Prefeito restaura censura em Salvador - Revista Metrópole
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Roda baiana<br />
Carnateatro<br />
Por Andrezão Simões<br />
Uma tragédia. Assim defino os caminhos<br />
que o Carnaval da Bahia insiste<br />
<strong>em</strong> trilhar. Seus atores não consegu<strong>em</strong><br />
construir um modelo “estruturante” de<br />
realização para a mais importante festa<br />
popular da Bahia. Minha opinião de<br />
profissional, carnavalesco e cidadão,<br />
que convive há anos com todos os tipos<br />
de peças e encenações entre o poder<br />
público e os que efetivamente faz<strong>em</strong> a<br />
festa acontecer, é a de que chegamos<br />
a uma representação s<strong>em</strong> precedentes.<br />
É unanimidade entre todos que o<br />
atual modelo de gestão e convivência<br />
precisa ser revisto e transformado. O<br />
Carnaval é ao mesmo t<strong>em</strong>po fenômeno<br />
de manifestação popular, cultural,<br />
artística, lúdica, fator de atratividade<br />
turística, gerador de riqueza para a<br />
economia local e evento de engenharia<br />
singular e complexa. Há t<strong>em</strong>pos já<br />
devia ser objeto profundo de estudos,<br />
pesquisas e de preciosa colaboração<br />
acadêmica e profissional.<br />
Decididamente o governo João<br />
Henrique não conseguiu lidar com a<br />
Emtursa, órgão de turismo do município<br />
responsável pela interlocução e<br />
execução do Carnaval, que alternou,<br />
<strong>em</strong> três anos, quatro presidentes a saber:<br />
Pedro Galvão, Benito Gama, Everaldo<br />
Evaristo e Fernando Ferrero, o<br />
atual. Fora as especulações do que ainda<br />
está por vir. Não estabeleceu uma<br />
política clara e estável de condução<br />
dos processos. As informações sobre o<br />
custo do Carnaval são desencontradas,<br />
licitações de publicidade s<strong>em</strong> êxito,<br />
além de declarações desalentadoras sobre<br />
a imag<strong>em</strong> do Carnaval, que foram<br />
contrapostas por um brilhante artigo<br />
da ex-presidente da Emtursa, Eliana<br />
Dumet, ressaltando a importância de<br />
falar b<strong>em</strong> do que a gente t<strong>em</strong>.<br />
O governo Wagner, por sua vez, chegou<br />
b<strong>em</strong>, não cedendo a chantagens<br />
de última hora, prometendo amparar<br />
anualmente, e não às vésperas do Carnaval,<br />
grupos culturais de reconhecida<br />
atuação social <strong>em</strong> suas comunidades,<br />
Entra ano e sai ano o Carnaval de <strong>Salvador</strong> é s<strong>em</strong>pre um show de público, desorganização e falta de planejamento<br />
direcionando a TVE para mostrar um<br />
Carnaval que não recebia mais atenção<br />
da mídia, fazendo política de boa vizinhança<br />
com os governadores do Rio de<br />
Janeiro e Recife, instituindo o triângulo<br />
da folia (espero não ser o das bermudas,<br />
onde tudo desaparecia) e discutindo a<br />
possibilidade de instituir-se um grupo<br />
de trabalho integrado entre governos<br />
federal, estadual, municipal e d<strong>em</strong>ais<br />
setores da folia. Orai e confiai.<br />
Empreendedor confesso, ofereci à<br />
crítica no RODA BAIANA especial<br />
de Carnaval, a proposta da “Fundação<br />
do Carnaval”, que seria um órgão<br />
permanente de administração da festa,<br />
um caminho do meio para planejar e<br />
zelar pelo patrimônio cultural e artístico<br />
que possuímos. Todos adoraram a<br />
idéia mas, desde que não fosse no formato<br />
público-privado que propus.<br />
Ninguém se entende, mas quer<strong>em</strong><br />
que as coisas and<strong>em</strong>. Estudos, entre outros,<br />
como a arquitetura do Carnaval,<br />
do falecido acadêmico Manoel José,<br />
jogados no lixo. Vaidade, interesses<br />
pessoais, um Estado s<strong>em</strong> papel, d<strong>em</strong>agogia<br />
plena, correntes que puxam, mas<br />
não sab<strong>em</strong> onde a corda vai arrebentar,<br />
Valter Pontes<br />
teóricos de plantão, a DR (discussão<br />
da relação) falida do lúdico e do lucro<br />
onde os dois têm que sobreviver,<br />
a fantasia da diversidade na avenida e<br />
da adversidade nos bastidores de todas<br />
as tribos. Abram as cortinas e assistam<br />
ao espetáculo do fim <strong>em</strong> meio a um<br />
novo pensar necessitando com urgência<br />
da excelência e inteligência de todos.<br />
Gost<strong>em</strong> ou não, todas as correntes de<br />
pensamento precisam de atitude coletiva,<br />
esta é minha opinião e atitude<br />
pessoal constante.<br />
O jornalista Alex Ferraz escreveu<br />
na Tribuna da Bahia, logo após a folia<br />
de momo, que tudo isso como s<strong>em</strong>pre<br />
passaria e nada seria feito. Tudo seria<br />
deixado para cima da hora, novamente.<br />
A profecia está sendo cumprida.<br />
Em meados de 2007, com o Carnaval<br />
de 2008 mais imprensado dos últimos<br />
t<strong>em</strong>pos, (a festa de I<strong>em</strong>anjá, 2 de fevereiro,<br />
já será sábado de Carnaval)<br />
ninguém fez nada, efetivamente. Nenhum<br />
fórum de discussões legítimo<br />
foi estabelecido. E não o será, pelo<br />
visto. <strong>Salvador</strong> viverá, no pior estilo<br />
tragicômico, mais uma apresentação<br />
de: “NAS COXAS”. •<br />
32 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 5