Prefeito restaura censura em Salvador - Revista Metrópole
Prefeito restaura censura em Salvador - Revista Metrópole
Prefeito restaura censura em Salvador - Revista Metrópole
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Álvaro Figueiredo<br />
notas da <strong>Metrópole</strong><br />
A arquitetura e os equipamentos de<br />
lazer de uma cidade diz<strong>em</strong> muito sobre a<br />
qualidade de vida de sua população. Se esta<br />
é uma verdade, o bom viver dos soteropolitanos<br />
beira a merda. A degradação de áreas<br />
sociais, praças e monumentos históricos<br />
é visível, e n<strong>em</strong> as estátuas e bustos que<br />
enfeitam os poucos jardins da cidade estão<br />
salvos do descaso e do abandono.<br />
Na Piedade, o busto do mártir alfaiate<br />
Manoel Fautino dos Santos Lira sumiu.<br />
Na Fonte Nova, a estátua de Pelé foi mutilada<br />
- ficou s<strong>em</strong> braços - e a Sudesb,<br />
órgão estadual responsável pelo estádio,<br />
retirou-a do local para evitar que levass<strong>em</strong><br />
a cabeça, o tronco, as pernas e a bola.<br />
Além disso, das 24 fontes luminosas que<br />
enfeitavam <strong>Salvador</strong>, apenas a da Praça da<br />
Sé funciona regularmente.<br />
No Centro Histórico, apesar de muitas<br />
reformas, as décadas de abandono e<br />
descaso estão provocando a ruína dos<br />
casarões e até mesmo das fachadas que<br />
ainda restam. Isso b<strong>em</strong> <strong>em</strong>baixo dos narizes<br />
do prefeito e dos vereadores, cujos<br />
locais de trabalho estão localizados na<br />
mesma área, a Praça Tomé de Souza.<br />
Por falar <strong>em</strong> Praça, a dos Veteranos,<br />
que fica <strong>em</strong> frente ao quartel do Corpo<br />
de Bombeiros, na Baixa dos Sapateiros, é<br />
um dos ex<strong>em</strong>plos claros do descaso. Não<br />
há bancos n<strong>em</strong> vegetação de monta, o<br />
piso está se soltando, e os desocupados<br />
e usuários de drogas passam o t<strong>em</strong>po<br />
Assassinaram<br />
Morreu o antropólogo, escritor<br />
e colaborador da <strong>Metrópole</strong>,<br />
Antonio Risério. Pelo menos<br />
foi o que divulgou o Boletim<br />
Informativo da Secretaria<br />
Municipal de Reparação<br />
(S<strong>em</strong>ur). Risério, que ao<br />
contrário do que diz a nota está<br />
muito vivo, soube do seu próprio<br />
falecimento através do fundador<br />
do Badauê, Geraldo Babá.<br />
Este sim, quase morre de susto<br />
quando ligou para a residência<br />
do “falecido” para saber sobre<br />
o velório e foi atendido pelo<br />
próprio “defunto”.<br />
De novo<br />
Ao perceber o equívoco do<br />
antecipado anúncio da morte<br />
de Antônio Risério, a S<strong>em</strong>ur<br />
publicou <strong>em</strong> seu boletim uma<br />
errata, atestando que qu<strong>em</strong><br />
morrera fora Antonio Vieira.<br />
Isso a Bahia toda já sabia. Foi<br />
no século 17.<br />
abordando pedestres, pedindo dinheiro,<br />
pra comer ou “pra dar um pau”.<br />
Se o quadro é assim próximo à prefeitura,<br />
imagine no resto da cidade. Na Cidade Baixa,<br />
os largos do Papagaio, de Roma e da Madragoa<br />
estão na mesma situação que a Praça dos<br />
Veteranos, a diferença é que a quantidade de<br />
pedintes e doidões é menor.<br />
<strong>Salvador</strong> é a primeira capital do País e<br />
a cidade com o maior e mais antigo acervo<br />
arquitetônico da colonização portuguesa,<br />
mas que hoje desaparece aos poucos <strong>em</strong><br />
desabamentos que a estação das chuvas<br />
agrava a cada ano. Sociólogo e mestre <strong>em</strong><br />
antropologia, o escritor e poeta Antônio<br />
Risério defende idéias radicais para a ci-<br />
Nocaute<br />
O ex-campeão mundial de<br />
boxe, Acelino Popó de Freitas,<br />
se prepara para o seu mais duro<br />
combate. Recém-<strong>em</strong>possado<br />
na Secretaria Municipal de<br />
Esportes e Lazer (Smel), Popó,<br />
que é um hom<strong>em</strong> sério, terá que<br />
enfrentar a bagunça e a falta<br />
de recursos que caracterizam a<br />
administração municipal para<br />
realizar um trabalho que esteja<br />
à sua altura na Smel. Há qu<strong>em</strong><br />
garanta que ele joga a toalha até<br />
o final do ano.<br />
Cidade<br />
Monumento ao abandono<br />
Praças, parques, estátuas e fontes luminosas retratam o descaso com a cidade<br />
Estátua de Pelé, na entrada da Fonte Nova, foi r<strong>em</strong>ovida após ter os braços roubados<br />
Valter Pontes<br />
dade e acredita que não é mesmo possível<br />
manter a população atual ocupando<br />
o velho Centro Histórico. “É caro, uns<br />
oito escravos seriam necessários pra fazer<br />
a limpeza e manutenção diária de um casarão<br />
como a Casa de Jorge Amado (no<br />
Pelourinho)”, diz ele.<br />
Para Risério, que está concluindo um<br />
trabalho exatamente sobre a vida nas cidades,<br />
o uso social coerente do Centro<br />
Histórico é complicado. Ele entende que<br />
a ocupação social deve ser b<strong>em</strong> pensada.<br />
“A favelização de <strong>Salvador</strong> expulsou a classe<br />
média das praças e logradouros, mas<br />
ainda é mais seguro estar à noite no pau<br />
da bandeira que sozinho numa parada de<br />
M<strong>em</strong>ória<br />
A m<strong>em</strong>ória do brasileiro é,<br />
definitivamente, curta. Apenas<br />
um mês se passou e parece<br />
que ninguém mais l<strong>em</strong>bra<br />
de assuntos como Navalha,<br />
Gautama, Zuleido Veras e os<br />
R$140 mil <strong>em</strong> dinheiro vivo<br />
encontrados pela Polícia Federal<br />
na casa do prefeito de Camaçari,<br />
Luís Caetano (PT). Até a loira<br />
do Audi TT voltou a freqüentar<br />
as aulas na Unifacs. S<strong>em</strong> o<br />
possante, que continua recolhido<br />
na Polícia Federal.<br />
ônibus do Iguat<strong>em</strong>i”, analisa. Para ele, a<br />
ocupação social das favelas é exatamente<br />
uma das saídas para a violência. “Se houver<br />
birosca e área de baba nas favelas, a pressão<br />
social diminui”, avalia.<br />
Uma das propostas do cientista social,<br />
que certamente vai gerar polêmica, é adotar<br />
o uso de teleféricos (bondinhos) para todas<br />
as grandes encostas de <strong>Salvador</strong>: “Outro<br />
dia experimentei um pra acessar o hospital<br />
Sarah. É barato, prático, moderno e bonito.<br />
A classe média e a população de baixa<br />
renda iriam adorar”.<br />
Risério diz que <strong>Salvador</strong> t<strong>em</strong> projetos<br />
maravilhosos, como o do próprio Aeroclube,<br />
que foi relegado a segundo plano,<br />
e destaca que a beleza singular do traçado<br />
irregular acentua o potencial turístico da<br />
cidade. “É preciso l<strong>em</strong>brar que a cidade<br />
colonial não era arborizada e as árvores até<br />
estragam a vista. Na Praça Municipal, por<br />
ex<strong>em</strong>plo, existe uma árvore que desfigura<br />
a vista do prédio da Câmara”. Outro probl<strong>em</strong>a,<br />
segundo ele, é que as pessoas foram<br />
expulsas dos espaços públicos, saíram das<br />
calçadas dos seus bairros.<br />
Apesar das belas árvores, da biblioteca<br />
Monteiro Lobato, que esteve fechada<br />
até recent<strong>em</strong>ente, e da proximidade com<br />
o tradicional Colégio Salesiano, na Praça<br />
Almeida Couto, mais conhecida como Jardim<br />
de Nazaré, não há o que fazer além<br />
de andar a pé olhando a copa das árvores,<br />
pois os bancos que exist<strong>em</strong> são poucos e<br />
não dão n<strong>em</strong> para os alunos no fim do expediente<br />
escolar. Não t<strong>em</strong> pra onde correr<br />
ou se abrigar <strong>em</strong> nossas praças.<br />
N<strong>em</strong> mesmo matar a sede <strong>em</strong> uma de<br />
nossas belas fontes históricas o cidadão<br />
pode fazer s<strong>em</strong> medo de contaminação ou<br />
assalto. A Fonte Nova, que fica na ladeira<br />
de mesmo nome, só serve para lavar carro e<br />
refrescar desocupados e usuários de drogas<br />
Na Piedade, o busto do herói alfaiate Manoel Faustino dos Santos Lira<br />
foi arrancada, ficando apenas o pedestal<br />
que ali batalham pelos trocados. “Polícia<br />
aqui, moço, só <strong>em</strong> dia de jogo, e olhe lá.<br />
Foi assim que tiraram os braços da estátua<br />
de Pelé, pra derreter e comprar droga com<br />
o dinheiro do metal, mas eu não tava no<br />
dia não”, conta Ligalaite, um dos moradores<br />
de rua que freqüenta o local.<br />
A Sumac é o órgão municipal responsável<br />
pelos monumentos e divide com<br />
outros órgãos os cuidados com as fontes<br />
e jardins municipais. Com orçamento de<br />
apenas R$11 milhões por ano para cuidar<br />
de toda <strong>Salvador</strong>, incluindo obras de pavimentação<br />
e drenag<strong>em</strong>, não sabe ainda<br />
que prioridades atacar na recuperação das<br />
fontes urbanas da cidade. “A Fundação<br />
Gregório de Mattos está elegendo, pela<br />
relevância histórica, a ord<strong>em</strong> de <strong>restaura</strong>ção<br />
das 24 fontes da cidade, e <strong>em</strong> breve<br />
dev<strong>em</strong>os iniciar a recuperação das cinco<br />
primeiras”, anuncia o superintendente<br />
do órgão, Wellington Pereira. Um início<br />
pouco tardio para uma administração municipal<br />
que já entrou no seu 31º mês.<br />
A Superintendência de Parques e Jardins<br />
(SPJ), que como o nome indica, deveria cuidar<br />
desses logradouros, também encontra dificuldades<br />
para realizar sua função. Segundo<br />
o órgão, <strong>Salvador</strong> conta com 465 praças e<br />
166 hectares de área verde, distribuída pelos<br />
jardins públicos e parques urbanos, a ex<strong>em</strong>plo<br />
do São Bartolomeu e o da Cidade. Na<br />
atual gestão, 221 praças foram recuperadas<br />
ou construídas com recursos da SPJ, que<br />
dispõe de uma verba anual de aproximadamente<br />
R$ 3,5 milhões. Outras 112 praças<br />
foram recuperadas através do “Programa<br />
Nossa Praça”, viabilizado por uma Parceria<br />
Público-Privada. Mas a população não está<br />
satisfeita: “A situação é a mesma, aqui como<br />
lá <strong>em</strong>baixo”, diz a doméstica Francisca Silva,<br />
43, que trabalha na Barra e mora no Uruguai.<br />
Segundo ela, o que se vê nas praças públicas<br />
dos dois bairros são desocupados, usuários e<br />
traficantes de drogas: “Ninguém é doido de<br />
deixar os meninos brincar<strong>em</strong> nesses lugares.<br />
Qu<strong>em</strong> tiver seu filho, deixe dentro de casa”,<br />
aconselha. “Depois, não t<strong>em</strong> nada pra fazer<br />
nessas praças mesmo, n<strong>em</strong> bola n<strong>em</strong> brinquedos<br />
n<strong>em</strong> bancos”, acrescenta. •<br />
38 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 39<br />
Valter Pontes