Prefeito restaura censura em Salvador - Revista Metrópole
Prefeito restaura censura em Salvador - Revista Metrópole
Prefeito restaura censura em Salvador - Revista Metrópole
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
PA u l o Al v e s<br />
Ninguém costuma fazer esse<br />
tipo de estatística nas mesas de<br />
sinuca do Romeu, mas não estaríamos<br />
muito errados se chutáss<strong>em</strong>os<br />
que o editor costuma<br />
alcançar de um a dois êxitos <strong>em</strong><br />
cada dez tacadas tentadas. Daí a<br />
surpresa geral quando, de repente,<br />
ele danou-se a encaçapar bolas<br />
de todos os ângulos e distâncias.<br />
Numa seqüência matou cinco, na<br />
outra mais quatro! E prosseguiu<br />
segurando a boa onda.<br />
“T<strong>em</strong> dias que a noite é assim”,<br />
resignou-se o oponente.<br />
“Noite Mirabilis”, exagerou<br />
um circunstante, numa referência<br />
à expressão Annus Mirabilis,<br />
utilizada para reverenciar o ano<br />
de 1905, quando Albert Einstein<br />
<strong>em</strong>basbacou o mundo da ciência<br />
com a publicação <strong>em</strong> série de cinco<br />
estudos revolucionários.<br />
“Gandula <strong>em</strong> dia de Pelé”,<br />
ecoou o garçom Paulinho.<br />
“Lula <strong>em</strong> dia de Pelé?” - estranhou<br />
um cara da mesa ao lado,<br />
meio bêbado, meio surdo. E seguiu<br />
trocando as bolas: “Ele bate<br />
aquela bolinha torta na Granja do Torto,<br />
nunca foi craque”.<br />
Pronto. Instalou-se a polêmica: Lula é<br />
craque ou não é? Mas é claro que é! Ou<br />
não estaria aí, depois de tanto escândalo<br />
<strong>em</strong> torno de si, aprovado e deslumbrado,<br />
disparando rajadas de argumentos no<br />
melhor estilo de camelô do Pelô. É só<br />
notas da <strong>Metrópole</strong><br />
Deu bandeira<br />
“A bandeirinha Ana Paula<br />
ganhou uma bolada para posar<br />
nua. Já Mônica Veloso, examante<br />
de Renan Calheiros,<br />
deve ganhar de cachê uma<br />
boiada.” Frase do ouvinte Ivan<br />
Vieira, comparando os ganhos<br />
da assistente de arbitrag<strong>em</strong>, que<br />
levantou a bandeira de muito<br />
marmanjo, com os da assistente<br />
de sacanag<strong>em</strong>, que baixou a bola<br />
do senador.<br />
A procissão do Encantado<br />
l<strong>em</strong>brar que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre foi assim.<br />
Nos primeiros t<strong>em</strong>pos de poder vimos<br />
um presidente-cinderelo pintando e bordando,<br />
feliz que n<strong>em</strong> pinto no lixo. Mas<br />
não muito longe, nos meados de 2005,<br />
o cara estava pra lá de mal das pernas,<br />
ceifando ministros amigos por força de<br />
denúncias, falando quase s<strong>em</strong>pre fora do<br />
pinico e despencando no Ibope.<br />
Naqueles dias de horror, mensaleiros<br />
murmuravam no breu das tocas, simpatizantes<br />
e militantes vagavam cabisbaixos<br />
e balbuciantes. Sábios e futurólogos de<br />
variado matiz vaticinavam que o projeto<br />
da reeleição danara-se. A cada declaração<br />
desastrada, a popularidade presidencial<br />
afundava mais um tanto e o bordão da<br />
oposição era “deixa sangrar”. Na babel<br />
dos corredores palacianos, a algaravia dos<br />
assessores fazia l<strong>em</strong>brar Bandeira: ‘Febre?<br />
H<strong>em</strong>optises? Suores noturnos? O que<br />
fazer, dançar um tango argentino?’<br />
Lula, num lance de craque, fez melhor:<br />
ali, <strong>em</strong> algum momento entre agosto e<br />
set<strong>em</strong>bro, puxou o freio de arrumação,<br />
deixou o Zé Dirceu resvalar para o limbo<br />
e adotou outra linha de aconselhamento<br />
político. Daí então tudo mudou.<br />
Produziu-se algo como aquela Noite<br />
Mirabilis.<br />
O Ôme acertou a mira e se pôs a<br />
encaçapar uma atrás da outra. Deu um<br />
t<strong>em</strong>po na classe média que andava de<br />
esguelha e vestiu de vez a roupa de paidos-pobres.<br />
Dobrou e depois quadruplicou<br />
as verbas aplicadas de verdade<br />
na assistência social. Repicou os gastos<br />
<strong>em</strong> propaganda, puxando a conversa<br />
pro lado do orgulho nacionalista: autosuficiência<br />
<strong>em</strong> petróleo, dívida com<br />
FMI quitada, etc. O resultado é que<br />
<strong>em</strong> poucos meses se transformou de<br />
zumbi <strong>em</strong> imbatível.<br />
E não foi só: <strong>em</strong>agreceu, botou botox<br />
na testa, passou a <strong>em</strong>itir sinais exteriores<br />
de redução do consumo etílico. Limitouse<br />
a falar conforme o script. Mais adiante,<br />
pra arr<strong>em</strong>atar com uma jogada de<br />
efeito, deu uma boa turbinada no salário<br />
mínimo e colocou de vez a sua prancha<br />
na boa onda da economia mundial.<br />
Blindou-se. Encantou-se! Malfeitorias<br />
continuaram <strong>em</strong>ergindo, numa procissão<br />
de satanazes cabulosos: valdomiros, ca-<br />
choeiras, vampiros, sanguessugas, cuecas<br />
endinheiradas, churrasqueiros aloprados,<br />
compadres navalhados. Até chegar ao tolo<br />
mano Vavá, lambari ora mais propriamente<br />
chamado de “Sipique-sipique”.<br />
Mas o presidente encantado sobrepaira<br />
a procissão, beatífico, aureolado e confortavelmente<br />
instalado no andor que os<br />
suados diabos carregam.<br />
Tão confortável e invulnerável se sente<br />
o presidente que recaiu no velho vício<br />
da incontinência verbal fora de roteiro.<br />
Voltou a disparar metáforas tronchas a<br />
esmo <strong>em</strong> cada ocasião que se apresenta.<br />
Se continua assim, logo logo vai precisar<br />
de uma nova Noite Mirabilis, pois, por<br />
melhor que seja, não há encanto que<br />
dure para s<strong>em</strong>pre. •<br />
28 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 29