Prefeito restaura censura em Salvador - Revista Metrópole
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Trânsito<br />
Motoristas assassinos<br />
nunca são punidos<br />
Sindicalismo<br />
Sindicatos são<br />
péssimos patrões<br />
Entrevista<br />
José Dirceu fala<br />
até sobre sexo<br />
João<br />
mandou<br />
calar<br />
<strong>Prefeito</strong> <strong>restaura</strong><br />
<strong>censura</strong> <strong>em</strong><br />
<strong>Salvador</strong><br />
2
Índice<br />
A Quinta dos<br />
Infernos 40<br />
Cartas<br />
Nobre Mário e Equipe,<br />
Salvas e hosanas pelo lançamento desta<br />
revista que, suplantando heresias e<br />
hipocrisias, veio preencher a lacuna<br />
existente na sede da informação e de<br />
conhecimentos. Por isso, julgo-me um<br />
privilegiado <strong>em</strong> ter obtido este ex<strong>em</strong>plar<br />
nº 1 que, espero, adicionar a outros<br />
tantos que virão.<br />
Atenciosamente,<br />
Valtair Antonio Menin<br />
À redação da <strong>Metrópole</strong>,<br />
Serei breve, como um gozo pr<strong>em</strong>aturo,<br />
ao traduzir o gosto bom que senti ao ler<br />
a revista <strong>Metrópole</strong> nº1. Há t<strong>em</strong>pos não<br />
fazia uma leitura tão agradável. É bom<br />
saber que existe (enfim!) uma publicação<br />
baiana que ainda não industrializou, no<br />
pior sentido da palavra, a notícia. O que se<br />
vê por aqui é notícia enlatada, que apodrece<br />
antes mesmo da data de validade, reflexo da<br />
fabricação <strong>em</strong> série dos jornalistas que sa<strong>em</strong><br />
das faculdades de <strong>Salvador</strong>. Concordo com<br />
Juliana Cunha. Os leitores baianos estão<br />
morrendo por inanição.<br />
Alex Mendes<br />
Prezado Mário Kertész,<br />
Parabéns pela publicação <strong>Metrópole</strong>. É<br />
muito bom um projeto desassombrado,<br />
inteligente e completamente<br />
descompromissado com o poder público.<br />
Finalmente, num mar de coisas insossas e<br />
imbecis, uma ilha onde somente soprarão<br />
bons e novos ventos.<br />
Luiz Armando Mattos<br />
<strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007<br />
capa<br />
<strong>Prefeito</strong><br />
<strong>censura</strong><br />
<strong>Metrópole</strong> 04<br />
consumo<br />
Pra que Cesta<br />
do Povo? 09<br />
trânsito<br />
Motoristas voam e<br />
Justiça se arrasta 10<br />
justiça<br />
A intolerância mata<br />
e o preconceito<br />
enterra 14<br />
fucs-fucs 17<br />
defesa do consumidor<br />
É tabelado 18<br />
sindicalismo<br />
Pimenta no cu dos<br />
outros é refresco 20<br />
crônica<br />
À equipe da revista <strong>Metrópole</strong>,<br />
Parabéns! A <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> t<strong>em</strong><br />
tudo para ser um sucesso. Uma<br />
equipe de excelentes profissionais<br />
e muita qualidade no projeto<br />
gráfico, na edição, nos textos e nas<br />
ilustrações. A equipe da Assessoria<br />
de Imprensa da Comunicação<br />
Institucional da Petrobras acredita<br />
no sucesso dessa nova e irreverente<br />
publicação.<br />
Amanda Veloso, Cristina Apulto e Paulo Dantão<br />
Equipe <strong>Metrópole</strong>,<br />
Tive a oportunidade de apreciar a<br />
publicação do material editado por<br />
vocês e quero parabenizá-los pela<br />
iniciativa e qualidade do conteúdo,<br />
diagramação e textos. Jornalismo<br />
não é arte, mas a criatividade<br />
funciona quando está acompanhada<br />
de boa interpretação, enfoque<br />
diferenciado, velocidade e do bom<br />
caráter humano de qu<strong>em</strong> o produz,<br />
el<strong>em</strong>entos essenciais para resultados<br />
satisfatórios.<br />
Cláudio Ferreira<br />
Caro Mário,<br />
Quero cumprimentá-lo pela qualidade<br />
gráfica e a variedade dos artigos. É<br />
um bom pano de amostra do que<br />
ter<strong>em</strong>os daqui <strong>em</strong> diante <strong>em</strong> matéria<br />
de leitura mensal. Que genial a idéia<br />
de distribuí-la de graça ao povo.<br />
Abraços e votos de contínuo sucesso.<br />
Germano Tabacof<br />
cultura<br />
Museu Rodin<br />
<strong>em</strong> duas fases 30<br />
roda baiana<br />
Carnateatro 32<br />
saúde<br />
População<br />
paga o pato 34<br />
cidade<br />
Monumento ao<br />
abandono 38<br />
Um monstrengo<br />
na orla 47<br />
À equipe <strong>Metrópole</strong>,<br />
É com satisfação ter tido a oportunidade<br />
de receber o ex<strong>em</strong>plar da revista <strong>Metrópole</strong><br />
edição número 01. Como ouvinte da rádio<br />
e agora leitor deixo aqui registrado que<br />
o sucesso irá mais adiante, pois a linha<br />
editorial da revista está de uma linguag<strong>em</strong><br />
de singular respeito, seguindo a linha da<br />
rádio. Ao mesmo <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po que, com<br />
seriedade, trata dos mais diversos assuntos e<br />
abordagens, brinca e descontrai outros <strong>em</strong><br />
tantos assuntos que possam vir a trilhar.<br />
Parabéns e sucesso.<br />
Itajacy Diniz Garrido<br />
Caro Mário,<br />
Excepcional, fantástica, no ponto. Com<br />
conteúdo, leitura fácil, t<strong>em</strong>as b<strong>em</strong><br />
escolhidos, enfim, algo que eleva o nível<br />
editorial da Bahia e não deixa dever<br />
nada às melhores publicações nacionais.<br />
Parabéns, irmão, a você, e a toda equipe.<br />
Sucesso.<br />
Paulo Roberto Sampaio<br />
E-mails com críticas,<br />
sugestões e elogios dev<strong>em</strong><br />
ser encaminhados para<br />
revistametropole@ksz.com.br.<br />
Por questão de espaço,<br />
eventualmente não<br />
publicar<strong>em</strong>os na íntegra<br />
as mensagens recebidas.<br />
metrópole<br />
entrevista<br />
José Dirceu 22<br />
“Eu tenho orgulho<br />
de ser cassado”<br />
pingue-pongue<br />
Ivete Sangalo 42<br />
artigos<br />
Valeu, João. Valeu!<br />
Antonio Risério<br />
Abaixo os imbecis 08<br />
Tom Tavares<br />
Zé Carioca 12<br />
Renato Pinheiro<br />
Relax<strong>em</strong> e goz<strong>em</strong> 16<br />
Paulo Alves<br />
A procissão do Encantado 28<br />
Dr. Albergalhão<br />
Picardia do macho pós-moderno!<br />
Primeira pincelada. 36<br />
Malu Fontes<br />
Jornali$mo do B<strong>em</strong> - um<br />
aleijão provinciano 44<br />
Juliana Cunha<br />
Pela descriminação<br />
do preconceito 46<br />
Mário Kertész<br />
Mudança para o mesmo lugar 48<br />
O número 1 da revista <strong>Metrópole</strong> foi um sucesso. Os 30 mil ex<strong>em</strong>plares impressos<br />
foram distribuídos <strong>em</strong> menos de uma s<strong>em</strong>ana. Não deu para qu<strong>em</strong> quis. Ao povo de <strong>Salvador</strong>,<br />
leitores de nossa revista e ouvintes da 101.3, os nossos sinceros agradecimentos,<br />
pois sab<strong>em</strong>os que nada disso seria possível s<strong>em</strong> a sua participação. Vocês são a única razão<br />
de nossa existência.<br />
Mas a <strong>Metrópole</strong> dedica um agradecimento especial a um ilustre personag<strong>em</strong>. Um<br />
cidadão que, abnegado que é e ciente da grande procura pela nossa edição número 1,<br />
gentilmente cedeu o seu ex<strong>em</strong>plar, que lhe foi presenteado pela nossa repórter Gabriela<br />
de Paula, ao seu advogado.<br />
É, estamos falando dele mesmo, do prefeito de nossa cidade, João Henrique Barradas<br />
Carneiro, que travestido <strong>em</strong> tiranete de província determinou a destruição dos outdoors que<br />
faziam a divulgação de nossa revista.<br />
A supressão das placas da revista <strong>Metrópole</strong>, que virou notícia nacional, só aumentou<br />
a curiosidade e a procura pela nossa publicação, contribuindo para que esta se esgotasse<br />
<strong>em</strong> t<strong>em</strong>po recorde e comprovando que, como administrador, o nosso alcaide é um grande<br />
marqueteiro. Arriscamos a dizer que talvez este tenha sido um dos atos mais notáveis<br />
do nosso gestor municipal até agora. Feito comparável apenas ao seu desfile de jegue na<br />
Mudança do Garcia, no Carnaval deste ano.<br />
A estratégia de João Henrique, porém, não se limitou à retirada dos outdoors. Mostrando<br />
que é capaz de se superar, mesmo quando se supõe ter atingido o ápice de sua<br />
atuação propagandística, nosso prefeito inova e, com o beneplácito da Justiça, consegue<br />
a proibição da citação ou alusão ao seu nome por qualquer meio de comunicação do<br />
Grupo <strong>Metrópole</strong> (rádio, revista, site, blog, etc.).<br />
O resultado dessa <strong>censura</strong> é que, b<strong>em</strong> antes desta edição número 2 ficar pronta, nosso<br />
site foi abarrotado com pedidos de leitores que quer<strong>em</strong> garantir antecipadamente o recebimento<br />
da nossa revista. Como se vê, mais uma grande jogada de marketing do nosso<br />
Hugo Chávez made in Feira de Santana.<br />
Graças ao sucesso editorial <strong>em</strong> que a perseguição do prefeito transformou a revista <strong>Metrópole</strong><br />
hoje, faz<strong>em</strong>os coro com o bordão oficial: “Valeu, João. Valeu.” •<br />
Expediente<br />
<strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong><br />
Uma publicação da Editora KSZ.<br />
Publisher Mário Kertész<br />
Diretor Executivo Chico Kertész<br />
Conselho Editorial Humberto Sampaio,<br />
André Ferraro e Marcelo Kertész.<br />
Redator Chefe Humberto Sampaio (RZ<br />
Comunicação)<br />
Redação André Teixeira, Camila Cintra,<br />
Gabriela de Paula, Marcos Antonio Cruz e<br />
Victor Uchôa<br />
Colaboradores Antonio Risério, Roberto<br />
Albergaria, Juliana Cunha, Malu Fontes,<br />
Renato Pinheiro, Tom Tavares, Paulo<br />
Alves, Gilda Fucs, Álvaro Figueiredo,<br />
Jéssica Senra, Welinton Aragão e ouvintes<br />
da <strong>Metrópole</strong> FM<br />
Projeto Gráfico Marcelo Kertész<br />
Diagramação Dimitri Cerqueira<br />
Ilustrações Ferré, Ananda Nahu, Izolag,<br />
Daniel Garcia e Flávio Luiz<br />
Produção Gráfica Evandro Brandão<br />
Fotos Valter Pontes e divulgação<br />
Revisão Marta Escaleira<br />
<strong>Metrópole</strong> - Rua Conde Pereira<br />
Carneiro, 226, Pernambués, CEP<br />
41.100-010, <strong>Salvador</strong> - BA.<br />
Tel.: (71) 3460-8500<br />
www.revistametropole.com.br<br />
E-mail: revistametropole@ksz.com.br<br />
Os artigos e matérias assinadas não<br />
expressão, necessariamente, a opinião do<br />
Grupo <strong>Metrópole</strong>.
Censura<br />
Tiro no pé<br />
<strong>Prefeito</strong> tenta calar Grupo <strong>Metrópole</strong>, mas só consegue piorar a própria imag<strong>em</strong><br />
Da redação<br />
Raiva, frustração, intolerância,<br />
autoritarismo. Qualquer<br />
dos substantivos acima<br />
poderia muito b<strong>em</strong> explicar<br />
o motivo que levou o Grupo<br />
<strong>Metrópole</strong> (rádio, revista<br />
e internet) a sofrer o mais<br />
grave atentado à liberdade de<br />
imprensa que se t<strong>em</strong> notícia<br />
no Brasil desde o fim da ditadura<br />
militar, há mais de 20<br />
anos. Foram atos sucessivos<br />
de <strong>censura</strong> que incluíram da<br />
destruição de placas publicitárias<br />
à proibição de citação<br />
ou qualquer alusão ao nome<br />
do prefeito João Henrique de<br />
Barradas Carneiro (PMDB).<br />
O absurdo não prosperou.<br />
O des<strong>em</strong>bargador José Olegário<br />
Monção Caldas, acatando<br />
um agravo de instrumento<br />
apresentado pelo Grupo <strong>Metrópole</strong>,<br />
acabou com a <strong>censura</strong><br />
imposta dias antes pela juíza<br />
da 2ª Vara Cível da capital,<br />
Sílvia Lúcia Bonifácio. Findado<br />
o arbítrio, ficou a triste<br />
m<strong>em</strong>ória de um prefeito que<br />
não consegue conviver com a<br />
crítica e apela à mordaça para<br />
calar a imprensa.<br />
No último dia 12 junho,<br />
Dia dos Namorados, o prefeito<br />
João Henrique, através<br />
de seus sequazes de gabinete,<br />
fez uma declaração de amor<br />
às avessas a <strong>Salvador</strong>, determinando<br />
a destruição dos outdoors<br />
alugados para divulgar<br />
a edição número 1 da revista<br />
<strong>Metrópole</strong>, que começaria a<br />
Valter Pontes<br />
A ord<strong>em</strong> do prefeito de retirar os outdoors da <strong>Metrópole</strong> só fez aumentar a procura pela revista, que teve os 30 mil ex<strong>em</strong>plares esgotados <strong>em</strong> apenas cinco dias<br />
ser gratuitamente distribuída<br />
para a população da capital<br />
no dia seguinte.<br />
Segundo José Linhares,<br />
proprietário da <strong>em</strong>presa responsável<br />
pelos outdoors, um<br />
telefon<strong>em</strong>a vindo do gabine-<br />
te do prefeito determinou a<br />
r<strong>em</strong>oção imediata das placas<br />
com a publicidade da revista.<br />
O motivo alegado era<br />
que a mesma feria o código<br />
de publicidade, pois ofendia<br />
a imag<strong>em</strong> impoluta de João<br />
Henrique. O cartaz trazia <strong>em</strong><br />
seu canto esquerdo a foto da<br />
capa da edição número 1 da<br />
<strong>Metrópole</strong>, que estampa uma<br />
ilustração b<strong>em</strong>-humorada e a<br />
manchete da matéria principal<br />
da publicação: “A cidade<br />
no buraco – <strong>Salvador</strong> afunda<br />
<strong>em</strong> dívidas, lixo e bagunça”.<br />
T<strong>em</strong>eroso de represálias<br />
por parte do poder público<br />
municipal, que concede as licenças<br />
para exploração de placas<br />
publicitárias, o proprietário<br />
da A. Linhares Outdoors<br />
n<strong>em</strong> esperou pela notificação<br />
oficial, que segundo o telefon<strong>em</strong>a<br />
viria da Sucom - mas<br />
que acabou nunca aparecendo<br />
- determinando aos seus<br />
funcionários que iniciass<strong>em</strong> a<br />
destruição dos cartazes com a<br />
publicidade da <strong>Metrópole</strong>.<br />
O ato de <strong>censura</strong> do outdoor<br />
da <strong>Metrópole</strong> foi um<br />
verdadeiro tiro no próprio<br />
pé do prefeito. A notícia da<br />
r<strong>em</strong>oção das placas ganhou<br />
destaque na imprensa local e<br />
nacional e serviu como publicidade<br />
gratuita para a publicação,<br />
cujos 30 mil ex<strong>em</strong>plares<br />
foram esgotados <strong>em</strong> apenas<br />
cinco dias de distribuição.<br />
Batido <strong>em</strong> sua primeira<br />
investida contra a revista, o<br />
prefeito resolveu adotar outra<br />
estratégia para tentar calar<br />
todos os veículos do Grupo<br />
<strong>Metrópole</strong>. No mesmo dia <strong>em</strong><br />
que os últimos ex<strong>em</strong>plares da<br />
primeira edição da <strong>Metrópole</strong><br />
esgotaram, o prefeito entrou<br />
com uma ação ordinária solicitando<br />
não apenas a retirada<br />
do outdoor mas a proibição<br />
de veicular, divulgar, publicar,<br />
noticiar, transmitir na<br />
programação da rádio quaisquer<br />
alusões e referências,<br />
explícitas ou implícitas, depreciativas<br />
ao nome dele. O<br />
pedido foi acatado pela titular<br />
da 2ª Vara Cível de <strong>Salvador</strong><br />
dois dias depois.<br />
Na petição, o prefeito,<br />
através de seu advogado,<br />
Alexandro de Souza, exigia<br />
também o recolhimento, num<br />
prazo de 24 horas, de todos os<br />
ex<strong>em</strong>plares da primeira edição<br />
da <strong>Metrópole</strong> - sob pena de<br />
multa de R$200 mil -, o que<br />
foi impossível, pois a revista<br />
já estava esgotada.<br />
4 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 5<br />
notas da <strong>Metrópole</strong><br />
Racha 1<br />
Parceiros inseparáveis por<br />
muitos anos no combate ao<br />
carlismo, PT e PCdoB se<br />
digladiam <strong>em</strong> busca de espaço<br />
no governo Wagner. Os<br />
comunistas foram preteridos<br />
para a Secretaria da Cultura e<br />
não receberam o apoio esperado<br />
para fazer de Edson Pimenta<br />
presidente da Ass<strong>em</strong>bléia<br />
Legislativa. A falta de espaço<br />
que o PCdoB teve na gestão<br />
Wagner foi um dos tantos<br />
fatores que levaram ao impasse<br />
as negociações entre o governo<br />
e APLB este ano. O resultado<br />
foi a segunda mais longa greve<br />
já realizada pelos professores<br />
estaduais.<br />
Racha 2<br />
Mas não é só na base do governo<br />
que a coisa não vai b<strong>em</strong> entre<br />
aliados. Na oposição a coisa<br />
também não anda nada boa. O<br />
lançamento da candidatura do<br />
deputado José Carlos Aleluia pode<br />
levar a bancada municipal do<br />
DEM ao esvaziamento completo.<br />
Os cinco vereadores do partido<br />
se recusam a aceitar o nome<br />
do deputado como candidato.<br />
Entend<strong>em</strong> que Aleluia não t<strong>em</strong> a<br />
menor ligação com a cidade n<strong>em</strong><br />
qualquer relacionamento com o<br />
diretório do próprio partido <strong>em</strong><br />
<strong>Salvador</strong>. “Essa candidatura seria<br />
uma imposição inaceitável da<br />
Executiva estadual”, garante um<br />
vereador d<strong>em</strong>ocrata.<br />
É Nossa<br />
Enquanto os aliados políticos<br />
do prefeito João Henrique se<br />
calaram diante da tentativa<br />
do alcaide de <strong>censura</strong>r a<br />
<strong>Metrópole</strong>, a primeira-dama<br />
do Estado, Fátima Mendonça,<br />
marcou posição. Ao encontrar<br />
nosso Diretor Executivo no<br />
<strong>restaura</strong>nte Piola, onde jantava<br />
com o marido, ela exclamou <strong>em</strong><br />
alto e bom tom: “Esse negócio<br />
de <strong>censura</strong> não está com<br />
nada. Nessa história eu sou<br />
<strong>Metrópole</strong>”. Valeu, primeiradama!<br />
Segundo a A. Linhares,<br />
<strong>em</strong>presa responsável pelos<br />
outdoors, a ord<strong>em</strong> para<br />
<strong>censura</strong>r as placas da edição<br />
número 1 da revista <strong>Metrópole</strong><br />
partiu do gabinete do prefeito<br />
Daniel alVes<br />
Funcionários da A. Linhares flagrados enquanto cobriam placa da <strong>Metrópole</strong> na Avenida Tancredo Neves<br />
Valter Pontes<br />
Besta<br />
Entre os motivos elencados<br />
por João Henrique para a<br />
<strong>censura</strong> do Grupo <strong>Metrópole</strong><br />
estavam a alegação de que a<br />
revista trazia “matérias ofensivas”<br />
ao prefeito, uma mentira<br />
evidente para todos os<br />
que tiveram acesso à publicação.<br />
Além disso, a petição<br />
afirmava que a imag<strong>em</strong> da<br />
capa representava o prefeito<br />
com o “símbolo da Besta” es-
tampado na testa. Um exercício<br />
de pura imaginação, pois<br />
apenas um código de barras<br />
ilustrava a imag<strong>em</strong> da capa,<br />
b<strong>em</strong> como uma mancha vermelha<br />
que foi identificada<br />
como um nariz de palhaço.<br />
Para muitos ouvintes que ligaram<br />
para a 101.3 FM para<br />
protestar contra o ato de cen-<br />
sura, as alegações do prefeito<br />
soaram como uma confissão<br />
de culpa. “Nariz de palhaço,<br />
símbolo da Besta na testa?!<br />
Pra mim o prefeito vestiu a<br />
carapuça”, resumiu a ouvinte<br />
Bernadete Novaes.<br />
Outra alucinação do prefeito<br />
com relação à capa da<br />
edição número 1 foi enxergar<br />
um punhal nas mãos do personag<strong>em</strong><br />
da ilustração. “Não há<br />
punhal algum. E é novidade<br />
para mim que o código de barras<br />
simbolize a Besta do Apocalipse”,<br />
afirmou o jornalista<br />
Ricardo Noblat, ao comentar<br />
a <strong>censura</strong> <strong>em</strong> seu blog, um dos<br />
mais lidos do País.<br />
Se a cassação dos outdoors<br />
da revista já havia sido<br />
noticiada nacionalmente, a<br />
<strong>censura</strong> imposta ao Grupo<br />
<strong>Metrópole</strong> virou notícia internacional.<br />
O site mundial<br />
da organização Reporteros<br />
Sin Fronteras, que denuncia<br />
atentados à liberdade de<br />
imprensa <strong>em</strong> todo o mundo,<br />
deu destaque à tentativa do<br />
prefeito de calar a <strong>Metrópole</strong>.<br />
O assunto também foi<br />
notícia na Folha de S.Paulo,<br />
que dedicou duas matérias<br />
sobre o assunto. No blog dos<br />
jornalistas Cláudio Humberto<br />
e Chico Bruno, no site<br />
da Veja, todos os jornais lo-<br />
cais e os noticiários da TV<br />
Bahia, a de maior audiência<br />
no Estado, também destacaram<br />
o assunto.<br />
A decisão da juíza de acatar<br />
a <strong>censura</strong> solicitada por João<br />
Henrique ao Grupo <strong>Metrópole</strong><br />
provocou reações e manifestações<br />
de apoio à rádio e<br />
à revista de todo o Pais. Políticos,<br />
jornalistas, <strong>em</strong>presários<br />
e representantes das mais<br />
diversas entidades, como Ord<strong>em</strong><br />
dos Advogados do Brasil<br />
(OAB) e Federação Nacional<br />
dos Jornais (Fenaj), ligaram ou<br />
escreveram para a <strong>Metrópole</strong>,<br />
d<strong>em</strong>onstrando o descontentamento<br />
com a decisão judicial.<br />
O presidente da seção baiana<br />
da OAB, Saul Quadros, afirmou<br />
que a <strong>censura</strong> imposta<br />
pela juíza era “um ex<strong>em</strong>plo<br />
que não pode ser seguido pela<br />
magistratura brasileira, por se<br />
tratar de um ato próprio dos<br />
regimes ditatoriais”.<br />
O jornalista Samuel Ce-<br />
lestino, presidente da Associação<br />
Bahiana de Imprensa<br />
(ABI), chegou a afirmar <strong>em</strong><br />
sua coluna ao comentar a <strong>censura</strong>:<br />
“A justiça baiana (com<br />
‘j’ minúsculo mesmo) extrapola.<br />
Para pior”. O blogueiro<br />
David Zilbersztajn, do portal<br />
Globo.com, foi mais além <strong>em</strong><br />
sua crítica à juíza Silvia Lúcia<br />
Bonifácio. “Na hora que um<br />
m<strong>em</strong>bro do Poder Judiciário<br />
começa a se manifestar sobre<br />
o que é e o que não é necessário<br />
para informar ou atender<br />
ao interesse público, estamos<br />
fritos”, afirmou. E completou:<br />
“Estou torcendo para que, na<br />
apelação, esta juíza tome um<br />
pito e um puxão de orelha de<br />
um des<strong>em</strong>bargador”.<br />
Os anseios de Zilbersztajn<br />
– e de todos os que prezam<br />
pela liberdade de expressão –<br />
foram atendidos. Na tarde do<br />
dia 25 de junho, o des<strong>em</strong>bargador<br />
José Olegário Monção<br />
Caldas acatou o agravo de instrumento<br />
impetrado contra a<br />
liminar da juíza da 2ª Vara<br />
Cível da capital e libertou da<br />
<strong>censura</strong> os veículos de comunicação<br />
do Grupo <strong>Metrópole</strong>.<br />
Para basear sua decisão, o des<strong>em</strong>bargador<br />
apelou para a Lei<br />
de Imprensa e para a Constituição<br />
Federal, que disciplina<br />
a questão da garantia ao direito<br />
à liberdade. “O artigo 220<br />
expressamente determina que<br />
a manifestação do pensamento,<br />
a criação, a expressão e a<br />
informação, sob qualquer for-<br />
ma, processo ou veículo não<br />
sofreram qualquer restrição”,<br />
explica José Olegário.<br />
O des<strong>em</strong>bargador destacou<br />
ainda que a <strong>Metrópole</strong>, <strong>em</strong><br />
todos os momentos <strong>em</strong> que<br />
se referiu ao prefeito, “apenas<br />
transmitiu notícia e crítica,<br />
que, gize-se, possui conotação<br />
<strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente de interesse<br />
público”. Acrescentando<br />
que, <strong>em</strong> nenhum momento,<br />
viu ter ocorrido individualização<br />
da pessoa física que<br />
exerce o cargo criticado - no<br />
caso, o prefeito. José Olegário<br />
ainda citou Ruy Barbosa para<br />
justificar sua decisão: “Queiram<br />
ou não queiram, os que<br />
se consagram à vida pública,<br />
até a sua vida particular deram<br />
paredes de vidro”. •<br />
6 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 7<br />
notas da <strong>Metrópole</strong><br />
Comigo não<br />
Quadros do DEM <strong>em</strong><br />
<strong>Salvador</strong> avaliam que o<br />
partido poderia apoiar a<br />
candidatura do tucano<br />
Antônio Imbassahy à<br />
sucessão municipal. Poderia,<br />
se não fosse a aversão que<br />
o deputado federal Jutahy<br />
Magalhães t<strong>em</strong> a alianças com<br />
o carlismo. Esse asco pode<br />
custar ao PSDB o Palácio<br />
Tomé de Souza.<br />
Vice<br />
Os 57 dias de paralisação dos<br />
professores da rede estadual neste<br />
primeiro ano do governo Wagner<br />
fez desta a segunda mais longa<br />
greve na história da categoria. O<br />
movimento deste ano bateu os<br />
50 dias que a categoria paralisou<br />
as atividades no primeiro ano<br />
do governo Waldir Pires e ficou<br />
a apenas três dias do recorde<br />
de 60 dias da greve ocorrida no<br />
governo João Durval.<br />
Nos pontos de ônibus e nas<br />
sinaleiras a procura pela<br />
revista foi intensa<br />
Ruim e ordinário<br />
“Mário, você aproveitou a<br />
publicidade gratuita que João<br />
Henrique fez pra fazer barulho<br />
<strong>em</strong> torno de um produtinho<br />
ruim e ordinário. Muito fraco<br />
esse negócio!” Frase de um<br />
ouvinte da <strong>Metrópole</strong>, que expôs<br />
no ar sua opinião sobre a revista.<br />
Valter Pontes<br />
Valter Pontes
Ant o n i o RiséRio<br />
Abaixo os imbecis<br />
Passamos muito t<strong>em</strong>po lutando contra a ditadura. De uma<br />
parte, perd<strong>em</strong>os t<strong>em</strong>po. De outra, ganhamos. Perd<strong>em</strong>os, é claro,<br />
porque é desperdício o que se joga fora, <strong>em</strong> criatividade e energia,<br />
numa briga contra fascistas de província, que, <strong>em</strong> matéria mental,<br />
são incapazes de distinguir entre uma roseira e um extintor de incêndio.<br />
E ganhamos – porque, afinal, as bananas ficaram amargas<br />
e os macacos acabaram descendo dos galhos, deixando a árvore<br />
crescer por si mesma, mais leve, mais bonita e mais livre.<br />
Nesse período, um dos nossos grandes probl<strong>em</strong>as foi a <strong>censura</strong>.<br />
B<strong>em</strong>, toda <strong>censura</strong> é ridícula. Mas a <strong>censura</strong> brasileira, na passag<strong>em</strong><br />
entre as décadas de 1960 e 1970, conseguiu ser mais ridícula do<br />
que o ridículo. Aqui, na Bahia, até o então governador Luiz Viana<br />
Filho teve probl<strong>em</strong>a por seu governo ter apoiado a edição da obra<br />
poética de Gregório de Mattos. E Caetano Veloso se viu obrigado a<br />
enviar um mapa da cidade, pros então poderosos babacas de Brasília,<br />
mostrando que havia uma Rua Chile <strong>em</strong> <strong>Salvador</strong> – e que seu verso<br />
carnavalesco “a Rua Chile s<strong>em</strong>pre chega pra qu<strong>em</strong> quer” não era<br />
uma referência celebratória ao Chile socialista de <strong>Salvador</strong> Allende.<br />
Na época, aliás, Caetano me dizia: “Eles podiam me mandar uma<br />
lista dizendo as palavras que não posso usar; com o restante, eu ia<br />
me divertir à vontade”. Chico Buarque, por sinal, passou a enviar à<br />
<strong>censura</strong> letras que assinava com pseudônimo: Julinho da Adelaide.<br />
Se fosse com o nome dele, não passava.<br />
Imagin<strong>em</strong> a cara de um censor. O sujeito de cara fechada,<br />
examinando sílabas, babando <strong>em</strong> busca de ofensas ao regime, à<br />
família, à moral e aos costumes. É coisa de qu<strong>em</strong> não t<strong>em</strong> o que<br />
fazer. Os imbecis proibiram peças escritas na Grécia clássica, <strong>em</strong><br />
Atenas, como se aqueles autores gregos estivess<strong>em</strong> preocupados<br />
com a ditadura brasileira. Como se Ésquilo não fosse com a cara de<br />
Costa e Silva ou de Médici. E invadiram armados o Teatro Castro<br />
Alves por conta da encenação de uma peça (“As Senhoritas”, se<br />
não me falha a m<strong>em</strong>ória) dirigida por Álvaro Guimarães.<br />
Mas, enfim, a ditadura fez água, o navio afundou, ficamos<br />
livres daquela merda. E da <strong>censura</strong>. Até que, um belo dia, nos<br />
aparece o atual prefeito de <strong>Salvador</strong> e parte pra tentar <strong>censura</strong>r<br />
esta revista. E o que é impressionante: ganha uma coisa qualquer<br />
na Justiça, proibindo a gente de citar o nome dele! Alguém acre-<br />
dita nisso? Pode acreditar, aconteceu. O sujeito, <strong>em</strong> vez de cuidar<br />
da cidade, que está aí naufragando <strong>em</strong> dívidas e montes de lixo,<br />
queria tapar a boca dos outros (a nossa, no caso), já que não t<strong>em</strong><br />
mais como tapar o sol com a peneira.<br />
O pior é que, n<strong>em</strong> assim, conseguiu tirar uma dúvida minha.<br />
Me pergunto, há t<strong>em</strong>pos, se t<strong>em</strong>os ou não t<strong>em</strong>os prefeito nesta cidade.<br />
Há qu<strong>em</strong> me diga que sim – mas se apoiando no formalismo<br />
jurídico-político: alguém foi eleito para o cargo. E a imbecilidade<br />
eleitoral decorreu da conjuntura. Os soteropolitanos não votaram<br />
com a cabeça, mas na base da raiva e do ressentimento. Queriam<br />
nocautear Antonio Carlos. Mas, pra nocautear Antonio Carlos,<br />
era preciso foder a cidade? Não, acho que não t<strong>em</strong>os prefeito.<br />
Até prova <strong>em</strong> contrário, o que t<strong>em</strong>os, no máximo, é um projeto<br />
chinfrim de censor.<br />
Mas não me surpreendo. O que t<strong>em</strong>os hoje, ali, no prédio da<br />
prefeitura, é um produto da pobreza política local (vou atender<br />
ao desejo do distinto: o nome dele não vai aparecer neste texto).<br />
O filho de um ex-governador direitista, colocado no posto por<br />
Antonio Carlos. Qu<strong>em</strong> conhece essa história, sabe. O atual prefeito,<br />
imprefeito, desprefeito ou antiprefeito de <strong>Salvador</strong> é cria<br />
de curral manjado. Nasceu num rodeio de rotina. No que havia<br />
de mais reacionário dentro do próprio “carlismo”. B<strong>em</strong> vistas as<br />
coisas, é um dos novilhos do carlismo touro-sertanejo.<br />
E deve detestar esta cidade. Afinal, vive maquinando: qual<br />
a forma mais rápida e eficaz de destruir <strong>Salvador</strong>? Acumulando<br />
dívidas? Deixando que o lixo tome conta de tudo? Fazendo de<br />
conta que a Estação da Lapa não existe? Ampliando o leque de<br />
aliados? Abandonando a saúde pública e as escolas municipais?<br />
Incr<strong>em</strong>entando o caos administrativo?<br />
Mas uma coisa ficou no ar. Fácil, mas difícil de entender. Os<br />
bravos companheiros “de esquerda”, que tanto esbravejaram contra<br />
a <strong>censura</strong> t<strong>em</strong>pos atrás, desta vez se fingiram de mortos. Ficaram<br />
quietos. Caladinhos. Por quê? Estão tirando suas lasquinhas no<br />
poder municipal? B<strong>em</strong>, só espero que não tenham a cara de pau<br />
de tentar me provar que o desprefeito é “progressista”. Quanto<br />
aos moradores da cidade, que pens<strong>em</strong> um pouco. Elegeram esse<br />
cara uma vez. Duas, vai ser d<strong>em</strong>ais. •<br />
Consumo<br />
Pra que Cesta do Povo?<br />
Com preços até mais caros que outros supermercados, Ebal perde razão de existir<br />
Camila Cintra<br />
A Ebal, administradora das lojas da<br />
Cesta do Povo, é um probl<strong>em</strong>a para o governo<br />
do Estado. Isto é um fato público<br />
e notório. Se o incauto leitor discorda, os<br />
números abaixo mostram claramente por<br />
que se permite fazer tal afirmação.<br />
As 261 lojas da Cesta do Povo que já<br />
foram reabertas custaram aos cofres do governo<br />
do Estado, <strong>em</strong> média, R$7.889.272<br />
por mês. Além disso, foram investidos<br />
R$1.447.307 para a reabertura destas<br />
lojas. Somando os números, apenas nos<br />
seis primeiros meses de 2007 o governo<br />
investiu R$48.732.939,00 na Cesta do<br />
Povo. Quando as 425 lojas estiver<strong>em</strong> funcionando<br />
normalmente - o que é normal<br />
para eles pouco importa -, o custo mensal<br />
vai subir para R$12, 9 milhões. Em um<br />
ano, a brincadeirinha vai subtrair mais de<br />
R$154 milhões dos cofres estaduais ou, se<br />
preferir, do seu bolso.<br />
A missão da Ebal, segundo o site da<br />
<strong>em</strong>presa, é “garantir à população de menor<br />
poder aquisitivo do Estado da Bahia acesso<br />
a alimentos, produtos de higiene e limpeza<br />
de qualidade a preços baixos e serviços de<br />
interesse social”. Mas, uma pesquisa feita<br />
pela reportag<strong>em</strong> da <strong>Metrópole</strong> já comprovou<br />
que outras redes de supermercados,<br />
que vend<strong>em</strong> no atacado e também no varejo,<br />
consegu<strong>em</strong> comercializar os mesmos<br />
produtos com preços muito mais <strong>em</strong> conta.<br />
Ou seja, o objetivo a que se propõe não é<br />
Nas lojas da Ebal, até que os consumidores encontram produtos variados, mas preço baixo, que é bom, está difícil<br />
alcançado. Quanto aos serviços de interesse<br />
social, quais seriam? Em bom baianês,<br />
qu<strong>em</strong> souber morre!<br />
Além de mostrar-se mat<strong>em</strong>aticamente<br />
desnecessária, a Ebal possui hoje uma dívida<br />
de mais de R$ 319.834.420, segundo<br />
a assessoria da própria <strong>em</strong>presa. A dívida<br />
é uma herança do governo passado, mas<br />
a CPI instalada na Ass<strong>em</strong>bléia Legislativa<br />
para investigar o que levou a Ebal ao buraco<br />
mostra que o rombo continua aumentando<br />
na atual administração.<br />
Ao depor na CPI, o então diretor Ad-<br />
ministrativo e Financeiro da Ebal, Eduardo<br />
Carneiro (d<strong>em</strong>itido dois dias depois de depor<br />
na CPI), revelou que, neste ano, a Cesta do<br />
Povo t<strong>em</strong> dado um prejuízo mensal de R$5<br />
milhões. E isso com menos da metade das<br />
lojas funcionando.<br />
Outros depoimentos e informações levantada<br />
pela CPI mostram evidências da<br />
existência de superfaturamento e contratação<br />
de prestação de serviços s<strong>em</strong> licitação.<br />
O probl<strong>em</strong>a, segundo Carneiro, é que muitos<br />
dos contratos irregulares ainda estão<br />
vigentes e alguns até foram renovados. •<br />
8 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 9<br />
notas da <strong>Metrópole</strong><br />
Transparência<br />
Por falta de transparência<br />
ninguém pode criticar a<br />
presidente da Bahiatursa, Emília<br />
Silva. Recent<strong>em</strong>ente, numa festa<br />
que a TAM realizou <strong>em</strong> Buenos<br />
Aires para promover o vôo<br />
direto entre <strong>Salvador</strong> e a capital<br />
argentina, ela causou espanto<br />
ao desfilar trajando uma blusa<br />
preta transparente sob a qual se<br />
revelava um sutiã tamanho 54.<br />
Verão<br />
Qu<strong>em</strong> acessa o site da <strong>em</strong>presa<br />
oficial de turismo da Bahia -<br />
www.bahiatursa.ba.gov.br - pode<br />
ser levado a crer que o trabalho<br />
da entidade acabou com o verão.<br />
A última notícia divulgada no<br />
dito site data de 31 de janeiro<br />
de 2007.<br />
Valter Pontes
Trânsito<br />
Motoristas voam e<br />
Justiça se arrasta<br />
22 de julho de 2002.<br />
Um policial dirigindo<br />
<strong>em</strong> alta velocidade<br />
perde o controle<br />
do carro e atropela<br />
3 pessoas – duas<br />
morr<strong>em</strong> degoladas<br />
e a terceira sofre<br />
ferimentos graves.<br />
O motorista foge s<strong>em</strong><br />
socorrer as vítimas<br />
Jéssica Senra<br />
O acidente acima ocorreu <strong>em</strong> <strong>Salvador</strong> e,<br />
assim como outros dois que serão abordados<br />
nesta matéria, está sendo tratado como crime<br />
de trânsito. A s<strong>em</strong>elhança entre esses crimes é<br />
que, além de matar e aleijar inocentes, nenhum<br />
deles, até agora, encontrou na Justiça uma resposta<br />
às vítimas, à suas famílias e à própria<br />
sociedade. O mais recente há pouco mais de<br />
um ano, e o mais antigo há mais de dez, são<br />
ex<strong>em</strong>plos de tantos casos que se arrastam no<br />
judiciário por conta do excesso de processos,<br />
pela falta de juízes substitutos e pelas brechas<br />
da lei que permit<strong>em</strong> aos criminosos protelar<strong>em</strong><br />
seus julgamentos. A pilha de processos não<br />
concluídos traz à sociedade a sensação de impunidade<br />
que outros episódios reforçam.<br />
Um claro ex<strong>em</strong>plo da deficiência da Justiça<br />
é o processo que envolve o agente policial João<br />
Carlos Paranhos Cerqueira. Em julho de 2002,<br />
ele perdeu o controle do carro, que dirigia <strong>em</strong><br />
alta velocidade, numa curva da Avenida Luís<br />
Eduardo Magalhães. O automóvel, um viatura<br />
da Polícia Civil, subiu no passeio e atingiu Cr<strong>em</strong>ilda<br />
Pereira de Farias, de 52 anos, Lindaura<br />
Dias da Silva, de 61, que morreram degoladas<br />
na hora, além de Márcio José da Silva Barbosa,<br />
de 24 anos, que ficou grav<strong>em</strong>ente ferido.<br />
O policial, descumprindo a lei, fugiu s<strong>em</strong><br />
prestar socorro às vítimas. Em depoimento,<br />
João Cerqueira afirmou que não sabia da existência<br />
de vítimas e que estava dirigindo na<br />
velocidade permitida. No entanto, o laudo<br />
pericial da própria Polícia Civil atesta que o<br />
acidente foi causado pela velocidade elevada,<br />
incompatível com a segurança do tráfego.<br />
Cinco anos depois, o processo, que está na<br />
2ª Vara de Acidentes de Veículos, ainda está na<br />
fase de instrução. Das onze audiências marcadas,<br />
apenas duas foram realizadas, a primeira <strong>em</strong><br />
10/10/2002 e a última delas <strong>em</strong> 22/08/2005.<br />
agência a tarDe/Walter carValho<br />
Nelas, apenas o réu e algumas test<strong>em</strong>unhas foram<br />
ouvidos. Os motivos para os cancelamentos<br />
são os mais variados e absurdos: uma vez o<br />
promotor estava de férias, <strong>em</strong> outra o juiz foi<br />
deslocado para atuar no Tribunal Regional Eleitoral<br />
(TRE), numa terceira o promotor estava<br />
de licença-médica e teve até um cancelamento<br />
porque o juiz teve que ir resolver assuntos no<br />
Tribunal de Justiça da Bahia.<br />
A próxima audiência está marcada para<br />
23 de outubro deste ano. Se for realizada,<br />
deverão ser ouvidas a vítima que sobreviveu e<br />
outras test<strong>em</strong>unhas de acusação. Depois serão<br />
marcadas as sessões para as test<strong>em</strong>unhas de<br />
defesa depor<strong>em</strong>. Só então é que virá a fase das<br />
últimas observações por parte da acusação e<br />
da defesa até que o veredicto possa ser dado<br />
e, se não houver recurso, executado.<br />
Outro caso que parece seguir pelo mesmo<br />
lento caminho é o do ônibus da <strong>em</strong>presa Modelo,<br />
que levava cerca de 50 passageiros quando<br />
tombou sobre o canteiro central da Avenida<br />
Luís Eduardo Magalhães, <strong>em</strong> fevereiro do ano<br />
passado. Segundo test<strong>em</strong>unhas, o motorista<br />
Edevaldo Pinto dos Santos também dirigia <strong>em</strong><br />
alta velocidade, além de conversar com um<br />
rapaz de identidade ignorada ao mesmo t<strong>em</strong>po<br />
<strong>em</strong> que falava ao telefone celular. Ao fazer uma<br />
curva, o motorista perdeu o controle e o veículo<br />
virou sobre o canteiro central. O rodoviário<br />
fugiu com medo de ser linchado.<br />
A passageira Maria das Graças Nascimento,<br />
de 54 anos, foi socorrida, mas morreu a caminho<br />
do Hospital Geral do Estado. Outras 26 pessoas<br />
ficaram feridas, entre elas, Daniele Costa Neves,<br />
de 18 anos, e Priscila dos Santos Oliveira, de 14,<br />
que tiveram os braços esquerdos decepados.<br />
O inquérito policial foi concluído e enviado,<br />
<strong>em</strong> maio do ano passado, ao Ministério<br />
Público, que denunciou Edevaldo Santos por<br />
homicídio culposo. A primeira audiência, se<br />
acontecer, será no dia 8 de nov<strong>em</strong>bro, ou seja,<br />
um ano e nove meses depois do acidente.<br />
Mas um veredicto na Vara Crime n<strong>em</strong><br />
s<strong>em</strong>pre significa o fim do caminho n<strong>em</strong> a punição<br />
dos culpados. Há onze anos, as famílias<br />
de Alexandre Meirelles Nascimento, Gustavo<br />
André Ribeiro do Carmo e Laerte Pereira de<br />
Oliveira esperam uma resposta da Justiça.<br />
Alexandre Nascimento e Gustavo do Carmo<br />
morreram e Laerte Oliveira ficou grav<strong>em</strong>ente<br />
ferido, carregando seqüelas até hoje do<br />
acidente que envolveu o carro <strong>em</strong> que estavam,<br />
na noite de 4 de julho de 1996, e uma<br />
BMW pilotada pelo <strong>em</strong>presário Luciano Alves<br />
Rocha, que dirigia <strong>em</strong> alta velocidade e ainda<br />
ultrapassou o sinal vermelho. O <strong>em</strong>presário<br />
agência a tarDe/geralDo ataíDe<br />
fugiu s<strong>em</strong> prestar socorro às vítimas.<br />
O processo levou quatro anos na Justiça<br />
criminal até que, <strong>em</strong> 28 de agosto de 2000,<br />
a juíza Rita de Cássia Machado Magalhães<br />
Filgueiras Nunes, então substituta da 2ª Vara<br />
Criminal Especializada da Infância e da Juventude,<br />
absolveu o réu. Pelo entendimento<br />
dela, não foi possível concluir que Luciano<br />
Rocha foi o responsável pelo acidente, mesmo<br />
com test<strong>em</strong>unhas afirmando que o bacana da<br />
BMW avançou o sinal <strong>em</strong> alta velocidade.<br />
Apesar do desfecho <strong>em</strong> primeira instância do<br />
processo criminal, as famílias das vítimas conseguiram<br />
na Justiça uma vitória. Paralelamente ao<br />
julgamento na Vara Crime, eles moveram uma<br />
ação cível exigindo indenização do “monstrorista”.<br />
Dois anos depois do acidente, <strong>em</strong> 20 de<br />
dez<strong>em</strong>bro de 2002, o titular da 20 a Vara Cível,<br />
juiz Renato Ribeiro Marques da Costa, entendeu<br />
pela culpa do réu e condenou Luciano Alves<br />
da Rocha ao ressarcimento a título indenizatório<br />
para as famílias das vítimas.<br />
Porém, após 4 anos de publicação da sentença,<br />
as famílias de Alexandre Nascimento,<br />
Gustavo do Carmo e Laerte Oliveira ainda<br />
não receberam um centavo. Durante esses<br />
dez anos, o processo foi bastante tumultuado.<br />
6 de fevereiro de 2006.<br />
Um ônibus com 50<br />
passageiros tomba na<br />
Paralela, matando uma<br />
pessoa e deixando outras<br />
26 feridas, entre elas<br />
duas adolescentes que<br />
perderam os braços<br />
Além das manobras para protelar a ação, surgiram<br />
diversas acusações de tráfico de influência<br />
e de que o <strong>em</strong>presário Luciano Rocha estava<br />
transferindo seu patrimônio para o nome de<br />
familiares para não pagar as indenizações.<br />
Os crimes de trânsito são julgados com<br />
base no Código Brasileiro de Trânsito (CBT),<br />
que determina, nos casos de homicídio culposo<br />
na direção do veículo, além de suspensão<br />
da habilitação, de dois a quatro anos de cadeia<br />
para o assassino. Se houver agravantes, como<br />
deixar de prestar socorro à vítima, a pena pode<br />
ser aumentada de um terço à metade. No caso<br />
de existir mais de uma vítima, o réu pode ser<br />
4 de julho de 1996.<br />
Uma BMW <strong>em</strong> alta velocidade invade<br />
o sinal vermelho e bate <strong>em</strong> outro<br />
veículo, matando dois passageiros e<br />
ferindo outro<br />
julgado por uma delas e ter a pena acrescida<br />
de 1/6 à metade ou pode ser julgado por cada<br />
vítima e ter as penas somadas.<br />
Um detalhe: os crimes de trânsito geralmente<br />
são considerados culposos, ou<br />
seja, s<strong>em</strong> intenção. Dessa forma, a pena de<br />
prisão pode ser substituída por uma pena<br />
alternativa. Mesmo assim, os criminosos do<br />
trânsito apresentados nesta matéria estão<br />
longe até mesmo do pagamento de cestas<br />
básicas ou dos trabalhos comunitários que<br />
geralmente são imputados aos condenados<br />
por esse tipo de crime. •<br />
10 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 11
Em 1941, o desenhista e<br />
cineasta Walt Disney visitou o<br />
Brasil numa viag<strong>em</strong> que objetivava<br />
o estreitamento das relações<br />
entre os Estados Unidos<br />
e o nosso País. Chegando ao<br />
Rio de Janeiro, de olhos b<strong>em</strong><br />
abertos neste sentido, buscou<br />
informações que pudess<strong>em</strong><br />
subsidiar a criação de um personag<strong>em</strong><br />
tupiniquim para os<br />
seus desenhos animados.<br />
É bom l<strong>em</strong>brar que Disney<br />
História<br />
se notabilizou por dar status<br />
humano aos seus bichinhos<br />
animados. Gatos, ratos, patos,<br />
cachorros, elefantes,<br />
etc., cantavam, dançavam,<br />
falavam, dirigiam carros,<br />
constituíam família... enfim,<br />
tinham personalidade. Aqui,<br />
sua pergunta de algibeira era:<br />
‘Como seria um tipo brasileiro<br />
interessante, que pudesse<br />
ser levado às telas?’<br />
Nesta tarefa, o americano<br />
recebeu ajuda de inúmeros palpiteiros,<br />
dentre eles o ilustrador<br />
J. Carlos, que apresentou ao<br />
nobre visitante americano um<br />
animalzinho que b<strong>em</strong> poderia<br />
representar o pavilhão verde e<br />
amarelo naquele universo imaginário:<br />
um papagaio. E os nossos<br />
bons anfitriões completaram a<br />
oferta de idéias, construindo detalhadamente<br />
o perfil da tal animada<br />
figura, dando-lhe caráter<br />
humano, tendo como espelho o<br />
malandro carioca.<br />
Foi assim que, pouco t<strong>em</strong>po<br />
depois, Walt Disney colocou <strong>em</strong><br />
película o seu novo personag<strong>em</strong>:<br />
um tipo b<strong>em</strong> falante, bom de<br />
lábia, vivaldino, capaz de enrolar<br />
a namorada por décadas, pendurar<br />
eternamente as contas na<br />
banca do melhor amigo, famoso<br />
No início da década de 1940,<br />
<strong>em</strong> plena 2ª Guerra Mundial,<br />
os Estados Unidos, preocupados<br />
com a aproximação e a simpatia<br />
de Getúlio Vargas com a<br />
Al<strong>em</strong>anha de Hitler, enviaram<br />
para o Brasil seus melhores<br />
relações públicas - os astros e<br />
estrelas de Hollywood - para<br />
ganhar a simpatia dos brasileiros<br />
à causa aliada. Entre eles, Walt<br />
Disney e Orson Welles.<br />
tom tA v A R e s<br />
Zé Carioca<br />
pela habilidade <strong>em</strong> dar rasteiras<br />
quando de suas negociações, motivando<br />
até mesmo a criação de<br />
uma grandiosa organização cuja<br />
existência se justificava na sua<br />
própria denominação: ANACO-<br />
ZECA – Associação Nacional de<br />
Cobradores do Zé Carioca.<br />
Quando a idéia ganhou vida<br />
e o Zé chegou às telas dos cin<strong>em</strong>as,<br />
foi uma festa só. Ali estava<br />
representado o mais autêntico<br />
carioca, segundo orientação de<br />
<strong>em</strong>inentes artistas daquelas belas<br />
terras banhadas pelas águas<br />
da Baía de Guanabara: malandro,<br />
folgado, enrolado, caloteiro,<br />
treteiro. Se alguma coisa<br />
b<strong>em</strong> fizesse, talvez fosse um<br />
bom peladeiro! Da Mangueira<br />
ao Corcovado, do Galeão ao<br />
Leblon, nenhuma repulsa provocou.<br />
O povo do Rio achou<br />
tudo muito comum, normal,<br />
muito igual e legal, até.<br />
Abro aqui um parênteses para<br />
dizer que morei naquela antiga<br />
capital do Brasil e sou test<strong>em</strong>unha<br />
do orgulho com que a<br />
maioria dos nativos se referia a<br />
si mesmos como grandes malandros,<br />
apontando para os d<strong>em</strong>ais<br />
habitantes do país como “manés”.<br />
Em outras palavras, o carioca era<br />
o vivo, o esperto, sendo o resto da<br />
população brasileira constituído<br />
por um bando de otários, gente<br />
facilmente enganável. A louvação<br />
ao malandro foi levada tão a sério<br />
que a prática da malandrag<strong>em</strong><br />
acabou por se tornar uma espécie<br />
de guia, manual de conduta do<br />
cidadão que teria na Lapa a sua<br />
faculdade. Ganhou até ópera!<br />
Pois é. O t<strong>em</strong>po foi passando<br />
e o tal meliante foi se multiplicando<br />
na cara da autoridade, nas<br />
barbas da população. Como resultado,<br />
no Rio de hoje o povo<br />
está preso <strong>em</strong> casa enquanto o<br />
Zé Carioca está solto nas ruas,<br />
comandando as massas, praças<br />
e instituições falidas. T<strong>em</strong> um<br />
pé no morro, outro no palácio,<br />
mão esquerda no Maracanã, mão<br />
direita sobre Copacabana e a<br />
boca aberta <strong>em</strong> direção ao Pão<br />
de Açúcar. Com o sol s<strong>em</strong>pre<br />
brilhando, sua sombra se alastra,<br />
apavora, determina, manda<br />
e desmanda, domina.<br />
No ponto <strong>em</strong> que a situação<br />
chegou, os meus bons amigos<br />
cariocas (sim, há muitos cariocas<br />
bons!) não têm outra alternativa:<br />
<strong>em</strong> legítima defesa, vão<br />
ter que matar o Zé.<br />
Para o carioca sobreviver, Zé<br />
Carioca – “muso” inspirador –<br />
terá que morrer. •<br />
12 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 5
Justiça<br />
A intolerância mata e<br />
o preconceito enterra<br />
Um gay é assassinado a cada duas s<strong>em</strong>anas no Brasil e os assassinos quase nunca são presos<br />
Welinton Aragão e<br />
Victor Uchôa<br />
Os assassinatos de cinco<br />
gays este ano, na Bahia, entraram<br />
para as estatísticas que colocam<br />
o Estado na rotina dos<br />
crimes de ódio. São aqueles<br />
insultos, danos morais e materiais,<br />
agressão física e homicídios,<br />
praticados <strong>em</strong> razão da<br />
raça, sexo, religião, orientação<br />
sexual ou etnia da vítima.<br />
Em 2006, a Bahia apareceu<br />
como o terceiro Estado<br />
brasileiro onde mais se matou<br />
gays. Sete casos. Do ponto<br />
de vista legal, alguns crimes<br />
são piores que os outros. Do<br />
ponto de vista social, a sociedade<br />
baiana parece colocar os<br />
crimes contra homossexuais<br />
na última escala de prioridade,<br />
todos parec<strong>em</strong> iguais.<br />
O ex<strong>em</strong>plo é a morte do<br />
professor do Instituto de<br />
Geociências da UFBA, João<br />
Lamarck Argolo, um homossexual<br />
assassinado provavelmente<br />
por rapazes que freqüentavam<br />
seu apartamento.<br />
Qu<strong>em</strong> quiser saber sobre o<br />
crime contra o professor não<br />
encontrará notícias nos jornais<br />
n<strong>em</strong> nas televisões. A<br />
morte do professor virou notinha<br />
e a investigação policial<br />
caminha lenta. As estatísticas<br />
mostram que menos de 10%<br />
dos autores de crimes contra<br />
gays são identificados.<br />
O professor foi mais uma<br />
vítima de um tipo de crime<br />
que está se tornando comum,<br />
rotina <strong>em</strong> uma sociedade que<br />
sofre de homofobia coletiva:<br />
o homossexual leva para casa<br />
um garoto de programa que o<br />
rouba e muitas vezes o mata.<br />
Conhecer o perfil desses assassinos<br />
t<strong>em</strong> sido uma tarefa<br />
difícil para os militantes. Os<br />
casos não são apurados e a<br />
vítima é tratada como réu.<br />
No fundo, pensa a polícia: “a<br />
bicha foi descuidada e mereceu<br />
morrer”.<br />
O psicólogo Cláudio Picazio<br />
acredita que os homossexuais<br />
são vítimas porque é<br />
um público-alvo mais fácil.<br />
“O cara pensa: ‘vou lá, vai<br />
ser fácil e o cara não vai denunciar’....<br />
O gay é mais indefeso, t<strong>em</strong> medo do<br />
ladrão e da polícia. Acredito que o<br />
crime gay acontece por vários motivos.<br />
Um deles é a homofobia coletiva<br />
provocada por diversos fatores, e um<br />
destes fatores é a própria internalização<br />
da crença de ser um ser menor”,<br />
explica.<br />
Especialista <strong>em</strong> sexualidade humana,<br />
consultor do Ministério da Saúde,<br />
Cláudio Picazio acha que é muito complicado<br />
traçar o perfil do assassino de<br />
gays: “Já sab<strong>em</strong>os coisas desses assassinos<br />
como, por ex<strong>em</strong>plo, os que atacam<br />
por grupos. Exist<strong>em</strong> vários tipos<br />
de agressões. A idéia geral é ‘vamos exterminar<br />
qu<strong>em</strong> vale menos’. Uma única<br />
teoria não dá conta da questão. T<strong>em</strong><br />
que haver uma prudência neste perfil,<br />
assim como <strong>em</strong> todos os<br />
outros tipos de assassinos,<br />
para que não fique persecutório<br />
com alguns grupos, o<br />
que evident<strong>em</strong>ente não resolve<br />
o probl<strong>em</strong>a e sim o<br />
amplia”.<br />
O antropólogo Luís Mott,<br />
fundador do Grupo Gay da<br />
Bahia (GGB), um respeitado<br />
militante, faz a pergunta e<br />
ele mesmo responde: “Por<br />
que tantos homossexuais são<br />
assassinados? O que explicaria<br />
a ocorrência de tantos<br />
crimes de ódio <strong>em</strong> nosso<br />
País? Comec<strong>em</strong>os analisando<br />
pelo lado dos assassinos.<br />
Em sua maior parte, o jov<strong>em</strong><br />
ou hom<strong>em</strong> adulto que mata<br />
gay ou travesti t<strong>em</strong> sérios<br />
probl<strong>em</strong>as com a própria sexualidade.<br />
Muitas vezes, são<br />
rapazes ou homens possuidores de forte<br />
desejo homoerótico, mas que não têm<br />
estrutura <strong>em</strong>ocional n<strong>em</strong> culhões para<br />
enfrentar a barra que é ser bicha neste<br />
País onde só t<strong>em</strong> poder qu<strong>em</strong> aparenta<br />
ser machão”.<br />
No fundo, continua Luís Mott,<br />
grande parte dos matadores de gays<br />
gostaria, eles próprios, de ser<strong>em</strong> gays<br />
ou travestis. “Eles matam, muitas vezes,<br />
depois de ter<strong>em</strong> transado com outro<br />
hom<strong>em</strong>, lavando com o sangue da vítima<br />
a culpa e o pecado que não suportam<br />
carregar depois do orgasmo”.<br />
Na mesma linha de pensamento,<br />
Cláudio Picazio concorda com Mott<br />
que a maioria dos matadores de gays<br />
é de viado enrustido, mas ressalta que<br />
não pod<strong>em</strong>os generalizar para todos<br />
os assassinos. “Há uma diferença entre<br />
Homofobia<br />
Caracteriza o medo e o resultante desprezo pelos homossexuais<br />
que alguns indivíduos sent<strong>em</strong>. Os intelectuais mais progressistas<br />
e as bibas militantes costumam dizer que, para muitas pessoas,<br />
a homofobia é fruto do medo delas próprias ser<strong>em</strong> bichas ou<br />
de que os outros pens<strong>em</strong> que elas são. A afirmação é polêmica,<br />
generalista, mas atinge <strong>em</strong> cheio as pessoas que passam boa parte<br />
da vida rejeitando a sexualidade alheia. O termo homofobia<br />
é usado para descrever uma repulsa face às relações afetivas e<br />
sexuais entre pessoas do mesmo sexo, um ódio generalizado aos<br />
homossexuais e todos os aspectos do preconceito heterossexista e<br />
da discriminação anti-homossexual.<br />
Crime de Ódio<br />
São crimes motivados pelo racismo, machismo, intolerância<br />
religiosa, homofobia e etnocentrismo, levando seus autores<br />
geralmente a praticar<strong>em</strong> elevado grau de violência física e<br />
desprezo moral contra a vítima, sendo tais mortes muitas<br />
vezes antecedidas de tortura, uso de múltiplas armas e grande<br />
número de golpes.<br />
atitude e desejo. Desejo é o impulso e<br />
t<strong>em</strong> o recheio erótico. Atitude é uma<br />
transa s<strong>em</strong> conteúdo de desejo (é quase<br />
que uma masturbação a dois). Alguns<br />
casos pod<strong>em</strong> ser realmente homofobia.<br />
Outros, não. Não é uma regra geral. Se<br />
fosse regra, todos os gays que têm uma<br />
homofobia seriam pessoas agressivas e<br />
isso não é verdade. Muitos até se autoagrid<strong>em</strong>,<br />
outros se defend<strong>em</strong>. Não pod<strong>em</strong>os<br />
cair nessa idéia de que gay encubado,<br />
que não se aceita, é um assassino<br />
<strong>em</strong> potencial. Essa idéia é perigosa”.<br />
No Brasil, de acordo com um levantamento<br />
do GGB, foram assassinados<br />
este ano 65 homossexuais, 23 a menos<br />
que o total de 2006. Nos últimos 27<br />
anos, foram 2.745 mortes, uma execução<br />
a cada duas s<strong>em</strong>anas. Uma preocupação<br />
do movimento gay é como<br />
ensinar os homossexuais a<br />
se defender<strong>em</strong>. “Uma for-<br />
ma de combater o probl<strong>em</strong>a<br />
é dizer ao gay que ele é um<br />
cidadão e não um ser menor<br />
no contexto social. Ele<br />
t<strong>em</strong> direitos e deve buscar a<br />
proteção que é devida a todos<br />
os cidadãos. Formar a<br />
população policial, ações<br />
sociais e repressão sim,<br />
com leis que criminaliz<strong>em</strong><br />
o preconceito com gays”,<br />
afirma Picazio.<br />
Para combater os assassinatos<br />
o Grupo Gay da<br />
Bahia produziu o documento<br />
“Gay vivo não dorme<br />
com o inimigo”. São 10<br />
instruções de como evitar a<br />
violência anti-homossexual<br />
(veja no site www.ggb.org.<br />
br/manual). •<br />
14 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 15<br />
notas da <strong>Metrópole</strong><br />
Liberou geral<br />
A legislação municipal proíbe a<br />
colocação de faixas publicitárias<br />
nos postes e vias públicas da<br />
cidade. Mas o prefeito João<br />
Henrique se sente superior à lei.<br />
A foto abaixo foi tirada no dia<br />
27 de junho, nove dias após do<br />
evento que anuncia.
Ren A t o PinheiRo<br />
Relax<strong>em</strong> e goz<strong>em</strong><br />
Andei refletindo bastante sobre a histórica<br />
frase da nossa ministra do Turismo,<br />
Marta Suplicy, quando, rel<strong>em</strong>brando<br />
seus t<strong>em</strong>pos de sexóloga da Rede Globo,<br />
aconselhou os turistas afetados pelo<br />
apagão aéreo a “relaxar e gozar”. Taí um<br />
bom conselho. Se não bom, pelo menos<br />
realista. Uma frase curta, simples, mas<br />
que, b<strong>em</strong> traduzida, reflete toda a complexidade<br />
da situação.<br />
A rigor, o que a ministra na verdade<br />
disse foi o seguinte:<br />
- Olha aqui, meu filho, você quer saber<br />
o que é que eu vou dizer aos turistas?<br />
O que é que você quer que eu diga?<br />
Que é essa merda mesmo que todos estão<br />
vendo? Que a aviação civil brasileira está<br />
desmoralizada, ninguém mais se respeita<br />
nessa área? Os vôos atrasam, são cancelados,<br />
seja por causa de chuva, de nevoeiro,<br />
de equipamentos, de cachorro na pista,<br />
mas no fundo, no fundo é tudo desculpa,<br />
os controladores de vôo é que estão por<br />
trás da confusão toda?<br />
- E o governo ao qual pertenço – continu<strong>em</strong>os<br />
traduzindo a ministra - está <strong>em</strong>purrando<br />
o probl<strong>em</strong>a com a barriga, não<br />
está negociando nada, t<strong>em</strong> medo de irritar<br />
a Aeronáutica, não aumenta os salários<br />
dos caras, não desmilitariza o controle<br />
do tráfego aéreo, aí os caras sacaneiam,<br />
faz<strong>em</strong> operação-padrão, as companhias<br />
aéreas aproveitam para também desrespeitar<br />
ao máximo os direitos dos passageiros,<br />
o ministro da Defesa aperta os olhinhos<br />
e dá uma desculpa esfarrapada qualquer,<br />
a coisa não ata n<strong>em</strong> desata e a cada fim<br />
de s<strong>em</strong>ana, a cada feriadão, instala-se o<br />
caos. É isso que está acontecendo, meu<br />
caro. É isso que você quer que eu diga<br />
para os turistas? Não, meu filho, isso eu<br />
não posso dizer. O melhor que eu tenho<br />
a fazer é aconselhar: já que estão mesmo<br />
sendo estuprados, relax<strong>em</strong> e goz<strong>em</strong>.<br />
Portanto, que não se acuse a ministra<br />
Marta de insincera. Ela apenas não<br />
podia dizer tudo, coitada. Por isso, com<br />
admirável poder de síntese, optou por<br />
erotizar o probl<strong>em</strong>a e apelar para o chamamento<br />
orgástico. Relax<strong>em</strong> e goz<strong>em</strong>.<br />
Eu, de minha parte, como turista quase<br />
compulsivo que sou, declaro que acato<br />
plenamente o conselho ministerial e até<br />
já me antevejo ejaculando <strong>em</strong> pleno salão<br />
de <strong>em</strong>barque do aeroporto, numa quilométrica<br />
fila de check-in da Gol.<br />
E não seria exagerado especular que,<br />
se todos seguiss<strong>em</strong> o conselho da ministra,<br />
poderia acontecer um tr<strong>em</strong>etr<strong>em</strong>e<br />
geral nos aeroportos brasileiros,<br />
um orgasmo múltiplo e coletivo jamais<br />
visto ou registrado. Pelo menos nunca<br />
na história deste País. •<br />
Este é um espaço dedicado a qu<strong>em</strong> gosta e a qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> curiosidade pelo t<strong>em</strong>a SEXO! Aqui os leitores pod<strong>em</strong><br />
tirar suas dúvidas com a sexóloga Gilda Fucs. Basta enviar sua pergunta para revistametropole@ksz.com.br que nós<br />
publicar<strong>em</strong>os. Não se preocupe se você é broxa ou frígida, sua identidade será mantida <strong>em</strong> sigilo.<br />
CDS, 29 anos, casada.<br />
Dra. Gilda, meu marido me adula para fazer<br />
sexo oral comigo, eu sou evangélica e não creio<br />
que isso seja saudável, mas tenho curiosidade<br />
de experimentar, até porque tenho medo que<br />
meu marido tente conseguir na rua o que eu<br />
não concedo <strong>em</strong> casa. O que eu devo pesar para<br />
resolver esse dil<strong>em</strong>a? Por favor, me ajude.<br />
Gilda Fucs - Antes de qualquer coisa, você t<strong>em</strong> que se posicionar.<br />
Se a vontade de experimentar o sexo oral for grande, pense <strong>em</strong><br />
satisfazer o seu desejo, mas leve <strong>em</strong> consideração a possibilidade<br />
de ficar grilada pelo resto da vida devido ao rompimento com as<br />
regras e os preceitos da sua religião. Essa é uma situação desconfortável,<br />
e o poder de decisão está <strong>em</strong> suas mãos, l<strong>em</strong>brando que<br />
é preciso pesar com bastante critério, porque você está dividida<br />
entre a força de querer provar uma sensação nova e a necessidade<br />
de seguir o que estabelece a religião.<br />
BCP, 36 anos, casado.<br />
Dra. Gilda, dependendo da posição <strong>em</strong> que<br />
eu e minha mulher transamos, a vagina dela<br />
faz um barulho estranho, que às vezes me deixa<br />
constrangido. Em alguns momentos, o meu<br />
tesão chega a diminuir. O que eu faço?<br />
Gilda Fucs - Estes sons são gases vaginais que realmente aparec<strong>em</strong><br />
dependendo da posição <strong>em</strong> que o casal tenha a sua relação<br />
sexual. Estes gases geralmente não têm mau cheiro, mas muitos<br />
casais reclamam que na hora da relação eles se tornam constrangedores.<br />
Então, a única forma de melhorar isso é buscar posições <strong>em</strong><br />
que o barulho não aconteça. Buscar uma posição prazerosa, s<strong>em</strong> o<br />
som desagradável. Por outro lado, se o cheiro dos gases incomodar,<br />
isso significa que existe uma infecção na vagina, portanto, a mulher<br />
deve procurar um ginecologista. Mas se a pessoa estiver sadia, não<br />
t<strong>em</strong> mau cheiro e a única solução é a mudança de posição.<br />
JFAD, 23 anos, solteira.<br />
Dra. Gilda, meu namorado t<strong>em</strong> o pênis<br />
muito grande e às vezes me machuca quando<br />
transamos por um período mais prolongado ou<br />
com entusiasmo maior. Como faço para evitar<br />
me machucar e será que posso ficar “folgada”<br />
e sentir menos prazer na relação com homens<br />
de proporções normais?<br />
Gilda Fucs - Pra ficar menos machucada é preciso que o casal<br />
escolha determinadas posições <strong>em</strong> que o pênis do rapaz não penetre<br />
tão profundamente na vagina da parceira. Em casos assim,<br />
qu<strong>em</strong> deve ter o maior cuidado é hom<strong>em</strong>, que deve agir com<br />
cautela para que a relação seja prazerosa e não dolorosa. Homens<br />
que têm o pênis muito grande não pod<strong>em</strong> agir int<strong>em</strong>pestivamente.<br />
Quanto ao t<strong>em</strong>or de ficar folgada, esta é uma possibilidade<br />
nula, pois a vagina é um tubo flexível, que pode passar por um<br />
alargamento durante a relação e depois voltar ao normal. A vagina<br />
não é formada por paredes rígidas, e sim por paredes elásticas,<br />
tanto é que no momento do parto passa por ali um bebê que<br />
pode chegar a 3,5 kg. Então, quando a mulher tiver, futuramente,<br />
uma relação com um hom<strong>em</strong> de proporções normais ela sentirá<br />
o mesmo prazer, pois a vagina é bastante elástica.<br />
16 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 17
Da redação<br />
N<strong>em</strong> gaste sua gasolina rodando <strong>em</strong><br />
busca de um preço mais <strong>em</strong> conta nos<br />
postos de combustíveis da cidade. É tudo<br />
a mesma coisa. E o pior, a qualidade do<br />
produto é questionável e as autoridades<br />
não tomam qualquer providência. O<br />
nome disso é cartel, é crime, mas como<br />
deve envolver muito dinheiro ninguém<br />
t<strong>em</strong> corag<strong>em</strong> de mexer.<br />
Segundo o dicionário Houaiss, cartel<br />
significa “acordo comercial entre <strong>em</strong>presas,<br />
visando à distribuição entre elas das<br />
cotas de produção e do mercado com a<br />
finalidade de determinar os preços e limitar<br />
a concorrência”.<br />
Já ocorreram duas CPIs na Ass<strong>em</strong>bléia<br />
Legislativa, existe inquérito criminal na<br />
Polícia Federal, ação civil pública na 2 a<br />
Vara de Defesa do Consumidor, mas nada<br />
que anime e crie a perspectiva de que as<br />
pessoas que comet<strong>em</strong> tal crime virão a ser<br />
punidas por isso. Ou, pelo menos, que a<br />
prática será banida.<br />
O diretor do Departamento de Crimes Contra<br />
o Patrimônio, Arthur Gallas, esteve à frente<br />
de uma investigação policial entre 2000 e<br />
2001, para apurar a questão do Cartel na<br />
Bahia. Na época, Gallas era responsável<br />
notas da <strong>Metrópole</strong><br />
Vale tudo<br />
O vale-transporte de papel está<br />
prestes a ser extinto da capital<br />
baiana, mas ainda é aceito <strong>em</strong><br />
muitos estabelecimentos. O<br />
mais incrível é que t<strong>em</strong> posto<br />
de combustível que aceita vale<br />
pra abastecer os veículos, como<br />
este da Orla. Será que aceitará<br />
também o <strong>Salvador</strong> Card?<br />
Defesa do Consumidor<br />
É tabelado<br />
<strong>Salvador</strong> é a capital com menor variação de preços de combustíveis<br />
pela Delegacia de Crimes Econômicos e<br />
Contra a Administração Pública. O inquérito<br />
Policial resultou no indiciamento de<br />
mais de 80 pessoas pela prática de cartel,<br />
inclusive donos de postos. Foi oferecida<br />
denúncia que resultou na abertura de processo<br />
que corre, ou melhor, se arrasta na<br />
Justiça, s<strong>em</strong> que ninguém seja condenado,<br />
muito menos preso.<br />
O promotor do Ministério Público da<br />
Bahia, Solon Dias Rocha Filho, que acompanhou<br />
os trabalhos da segunda CPI dos<br />
Combustíveis, <strong>em</strong> 2006, afirma que apenas<br />
uma investigação de natureza policial pode<br />
atestar a existência de ajuste de preços entre<br />
os donos de postos. Segundo o promotor,<br />
já existe, há algum t<strong>em</strong>po, um inquérito<br />
<strong>em</strong> andamento na Polícia Federal.<br />
O promotor Ivan Machado, coordenador<br />
do Grupo de Atuação Especial<br />
de Combate à Sonegação Fiscal e aos<br />
Crimes Contra a Ord<strong>em</strong> Tributária, que<br />
analisa e aprofunda as investigações a<br />
partir dos relatórios entregues <strong>em</strong> 2006<br />
pela última CPI dos Combustíveis da<br />
Ass<strong>em</strong>bléia Legislativa, explica que, do<br />
ponto de vista material, não há como<br />
concluir pela existência de cartel. “O<br />
que existe são apenas indícios, <strong>em</strong> função<br />
dos preços muito próximos pratica-<br />
dos pelos postos. Na verdade, <strong>em</strong> <strong>Salvador</strong><br />
exist<strong>em</strong> postos de pequeno, médio e<br />
grande porte, com os produtos vendidos<br />
pelos mesmos preços”, explica.<br />
Outro detalhe que chama a atenção e<br />
que o Ministério Público deve aprofundar<br />
a investigação é, segundo Ivan Machado,<br />
que apenas quatro redes dominam aproximadamente<br />
75% dos postos de <strong>Salvador</strong>,<br />
o que diminui a competição de preços e<br />
prejudica a população.<br />
A Ass<strong>em</strong>bléia Legislativa do Estado já<br />
teve duas CPIs dos Combustíveis. A primeira,<br />
CPI sobre Cartel dos Combustíveis,<br />
aconteceu entre janeiro de 2000 e agosto<br />
de 2001. O objetivo era apurar a cartelização<br />
dos preços dos combustíveis no Estado.<br />
O presidente foi o então deputado estadual<br />
José Carlos Araújo (era do PFL, hoje preside<br />
o PR na Bahia). A vice-presidência ficou<br />
a cargo de Luiz Bassuma (PT). O que se<br />
pode constatar, de fato, da atuação desta<br />
CPI? Os dois elegeram-se, <strong>em</strong> outubro,<br />
deputados federais. Fora isso, mais nada,<br />
n<strong>em</strong> o relatório final foi votado.<br />
Em 2003, o já deputado federal Bassuma<br />
solicitou audiências públicas e diligências<br />
no Estado para investigar cartel dos<br />
combustíveis, alegando “quadro grave de<br />
adulteração e cartelização de combustíveis<br />
Pizza<br />
Acabou <strong>em</strong> pizza o encontro<br />
entre o marqueteiro de Lula,<br />
João Santana, o governador<br />
Jaques Wagner e o ministro<br />
Geddel Vieira Lima. Não<br />
poderia ser diferente, pois o<br />
encontro aconteceu na Piola,<br />
nova sensação gastronômica da<br />
cidade e cujo dono é o próprio<br />
Santana.<br />
e ao fato de a CPI dos Combustíveis não<br />
ter apresentado nenhum resultado efetivo<br />
para a sociedade”. Ou seja, admitiu o fracasso<br />
da comissão da qual participou.<br />
Entre maio de 2005 e agosto de 2006,<br />
mais uma CPI dos Combustíveis foi instalada<br />
na Ass<strong>em</strong>bléia Legislativa da Bahia.<br />
Presidida pelo deputado e proprietário de<br />
posto de gasolina, Targino Machado<br />
(PMDB), e com a vice-presidência a<br />
cargo do deputado Yulo Oiticica (PT),<br />
esta CPI teve como objetivos o combate<br />
à sonegação fiscal, à adulteração<br />
de combustível e quebra de bandeira.<br />
Esta última consiste <strong>em</strong> ostentar uma<br />
bandeira de fornecimento e comercializar<br />
produto de uma outra.<br />
O deputado Yulo Oiticica afirmou<br />
que, já durante os trabalhos<br />
da Comissão, a adulteração de<br />
gasolina diminuiu cerca de<br />
10% no Estado e houve<br />
um aumento da arrecadação<br />
de ICMS nos<br />
postos de 153%.<br />
A CPI, entretanto,<br />
não conseguiu<br />
identificar<br />
o crime de<br />
cartel. Atestou<br />
apenas<br />
os fortes indícios,<br />
mas<br />
nada conclusivo.Oiticica<br />
alega<br />
que esta é uma<br />
missão verdadeiramente<br />
difícil,<br />
pois, para atestar este<br />
crime, os investigadores<br />
depend<strong>em</strong>, por ex<strong>em</strong>plo,<br />
de uma confissão de culpa. O<br />
Corte<br />
O Ministro Geddel Vieira Lima<br />
anda falando à boca miúda que<br />
cortará na própria carne. Calma,<br />
não se trata de uma estratégia<br />
de redução nos investimentos<br />
do Ministério da Integração<br />
Nacional, mas da cirurgia<br />
plástica que fará <strong>em</strong> breve para<br />
reduzir a enorme papada que<br />
hoje ostenta.<br />
que, naturalmente, não houve.<br />
Em <strong>Salvador</strong>, uma simples pesquisa<br />
feita entre os dias 12 e 15 de maio, por<br />
amostrag<strong>em</strong>, <strong>em</strong> mais de 30 postos de<br />
todos os pontos da cidade, mostra claramente<br />
que os preços do álcool variam,<br />
no máximo, 13 centavos (entre R$1,66<br />
e R$1,79) e, com relação<br />
à gasolina, a variação<br />
é quase<br />
n e n h u m a ,<br />
apenas 3<br />
centavos, indo de R$2,66 a R$2,69, isso<br />
<strong>em</strong> 35 postos pesquisados.<br />
Mesmo com uma variação mais ampla,<br />
o álcool também muda muito pouco<br />
de um posto para outro. Dezenove postos<br />
vend<strong>em</strong> o produto por R$1,76, outros sete<br />
comercializam entre R$1,77 e 1,79, cinco<br />
cobram exatamente R$1,74, três vend<strong>em</strong><br />
por R$1,66 e, finalmente, apenas um posto<br />
comercializa o álcool por R$1,69.<br />
Em meados de junho, após a forte<br />
queda do dólar, uma outra pesquisa por<br />
amostrag<strong>em</strong> revelou um aumento nas diferenças<br />
de preços. No álcool a variação foi<br />
de R$1,61 a R$1,69 e a gasolina<br />
oscilou entre R$2,45 a<br />
R$2,55, mas a maioria<br />
dos postos vendia<br />
o combustível<br />
com preços<br />
entre R$2,53 e<br />
R$2,55. Depois<br />
do São<br />
João, quando<br />
todos voltaram<br />
cansados de<br />
viag<strong>em</strong>, veio o<br />
susto: álcool e<br />
gasolina mais<br />
caros.<br />
Um dos asp<br />
e c t o s m a i s<br />
curiosos evidenciados<br />
na venda<br />
de combustíveis na<br />
capital baiana é um<br />
coeficiente de dispersão<br />
extr<strong>em</strong>amente<br />
baixo, algo injustificável<br />
para uma cidade tão<br />
grande, com bairros distintos<br />
e variações sociais e<br />
econômicas evidentes. •<br />
18 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 19
Sindicalismo<br />
Pimenta no cu dos<br />
outros é refresco<br />
Quando o assunto é a relação com os próprios funcionários, os<br />
sindicatos se mostram péssimos patrões<br />
Da redação<br />
Qu<strong>em</strong> vê os discursos inflamados dos<br />
sindicalistas <strong>em</strong> nome dos trabalhadores nas<br />
portas das <strong>em</strong>presas, escolas, bancos e estabelecimentos<br />
comerciais jamais pode imaginar<br />
o que acontece com os funcionários dos<br />
seus próprios sindicatos. Com raras exceções,<br />
os sindicalistas baianos são péssimos patrões,<br />
atrasam os salários dos trabalhadores, comet<strong>em</strong><br />
assédios sexuais e morais, não recolh<strong>em</strong> o INSS<br />
n<strong>em</strong> o FGTS, terceirizam a mão-de-obra e,<br />
geralmente, obrigam o funcionário a se filiar<br />
ao partido político que comanda a categoria.<br />
“Os discursos não referendam a prática”, afirma<br />
Clenice de Jesus Souza, presidente do Sintec<br />
(Sindicato dos Trabalhadores <strong>em</strong> Sindicatos e<br />
Entidades de Classe do Estado da Bahia).<br />
Na realidade, o Sintec funciona como uma<br />
espécie de ouvidoria dos trabalhadores contratados<br />
pelos sindicatos. De acordo com a presidente<br />
da entidade, quando estão do outro lado do<br />
“balcão”, os sindicalistas têm um comportamento<br />
muito diferente e reprim<strong>em</strong> os seus “funcionários”.<br />
“Exist<strong>em</strong> sindicatos que não permit<strong>em</strong><br />
sequer que os seus trabalhadores sejam filiados à<br />
entidade que os representa”, acrescenta Clenice<br />
de Jesus Souza. Atualmente, o Sintec congrega<br />
cerca de 2.000 trabalhadores, mas menos de<br />
400 contribu<strong>em</strong> regularmente (1% do salário)<br />
para a manutenção de todas as atividades do<br />
“representante dos trabalhadores <strong>em</strong> sindicatos”.<br />
“Por mais absurdo que possa parecer, exist<strong>em</strong><br />
sindicatos que descontam o percentual dos seus<br />
funcionários, mas não faz<strong>em</strong> o repasse para o<br />
Sintec”, ressalta Clenice de Jesus Souza.<br />
Apesar de arrecadar pouco por mês (cerca<br />
de R$3.000), o Sintec conseguiu comprar<br />
uma sede própria. Até dois anos atrás, a entidade<br />
funcionava <strong>em</strong> uma pequena sala alugada,<br />
no bairro de Nazaré. Agora, t<strong>em</strong> uma<br />
ampla casa no Barbalho (rua Dr. Arthur César<br />
Rios, 79), comprada por R$35 mil - com os<br />
investimentos realizados no local, o espaço<br />
está avaliado agora <strong>em</strong> R$110 mil.<br />
A média salarial dos trabalhadores dos sindicatos<br />
baianos d<strong>em</strong>onstra que os “patrões”<br />
também não gostam de valorizar os seus “fun-<br />
Valter Pontes<br />
Presidente do Sintec: “ Seria muito bom que os sindicalistas não<br />
agiss<strong>em</strong> do mesmo modo que os patrões, que só pensam <strong>em</strong> seus lucros”<br />
cionários”. Apesar de o aumento salarial estar na<br />
pauta de quase todas as negociações da categoria,<br />
os sindicalistas “esquec<strong>em</strong>” de reajustar os vencimentos<br />
dos seus “<strong>em</strong>pregados”. Um levantamento<br />
realizado pelo Sintec revela que mais de<br />
90% dos trabalhadores contratados pelos sindicatos<br />
receb<strong>em</strong> um salário mínimo (R$380) por<br />
mês. “Somente os funcionários que têm mais de<br />
15 anos de carteira assinada é que têm média<br />
salarial de R$600”, disse Clenice Souza.<br />
Nos últimos dois anos alguns dos principais<br />
sindicatos da Bahia, a ex<strong>em</strong>plo do<br />
Sindicato dos Bancários, também aderiram<br />
à terceirização da mão-de-obra, uma medida<br />
adotada para fugir do pagamento dos impostos<br />
e contribuições sociais. “Seria muito bom<br />
que os sindicalistas, que s<strong>em</strong>pre condenaram<br />
a terceirização, não agiss<strong>em</strong> do mesmo modo<br />
que os patrões que só pensam <strong>em</strong> seus lucros”,<br />
afirmou a presidente do Sintec.<br />
Mesmo sendo o representante legal dos trabalhadores<br />
contratados pelos sindicatos, o Sintec<br />
recebe poucas denúncias. O motivo é simples:<br />
os funcionários têm medo de perder o <strong>em</strong>prego.<br />
Mesmo assim, as queixas registradas pelo órgão<br />
cresceram 30% nos primeiros seis meses deste<br />
ano, <strong>em</strong> relação ao mesmo período de 2006.<br />
Uma das mais graves foi registrada por S.C.S.<br />
(o Sintec preserva a identidade dos seus associados).<br />
Ex-funcionária do Unibanco, S.C.S.<br />
trabalhava <strong>em</strong> São Paulo quando optou pelo<br />
retorno à Bahia para cuidar de sua mãe, que<br />
apresenta probl<strong>em</strong>as de saúde. Contratada por<br />
um sindicato para trabalhar no departamento<br />
jurídico, S.C.S. entrou <strong>em</strong> depressão e passou<br />
a tomar r<strong>em</strong>édios controlados depois de ser assediada<br />
moralmente. “Uma outra mulher teve<br />
de ser trocada de setor porque foi assediada sexualmente”,<br />
disse a presidente do Sintec.<br />
Outra prática adotada por muitos sindicatos<br />
baianos é uma afronta à d<strong>em</strong>ocracia<br />
e à Constituição. Em troca da “garantia de<br />
<strong>em</strong>prego”, os sindicalistas exig<strong>em</strong> que os seus<br />
funcionários sejam filiados ao partido político<br />
que controla a entidade (<strong>em</strong> todo o Estado, os<br />
principais sindicatos estão nas mãos do PT e<br />
do PCdoB). “Ninguém fala isto abertamente,<br />
até porque seria um escândalo, mas é evidente<br />
que a pressão é muito grande porque quase<br />
todos os sindicalistas sonham com uma carreira<br />
política”, acrescenta Clenice de Jesus Souza.<br />
De acordo com ela, os ex<strong>em</strong>plos b<strong>em</strong>-sucedidos<br />
de sindicalistas que se destacaram na<br />
política estimulam a medida - só para citar dois<br />
casos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou<br />
a sua carreira “política” no Sindicato dos<br />
Metalúrgicos do ABC paulista (à época, começo<br />
dos anos 80, o maior da América Latina). Na<br />
Bahia, o governador Jaques Wagner também foi<br />
diretor do Sindicato dos Petroquímicos. “Basta<br />
a gente fazer uma análise rigorosa na lista de<br />
candidatos a cargos eletivos para perceber que<br />
há muitos sindicalistas que se submet<strong>em</strong> ao<br />
voto”, disse a presidente do Sintec.<br />
Nos dias 25, 26 e 27 de abril deste ano, Clenice<br />
de Jesus Souza foi reconduzida com 95%<br />
de votos à presidência do Sintec. Apesar de ter<br />
ampla maioria entre os 281 votantes, a presidente<br />
teve de enfrentar a fúria dos “patrões”<br />
sindicalistas. “Por mais incrível que pareça,<br />
eles (os sindicalistas) registraram uma chapa no<br />
último dia, tendo como componentes velhos<br />
sindicalistas que se perpetuam há décadas nas<br />
diretorias das entidades, todos atrelados a partidos<br />
políticos e com o ranço do aparelhismo.<br />
Travestidos de bons moços, todos tinham o<br />
mesmo objetivo, que era aparelhar também<br />
o Sintec e calar a nossa voz. Ainda b<strong>em</strong> que<br />
foram expurgados da nossa entidade.” •<br />
Tá tudo dominado<br />
Partidos políticos controlam principais sindicatos<br />
Nos últimos 20 anos grandes transformações ocorreram no planeta, mas nos principais sindicatos baianos nenhuma<br />
mudança ocorreu. Há décadas eles atuam como feudos de partidos políticos e seus filiados. Veja ex<strong>em</strong>plos:<br />
Sindicato dos Bancários – Com cerca de 12 mil filiados, é um dos poucos do Brasil a ter<br />
um jornal e um programa de televisão diários. Desde 87, quando o deputado estadual Álvaro Gomes<br />
chegou à presidência, é comandado pelo PCdoB. Por mais de oito anos, Álvaro Gomes comandou<br />
oficialmente a entidade, que é sua principal base eleitoral. Apesar de afastado da presidência desde que<br />
assumiu o mandato parlamentar, o deputado ainda comanda os bancários.<br />
Sindicato dos Domésticos – O Sindomésticos conta com 3 mil associados, e é presidido<br />
por Marinalva Barbosa, integrante do grupo de Creuza Maria Oliveira, fundadora do sindicato <strong>em</strong> 1990<br />
e sua presidente até 2002. As duas são filiadas ao PT, e afirmam que mantêm contato com dirigentes<br />
do partido, mas atestam que essa é uma relação pessoal, s<strong>em</strong> ligação com a atuação do sindicato.<br />
Sindicato dos Rodoviários – Um dos maiores sindicatos do Estado, t<strong>em</strong> mais de 30 mil<br />
filiados. Desde 1989, o PT dá as cartas na entidade, sob o comando do deputado estadual J. Carlos. Nesses<br />
18 anos, ele praticamente esmagou a oposição e atualmente controla com folga toda a diretoria, quase<br />
toda ela ligada ao Partido dos Trabalhadores. Atualmente, J. Carlos divide seu t<strong>em</strong>po entre a Ass<strong>em</strong>bléia<br />
Legislativa e o sindicato, onde exerce seu quarto mandato como presidente.<br />
Sindicato dos Vendedores de Jornais e <strong>Revista</strong>s – A entidade representa os vendedores<br />
ambulantes e das bancas, além dos <strong>em</strong>pregados das distribuidoras. Na Bahia, são aproximadamente 9 mil<br />
profissionais, metade na Região Metropolitana de <strong>Salvador</strong>. Pouco mais de 500 são associados ao sindicato, e<br />
não passam de 120 os aptos a votar. Essas informações são do presidente do sindicato, Valter Ferreira da Silva,<br />
que s<strong>em</strong> oposição, desde 1974 é s<strong>em</strong>pre reconduzido ao cargo. Valter é filiado ao PDT.<br />
APLB – Este sindicato que comanda os professores licenciados da Bahia t<strong>em</strong> integrantes do PSB,<br />
PDT e PCdoB <strong>em</strong> sua diretoria, que comanda <strong>em</strong> forma de colegiado, s<strong>em</strong> presidente. Fundado há<br />
55 anos e responsável pela realização de uma das maiores greves da história da Bahia (mais de 50 dias<br />
só este ano), a APLB t<strong>em</strong> no PCdoB o seu “controle majoritário”. O 1º secretário da entidade, Rui<br />
Oliveira, que é comunista, disse que o partido trabalha <strong>em</strong> prol da categoria e que está identificado<br />
com os anseios populares. Os deputados comunistas Javier Alfaya (estadual) e Alice Portugal (federal)<br />
são os mais ligados à APLB.<br />
Sindicato dos Taxistas – Em <strong>Salvador</strong> trabalham aproximadamente 6 mil taxistas. Apenas 280 são<br />
filiados ao Sinditáxi, o que já é muito. Em 2006, quando Carlos Augusto Dias, o Assanhaço, assumiu a presidência<br />
da entidade, apenas os 52 associados da época participaram da eleição. Devido a esse número reduzido, a<br />
Associação Metropolitana dos Taxistas contesta a legitimidade do pleito. O presidente da Associação, Valdeilson<br />
Miguel, diz que Carlos Augusto pertence ao grupo de Manoel Lima, que presidiu o sindicato por 22 anos até 2000,<br />
e Jorge Nascimento, a qu<strong>em</strong> Assanhaço substituiu. Valdeilson diz ainda que esse grupo s<strong>em</strong>pre foi vinculado ao<br />
PFL (atual DEM). Assanhaço confirma a informação, mas não comenta a sua ligação com os ex-dirigentes. Em<br />
2004, ele candidatou-se a vereador pelo PTN, mas afirma que sairá do partido <strong>em</strong> breve e que ainda não sabe a<br />
qual legenda irá filiar-se.<br />
Sindicato dos Metalúrgicos – Com quase 15 mil filiados, também é controlado pelo<br />
PCdoB. Em sua orig<strong>em</strong>, era controlado pela “Articulação”, uma das tendências do PT. Depois, o PCdoB<br />
passou a dominar os principais cargos diretivos, inclusive a presidência. O diretor Jorge Luiz Cerqueira,<br />
no entanto, faz uma ressalva. “Neste sindicato o PCdoB e o PT se entend<strong>em</strong> muito b<strong>em</strong>.”<br />
Sindicato dos Comerciários – Com 18 mil associados, a entidade é comandada pelo<br />
PCdoB desde 1984. O presidente é Jaelson Dourado, mas qu<strong>em</strong> manda de fato é o vereador Reginaldo<br />
Oliveira (PCdoB), presidente licenciado do sindicato.<br />
20 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007<br />
21
Valter Pontes<br />
Com os direitos políticos cassados<br />
desde 2005, o ex-todo-poderoso dos<br />
primeiros dois anos do governo Lula<br />
afirma que, apesar de ainda se sentir<br />
um hom<strong>em</strong> do governo, agora t<strong>em</strong><br />
muito mais liberdade para atuar politicamente.<br />
Dizendo-se orgulhoso de sua<br />
cassação, Dirceu conta para os leitores<br />
de <strong>Metrópole</strong> como ganhou a fama de<br />
maior garanhão da esquerda brasileira<br />
e que Jaques Wagner pode esperar<br />
<strong>Metrópole</strong> Entrevista<br />
Zé Dirceu<br />
2018 para se candidatar à Presidência<br />
da República. Além dos integrantes do<br />
nosso Conselho Editorial, Metropole<br />
contou com o reforço dos jornalistas<br />
Luís Francisco (gentilmente cedido<br />
pela Folha de S.Paulo) e Renato Pinheiro<br />
nesta exclusiva com Dirceu.<br />
“Eu tenho<br />
orgulho de<br />
ser cassado”<br />
<strong>Metrópole</strong> - Pra relaxar, vamos<br />
começar falando do passado. A sua<br />
biografia oficial não fala de uma história<br />
muito corrente na esquerda, de que você<br />
era um grande Dom Juan do movimento<br />
estudantil, traçava todas...<br />
José Dirceu - (Risos) Era? Por que era?<br />
<strong>Metrópole</strong> - Então continua sendo?<br />
Dirceu - A história quando é contada<br />
s<strong>em</strong>pre vira um pouco de ficção. E as<br />
biografias também. Evidente que a minha<br />
biografia já t<strong>em</strong> um pouco de ficção, apesar<br />
de eu ainda estar muito vivo e não querer<br />
fazer biografia. Eu até queria fazer o livro<br />
“30 meses na Casa Civil”, com o Fernando<br />
Morais, mas acabei não fazendo, mas ainda<br />
existe o projeto de tocar um livro. A minha<br />
geração, mais do que lutar contra a ditadura,<br />
pela d<strong>em</strong>ocracia, pela educação pública,<br />
contra a privatização do ensino, ela fez uma<br />
revolução cultural no País. A geração de 68<br />
é a primeira que t<strong>em</strong> independência. Mora<br />
fora de casa, estuda à noite, trabalha. Então,<br />
inclusive <strong>em</strong> sintonia com o mundo, ela<br />
começa a derrubar barreiras e preconceitos.<br />
Entre essas barreiras e preconceitos estava<br />
a famosa “virgindade”. Quando eu cheguei<br />
na faculdade, hom<strong>em</strong> sentava separado<br />
de mulher, só pra você ter uma idéia, eu<br />
organizei uma turma atrás (no fundo da<br />
sala) cujo primeiro objetivo era acabar com<br />
isso. E lá nós fiz<strong>em</strong>os uma mudança nas<br />
relações entre hom<strong>em</strong> e mulher, sexual e tal.<br />
Havia uma liberdade que não existia antes,<br />
e como eu morava sozinho, tinha uma<br />
independência econômica, eu tive muitas<br />
namoradas. Mas n<strong>em</strong> poucas, n<strong>em</strong> tantas<br />
como diz<strong>em</strong>, nada anormal pra um jov<strong>em</strong><br />
daquela época de faculdade, no movimento<br />
estudantil. Aí criou-se um mito um pouco<br />
exagerado por causa da Sala do Grego...<br />
<strong>Metrópole</strong> - Que história é essa de sala?<br />
Dirceu - Tinha uma sala onde nós<br />
namorávamos, que reservamos pra<br />
isso, na ocupação da USP, que foi<br />
uma ocupação com uma razão. Greve<br />
não tinha sentido, esvaziava e não<br />
tinha efeito. As faculdades ocupadas<br />
se transformaram <strong>em</strong> grandes centros<br />
de debate político, ideológico,<br />
programático, e grandes centros<br />
de agitação cultural, com shows,<br />
apresentações de teatro, discussões<br />
sobre cin<strong>em</strong>a e literatura. E nessas<br />
faculdades evident<strong>em</strong>ente havia uma<br />
vida não só cultural. Havia uma vida<br />
de prazeres... Comer b<strong>em</strong> e namorar,<br />
não é? Beber n<strong>em</strong> tanto. Eu por<br />
ex<strong>em</strong>plo não bebia naquela época. E<br />
fumava pouco. Depois que fui preso<br />
que eu comecei a fumar, mas mais pela<br />
tensão. Então t<strong>em</strong> bastante de mito,<br />
mas também não vou dizer que não era<br />
verdade. Namorei tudo que eu tinha<br />
direito e não me arrependo. Só me<br />
arrependo de não ter namorado mais,<br />
de ter sido preso e ter ido <strong>em</strong>bora.<br />
<strong>Metrópole</strong> - E hoje, o senhor continua<br />
um Dom Juan?<br />
Dirceu - Não. Me separei depois de<br />
15 anos de casamento, estou namorando,<br />
mas estou tranqüilo, mais sossegado.<br />
Naquela época eu tive namoradas<br />
fixas, tive paixões, mas a vida era uma<br />
loucura. A pessoa podia amanhecer com<br />
a namorada <strong>em</strong> outro Estado, com a<br />
namorada morta pela ditadura, ou <strong>em</strong><br />
outro país, ou morando <strong>em</strong> outro bairro,<br />
como clandestina.<br />
“Namorei tudo que eu tinha<br />
direito e não me arrependo.<br />
Só me arrependo de não ter<br />
namorado mais, de ter sido<br />
preso e ter ido <strong>em</strong>bora”<br />
<strong>Metrópole</strong> – Falando <strong>em</strong> clandestinidade,<br />
até hoje não abriram os arquivos do Dops.<br />
Qual sua opinião sobre isso? Por que o<br />
Governo Lula não consegue abrir?<br />
Dirceu - Os arquivos estão todos<br />
abertos, mas exist<strong>em</strong> algumas questões.<br />
Uma questão são os arquivos que estão com<br />
o Governo, que estão todos abertos e indo<br />
pro Arquivo Nacional. Eles pod<strong>em</strong> ter sido<br />
depurados, violados e muitos documentos<br />
eliminados durante a ditadura e depois<br />
quando estava sob o controle da Abin, mas<br />
isso já está resolvido. Agora exist<strong>em</strong> outras<br />
4 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - junho de 2007 23
duas questões que não estão resolvidas. Os<br />
documentos que as Forças Armadas têm<br />
sobre a repressão, dos Dói-codes, da Oban<br />
(Operação Bandeirantes), e da operação<br />
de combate à Guerrilha do Araguaia. Isso<br />
está subjúdice, está tramitando. E a Justiça<br />
pode decidir por busca e apreensão, pode<br />
intimar os militares a apresentar<strong>em</strong> esses<br />
documentos, que eles alegam que foram<br />
destruídos. E precisamos saber qu<strong>em</strong><br />
destruiu, que isso é um crime. Então o que<br />
nós fiz<strong>em</strong>os? Então primeiro liberamos<br />
os documentos, todos estão no Arquivo<br />
Nacional para ser<strong>em</strong> consultados.<br />
<strong>Metrópole</strong> - Até os dos militares?<br />
Dirceu - Não. A esses n<strong>em</strong> o governo<br />
civil t<strong>em</strong> acesso, apesar de hoje não existir<br />
mais essa distinção de governo civil.<br />
<strong>Metrópole</strong> - Mas ainda t<strong>em</strong> muita<br />
história pra ser contada, não?<br />
Dirceu - T<strong>em</strong> muita, e a minha opinião<br />
é que os militares deviam contá-la.<br />
<strong>Metrópole</strong> - Há setores nas Forças<br />
Armadas que concordam com isso?<br />
Dirceu - Se t<strong>em</strong>, eu nunca<br />
identifiquei. Há uma lei de silêncio e<br />
há uma decisão de as próprias Forças<br />
Armadas não fazer<strong>em</strong> um levantamento<br />
e falar pro País todo o que aconteceu.<br />
E apontar onde estão os corpos, que<br />
depois de mais 30 anos na Amazônia, no<br />
caso da Araguaia, n<strong>em</strong> dev<strong>em</strong> existir.<br />
<strong>Metrópole</strong> - No Brasil existe uma<br />
d<strong>em</strong>ocracia madura pra esperar a boa<br />
vontade dos militares?<br />
Dirceu - Mas a Justiça t<strong>em</strong> que<br />
agilizar o processo. É um probl<strong>em</strong>a<br />
da lentidão da nossa Justiça. Se ela<br />
determinar que t<strong>em</strong> que abrir, as Forças<br />
Armadas abr<strong>em</strong>. T<strong>em</strong> que investigar<br />
todos os quartéis. Aqui na Bahia mesmo<br />
queimaram uns documentos há um<br />
t<strong>em</strong>po atrás, não é? Que documentos<br />
eram aqueles? Depois até no Rio<br />
Grande do Sul apareceram outros<br />
documentos. Eu acho que a cada dois<br />
anos vão aparecer documentos e isso<br />
“Eu fiquei constrangido, e o Genoino<br />
também, quando o governo recorreu da<br />
decisão da Justiça que mandava os militares<br />
apresentar<strong>em</strong> os documentos. Mas qu<strong>em</strong><br />
decide isso é o presidente”<br />
vai sangrar até que alguém escreva um<br />
livro e conte quase tudo. Mas de uma<br />
maneira ou outra isso vai aparecer. E<br />
t<strong>em</strong> os familiares dos desaparecidos,<br />
muitos cidadãos, muitos deputados<br />
que buscam, pesquisam. Eu fiquei<br />
constrangido, e o José Genuíno<br />
(ex-gerrilheiro do Araguaia e então<br />
presidente do PT) também, quando o<br />
Governo recorreu da decisão da Justiça<br />
que mandava os militares apresentar<strong>em</strong><br />
os documentos. Claro que nossa<br />
“Wagner pode<br />
ser candidato<br />
à Presidência,<br />
mas ele t<strong>em</strong><br />
mais t<strong>em</strong>po que<br />
o Serra. Pode<br />
esperar”<br />
posição era contrária. O argumento<br />
do Governo é que as Forças Armadas<br />
faz<strong>em</strong> parte do Estado, e o Governo<br />
t<strong>em</strong> que defendê-las. E também teriam<br />
outras questões que pod<strong>em</strong> trazer uma<br />
jurisprudência, e aí você pode dizer<br />
o que defende e o que não defende.<br />
Então o Governo optou pela linha de<br />
defender e deixar a Justiça decidir. Eu<br />
acho que não devíamos recorrer, até<br />
pela natureza do nosso Governo, mas<br />
qu<strong>em</strong> decide isso é o presidente. E ele<br />
(o presidente) decidiu isso com o apoio<br />
do ministro da Justiça (Márcio Tomás<br />
Bastos) e das Forças Armadas.<br />
<strong>Metrópole</strong> - Mesmo afastado, o senhor<br />
continua com um discurso de um hom<strong>em</strong><br />
do Governo. O senhor ainda se sente um<br />
hom<strong>em</strong> do Governo?<br />
Dirceu - Completamente. Eu me<br />
sinto totalmente identificado com o<br />
Governo, com o presidente Lula e com o<br />
meu partido. Eu sou independente hoje,<br />
não sou deputado, não sou ministro,<br />
não sou dirigente do PT, então tenho<br />
mais liberdade pra expor minhas idéias.<br />
Muitas pod<strong>em</strong> estar equivocadas, outras<br />
não. Tenho mais liberdade pra criticar<br />
também, acredito que ajudo fazendo<br />
isso, o Brasil é um país d<strong>em</strong>ocrático, é<br />
no debate e nas discussões, na sociedade<br />
e no parlamento que vamos encontrar<br />
saídas pro País. Eu me sinto altamente<br />
realizado, apesar de ter sido cassado e<br />
ter sido denunciado pelo Ministério<br />
Público como chefe de uma quadrilha,<br />
eu me sinto totalmente realizado pela<br />
reeleição do Lula.<br />
<strong>Metrópole</strong> - Em maio foram abertas<br />
ações contra 11 dos 40 denunciados no<br />
esqu<strong>em</strong>a do mensalão pelo procurador Geral<br />
da República e seu nome não estava entre os<br />
11. O que o senhor acha disso?<br />
Dirceu - Que é uma prova da minha<br />
inocência. O que t<strong>em</strong> lá é a diretoria do<br />
BMG, as <strong>em</strong>presas do Marcos Valério,<br />
o Genoíno e o Delúbio do PT. E no<br />
caso do Genoíno, o que está tipificado<br />
lá como gestão t<strong>em</strong>erária, por causa do<br />
<strong>em</strong>préstimo do banco que o PT não tinha<br />
garantias pra dar, e isso não é corrupção.<br />
Isso é uma discussão que está além deste<br />
caso. Essa denúncia contra os 40, na<br />
hora que começar<strong>em</strong> a analisar, vão ver<br />
que t<strong>em</strong> muita denúncia vazia, que é o<br />
meu caso. Tanto é que no BMG eu não<br />
estou indiciado, e o caso do BMG é uma<br />
das principais acusações contra mim.<br />
Ou seja, é uma acusação política contra<br />
mim. T<strong>em</strong> 40 denunciados por vários<br />
crimes. O que interessa pra mim é ser<br />
julgado. Porque tinham três acusações<br />
contra mim: uma foi o caso do Valdomiro<br />
Diniz, onde foram duas investigações<br />
(Ministério Público Estadual do Rio e o<br />
Federal), dois inquéritos (Polícia Civil e<br />
Polícia Federal), duas CPIs (da Loterj e<br />
a dos Bingos), e após isso tudo eu não<br />
sou citado. Então aquilo foi uma farsa. A<br />
outra é o caso do Marcos Valério. Como eu<br />
não estou acusado <strong>em</strong> nada do chamado<br />
Caixa 2, do chamado Valerioduto, a<br />
única acusação que t<strong>em</strong> é que existia o<br />
Mensalão e que eu era o chefe, mas isso<br />
foi um julgamento político, porque não<br />
existe prova, n<strong>em</strong> test<strong>em</strong>unha, nada.<br />
Quebraram meus sigilos telefônico,<br />
bancário e fiscal, 17 meses de investigação<br />
da minha vida, sobre cincos anos da minha<br />
vida patrimonial, bancária e fiscal. Zero.<br />
A terceira é o caso de Santo André, onde<br />
eu fui pra Justiça e fui retratado, mas<br />
ninguém noticiou. Ficaram só os dois<br />
“Eu me sinto totalmente<br />
identificado com o<br />
governo, com o presidente<br />
Lula e com o meu partido”<br />
anos de manchete, umas dez manchetes<br />
nos principais jornais do País, da denúncia<br />
contra mim. Então eu tinha isso tudo, e<br />
o que eu tenho hoje? A acusação de que<br />
eu sou chefe de uma quadrilha de 40<br />
pessoas. 410 test<strong>em</strong>unhas, 39 volumes,<br />
83 anexos, 40 advogados de defesa e o<br />
Supr<strong>em</strong>o não t<strong>em</strong> como instruir este<br />
processo. Se este processo vai pra primeira<br />
instância, pros juízes federais fazer<strong>em</strong> a<br />
instrução, eu vou defender que arquive<br />
a denúncia contra mim. E acredito que<br />
do ponto de vista técnico, jurídico,<br />
do código penal, é líquido e certo que<br />
t<strong>em</strong> que ser arquivado, a não ser que a<br />
decisão seja política. Agora, se for feita a<br />
denúncia, eu quero é que me julgue até<br />
2010. São cinco anos. Pra qu<strong>em</strong> durante<br />
40 anos nunca foi investigado, nunca<br />
foi processado, eu não posso ter virado<br />
bandido do dia pra noite.<br />
<strong>Metrópole</strong> - E se o senhor for inocentado<br />
entra no mesmo dia com um pedido de<br />
anistia no Congresso?<br />
Dirceu - Eu tomei uma decisão, que<br />
acho correta, de fazer essas viagens pelo<br />
país, praticamente já visitei 18 estados do<br />
País. Eu vou deixar a questão da anistia pra<br />
um segundo momento. Primeiro eu quero<br />
que o Supr<strong>em</strong>o sinalize pro Brasil que vai<br />
julgar, e vai absolver ou condenar.<br />
<strong>Metrópole</strong> - O que você acha do nome<br />
de José Serra pra presidente?<br />
Dirceu - Pro PSDB é muito bom (risos).<br />
<strong>Metrópole</strong> - E pro Brasil?<br />
Dirceu - Aí vamos ver o que ele vai fazer<br />
<strong>em</strong> São Paulo, e ele não está indo b<strong>em</strong>.<br />
<strong>Metrópole</strong> - Você acha que o Serra está<br />
caindo pra direita?<br />
Dirceu - Não é caindo pra direita.<br />
O probl<strong>em</strong>a são os métodos dele, a<br />
personalidade dele. Qual a política<br />
dele pra São Paulo? O probl<strong>em</strong>a dos<br />
tucanos é que eles estão s<strong>em</strong> bandeira,<br />
s<strong>em</strong> programa. Eles não têm um<br />
programa pra se opor ao Lula, n<strong>em</strong><br />
eles n<strong>em</strong> os DEM. Então eles ficam<br />
nessa questão ética, CPI, CPI, CPI. O<br />
probl<strong>em</strong>a é que está voltando contra<br />
eles, e quando chega nos governadores<br />
e nos deputados deles, eles não assinam<br />
CPI. E nos Estados deles não t<strong>em</strong> CPI,<br />
e denúncia de corrupção não vai n<strong>em</strong><br />
24 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 25
pra imprensa. Não t<strong>em</strong> Ministério<br />
Público investigando, então isso tudo<br />
na verdade é uma farsa. Não é que não<br />
precise combater a corrupção, mas a<br />
retórica, o discurso deles é uma farsa.<br />
<strong>Metrópole</strong> - Você disse que Serra depende<br />
do governo dele <strong>em</strong> São Paulo. E Jaques<br />
Wagner, é um nome pra Presidência?<br />
Dirceu - Wagner pode ser candidato<br />
à Presidência, mas ele t<strong>em</strong> mais t<strong>em</strong>po<br />
que o Serra. Pode esperar. A vantag<strong>em</strong><br />
do Wagner, do Pimentel (Fernando<br />
Pimentel, prefeito petista de Belo<br />
Horizonte), do próprio Aécio e de<br />
muitos líderes que nós t<strong>em</strong>os é que<br />
eles pod<strong>em</strong> esperar. Eles pod<strong>em</strong> ser<br />
presidentes <strong>em</strong> 2018, ou 2022.<br />
<strong>Metrópole</strong> - O senhor já sepultou esse<br />
sonho? Por que era um sonho seu, não era?<br />
Dirceu - Felizmente eu nunca tive<br />
esse sonho, e não tive essa frustração.<br />
Porque deve ser duro. Todo o meu<br />
objetivo de 2003 a 2005 era trabalhar<br />
b<strong>em</strong> para a reeleição do presidente<br />
Lula. Eu não estava n<strong>em</strong> um pouco<br />
preocupado com 2010. Não era n<strong>em</strong><br />
candidato, já tinha acertado com o PT<br />
que eu, Palocci, Gushiken e Dulci não<br />
seríamos candidatos. Não que eu fosse<br />
coordenar campanha, que eu também<br />
não queria, porque já tinha feito uma<br />
vez, mas provavelmente eu ia ficar no<br />
governo, ajudando o presidente, talvez<br />
<strong>em</strong> outra função que não a Casa Civil,<br />
porque ali também eu já devia ter saído.<br />
Em 2004 e 2005 eu devia ter ido pra<br />
outra função ou voltado pra Câmara,<br />
porque eu já tinha cumprido um papel.<br />
E era um consenso que se eu ficasse<br />
eu ia ser s<strong>em</strong>pre o alvo da oposição,<br />
porque eu já tinha tido a experiência do<br />
A entrevista com ex-ministro José Dirceu foi longa e, apesar dos tira-gostos, ninguém comeu nada<br />
“No governo<br />
Lula, os<br />
<strong>em</strong>presários<br />
ganharam<br />
como nunca,<br />
e os<br />
banqueiros,<br />
também”<br />
Valter Pontes<br />
Valdomiro Diniz e não queria ter outra<br />
igual, e acabei tendo, com o Roberto<br />
Jeferson, que é a única acusação que t<strong>em</strong><br />
contra mim. É o discurso do Roberto<br />
Jeferson, que é um réu confesso e falou<br />
um monte de mentira. Não há nada<br />
contra mim. Me cassaram com base<br />
nas entrevistas e no depoimento dele,<br />
porque me investigaram por seis meses e<br />
não acharam nada.<br />
<strong>Metrópole</strong> - O senhor se sente<br />
injustiçado...<br />
Dirceu - Não, é diferente, eu quero<br />
justiça. Eu tenho orgulho de ser cassado.<br />
Sabe por quê? Porque eu fui cassado<br />
pelo que eu representava na história da<br />
esquerda, do governo Lula e pelo que eu<br />
poderia ser no futuro. Hoje está claro que<br />
queriam me tirar de 2010, assim como o<br />
Palocci. Não é que nós não comet<strong>em</strong>os<br />
erros e não t<strong>em</strong>os que responder por eles.<br />
“O poder pra<br />
mim s<strong>em</strong>pre<br />
foi um meio<br />
de atingir<br />
determinados<br />
fins”<br />
Mas eu não roubei, n<strong>em</strong> compactuei, n<strong>em</strong><br />
permiti que roubass<strong>em</strong>. Eu fui da Casa<br />
Civil e mandei pro Conselho de Ética<br />
todas as providência que foram tomadas,<br />
todas as denúncias que chegavam na Casa<br />
Civil. Tudo isso ficou lá, e eles não citaram<br />
no relatório. Alguém sofreu numa devassa<br />
maior do que eu no Brasil? E não t<strong>em</strong><br />
nada, nenhum processo ou investigação,<br />
nunca tive, só os da ditadura. Só t<strong>em</strong><br />
hoje, numa campanha política que só<br />
serviu como instrumento contra o Lula.<br />
<strong>Metrópole</strong> - O senhor t<strong>em</strong> alguma<br />
frustração por ter tido tanto poder nas mãos<br />
no início do Governo Lula e hoje não ter<br />
nenhum poder formal? E você não sente<br />
raiva de ver um Congresso com nomes como<br />
Collor e você fora?<br />
Dirceu - Não, não sinto, porque o<br />
Collor cumpriu a pena dele de dez anos<br />
e depois foi eleito pelo povo de Alagoas.<br />
Posso não concordar com ele ou não<br />
desejar que ele retornasse, mas não tenho<br />
nenhuma objeção.<br />
<strong>Metrópole</strong> - E estar fora do poder?<br />
Dirceu - O poder pra mim s<strong>em</strong>pre foi<br />
um meio de atingir determinados fins, e<br />
esse fim era cumprir um programa e um<br />
sonho que nós tínhamos. E agora com essas<br />
realizações todas, eu me sinto realizado,<br />
mesmo não estando no governo. E eu tenho<br />
meu trabalho. Tenho que sustentar minha<br />
família e minha atividade política. Eu estou<br />
na política dia e noite, t<strong>em</strong> o meu blog, eu<br />
escrevo, viajo, debato, articulo, participo.<br />
Evidente que não é como quando eu era<br />
deputado ou ministro ou presidente do PT,<br />
mas eu tenho minha participação. E como eu<br />
tenho uma luta pra provar minha inocência,<br />
“Eu sou independente hoje,<br />
não sou deputado, não sou<br />
ministro, não sou dirigente do<br />
PT, então tenho mais liberdade<br />
pra expor minhas idéias”<br />
“Apesar de ter sido cassado<br />
e ter sido denunciado pelo<br />
Ministério Público como<br />
chefe de uma quadrilha, eu<br />
me sinto totalmente realizado<br />
pela reeleição do Lula”<br />
eu estou b<strong>em</strong>. E nota-se que eu estou b<strong>em</strong>,<br />
não? Imagina se eu vou ficar sofrendo, eu ia<br />
sofrer um enfarte.<br />
<strong>Metrópole</strong> - Qu<strong>em</strong> ganhou mais com<br />
o governo Lula, as elites ou o povo? Os<br />
banqueiros ou os trabalhadores?<br />
Dirceu - Os <strong>em</strong>presários ganharam<br />
como nunca e os banqueiros, também.<br />
Mas as classes populares ganharam<br />
muito e vão ganhar cada vez mais. Nós<br />
t<strong>em</strong>os mudanças na educação, na renda,<br />
no <strong>em</strong>prego, na informação e na cultura.<br />
E é importante isso. É porque a gente<br />
esquece da história. Nunca um presidente<br />
de esquerda terminou um governo nesse<br />
País. Ainda mais ser reeleito. Todos<br />
foram apeados do governo. Getúlio<br />
pelo suicídio, Juscelino que era de uma<br />
aliança muito mais conservadora que<br />
a do Lula, quase foi apeado, e o Jango<br />
foi apeado. E na América Latina todos<br />
foram. É o primeiro presidente de<br />
esquerda reeleito pelo voto popular na<br />
América Latina, o Lula. •<br />
26 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 27
PA u l o Al v e s<br />
Ninguém costuma fazer esse<br />
tipo de estatística nas mesas de<br />
sinuca do Romeu, mas não estaríamos<br />
muito errados se chutáss<strong>em</strong>os<br />
que o editor costuma<br />
alcançar de um a dois êxitos <strong>em</strong><br />
cada dez tacadas tentadas. Daí a<br />
surpresa geral quando, de repente,<br />
ele danou-se a encaçapar bolas<br />
de todos os ângulos e distâncias.<br />
Numa seqüência matou cinco, na<br />
outra mais quatro! E prosseguiu<br />
segurando a boa onda.<br />
“T<strong>em</strong> dias que a noite é assim”,<br />
resignou-se o oponente.<br />
“Noite Mirabilis”, exagerou<br />
um circunstante, numa referência<br />
à expressão Annus Mirabilis,<br />
utilizada para reverenciar o ano<br />
de 1905, quando Albert Einstein<br />
<strong>em</strong>basbacou o mundo da ciência<br />
com a publicação <strong>em</strong> série de cinco<br />
estudos revolucionários.<br />
“Gandula <strong>em</strong> dia de Pelé”,<br />
ecoou o garçom Paulinho.<br />
“Lula <strong>em</strong> dia de Pelé?” - estranhou<br />
um cara da mesa ao lado,<br />
meio bêbado, meio surdo. E seguiu<br />
trocando as bolas: “Ele bate<br />
aquela bolinha torta na Granja do Torto,<br />
nunca foi craque”.<br />
Pronto. Instalou-se a polêmica: Lula é<br />
craque ou não é? Mas é claro que é! Ou<br />
não estaria aí, depois de tanto escândalo<br />
<strong>em</strong> torno de si, aprovado e deslumbrado,<br />
disparando rajadas de argumentos no<br />
melhor estilo de camelô do Pelô. É só<br />
notas da <strong>Metrópole</strong><br />
Deu bandeira<br />
“A bandeirinha Ana Paula<br />
ganhou uma bolada para posar<br />
nua. Já Mônica Veloso, examante<br />
de Renan Calheiros,<br />
deve ganhar de cachê uma<br />
boiada.” Frase do ouvinte Ivan<br />
Vieira, comparando os ganhos<br />
da assistente de arbitrag<strong>em</strong>, que<br />
levantou a bandeira de muito<br />
marmanjo, com os da assistente<br />
de sacanag<strong>em</strong>, que baixou a bola<br />
do senador.<br />
A procissão do Encantado<br />
l<strong>em</strong>brar que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre foi assim.<br />
Nos primeiros t<strong>em</strong>pos de poder vimos<br />
um presidente-cinderelo pintando e bordando,<br />
feliz que n<strong>em</strong> pinto no lixo. Mas<br />
não muito longe, nos meados de 2005,<br />
o cara estava pra lá de mal das pernas,<br />
ceifando ministros amigos por força de<br />
denúncias, falando quase s<strong>em</strong>pre fora do<br />
pinico e despencando no Ibope.<br />
Naqueles dias de horror, mensaleiros<br />
murmuravam no breu das tocas, simpatizantes<br />
e militantes vagavam cabisbaixos<br />
e balbuciantes. Sábios e futurólogos de<br />
variado matiz vaticinavam que o projeto<br />
da reeleição danara-se. A cada declaração<br />
desastrada, a popularidade presidencial<br />
afundava mais um tanto e o bordão da<br />
oposição era “deixa sangrar”. Na babel<br />
dos corredores palacianos, a algaravia dos<br />
assessores fazia l<strong>em</strong>brar Bandeira: ‘Febre?<br />
H<strong>em</strong>optises? Suores noturnos? O que<br />
fazer, dançar um tango argentino?’<br />
Lula, num lance de craque, fez melhor:<br />
ali, <strong>em</strong> algum momento entre agosto e<br />
set<strong>em</strong>bro, puxou o freio de arrumação,<br />
deixou o Zé Dirceu resvalar para o limbo<br />
e adotou outra linha de aconselhamento<br />
político. Daí então tudo mudou.<br />
Produziu-se algo como aquela Noite<br />
Mirabilis.<br />
O Ôme acertou a mira e se pôs a<br />
encaçapar uma atrás da outra. Deu um<br />
t<strong>em</strong>po na classe média que andava de<br />
esguelha e vestiu de vez a roupa de paidos-pobres.<br />
Dobrou e depois quadruplicou<br />
as verbas aplicadas de verdade<br />
na assistência social. Repicou os gastos<br />
<strong>em</strong> propaganda, puxando a conversa<br />
pro lado do orgulho nacionalista: autosuficiência<br />
<strong>em</strong> petróleo, dívida com<br />
FMI quitada, etc. O resultado é que<br />
<strong>em</strong> poucos meses se transformou de<br />
zumbi <strong>em</strong> imbatível.<br />
E não foi só: <strong>em</strong>agreceu, botou botox<br />
na testa, passou a <strong>em</strong>itir sinais exteriores<br />
de redução do consumo etílico. Limitouse<br />
a falar conforme o script. Mais adiante,<br />
pra arr<strong>em</strong>atar com uma jogada de<br />
efeito, deu uma boa turbinada no salário<br />
mínimo e colocou de vez a sua prancha<br />
na boa onda da economia mundial.<br />
Blindou-se. Encantou-se! Malfeitorias<br />
continuaram <strong>em</strong>ergindo, numa procissão<br />
de satanazes cabulosos: valdomiros, ca-<br />
choeiras, vampiros, sanguessugas, cuecas<br />
endinheiradas, churrasqueiros aloprados,<br />
compadres navalhados. Até chegar ao tolo<br />
mano Vavá, lambari ora mais propriamente<br />
chamado de “Sipique-sipique”.<br />
Mas o presidente encantado sobrepaira<br />
a procissão, beatífico, aureolado e confortavelmente<br />
instalado no andor que os<br />
suados diabos carregam.<br />
Tão confortável e invulnerável se sente<br />
o presidente que recaiu no velho vício<br />
da incontinência verbal fora de roteiro.<br />
Voltou a disparar metáforas tronchas a<br />
esmo <strong>em</strong> cada ocasião que se apresenta.<br />
Se continua assim, logo logo vai precisar<br />
de uma nova Noite Mirabilis, pois, por<br />
melhor que seja, não há encanto que<br />
dure para s<strong>em</strong>pre. •<br />
28 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 29
Cultura<br />
A dança das cadeiras no Museu Rodin<br />
Fase carlista Fase petista<br />
O acervo vai e o prejuízo fica Que venham os guardanapos<br />
Juliana Cunha<br />
agecom<br />
O prédio está pronto,<br />
mas falta o acervo<br />
O Museu Rodin - que não vai mais se chamar<br />
Rodin e que só terá obras do Rodin por três anos - é<br />
uma daquelas idéias difíceis de acreditar que um ser<br />
humano, dotado de massa encefálica, poderia ter. A<br />
então Secretaria de Cultura e Turismo (SCT) - posteriormente<br />
desm<strong>em</strong>brada <strong>em</strong> duas novas secretarias<br />
-, resolveu lançar um projeto caro e cheio de irregularidades,<br />
envolvendo<br />
obras milionárias feitas<br />
com dinheiro público,<br />
num palacete particular<br />
do século XIX.<br />
Em 2002, foi firmado<br />
um convênio de<br />
R$1,6 milhão entre a<br />
SCT, através da Bahiatursa,<br />
e a Sociedade<br />
Cultural Auguste Rodin.<br />
Por conta de três<br />
termos aditivos, a parceria<br />
que possibilitaria<br />
a vinda de 62 peças de<br />
gesso pertencentes à<br />
França foi prorrogada<br />
até 25 de fevereiro<br />
de 2004.<br />
Somente entre 2003 e abril de 2005, a Bahiatursa<br />
pagou R$3,7 milhões à Sociedade Cultural Auguste<br />
Rodin, segundo o relatório do conselheiro Pedro<br />
Lino, do TCE (Tribunal de Contas do Estado). A<br />
Sociedade Rodin pagou impostos e taxas fora dos<br />
prazos de vencimento, acrescidos de juros e multas,<br />
utilizando para pagamentos desses encargos os recursos<br />
financeiros do convênio, registra o relatório.<br />
A reforma da Villa Catharino - palacete que<br />
abriga o museu - custou R$ 11 milhões de reais.<br />
Um belo investimento para Sérgio Freire Sobral,<br />
segundo o TCE, proprietário do local. Ao término<br />
do contrato, ele terá um imóvel muito mais<br />
conservado e valorizado. Além do aluguel de R$<br />
2,6 mil mensais recebidos durante a permanência<br />
do museu, é claro.<br />
O Museu Rodin estava sob a responsabilidade<br />
da Abacult, a ONG mais g que poderia ser criada.<br />
A Abacult foi criada por Paulo Gaudenzi e seus<br />
m<strong>em</strong>bros eram funcionários da Secretaria, o que<br />
feria grav<strong>em</strong>ente o princípio da impessoalidade.<br />
Mais de R$ 2,5 milhões foram destinados à Abacult<br />
somente <strong>em</strong> 2006. Isso corresponde a mais<br />
de 10% do valor destinado ao Fundo de Cultura<br />
do Estado no mesmo ano.<br />
Ao ser questionado por esta reportag<strong>em</strong> a cerca<br />
de irregularidades no Museu Rodin, o ex-secretário<br />
de Cultura e Turismo, Paulo Gaudenzi, disse que<br />
nunca teve conhecimento de nenhuma irregularidade<br />
com o museu. Aliás, não só ele como todos<br />
os outros baianos não tiveram oportunidade de<br />
saber, simplesmente porque a única publicação<br />
a tratar o assunto - a <strong>Revista</strong> Carta Capital -<br />
sumiu misteriosamente das bancas de <strong>Salvador</strong><br />
justamente na edição na qual tratava das tais<br />
irregularidades no Museu Rodin.<br />
30 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 31<br />
notas da <strong>Metrópole</strong><br />
Acertou uma<br />
Aplausos para João Henrique.<br />
Ao ser pressionado por dirigentes<br />
do PT para criar um Conselho<br />
Político que orientasse as decisões<br />
municipais, o prefeito respondeu<br />
pronta e inteligent<strong>em</strong>ente: “No<br />
dia <strong>em</strong> que o governador Jaques<br />
Wagner criar o conselho político<br />
estadual, neste mesmo dia, eu<br />
crio o municipal.” Resposta<br />
perfeita, que calou o PT na hora.<br />
O Museu Rodin devia ter sido inaugurado<br />
no dia 12 de nov<strong>em</strong>bro de 2003, mas continua<br />
muito b<strong>em</strong> lacrado. Não podendo ser inaugurado<br />
na gestão de Paulo Souto - que entregou um<br />
palecete reformado e oco - o museu ficou como<br />
herança para o PT. Descumprindo a regra de etiqueta<br />
de que a cavalo dado não se olha os dentes,<br />
o novo Secretário de Cultura, Márcio Meirelles,<br />
não só olhou como resolveu trocar a dentadura.<br />
O que era Museu Rodin agora será um museu<br />
de diálogo, ainda s<strong>em</strong> nome. Meirelles expandiu<br />
o convênio com o Museu Rodin da França para<br />
outros onze museus franceses, que <strong>em</strong>prestariam<br />
obras de outros artistas, também <strong>em</strong> regime de<br />
comodato, depois que expirass<strong>em</strong> os três anos de<br />
estadia das obras de Rodin aqui na Bahia.<br />
Só que o <strong>em</strong>préstimo de obras não é tão simples<br />
assim, principalmente ao Brasil, onde até a<br />
taça Jules Rimet já foi roubada e derretida. Em<br />
entrevista com Márcio Meirelles, a revista <strong>Metrópole</strong><br />
questionou sobre que espécie de obras<br />
viriam à Bahia depois de Rodin, considerando<br />
que por motivos óbvios de segurança e desfalque<br />
dos acervos de seus próprios museus, a França<br />
tenha certa relutância <strong>em</strong> enviar obras de maior<br />
relevância. L<strong>em</strong>bramos ao Secretário o constrangimento<br />
de - <strong>em</strong> ocasião da exposição Mestres da<br />
Arte Universal, no Museu de Arte Moderna da<br />
Bahia, <strong>em</strong> 2003 - termos mobilizado o público<br />
baiano para prestigiar até mesmo rabisco de Picasso<br />
<strong>em</strong> guardanapo de bar (literalmente). Mei-<br />
Fedeu<br />
A Faculdade de Comunicação<br />
da UFBA está <strong>em</strong> pé de guerra<br />
desde que um professor resolveu<br />
batizar de ‘Merda’ o jornal<br />
laboratório da unidade. A<br />
iniciativa foi rechaçada pelos<br />
d<strong>em</strong>ais professores, que ainda<br />
destituíram o autor da fétida<br />
idéia do comando do dito jornal.<br />
A polêmica está longe de acabar,<br />
mostrando que na UFBA, ainda<br />
se briga muito por Merda.<br />
relles, segurando-se para não chamar a repórter<br />
da <strong>Metrópole</strong> de ignorante, disse não existir obra<br />
menos relevante de um artista s<strong>em</strong>inal (ele gosta<br />
muito do termo “artista s<strong>em</strong>inal”. Aliás, a única<br />
frase mais dita durante a entrevista que “artista<br />
s<strong>em</strong>inal” foi “eu sou um artista”. S<strong>em</strong>pre que se<br />
vê numa situação na qual convém d<strong>em</strong>onstrar<br />
caráter, ele solta essa. “Sou um artista”).<br />
A reposta de Meirelles foi: “Quando<br />
se trata de um artista s<strong>em</strong>inal, de<br />
um Picasso da vida, não existe obra<br />
que não seja merecedora de<br />
um profundo respeito. É<br />
claro que n<strong>em</strong> tudo é uma<br />
Guernica da vida... Mas...<br />
B<strong>em</strong>, acho que tudo t<strong>em</strong><br />
o seu valor, t<strong>em</strong> o seu<br />
espaço”. Ou seja: o espaço<br />
dos guardanapos<br />
deve ser a Bahia. •
Roda baiana<br />
Carnateatro<br />
Por Andrezão Simões<br />
Uma tragédia. Assim defino os caminhos<br />
que o Carnaval da Bahia insiste<br />
<strong>em</strong> trilhar. Seus atores não consegu<strong>em</strong><br />
construir um modelo “estruturante” de<br />
realização para a mais importante festa<br />
popular da Bahia. Minha opinião de<br />
profissional, carnavalesco e cidadão,<br />
que convive há anos com todos os tipos<br />
de peças e encenações entre o poder<br />
público e os que efetivamente faz<strong>em</strong> a<br />
festa acontecer, é a de que chegamos<br />
a uma representação s<strong>em</strong> precedentes.<br />
É unanimidade entre todos que o<br />
atual modelo de gestão e convivência<br />
precisa ser revisto e transformado. O<br />
Carnaval é ao mesmo t<strong>em</strong>po fenômeno<br />
de manifestação popular, cultural,<br />
artística, lúdica, fator de atratividade<br />
turística, gerador de riqueza para a<br />
economia local e evento de engenharia<br />
singular e complexa. Há t<strong>em</strong>pos já<br />
devia ser objeto profundo de estudos,<br />
pesquisas e de preciosa colaboração<br />
acadêmica e profissional.<br />
Decididamente o governo João<br />
Henrique não conseguiu lidar com a<br />
Emtursa, órgão de turismo do município<br />
responsável pela interlocução e<br />
execução do Carnaval, que alternou,<br />
<strong>em</strong> três anos, quatro presidentes a saber:<br />
Pedro Galvão, Benito Gama, Everaldo<br />
Evaristo e Fernando Ferrero, o<br />
atual. Fora as especulações do que ainda<br />
está por vir. Não estabeleceu uma<br />
política clara e estável de condução<br />
dos processos. As informações sobre o<br />
custo do Carnaval são desencontradas,<br />
licitações de publicidade s<strong>em</strong> êxito,<br />
além de declarações desalentadoras sobre<br />
a imag<strong>em</strong> do Carnaval, que foram<br />
contrapostas por um brilhante artigo<br />
da ex-presidente da Emtursa, Eliana<br />
Dumet, ressaltando a importância de<br />
falar b<strong>em</strong> do que a gente t<strong>em</strong>.<br />
O governo Wagner, por sua vez, chegou<br />
b<strong>em</strong>, não cedendo a chantagens<br />
de última hora, prometendo amparar<br />
anualmente, e não às vésperas do Carnaval,<br />
grupos culturais de reconhecida<br />
atuação social <strong>em</strong> suas comunidades,<br />
Entra ano e sai ano o Carnaval de <strong>Salvador</strong> é s<strong>em</strong>pre um show de público, desorganização e falta de planejamento<br />
direcionando a TVE para mostrar um<br />
Carnaval que não recebia mais atenção<br />
da mídia, fazendo política de boa vizinhança<br />
com os governadores do Rio de<br />
Janeiro e Recife, instituindo o triângulo<br />
da folia (espero não ser o das bermudas,<br />
onde tudo desaparecia) e discutindo a<br />
possibilidade de instituir-se um grupo<br />
de trabalho integrado entre governos<br />
federal, estadual, municipal e d<strong>em</strong>ais<br />
setores da folia. Orai e confiai.<br />
Empreendedor confesso, ofereci à<br />
crítica no RODA BAIANA especial<br />
de Carnaval, a proposta da “Fundação<br />
do Carnaval”, que seria um órgão<br />
permanente de administração da festa,<br />
um caminho do meio para planejar e<br />
zelar pelo patrimônio cultural e artístico<br />
que possuímos. Todos adoraram a<br />
idéia mas, desde que não fosse no formato<br />
público-privado que propus.<br />
Ninguém se entende, mas quer<strong>em</strong><br />
que as coisas and<strong>em</strong>. Estudos, entre outros,<br />
como a arquitetura do Carnaval,<br />
do falecido acadêmico Manoel José,<br />
jogados no lixo. Vaidade, interesses<br />
pessoais, um Estado s<strong>em</strong> papel, d<strong>em</strong>agogia<br />
plena, correntes que puxam, mas<br />
não sab<strong>em</strong> onde a corda vai arrebentar,<br />
Valter Pontes<br />
teóricos de plantão, a DR (discussão<br />
da relação) falida do lúdico e do lucro<br />
onde os dois têm que sobreviver,<br />
a fantasia da diversidade na avenida e<br />
da adversidade nos bastidores de todas<br />
as tribos. Abram as cortinas e assistam<br />
ao espetáculo do fim <strong>em</strong> meio a um<br />
novo pensar necessitando com urgência<br />
da excelência e inteligência de todos.<br />
Gost<strong>em</strong> ou não, todas as correntes de<br />
pensamento precisam de atitude coletiva,<br />
esta é minha opinião e atitude<br />
pessoal constante.<br />
O jornalista Alex Ferraz escreveu<br />
na Tribuna da Bahia, logo após a folia<br />
de momo, que tudo isso como s<strong>em</strong>pre<br />
passaria e nada seria feito. Tudo seria<br />
deixado para cima da hora, novamente.<br />
A profecia está sendo cumprida.<br />
Em meados de 2007, com o Carnaval<br />
de 2008 mais imprensado dos últimos<br />
t<strong>em</strong>pos, (a festa de I<strong>em</strong>anjá, 2 de fevereiro,<br />
já será sábado de Carnaval)<br />
ninguém fez nada, efetivamente. Nenhum<br />
fórum de discussões legítimo<br />
foi estabelecido. E não o será, pelo<br />
visto. <strong>Salvador</strong> viverá, no pior estilo<br />
tragicômico, mais uma apresentação<br />
de: “NAS COXAS”. •<br />
32 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 5
Gabriela de Paula<br />
Um único hospital público com 274 leitos<br />
para dar conta do atendimento de urgência e<br />
<strong>em</strong>ergência de população de 122 municípios.<br />
Não precisa ser especialista <strong>em</strong> saúde pública<br />
para ver que há algo errado no Hospital Clériston<br />
Andrade, <strong>em</strong> Feira de Santana. A situação<br />
é tão crítica que levou, no mês passado,<br />
o Ministério Público Estadual a cogitar uma<br />
intervenção na unidade. Segundo o promotor<br />
Cristiano Chaves, que t<strong>em</strong> feito visitas regulares<br />
ao local, os probl<strong>em</strong>as mais <strong>em</strong>ergenciais<br />
são a falta de médicos, leitos e estrutura na<br />
enfermaria. Após seis meses de caos, toda a<br />
diretoria acabou no olho da rua. Mas ainda<br />
assim seria sorte nossa se o caos da saúde pública<br />
se restringisse a Feira de Santana.<br />
A situação foi agravada com o fim do contrato<br />
com a Coopamed. A cooperativa havia<br />
sido criada como meio de contratar médicos<br />
s<strong>em</strong> pagar direitos trabalhistas, desonerando<br />
os gastos governamentais mas ferindo a lei.<br />
O atual governo propôs mudar o quadro<br />
contratando, através de seleção pública, pelo<br />
Regime Especial de Direito Administrativo<br />
(Reda). Houve médico aprovado com nota<br />
oito, numa prova que valia 100. O processo<br />
de substituição de regime foi confuso e os<br />
muitos dos novos profissionais não tinham<br />
nenhuma experiência <strong>em</strong> atendimento <strong>em</strong>ergencial,<br />
que é completamente diferente da<br />
realidade do consultório.<br />
Médicos de algumas especialidades se organizaram<br />
para pressionar o governo e boico-<br />
notas da <strong>Metrópole</strong><br />
Bola 1<br />
Ninguém entendeu por que o<br />
secretário estadual da Saúde,<br />
Jorge Solla, foi escolhido para<br />
acompanhar o governador<br />
Jaques Wagner na inspeção<br />
de estádios de futebol, na<br />
Europa. Enquanto Solla via<br />
a Europa, aqui na terrinha<br />
o caos se instalava na Rede<br />
Hospitalar Estadual, com<br />
ameaça de fechamento do<br />
Hospital Clériston Andrade,<br />
<strong>em</strong> Feira Santana, por parte do<br />
Ministério Público.<br />
Saúde<br />
População paga o pato<br />
Mesmo com a contratação de médicos via Reda, população sofre s<strong>em</strong> atendimento<br />
Nas <strong>em</strong>ergências,<br />
pacientes<br />
aguardam horas <strong>em</strong><br />
ambulâncias para<br />
ser<strong>em</strong> atendidos nos<br />
corredores<br />
taram o Reda. Anestesistas, neurologistas e cirurgiões,<br />
entre outros, conseguiram barganhar<br />
um novo tipo de contrato: a terceirização. A<br />
Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) terceirizou<br />
os médicos através de um contrato de<br />
<strong>em</strong>ergência com as Obras Sociais Irmã Dulce,<br />
Bola 2<br />
Ninguém entendeu também<br />
por que o único m<strong>em</strong>bro da<br />
equipe do governo do Estado<br />
que comprovadamente entende<br />
de futebol - o superintende<br />
da Sudesb e grande craque do<br />
passado Bobô – ficou <strong>em</strong> solo<br />
baiano quando uma caravana<br />
governamental visitava estádios<br />
europeus. Bobô, inclusive,<br />
foi pouco solidário com o<br />
colega Jorge Solla, pois, já<br />
que o secretário da Saúde<br />
inspecionava campos de bola, o<br />
superintendente da Sudesb b<strong>em</strong><br />
que poderia ter feito inspeções<br />
nos hospitais da rede estadual.<br />
Valter Pontes<br />
Valter Pontes<br />
Bola 3<br />
O secretário Jorge Solla deu outra<br />
bola fora. Com o caos instalado na<br />
Saúde, ele resolveu apelar às Obras<br />
Sociais de Irmã Dulce (Osid)<br />
e à Fundação José Silveira para<br />
que essas contratass<strong>em</strong> médicos<br />
para suprir as lacunas abertas<br />
nos plantões da rede hospitalar.<br />
Os gastos com o pagamento<br />
dos médicos, através das duas<br />
entidades, estão custando aos<br />
cofres públicos até três vezes<br />
mais do que o que era pago à<br />
cooperativa médica contratada<br />
pelo governo passado, um<br />
completo desrespeito ao bolso do<br />
contribuinte.<br />
um instituição tida como séria.<br />
Durante dez dias tentamos conseguir os<br />
números oficiais com a Sesab, mas a única<br />
resposta que obtiv<strong>em</strong>os da Assessoria de<br />
Comunicação do órgão é que os dados solicitados<br />
(quantidade de plantões contratados<br />
por hospitais, t<strong>em</strong>po médio de espera para<br />
cirurgias e número de óbitos <strong>em</strong> leitos públicos<br />
este ano, entre outros) representariam<br />
uma “devassa” no órgão.<br />
M<strong>em</strong>bro da Comissão de Saúde e ouvidor<br />
da Ass<strong>em</strong>bléia Legislativa, o deputado Tarcízio<br />
Pimenta (DEM) t<strong>em</strong>e que a área de Saúde no<br />
Estado possa acabar no fosso (se é que já não<br />
está há muito t<strong>em</strong>po). Para ele, a situação que<br />
se criou com a mudança brusca e s<strong>em</strong> planejamento<br />
na contratação de médicos plantonistas<br />
levou a Saúde baiana a um estado crítico.<br />
Ele dá ex<strong>em</strong>plos da falta de preparo dos<br />
selecionados pelo Reda: “Em apenas um dia,<br />
houve sete óbitos por politraumatismo no<br />
Clériston Andrade”, conta. Pimenta afirma<br />
ainda que as estatísticas de mortes vêm sendo<br />
guardadas a sete chaves porque cresceram e<br />
muito. “Há pacientes que não chegam a fazer<br />
a ficha. Em junho, houve uma s<strong>em</strong>ana na<br />
qual oito pacientes graves morreram na porta<br />
de diversos hospitais s<strong>em</strong> receber sequer os<br />
primeiros socorros”, conta.<br />
Numa conversa entre três médicos no<br />
corredor da <strong>em</strong>ergência do Hospital Roberto<br />
Santos, flagrada pela nossa equipe de<br />
reportag<strong>em</strong>, a queixa era de que não havia<br />
ortopedista para os casos clínicos. Para atender<br />
aos estropiados que aparec<strong>em</strong> por lá era<br />
preciso chamar os especialistas que atend<strong>em</strong><br />
às cirurgias no Hospital Geral do Estado<br />
(HGE), dizia um doutor. Logo depois, outro<br />
deixa a rodinha de conversa às pressas. “Meu<br />
carro chegou”, diz, explicando que precisa<br />
ir atender a um pobre coitado que o espera<br />
no HGE, confirmando que os médicos se<br />
revezam entre as duas unidades.<br />
Bola 4<br />
Uma nova cooperativa<br />
está prestando serviços de<br />
terceirização de mão-de-obra<br />
médica para a Sesab. Trata-se<br />
da Coopermercado, que sequer<br />
possui registro no Cr<strong>em</strong>eb e<br />
cujo contrato social não prevê<br />
<strong>em</strong> suas atividades a contratação<br />
de médicos.<br />
Na porta do HGE, parentes de doentes brigam com médicos, que lutam para administrar o caos da falta de vagas<br />
No HGE, portas cerradas para manter os<br />
abelhudos longe de verificar o que acontece<br />
lá por dentro. Inúmeros ouvintes da Rádio<br />
<strong>Metrópole</strong> denunciam que há pacientes internados<br />
esperando até mais de dois meses para<br />
uma cirurgia e que há infartados, dentro de<br />
ambulâncias, esperando horas para receber<strong>em</strong><br />
os primeiros socorros. Maiores cuidados só são<br />
dedicados pelo legista.<br />
Na porta dos hospitais públicos da capital<br />
chegam ambulâncias das mais diversas<br />
partes da Bahia. Em alguns casos são seis,<br />
sete, dez horas sacolejando com uma garrafa<br />
de soro ou bolsa de sangue sendo segurada<br />
por um parente ou algum dos outros doentes<br />
que vêm de carona. Ao chegar, se chegar,<br />
o paciente não t<strong>em</strong> a menor garantia de<br />
atendimento imediato.<br />
Os doentes renais viv<strong>em</strong> a via crúcis de<br />
ir e voltar duas ou três vezes por s<strong>em</strong>ana<br />
para ter o sangue filtrado numa máquina<br />
de h<strong>em</strong>odiálise e viver um pouco mais.<br />
Qu<strong>em</strong> precisa de tratamento de câncer,<br />
por mais fraco que esteja, também precisa<br />
buscar os centros de referência da capital<br />
– o CICAN, o Centro Estadual de Oncologia<br />
ou uma das instituições filantrópicas,<br />
como o Hospital Aristides Maltez, que<br />
sofre com falta de verbas. O governo do<br />
Estado suspendeu, desde janeiro, a ajuda<br />
mensal de R$300 mil que dava à unidade e<br />
a Prefeitura de <strong>Salvador</strong> não paga as faturas<br />
devidas desde o ano passado.<br />
Averiguando uma denúncia de um ouvinte<br />
da <strong>Metrópole</strong> de que, no Roberto Santos,<br />
há meses não há cirurgias não-<strong>em</strong>ergenciais,<br />
fomos informados pelo diretor médico do<br />
hospital, Sebastião Mesquita, que a denúncia<br />
não procedia. “A nossa d<strong>em</strong>anda de pacientes<br />
é muito grande e, mesmo tendo um amplo<br />
centro cirúrgico, há procedimentos de<br />
alta complexidade que só são realizados aqui<br />
mas que d<strong>em</strong>andam uma d<strong>em</strong>ora maior”,<br />
explica. M<strong>em</strong>bros da Sesab reconhec<strong>em</strong> que<br />
o crescimento da rede pública não acompanhou,<br />
na mesma proporção, o aumento da<br />
população, por isso é urgente a necessidade<br />
de mais leitos e unidades. •<br />
34 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 35<br />
Valter Pontes
Picardia do macho<br />
pós-moderno!<br />
Primeira pincelada.<br />
Pelo Dr. Albergalhão*<br />
1. Enredantes amores, incertificantes ardores...<br />
Segundo o <strong>em</strong>inente pensador anarquista<br />
baiano Ricardinho Lipper, a Pós-Moderrnidade<br />
radicalizou a fiofó-losofia espontânea<br />
dos Machos Pegadores do Tororó: idéia de<br />
“que bundinha não t<strong>em</strong> sexo, n<strong>em</strong> cabeça de<br />
chapuleta teria juízo”.<br />
Ou, como canta o pós-lascador<br />
forrozeiro Renatinho Féquissinho<br />
(tripa-grossa da bandinha taradinha<br />
Jegue Viúvo): “a minha<br />
Mimosinha é s<strong>em</strong>pre inocentinha;<br />
e este Monstro-Feiúdo-da-<br />
Cabeça-Redondona-Lascadano<br />
Meio que me persegue<br />
noite e dia é cego, surdo e<br />
mudo – e mais s<strong>em</strong>-noção<br />
que Zezinho Binho”.<br />
Sábias palavras destes<br />
s<strong>em</strong>elhantes colhudões! Pois<br />
nossas Partinhas Palpitosinhas<br />
costumam se meter (ou<br />
ser<strong>em</strong> metidas, até o talo!) <strong>em</strong><br />
confusões das mais cabeludas.<br />
S<strong>em</strong> que a mal-enganada<br />
cabeçorra de cima seja<br />
muito responsável<br />
pelas lambanças<br />
da descabeladinha<br />
de baixo...<br />
Incongruentes <strong>em</strong>brulhadas concupiscentes<br />
que tanto estranhávamos antigamente...<br />
Mas que terminaram se revelando muito<br />
naturais na atual “era da ambivalência”, t<strong>em</strong>po<br />
das “desidentidades líquidas”, do “politeísmo<br />
dos valores”, dos “poliamores-<strong>em</strong>-rede”<br />
(transbordantes de “incertos poliardores”),<br />
do “neo-borboletismo desejante”, da “confusão<br />
dos gêneros e das orientações sexuais”,<br />
etc. -- como diz<strong>em</strong> pernosticamente os<br />
cabeções globais. E como repet<strong>em</strong>, apapagaiadamente,<br />
os bundões locais (à maneira<br />
fuleira do próprio palhacento Eruditão-de-<br />
Província, Dr. Albergalhão).<br />
Ninguém mais conseguindo separar o que<br />
É do que PARECE SER nesta escorregadia<br />
“cultura do simulacro” ambiente. N<strong>em</strong><br />
mesmo um manhoso mancebo da parecença<br />
do linguarudo Zé – Será-Que-É? – Eduar-<br />
do agüentando mais identificar o tipo de<br />
paudurismo ou de bundamolismo dos seus<br />
Aloprados Personagens. Pois, depois que ele<br />
se enxodozou pela bela menina-menino Leocrete,<br />
não se arrisca mais a soltar seu bocão<br />
- espalhando pela cidade que fulano é Meigo<br />
(meio-gay), que beltrano é Ivanildo (gay esquêlcido),<br />
que sicrano é Wanderley (o que<br />
não sabe que é gay), que aquele jornalista<br />
asconista é Araquém (macho de araque), ou<br />
que Reginaldo Rôlenfio é peludão quando<br />
está peladinho no quartinho...<br />
“Até os veadômetros das nossas tramoientas<br />
tevês ficaram completamente desregulados”<br />
– afirma o f<strong>em</strong>eeiro gazeteiro Pablito<br />
Reis -- diretor de estúdio, camarim e motel<br />
dos programistas Zé Eduardo e Zé Binho (do<br />
programa “Me Liga Brocão!”).<br />
2 Veadismos gaiatamente falados, soltamente<br />
brincados, quiçá gozosamente<br />
furunfados.<br />
Assim, tornou-se impossível<br />
comprovar tanto o exibido 100%<br />
de monossexualismo HETERO<br />
dos Caceteiros Machudões<br />
quanto o não menos afetado<br />
100% de monossexualismo<br />
HOMO dos Arteiros Jeitosinhos<br />
(aqueles rapazes<br />
alegres que chamávamos de<br />
Francisquinhos e Salta-Pocinhas<br />
outrora). Monotipos<br />
sexuais integrais que são cada<br />
vez mais figuras excepcionais<br />
nas ruas, residuais mesmo no<br />
florido ecossist<strong>em</strong>a partidário do<br />
PV de Juquinha. Neste caso, não<br />
havendo como contabilizar<br />
os 10% de salsinhas<br />
purinhos & durinhos<br />
da nossa Veadolândia<br />
Soteropolitana – que<br />
superpovoariam a supositória<br />
“cidade mais gay do Brasil” de que fala<br />
o Metelão Luizão Mott (Hard Lover que é um<br />
famoso arrombador de armários e cofrinhos!).<br />
O fato é que nossa s<strong>em</strong>pre duvidosa Bahia<br />
(com “Gê” na frente do “Hagá”?) não é b<strong>em</strong><br />
uma afrodisíaca Sodoma Afro-Americana –<br />
representa apenas uma rabada tropical, das<br />
mais pitorescamente extrovertidas, da imensa<br />
Babilônia Multissexual Ocidental que nos engloba.<br />
Pois há muito que o veadismo deixou<br />
Citações, Excitações (Mentais)...<br />
“Indócil liberdade deste m<strong>em</strong>bro viril, ingerindo-se tão inoportunamente<br />
quando não t<strong>em</strong>os o que fazer & falhando tão vergonhosamente<br />
quando precisamos dele; desrespeitando tão imperiosamente<br />
a autoridade da nossa Vontade, recusando com tanta obstinação<br />
nossas solicitações tanto mentais quanto manuais”.<br />
“Somos todos construídos de partonas soltonas & partinhas desconjuntadinhas,<br />
E de uma contextura tão informe e diversa que cada<br />
bocado de nós, a cada momento, faz seu jogo a culhão. Daí ser tão<br />
grande a diferença que existe entre eu e mim mesmo, quanto entre<br />
eu e o taradim que está a fim de mim.”<br />
de ser, propriamente, “coisa de veado” entre<br />
os nativos – <strong>em</strong>bora continue rolando solto<br />
no esparrame dos nossos borocotós & pirambeiras<br />
suburbanas, nas faculdades de comunicação,<br />
nas revistas chiquinhas, até.<br />
Borboleteante frutismo - não tanto rosinha<br />
ou verdinho (como no PV) mas esparralhadamente<br />
furta-cor - dos nossos roludos “cabras<br />
safados” que têm uma longa enrolada história.<br />
E que não se resume aos pagãos deleites dos<br />
berdaches tupinambás, n<strong>em</strong> às pecaminosas<br />
delícias dos fanchonos e falsos-ao-corpo “do<br />
t<strong>em</strong>po dos afonsinhos” (eles também eram?).<br />
Pois se trata de um gosto difuso – mais<br />
linguarudamente brincante & festivamente<br />
pulante que seriamente atochant<strong>em</strong>ente<br />
copulante - reproduzido pela espicaçada<br />
macharada da terra desde s<strong>em</strong>pre; um malicioso<br />
entretenimento s<strong>em</strong>pre b<strong>em</strong> socializado<br />
entre os menininhos nada inocentinhos<br />
& velhotes velhacões da terra. Só que agora<br />
a lambança se acelerou também entre os<br />
mais respeitáveis pais-de-família! Muitíssima<br />
gente boa comendo gato por lebre,<br />
confundinho jacaré com lagartixa, tratando<br />
cobrona como minhoquinha, assoprando<br />
apitinho de mocinha como se tivesse lambiscando<br />
pirulitinho de travequinha!<br />
Os nossos (e vossos!) tantos impermanentes<br />
seres & errabundos quereres – <strong>em</strong>baralhadamente<br />
putanheiros, punheteiros, florzinheiros,<br />
frutinheiros, galheiros – rolando furtivamente<br />
nas entrepernas do Certo & do Errado, do<br />
Habitual & do Inesperado, do Apresentável<br />
& do Desejável. O Viadável tornando-se mais<br />
Viável até para os Janjões Beatões!<br />
Desgoverno? Depravação? Malucação?<br />
Não, não! Apenas a potencialização, no mundinho<br />
humano-baiano dos nossos supostos<br />
filhos, de um revivificado tipo de sensibilidade<br />
Perini Graça.É muito<br />
mais do que você esperava.<br />
Um dos centros gastronômicos mais modernos do mundo.<br />
Cornografia do finado franciú Montaigne (séc. XVI) – ele falando<br />
da retorcida condição humana <strong>em</strong> geral e da incoerência natural<br />
dos nossos desejos. Ex<strong>em</strong>plificando, <strong>em</strong> especial, com a caprichosa<br />
indocilidade do humanal pingolim (“monsieur ma partie”), conjuntamente<br />
com a do nosso não menos rebelde fiofó (“son dit consort”,<br />
“son compagnon”). Partinhas cúmplices no seu viver “ordinariamente<br />
indiscreto e tumultuário”...<br />
- talvez mais incertificante e arriscada; mas,<br />
também, mais leve, jovial e compreensiva que<br />
a dos nossos presumidos pais (já incluindo os<br />
mais r<strong>em</strong>otos fucking fathers do multissexuado/multissafado<br />
povo baiano <strong>em</strong> geral).<br />
E t<strong>em</strong> mais. Na próxima crônica estarei<br />
dando uma segunda viril pincelada no<br />
assunto – já tratando mais da importância<br />
da Vadiag<strong>em</strong> <strong>em</strong> geral que da Viadag<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />
particular nesta Bahia-de-Todos-os-Enganos<br />
(e de todos os cornistas, digo, cronistas talqualmente<br />
enganosos...).<br />
*O Dr. Albergalhão é um estudioso da desidentidade<br />
& desnatureza humana-baiana; e<br />
cornografou a presente arenga com absoluta isenção<br />
– atuando na sua condição de sapiente abstinente<br />
sexual (um “donzelão encruadão, mofino<br />
no tesão e só libertino no palavrão”, segundo as<br />
más-línguas da fuxiquenta Redação) •<br />
Projetada com o que há de mais<br />
moderno no mundo, a Perini Graça<br />
inova na estrutura, nos equipamentos<br />
e na ambientação. São 3.000m² de loja<br />
para você fazer suas compras com mais<br />
conforto e tranqüilidade. Com exclusivo<br />
sushi bar, butique de carnes e<br />
peixaria, <strong>restaura</strong>nte buffet, café da<br />
manhã, doceria e estacionamento<br />
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ainda não conhece, venha conhecer.<br />
É muito mais do que você esperava.<br />
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36 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 37
Álvaro Figueiredo<br />
notas da <strong>Metrópole</strong><br />
A arquitetura e os equipamentos de<br />
lazer de uma cidade diz<strong>em</strong> muito sobre a<br />
qualidade de vida de sua população. Se esta<br />
é uma verdade, o bom viver dos soteropolitanos<br />
beira a merda. A degradação de áreas<br />
sociais, praças e monumentos históricos<br />
é visível, e n<strong>em</strong> as estátuas e bustos que<br />
enfeitam os poucos jardins da cidade estão<br />
salvos do descaso e do abandono.<br />
Na Piedade, o busto do mártir alfaiate<br />
Manoel Fautino dos Santos Lira sumiu.<br />
Na Fonte Nova, a estátua de Pelé foi mutilada<br />
- ficou s<strong>em</strong> braços - e a Sudesb,<br />
órgão estadual responsável pelo estádio,<br />
retirou-a do local para evitar que levass<strong>em</strong><br />
a cabeça, o tronco, as pernas e a bola.<br />
Além disso, das 24 fontes luminosas que<br />
enfeitavam <strong>Salvador</strong>, apenas a da Praça da<br />
Sé funciona regularmente.<br />
No Centro Histórico, apesar de muitas<br />
reformas, as décadas de abandono e<br />
descaso estão provocando a ruína dos<br />
casarões e até mesmo das fachadas que<br />
ainda restam. Isso b<strong>em</strong> <strong>em</strong>baixo dos narizes<br />
do prefeito e dos vereadores, cujos<br />
locais de trabalho estão localizados na<br />
mesma área, a Praça Tomé de Souza.<br />
Por falar <strong>em</strong> Praça, a dos Veteranos,<br />
que fica <strong>em</strong> frente ao quartel do Corpo<br />
de Bombeiros, na Baixa dos Sapateiros, é<br />
um dos ex<strong>em</strong>plos claros do descaso. Não<br />
há bancos n<strong>em</strong> vegetação de monta, o<br />
piso está se soltando, e os desocupados<br />
e usuários de drogas passam o t<strong>em</strong>po<br />
Assassinaram<br />
Morreu o antropólogo, escritor<br />
e colaborador da <strong>Metrópole</strong>,<br />
Antonio Risério. Pelo menos<br />
foi o que divulgou o Boletim<br />
Informativo da Secretaria<br />
Municipal de Reparação<br />
(S<strong>em</strong>ur). Risério, que ao<br />
contrário do que diz a nota está<br />
muito vivo, soube do seu próprio<br />
falecimento através do fundador<br />
do Badauê, Geraldo Babá.<br />
Este sim, quase morre de susto<br />
quando ligou para a residência<br />
do “falecido” para saber sobre<br />
o velório e foi atendido pelo<br />
próprio “defunto”.<br />
De novo<br />
Ao perceber o equívoco do<br />
antecipado anúncio da morte<br />
de Antônio Risério, a S<strong>em</strong>ur<br />
publicou <strong>em</strong> seu boletim uma<br />
errata, atestando que qu<strong>em</strong><br />
morrera fora Antonio Vieira.<br />
Isso a Bahia toda já sabia. Foi<br />
no século 17.<br />
abordando pedestres, pedindo dinheiro,<br />
pra comer ou “pra dar um pau”.<br />
Se o quadro é assim próximo à prefeitura,<br />
imagine no resto da cidade. Na Cidade Baixa,<br />
os largos do Papagaio, de Roma e da Madragoa<br />
estão na mesma situação que a Praça dos<br />
Veteranos, a diferença é que a quantidade de<br />
pedintes e doidões é menor.<br />
<strong>Salvador</strong> é a primeira capital do País e<br />
a cidade com o maior e mais antigo acervo<br />
arquitetônico da colonização portuguesa,<br />
mas que hoje desaparece aos poucos <strong>em</strong><br />
desabamentos que a estação das chuvas<br />
agrava a cada ano. Sociólogo e mestre <strong>em</strong><br />
antropologia, o escritor e poeta Antônio<br />
Risério defende idéias radicais para a ci-<br />
Nocaute<br />
O ex-campeão mundial de<br />
boxe, Acelino Popó de Freitas,<br />
se prepara para o seu mais duro<br />
combate. Recém-<strong>em</strong>possado<br />
na Secretaria Municipal de<br />
Esportes e Lazer (Smel), Popó,<br />
que é um hom<strong>em</strong> sério, terá que<br />
enfrentar a bagunça e a falta<br />
de recursos que caracterizam a<br />
administração municipal para<br />
realizar um trabalho que esteja<br />
à sua altura na Smel. Há qu<strong>em</strong><br />
garanta que ele joga a toalha até<br />
o final do ano.<br />
Cidade<br />
Monumento ao abandono<br />
Praças, parques, estátuas e fontes luminosas retratam o descaso com a cidade<br />
Estátua de Pelé, na entrada da Fonte Nova, foi r<strong>em</strong>ovida após ter os braços roubados<br />
Valter Pontes<br />
dade e acredita que não é mesmo possível<br />
manter a população atual ocupando<br />
o velho Centro Histórico. “É caro, uns<br />
oito escravos seriam necessários pra fazer<br />
a limpeza e manutenção diária de um casarão<br />
como a Casa de Jorge Amado (no<br />
Pelourinho)”, diz ele.<br />
Para Risério, que está concluindo um<br />
trabalho exatamente sobre a vida nas cidades,<br />
o uso social coerente do Centro<br />
Histórico é complicado. Ele entende que<br />
a ocupação social deve ser b<strong>em</strong> pensada.<br />
“A favelização de <strong>Salvador</strong> expulsou a classe<br />
média das praças e logradouros, mas<br />
ainda é mais seguro estar à noite no pau<br />
da bandeira que sozinho numa parada de<br />
M<strong>em</strong>ória<br />
A m<strong>em</strong>ória do brasileiro é,<br />
definitivamente, curta. Apenas<br />
um mês se passou e parece<br />
que ninguém mais l<strong>em</strong>bra<br />
de assuntos como Navalha,<br />
Gautama, Zuleido Veras e os<br />
R$140 mil <strong>em</strong> dinheiro vivo<br />
encontrados pela Polícia Federal<br />
na casa do prefeito de Camaçari,<br />
Luís Caetano (PT). Até a loira<br />
do Audi TT voltou a freqüentar<br />
as aulas na Unifacs. S<strong>em</strong> o<br />
possante, que continua recolhido<br />
na Polícia Federal.<br />
ônibus do Iguat<strong>em</strong>i”, analisa. Para ele, a<br />
ocupação social das favelas é exatamente<br />
uma das saídas para a violência. “Se houver<br />
birosca e área de baba nas favelas, a pressão<br />
social diminui”, avalia.<br />
Uma das propostas do cientista social,<br />
que certamente vai gerar polêmica, é adotar<br />
o uso de teleféricos (bondinhos) para todas<br />
as grandes encostas de <strong>Salvador</strong>: “Outro<br />
dia experimentei um pra acessar o hospital<br />
Sarah. É barato, prático, moderno e bonito.<br />
A classe média e a população de baixa<br />
renda iriam adorar”.<br />
Risério diz que <strong>Salvador</strong> t<strong>em</strong> projetos<br />
maravilhosos, como o do próprio Aeroclube,<br />
que foi relegado a segundo plano,<br />
e destaca que a beleza singular do traçado<br />
irregular acentua o potencial turístico da<br />
cidade. “É preciso l<strong>em</strong>brar que a cidade<br />
colonial não era arborizada e as árvores até<br />
estragam a vista. Na Praça Municipal, por<br />
ex<strong>em</strong>plo, existe uma árvore que desfigura<br />
a vista do prédio da Câmara”. Outro probl<strong>em</strong>a,<br />
segundo ele, é que as pessoas foram<br />
expulsas dos espaços públicos, saíram das<br />
calçadas dos seus bairros.<br />
Apesar das belas árvores, da biblioteca<br />
Monteiro Lobato, que esteve fechada<br />
até recent<strong>em</strong>ente, e da proximidade com<br />
o tradicional Colégio Salesiano, na Praça<br />
Almeida Couto, mais conhecida como Jardim<br />
de Nazaré, não há o que fazer além<br />
de andar a pé olhando a copa das árvores,<br />
pois os bancos que exist<strong>em</strong> são poucos e<br />
não dão n<strong>em</strong> para os alunos no fim do expediente<br />
escolar. Não t<strong>em</strong> pra onde correr<br />
ou se abrigar <strong>em</strong> nossas praças.<br />
N<strong>em</strong> mesmo matar a sede <strong>em</strong> uma de<br />
nossas belas fontes históricas o cidadão<br />
pode fazer s<strong>em</strong> medo de contaminação ou<br />
assalto. A Fonte Nova, que fica na ladeira<br />
de mesmo nome, só serve para lavar carro e<br />
refrescar desocupados e usuários de drogas<br />
Na Piedade, o busto do herói alfaiate Manoel Faustino dos Santos Lira<br />
foi arrancada, ficando apenas o pedestal<br />
que ali batalham pelos trocados. “Polícia<br />
aqui, moço, só <strong>em</strong> dia de jogo, e olhe lá.<br />
Foi assim que tiraram os braços da estátua<br />
de Pelé, pra derreter e comprar droga com<br />
o dinheiro do metal, mas eu não tava no<br />
dia não”, conta Ligalaite, um dos moradores<br />
de rua que freqüenta o local.<br />
A Sumac é o órgão municipal responsável<br />
pelos monumentos e divide com<br />
outros órgãos os cuidados com as fontes<br />
e jardins municipais. Com orçamento de<br />
apenas R$11 milhões por ano para cuidar<br />
de toda <strong>Salvador</strong>, incluindo obras de pavimentação<br />
e drenag<strong>em</strong>, não sabe ainda<br />
que prioridades atacar na recuperação das<br />
fontes urbanas da cidade. “A Fundação<br />
Gregório de Mattos está elegendo, pela<br />
relevância histórica, a ord<strong>em</strong> de <strong>restaura</strong>ção<br />
das 24 fontes da cidade, e <strong>em</strong> breve<br />
dev<strong>em</strong>os iniciar a recuperação das cinco<br />
primeiras”, anuncia o superintendente<br />
do órgão, Wellington Pereira. Um início<br />
pouco tardio para uma administração municipal<br />
que já entrou no seu 31º mês.<br />
A Superintendência de Parques e Jardins<br />
(SPJ), que como o nome indica, deveria cuidar<br />
desses logradouros, também encontra dificuldades<br />
para realizar sua função. Segundo<br />
o órgão, <strong>Salvador</strong> conta com 465 praças e<br />
166 hectares de área verde, distribuída pelos<br />
jardins públicos e parques urbanos, a ex<strong>em</strong>plo<br />
do São Bartolomeu e o da Cidade. Na<br />
atual gestão, 221 praças foram recuperadas<br />
ou construídas com recursos da SPJ, que<br />
dispõe de uma verba anual de aproximadamente<br />
R$ 3,5 milhões. Outras 112 praças<br />
foram recuperadas através do “Programa<br />
Nossa Praça”, viabilizado por uma Parceria<br />
Público-Privada. Mas a população não está<br />
satisfeita: “A situação é a mesma, aqui como<br />
lá <strong>em</strong>baixo”, diz a doméstica Francisca Silva,<br />
43, que trabalha na Barra e mora no Uruguai.<br />
Segundo ela, o que se vê nas praças públicas<br />
dos dois bairros são desocupados, usuários e<br />
traficantes de drogas: “Ninguém é doido de<br />
deixar os meninos brincar<strong>em</strong> nesses lugares.<br />
Qu<strong>em</strong> tiver seu filho, deixe dentro de casa”,<br />
aconselha. “Depois, não t<strong>em</strong> nada pra fazer<br />
nessas praças mesmo, n<strong>em</strong> bola n<strong>em</strong> brinquedos<br />
n<strong>em</strong> bancos”, acrescenta. •<br />
38 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 39<br />
Valter Pontes
Por André Teixeira<br />
notas da <strong>Metrópole</strong><br />
Crônica<br />
A Quinta dos Inferno<br />
Qu<strong>em</strong> não conhece o Vale dos Indigentes, n<strong>em</strong> faz questão<br />
de conhecer, o lugar está localizado no pequeno despenhadeiro<br />
à esquerda do c<strong>em</strong>itério de Quinta dos Lázaros, na Baixa de<br />
Quinta. T<strong>em</strong> tamanho de dois campos de futebol profissional,<br />
com centenas de cruzes de cimento, brancas, com cerca de 50<br />
cm cada, espalhadas sobre as covas rasas que desc<strong>em</strong> tortas na<br />
vertical até os quintais dos barracos construídos irregularmente<br />
no terreno da necrópole. S<strong>em</strong> saneamento algum. Qu<strong>em</strong><br />
chega na Vala respira doença e miséria. Quando o t<strong>em</strong>po<br />
está bom sente-se o odor abafado de terra podre. Quando<br />
chove, a depender do aguaceiro, a<br />
enxurrada desenterra os defuntos,<br />
fazendo com que crânios, troncos<br />
e m<strong>em</strong>bros apareçam, rol<strong>em</strong><br />
e par<strong>em</strong> no fundo dos casebres.<br />
Bom para os cachorros. E para<br />
Umulum, o chefe do povo dos<br />
c<strong>em</strong>itérios da Quimbanda. São<br />
Lázaro, para os católicos.<br />
Não custa caro morrer se<br />
você for sepultado <strong>em</strong> Quinta<br />
dos Lázaros, a depender do lugar<br />
que seja enterrado. No chão, com<br />
ou s<strong>em</strong> os indigentes, é de graça,<br />
e nas carneiras, que pertenc<strong>em</strong> a<br />
entidades diversas, o custo fica <strong>em</strong> torno de<br />
R$300. Aceita cartão Visa. Cada carneira é<br />
dividida por uma placa de cimento de no máximo 4,0 cm de<br />
espessura com 2,5 m de profundidade. O contrato de locação<br />
deste equipamento é de três anos, a partir daí, os restos mortais<br />
dev<strong>em</strong> ser retirados e devolvidos à família. Os caixões, que são<br />
vendidos pelas funerárias do bairro, ficam entre R$280 (de compensado)<br />
e R$4 mil, mas pod<strong>em</strong> chegar a R$15 mil <strong>em</strong> outras<br />
funerárias da capital baiana. Tamanho, peso, adornos, vidro, com<br />
visor ou s<strong>em</strong>, e madeira, normalmente de lei, aumentam o valor<br />
Solução<br />
“Seria muito bom se apenas um<br />
deputado e um senador pegass<strong>em</strong><br />
febre aftosa, pois assim teríamos<br />
que sacrificar o rebanho todo”.<br />
Frase de Jonny Souza, ouvinte<br />
<strong>Metrópole</strong>.<br />
Capador<br />
Se uma das funções da<br />
Superintendência de Parques<br />
e Jardins é cortar madeira, o<br />
novo titular do órgão traz essa<br />
habilidade no nome: Evandro<br />
Castro Pinto.<br />
do féretro. Além é claro dos serviços funerários. No caso de<br />
Quintas, o velório é de R$80, mas a família pode velar o defunto<br />
coletivamente s<strong>em</strong> pagar nada numa das seis pedras mortuárias<br />
disponíveis. A capelinha também é de graça, sendo que neste<br />
caso, os parentes só pod<strong>em</strong> ficar 20 minutos no ambiente. “São<br />
muitos enterros por dia”, diz Raimundo Teixeira, funcionário<br />
do c<strong>em</strong>itério, “por isso não pode d<strong>em</strong>orar”. Fora as flores e os<br />
santinhos - que não vi, n<strong>em</strong> recebi nenhum enquanto acompanhava<br />
os funerais – o séqüito termina por<br />
aí. No caso dos indigentes, o enterro é no<br />
chão, e a responsabilidade é da Secretaria<br />
de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), que<br />
deposita o lixo humano - cerca de quatro<br />
a cinco bonecos por s<strong>em</strong>ana - s<strong>em</strong>pre<br />
nas quartas e quintas-feiras, na vala<br />
reservada exclusivamente para eles<br />
- jovens e velhos. Todos decrépitos.<br />
Um “umbral”, diriam os espíritas.<br />
Vindos do Instituto Médico Legal<br />
Nina Rodrigues (IML). “Cuidado<br />
que o bicho pega se você for<br />
pra lá. Ali só vou pra te enterrar”,<br />
desdenhava um funcionário do c<strong>em</strong>itério<br />
com a minha ida à quadra<br />
dos mendicantes, que t<strong>em</strong> cenário<br />
digno dos horrendos filmes do cineasta<br />
José Mojica Marins, o Zé do<br />
Caixão. E o que é pior, abandonados<br />
justamente por aqueles que mais lucraram e<br />
lucram com a miséria humana: as congregações de Deus. Que<br />
não têm responsabilidade alguma, diga-se de passag<strong>em</strong>, com o<br />
que acontece no terreno ao lado.<br />
Se os indigentes conheceram o inferno <strong>em</strong> vida, confirmaram<br />
a existência dele <strong>em</strong> Quinta dos Lázaros. Segundo a<br />
Sesab, “os sepultamentos normais de adultos <strong>em</strong> covas rasas<br />
só voltam a ser realizados no dia 1º de set<strong>em</strong>bro”. O órgão<br />
diz ainda que a suspensão é exclusiva para sepultamentos de<br />
adultos e que o serviço continuará sendo prestado para o enterro<br />
de crianças de até três anos e para os miseráveis. Ruim<br />
com, pior s<strong>em</strong> ele. O Quinta está com a capacidade esgotada,<br />
e para piorar a situação dos defuntos faltam espaços no<br />
chão, para os pobres. Até a determinação da secretaria, eram<br />
feitos de 25 a 30 sepultamentos por dia. Agora são 15. Diz<br />
a prefeitura de <strong>Salvador</strong> que os dez c<strong>em</strong>itérios do<br />
município dispõ<strong>em</strong> de 2.800 covas, e estão<br />
<strong>em</strong> condições de efetuar os sepultamentos<br />
que normalmente são realizados <strong>em</strong> Quinta<br />
dos Lázaros. Verdade. Até porque ser enterrado<br />
nos c<strong>em</strong>itérios do município não é<br />
difícil. Basta jogar o corpo <strong>em</strong> um buraco.<br />
O c<strong>em</strong>itério de Brotas, por ex<strong>em</strong>plo, um dos<br />
mais importantes da cidade, junto com o de<br />
Plataforma, além de ser feio – a preguiça impede<br />
a construção de jardins - t<strong>em</strong> entulho, lixo, mato,<br />
duas árvores e três funcionários trabalhando por turno<br />
- sendo que no dia que a reportag<strong>em</strong> resolveu visitar o<br />
local, às duas horas da tarde, um dos coveiros estava<br />
dormindo na capela do c<strong>em</strong>itério, (maldade, tinha<br />
acabado de rangar), o outro, o administrador, se<br />
encontrava <strong>em</strong> casa, e o terceiro, do nada, começou a<br />
limpar o terreno – uma hora depois - quando me viu avaliando<br />
as condições do ambiente. De acordo com o gerente - que não<br />
quis responder às minhas perguntas - ele foi ameaçado pela<br />
Secretaria Municipal de Serviços Públicos (Sesp), de exonera-<br />
ção caso dissesse alguma coisa contra o c<strong>em</strong>itério de Brotas.<br />
Ninguém abriu o bico. Só a moça de aparência funesta e suja,<br />
que acordou incomodada ao perceber minha aproximação no<br />
fundo do c<strong>em</strong>itério. Tinha todos os dentes da boca. Bonita,<br />
se não foss<strong>em</strong> os sinais de loucura e o abandono. Dormia<br />
sobre papelões. Assustada. Aos gritos, e com um pau na mão,<br />
exigia que saíss<strong>em</strong>os de perto, dizendo que não devia<br />
satisfação a ninguém. “Eu não quero conversa.<br />
Não se meta <strong>em</strong> assuntos de maçonaria”, berrava.<br />
Perguntamos se morava ali. Morava. Mas não disse.<br />
E se fazia trabalhos de magia “negra” no lugar.<br />
Ninguém sabe. Não respondeu. Mas é comum,<br />
pelo menos uma vez por mês, ver o c<strong>em</strong>itério<br />
invadido por quimbandeiros para a feitura<br />
de despachos com ossos humanos. “Antes<br />
era pior”, l<strong>em</strong>brava uma senhora, enquanto<br />
via o sepulcro do marido. Poucos tão b<strong>em</strong><br />
cuidados como aquele. Tinha lápide. O resto,<br />
na sua maioria, só números. À noite, além das almas -<br />
se existir<strong>em</strong> – só essa moça-zumbi dorme neste “campo<br />
santo”. Que t<strong>em</strong> destino igual ao nosso, é verdade. A<br />
morte. A diferença é que no dia que ela conseguir sair<br />
do mundo dos vivos, vai para Vala dos Indigentes. Porque<br />
no de Brotas o enterro custa R$12,88 para adulto. Ou a<br />
menos que alguém acredite <strong>em</strong> milagre e ela seja enterrada ou<br />
cr<strong>em</strong>ada no Jardim da Saudade, num belo caixão de madeira<br />
talhada, com flores, adornos, vidro fumê, padre... •<br />
40 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 41
42<br />
Pingue-pongue<br />
Ivete<br />
Sangalo<br />
Ela é considerada um dos maiores<br />
expoentes da música baiana, com uma<br />
carreira de projeção internacional.<br />
Conhecida pela energia positiva que<br />
transmite e por s<strong>em</strong>pre dizer o que pensa,<br />
Ivete Sangalo esteve na <strong>Metrópole</strong> e bateu<br />
um papo com Chico Kertész e Faustão, que<br />
<strong>em</strong>bevecidos na tietag<strong>em</strong> produziram este<br />
ex<strong>em</strong>plo de jornalismo do b<strong>em</strong><br />
<strong>Metrópole</strong> – O show do<br />
Maracanã, no qual foi gravado<br />
o DVD, teve alguma coisa de<br />
especial <strong>em</strong> relação aos outros?<br />
Ivete - Tudo. Quer dizer,<br />
não dá pra comparar nenhum<br />
show com outro. Pode ser<br />
maior, pode ser grande,<br />
pequeno, pode ter uma<br />
infra-estrutura incrível, pode<br />
não ter, porque não é isso<br />
que dimensiona o valor do<br />
espetáculo. Eu vou <strong>em</strong> alguns<br />
lugares, por ex<strong>em</strong>plo, que não<br />
têm condições de assumir a<br />
estrutura de um grande show,<br />
mas que as pessoas estão<br />
dispostas a ver o show e curtir a<br />
música, e eu disposta a cantar.<br />
Agora, por trás desse show do<br />
Maracanã aconteceram muitas<br />
coisas. Principalmente porque<br />
teve a expectativa de cantar<br />
num lugar <strong>em</strong>bl<strong>em</strong>ático pro<br />
Rio de Janeiro e pro Brasil.<br />
A energia lá é de vitórias, de<br />
com<strong>em</strong>oração, de alegria. É um<br />
palco de <strong>em</strong>oções. Aí quando<br />
sugeriram que eu fizesse esse<br />
show, eu falei: loucura total,<br />
mas vamos nessa.<br />
<strong>Metrópole</strong> - Você ficou<br />
com medo de não encher o<br />
‘Maraca’?<br />
Ivete – Não, porque se<br />
não tivesse enchido seria<br />
totalmente compreensível.<br />
É um espaço muito grande.<br />
É uma tolice esse negócio<br />
de encher. Mas terminou<br />
ficando lindo. O estádio<br />
repleto de gente. Muitas<br />
pessoas ali nunca tinham ido<br />
ao Maracanã. Os meus fãs de<br />
<strong>Salvador</strong> fizeram caravanas,<br />
não sei quantos ônibus. E<br />
ainda teve a onda da galera<br />
pisar no campo do Maracanã,<br />
não é velho? E t<strong>em</strong> mais. Na<br />
hora, não dá pra estagnar as<br />
<strong>em</strong>oções. A supervalorização<br />
do “eu”, de cada um se gostar<br />
e ter auto-estima é uma coisa.<br />
Você pré determinar o que<br />
você vai sentir e reagir, isso já<br />
é loucura. Então eu acreditei<br />
no projeto, junto com vários<br />
profissionais. É claro que<br />
eu não estou sozinha nisso,<br />
né? Muita gente acreditou,<br />
inclusive, e mais do que todo<br />
mundo, o público ali presente.<br />
Então, você acredita que é<br />
possível. Mas você não pode<br />
dimensionar o que vai sentir e<br />
dizer na hora. Eu disse assim:<br />
“Vocês vieram mesmo, né?”<br />
Não é que seja impossível<br />
aquela quantidade de pessoas,<br />
mas é inimaginável. Meu<br />
carro quase não chega. Eu<br />
me arrepio quando l<strong>em</strong>bro.<br />
Pô, Samuel Rosa chegou<br />
a meu camarim e disse:<br />
“Negona, t<strong>em</strong> fila rodando<br />
o Maracanã”. Pô Samuel,<br />
que coisa maravilhosa, toda<br />
arrepiada. Ele: “Minha irmã,<br />
que onda.” Alejandro Sanz<br />
olhou pra mim antes de entrar<br />
no palco, apertou minha mão<br />
e disse: “Você não me disse<br />
que ia ser isso, não”. “Oh<br />
negão, n<strong>em</strong> eu sabia, como é<br />
que eu ia lhe dizer?”<br />
<strong>Metrópole</strong> - Mudando um<br />
pouco de assunto, diz aí quantos<br />
<strong>em</strong>pregos diretos o negócio “Ivete<br />
Sangalo” gera?<br />
Ivete - Oh, pressão. Vai<br />
Riquelme. Quantos <strong>em</strong>pregos<br />
ele gera? Estou revendo isso.<br />
Não, assim, <strong>em</strong> números exatos<br />
eu não posso lhe falar. Exist<strong>em</strong><br />
formas de <strong>em</strong>prego direto.<br />
São as pessoas que trabalham<br />
diretamente na <strong>em</strong>presa. T<strong>em</strong> a<br />
parte do financeiro, a parte do<br />
marketing, a parte de design.<br />
Porque a <strong>em</strong>presa hoje, a<br />
Caco de Telha, t<strong>em</strong> objetivos<br />
coerentes de imag<strong>em</strong>, ela<br />
“Um momento como cantar<br />
Chupa Toda com Bono Vox<br />
não vai ser repetido”<br />
trabalha com uma artista hoje<br />
que a gente t<strong>em</strong> uma carreira até<br />
internacional. Quer dizer, são<br />
muitos. Eu tenho uma imag<strong>em</strong><br />
associada a muitos produtos<br />
conhecidos nacionalmente, são<br />
de multinacionais. Isso tudo<br />
gera contratação de profissionais<br />
também de muita qualidade.<br />
Aí t<strong>em</strong> a minha banda, t<strong>em</strong> os<br />
produtores que trabalham com<br />
a banda. Enfim, t<strong>em</strong> o selo que<br />
é a Caco Discos – agora mesmo<br />
o DVD foi gravado pela Caco<br />
Discos e o DVD de Netinho<br />
também. E por aí vai. Isso tudo<br />
requer um aparato profissional<br />
muito grande. T<strong>em</strong>os área de<br />
assessoria de imprensa. T<strong>em</strong>os<br />
a editora. Enfim, coisas que<br />
estão coerentes com a minha<br />
caminhada. T<strong>em</strong>os a Caco de<br />
Telha, a CT2, que cuida de<br />
outros artistas. Então eu não<br />
posso dizer a você: olha, eu tenho<br />
X pessoas aqui, acolá. Não sei.<br />
Eu sei do tamanho do volume.<br />
Esses são os <strong>em</strong>pregos diretos. E<br />
os indiretos são os <strong>em</strong>pregos que<br />
a gente relaciona ao trabalho.<br />
São ambulantes, pessoas que<br />
trabalham com estruturas<br />
de metal, do tipo camarote,<br />
etc. São fábricas de panos<br />
para os abadás. São músicos<br />
que, independent<strong>em</strong>ente de<br />
estar<strong>em</strong> inseridos na banda, são<br />
compositores ou estão sendo<br />
tocados pela gente. E outras<br />
tantas coisas que eu não saberei<br />
numerar. Mas é muita coisa que<br />
movimenta.<br />
<strong>Metrópole</strong> – Como artista<br />
ou como <strong>em</strong>presária, com<br />
tantas realizações, t<strong>em</strong> algo<br />
que te incomoda, algo que faz<br />
você dar “pití”?<br />
Ivete - Incomodam-me<br />
esses horários que eu tenho. Eu<br />
queria dormir até a hora que<br />
eu b<strong>em</strong> entendesse. Mas aí t<strong>em</strong><br />
um monte de coisa, t<strong>em</strong> que<br />
pegar o avião... Ah... Bicho!<br />
Tenha santa paciência, viu? Mas<br />
eu não dou pití não... Ont<strong>em</strong><br />
eu estava tendo uma reunião<br />
com Ricardo Martins, aí num<br />
momento lá de um relatório, eu<br />
lendo lá um relatório, coisa e tal,<br />
toda querendo ser <strong>em</strong>presária<br />
ativa, toda organizada, aí eu falei:<br />
Pô Ricardo! Assim não dá, meu<br />
irmão! Aí me levantei da cadeira<br />
e disse: Martins veja isso aqui...<br />
isso não pode estar certo. Aí ele:<br />
“Ivetinha, dessa maneira não vai<br />
dar”. Ou seja, n<strong>em</strong> pra eu dar<br />
pití eu tenho ousadia dos caras...<br />
Esses caras não acreditam no<br />
meu pití. Por mais pití que eu dê,<br />
os caras não acreditam. Eu acho<br />
que tudo na vida é uma conduta.<br />
Você t<strong>em</strong> que ter uma conduta<br />
linear. Assim, não pode exagerar.<br />
E, para bom entendedor, mais<br />
um pouquinho de conhecimento<br />
nunca vai bastar, né?<br />
<strong>Metrópole</strong> – Fala aí de<br />
um momento marcante da sua<br />
trajetória...<br />
Ivete - Você sabe que existe<br />
uma tendência da gente nunca<br />
aceitar que determinados<br />
momentos não vão ser repetidos,<br />
‘né’? Mas um momento como<br />
cantar “Chupa toda” com Bono<br />
Vox não vai ser repetido. É aquilo<br />
ali e acabou. Agora fudeu.<br />
<strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007<br />
43
mAl u Fo n t e s<br />
Jornalismo do B<strong>em</strong> –<br />
um aleijão provinciano<br />
Num desses programas independentes que nos últimos anos se<br />
multiplicaram nas <strong>em</strong>issoras locais de TV, uma apresentadora que<br />
se pensa toda modernosa e antenada só porque faz apologia dos<br />
produtos jabaculados <strong>em</strong> sua atração, contava que estava superfeliz<br />
com os planos e a moral de sua cria, uma moçoila que havia incursionado<br />
pelos caminhos do jornalismo. A tal justificava sua felicidade<br />
argumentando que a rebenta vive a repetir que, quando se tornar<br />
profissional, só terá interesse <strong>em</strong> fazer “Jornalismo do B<strong>em</strong>”. Taí um<br />
conceito que n<strong>em</strong> os manuais de jornalismo n<strong>em</strong> os estudiosos da<br />
comunicação jamais identificaram <strong>em</strong> suas buscas.<br />
Mas qu<strong>em</strong> mora <strong>em</strong> cidades com um forte sotaque provinciano,<br />
como é o caso de <strong>Salvador</strong>, sabe sim o que é isso: é aquela deformidade<br />
profissional que poderia atender pelo nome de “puxa-saco”.<br />
Jornalismo do B<strong>em</strong> é um tipo de atuação invertebrada, ou seja, o<br />
dublê de jornalista que se adequa a qualquer contexto, dança conforme<br />
a música, ou melhor, conforme o tilintar do caixa de qu<strong>em</strong><br />
quer um espacinho e um aplausinho na mídia.<br />
Em outras palavras, Jornalismo do B<strong>em</strong> é a aquela conversinha<br />
mole, aquele textinho chinfrim que algumas vezes se ouve, vê e lê na<br />
imprensa. Consiste <strong>em</strong> <strong>em</strong>pregar toda a sorte de adjetivos elogiosos<br />
para designar um produto ou uma pessoa. O “B<strong>em</strong>” é tão melhor<br />
praticado nesse jornalismo cor-de-rosa quanto mais alto for o cacife<br />
social ou financeiro do elogiado. Os jabás (pequenos, médios ou<br />
grandes agrados que o elogiado dá ao Jornalista do B<strong>em</strong> para que<br />
este o ponha nas alturas) se sofisticam cada vez mais, sobretudo<br />
<strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos <strong>em</strong> que se multiplicam no mercado os tratamentos<br />
médicos e estéticos de rejuvenescimento e que apresentadores e<br />
apresentadoras não são tão privilegiados assim pela genética no<br />
quesito estética. Vale de tudo: umas roupinhas jeitosas das lojas<br />
incensadas da cidade, um d<strong>em</strong>onstrativo de um tratamento médico,<br />
um par de peitos novos, uma t<strong>em</strong>porada no hotel da vez no Litoral<br />
Norte, uma passagenzinha aérea, uma boca-livre, etc.<br />
O fato é que os Jornalistas do B<strong>em</strong> faz<strong>em</strong> “de um tudo” <strong>em</strong> troca de<br />
umas migalhinhas e, a longo prazo, isso acaba por produzir um aleijão<br />
na imag<strong>em</strong> que aquela parte grandona da sociedade, provinciana e<br />
tacanha, faz da imprensa de verdade, aquela que não se identifica n<strong>em</strong><br />
como do b<strong>em</strong> e muito menos como do mal, mas como prestadora de<br />
serviço, como uma indústria que vende um produto específico: notícia,<br />
opinião, informação. Graças aos tais Jornalistas do B<strong>em</strong>, uma camada<br />
de poderosos, ex-poderosos, ricos de fachada e coisas que o valham<br />
acaba se acostumando com o elogio fácil e não suporta ser descrita <strong>em</strong><br />
termos substantivos, de tão acostumada que está aos adjetivos melosos,<br />
comprados - é bom que se diga - de profissionais que não estão no<br />
mercado para outra coisa senão para vendê-los.<br />
Embora uma coisa pareça não ter nada a ver com a outra, a verdade<br />
é que reações como a do prefeito João Henrique Carneiro, de levar aos<br />
tribunais o seu desejo de não ser criticado, encontram no famigerado<br />
Jornalismo do B<strong>em</strong> uma luva. A diferença é que enquanto uma socialite<br />
se deleita de modo ridículo com os elogios feitos por apresentadores ou<br />
colunistas desses que têm tabelas, ela sabe intimamente o quanto esse<br />
mimo público custa e, se o paga, é porque pode e quer e ninguém t<strong>em</strong><br />
nada a ver com isso. Já a um hom<strong>em</strong> público, submetido diariamente<br />
à avaliação popular (o que inclui críticas e elogios), cassa-se o direito de<br />
exigir da imprensa, seja ela qual for, a sua descrição e narração apenas<br />
nas cores e nos tons determinados por si ou sua entourage. Chega a ser<br />
lamentável, como evento constituinte do processo político d<strong>em</strong>ocrático,<br />
a expressão <strong>em</strong> foro jurídico do mero desejo de proibição de qualquer referência<br />
ao próprio nome por parte de qu<strong>em</strong> sobrevive profissionalmente<br />
justamente da aceitação da opinião pública. Como não se pode acreditar<br />
<strong>em</strong> estupidez quando se trata de um personag<strong>em</strong> aboletado d<strong>em</strong>ocraticamente<br />
no poder na terceira capital do País, só sobra mesmo o velho e<br />
pobre diagnóstico: um caso lastimável de aleijão provinciano. •<br />
44 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 5
Jul i A n A Cu n h A<br />
Preconceito - ou juízo preconcebido<br />
- é a opinião que você prevê<br />
que terá. Uma opinião provisória<br />
mantida enquanto não obt<strong>em</strong>os<br />
subsídios para uma análise mais<br />
aprofundada. Na era da informação,<br />
o preconceito é, inclusive, forma<br />
de triag<strong>em</strong>. Ninguém precisa<br />
assistir Jurassic Park 3 pra saber<br />
que é uma droga. Preconceito não<br />
t<strong>em</strong> nada a ver com racismo, homofobia,<br />
machismo, xenofobia e<br />
outros delitos contra a dignidade<br />
humana. Maltratar, agredir ou privar<br />
pessoas do convívio social é<br />
discriminação, e não preconceito.<br />
Discriminação é usar seus preconceitos<br />
como desculpa para sacanear<br />
alguém. Todas as grandes ondas<br />
de discriminação do mundo, sobretudo<br />
aquelas que culminaram<br />
<strong>em</strong> extermínio - como a Solução<br />
Final para o Probl<strong>em</strong>a Judeu e<br />
a Limpeza Étnica, na Bósnia –,<br />
estavam e estão calcadas <strong>em</strong> interesses<br />
políticos e econômicos, são<br />
a supr<strong>em</strong>a arma da incompetência<br />
contra aqueles que a ameaçam.<br />
Discriminação é crime, preconceito<br />
é apenas o sagrado mecanismo<br />
de autodefesa que nos<br />
poupa de assistir Jurassic Park 3.<br />
Quando você está no elevador<br />
com o seu irmão e mais uma porção<br />
de desconhecidos, sobe um<br />
cheiro horrível e você t<strong>em</strong> certeza<br />
da procedência, isto é preconceito.<br />
Você conhece o seu irmão, é a cara<br />
notas da <strong>Metrópole</strong><br />
dele largar um cheiroso no elevador,<br />
sabe a cor que ele fica quando<br />
faz um troço desses e, baseado no<br />
padrão comportamental de seu<br />
consangüíneo, conclui que foi ele<br />
o autor da obra. Perfeitamente lógico.<br />
E perfeitamente preconceituoso.<br />
Isto porque o cérebro humano<br />
trabalha por associações. O teste<br />
de QI aplicado pela Mensa (sociedade<br />
de superdotados fundada <strong>em</strong><br />
1946, na Inglaterra), por ex<strong>em</strong>plo,<br />
avalia a capacidade de raciocínio<br />
através de questões de análise lógica<br />
de padrões e figuras. O teste<br />
te dá um conjunto de figuras e<br />
pede para você prever qual será a<br />
próxima. Exatamente o mesmo<br />
raciocínio que você utiliza ao cair<br />
fora quando vê um el<strong>em</strong>ento suspeito<br />
numa rua esquisita. Os critérios<br />
que te fizeram estabelecer<br />
Privatizando<br />
Um projeto de privatização,<br />
gestado no interior da<br />
Bahiatursa, pretende repassar<br />
os três centros de convenções<br />
pertencentes ao governo<br />
baiano (<strong>Salvador</strong>, Ilhéus<br />
e Porto Seguro) para uma<br />
única <strong>em</strong>presa. O projeto está<br />
circulando nas mãos de alguns<br />
<strong>em</strong>presários do setor turístico,<br />
mas ninguém acredita que, do<br />
jeito que está, ele tenha chances<br />
de sobrevivência.<br />
Pela descriminação do preconceito<br />
algo como suspeito são baseados<br />
nas suas experiências pessoais e coletivas<br />
(no que você ouviu falar,<br />
leu, etc.).<br />
Recent<strong>em</strong>ente, a University<br />
College London divulgou<br />
uma pesquisa que aponta que<br />
os estereótipos (alicerces do<br />
preconceito), são fundamentais<br />
para o aprendizado das crianças<br />
autistas. O estudo foi realizado<br />
com 49 crianças <strong>em</strong> idade escolar,<br />
sendo 21 delas autistas.<br />
Os cientistas<br />
fizeram a<br />
essas crianças<br />
perguntas<br />
baseadas <strong>em</strong><br />
desenhos, que<br />
representavam<br />
homens e mulheres<br />
Governo incentiva<br />
a prostituição<br />
Depois do sucesso de seu livro<br />
(quer dizer, seu ou do ghost writer<br />
que escreveu), O Doce Veneno<br />
do Escorpião, Raquel Pacheco (a<br />
ex-prostituta mais conhecida como<br />
Bruna Surfistinha), consegue do<br />
Ministério da Cu Ltura liberação<br />
para captação de R$3.998.621,65.<br />
O filme de Bruna Surfistinha<br />
será beneficiado pelas leis de<br />
incentivo à cu ltura. As mesmas<br />
leis que costumam encher as<br />
burras de grandes <strong>em</strong>presas e<br />
artistas consagrados pelo público<br />
e de valor intelectual bastante<br />
questionável. Fica difícil saber se o<br />
fundo é de cultura ou se é o nosso.<br />
pintados de marrom e rosa.<br />
Cerca de 75% das respostas<br />
dadas pelas crianças dos dois<br />
grupos tomavam como base estereótipos<br />
comuns de gênero<br />
e etnia. Segundo a professora<br />
Uta Frith, as pessoas comuns<br />
usam a generalização <strong>em</strong> situações<br />
nas quais precisam tomar<br />
decisões rápidas e não sab<strong>em</strong><br />
nada sobre a outra pessoa.<br />
Em <strong>Salvador</strong>, o estereótipo<br />
do suspeito de assalto é hom<strong>em</strong>,<br />
jov<strong>em</strong>, atlético, negro e<br />
aparent<strong>em</strong>ente pobre. Embora<br />
a sociedade seja de fato racista,<br />
a construção do estereótipo<br />
não é intrinsecamente racista.<br />
O fato de eu não acreditar que<br />
serei assaltada por uma velhinha<br />
trajando Chanel não significa<br />
que eu supunha que a tal<br />
velhinha seja uma pessoa boa e<br />
o estereótipo do assaltante seja<br />
uma pessoa ruim, significa apenas<br />
que exist<strong>em</strong> várias maneiras<br />
de ser mau caráter. Sonegar, assassinar<br />
o marido pra ficar com<br />
o seguro, roubar jóias da nora e<br />
explorar o filho da <strong>em</strong>pregada<br />
combinam muito mais com a<br />
velhinha. A sociedade é racista<br />
por negar <strong>em</strong>prego, marginalizar,<br />
acusar injustamente e<br />
condenar ao fracasso aqueles<br />
que se encaixam <strong>em</strong> seu estereótipo<br />
do bandido, e não por<br />
atravessar a rua. •<br />
Cidade<br />
Um monstrengo na Orla<br />
<strong>Prefeito</strong> quer hotel de 18 andares no lugar das ruínas do Clube Português<br />
46 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 47<br />
Da redação<br />
O prefeito João Henrique não pára de<br />
surpreender. Depois de muitos absurdos ao<br />
longo dos mais de 2 anos e meio de gestão,<br />
lançou mais um. Quer erguer um espigão <strong>em</strong><br />
plena praia da Pituba. Trata-se de um projeto<br />
de lei encaminhado à Câmara Municipal no<br />
início do mês para a construção de um hotel<br />
de 18 andares no local onde funcionou por<br />
muito t<strong>em</strong>po o finado Clube Português (hoje<br />
abrigo de s<strong>em</strong> teto e, segundo os moradores<br />
da Pituba, de ladrões).<br />
O vereador José Carlos Fernandes (PMN),<br />
presidente da Comissão de Planejamento Urbano<br />
e Meio Ambiente da Câmara Municipal, que<br />
está avaliando o projeto, foi surpreendido com<br />
as proporções do material que recebeu, classificado<br />
por ele como “um verdadeiro absurdo”.<br />
Além da liberação do gabarito da Orla de dois<br />
para 18 andares, o prefeito quer mais. “Ele quer<br />
a desafetação de 12 mil m 2 de área de domínio<br />
comum do povo, e transformar essas áreas <strong>em</strong><br />
áreas de domínio da prefeitura, para que sejam<br />
agregadas aos 8 mil m 2 do Clube Português e<br />
sejam repassadas para um grupo econômico. E<br />
me parece que existe uma operação casada porque<br />
já se sabe que teria um hotel e esse hotel teria que<br />
ter 18 andares. Nunca nessa cidade se propôs um<br />
absurdo dessa natureza”, indigna-se o vereador.<br />
Apesar das evidências de que já está tudo<br />
acertado entre a prefeitura e o responsável pelo<br />
“<strong>em</strong>preendimento”, a secretária de Planejamento<br />
e superintendente da Sucom, Kátia Carmelo,<br />
tenta dar a entender que ainda não está nada definido.<br />
“A Seplan vai estabelecer os critérios e os<br />
termos de referência para que se haja a licitação<br />
da exploração do espaço por alguma entidade<br />
que venha a se instalar. Não existe ninguém<br />
pré-definido, a idéia é que aja um concurso internacional<br />
de idéias e que a <strong>em</strong>presa que vier a<br />
se instalar siga o que foi aprovado”.<br />
Mas, uma declaração da secretária de<br />
Planejamento deve ser considerada: “É um<br />
marco visual que nós não t<strong>em</strong>os na Orla”.<br />
De fato, não existe um trambolho de 18<br />
andares a manchar ainda mais a já degradada<br />
Orla Marítima de <strong>Salvador</strong>.<br />
O presidente da Associação Baiana de<br />
Imprensa (ABI), Samuel Celestino, acha esquisito<br />
o pensamento de Kátia Carmelo e crê<br />
que, para um projeto de impacto como este<br />
ser levado adiante, as entidades civis organizadas<br />
deveriam ser convocadas a se pronunciar<br />
a respeito. “A secretária pode ter lá suas razões de<br />
ord<strong>em</strong> pessoal ou de gosto, mas eu vejo isso como<br />
um crime contra a cidade e sua população”.<br />
Samuel Celestino vai além. “A construção<br />
de um espigão de 18 andares no local do antigo<br />
Clube Português é um desses absurdos que só é<br />
cont<strong>em</strong>plado na Bahia”.<br />
Outras entidades diretamente interessadas<br />
<strong>em</strong> discutir o assunto também já se manifestaram.<br />
Em nota, o Departamento da Bahia<br />
do Instituto de Arquitetos do Brasil, presidido<br />
por Paulo Ormindo de Azevedo, afirmou que<br />
“qualquer intervenção <strong>em</strong> terrenos litorâneos,<br />
como o do Clube Português, só deve ser feita<br />
dentro de um projeto compreensivo de toda a<br />
orla, sob pena de comprometer, para s<strong>em</strong>pre,<br />
um excepcional recurso natural da cidade”. “É<br />
como se a Prefeitura do Rio de Janeiro permitisse<br />
a construção de um hotel nas areias de<br />
Copacabana ou Ipan<strong>em</strong>a para saldar compromissos”,<br />
argumentou o IAB.<br />
O presidente da Associação Baiana de Indústria<br />
Hoteleira (ABIH), Ernane Pettinati, argumenta.<br />
“O que se deve tratar hoje não é de construção de<br />
novos hotéis <strong>em</strong> <strong>Salvador</strong>, dev<strong>em</strong>os é arrumar a<br />
cidade para que ela possa dar condições de recebermos<br />
melhor os turistas. E com isso proporcio-<br />
S<strong>em</strong> Tetos<br />
No ano passado, a prefeitura selou um acordo<br />
com o governo estadual para solucionar o probl<strong>em</strong>a<br />
das 85 famílias que ocupam o antigo clube. O Estado<br />
construiria 85 casas populares e a prefeitura daria<br />
destino ao prédio do clube. O titular da Secretaria de<br />
Desenvolvimento Urbano do Estado, Afonso Bandeira,<br />
afirmou que 25 casas já foram construídas, <strong>em</strong><br />
Valéria e as outras 60, que seriam erguidas no Village<br />
da Lagoa, foram <strong>em</strong>bargadas pelo Ibama.<br />
Valter Pontes<br />
Os moradores da Pituba afirmam que, além dos s<strong>em</strong>-teto, o antigo Clube Portugês é hoje esconderijo de ladrões que aterrorizam o bairro<br />
narmos que as ocupações dos hotéis melhor<strong>em</strong>. O<br />
que a prefeitura deveria fazer é arrumar a cidade.<br />
Nós estamos com uma <strong>Salvador</strong> s<strong>em</strong> praia (o probl<strong>em</strong>a<br />
das Barracas), s<strong>em</strong> a Lagoa do Abaeté (com<br />
sérios probl<strong>em</strong>as de segurança) e s<strong>em</strong> o Pelourinho<br />
(completamente abandonado)”.<br />
E, n<strong>em</strong> qu<strong>em</strong> deveria ser consultado para<br />
ajudar, foi procurado pela prefeitura. O presidente<br />
do Conselho Regional de Engenharia,<br />
Arquitetura e Agronomia seção Bahia,<br />
Jonas Dantas, lamentou que o Crea não tenha<br />
sido sequer consultado sobre o projeto,<br />
n<strong>em</strong> sobre qualquer estudo que <strong>em</strong>base a<br />
idéia da construção do tal hotel.<br />
Jonas Dantas explicou porque o Crea é contra<br />
um <strong>em</strong>preendimento desse porte no local.<br />
“Primeiro, porque qualquer intervenção de natureza<br />
estrutural naquela área fere muito todo o<br />
valor arquitetônico da edificação. E nós somos<br />
contrários, porque aquilo é um espaço que t<strong>em</strong><br />
que ser discutido com a sociedade. Uma edificação<br />
de 18 andares além de ferir a lei, contraria o<br />
que está sendo discutido no próprio Plano Diretor<br />
de Desenvolvimento Urbano, PDDU”.<br />
Em 2006, foram realizadas quatro audiências<br />
públicas para discutir o que fazer do<br />
antigo Clube Português. Foi apresentado o<br />
projeto de um oceanário, de um complexo<br />
esportivo, e um centro gastronômico<br />
internacional, idéia da ABIH, além de um<br />
hotel 5 estrelas, a mais expressiva sugestão,<br />
da Associação Brasileira de Hotéis.<br />
Mas, quando o martelo estava prestes<br />
a ser batido <strong>em</strong> prol do hotel, a prefeitura<br />
recuou e o então secretário de Planejamento,<br />
Itamar Batista, afirmou, na ocasião, que<br />
o terreno não deveria ser vendido para a<br />
construção de um hotel, porque a comunidade<br />
era contrária ao <strong>em</strong>preendimento.<br />
Pelo jeito, o prefeito voltou atrás. •
máR i o Ke R t é s z<br />
Mudança para o mesmo lugar<br />
Nós todos acreditávamos que o PT seria<br />
o instrumento importante no processo de<br />
mudança no País. Quando era oposição, o<br />
partido d<strong>em</strong>onstrava isso. Mas o PT que<br />
chegou ao poder não está n<strong>em</strong> um pouco<br />
interessado <strong>em</strong> mudanças. É um partido que<br />
se aburguesou, aceitou as regras do jogo.<br />
Faz as alianças que considera indispensáveis<br />
para governar e continuar mandando,<br />
ficando, desta forma, impedido de avançar<br />
num processo de mudanças reais.<br />
Nacionalmente e até aqui na Bahia, a<br />
grande aliança petista é com o PMDB,<br />
que é um partido conservador e s<strong>em</strong><br />
qualquer interesse <strong>em</strong> avançar. Para o<br />
PMDB estão indo quase todos os prefeitos<br />
e políticos da base carlista derrotados<br />
nas últimas eleições. Qual desses realmente<br />
está <strong>em</strong>penhado <strong>em</strong> um processo<br />
de melhoria nas estruturas econômicas<br />
e soaciais? Nenhum. Mesmo o ministro<br />
Geddel Vieira Lima não está.<br />
O PT que chegou ao poder é um partido<br />
de centro, voltado apenas para um<br />
único objetivo: permanecer no poder e PT<br />
saudações. Qual é o projeto de mudança<br />
petista? Nenhum. O projeto do PT no governo<br />
é, de um lado segurar a miséria com<br />
o bolsa família,bom <strong>em</strong> um primeiro momento<br />
mas criando um péssimo hábito das<br />
pessoas viver<strong>em</strong> exclusivamente disso.<br />
A classe média está cada vez mais imprensada<br />
pela perda de poder aquisitivo<br />
e, portanto, menor e com menos poder<br />
político e de expressão. E, o segundo lado<br />
do projeto petista de governo é dar a alta<br />
burguesia condições excepcionais de aumentar<br />
os seus rendimentos financeiros.<br />
Ninguém l<strong>em</strong>bra mais de antigas bandeiras<br />
do PT, como acabar com a especulação<br />
financeira e fazer investimentos produtivos<br />
que gerass<strong>em</strong> <strong>em</strong>prego. Tudo isso é<br />
conversa do passado.<br />
No Brasil de hoje, t<strong>em</strong>os no topo da<br />
pirâmide uma alta burguesia na maior felicidade<br />
com o governo do presidente Lula.<br />
Na base da pirâmide, também t<strong>em</strong>os os<br />
pobres miseráveis na maior felicidade com<br />
o presidente Lula, fazendo com que ele já<br />
pense <strong>em</strong> 2014. Qu<strong>em</strong> está no meio dessa<br />
pirâmide que se lasque. Significa que, <strong>em</strong><br />
curto prazo, nós não ter<strong>em</strong>os nenhuma<br />
mudança estrutural no País para que o domínio<br />
deste grupo político liderado pelo<br />
PT perdure por muito t<strong>em</strong>po.<br />
O presidente Lula pode até pensar <strong>em</strong><br />
acabar com o projeto de reeleição. É capaz<br />
até de estimular a vitória do PSDB na próxima<br />
eleição - provavelmente Aécio Neves,<br />
de qu<strong>em</strong> ele é mais próximo -, para poder<br />
voltar <strong>em</strong> seguida.<br />
Na Bahia é a mesma coisa, o PT não<br />
está fazendo qualquer mudança estrutural.<br />
A única coisa que PT baiano está fazendo<br />
diferente é o trabalho mais intenso de aparelhamento<br />
dos órgãos do Estado. A Secretaria<br />
de Saúde, por ex<strong>em</strong>plo, é totalmente<br />
aparelhada pelo PT, PCdoB e sindicalismo.<br />
E acontece também <strong>em</strong> outras secretarias,<br />
que estão sendo aparelhadas pelo PCdoB,<br />
PSB, PMDB e outros.<br />
O PT na Bahia até então não tinha<br />
tido chance de ser governo. Agora que<br />
está no poder, aproveita para montar seus<br />
quadros, como tinha e t<strong>em</strong> até hoje nas<br />
estruturas sindicais, onde não há alter-<br />
nância de lideranças e o continuísmo<br />
impera, a ex<strong>em</strong>plo do sindicato dos rodoviários,<br />
que há 18 anos está sobre o<br />
controle do deputado J. Carlos.<br />
Nos sindicatos esse trabalho serviu e<br />
serve para eleger deputado, para comprar<br />
espaço nas rádios e nas televisões.<br />
Na prefeitura de <strong>Salvador</strong>, o PT, como<br />
não quer ter ou não quer arriscar ter um<br />
candidato, vai acabar, provavelmente,<br />
indicando um vice na chapa de João<br />
Henrique e, junto com o PMDB, talvez<br />
até ajude a reeleger o pior prefeito que<br />
<strong>Salvador</strong> já teve nos últimos t<strong>em</strong>pos. É<br />
a tal história: explode-se <strong>Salvador</strong>, mas<br />
mantêm-se o poder.<br />
Aliás, a prefeitura hoje é o aparelho da<br />
família Carneiro. T<strong>em</strong> algumas divisões,<br />
é certo - o PCdoB t<strong>em</strong> uma ponga, o PSB<br />
t<strong>em</strong> outra, o PT discute se fica ou sai, e<br />
o PMDB está começando a ter um pongão,<br />
que, pelo apetite, vai resultar numa<br />
ponta maior ainda. Mas a prefeitura é<br />
mesmo o grande patrimônio da família<br />
Carneiro. Elege senador, deputada estadual,<br />
federal, tudo.<br />
O que eu lamento é que, nessa hora, o<br />
tal do espírito público vai para o espaço.<br />
O espírito é da defesa do poder, da defesa<br />
do partido, da defesa da boquinha. E as<br />
perspectivas de mudança e de transformação<br />
desaparec<strong>em</strong>, ficando para nós apenas<br />
a sensação de que as mudanças, se vier<strong>em</strong>,<br />
serão para o mesmo lugar.<br />
E, pior de tudo, <strong>em</strong> relação a Lula, é<br />
que me l<strong>em</strong>bro de Getúlio Vargas, que<br />
passou para a história como pai dos pobres<br />
e mãe dos ricos. •<br />
Pan<br />
Para qu<strong>em</strong> deseja sediar uma copa<br />
do mundo e uma olimpíada, o<br />
Brasil deu um passo atrás com<br />
os Jogos Panamericanos Rio<br />
2007. Um atraso de meia hora<br />
na abertura de um evento desse<br />
porte traria enormes prejuízos<br />
às <strong>em</strong>issoras de TV de todo o<br />
planeta, caso isso ocorresse <strong>em</strong><br />
uma copa ou jogos olímpicos.<br />
Isso para não falar do atraso na<br />
programação das competições,<br />
como foi o caso do baseball.<br />
Ouro de tolos<br />
A disputa entre Lula e Bush no<br />
campeonato de vaias políticas<br />
do Pan segue acirrada. Lula foi<br />
estrident<strong>em</strong>ente vaiado por 6<br />
vezes, ficando desconcertado<br />
ao ponto de quebrar o<br />
protocolo e transferir a função<br />
de decretar a abertura oficial<br />
do torneio para presidente<br />
do COB, Carlos Arthur<br />
Nuzman. Enquanto isso, Bush<br />
é vaiado cada vez que os atletas<br />
americanos sob<strong>em</strong> ao pódio.<br />
48 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 49<br />
notas da <strong>Metrópole</strong>
Direto do<br />
Blog de Mário<br />
Menino do Pau Miúdo<br />
Campanha lançada pelo governo<br />
australiano contra o excesso de<br />
velocidade nas estradas associa<br />
a necessidade de “pisar fundo” à<br />
pequenez do pênis dos motoristas.<br />
A velocidade é, segundo os<br />
australianos, uma forma de<br />
auto-afirmação dos portadores<br />
de medidas insignificantes. Se a<br />
associação estiver correta, aqui <strong>em</strong><br />
<strong>Salvador</strong> t<strong>em</strong> muita gente com<br />
piroquinha no lugar de cacete.<br />
Conclave t<strong>em</strong> novas regras<br />
O Papa Bento XVI decidiu tornar<br />
mais rigorosas as regras de votação<br />
para os novos papas. Segundo<br />
a regra antiga, para a escolha de<br />
um papa eram necessários pelo<br />
menos dois terços dos votos<br />
nas primeiras votações. Após<br />
sucessivas votações, contudo,<br />
se nenhum candidato obtivesse<br />
a maioria dos dois terços, os<br />
cardeais poderiam passar para<br />
maioria simples. Agora, os futuros<br />
papas precisarão de pelo menos<br />
dois terços dos votos, <strong>em</strong> todas as<br />
votações. Assim fica mais difícil<br />
alguém como o cardeal Joseph<br />
Ratzinger virar papa.<br />
Neco<br />
Ao ser questionado sobre as vaias que recebeu<br />
durante todo o percurso que separa a Lapinha do<br />
Terreiro de Jesus, durante o desfile do 2 de julho,<br />
o prefeito João Henrique saiu-se com esta: “Não<br />
são para mim n<strong>em</strong> para minha administração”.<br />
João Henrique só faltou perguntar para o<br />
repórter: “Você conhece Neco?”<br />
Vaias<br />
Por falar <strong>em</strong> vaias, elas foram tantas que o<br />
prefeito até passou mal. Se a moda pega, até o<br />
final do mandato João Henrique não deverá sair<br />
da cama, pois não pode botar a cara na rua que<br />
a população lhe devolve <strong>em</strong> forma de apupos o<br />
que o prefeito v<strong>em</strong> fazendo com a cidade.<br />
De novo!<br />
Um dia depois de ter um qüiproquó no<br />
desfile de 2 de Julho, o prefeito voltou a<br />
passar mal. Desta vez na prefeitura, logo após<br />
uma tensa e d<strong>em</strong>orada reunião com a direção<br />
estadual e municipal do PT. Os petistas<br />
queriam barganhar a permanência na base<br />
de apoio a João Henrique e exigiam <strong>em</strong> troca<br />
ou a secretaria da Fazenda, ou a do Governo,<br />
ou a do Planejamento, ou, <strong>em</strong> último caso, a<br />
Sucom. O probl<strong>em</strong>a é que Geddel, dono do<br />
PMDB baiano - novo partido do prefeito -<br />
não abre mão de nenhuma dessas pastas.<br />
Troca-troca<br />
Por falar <strong>em</strong> Sucom, enquanto não se define<br />
se é o PMDB ou PT qu<strong>em</strong> ficará com o<br />
órgão, o prefeito vai se ajeitando como pode.<br />
Retirou Paulo Meirelles, que é técnico de<br />
carreira, do comando da superintendência<br />
e a entregou à secretária do Planejamento,<br />
Kátia Carmelo, que agora acumula as<br />
duas funções. Kátia é da cota do deputado<br />
Severiano Alves, presidente do PDT baiano,<br />
e desde que foi nomeada secretária estava de<br />
olho na Sucom, que é considerada o “filé” da<br />
administração municipal.<br />
Duro na queda<br />
O ministro Waldir Pires continua quebrando<br />
todas as bancas de apostas. Já se foram seis<br />
meses desse segundo mandato de Lula e ele<br />
continua firme à frente do Ministério da<br />
Defesa, a despeito do apagão aéreo, que o<br />
colocou pela bola sete desde set<strong>em</strong>bro do<br />
ano passado, continuar com força total. Ao<br />
contrário dos aviões, Waldir é duro na queda.<br />
Deixe entrar agosto<br />
Só no dia 2 do mês que v<strong>em</strong> é que o vereador<br />
justiceiro, Adriano Meirelles (PDT), ficará diante<br />
do juiz para explicar por que usava uma arma<br />
s<strong>em</strong> ter porte <strong>em</strong> plena Avenida Sete. A audência,<br />
que ocorreria no dia 3 de julho, foi adiada<br />
porque o promotor do caso estava de férias e o<br />
Ministério Público não indicou substituto.<br />
Aprendiz 1<br />
Os deputados de oposição na Ass<strong>em</strong>bléia<br />
Legislativa ainda não pegaram o jeito de<br />
atuar do outro lado do balcão. Se fosse<br />
com a turma que agora apóia o governo,<br />
acontecimentos como a greve de mais<br />
de 50 dias na Educação e cinco viagens<br />
internacionais do governador <strong>em</strong> menos de<br />
seis meses de mandato teriam dado muito<br />
mais pano pra manga do que ocorreu agora.<br />
Aprendiz 2<br />
Se a atual oposição ainda não pegou o jeito,<br />
o que dizer da bancada do governo? Alguns<br />
parlamentares ainda acham que estão do outro<br />
lado da trincheira e têm provocado constantes<br />
<strong>em</strong>baraços ao líder Valdenor Pereira (PT). Javier<br />
Alfaya (PCdoB) complicou as negociações entre<br />
a APLB e a Secretaria da Educação do Estado ao<br />
apresentar <strong>em</strong>enda ao projeto de aumento aos<br />
servidores encaminhado pelo próprio governador<br />
Jaques Wagner. Já o deputado Capitão Tadeu<br />
(PSB) usa constant<strong>em</strong>ente a tribuna para atacar<br />
a política de segurança do governo, b<strong>em</strong> como a<br />
atuação do secretário Paulo Bezerra.<br />
50 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 5