<br />

contou com o reforço dos jornalistas<br />

Luís Francisco (gentilmente cedido<br />

pela Folha de S.Paulo) e Renato Pinheiro<br />

nesta exclusiva com Dirceu.<br />

“Eu tenho<br />

orgulho de<br />

ser cassado”<br />

<strong>Metrópole</strong> - Pra relaxar, vamos<br />

começar falando do passado. A sua<br />

biografia oficial não fala de uma história<br />

muito corrente na esquerda, de que você<br />

era um grande Dom Juan do movimento<br />

estudantil, traçava todas...<br />

José Dirceu - (Risos) Era? Por que era?<br />

<strong>Metrópole</strong> - Então continua sendo?<br />

Dirceu - A história quando é contada<br />

s<strong>em</strong>pre vira um pouco de ficção. E as<br />

biografias também. Evidente que a minha<br />

biografia já t<strong>em</strong> um pouco de ficção, apesar<br />

de eu ainda estar muito vivo e não querer<br />

fazer biografia. Eu até queria fazer o livro<br />

“30 meses na Casa Civil”, com o Fernando<br />

Morais, mas acabei não fazendo, mas ainda<br />

existe o projeto de tocar um livro. A minha<br />

geração, mais do que lutar contra a ditadura,<br />

pela d<strong>em</strong>ocracia, pela educação pública,<br />

contra a privatização do ensino, ela fez uma<br />

revolução cultural no País. A geração de 68<br />

é a primeira que t<strong>em</strong> independência. Mora<br />

fora de casa, estuda à noite, trabalha. Então,<br />

inclusive <strong>em</strong> sintonia com o mundo, ela<br />

começa a derrubar barreiras e preconceitos.<br />

Entre essas barreiras e preconceitos estava<br />

a famosa “virgindade”. Quando eu cheguei<br />

na faculdade, hom<strong>em</strong> sentava separado<br />

de mulher, só pra você ter uma idéia, eu<br />

organizei uma turma atrás (no fundo da<br />

sala) cujo primeiro objetivo era acabar com<br />

isso. E lá nós fiz<strong>em</strong>os uma mudança nas<br />

relações entre hom<strong>em</strong> e mulher, sexual e tal.<br />

Havia uma liberdade que não existia antes,<br />

e como eu morava sozinho, tinha uma<br />

independência econômica, eu tive muitas<br />

namoradas. Mas n<strong>em</strong> poucas, n<strong>em</strong> tantas<br />

como diz<strong>em</strong>, nada anormal pra um jov<strong>em</strong><br />

daquela época de faculdade, no movimento<br />

estudantil. Aí criou-se um mito um pouco<br />

exagerado por causa da Sala do Grego...<br />

<strong>Metrópole</strong> - Que história é essa de sala?<br />

Dirceu - Tinha uma sala onde nós<br />

namorávamos, que reservamos pra<br />

isso, na ocupação da USP, que foi<br />

uma ocupação com uma razão. Greve<br />

não tinha sentido, esvaziava e não<br />

tinha efeito. As faculdades ocupadas<br />

se transformaram <strong>em</strong> grandes centros<br />

de debate político, ideológico,<br />

programático, e grandes centros<br />

de agitação cultural, com shows,<br />

apresentações de teatro, discussões<br />

sobre cin<strong>em</strong>a e literatura. E nessas<br />

faculdades evident<strong>em</strong>ente havia uma<br />

vida não só cultural. Havia uma vida<br />

de prazeres... Comer b<strong>em</strong> e namorar,<br />

não é? Beber n<strong>em</strong> tanto. Eu por<br />

ex<strong>em</strong>plo não bebia naquela época. E<br />

fumava pouco. Depois que fui preso<br />

que eu comecei a fumar, mas mais pela<br />

tensão. Então t<strong>em</strong> bastante de mito,<br />

mas também não vou dizer que não era<br />

verdade. Namorei tudo que eu tinha<br />

direito e não me arrependo. Só me<br />

arrependo de não ter namorado mais,<br />

de ter sido preso e ter ido <strong>em</strong>bora.<br />

<strong>Metrópole</strong> - E hoje, o senhor continua<br />

um Dom Juan?<br />

Dirceu - Não. Me separei depois de<br />

15 anos de casamento, estou namorando,<br />

mas estou tranqüilo, mais sossegado.<br />

Naquela época eu tive namoradas<br />

fixas, tive paixões, mas a vida era uma<br />

loucura. A pessoa podia amanhecer com<br />

a namorada <strong>em</strong> outro Estado, com a<br />

namorada morta pela ditadura, ou <strong>em</strong><br />

outro país, ou morando <strong>em</strong> outro bairro,<br />

como clandestina.<br />

“Namorei tudo que eu tinha<br />

direito e não me arrependo.<br />

Só me arrependo de não ter<br />

namorado mais, de ter sido<br />

preso e ter ido <strong>em</strong>bora”<br />

<strong>Metrópole</strong> – Falando <strong>em</strong> clandestinidade,<br />

até hoje não abriram os arquivos do Dops.<br />

Qual sua opinião sobre isso? Por que o<br />

Governo Lula não consegue abrir?<br />

Dirceu - Os arquivos estão todos<br />

abertos, mas exist<strong>em</strong> algumas questões.<br />

Uma questão são os arquivos que estão com<br />

o Governo, que estão todos abertos e indo<br />

pro Arquivo Nacional. Eles pod<strong>em</strong> ter sido<br />

depurados, violados e muitos documentos<br />

eliminados durante a ditadura e depois<br />

quando estava sob o controle da Abin, mas<br />

isso já está resolvido. Agora exist<strong>em</strong> outras<br />

4 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - junho de 2007 23


duas questões que não estão resolvidas. Os<br />

documentos que as Forças Armadas têm<br />

sobre a repressão, dos Dói-codes, da Oban<br />

(Operação Bandeirantes), e da operação<br />

de combate à Guerrilha do Araguaia. Isso<br />

está subjúdice, está tramitando. E a Justiça<br />

pode decidir por busca e apreensão, pode<br />

intimar os militares a apresentar<strong>em</strong> esses<br />

documentos, que eles alegam que foram<br />

destruídos. E precisamos saber qu<strong>em</strong><br />

destruiu, que isso é um crime. Então o que<br />

nós fiz<strong>em</strong>os? Então primeiro liberamos<br />

os documentos, todos estão no Arquivo<br />

Nacional para ser<strong>em</strong> consultados.<br />

<strong>Metrópole</strong> - Até os dos militares?<br />

Dirceu - Não. A esses n<strong>em</strong> o governo<br />

civil t<strong>em</strong> acesso, apesar de hoje não existir<br />

mais essa distinção de governo civil.<br />

<strong>Metrópole</strong> - Mas ainda t<strong>em</strong> muita<br />

história pra ser contada, não?<br />

Dirceu - T<strong>em</strong> muita, e a minha opinião<br />

é que os militares deviam contá-la.<br />

<strong>Metrópole</strong> - Há setores nas Forças<br />

Armadas que concordam com isso?<br />

Dirceu - Se t<strong>em</strong>, eu nunca<br />

identifiquei. Há uma lei de silêncio e<br />

há uma decisão de as próprias Forças<br />

Armadas não fazer<strong>em</strong> um levantamento<br />

e falar pro País todo o que aconteceu.<br />

E apontar onde estão os corpos, que<br />

depois de mais 30 anos na Amazônia, no<br />

caso da Araguaia, n<strong>em</strong> dev<strong>em</strong> existir.<br />

<strong>Metrópole</strong> - No Brasil existe uma<br />

d<strong>em</strong>ocracia madura pra esperar a boa<br />

vontade dos militares?<br />

Dirceu - Mas a Justiça t<strong>em</strong> que<br />

agilizar o processo. É um probl<strong>em</strong>a<br />

da lentidão da nossa Justiça. Se ela<br />

determinar que t<strong>em</strong> que abrir, as Forças<br />

Armadas abr<strong>em</strong>. T<strong>em</strong> que investigar<br />

todos os quartéis. Aqui na Bahia mesmo<br />

queimaram uns documentos há um<br />

t<strong>em</strong>po atrás, não é? Que documentos<br />

eram aqueles? Depois até no Rio<br />

Grande do Sul apareceram outros<br />

documentos. Eu acho que a cada dois<br />

anos vão aparecer documentos e isso<br />

“Eu fiquei constrangido, e o Genoino<br />

também, quando o governo recorreu da<br />

decisão da Justiça que mandava os militares<br />

apresentar<strong>em</strong> os documentos. Mas qu<strong>em</strong><br />

decide isso é o presidente”<br />

vai sangrar até que alguém escreva um<br />

livro e conte quase tudo. Mas de uma<br />

maneira ou outra isso vai aparecer. E<br />

t<strong>em</strong> os familiares dos desaparecidos,<br />

muitos cidadãos, muitos deputados<br />

que buscam, pesquisam. Eu fiquei<br />

constrangido, e o José Genuíno<br />

(ex-gerrilheiro do Araguaia e então<br />

presidente do PT) também, quando o<br />

Governo recorreu da decisão da Justiça<br />

que mandava os militares apresentar<strong>em</strong><br />

os documentos. Claro que nossa<br />

“Wagner pode<br />

ser candidato<br />

à Presidência,<br />

mas ele t<strong>em</strong><br />

mais t<strong>em</strong>po que<br />

o Serra. Pode<br />

esperar”<br />

posição era contrária. O argumento<br />

do Governo é que as Forças Armadas<br />

faz<strong>em</strong> parte do Estado, e o Governo<br />

t<strong>em</strong> que defendê-las. E também teriam<br />

outras questões que pod<strong>em</strong> trazer uma<br />

jurisprudência, e aí você pode dizer<br />

o que defende e o que não defende.<br />

Então o Governo optou pela linha de<br />

defender e deixar a Justiça decidir. Eu<br />

acho que não devíamos recorrer, até<br />

pela natureza do nosso Governo, mas<br />

qu<strong>em</strong> decide isso é o presidente. E ele<br />

(o presidente) decidiu isso com o apoio<br />

do ministro da Justiça (Márcio Tomás<br />

Bastos) e das Forças Armadas.<br />

<strong>Metrópole</strong> - Mesmo afastado, o senhor<br />

continua com um discurso de um hom<strong>em</strong><br />

do Governo. O senhor ainda se sente um<br />

hom<strong>em</strong> do Governo?<br />

Dirceu - Completamente. Eu me<br />

sinto totalmente identificado com o<br />

Governo, com o presidente Lula e com o<br />

meu partido. Eu sou independente hoje,<br />

não sou deputado, não sou ministro,<br />

não sou dirigente do PT, então tenho<br />

mais liberdade pra expor minhas idéias.<br />

Muitas pod<strong>em</strong> estar equivocadas, outras<br />

não. Tenho mais liberdade pra criticar<br />

também, acredito que ajudo fazendo<br />

isso, o Brasil é um país d<strong>em</strong>ocrático, é<br />

no debate e nas discussões, na sociedade<br />

e no parlamento que vamos encontrar<br />

saídas pro País. Eu me sinto altamente<br />

realizado, apesar de ter sido cassado e<br />

ter sido denunciado pelo Ministério<br />

Público como chefe de uma quadrilha,<br />

eu me sinto totalmente realizado pela<br />

reeleição do Lula.<br />

<strong>Metrópole</strong> - Em maio foram abertas<br />

ações contra 11 dos 40 denunciados no<br />

esqu<strong>em</strong>a do mensalão pelo procurador Geral<br />

da República e seu nome não estava entre os<br />

11. O que o senhor acha disso?<br />

Dirceu - Que é uma prova da minha<br />

inocência. O que t<strong>em</strong> lá é a diretoria do<br />

BMG, as <strong>em</strong>presas do Marcos Valério,<br />

o Genoíno e o Delúbio do PT. E no<br />

caso do Genoíno, o que está tipificado<br />

lá como gestão t<strong>em</strong>erária, por causa do<br />

<strong>em</strong>préstimo do banco que o PT não tinha<br />

garantias pra dar, e isso não é corrupção.<br />

Isso é uma discussão que está além deste<br />

caso. Essa denúncia contra os 40, na<br />

hora que começar<strong>em</strong> a analisar, vão ver<br />

que t<strong>em</strong> muita denúncia vazia, que é o<br />

meu caso. Tanto é que no BMG eu não<br />

estou indiciado, e o caso do BMG é uma<br />

das principais acusações contra mim.<br />

Ou seja, é uma acusação política contra<br />

mim. T<strong>em</strong> 40 denunciados por vários<br />

crimes. O que interessa pra mim é ser<br />

julgado. Porque tinham três acusações<br />

contra mim: uma foi o caso do Valdomiro<br />

Diniz, onde foram duas investigações<br />

(Ministério Público Estadual do Rio e o<br />

Federal), dois inquéritos (Polícia Civil e<br />

Polícia Federal), duas CPIs (da Loterj e<br />

a dos Bingos), e após isso tudo eu não<br />

sou citado. Então aquilo foi uma farsa. A<br />

outra é o caso do Marcos Valério. Como eu<br />

não estou acusado <strong>em</strong> nada do chamado<br />

Caixa 2, do chamado Valerioduto, a<br />

única acusação que t<strong>em</strong> é que existia o<br />

Mensalão e que eu era o chefe, mas isso<br />

foi um julgamento político, porque não<br />

existe prova, n<strong>em</strong> test<strong>em</strong>unha, nada.<br />

Quebraram meus sigilos telefônico,<br />

bancário e fiscal, 17 meses de investigação<br />

da minha vida, sobre cincos anos da minha<br />

vida patrimonial, bancária e fiscal. Zero.<br />

A terceira é o caso de Santo André, onde<br />

eu fui pra Justiça e fui retratado, mas<br />

ninguém noticiou. Ficaram só os dois<br />

“Eu me sinto totalmente<br />

identificado com o<br />

governo, com o presidente<br />

Lula e com o meu partido”<br />

anos de manchete, umas dez manchetes<br />

nos principais jornais do País, da denúncia<br />

contra mim. Então eu tinha isso tudo, e<br />

o que eu tenho hoje? A acusação de que<br />

eu sou chefe de uma quadrilha de 40<br />

pessoas. 410 test<strong>em</strong>unhas, 39 volumes,<br />

83 anexos, 40 advogados de defesa e o<br />

Supr<strong>em</strong>o não t<strong>em</strong> como instruir este<br />

processo. Se este processo vai pra primeira<br />

instância, pros juízes federais fazer<strong>em</strong> a<br />

instrução, eu vou defender que arquive<br />

a denúncia contra mim. E acredito que<br />

do ponto de vista técnico, jurídico,<br />

do código penal, é líquido e certo que<br />

t<strong>em</strong> que ser arquivado, a não ser que a<br />

decisão seja política. Agora, se for feita a<br />

denúncia, eu quero é que me julgue até<br />

2010. São cinco anos. Pra qu<strong>em</strong> durante<br />

40 anos nunca foi investigado, nunca<br />

foi processado, eu não posso ter virado<br />

bandido do dia pra noite.<br />

<strong>Metrópole</strong> - E se o senhor for inocentado<br />

entra no mesmo dia com um pedido de<br />

anistia no Congresso?<br />

Dirceu - Eu tomei uma decisão, que<br />

acho correta, de fazer essas viagens pelo<br />

país, praticamente já visitei 18 estados do<br />

País. Eu vou deixar a questão da anistia pra<br />

um segundo momento. Primeiro eu quero<br />

que o Supr<strong>em</strong>o sinalize pro Brasil que vai<br />

julgar, e vai absolver ou condenar.<br />

<strong>Metrópole</strong> - O que você acha do nome<br />

de José Serra pra presidente?<br />

Dirceu - Pro PSDB é muito bom (risos).<br />

<strong>Metrópole</strong> - E pro Brasil?<br />

Dirceu - Aí vamos ver o que ele vai fazer<br />

<strong>em</strong> São Paulo, e ele não está indo b<strong>em</strong>.<br />

<strong>Metrópole</strong> - Você acha que o Serra está<br />

caindo pra direita?<br />

Dirceu - Não é caindo pra direita.<br />

O probl<strong>em</strong>a são os métodos dele, a<br />

personalidade dele. Qual a política<br />

dele pra São Paulo? O probl<strong>em</strong>a dos<br />

tucanos é que eles estão s<strong>em</strong> bandeira,<br />

s<strong>em</strong> programa. Eles não têm um<br />

programa pra se opor ao Lula, n<strong>em</strong><br />

eles n<strong>em</strong> os DEM. Então eles ficam<br />

nessa questão ética, CPI, CPI, CPI. O<br />

probl<strong>em</strong>a é que está voltando contra<br />

eles, e quando chega nos governadores<br />

e nos deputados deles, eles não assinam<br />

CPI. E nos Estados deles não t<strong>em</strong> CPI,<br />

e denúncia de corrupção não vai n<strong>em</strong><br />

24 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 25


pra imprensa. Não t<strong>em</strong> Ministério<br />

Público investigando, então isso tudo<br />

na verdade é uma farsa. Não é que não<br />

precise combater a corrupção, mas a<br />

retórica, o discurso deles é uma farsa.<br />

<strong>Metrópole</strong> - Você disse que Serra depende<br />

do governo dele <strong>em</strong> São Paulo. E Jaques<br />

Wagner, é um nome pra Presidência?<br />

Dirceu - Wagner pode ser candidato<br />

à Presidência, mas ele t<strong>em</strong> mais t<strong>em</strong>po<br />

que o Serra. Pode esperar. A vantag<strong>em</strong><br />

do Wagner, do Pimentel (Fernando<br />

Pimentel, prefeito petista de Belo<br />

Horizonte), do próprio Aécio e de<br />

muitos líderes que nós t<strong>em</strong>os é que<br />

eles pod<strong>em</strong> esperar. Eles pod<strong>em</strong> ser<br />

presidentes <strong>em</strong> 2018, ou 2022.<br />

<strong>Metrópole</strong> - O senhor já sepultou esse<br />

sonho? Por que era um sonho seu, não era?<br />

Dirceu - Felizmente eu nunca tive<br />

esse sonho, e não tive essa frustração.<br />

Porque deve ser duro. Todo o meu<br />

objetivo de 2003 a 2005 era trabalhar<br />

b<strong>em</strong> para a reeleição do presidente<br />

Lula. Eu não estava n<strong>em</strong> um pouco<br />

preocupado com 2010. Não era n<strong>em</strong><br />

candidato, já tinha acertado com o PT<br />

que eu, Palocci, Gushiken e Dulci não<br />

seríamos candidatos. Não que eu fosse<br />

coordenar campanha, que eu também<br />

não queria, porque já tinha feito uma<br />

vez, mas provavelmente eu ia ficar no<br />

governo, ajudando o presidente, talvez<br />

<strong>em</strong> outra função que não a Casa Civil,<br />

porque ali também eu já devia ter saído.<br />

Em 2004 e 2005 eu devia ter ido pra<br />

outra função ou voltado pra Câmara,<br />

porque eu já tinha cumprido um papel.<br />

E era um consenso que se eu ficasse<br />

eu ia ser s<strong>em</strong>pre o alvo da oposição,<br />

porque eu já tinha tido a experiência do<br />

A entrevista com ex-ministro José Dirceu foi longa e, apesar dos tira-gostos, ninguém comeu nada<br />

“No governo<br />

Lula, os<br />

<strong>em</strong>presários<br />

ganharam<br />

como nunca,<br />

e os<br />

banqueiros,<br />

também”<br />

Valter Pontes<br />

Valdomiro Diniz e não queria ter outra<br />

igual, e acabei tendo, com o Roberto<br />

Jeferson, que é a única acusação que t<strong>em</strong><br />

contra mim. É o discurso do Roberto<br />

Jeferson, que é um réu confesso e falou<br />

um monte de mentira. Não há nada<br />

contra mim. Me cassaram com base<br />

nas entrevistas e no depoimento dele,<br />

porque me investigaram por seis meses e<br />

não acharam nada.<br />

<strong>Metrópole</strong> - O senhor se sente<br />

injustiçado...<br />

Dirceu - Não, é diferente, eu quero<br />

justiça. Eu tenho orgulho de ser cassado.<br />

Sabe por quê? Porque eu fui cassado<br />

pelo que eu representava na história da<br />

esquerda, do governo Lula e pelo que eu<br />

poderia ser no futuro. Hoje está claro que<br />

queriam me tirar de 2010, assim como o<br />

Palocci. Não é que nós não comet<strong>em</strong>os<br />

erros e não t<strong>em</strong>os que responder por eles.<br />

“O poder pra<br />

mim s<strong>em</strong>pre<br />

foi um meio<br />

de atingir<br />

determinados<br />

fins”<br />

Mas eu não roubei, n<strong>em</strong> compactuei, n<strong>em</strong><br />

permiti que roubass<strong>em</strong>. Eu fui da Casa<br />

Civil e mandei pro Conselho de Ética<br />

todas as providência que foram tomadas,<br />

todas as denúncias que chegavam na Casa<br />

Civil. Tudo isso ficou lá, e eles não citaram<br />

no relatório. Alguém sofreu numa devassa<br />

maior do que eu no Brasil? E não t<strong>em</strong><br />

nada, nenhum processo ou investigação,<br />

nunca tive, só os da ditadura. Só t<strong>em</strong><br />

hoje, numa campanha política que só<br />

serviu como instrumento contra o Lula.<br />

<strong>Metrópole</strong> - O senhor t<strong>em</strong> alguma<br />

frustração por ter tido tanto poder nas mãos<br />

no início do Governo Lula e hoje não ter<br />

nenhum poder formal? E você não sente<br />

raiva de ver um Congresso com nomes como<br />

Collor e você fora?<br />

Dirceu - Não, não sinto, porque o<br />

Collor cumpriu a pena dele de dez anos<br />

e depois foi eleito pelo povo de Alagoas.<br />

Posso não concordar com ele ou não<br />

desejar que ele retornasse, mas não tenho<br />

nenhuma objeção.<br />

<strong>Metrópole</strong> - E estar fora do poder?<br />

Dirceu - O poder pra mim s<strong>em</strong>pre foi<br />

um meio de atingir determinados fins, e<br />

esse fim era cumprir um programa e um<br />

sonho que nós tínhamos. E agora com essas<br />

realizações todas, eu me sinto realizado,<br />

mesmo não estando no governo. E eu tenho<br />

meu trabalho. Tenho que sustentar minha<br />

família e minha atividade política. Eu estou<br />

na política dia e noite, t<strong>em</strong> o meu blog, eu<br />

escrevo, viajo, debato, articulo, participo.<br />

Evidente que não é como quando eu era<br />

deputado ou ministro ou presidente do PT,<br />

mas eu tenho minha participação. E como eu<br />

tenho uma luta pra provar minha inocência,<br />

“Eu sou independente hoje,<br />

não sou deputado, não sou<br />

ministro, não sou dirigente do<br />

PT, então tenho mais liberdade<br />

pra expor minhas idéias”<br />

“Apesar de ter sido cassado<br />

e ter sido denunciado pelo<br />

Ministério Público como<br />

chefe de uma quadrilha, eu<br />

me sinto totalmente realizado<br />

pela reeleição do Lula”<br />

eu estou b<strong>em</strong>. E nota-se que eu estou b<strong>em</strong>,<br />

não? Imagina se eu vou ficar sofrendo, eu ia<br />

sofrer um enfarte.<br />

<strong>Metrópole</strong> - Qu<strong>em</strong> ganhou mais com<br />

o governo Lula, as elites ou o povo? Os<br />

banqueiros ou os trabalhadores?<br />

Dirceu - Os <strong>em</strong>presários ganharam<br />

como nunca e os banqueiros, também.<br />

Mas as classes populares ganharam<br />

muito e vão ganhar cada vez mais. Nós<br />

t<strong>em</strong>os mudanças na educação, na renda,<br />

no <strong>em</strong>prego, na informação e na cultura.<br />

E é importante isso. É porque a gente<br />

esquece da história. Nunca um presidente<br />

de esquerda terminou um governo nesse<br />

País. Ainda mais ser reeleito. Todos<br />

foram apeados do governo. Getúlio<br />

pelo suicídio, Juscelino que era de uma<br />

aliança muito mais conservadora que<br />

a do Lula, quase foi apeado, e o Jango<br />

foi apeado. E na América Latina todos<br />

foram. É o primeiro presidente de<br />

esquerda reeleito pelo voto popular na<br />

América Latina, o Lula. •<br />

26 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 27


PA u l o Al v e s<br />

Ninguém costuma fazer esse<br />

tipo de estatística nas mesas de<br />

sinuca do Romeu, mas não estaríamos<br />

muito errados se chutáss<strong>em</strong>os<br />

que o editor costuma<br />

alcançar de um a dois êxitos <strong>em</strong><br />

cada dez tacadas tentadas. Daí a<br />

surpresa geral quando, de repente,<br />

ele danou-se a encaçapar bolas<br />

de todos os ângulos e distâncias.<br />

Numa seqüência matou cinco, na<br />

outra mais quatro! E prosseguiu<br />

segurando a boa onda.<br />

“T<strong>em</strong> dias que a noite é assim”,<br />

resignou-se o oponente.<br />

“Noite Mirabilis”, exagerou<br />

um circunstante, numa referência<br />

à expressão Annus Mirabilis,<br />

utilizada para reverenciar o ano<br />

de 1905, quando Albert Einstein<br />

<strong>em</strong>basbacou o mundo da ciência<br />

com a publicação <strong>em</strong> série de cinco<br />

estudos revolucionários.<br />

“Gandula <strong>em</strong> dia de Pelé”,<br />

ecoou o garçom Paulinho.<br />

“Lula <strong>em</strong> dia de Pelé?” - estranhou<br />

um cara da mesa ao lado,<br />

meio bêbado, meio surdo. E seguiu<br />

trocando as bolas: “Ele bate<br />

aquela bolinha torta na Granja do Torto,<br />

nunca foi craque”.<br />

Pronto. Instalou-se a polêmica: Lula é<br />

craque ou não é? Mas é claro que é! Ou<br />

não estaria aí, depois de tanto escândalo<br />

<strong>em</strong> torno de si, aprovado e deslumbrado,<br />

disparando rajadas de argumentos no<br />

melhor estilo de camelô do Pelô. É só<br />

notas da <strong>Metrópole</strong><br />

Deu bandeira<br />

“A bandeirinha Ana Paula<br />

ganhou uma bolada para posar<br />

nua. Já Mônica Veloso, examante<br />

de Renan Calheiros,<br />

deve ganhar de cachê uma<br />

boiada.” Frase do ouvinte Ivan<br />

Vieira, comparando os ganhos<br />

da assistente de arbitrag<strong>em</strong>, que<br />

levantou a bandeira de muito<br />

marmanjo, com os da assistente<br />

de sacanag<strong>em</strong>, que baixou a bola<br />

do senador.<br />

A procissão do Encantado<br />

l<strong>em</strong>brar que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre foi assim.<br />

Nos primeiros t<strong>em</strong>pos de poder vimos<br />

um presidente-cinderelo pintando e bordando,<br />

feliz que n<strong>em</strong> pinto no lixo. Mas<br />

não muito longe, nos meados de 2005,<br />

o cara estava pra lá de mal das pernas,<br />

ceifando ministros amigos por força de<br />

denúncias, falando quase s<strong>em</strong>pre fora do<br />

pinico e despencando no Ibope.<br />

Naqueles dias de horror, mensaleiros<br />

murmuravam no breu das tocas, simpatizantes<br />

e militantes vagavam cabisbaixos<br />

e balbuciantes. Sábios e futurólogos de<br />

variado matiz vaticinavam que o projeto<br />

da reeleição danara-se. A cada declaração<br />

desastrada, a popularidade presidencial<br />

afundava mais um tanto e o bordão da<br />

oposição era “deixa sangrar”. Na babel<br />

dos corredores palacianos, a algaravia dos<br />

assessores fazia l<strong>em</strong>brar Bandeira: ‘Febre?<br />

H<strong>em</strong>optises? Suores noturnos? O que<br />

fazer, dançar um tango argentino?’<br />

Lula, num lance de craque, fez melhor:<br />

ali, <strong>em</strong> algum momento entre agosto e<br />

set<strong>em</strong>bro, puxou o freio de arrumação,<br />

deixou o Zé Dirceu resvalar para o limbo<br />

e adotou outra linha de aconselhamento<br />

político. Daí então tudo mudou.<br />

Produziu-se algo como aquela Noite<br />

Mirabilis.<br />

O Ôme acertou a mira e se pôs a<br />

encaçapar uma atrás da outra. Deu um<br />

t<strong>em</strong>po na classe média que andava de<br />

esguelha e vestiu de vez a roupa de paidos-pobres.<br />

Dobrou e depois quadruplicou<br />

as verbas aplicadas de verdade<br />

na assistência social. Repicou os gastos<br />

<strong>em</strong> propaganda, puxando a conversa<br />

pro lado do orgulho nacionalista: autosuficiência<br />

<strong>em</strong> petróleo, dívida com<br />

FMI quitada, etc. O resultado é que<br />

<strong>em</strong> poucos meses se transformou de<br />

zumbi <strong>em</strong> imbatível.<br />

E não foi só: <strong>em</strong>agreceu, botou botox<br />

na testa, passou a <strong>em</strong>itir sinais exteriores<br />

de redução do consumo etílico. Limitouse<br />

a falar conforme o script. Mais adiante,<br />

pra arr<strong>em</strong>atar com uma jogada de<br />

efeito, deu uma boa turbinada no salário<br />

mínimo e colocou de vez a sua prancha<br />

na boa onda da economia mundial.<br />

Blindou-se. Encantou-se! Malfeitorias<br />

continuaram <strong>em</strong>ergindo, numa procissão<br />

de satanazes cabulosos: valdomiros, ca-<br />

choeiras, vampiros, sanguessugas, cuecas<br />

endinheiradas, churrasqueiros aloprados,<br />

compadres navalhados. Até chegar ao tolo<br />

mano Vavá, lambari ora mais propriamente<br />

chamado de “Sipique-sipique”.<br />

Mas o presidente encantado sobrepaira<br />

a procissão, beatífico, aureolado e confortavelmente<br />

instalado no andor que os<br />

suados diabos carregam.<br />

Tão confortável e invulnerável se sente<br />

o presidente que recaiu no velho vício<br />

da incontinência verbal fora de roteiro.<br />

Voltou a disparar metáforas tronchas a<br />

esmo <strong>em</strong> cada ocasião que se apresenta.<br />

Se continua assim, logo logo vai precisar<br />

de uma nova Noite Mirabilis, pois, por<br />

melhor que seja, não há encanto que<br />

dure para s<strong>em</strong>pre. •<br />

28 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 29


Cultura<br />

A dança das cadeiras no Museu Rodin<br />

Fase carlista Fase petista<br />

O acervo vai e o prejuízo fica Que venham os guardanapos<br />

Juliana Cunha<br />

agecom<br />

O prédio está pronto,<br />

mas falta o acervo<br />

O Museu Rodin - que não vai mais se chamar<br />

Rodin e que só terá obras do Rodin por três anos - é<br />

uma daquelas idéias difíceis de acreditar que um ser<br />

humano, dotado de massa encefálica, poderia ter. A<br />

então Secretaria de Cultura e Turismo (SCT) - posteriormente<br />

desm<strong>em</strong>brada <strong>em</strong> duas novas secretarias<br />

-, resolveu lançar um projeto caro e cheio de irregularidades,<br />

envolvendo<br />

obras milionárias feitas<br />

com dinheiro público,<br />

num palacete particular<br />

do século XIX.<br />

Em 2002, foi firmado<br />

um convênio de<br />

R$1,6 milhão entre a<br />

SCT, através da Bahiatursa,<br />

e a Sociedade<br />

Cultural Auguste Rodin.<br />

Por conta de três<br />

termos aditivos, a parceria<br />

que possibilitaria<br />

a vinda de 62 peças de<br />

gesso pertencentes à<br />

França foi prorrogada<br />

até 25 de fevereiro<br />

de 2004.<br />

Somente entre 2003 e abril de 2005, a Bahiatursa<br />

pagou R$3,7 milhões à Sociedade Cultural Auguste<br />

Rodin, segundo o relatório do conselheiro Pedro<br />

Lino, do TCE (Tribunal de Contas do Estado). A<br />

Sociedade Rodin pagou impostos e taxas fora dos<br />

prazos de vencimento, acrescidos de juros e multas,<br />

utilizando para pagamentos desses encargos os recursos<br />

financeiros do convênio, registra o relatório.<br />

A reforma da Villa Catharino - palacete que<br />

abriga o museu - custou R$ 11 milhões de reais.<br />

Um belo investimento para Sérgio Freire Sobral,<br />

segundo o TCE, proprietário do local. Ao término<br />

do contrato, ele terá um imóvel muito mais<br />

conservado e valorizado. Além do aluguel de R$<br />

2,6 mil mensais recebidos durante a permanência<br />

do museu, é claro.<br />

O Museu Rodin estava sob a responsabilidade<br />

da Abacult, a ONG mais g que poderia ser criada.<br />

A Abacult foi criada por Paulo Gaudenzi e seus<br />

m<strong>em</strong>bros eram funcionários da Secretaria, o que<br />

feria grav<strong>em</strong>ente o princípio da impessoalidade.<br />

Mais de R$ 2,5 milhões foram destinados à Abacult<br />

somente <strong>em</strong> 2006. Isso corresponde a mais<br />

de 10% do valor destinado ao Fundo de Cultura<br />

do Estado no mesmo ano.<br />

Ao ser questionado por esta reportag<strong>em</strong> a cerca<br />

de irregularidades no Museu Rodin, o ex-secretário<br />

de Cultura e Turismo, Paulo Gaudenzi, disse que<br />

nunca teve conhecimento de nenhuma irregularidade<br />

com o museu. Aliás, não só ele como todos<br />

os outros baianos não tiveram oportunidade de<br />

saber, simplesmente porque a única publicação<br />

a tratar o assunto - a <strong>Revista</strong> Carta Capital -<br />

sumiu misteriosamente das bancas de <strong>Salvador</strong><br />

justamente na edição na qual tratava das tais<br />

irregularidades no Museu Rodin.<br />

30 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 31<br />

notas da <strong>Metrópole</strong><br />

Acertou uma<br />

Aplausos para João Henrique.<br />

Ao ser pressionado por dirigentes<br />

do PT para criar um Conselho<br />

Político que orientasse as decisões<br />

municipais, o prefeito respondeu<br />

pronta e inteligent<strong>em</strong>ente: “No<br />

dia <strong>em</strong> que o governador Jaques<br />

Wagner criar o conselho político<br />

estadual, neste mesmo dia, eu<br />

crio o municipal.” Resposta<br />

perfeita, que calou o PT na hora.<br />

O Museu Rodin devia ter sido inaugurado<br />

no dia 12 de nov<strong>em</strong>bro de 2003, mas continua<br />

muito b<strong>em</strong> lacrado. Não podendo ser inaugurado<br />

na gestão de Paulo Souto - que entregou um<br />

palecete reformado e oco - o museu ficou como<br />

herança para o PT. Descumprindo a regra de etiqueta<br />

de que a cavalo dado não se olha os dentes,<br />

o novo Secretário de Cultura, Márcio Meirelles,<br />

não só olhou como resolveu trocar a dentadura.<br />

O que era Museu Rodin agora será um museu<br />

de diálogo, ainda s<strong>em</strong> nome. Meirelles expandiu<br />

o convênio com o Museu Rodin da França para<br />

outros onze museus franceses, que <strong>em</strong>prestariam<br />

obras de outros artistas, também <strong>em</strong> regime de<br />

comodato, depois que expirass<strong>em</strong> os três anos de<br />

estadia das obras de Rodin aqui na Bahia.<br />

Só que o <strong>em</strong>préstimo de obras não é tão simples<br />

assim, principalmente ao Brasil, onde até a<br />

taça Jules Rimet já foi roubada e derretida. Em<br />

entrevista com Márcio Meirelles, a revista <strong>Metrópole</strong><br />

questionou sobre que espécie de obras<br />

viriam à Bahia depois de Rodin, considerando<br />

que por motivos óbvios de segurança e desfalque<br />

dos acervos de seus próprios museus, a França<br />

tenha certa relutância <strong>em</strong> enviar obras de maior<br />

relevância. L<strong>em</strong>bramos ao Secretário o constrangimento<br />

de - <strong>em</strong> ocasião da exposição Mestres da<br />

Arte Universal, no Museu de Arte Moderna da<br />

Bahia, <strong>em</strong> 2003 - termos mobilizado o público<br />

baiano para prestigiar até mesmo rabisco de Picasso<br />

<strong>em</strong> guardanapo de bar (literalmente). Mei-<br />

Fedeu<br />

A Faculdade de Comunicação<br />

da UFBA está <strong>em</strong> pé de guerra<br />

desde que um professor resolveu<br />

batizar de ‘Merda’ o jornal<br />

laboratório da unidade. A<br />

iniciativa foi rechaçada pelos<br />

d<strong>em</strong>ais professores, que ainda<br />

destituíram o autor da fétida<br />

idéia do comando do dito jornal.<br />

A polêmica está longe de acabar,<br />

mostrando que na UFBA, ainda<br />

se briga muito por Merda.<br />

relles, segurando-se para não chamar a repórter<br />

da <strong>Metrópole</strong> de ignorante, disse não existir obra<br />

menos relevante de um artista s<strong>em</strong>inal (ele gosta<br />

muito do termo “artista s<strong>em</strong>inal”. Aliás, a única<br />

frase mais dita durante a entrevista que “artista<br />

s<strong>em</strong>inal” foi “eu sou um artista”. S<strong>em</strong>pre que se<br />

vê numa situação na qual convém d<strong>em</strong>onstrar<br />

caráter, ele solta essa. “Sou um artista”).<br />

A reposta de Meirelles foi: “Quando<br />

se trata de um artista s<strong>em</strong>inal, de<br />

um Picasso da vida, não existe obra<br />

que não seja merecedora de<br />

um profundo respeito. É<br />

claro que n<strong>em</strong> tudo é uma<br />

Guernica da vida... Mas...<br />

B<strong>em</strong>, acho que tudo t<strong>em</strong><br />

o seu valor, t<strong>em</strong> o seu<br />

espaço”. Ou seja: o espaço<br />

dos guardanapos<br />

deve ser a Bahia. •


Roda baiana<br />

Carnateatro<br />

Por Andrezão Simões<br />

Uma tragédia. Assim defino os caminhos<br />

que o Carnaval da Bahia insiste<br />

<strong>em</strong> trilhar. Seus atores não consegu<strong>em</strong><br />

construir um modelo “estruturante” de<br />

realização para a mais importante festa<br />

popular da Bahia. Minha opinião de<br />

profissional, carnavalesco e cidadão,<br />

que convive há anos com todos os tipos<br />

de peças e encenações entre o poder<br />

público e os que efetivamente faz<strong>em</strong> a<br />

festa acontecer, é a de que chegamos<br />

a uma representação s<strong>em</strong> precedentes.<br />

É unanimidade entre todos que o<br />

atual modelo de gestão e convivência<br />

precisa ser revisto e transformado. O<br />

Carnaval é ao mesmo t<strong>em</strong>po fenômeno<br />

de manifestação popular, cultural,<br />

artística, lúdica, fator de atratividade<br />

turística, gerador de riqueza para a<br />

economia local e evento de engenharia<br />

singular e complexa. Há t<strong>em</strong>pos já<br />

devia ser objeto profundo de estudos,<br />

pesquisas e de preciosa colaboração<br />

acadêmica e profissional.<br />

Decididamente o governo João<br />

Henrique não conseguiu lidar com a<br />

Emtursa, órgão de turismo do município<br />

responsável pela interlocução e<br />

execução do Carnaval, que alternou,<br />

<strong>em</strong> três anos, quatro presidentes a saber:<br />

Pedro Galvão, Benito Gama, Everaldo<br />

Evaristo e Fernando Ferrero, o<br />

atual. Fora as especulações do que ainda<br />

está por vir. Não estabeleceu uma<br />

política clara e estável de condução<br />

dos processos. As informações sobre o<br />

custo do Carnaval são desencontradas,<br />

licitações de publicidade s<strong>em</strong> êxito,<br />

além de declarações desalentadoras sobre<br />

a imag<strong>em</strong> do Carnaval, que foram<br />

contrapostas por um brilhante artigo<br />

da ex-presidente da Emtursa, Eliana<br />

Dumet, ressaltando a importância de<br />

falar b<strong>em</strong> do que a gente t<strong>em</strong>.<br />

O governo Wagner, por sua vez, chegou<br />

b<strong>em</strong>, não cedendo a chantagens<br />

de última hora, prometendo amparar<br />

anualmente, e não às vésperas do Carnaval,<br />

grupos culturais de reconhecida<br />

atuação social <strong>em</strong> suas comunidades,<br />

Entra ano e sai ano o Carnaval de <strong>Salvador</strong> é s<strong>em</strong>pre um show de público, desorganização e falta de planejamento<br />

direcionando a TVE para mostrar um<br />

Carnaval que não recebia mais atenção<br />

da mídia, fazendo política de boa vizinhança<br />

com os governadores do Rio de<br />

Janeiro e Recife, instituindo o triângulo<br />

da folia (espero não ser o das bermudas,<br />

onde tudo desaparecia) e discutindo a<br />

possibilidade de instituir-se um grupo<br />

de trabalho integrado entre governos<br />

federal, estadual, municipal e d<strong>em</strong>ais<br />

setores da folia. Orai e confiai.<br />

Empreendedor confesso, ofereci à<br />

crítica no RODA BAIANA especial<br />

de Carnaval, a proposta da “Fundação<br />

do Carnaval”, que seria um órgão<br />

permanente de administração da festa,<br />

um caminho do meio para planejar e<br />

zelar pelo patrimônio cultural e artístico<br />

que possuímos. Todos adoraram a<br />

idéia mas, desde que não fosse no formato<br />

público-privado que propus.<br />

Ninguém se entende, mas quer<strong>em</strong><br />

que as coisas and<strong>em</strong>. Estudos, entre outros,<br />

como a arquitetura do Carnaval,<br />

do falecido acadêmico Manoel José,<br />

jogados no lixo. Vaidade, interesses<br />

pessoais, um Estado s<strong>em</strong> papel, d<strong>em</strong>agogia<br />

plena, correntes que puxam, mas<br />

não sab<strong>em</strong> onde a corda vai arrebentar,<br />

Valter Pontes<br />

teóricos de plantão, a DR (discussão<br />

da relação) falida do lúdico e do lucro<br />

onde os dois têm que sobreviver,<br />

a fantasia da diversidade na avenida e<br />

da adversidade nos bastidores de todas<br />

as tribos. Abram as cortinas e assistam<br />

ao espetáculo do fim <strong>em</strong> meio a um<br />

novo pensar necessitando com urgência<br />

da excelência e inteligência de todos.<br />

Gost<strong>em</strong> ou não, todas as correntes de<br />

pensamento precisam de atitude coletiva,<br />

esta é minha opinião e atitude<br />

pessoal constante.<br />

O jornalista Alex Ferraz escreveu<br />

na Tribuna da Bahia, logo após a folia<br />

de momo, que tudo isso como s<strong>em</strong>pre<br />

passaria e nada seria feito. Tudo seria<br />

deixado para cima da hora, novamente.<br />

A profecia está sendo cumprida.<br />

Em meados de 2007, com o Carnaval<br />

de 2008 mais imprensado dos últimos<br />

t<strong>em</strong>pos, (a festa de I<strong>em</strong>anjá, 2 de fevereiro,<br />

já será sábado de Carnaval)<br />

ninguém fez nada, efetivamente. Nenhum<br />

fórum de discussões legítimo<br />

foi estabelecido. E não o será, pelo<br />

visto. <strong>Salvador</strong> viverá, no pior estilo<br />

tragicômico, mais uma apresentação<br />

de: “NAS COXAS”. •<br />

32 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 5


Gabriela de Paula<br />

Um único hospital público com 274 leitos<br />

para dar conta do atendimento de urgência e<br />

<strong>em</strong>ergência de população de 122 municípios.<br />

Não precisa ser especialista <strong>em</strong> saúde pública<br />

para ver que há algo errado no Hospital Clériston<br />

Andrade, <strong>em</strong> Feira de Santana. A situação<br />

é tão crítica que levou, no mês passado,<br />

o Ministério Público Estadual a cogitar uma<br />

intervenção na unidade. Segundo o promotor<br />

Cristiano Chaves, que t<strong>em</strong> feito visitas regulares<br />

ao local, os probl<strong>em</strong>as mais <strong>em</strong>ergenciais<br />

são a falta de médicos, leitos e estrutura na<br />

enfermaria. Após seis meses de caos, toda a<br />

diretoria acabou no olho da rua. Mas ainda<br />

assim seria sorte nossa se o caos da saúde pública<br />

se restringisse a Feira de Santana.<br />

A situação foi agravada com o fim do contrato<br />

com a Coopamed. A cooperativa havia<br />

sido criada como meio de contratar médicos<br />

s<strong>em</strong> pagar direitos trabalhistas, desonerando<br />

os gastos governamentais mas ferindo a lei.<br />

O atual governo propôs mudar o quadro<br />

contratando, através de seleção pública, pelo<br />

Regime Especial de Direito Administrativo<br />

(Reda). Houve médico aprovado com nota<br />

oito, numa prova que valia 100. O processo<br />

de substituição de regime foi confuso e os<br />

muitos dos novos profissionais não tinham<br />

nenhuma experiência <strong>em</strong> atendimento <strong>em</strong>ergencial,<br />

que é completamente diferente da<br />

realidade do consultório.<br />

Médicos de algumas especialidades se organizaram<br />

para pressionar o governo e boico-<br />

notas da <strong>Metrópole</strong><br />

Bola 1<br />

Ninguém entendeu por que o<br />

secretário estadual da Saúde,<br />

Jorge Solla, foi escolhido para<br />

acompanhar o governador<br />

Jaques Wagner na inspeção<br />

de estádios de futebol, na<br />

Europa. Enquanto Solla via<br />

a Europa, aqui na terrinha<br />

o caos se instalava na Rede<br />

Hospitalar Estadual, com<br />

ameaça de fechamento do<br />

Hospital Clériston Andrade,<br />

<strong>em</strong> Feira Santana, por parte do<br />

Ministério Público.<br />

Saúde<br />

População paga o pato<br />

Mesmo com a contratação de médicos via Reda, população sofre s<strong>em</strong> atendimento<br />

Nas <strong>em</strong>ergências,<br />

pacientes<br />

aguardam horas <strong>em</strong><br />

ambulâncias para<br />

ser<strong>em</strong> atendidos nos<br />

corredores<br />

taram o Reda. Anestesistas, neurologistas e cirurgiões,<br />

entre outros, conseguiram barganhar<br />

um novo tipo de contrato: a terceirização. A<br />

Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) terceirizou<br />

os médicos através de um contrato de<br />

<strong>em</strong>ergência com as Obras Sociais Irmã Dulce,<br />

Bola 2<br />

Ninguém entendeu também<br />

por que o único m<strong>em</strong>bro da<br />

equipe do governo do Estado<br />

que comprovadamente entende<br />

de futebol - o superintende<br />

da Sudesb e grande craque do<br />

passado Bobô – ficou <strong>em</strong> solo<br />

baiano quando uma caravana<br />

governamental visitava estádios<br />

europeus. Bobô, inclusive,<br />

foi pouco solidário com o<br />

colega Jorge Solla, pois, já<br />

que o secretário da Saúde<br />

inspecionava campos de bola, o<br />

superintendente da Sudesb b<strong>em</strong><br />

que poderia ter feito inspeções<br />

nos hospitais da rede estadual.<br />

Valter Pontes<br />

Valter Pontes<br />

Bola 3<br />

O secretário Jorge Solla deu outra<br />

bola fora. Com o caos instalado na<br />

Saúde, ele resolveu apelar às Obras<br />

Sociais de Irmã Dulce (Osid)<br />

e à Fundação José Silveira para<br />

que essas contratass<strong>em</strong> médicos<br />

para suprir as lacunas abertas<br />

nos plantões da rede hospitalar.<br />

Os gastos com o pagamento<br />

dos médicos, através das duas<br />

entidades, estão custando aos<br />

cofres públicos até três vezes<br />

mais do que o que era pago à<br />

cooperativa médica contratada<br />

pelo governo passado, um<br />

completo desrespeito ao bolso do<br />

contribuinte.<br />

um instituição tida como séria.<br />

Durante dez dias tentamos conseguir os<br />

números oficiais com a Sesab, mas a única<br />

resposta que obtiv<strong>em</strong>os da Assessoria de<br />

Comunicação do órgão é que os dados solicitados<br />

(quantidade de plantões contratados<br />

por hospitais, t<strong>em</strong>po médio de espera para<br />

cirurgias e número de óbitos <strong>em</strong> leitos públicos<br />

este ano, entre outros) representariam<br />

uma “devassa” no órgão.<br />

M<strong>em</strong>bro da Comissão de Saúde e ouvidor<br />

da Ass<strong>em</strong>bléia Legislativa, o deputado Tarcízio<br />

Pimenta (DEM) t<strong>em</strong>e que a área de Saúde no<br />

Estado possa acabar no fosso (se é que já não<br />

está há muito t<strong>em</strong>po). Para ele, a situação que<br />

se criou com a mudança brusca e s<strong>em</strong> planejamento<br />

na contratação de médicos plantonistas<br />

levou a Saúde baiana a um estado crítico.<br />

Ele dá ex<strong>em</strong>plos da falta de preparo dos<br />

selecionados pelo Reda: “Em apenas um dia,<br />

houve sete óbitos por politraumatismo no<br />

Clériston Andrade”, conta. Pimenta afirma<br />

ainda que as estatísticas de mortes vêm sendo<br />

guardadas a sete chaves porque cresceram e<br />

muito. “Há pacientes que não chegam a fazer<br />

a ficha. Em junho, houve uma s<strong>em</strong>ana na<br />

qual oito pacientes graves morreram na porta<br />

de diversos hospitais s<strong>em</strong> receber sequer os<br />

primeiros socorros”, conta.<br />

Numa conversa entre três médicos no<br />

corredor da <strong>em</strong>ergência do Hospital Roberto<br />

Santos, flagrada pela nossa equipe de<br />

reportag<strong>em</strong>, a queixa era de que não havia<br />

ortopedista para os casos clínicos. Para atender<br />

aos estropiados que aparec<strong>em</strong> por lá era<br />

preciso chamar os especialistas que atend<strong>em</strong><br />

às cirurgias no Hospital Geral do Estado<br />

(HGE), dizia um doutor. Logo depois, outro<br />

deixa a rodinha de conversa às pressas. “Meu<br />

carro chegou”, diz, explicando que precisa<br />

ir atender a um pobre coitado que o espera<br />

no HGE, confirmando que os médicos se<br />

revezam entre as duas unidades.<br />

Bola 4<br />

Uma nova cooperativa<br />

está prestando serviços de<br />

terceirização de mão-de-obra<br />

médica para a Sesab. Trata-se<br />

da Coopermercado, que sequer<br />

possui registro no Cr<strong>em</strong>eb e<br />

cujo contrato social não prevê<br />

<strong>em</strong> suas atividades a contratação<br />

de médicos.<br />

Na porta do HGE, parentes de doentes brigam com médicos, que lutam para administrar o caos da falta de vagas<br />

No HGE, portas cerradas para manter os<br />

abelhudos longe de verificar o que acontece<br />

lá por dentro. Inúmeros ouvintes da Rádio<br />

<strong>Metrópole</strong> denunciam que há pacientes internados<br />

esperando até mais de dois meses para<br />

uma cirurgia e que há infartados, dentro de<br />

ambulâncias, esperando horas para receber<strong>em</strong><br />

os primeiros socorros. Maiores cuidados só são<br />

dedicados pelo legista.<br />

Na porta dos hospitais públicos da capital<br />

chegam ambulâncias das mais diversas<br />

partes da Bahia. Em alguns casos são seis,<br />

sete, dez horas sacolejando com uma garrafa<br />

de soro ou bolsa de sangue sendo segurada<br />

por um parente ou algum dos outros doentes<br />

que vêm de carona. Ao chegar, se chegar,<br />

o paciente não t<strong>em</strong> a menor garantia de<br />

atendimento imediato.<br />

Os doentes renais viv<strong>em</strong> a via crúcis de<br />

ir e voltar duas ou três vezes por s<strong>em</strong>ana<br />

para ter o sangue filtrado numa máquina<br />

de h<strong>em</strong>odiálise e viver um pouco mais.<br />

Qu<strong>em</strong> precisa de tratamento de câncer,<br />

por mais fraco que esteja, também precisa<br />

buscar os centros de referência da capital<br />

– o CICAN, o Centro Estadual de Oncologia<br />

ou uma das instituições filantrópicas,<br />

como o Hospital Aristides Maltez, que<br />

sofre com falta de verbas. O governo do<br />

Estado suspendeu, desde janeiro, a ajuda<br />

mensal de R$300 mil que dava à unidade e<br />

a Prefeitura de <strong>Salvador</strong> não paga as faturas<br />

devidas desde o ano passado.<br />

Averiguando uma denúncia de um ouvinte<br />

da <strong>Metrópole</strong> de que, no Roberto Santos,<br />

há meses não há cirurgias não-<strong>em</strong>ergenciais,<br />

fomos informados pelo diretor médico do<br />

hospital, Sebastião Mesquita, que a denúncia<br />

não procedia. “A nossa d<strong>em</strong>anda de pacientes<br />

é muito grande e, mesmo tendo um amplo<br />

centro cirúrgico, há procedimentos de<br />

alta complexidade que só são realizados aqui<br />

mas que d<strong>em</strong>andam uma d<strong>em</strong>ora maior”,<br />

explica. M<strong>em</strong>bros da Sesab reconhec<strong>em</strong> que<br />

o crescimento da rede pública não acompanhou,<br />

na mesma proporção, o aumento da<br />

população, por isso é urgente a necessidade<br />

de mais leitos e unidades. •<br />

34 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 35<br />

Valter Pontes


Picardia do macho<br />

pós-moderno!<br />

Primeira pincelada.<br />

Pelo Dr. Albergalhão*<br />

1. Enredantes amores, incertificantes ardores...<br />

Segundo o <strong>em</strong>inente pensador anarquista<br />

baiano Ricardinho Lipper, a Pós-Moderrnidade<br />

radicalizou a fiofó-losofia espontânea<br />

dos Machos Pegadores do Tororó: idéia de<br />

“que bundinha não t<strong>em</strong> sexo, n<strong>em</strong> cabeça de<br />

chapuleta teria juízo”.<br />

Ou, como canta o pós-lascador<br />

forrozeiro Renatinho Féquissinho<br />

(tripa-grossa da bandinha taradinha<br />

Jegue Viúvo): “a minha<br />

Mimosinha é s<strong>em</strong>pre inocentinha;<br />

e este Monstro-Feiúdo-da-<br />

Cabeça-Redondona-Lascadano<br />

Meio que me persegue<br />

noite e dia é cego, surdo e<br />

mudo – e mais s<strong>em</strong>-noção<br />

que Zezinho Binho”.<br />

Sábias palavras destes<br />

s<strong>em</strong>elhantes colhudões! Pois<br />

nossas Partinhas Palpitosinhas<br />

costumam se meter (ou<br />

ser<strong>em</strong> metidas, até o talo!) <strong>em</strong><br />

confusões das mais cabeludas.<br />

S<strong>em</strong> que a mal-enganada<br />

cabeçorra de cima seja<br />

muito responsável<br />

pelas lambanças<br />

da descabeladinha<br />

de baixo...<br />

Incongruentes <strong>em</strong>brulhadas concupiscentes<br />

que tanto estranhávamos antigamente...<br />

Mas que terminaram se revelando muito<br />

naturais na atual “era da ambivalência”, t<strong>em</strong>po<br />

das “desidentidades líquidas”, do “politeísmo<br />

dos valores”, dos “poliamores-<strong>em</strong>-rede”<br />

(transbordantes de “incertos poliardores”),<br />

do “neo-borboletismo desejante”, da “confusão<br />

dos gêneros e das orientações sexuais”,<br />

etc. -- como diz<strong>em</strong> pernosticamente os<br />

cabeções globais. E como repet<strong>em</strong>, apapagaiadamente,<br />

os bundões locais (à maneira<br />

fuleira do próprio palhacento Eruditão-de-<br />

Província, Dr. Albergalhão).<br />

Ninguém mais conseguindo separar o que<br />

É do que PARECE SER nesta escorregadia<br />

“cultura do simulacro” ambiente. N<strong>em</strong><br />

mesmo um manhoso mancebo da parecença<br />

do linguarudo Zé – Será-Que-É? – Eduar-<br />

do agüentando mais identificar o tipo de<br />

paudurismo ou de bundamolismo dos seus<br />

Aloprados Personagens. Pois, depois que ele<br />

se enxodozou pela bela menina-menino Leocrete,<br />

não se arrisca mais a soltar seu bocão<br />

- espalhando pela cidade que fulano é Meigo<br />

(meio-gay), que beltrano é Ivanildo (gay esquêlcido),<br />

que sicrano é Wanderley (o que<br />

não sabe que é gay), que aquele jornalista<br />

asconista é Araquém (macho de araque), ou<br />

que Reginaldo Rôlenfio é peludão quando<br />

está peladinho no quartinho...<br />

“Até os veadômetros das nossas tramoientas<br />

tevês ficaram completamente desregulados”<br />

– afirma o f<strong>em</strong>eeiro gazeteiro Pablito<br />

Reis -- diretor de estúdio, camarim e motel<br />

dos programistas Zé Eduardo e Zé Binho (do<br />

programa “Me Liga Brocão!”).<br />

2 Veadismos gaiatamente falados, soltamente<br />

brincados, quiçá gozosamente<br />

furunfados.<br />

Assim, tornou-se impossível<br />

comprovar tanto o exibido 100%<br />

de monossexualismo HETERO<br />

dos Caceteiros Machudões<br />

quanto o não menos afetado<br />

100% de monossexualismo<br />

HOMO dos Arteiros Jeitosinhos<br />

(aqueles rapazes<br />

alegres que chamávamos de<br />

Francisquinhos e Salta-Pocinhas<br />

outrora). Monotipos<br />

sexuais integrais que são cada<br />

vez mais figuras excepcionais<br />

nas ruas, residuais mesmo no<br />

florido ecossist<strong>em</strong>a partidário do<br />

PV de Juquinha. Neste caso, não<br />

havendo como contabilizar<br />

os 10% de salsinhas<br />

purinhos & durinhos<br />

da nossa Veadolândia<br />

Soteropolitana – que<br />

superpovoariam a supositória<br />

“cidade mais gay do Brasil” de que fala<br />

o Metelão Luizão Mott (Hard Lover que é um<br />

famoso arrombador de armários e cofrinhos!).<br />

O fato é que nossa s<strong>em</strong>pre duvidosa Bahia<br />

(com “Gê” na frente do “Hagá”?) não é b<strong>em</strong><br />

uma afrodisíaca Sodoma Afro-Americana –<br />

representa apenas uma rabada tropical, das<br />

mais pitorescamente extrovertidas, da imensa<br />

Babilônia Multissexual Ocidental que nos engloba.<br />

Pois há muito que o veadismo deixou<br />

Citações, Excitações (Mentais)...<br />

“Indócil liberdade deste m<strong>em</strong>bro viril, ingerindo-se tão inoportunamente<br />

quando não t<strong>em</strong>os o que fazer & falhando tão vergonhosamente<br />

quando precisamos dele; desrespeitando tão imperiosamente<br />

a autoridade da nossa Vontade, recusando com tanta obstinação<br />

nossas solicitações tanto mentais quanto manuais”.<br />

“Somos todos construídos de partonas soltonas & partinhas desconjuntadinhas,<br />

E de uma contextura tão informe e diversa que cada<br />

bocado de nós, a cada momento, faz seu jogo a culhão. Daí ser tão<br />

grande a diferença que existe entre eu e mim mesmo, quanto entre<br />

eu e o taradim que está a fim de mim.”<br />

de ser, propriamente, “coisa de veado” entre<br />

os nativos – <strong>em</strong>bora continue rolando solto<br />

no esparrame dos nossos borocotós & pirambeiras<br />

suburbanas, nas faculdades de comunicação,<br />

nas revistas chiquinhas, até.<br />

Borboleteante frutismo - não tanto rosinha<br />

ou verdinho (como no PV) mas esparralhadamente<br />

furta-cor - dos nossos roludos “cabras<br />

safados” que têm uma longa enrolada história.<br />

E que não se resume aos pagãos deleites dos<br />

berdaches tupinambás, n<strong>em</strong> às pecaminosas<br />

delícias dos fanchonos e falsos-ao-corpo “do<br />

t<strong>em</strong>po dos afonsinhos” (eles também eram?).<br />

Pois se trata de um gosto difuso – mais<br />

linguarudamente brincante & festivamente<br />

pulante que seriamente atochant<strong>em</strong>ente<br />

copulante - reproduzido pela espicaçada<br />

macharada da terra desde s<strong>em</strong>pre; um malicioso<br />

entretenimento s<strong>em</strong>pre b<strong>em</strong> socializado<br />

entre os menininhos nada inocentinhos<br />

& velhotes velhacões da terra. Só que agora<br />

a lambança se acelerou também entre os<br />

mais respeitáveis pais-de-família! Muitíssima<br />

gente boa comendo gato por lebre,<br />

confundinho jacaré com lagartixa, tratando<br />

cobrona como minhoquinha, assoprando<br />

apitinho de mocinha como se tivesse lambiscando<br />

pirulitinho de travequinha!<br />

Os nossos (e vossos!) tantos impermanentes<br />

seres & errabundos quereres – <strong>em</strong>baralhadamente<br />

putanheiros, punheteiros, florzinheiros,<br />

frutinheiros, galheiros – rolando furtivamente<br />

nas entrepernas do Certo & do Errado, do<br />

Habitual & do Inesperado, do Apresentável<br />

& do Desejável. O Viadável tornando-se mais<br />

Viável até para os Janjões Beatões!<br />

Desgoverno? Depravação? Malucação?<br />

Não, não! Apenas a potencialização, no mundinho<br />

humano-baiano dos nossos supostos<br />

filhos, de um revivificado tipo de sensibilidade<br />

Perini Graça.É muito<br />

mais do que você esperava.<br />

Um dos centros gastronômicos mais modernos do mundo.<br />

Cornografia do finado franciú Montaigne (séc. XVI) – ele falando<br />

da retorcida condição humana <strong>em</strong> geral e da incoerência natural<br />

dos nossos desejos. Ex<strong>em</strong>plificando, <strong>em</strong> especial, com a caprichosa<br />

indocilidade do humanal pingolim (“monsieur ma partie”), conjuntamente<br />

com a do nosso não menos rebelde fiofó (“son dit consort”,<br />

“son compagnon”). Partinhas cúmplices no seu viver “ordinariamente<br />

indiscreto e tumultuário”...<br />

- talvez mais incertificante e arriscada; mas,<br />

também, mais leve, jovial e compreensiva que<br />

a dos nossos presumidos pais (já incluindo os<br />

mais r<strong>em</strong>otos fucking fathers do multissexuado/multissafado<br />

povo baiano <strong>em</strong> geral).<br />

E t<strong>em</strong> mais. Na próxima crônica estarei<br />

dando uma segunda viril pincelada no<br />

assunto – já tratando mais da importância<br />

da Vadiag<strong>em</strong> <strong>em</strong> geral que da Viadag<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />

particular nesta Bahia-de-Todos-os-Enganos<br />

(e de todos os cornistas, digo, cronistas talqualmente<br />

enganosos...).<br />

*O Dr. Albergalhão é um estudioso da desidentidade<br />

& desnatureza humana-baiana; e<br />

cornografou a presente arenga com absoluta isenção<br />

– atuando na sua condição de sapiente abstinente<br />

sexual (um “donzelão encruadão, mofino<br />

no tesão e só libertino no palavrão”, segundo as<br />

más-línguas da fuxiquenta Redação) •<br />

Projetada com o que há de mais<br />

moderno no mundo, a Perini Graça<br />

inova na estrutura, nos equipamentos<br />

e na ambientação. São 3.000m² de loja<br />

para você fazer suas compras com mais<br />

conforto e tranqüilidade. Com exclusivo<br />

sushi bar, butique de carnes e<br />

peixaria, <strong>restaura</strong>nte buffet, café da<br />

manhã, doceria e estacionamento<br />

para 110 carros. Perini Graça. Se você<br />

ainda não conhece, venha conhecer.<br />

É muito mais do que você esperava.<br />

Av. Princesa Leopoldina, 506. Graça • www.perini.com.br<br />

36 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 37


Álvaro Figueiredo<br />

notas da <strong>Metrópole</strong><br />

A arquitetura e os equipamentos de<br />

lazer de uma cidade diz<strong>em</strong> muito sobre a<br />

qualidade de vida de sua população. Se esta<br />

é uma verdade, o bom viver dos soteropolitanos<br />

beira a merda. A degradação de áreas<br />

sociais, praças e monumentos históricos<br />

é visível, e n<strong>em</strong> as estátuas e bustos que<br />

enfeitam os poucos jardins da cidade estão<br />

salvos do descaso e do abandono.<br />

Na Piedade, o busto do mártir alfaiate<br />

Manoel Fautino dos Santos Lira sumiu.<br />

Na Fonte Nova, a estátua de Pelé foi mutilada<br />

- ficou s<strong>em</strong> braços - e a Sudesb,<br />

órgão estadual responsável pelo estádio,<br />

retirou-a do local para evitar que levass<strong>em</strong><br />

a cabeça, o tronco, as pernas e a bola.<br />

Além disso, das 24 fontes luminosas que<br />

enfeitavam <strong>Salvador</strong>, apenas a da Praça da<br />

Sé funciona regularmente.<br />

No Centro Histórico, apesar de muitas<br />

reformas, as décadas de abandono e<br />

descaso estão provocando a ruína dos<br />

casarões e até mesmo das fachadas que<br />

ainda restam. Isso b<strong>em</strong> <strong>em</strong>baixo dos narizes<br />

do prefeito e dos vereadores, cujos<br />

locais de trabalho estão localizados na<br />

mesma área, a Praça Tomé de Souza.<br />

Por falar <strong>em</strong> Praça, a dos Veteranos,<br />

que fica <strong>em</strong> frente ao quartel do Corpo<br />

de Bombeiros, na Baixa dos Sapateiros, é<br />

um dos ex<strong>em</strong>plos claros do descaso. Não<br />

há bancos n<strong>em</strong> vegetação de monta, o<br />

piso está se soltando, e os desocupados<br />

e usuários de drogas passam o t<strong>em</strong>po<br />

Assassinaram<br />

Morreu o antropólogo, escritor<br />

e colaborador da <strong>Metrópole</strong>,<br />

Antonio Risério. Pelo menos<br />

foi o que divulgou o Boletim<br />

Informativo da Secretaria<br />

Municipal de Reparação<br />

(S<strong>em</strong>ur). Risério, que ao<br />

contrário do que diz a nota está<br />

muito vivo, soube do seu próprio<br />

falecimento através do fundador<br />

do Badauê, Geraldo Babá.<br />

Este sim, quase morre de susto<br />

quando ligou para a residência<br />

do “falecido” para saber sobre<br />

o velório e foi atendido pelo<br />

próprio “defunto”.<br />

De novo<br />

Ao perceber o equívoco do<br />

antecipado anúncio da morte<br />

de Antônio Risério, a S<strong>em</strong>ur<br />

publicou <strong>em</strong> seu boletim uma<br />

errata, atestando que qu<strong>em</strong><br />

morrera fora Antonio Vieira.<br />

Isso a Bahia toda já sabia. Foi<br />

no século 17.<br />

abordando pedestres, pedindo dinheiro,<br />

pra comer ou “pra dar um pau”.<br />

Se o quadro é assim próximo à prefeitura,<br />

imagine no resto da cidade. Na Cidade Baixa,<br />

os largos do Papagaio, de Roma e da Madragoa<br />

estão na mesma situação que a Praça dos<br />

Veteranos, a diferença é que a quantidade de<br />

pedintes e doidões é menor.<br />

<strong>Salvador</strong> é a primeira capital do País e<br />

a cidade com o maior e mais antigo acervo<br />

arquitetônico da colonização portuguesa,<br />

mas que hoje desaparece aos poucos <strong>em</strong><br />

desabamentos que a estação das chuvas<br />

agrava a cada ano. Sociólogo e mestre <strong>em</strong><br />

antropologia, o escritor e poeta Antônio<br />

Risério defende idéias radicais para a ci-<br />

Nocaute<br />

O ex-campeão mundial de<br />

boxe, Acelino Popó de Freitas,<br />

se prepara para o seu mais duro<br />

combate. Recém-<strong>em</strong>possado<br />

na Secretaria Municipal de<br />

Esportes e Lazer (Smel), Popó,<br />

que é um hom<strong>em</strong> sério, terá que<br />

enfrentar a bagunça e a falta<br />

de recursos que caracterizam a<br />

administração municipal para<br />

realizar um trabalho que esteja<br />

à sua altura na Smel. Há qu<strong>em</strong><br />

garanta que ele joga a toalha até<br />

o final do ano.<br />

Cidade<br />

Monumento ao abandono<br />

Praças, parques, estátuas e fontes luminosas retratam o descaso com a cidade<br />

Estátua de Pelé, na entrada da Fonte Nova, foi r<strong>em</strong>ovida após ter os braços roubados<br />

Valter Pontes<br />

dade e acredita que não é mesmo possível<br />

manter a população atual ocupando<br />

o velho Centro Histórico. “É caro, uns<br />

oito escravos seriam necessários pra fazer<br />

a limpeza e manutenção diária de um casarão<br />

como a Casa de Jorge Amado (no<br />

Pelourinho)”, diz ele.<br />

Para Risério, que está concluindo um<br />

trabalho exatamente sobre a vida nas cidades,<br />

o uso social coerente do Centro<br />

Histórico é complicado. Ele entende que<br />

a ocupação social deve ser b<strong>em</strong> pensada.<br />

“A favelização de <strong>Salvador</strong> expulsou a classe<br />

média das praças e logradouros, mas<br />

ainda é mais seguro estar à noite no pau<br />

da bandeira que sozinho numa parada de<br />

M<strong>em</strong>ória<br />

A m<strong>em</strong>ória do brasileiro é,<br />

definitivamente, curta. Apenas<br />

um mês se passou e parece<br />

que ninguém mais l<strong>em</strong>bra<br />

de assuntos como Navalha,<br />

Gautama, Zuleido Veras e os<br />

R$140 mil <strong>em</strong> dinheiro vivo<br />

encontrados pela Polícia Federal<br />

na casa do prefeito de Camaçari,<br />

Luís Caetano (PT). Até a loira<br />

do Audi TT voltou a freqüentar<br />

as aulas na Unifacs. S<strong>em</strong> o<br />

possante, que continua recolhido<br />

na Polícia Federal.<br />

ônibus do Iguat<strong>em</strong>i”, analisa. Para ele, a<br />

ocupação social das favelas é exatamente<br />

uma das saídas para a violência. “Se houver<br />

birosca e área de baba nas favelas, a pressão<br />

social diminui”, avalia.<br />

Uma das propostas do cientista social,<br />

que certamente vai gerar polêmica, é adotar<br />

o uso de teleféricos (bondinhos) para todas<br />

as grandes encostas de <strong>Salvador</strong>: “Outro<br />

dia experimentei um pra acessar o hospital<br />

Sarah. É barato, prático, moderno e bonito.<br />

A classe média e a população de baixa<br />

renda iriam adorar”.<br />

Risério diz que <strong>Salvador</strong> t<strong>em</strong> projetos<br />

maravilhosos, como o do próprio Aeroclube,<br />

que foi relegado a segundo plano,<br />

e destaca que a beleza singular do traçado<br />

irregular acentua o potencial turístico da<br />

cidade. “É preciso l<strong>em</strong>brar que a cidade<br />

colonial não era arborizada e as árvores até<br />

estragam a vista. Na Praça Municipal, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, existe uma árvore que desfigura<br />

a vista do prédio da Câmara”. Outro probl<strong>em</strong>a,<br />

segundo ele, é que as pessoas foram<br />

expulsas dos espaços públicos, saíram das<br />

calçadas dos seus bairros.<br />

Apesar das belas árvores, da biblioteca<br />

Monteiro Lobato, que esteve fechada<br />

até recent<strong>em</strong>ente, e da proximidade com<br />

o tradicional Colégio Salesiano, na Praça<br />

Almeida Couto, mais conhecida como Jardim<br />

de Nazaré, não há o que fazer além<br />

de andar a pé olhando a copa das árvores,<br />

pois os bancos que exist<strong>em</strong> são poucos e<br />

não dão n<strong>em</strong> para os alunos no fim do expediente<br />

escolar. Não t<strong>em</strong> pra onde correr<br />

ou se abrigar <strong>em</strong> nossas praças.<br />

N<strong>em</strong> mesmo matar a sede <strong>em</strong> uma de<br />

nossas belas fontes históricas o cidadão<br />

pode fazer s<strong>em</strong> medo de contaminação ou<br />

assalto. A Fonte Nova, que fica na ladeira<br />

de mesmo nome, só serve para lavar carro e<br />

refrescar desocupados e usuários de drogas<br />

Na Piedade, o busto do herói alfaiate Manoel Faustino dos Santos Lira<br />

foi arrancada, ficando apenas o pedestal<br />

que ali batalham pelos trocados. “Polícia<br />

aqui, moço, só <strong>em</strong> dia de jogo, e olhe lá.<br />

Foi assim que tiraram os braços da estátua<br />

de Pelé, pra derreter e comprar droga com<br />

o dinheiro do metal, mas eu não tava no<br />

dia não”, conta Ligalaite, um dos moradores<br />

de rua que freqüenta o local.<br />

A Sumac é o órgão municipal responsável<br />

pelos monumentos e divide com<br />

outros órgãos os cuidados com as fontes<br />

e jardins municipais. Com orçamento de<br />

apenas R$11 milhões por ano para cuidar<br />

de toda <strong>Salvador</strong>, incluindo obras de pavimentação<br />

e drenag<strong>em</strong>, não sabe ainda<br />

que prioridades atacar na recuperação das<br />

fontes urbanas da cidade. “A Fundação<br />

Gregório de Mattos está elegendo, pela<br />

relevância histórica, a ord<strong>em</strong> de <strong>restaura</strong>ção<br />

das 24 fontes da cidade, e <strong>em</strong> breve<br />

dev<strong>em</strong>os iniciar a recuperação das cinco<br />

primeiras”, anuncia o superintendente<br />

do órgão, Wellington Pereira. Um início<br />

pouco tardio para uma administração municipal<br />

que já entrou no seu 31º mês.<br />

A Superintendência de Parques e Jardins<br />

(SPJ), que como o nome indica, deveria cuidar<br />

desses logradouros, também encontra dificuldades<br />

para realizar sua função. Segundo<br />

o órgão, <strong>Salvador</strong> conta com 465 praças e<br />

166 hectares de área verde, distribuída pelos<br />

jardins públicos e parques urbanos, a ex<strong>em</strong>plo<br />

do São Bartolomeu e o da Cidade. Na<br />

atual gestão, 221 praças foram recuperadas<br />

ou construídas com recursos da SPJ, que<br />

dispõe de uma verba anual de aproximadamente<br />

R$ 3,5 milhões. Outras 112 praças<br />

foram recuperadas através do “Programa<br />

Nossa Praça”, viabilizado por uma Parceria<br />

Público-Privada. Mas a população não está<br />

satisfeita: “A situação é a mesma, aqui como<br />

lá <strong>em</strong>baixo”, diz a doméstica Francisca Silva,<br />

43, que trabalha na Barra e mora no Uruguai.<br />

Segundo ela, o que se vê nas praças públicas<br />

dos dois bairros são desocupados, usuários e<br />

traficantes de drogas: “Ninguém é doido de<br />

deixar os meninos brincar<strong>em</strong> nesses lugares.<br />

Qu<strong>em</strong> tiver seu filho, deixe dentro de casa”,<br />

aconselha. “Depois, não t<strong>em</strong> nada pra fazer<br />

nessas praças mesmo, n<strong>em</strong> bola n<strong>em</strong> brinquedos<br />

n<strong>em</strong> bancos”, acrescenta. •<br />

38 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 39<br />

Valter Pontes


Por André Teixeira<br />

notas da <strong>Metrópole</strong><br />

Crônica<br />

A Quinta dos Inferno<br />

Qu<strong>em</strong> não conhece o Vale dos Indigentes, n<strong>em</strong> faz questão<br />

de conhecer, o lugar está localizado no pequeno despenhadeiro<br />

à esquerda do c<strong>em</strong>itério de Quinta dos Lázaros, na Baixa de<br />

Quinta. T<strong>em</strong> tamanho de dois campos de futebol profissional,<br />

com centenas de cruzes de cimento, brancas, com cerca de 50<br />

cm cada, espalhadas sobre as covas rasas que desc<strong>em</strong> tortas na<br />

vertical até os quintais dos barracos construídos irregularmente<br />

no terreno da necrópole. S<strong>em</strong> saneamento algum. Qu<strong>em</strong><br />

chega na Vala respira doença e miséria. Quando o t<strong>em</strong>po<br />

está bom sente-se o odor abafado de terra podre. Quando<br />

chove, a depender do aguaceiro, a<br />

enxurrada desenterra os defuntos,<br />

fazendo com que crânios, troncos<br />

e m<strong>em</strong>bros apareçam, rol<strong>em</strong><br />

e par<strong>em</strong> no fundo dos casebres.<br />

Bom para os cachorros. E para<br />

Umulum, o chefe do povo dos<br />

c<strong>em</strong>itérios da Quimbanda. São<br />

Lázaro, para os católicos.<br />

Não custa caro morrer se<br />

você for sepultado <strong>em</strong> Quinta<br />

dos Lázaros, a depender do lugar<br />

que seja enterrado. No chão, com<br />

ou s<strong>em</strong> os indigentes, é de graça,<br />

e nas carneiras, que pertenc<strong>em</strong> a<br />

entidades diversas, o custo fica <strong>em</strong> torno de<br />

R$300. Aceita cartão Visa. Cada carneira é<br />

dividida por uma placa de cimento de no máximo 4,0 cm de<br />

espessura com 2,5 m de profundidade. O contrato de locação<br />

deste equipamento é de três anos, a partir daí, os restos mortais<br />

dev<strong>em</strong> ser retirados e devolvidos à família. Os caixões, que são<br />

vendidos pelas funerárias do bairro, ficam entre R$280 (de compensado)<br />

e R$4 mil, mas pod<strong>em</strong> chegar a R$15 mil <strong>em</strong> outras<br />

funerárias da capital baiana. Tamanho, peso, adornos, vidro, com<br />

visor ou s<strong>em</strong>, e madeira, normalmente de lei, aumentam o valor<br />

Solução<br />

“Seria muito bom se apenas um<br />

deputado e um senador pegass<strong>em</strong><br />

febre aftosa, pois assim teríamos<br />

que sacrificar o rebanho todo”.<br />

Frase de Jonny Souza, ouvinte<br />

<strong>Metrópole</strong>.<br />

Capador<br />

Se uma das funções da<br />

Superintendência de Parques<br />

e Jardins é cortar madeira, o<br />

novo titular do órgão traz essa<br />

habilidade no nome: Evandro<br />

Castro Pinto.<br />

do féretro. Além é claro dos serviços funerários. No caso de<br />

Quintas, o velório é de R$80, mas a família pode velar o defunto<br />

coletivamente s<strong>em</strong> pagar nada numa das seis pedras mortuárias<br />

disponíveis. A capelinha também é de graça, sendo que neste<br />

caso, os parentes só pod<strong>em</strong> ficar 20 minutos no ambiente. “São<br />

muitos enterros por dia”, diz Raimundo Teixeira, funcionário<br />

do c<strong>em</strong>itério, “por isso não pode d<strong>em</strong>orar”. Fora as flores e os<br />

santinhos - que não vi, n<strong>em</strong> recebi nenhum enquanto acompanhava<br />

os funerais – o séqüito termina por<br />

aí. No caso dos indigentes, o enterro é no<br />

chão, e a responsabilidade é da Secretaria<br />

de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), que<br />

deposita o lixo humano - cerca de quatro<br />

a cinco bonecos por s<strong>em</strong>ana - s<strong>em</strong>pre<br />

nas quartas e quintas-feiras, na vala<br />

reservada exclusivamente para eles<br />

- jovens e velhos. Todos decrépitos.<br />

Um “umbral”, diriam os espíritas.<br />

Vindos do Instituto Médico Legal<br />

Nina Rodrigues (IML). “Cuidado<br />

que o bicho pega se você for<br />

pra lá. Ali só vou pra te enterrar”,<br />

desdenhava um funcionário do c<strong>em</strong>itério<br />

com a minha ida à quadra<br />

dos mendicantes, que t<strong>em</strong> cenário<br />

digno dos horrendos filmes do cineasta<br />

José Mojica Marins, o Zé do<br />

Caixão. E o que é pior, abandonados<br />

justamente por aqueles que mais lucraram e<br />

lucram com a miséria humana: as congregações de Deus. Que<br />

não têm responsabilidade alguma, diga-se de passag<strong>em</strong>, com o<br />

que acontece no terreno ao lado.<br />

Se os indigentes conheceram o inferno <strong>em</strong> vida, confirmaram<br />

a existência dele <strong>em</strong> Quinta dos Lázaros. Segundo a<br />

Sesab, “os sepultamentos normais de adultos <strong>em</strong> covas rasas<br />

só voltam a ser realizados no dia 1º de set<strong>em</strong>bro”. O órgão<br />

diz ainda que a suspensão é exclusiva para sepultamentos de<br />

adultos e que o serviço continuará sendo prestado para o enterro<br />

de crianças de até três anos e para os miseráveis. Ruim<br />

com, pior s<strong>em</strong> ele. O Quinta está com a capacidade esgotada,<br />

e para piorar a situação dos defuntos faltam espaços no<br />

chão, para os pobres. Até a determinação da secretaria, eram<br />

feitos de 25 a 30 sepultamentos por dia. Agora são 15. Diz<br />

a prefeitura de <strong>Salvador</strong> que os dez c<strong>em</strong>itérios do<br />

município dispõ<strong>em</strong> de 2.800 covas, e estão<br />

<strong>em</strong> condições de efetuar os sepultamentos<br />

que normalmente são realizados <strong>em</strong> Quinta<br />

dos Lázaros. Verdade. Até porque ser enterrado<br />

nos c<strong>em</strong>itérios do município não é<br />

difícil. Basta jogar o corpo <strong>em</strong> um buraco.<br />

O c<strong>em</strong>itério de Brotas, por ex<strong>em</strong>plo, um dos<br />

mais importantes da cidade, junto com o de<br />

Plataforma, além de ser feio – a preguiça impede<br />

a construção de jardins - t<strong>em</strong> entulho, lixo, mato,<br />

duas árvores e três funcionários trabalhando por turno<br />

- sendo que no dia que a reportag<strong>em</strong> resolveu visitar o<br />

local, às duas horas da tarde, um dos coveiros estava<br />

dormindo na capela do c<strong>em</strong>itério, (maldade, tinha<br />

acabado de rangar), o outro, o administrador, se<br />

encontrava <strong>em</strong> casa, e o terceiro, do nada, começou a<br />

limpar o terreno – uma hora depois - quando me viu avaliando<br />

as condições do ambiente. De acordo com o gerente - que não<br />

quis responder às minhas perguntas - ele foi ameaçado pela<br />

Secretaria Municipal de Serviços Públicos (Sesp), de exonera-<br />

ção caso dissesse alguma coisa contra o c<strong>em</strong>itério de Brotas.<br />

Ninguém abriu o bico. Só a moça de aparência funesta e suja,<br />

que acordou incomodada ao perceber minha aproximação no<br />

fundo do c<strong>em</strong>itério. Tinha todos os dentes da boca. Bonita,<br />

se não foss<strong>em</strong> os sinais de loucura e o abandono. Dormia<br />

sobre papelões. Assustada. Aos gritos, e com um pau na mão,<br />

exigia que saíss<strong>em</strong>os de perto, dizendo que não devia<br />

satisfação a ninguém. “Eu não quero conversa.<br />

Não se meta <strong>em</strong> assuntos de maçonaria”, berrava.<br />

Perguntamos se morava ali. Morava. Mas não disse.<br />

E se fazia trabalhos de magia “negra” no lugar.<br />

Ninguém sabe. Não respondeu. Mas é comum,<br />

pelo menos uma vez por mês, ver o c<strong>em</strong>itério<br />

invadido por quimbandeiros para a feitura<br />

de despachos com ossos humanos. “Antes<br />

era pior”, l<strong>em</strong>brava uma senhora, enquanto<br />

via o sepulcro do marido. Poucos tão b<strong>em</strong><br />

cuidados como aquele. Tinha lápide. O resto,<br />

na sua maioria, só números. À noite, além das almas -<br />

se existir<strong>em</strong> – só essa moça-zumbi dorme neste “campo<br />

santo”. Que t<strong>em</strong> destino igual ao nosso, é verdade. A<br />

morte. A diferença é que no dia que ela conseguir sair<br />

do mundo dos vivos, vai para Vala dos Indigentes. Porque<br />

no de Brotas o enterro custa R$12,88 para adulto. Ou a<br />

menos que alguém acredite <strong>em</strong> milagre e ela seja enterrada ou<br />

cr<strong>em</strong>ada no Jardim da Saudade, num belo caixão de madeira<br />

talhada, com flores, adornos, vidro fumê, padre... •<br />

40 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 41


42<br />

Pingue-pongue<br />

Ivete<br />

Sangalo<br />

Ela é considerada um dos maiores<br />

expoentes da música baiana, com uma<br />

carreira de projeção internacional.<br />

Conhecida pela energia positiva que<br />

transmite e por s<strong>em</strong>pre dizer o que pensa,<br />

Ivete Sangalo esteve na <strong>Metrópole</strong> e bateu<br />

um papo com Chico Kertész e Faustão, que<br />

<strong>em</strong>bevecidos na tietag<strong>em</strong> produziram este<br />

ex<strong>em</strong>plo de jornalismo do b<strong>em</strong><br />

<strong>Metrópole</strong> – O show do<br />

Maracanã, no qual foi gravado<br />

o DVD, teve alguma coisa de<br />

especial <strong>em</strong> relação aos outros?<br />

Ivete - Tudo. Quer dizer,<br />

não dá pra comparar nenhum<br />

show com outro. Pode ser<br />

maior, pode ser grande,<br />

pequeno, pode ter uma<br />

infra-estrutura incrível, pode<br />

não ter, porque não é isso<br />

que dimensiona o valor do<br />

espetáculo. Eu vou <strong>em</strong> alguns<br />

lugares, por ex<strong>em</strong>plo, que não<br />

têm condições de assumir a<br />

estrutura de um grande show,<br />

mas que as pessoas estão<br />

dispostas a ver o show e curtir a<br />

música, e eu disposta a cantar.<br />

Agora, por trás desse show do<br />

Maracanã aconteceram muitas<br />

coisas. Principalmente porque<br />

teve a expectativa de cantar<br />

num lugar <strong>em</strong>bl<strong>em</strong>ático pro<br />

Rio de Janeiro e pro Brasil.<br />

A energia lá é de vitórias, de<br />

com<strong>em</strong>oração, de alegria. É um<br />

palco de <strong>em</strong>oções. Aí quando<br />

sugeriram que eu fizesse esse<br />

show, eu falei: loucura total,<br />

mas vamos nessa.<br />

<strong>Metrópole</strong> - Você ficou<br />

com medo de não encher o<br />

‘Maraca’?<br />

Ivete – Não, porque se<br />

não tivesse enchido seria<br />

totalmente compreensível.<br />

É um espaço muito grande.<br />

É uma tolice esse negócio<br />

de encher. Mas terminou<br />

ficando lindo. O estádio<br />

repleto de gente. Muitas<br />

pessoas ali nunca tinham ido<br />

ao Maracanã. Os meus fãs de<br />

<strong>Salvador</strong> fizeram caravanas,<br />

não sei quantos ônibus. E<br />

ainda teve a onda da galera<br />

pisar no campo do Maracanã,<br />

não é velho? E t<strong>em</strong> mais. Na<br />

hora, não dá pra estagnar as<br />

<strong>em</strong>oções. A supervalorização<br />

do “eu”, de cada um se gostar<br />

e ter auto-estima é uma coisa.<br />

Você pré determinar o que<br />

você vai sentir e reagir, isso já<br />

é loucura. Então eu acreditei<br />

no projeto, junto com vários<br />

profissionais. É claro que<br />

eu não estou sozinha nisso,<br />

né? Muita gente acreditou,<br />

inclusive, e mais do que todo<br />

mundo, o público ali presente.<br />

Então, você acredita que é<br />

possível. Mas você não pode<br />

dimensionar o que vai sentir e<br />

dizer na hora. Eu disse assim:<br />

“Vocês vieram mesmo, né?”<br />

Não é que seja impossível<br />

aquela quantidade de pessoas,<br />

mas é inimaginável. Meu<br />

carro quase não chega. Eu<br />

me arrepio quando l<strong>em</strong>bro.<br />

Pô, Samuel Rosa chegou<br />

a meu camarim e disse:<br />

“Negona, t<strong>em</strong> fila rodando<br />

o Maracanã”. Pô Samuel,<br />

que coisa maravilhosa, toda<br />

arrepiada. Ele: “Minha irmã,<br />

que onda.” Alejandro Sanz<br />

olhou pra mim antes de entrar<br />

no palco, apertou minha mão<br />

e disse: “Você não me disse<br />

que ia ser isso, não”. “Oh<br />

negão, n<strong>em</strong> eu sabia, como é<br />

que eu ia lhe dizer?”<br />

<strong>Metrópole</strong> - Mudando um<br />

pouco de assunto, diz aí quantos<br />

<strong>em</strong>pregos diretos o negócio “Ivete<br />

Sangalo” gera?<br />

Ivete - Oh, pressão. Vai<br />

Riquelme. Quantos <strong>em</strong>pregos<br />

ele gera? Estou revendo isso.<br />

Não, assim, <strong>em</strong> números exatos<br />

eu não posso lhe falar. Exist<strong>em</strong><br />

formas de <strong>em</strong>prego direto.<br />

São as pessoas que trabalham<br />

diretamente na <strong>em</strong>presa. T<strong>em</strong> a<br />

parte do financeiro, a parte do<br />

marketing, a parte de design.<br />

Porque a <strong>em</strong>presa hoje, a<br />

Caco de Telha, t<strong>em</strong> objetivos<br />

coerentes de imag<strong>em</strong>, ela<br />

“Um momento como cantar<br />

Chupa Toda com Bono Vox<br />

não vai ser repetido”<br />

trabalha com uma artista hoje<br />

que a gente t<strong>em</strong> uma carreira até<br />

internacional. Quer dizer, são<br />

muitos. Eu tenho uma imag<strong>em</strong><br />

associada a muitos produtos<br />

conhecidos nacionalmente, são<br />

de multinacionais. Isso tudo<br />

gera contratação de profissionais<br />

também de muita qualidade.<br />

Aí t<strong>em</strong> a minha banda, t<strong>em</strong> os<br />

produtores que trabalham com<br />

a banda. Enfim, t<strong>em</strong> o selo que<br />

é a Caco Discos – agora mesmo<br />

o DVD foi gravado pela Caco<br />

Discos e o DVD de Netinho<br />

também. E por aí vai. Isso tudo<br />

requer um aparato profissional<br />

muito grande. T<strong>em</strong>os área de<br />

assessoria de imprensa. T<strong>em</strong>os<br />

a editora. Enfim, coisas que<br />

estão coerentes com a minha<br />

caminhada. T<strong>em</strong>os a Caco de<br />

Telha, a CT2, que cuida de<br />

outros artistas. Então eu não<br />

posso dizer a você: olha, eu tenho<br />

X pessoas aqui, acolá. Não sei.<br />

Eu sei do tamanho do volume.<br />

Esses são os <strong>em</strong>pregos diretos. E<br />

os indiretos são os <strong>em</strong>pregos que<br />

a gente relaciona ao trabalho.<br />

São ambulantes, pessoas que<br />

trabalham com estruturas<br />

de metal, do tipo camarote,<br />

etc. São fábricas de panos<br />

para os abadás. São músicos<br />

que, independent<strong>em</strong>ente de<br />

estar<strong>em</strong> inseridos na banda, são<br />

compositores ou estão sendo<br />

tocados pela gente. E outras<br />

tantas coisas que eu não saberei<br />

numerar. Mas é muita coisa que<br />

movimenta.<br />

<strong>Metrópole</strong> – Como artista<br />

ou como <strong>em</strong>presária, com<br />

tantas realizações, t<strong>em</strong> algo<br />

que te incomoda, algo que faz<br />

você dar “pití”?<br />

Ivete - Incomodam-me<br />

esses horários que eu tenho. Eu<br />

queria dormir até a hora que<br />

eu b<strong>em</strong> entendesse. Mas aí t<strong>em</strong><br />

um monte de coisa, t<strong>em</strong> que<br />

pegar o avião... Ah... Bicho!<br />

Tenha santa paciência, viu? Mas<br />

eu não dou pití não... Ont<strong>em</strong><br />

eu estava tendo uma reunião<br />

com Ricardo Martins, aí num<br />

momento lá de um relatório, eu<br />

lendo lá um relatório, coisa e tal,<br />

toda querendo ser <strong>em</strong>presária<br />

ativa, toda organizada, aí eu falei:<br />

Pô Ricardo! Assim não dá, meu<br />

irmão! Aí me levantei da cadeira<br />

e disse: Martins veja isso aqui...<br />

isso não pode estar certo. Aí ele:<br />

“Ivetinha, dessa maneira não vai<br />

dar”. Ou seja, n<strong>em</strong> pra eu dar<br />

pití eu tenho ousadia dos caras...<br />

Esses caras não acreditam no<br />

meu pití. Por mais pití que eu dê,<br />

os caras não acreditam. Eu acho<br />

que tudo na vida é uma conduta.<br />

Você t<strong>em</strong> que ter uma conduta<br />

linear. Assim, não pode exagerar.<br />

E, para bom entendedor, mais<br />

um pouquinho de conhecimento<br />

nunca vai bastar, né?<br />

<strong>Metrópole</strong> – Fala aí de<br />

um momento marcante da sua<br />

trajetória...<br />

Ivete - Você sabe que existe<br />

uma tendência da gente nunca<br />

aceitar que determinados<br />

momentos não vão ser repetidos,<br />

‘né’? Mas um momento como<br />

cantar “Chupa toda” com Bono<br />

Vox não vai ser repetido. É aquilo<br />

ali e acabou. Agora fudeu.<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007<br />

43


mAl u Fo n t e s<br />

Jornalismo do B<strong>em</strong> –<br />

um aleijão provinciano<br />

Num desses programas independentes que nos últimos anos se<br />

multiplicaram nas <strong>em</strong>issoras locais de TV, uma apresentadora que<br />

se pensa toda modernosa e antenada só porque faz apologia dos<br />

produtos jabaculados <strong>em</strong> sua atração, contava que estava superfeliz<br />

com os planos e a moral de sua cria, uma moçoila que havia incursionado<br />

pelos caminhos do jornalismo. A tal justificava sua felicidade<br />

argumentando que a rebenta vive a repetir que, quando se tornar<br />

profissional, só terá interesse <strong>em</strong> fazer “Jornalismo do B<strong>em</strong>”. Taí um<br />

conceito que n<strong>em</strong> os manuais de jornalismo n<strong>em</strong> os estudiosos da<br />

comunicação jamais identificaram <strong>em</strong> suas buscas.<br />

Mas qu<strong>em</strong> mora <strong>em</strong> cidades com um forte sotaque provinciano,<br />

como é o caso de <strong>Salvador</strong>, sabe sim o que é isso: é aquela deformidade<br />

profissional que poderia atender pelo nome de “puxa-saco”.<br />

Jornalismo do B<strong>em</strong> é um tipo de atuação invertebrada, ou seja, o<br />

dublê de jornalista que se adequa a qualquer contexto, dança conforme<br />

a música, ou melhor, conforme o tilintar do caixa de qu<strong>em</strong><br />

quer um espacinho e um aplausinho na mídia.<br />

Em outras palavras, Jornalismo do B<strong>em</strong> é a aquela conversinha<br />

mole, aquele textinho chinfrim que algumas vezes se ouve, vê e lê na<br />

imprensa. Consiste <strong>em</strong> <strong>em</strong>pregar toda a sorte de adjetivos elogiosos<br />

para designar um produto ou uma pessoa. O “B<strong>em</strong>” é tão melhor<br />

praticado nesse jornalismo cor-de-rosa quanto mais alto for o cacife<br />

social ou financeiro do elogiado. Os jabás (pequenos, médios ou<br />

grandes agrados que o elogiado dá ao Jornalista do B<strong>em</strong> para que<br />

este o ponha nas alturas) se sofisticam cada vez mais, sobretudo<br />

<strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos <strong>em</strong> que se multiplicam no mercado os tratamentos<br />

médicos e estéticos de rejuvenescimento e que apresentadores e<br />

apresentadoras não são tão privilegiados assim pela genética no<br />

quesito estética. Vale de tudo: umas roupinhas jeitosas das lojas<br />

incensadas da cidade, um d<strong>em</strong>onstrativo de um tratamento médico,<br />

um par de peitos novos, uma t<strong>em</strong>porada no hotel da vez no Litoral<br />

Norte, uma passagenzinha aérea, uma boca-livre, etc.<br />

O fato é que os Jornalistas do B<strong>em</strong> faz<strong>em</strong> “de um tudo” <strong>em</strong> troca de<br />

umas migalhinhas e, a longo prazo, isso acaba por produzir um aleijão<br />

na imag<strong>em</strong> que aquela parte grandona da sociedade, provinciana e<br />

tacanha, faz da imprensa de verdade, aquela que não se identifica n<strong>em</strong><br />

como do b<strong>em</strong> e muito menos como do mal, mas como prestadora de<br />

serviço, como uma indústria que vende um produto específico: notícia,<br />

opinião, informação. Graças aos tais Jornalistas do B<strong>em</strong>, uma camada<br />

de poderosos, ex-poderosos, ricos de fachada e coisas que o valham<br />

acaba se acostumando com o elogio fácil e não suporta ser descrita <strong>em</strong><br />

termos substantivos, de tão acostumada que está aos adjetivos melosos,<br />

comprados - é bom que se diga - de profissionais que não estão no<br />

mercado para outra coisa senão para vendê-los.<br />

Embora uma coisa pareça não ter nada a ver com a outra, a verdade<br />

é que reações como a do prefeito João Henrique Carneiro, de levar aos<br />

tribunais o seu desejo de não ser criticado, encontram no famigerado<br />

Jornalismo do B<strong>em</strong> uma luva. A diferença é que enquanto uma socialite<br />

se deleita de modo ridículo com os elogios feitos por apresentadores ou<br />

colunistas desses que têm tabelas, ela sabe intimamente o quanto esse<br />

mimo público custa e, se o paga, é porque pode e quer e ninguém t<strong>em</strong><br />

nada a ver com isso. Já a um hom<strong>em</strong> público, submetido diariamente<br />

à avaliação popular (o que inclui críticas e elogios), cassa-se o direito de<br />

exigir da imprensa, seja ela qual for, a sua descrição e narração apenas<br />

nas cores e nos tons determinados por si ou sua entourage. Chega a ser<br />

lamentável, como evento constituinte do processo político d<strong>em</strong>ocrático,<br />

a expressão <strong>em</strong> foro jurídico do mero desejo de proibição de qualquer referência<br />

ao próprio nome por parte de qu<strong>em</strong> sobrevive profissionalmente<br />

justamente da aceitação da opinião pública. Como não se pode acreditar<br />

<strong>em</strong> estupidez quando se trata de um personag<strong>em</strong> aboletado d<strong>em</strong>ocraticamente<br />

no poder na terceira capital do País, só sobra mesmo o velho e<br />

pobre diagnóstico: um caso lastimável de aleijão provinciano. •<br />

44 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 5


Jul i A n A Cu n h A<br />

Preconceito - ou juízo preconcebido<br />

- é a opinião que você prevê<br />

que terá. Uma opinião provisória<br />

mantida enquanto não obt<strong>em</strong>os<br />

subsídios para uma análise mais<br />

aprofundada. Na era da informação,<br />

o preconceito é, inclusive, forma<br />

de triag<strong>em</strong>. Ninguém precisa<br />

assistir Jurassic Park 3 pra saber<br />

que é uma droga. Preconceito não<br />

t<strong>em</strong> nada a ver com racismo, homofobia,<br />

machismo, xenofobia e<br />

outros delitos contra a dignidade<br />

humana. Maltratar, agredir ou privar<br />

pessoas do convívio social é<br />

discriminação, e não preconceito.<br />

Discriminação é usar seus preconceitos<br />

como desculpa para sacanear<br />

alguém. Todas as grandes ondas<br />

de discriminação do mundo, sobretudo<br />

aquelas que culminaram<br />

<strong>em</strong> extermínio - como a Solução<br />

Final para o Probl<strong>em</strong>a Judeu e<br />

a Limpeza Étnica, na Bósnia –,<br />

estavam e estão calcadas <strong>em</strong> interesses<br />

políticos e econômicos, são<br />

a supr<strong>em</strong>a arma da incompetência<br />

contra aqueles que a ameaçam.<br />

Discriminação é crime, preconceito<br />

é apenas o sagrado mecanismo<br />

de autodefesa que nos<br />

poupa de assistir Jurassic Park 3.<br />

Quando você está no elevador<br />

com o seu irmão e mais uma porção<br />

de desconhecidos, sobe um<br />

cheiro horrível e você t<strong>em</strong> certeza<br />

da procedência, isto é preconceito.<br />

Você conhece o seu irmão, é a cara<br />

notas da <strong>Metrópole</strong><br />

dele largar um cheiroso no elevador,<br />

sabe a cor que ele fica quando<br />

faz um troço desses e, baseado no<br />

padrão comportamental de seu<br />

consangüíneo, conclui que foi ele<br />

o autor da obra. Perfeitamente lógico.<br />

E perfeitamente preconceituoso.<br />

Isto porque o cérebro humano<br />

trabalha por associações. O teste<br />

de QI aplicado pela Mensa (sociedade<br />

de superdotados fundada <strong>em</strong><br />

1946, na Inglaterra), por ex<strong>em</strong>plo,<br />

avalia a capacidade de raciocínio<br />

através de questões de análise lógica<br />

de padrões e figuras. O teste<br />

te dá um conjunto de figuras e<br />

pede para você prever qual será a<br />

próxima. Exatamente o mesmo<br />

raciocínio que você utiliza ao cair<br />

fora quando vê um el<strong>em</strong>ento suspeito<br />

numa rua esquisita. Os critérios<br />

que te fizeram estabelecer<br />

Privatizando<br />

Um projeto de privatização,<br />

gestado no interior da<br />

Bahiatursa, pretende repassar<br />

os três centros de convenções<br />

pertencentes ao governo<br />

baiano (<strong>Salvador</strong>, Ilhéus<br />

e Porto Seguro) para uma<br />

única <strong>em</strong>presa. O projeto está<br />

circulando nas mãos de alguns<br />

<strong>em</strong>presários do setor turístico,<br />

mas ninguém acredita que, do<br />

jeito que está, ele tenha chances<br />

de sobrevivência.<br />

Pela descriminação do preconceito<br />

algo como suspeito são baseados<br />

nas suas experiências pessoais e coletivas<br />

(no que você ouviu falar,<br />

leu, etc.).<br />

Recent<strong>em</strong>ente, a University<br />

College London divulgou<br />

uma pesquisa que aponta que<br />

os estereótipos (alicerces do<br />

preconceito), são fundamentais<br />

para o aprendizado das crianças<br />

autistas. O estudo foi realizado<br />

com 49 crianças <strong>em</strong> idade escolar,<br />

sendo 21 delas autistas.<br />

Os cientistas<br />

fizeram a<br />

essas crianças<br />

perguntas<br />

baseadas <strong>em</strong><br />

desenhos, que<br />

representavam<br />

homens e mulheres<br />

Governo incentiva<br />

a prostituição<br />

Depois do sucesso de seu livro<br />

(quer dizer, seu ou do ghost writer<br />

que escreveu), O Doce Veneno<br />

do Escorpião, Raquel Pacheco (a<br />

ex-prostituta mais conhecida como<br />

Bruna Surfistinha), consegue do<br />

Ministério da Cu Ltura liberação<br />

para captação de R$3.998.621,65.<br />

O filme de Bruna Surfistinha<br />

será beneficiado pelas leis de<br />

incentivo à cu ltura. As mesmas<br />

leis que costumam encher as<br />

burras de grandes <strong>em</strong>presas e<br />

artistas consagrados pelo público<br />

e de valor intelectual bastante<br />

questionável. Fica difícil saber se o<br />

fundo é de cultura ou se é o nosso.<br />

pintados de marrom e rosa.<br />

Cerca de 75% das respostas<br />

dadas pelas crianças dos dois<br />

grupos tomavam como base estereótipos<br />

comuns de gênero<br />

e etnia. Segundo a professora<br />

Uta Frith, as pessoas comuns<br />

usam a generalização <strong>em</strong> situações<br />

nas quais precisam tomar<br />

decisões rápidas e não sab<strong>em</strong><br />

nada sobre a outra pessoa.<br />

Em <strong>Salvador</strong>, o estereótipo<br />

do suspeito de assalto é hom<strong>em</strong>,<br />

jov<strong>em</strong>, atlético, negro e<br />

aparent<strong>em</strong>ente pobre. Embora<br />

a sociedade seja de fato racista,<br />

a construção do estereótipo<br />

não é intrinsecamente racista.<br />

O fato de eu não acreditar que<br />

serei assaltada por uma velhinha<br />

trajando Chanel não significa<br />

que eu supunha que a tal<br />

velhinha seja uma pessoa boa e<br />

o estereótipo do assaltante seja<br />

uma pessoa ruim, significa apenas<br />

que exist<strong>em</strong> várias maneiras<br />

de ser mau caráter. Sonegar, assassinar<br />

o marido pra ficar com<br />

o seguro, roubar jóias da nora e<br />

explorar o filho da <strong>em</strong>pregada<br />

combinam muito mais com a<br />

velhinha. A sociedade é racista<br />

por negar <strong>em</strong>prego, marginalizar,<br />

acusar injustamente e<br />

condenar ao fracasso aqueles<br />

que se encaixam <strong>em</strong> seu estereótipo<br />

do bandido, e não por<br />

atravessar a rua. •<br />

Cidade<br />

Um monstrengo na Orla<br />

<strong>Prefeito</strong> quer hotel de 18 andares no lugar das ruínas do Clube Português<br />

46 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 47<br />

Da redação<br />

O prefeito João Henrique não pára de<br />

surpreender. Depois de muitos absurdos ao<br />

longo dos mais de 2 anos e meio de gestão,<br />

lançou mais um. Quer erguer um espigão <strong>em</strong><br />

plena praia da Pituba. Trata-se de um projeto<br />

de lei encaminhado à Câmara Municipal no<br />

início do mês para a construção de um hotel<br />

de 18 andares no local onde funcionou por<br />

muito t<strong>em</strong>po o finado Clube Português (hoje<br />

abrigo de s<strong>em</strong> teto e, segundo os moradores<br />

da Pituba, de ladrões).<br />

O vereador José Carlos Fernandes (PMN),<br />

presidente da Comissão de Planejamento Urbano<br />

e Meio Ambiente da Câmara Municipal, que<br />

está avaliando o projeto, foi surpreendido com<br />

as proporções do material que recebeu, classificado<br />

por ele como “um verdadeiro absurdo”.<br />

Além da liberação do gabarito da Orla de dois<br />

para 18 andares, o prefeito quer mais. “Ele quer<br />

a desafetação de 12 mil m 2 de área de domínio<br />

comum do povo, e transformar essas áreas <strong>em</strong><br />

áreas de domínio da prefeitura, para que sejam<br />

agregadas aos 8 mil m 2 do Clube Português e<br />

sejam repassadas para um grupo econômico. E<br />

me parece que existe uma operação casada porque<br />

já se sabe que teria um hotel e esse hotel teria que<br />

ter 18 andares. Nunca nessa cidade se propôs um<br />

absurdo dessa natureza”, indigna-se o vereador.<br />

Apesar das evidências de que já está tudo<br />

acertado entre a prefeitura e o responsável pelo<br />

“<strong>em</strong>preendimento”, a secretária de Planejamento<br />

e superintendente da Sucom, Kátia Carmelo,<br />

tenta dar a entender que ainda não está nada definido.<br />

“A Seplan vai estabelecer os critérios e os<br />

termos de referência para que se haja a licitação<br />

da exploração do espaço por alguma entidade<br />

que venha a se instalar. Não existe ninguém<br />

pré-definido, a idéia é que aja um concurso internacional<br />

de idéias e que a <strong>em</strong>presa que vier a<br />

se instalar siga o que foi aprovado”.<br />

Mas, uma declaração da secretária de<br />

Planejamento deve ser considerada: “É um<br />

marco visual que nós não t<strong>em</strong>os na Orla”.<br />

De fato, não existe um trambolho de 18<br />

andares a manchar ainda mais a já degradada<br />

Orla Marítima de <strong>Salvador</strong>.<br />

O presidente da Associação Baiana de<br />

Imprensa (ABI), Samuel Celestino, acha esquisito<br />

o pensamento de Kátia Carmelo e crê<br />

que, para um projeto de impacto como este<br />

ser levado adiante, as entidades civis organizadas<br />

deveriam ser convocadas a se pronunciar<br />

a respeito. “A secretária pode ter lá suas razões de<br />

ord<strong>em</strong> pessoal ou de gosto, mas eu vejo isso como<br />

um crime contra a cidade e sua população”.<br />

Samuel Celestino vai além. “A construção<br />

de um espigão de 18 andares no local do antigo<br />

Clube Português é um desses absurdos que só é<br />

cont<strong>em</strong>plado na Bahia”.<br />

Outras entidades diretamente interessadas<br />

<strong>em</strong> discutir o assunto também já se manifestaram.<br />

Em nota, o Departamento da Bahia<br />

do Instituto de Arquitetos do Brasil, presidido<br />

por Paulo Ormindo de Azevedo, afirmou que<br />

“qualquer intervenção <strong>em</strong> terrenos litorâneos,<br />

como o do Clube Português, só deve ser feita<br />

dentro de um projeto compreensivo de toda a<br />

orla, sob pena de comprometer, para s<strong>em</strong>pre,<br />

um excepcional recurso natural da cidade”. “É<br />

como se a Prefeitura do Rio de Janeiro permitisse<br />

a construção de um hotel nas areias de<br />

Copacabana ou Ipan<strong>em</strong>a para saldar compromissos”,<br />

argumentou o IAB.<br />

O presidente da Associação Baiana de Indústria<br />

Hoteleira (ABIH), Ernane Pettinati, argumenta.<br />

“O que se deve tratar hoje não é de construção de<br />

novos hotéis <strong>em</strong> <strong>Salvador</strong>, dev<strong>em</strong>os é arrumar a<br />

cidade para que ela possa dar condições de recebermos<br />

melhor os turistas. E com isso proporcio-<br />

S<strong>em</strong> Tetos<br />

No ano passado, a prefeitura selou um acordo<br />

com o governo estadual para solucionar o probl<strong>em</strong>a<br />

das 85 famílias que ocupam o antigo clube. O Estado<br />

construiria 85 casas populares e a prefeitura daria<br />

destino ao prédio do clube. O titular da Secretaria de<br />

Desenvolvimento Urbano do Estado, Afonso Bandeira,<br />

afirmou que 25 casas já foram construídas, <strong>em</strong><br />

Valéria e as outras 60, que seriam erguidas no Village<br />

da Lagoa, foram <strong>em</strong>bargadas pelo Ibama.<br />

Valter Pontes<br />

Os moradores da Pituba afirmam que, além dos s<strong>em</strong>-teto, o antigo Clube Portugês é hoje esconderijo de ladrões que aterrorizam o bairro<br />

narmos que as ocupações dos hotéis melhor<strong>em</strong>. O<br />

que a prefeitura deveria fazer é arrumar a cidade.<br />

Nós estamos com uma <strong>Salvador</strong> s<strong>em</strong> praia (o probl<strong>em</strong>a<br />

das Barracas), s<strong>em</strong> a Lagoa do Abaeté (com<br />

sérios probl<strong>em</strong>as de segurança) e s<strong>em</strong> o Pelourinho<br />

(completamente abandonado)”.<br />

E, n<strong>em</strong> qu<strong>em</strong> deveria ser consultado para<br />

ajudar, foi procurado pela prefeitura. O presidente<br />

do Conselho Regional de Engenharia,<br />

Arquitetura e Agronomia seção Bahia,<br />

Jonas Dantas, lamentou que o Crea não tenha<br />

sido sequer consultado sobre o projeto,<br />

n<strong>em</strong> sobre qualquer estudo que <strong>em</strong>base a<br />

idéia da construção do tal hotel.<br />

Jonas Dantas explicou porque o Crea é contra<br />

um <strong>em</strong>preendimento desse porte no local.<br />

“Primeiro, porque qualquer intervenção de natureza<br />

estrutural naquela área fere muito todo o<br />

valor arquitetônico da edificação. E nós somos<br />

contrários, porque aquilo é um espaço que t<strong>em</strong><br />

que ser discutido com a sociedade. Uma edificação<br />

de 18 andares além de ferir a lei, contraria o<br />

que está sendo discutido no próprio Plano Diretor<br />

de Desenvolvimento Urbano, PDDU”.<br />

Em 2006, foram realizadas quatro audiências<br />

públicas para discutir o que fazer do<br />

antigo Clube Português. Foi apresentado o<br />

projeto de um oceanário, de um complexo<br />

esportivo, e um centro gastronômico<br />

internacional, idéia da ABIH, além de um<br />

hotel 5 estrelas, a mais expressiva sugestão,<br />

da Associação Brasileira de Hotéis.<br />

Mas, quando o martelo estava prestes<br />

a ser batido <strong>em</strong> prol do hotel, a prefeitura<br />

recuou e o então secretário de Planejamento,<br />

Itamar Batista, afirmou, na ocasião, que<br />

o terreno não deveria ser vendido para a<br />

construção de um hotel, porque a comunidade<br />

era contrária ao <strong>em</strong>preendimento.<br />

Pelo jeito, o prefeito voltou atrás. •


máR i o Ke R t é s z<br />

Mudança para o mesmo lugar<br />

Nós todos acreditávamos que o PT seria<br />

o instrumento importante no processo de<br />

mudança no País. Quando era oposição, o<br />

partido d<strong>em</strong>onstrava isso. Mas o PT que<br />

chegou ao poder não está n<strong>em</strong> um pouco<br />

interessado <strong>em</strong> mudanças. É um partido que<br />

se aburguesou, aceitou as regras do jogo.<br />

Faz as alianças que considera indispensáveis<br />

para governar e continuar mandando,<br />

ficando, desta forma, impedido de avançar<br />

num processo de mudanças reais.<br />

Nacionalmente e até aqui na Bahia, a<br />

grande aliança petista é com o PMDB,<br />

que é um partido conservador e s<strong>em</strong><br />

qualquer interesse <strong>em</strong> avançar. Para o<br />

PMDB estão indo quase todos os prefeitos<br />

e políticos da base carlista derrotados<br />

nas últimas eleições. Qual desses realmente<br />

está <strong>em</strong>penhado <strong>em</strong> um processo<br />

de melhoria nas estruturas econômicas<br />

e soaciais? Nenhum. Mesmo o ministro<br />

Geddel Vieira Lima não está.<br />

O PT que chegou ao poder é um partido<br />

de centro, voltado apenas para um<br />

único objetivo: permanecer no poder e PT<br />

saudações. Qual é o projeto de mudança<br />

petista? Nenhum. O projeto do PT no governo<br />

é, de um lado segurar a miséria com<br />

o bolsa família,bom <strong>em</strong> um primeiro momento<br />

mas criando um péssimo hábito das<br />

pessoas viver<strong>em</strong> exclusivamente disso.<br />

A classe média está cada vez mais imprensada<br />

pela perda de poder aquisitivo<br />

e, portanto, menor e com menos poder<br />

político e de expressão. E, o segundo lado<br />

do projeto petista de governo é dar a alta<br />

burguesia condições excepcionais de aumentar<br />

os seus rendimentos financeiros.<br />

Ninguém l<strong>em</strong>bra mais de antigas bandeiras<br />

do PT, como acabar com a especulação<br />

financeira e fazer investimentos produtivos<br />

que gerass<strong>em</strong> <strong>em</strong>prego. Tudo isso é<br />

conversa do passado.<br />

No Brasil de hoje, t<strong>em</strong>os no topo da<br />

pirâmide uma alta burguesia na maior felicidade<br />

com o governo do presidente Lula.<br />

Na base da pirâmide, também t<strong>em</strong>os os<br />

pobres miseráveis na maior felicidade com<br />

o presidente Lula, fazendo com que ele já<br />

pense <strong>em</strong> 2014. Qu<strong>em</strong> está no meio dessa<br />

pirâmide que se lasque. Significa que, <strong>em</strong><br />

curto prazo, nós não ter<strong>em</strong>os nenhuma<br />

mudança estrutural no País para que o domínio<br />

deste grupo político liderado pelo<br />

PT perdure por muito t<strong>em</strong>po.<br />

O presidente Lula pode até pensar <strong>em</strong><br />

acabar com o projeto de reeleição. É capaz<br />

até de estimular a vitória do PSDB na próxima<br />

eleição - provavelmente Aécio Neves,<br />

de qu<strong>em</strong> ele é mais próximo -, para poder<br />

voltar <strong>em</strong> seguida.<br />

Na Bahia é a mesma coisa, o PT não<br />

está fazendo qualquer mudança estrutural.<br />

A única coisa que PT baiano está fazendo<br />

diferente é o trabalho mais intenso de aparelhamento<br />

dos órgãos do Estado. A Secretaria<br />

de Saúde, por ex<strong>em</strong>plo, é totalmente<br />

aparelhada pelo PT, PCdoB e sindicalismo.<br />

E acontece também <strong>em</strong> outras secretarias,<br />

que estão sendo aparelhadas pelo PCdoB,<br />

PSB, PMDB e outros.<br />

O PT na Bahia até então não tinha<br />

tido chance de ser governo. Agora que<br />

está no poder, aproveita para montar seus<br />

quadros, como tinha e t<strong>em</strong> até hoje nas<br />

estruturas sindicais, onde não há alter-<br />

nância de lideranças e o continuísmo<br />

impera, a ex<strong>em</strong>plo do sindicato dos rodoviários,<br />

que há 18 anos está sobre o<br />

controle do deputado J. Carlos.<br />

Nos sindicatos esse trabalho serviu e<br />

serve para eleger deputado, para comprar<br />

espaço nas rádios e nas televisões.<br />

Na prefeitura de <strong>Salvador</strong>, o PT, como<br />

não quer ter ou não quer arriscar ter um<br />

candidato, vai acabar, provavelmente,<br />

indicando um vice na chapa de João<br />

Henrique e, junto com o PMDB, talvez<br />

até ajude a reeleger o pior prefeito que<br />

<strong>Salvador</strong> já teve nos últimos t<strong>em</strong>pos. É<br />

a tal história: explode-se <strong>Salvador</strong>, mas<br />

mantêm-se o poder.<br />

Aliás, a prefeitura hoje é o aparelho da<br />

família Carneiro. T<strong>em</strong> algumas divisões,<br />

é certo - o PCdoB t<strong>em</strong> uma ponga, o PSB<br />

t<strong>em</strong> outra, o PT discute se fica ou sai, e<br />

o PMDB está começando a ter um pongão,<br />

que, pelo apetite, vai resultar numa<br />

ponta maior ainda. Mas a prefeitura é<br />

mesmo o grande patrimônio da família<br />

Carneiro. Elege senador, deputada estadual,<br />

federal, tudo.<br />

O que eu lamento é que, nessa hora, o<br />

tal do espírito público vai para o espaço.<br />

O espírito é da defesa do poder, da defesa<br />

do partido, da defesa da boquinha. E as<br />

perspectivas de mudança e de transformação<br />

desaparec<strong>em</strong>, ficando para nós apenas<br />

a sensação de que as mudanças, se vier<strong>em</strong>,<br />

serão para o mesmo lugar.<br />

E, pior de tudo, <strong>em</strong> relação a Lula, é<br />

que me l<strong>em</strong>bro de Getúlio Vargas, que<br />

passou para a história como pai dos pobres<br />

e mãe dos ricos. •<br />

Pan<br />

Para qu<strong>em</strong> deseja sediar uma copa<br />

do mundo e uma olimpíada, o<br />

Brasil deu um passo atrás com<br />

os Jogos Panamericanos Rio<br />

2007. Um atraso de meia hora<br />

na abertura de um evento desse<br />

porte traria enormes prejuízos<br />

às <strong>em</strong>issoras de TV de todo o<br />

planeta, caso isso ocorresse <strong>em</strong><br />

uma copa ou jogos olímpicos.<br />

Isso para não falar do atraso na<br />

programação das competições,<br />

como foi o caso do baseball.<br />

Ouro de tolos<br />

A disputa entre Lula e Bush no<br />

campeonato de vaias políticas<br />

do Pan segue acirrada. Lula foi<br />

estrident<strong>em</strong>ente vaiado por 6<br />

vezes, ficando desconcertado<br />

ao ponto de quebrar o<br />

protocolo e transferir a função<br />

de decretar a abertura oficial<br />

do torneio para presidente<br />

do COB, Carlos Arthur<br />

Nuzman. Enquanto isso, Bush<br />

é vaiado cada vez que os atletas<br />

americanos sob<strong>em</strong> ao pódio.<br />

48 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 49<br />

notas da <strong>Metrópole</strong>


Direto do<br />

Blog de Mário<br />

Menino do Pau Miúdo<br />

Campanha lançada pelo governo<br />

australiano contra o excesso de<br />

velocidade nas estradas associa<br />

a necessidade de “pisar fundo” à<br />

pequenez do pênis dos motoristas.<br />

A velocidade é, segundo os<br />

australianos, uma forma de<br />

auto-afirmação dos portadores<br />

de medidas insignificantes. Se a<br />

associação estiver correta, aqui <strong>em</strong><br />

<strong>Salvador</strong> t<strong>em</strong> muita gente com<br />

piroquinha no lugar de cacete.<br />

Conclave t<strong>em</strong> novas regras<br />

O Papa Bento XVI decidiu tornar<br />

mais rigorosas as regras de votação<br />

para os novos papas. Segundo<br />

a regra antiga, para a escolha de<br />

um papa eram necessários pelo<br />

menos dois terços dos votos<br />

nas primeiras votações. Após<br />

sucessivas votações, contudo,<br />

se nenhum candidato obtivesse<br />

a maioria dos dois terços, os<br />

cardeais poderiam passar para<br />

maioria simples. Agora, os futuros<br />

papas precisarão de pelo menos<br />

dois terços dos votos, <strong>em</strong> todas as<br />

votações. Assim fica mais difícil<br />

alguém como o cardeal Joseph<br />

Ratzinger virar papa.<br />

Neco<br />

Ao ser questionado sobre as vaias que recebeu<br />

durante todo o percurso que separa a Lapinha do<br />

Terreiro de Jesus, durante o desfile do 2 de julho,<br />

o prefeito João Henrique saiu-se com esta: “Não<br />

são para mim n<strong>em</strong> para minha administração”.<br />

João Henrique só faltou perguntar para o<br />

repórter: “Você conhece Neco?”<br />

Vaias<br />

Por falar <strong>em</strong> vaias, elas foram tantas que o<br />

prefeito até passou mal. Se a moda pega, até o<br />

final do mandato João Henrique não deverá sair<br />

da cama, pois não pode botar a cara na rua que<br />

a população lhe devolve <strong>em</strong> forma de apupos o<br />

que o prefeito v<strong>em</strong> fazendo com a cidade.<br />

De novo!<br />

Um dia depois de ter um qüiproquó no<br />

desfile de 2 de Julho, o prefeito voltou a<br />

passar mal. Desta vez na prefeitura, logo após<br />

uma tensa e d<strong>em</strong>orada reunião com a direção<br />

estadual e municipal do PT. Os petistas<br />

queriam barganhar a permanência na base<br />

de apoio a João Henrique e exigiam <strong>em</strong> troca<br />

ou a secretaria da Fazenda, ou a do Governo,<br />

ou a do Planejamento, ou, <strong>em</strong> último caso, a<br />

Sucom. O probl<strong>em</strong>a é que Geddel, dono do<br />

PMDB baiano - novo partido do prefeito -<br />

não abre mão de nenhuma dessas pastas.<br />

Troca-troca<br />

Por falar <strong>em</strong> Sucom, enquanto não se define<br />

se é o PMDB ou PT qu<strong>em</strong> ficará com o<br />

órgão, o prefeito vai se ajeitando como pode.<br />

Retirou Paulo Meirelles, que é técnico de<br />

carreira, do comando da superintendência<br />

e a entregou à secretária do Planejamento,<br />

Kátia Carmelo, que agora acumula as<br />

duas funções. Kátia é da cota do deputado<br />

Severiano Alves, presidente do PDT baiano,<br />

e desde que foi nomeada secretária estava de<br />

olho na Sucom, que é considerada o “filé” da<br />

administração municipal.<br />

Duro na queda<br />

O ministro Waldir Pires continua quebrando<br />

todas as bancas de apostas. Já se foram seis<br />

meses desse segundo mandato de Lula e ele<br />

continua firme à frente do Ministério da<br />

Defesa, a despeito do apagão aéreo, que o<br />

colocou pela bola sete desde set<strong>em</strong>bro do<br />

ano passado, continuar com força total. Ao<br />

contrário dos aviões, Waldir é duro na queda.<br />

Deixe entrar agosto<br />

Só no dia 2 do mês que v<strong>em</strong> é que o vereador<br />

justiceiro, Adriano Meirelles (PDT), ficará diante<br />

do juiz para explicar por que usava uma arma<br />

s<strong>em</strong> ter porte <strong>em</strong> plena Avenida Sete. A audência,<br />

que ocorreria no dia 3 de julho, foi adiada<br />

porque o promotor do caso estava de férias e o<br />

Ministério Público não indicou substituto.<br />

Aprendiz 1<br />

Os deputados de oposição na Ass<strong>em</strong>bléia<br />

Legislativa ainda não pegaram o jeito de<br />

atuar do outro lado do balcão. Se fosse<br />

com a turma que agora apóia o governo,<br />

acontecimentos como a greve de mais<br />

de 50 dias na Educação e cinco viagens<br />

internacionais do governador <strong>em</strong> menos de<br />

seis meses de mandato teriam dado muito<br />

mais pano pra manga do que ocorreu agora.<br />

Aprendiz 2<br />

Se a atual oposição ainda não pegou o jeito,<br />

o que dizer da bancada do governo? Alguns<br />

parlamentares ainda acham que estão do outro<br />

lado da trincheira e têm provocado constantes<br />

<strong>em</strong>baraços ao líder Valdenor Pereira (PT). Javier<br />

Alfaya (PCdoB) complicou as negociações entre<br />

a APLB e a Secretaria da Educação do Estado ao<br />

apresentar <strong>em</strong>enda ao projeto de aumento aos<br />

servidores encaminhado pelo próprio governador<br />

Jaques Wagner. Já o deputado Capitão Tadeu<br />

(PSB) usa constant<strong>em</strong>ente a tribuna para atacar<br />

a política de segurança do governo, b<strong>em</strong> como a<br />

atuação do secretário Paulo Bezerra.<br />

50 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 5

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