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Prefeito restaura censura em Salvador - Revista Metrópole

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Em 1941, o desenhista e<br />

cineasta Walt Disney visitou o<br />

Brasil numa viag<strong>em</strong> que objetivava<br />

o estreitamento das relações<br />

entre os Estados Unidos<br />

e o nosso País. Chegando ao<br />

Rio de Janeiro, de olhos b<strong>em</strong><br />

abertos neste sentido, buscou<br />

informações que pudess<strong>em</strong><br />

subsidiar a criação de um personag<strong>em</strong><br />

tupiniquim para os<br />

seus desenhos animados.<br />

É bom l<strong>em</strong>brar que Disney<br />

História<br />

se notabilizou por dar status<br />

humano aos seus bichinhos<br />

animados. Gatos, ratos, patos,<br />

cachorros, elefantes,<br />

etc., cantavam, dançavam,<br />

falavam, dirigiam carros,<br />

constituíam família... enfim,<br />

tinham personalidade. Aqui,<br />

sua pergunta de algibeira era:<br />

‘Como seria um tipo brasileiro<br />

interessante, que pudesse<br />

ser levado às telas?’<br />

Nesta tarefa, o americano<br />

recebeu ajuda de inúmeros palpiteiros,<br />

dentre eles o ilustrador<br />

J. Carlos, que apresentou ao<br />

nobre visitante americano um<br />

animalzinho que b<strong>em</strong> poderia<br />

representar o pavilhão verde e<br />

amarelo naquele universo imaginário:<br />

um papagaio. E os nossos<br />

bons anfitriões completaram a<br />

oferta de idéias, construindo detalhadamente<br />

o perfil da tal animada<br />

figura, dando-lhe caráter<br />

humano, tendo como espelho o<br />

malandro carioca.<br />

Foi assim que, pouco t<strong>em</strong>po<br />

depois, Walt Disney colocou <strong>em</strong><br />

película o seu novo personag<strong>em</strong>:<br />

um tipo b<strong>em</strong> falante, bom de<br />

lábia, vivaldino, capaz de enrolar<br />

a namorada por décadas, pendurar<br />

eternamente as contas na<br />

banca do melhor amigo, famoso<br />

No início da década de 1940,<br />

<strong>em</strong> plena 2ª Guerra Mundial,<br />

os Estados Unidos, preocupados<br />

com a aproximação e a simpatia<br />

de Getúlio Vargas com a<br />

Al<strong>em</strong>anha de Hitler, enviaram<br />

para o Brasil seus melhores<br />

relações públicas - os astros e<br />

estrelas de Hollywood - para<br />

ganhar a simpatia dos brasileiros<br />

à causa aliada. Entre eles, Walt<br />

Disney e Orson Welles.<br />

tom tA v A R e s<br />

Zé Carioca<br />

pela habilidade <strong>em</strong> dar rasteiras<br />

quando de suas negociações, motivando<br />

até mesmo a criação de<br />

uma grandiosa organização cuja<br />

existência se justificava na sua<br />

própria denominação: ANACO-<br />

ZECA – Associação Nacional de<br />

Cobradores do Zé Carioca.<br />

Quando a idéia ganhou vida<br />

e o Zé chegou às telas dos cin<strong>em</strong>as,<br />

foi uma festa só. Ali estava<br />

representado o mais autêntico<br />

carioca, segundo orientação de<br />

<strong>em</strong>inentes artistas daquelas belas<br />

terras banhadas pelas águas<br />

da Baía de Guanabara: malandro,<br />

folgado, enrolado, caloteiro,<br />

treteiro. Se alguma coisa<br />

b<strong>em</strong> fizesse, talvez fosse um<br />

bom peladeiro! Da Mangueira<br />

ao Corcovado, do Galeão ao<br />

Leblon, nenhuma repulsa provocou.<br />

O povo do Rio achou<br />

tudo muito comum, normal,<br />

muito igual e legal, até.<br />

Abro aqui um parênteses para<br />

dizer que morei naquela antiga<br />

capital do Brasil e sou test<strong>em</strong>unha<br />

do orgulho com que a<br />

maioria dos nativos se referia a<br />

si mesmos como grandes malandros,<br />

apontando para os d<strong>em</strong>ais<br />

habitantes do país como “manés”.<br />

Em outras palavras, o carioca era<br />

o vivo, o esperto, sendo o resto da<br />

população brasileira constituído<br />

por um bando de otários, gente<br />

facilmente enganável. A louvação<br />

ao malandro foi levada tão a sério<br />

que a prática da malandrag<strong>em</strong><br />

acabou por se tornar uma espécie<br />

de guia, manual de conduta do<br />

cidadão que teria na Lapa a sua<br />

faculdade. Ganhou até ópera!<br />

Pois é. O t<strong>em</strong>po foi passando<br />

e o tal meliante foi se multiplicando<br />

na cara da autoridade, nas<br />

barbas da população. Como resultado,<br />

no Rio de hoje o povo<br />

está preso <strong>em</strong> casa enquanto o<br />

Zé Carioca está solto nas ruas,<br />

comandando as massas, praças<br />

e instituições falidas. T<strong>em</strong> um<br />

pé no morro, outro no palácio,<br />

mão esquerda no Maracanã, mão<br />

direita sobre Copacabana e a<br />

boca aberta <strong>em</strong> direção ao Pão<br />

de Açúcar. Com o sol s<strong>em</strong>pre<br />

brilhando, sua sombra se alastra,<br />

apavora, determina, manda<br />

e desmanda, domina.<br />

No ponto <strong>em</strong> que a situação<br />

chegou, os meus bons amigos<br />

cariocas (sim, há muitos cariocas<br />

bons!) não têm outra alternativa:<br />

<strong>em</strong> legítima defesa, vão<br />

ter que matar o Zé.<br />

Para o carioca sobreviver, Zé<br />

Carioca – “muso” inspirador –<br />

terá que morrer. •<br />

12 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 5

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