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Prefeito restaura censura em Salvador - Revista Metrópole

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Gabriela de Paula<br />

Um único hospital público com 274 leitos<br />

para dar conta do atendimento de urgência e<br />

<strong>em</strong>ergência de população de 122 municípios.<br />

Não precisa ser especialista <strong>em</strong> saúde pública<br />

para ver que há algo errado no Hospital Clériston<br />

Andrade, <strong>em</strong> Feira de Santana. A situação<br />

é tão crítica que levou, no mês passado,<br />

o Ministério Público Estadual a cogitar uma<br />

intervenção na unidade. Segundo o promotor<br />

Cristiano Chaves, que t<strong>em</strong> feito visitas regulares<br />

ao local, os probl<strong>em</strong>as mais <strong>em</strong>ergenciais<br />

são a falta de médicos, leitos e estrutura na<br />

enfermaria. Após seis meses de caos, toda a<br />

diretoria acabou no olho da rua. Mas ainda<br />

assim seria sorte nossa se o caos da saúde pública<br />

se restringisse a Feira de Santana.<br />

A situação foi agravada com o fim do contrato<br />

com a Coopamed. A cooperativa havia<br />

sido criada como meio de contratar médicos<br />

s<strong>em</strong> pagar direitos trabalhistas, desonerando<br />

os gastos governamentais mas ferindo a lei.<br />

O atual governo propôs mudar o quadro<br />

contratando, através de seleção pública, pelo<br />

Regime Especial de Direito Administrativo<br />

(Reda). Houve médico aprovado com nota<br />

oito, numa prova que valia 100. O processo<br />

de substituição de regime foi confuso e os<br />

muitos dos novos profissionais não tinham<br />

nenhuma experiência <strong>em</strong> atendimento <strong>em</strong>ergencial,<br />

que é completamente diferente da<br />

realidade do consultório.<br />

Médicos de algumas especialidades se organizaram<br />

para pressionar o governo e boico-<br />

notas da <strong>Metrópole</strong><br />

Bola 1<br />

Ninguém entendeu por que o<br />

secretário estadual da Saúde,<br />

Jorge Solla, foi escolhido para<br />

acompanhar o governador<br />

Jaques Wagner na inspeção<br />

de estádios de futebol, na<br />

Europa. Enquanto Solla via<br />

a Europa, aqui na terrinha<br />

o caos se instalava na Rede<br />

Hospitalar Estadual, com<br />

ameaça de fechamento do<br />

Hospital Clériston Andrade,<br />

<strong>em</strong> Feira Santana, por parte do<br />

Ministério Público.<br />

Saúde<br />

População paga o pato<br />

Mesmo com a contratação de médicos via Reda, população sofre s<strong>em</strong> atendimento<br />

Nas <strong>em</strong>ergências,<br />

pacientes<br />

aguardam horas <strong>em</strong><br />

ambulâncias para<br />

ser<strong>em</strong> atendidos nos<br />

corredores<br />

taram o Reda. Anestesistas, neurologistas e cirurgiões,<br />

entre outros, conseguiram barganhar<br />

um novo tipo de contrato: a terceirização. A<br />

Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) terceirizou<br />

os médicos através de um contrato de<br />

<strong>em</strong>ergência com as Obras Sociais Irmã Dulce,<br />

Bola 2<br />

Ninguém entendeu também<br />

por que o único m<strong>em</strong>bro da<br />

equipe do governo do Estado<br />

que comprovadamente entende<br />

de futebol - o superintende<br />

da Sudesb e grande craque do<br />

passado Bobô – ficou <strong>em</strong> solo<br />

baiano quando uma caravana<br />

governamental visitava estádios<br />

europeus. Bobô, inclusive,<br />

foi pouco solidário com o<br />

colega Jorge Solla, pois, já<br />

que o secretário da Saúde<br />

inspecionava campos de bola, o<br />

superintendente da Sudesb b<strong>em</strong><br />

que poderia ter feito inspeções<br />

nos hospitais da rede estadual.<br />

Valter Pontes<br />

Valter Pontes<br />

Bola 3<br />

O secretário Jorge Solla deu outra<br />

bola fora. Com o caos instalado na<br />

Saúde, ele resolveu apelar às Obras<br />

Sociais de Irmã Dulce (Osid)<br />

e à Fundação José Silveira para<br />

que essas contratass<strong>em</strong> médicos<br />

para suprir as lacunas abertas<br />

nos plantões da rede hospitalar.<br />

Os gastos com o pagamento<br />

dos médicos, através das duas<br />

entidades, estão custando aos<br />

cofres públicos até três vezes<br />

mais do que o que era pago à<br />

cooperativa médica contratada<br />

pelo governo passado, um<br />

completo desrespeito ao bolso do<br />

contribuinte.<br />

um instituição tida como séria.<br />

Durante dez dias tentamos conseguir os<br />

números oficiais com a Sesab, mas a única<br />

resposta que obtiv<strong>em</strong>os da Assessoria de<br />

Comunicação do órgão é que os dados solicitados<br />

(quantidade de plantões contratados<br />

por hospitais, t<strong>em</strong>po médio de espera para<br />

cirurgias e número de óbitos <strong>em</strong> leitos públicos<br />

este ano, entre outros) representariam<br />

uma “devassa” no órgão.<br />

M<strong>em</strong>bro da Comissão de Saúde e ouvidor<br />

da Ass<strong>em</strong>bléia Legislativa, o deputado Tarcízio<br />

Pimenta (DEM) t<strong>em</strong>e que a área de Saúde no<br />

Estado possa acabar no fosso (se é que já não<br />

está há muito t<strong>em</strong>po). Para ele, a situação que<br />

se criou com a mudança brusca e s<strong>em</strong> planejamento<br />

na contratação de médicos plantonistas<br />

levou a Saúde baiana a um estado crítico.<br />

Ele dá ex<strong>em</strong>plos da falta de preparo dos<br />

selecionados pelo Reda: “Em apenas um dia,<br />

houve sete óbitos por politraumatismo no<br />

Clériston Andrade”, conta. Pimenta afirma<br />

ainda que as estatísticas de mortes vêm sendo<br />

guardadas a sete chaves porque cresceram e<br />

muito. “Há pacientes que não chegam a fazer<br />

a ficha. Em junho, houve uma s<strong>em</strong>ana na<br />

qual oito pacientes graves morreram na porta<br />

de diversos hospitais s<strong>em</strong> receber sequer os<br />

primeiros socorros”, conta.<br />

Numa conversa entre três médicos no<br />

corredor da <strong>em</strong>ergência do Hospital Roberto<br />

Santos, flagrada pela nossa equipe de<br />

reportag<strong>em</strong>, a queixa era de que não havia<br />

ortopedista para os casos clínicos. Para atender<br />

aos estropiados que aparec<strong>em</strong> por lá era<br />

preciso chamar os especialistas que atend<strong>em</strong><br />

às cirurgias no Hospital Geral do Estado<br />

(HGE), dizia um doutor. Logo depois, outro<br />

deixa a rodinha de conversa às pressas. “Meu<br />

carro chegou”, diz, explicando que precisa<br />

ir atender a um pobre coitado que o espera<br />

no HGE, confirmando que os médicos se<br />

revezam entre as duas unidades.<br />

Bola 4<br />

Uma nova cooperativa<br />

está prestando serviços de<br />

terceirização de mão-de-obra<br />

médica para a Sesab. Trata-se<br />

da Coopermercado, que sequer<br />

possui registro no Cr<strong>em</strong>eb e<br />

cujo contrato social não prevê<br />

<strong>em</strong> suas atividades a contratação<br />

de médicos.<br />

Na porta do HGE, parentes de doentes brigam com médicos, que lutam para administrar o caos da falta de vagas<br />

No HGE, portas cerradas para manter os<br />

abelhudos longe de verificar o que acontece<br />

lá por dentro. Inúmeros ouvintes da Rádio<br />

<strong>Metrópole</strong> denunciam que há pacientes internados<br />

esperando até mais de dois meses para<br />

uma cirurgia e que há infartados, dentro de<br />

ambulâncias, esperando horas para receber<strong>em</strong><br />

os primeiros socorros. Maiores cuidados só são<br />

dedicados pelo legista.<br />

Na porta dos hospitais públicos da capital<br />

chegam ambulâncias das mais diversas<br />

partes da Bahia. Em alguns casos são seis,<br />

sete, dez horas sacolejando com uma garrafa<br />

de soro ou bolsa de sangue sendo segurada<br />

por um parente ou algum dos outros doentes<br />

que vêm de carona. Ao chegar, se chegar,<br />

o paciente não t<strong>em</strong> a menor garantia de<br />

atendimento imediato.<br />

Os doentes renais viv<strong>em</strong> a via crúcis de<br />

ir e voltar duas ou três vezes por s<strong>em</strong>ana<br />

para ter o sangue filtrado numa máquina<br />

de h<strong>em</strong>odiálise e viver um pouco mais.<br />

Qu<strong>em</strong> precisa de tratamento de câncer,<br />

por mais fraco que esteja, também precisa<br />

buscar os centros de referência da capital<br />

– o CICAN, o Centro Estadual de Oncologia<br />

ou uma das instituições filantrópicas,<br />

como o Hospital Aristides Maltez, que<br />

sofre com falta de verbas. O governo do<br />

Estado suspendeu, desde janeiro, a ajuda<br />

mensal de R$300 mil que dava à unidade e<br />

a Prefeitura de <strong>Salvador</strong> não paga as faturas<br />

devidas desde o ano passado.<br />

Averiguando uma denúncia de um ouvinte<br />

da <strong>Metrópole</strong> de que, no Roberto Santos,<br />

há meses não há cirurgias não-<strong>em</strong>ergenciais,<br />

fomos informados pelo diretor médico do<br />

hospital, Sebastião Mesquita, que a denúncia<br />

não procedia. “A nossa d<strong>em</strong>anda de pacientes<br />

é muito grande e, mesmo tendo um amplo<br />

centro cirúrgico, há procedimentos de<br />

alta complexidade que só são realizados aqui<br />

mas que d<strong>em</strong>andam uma d<strong>em</strong>ora maior”,<br />

explica. M<strong>em</strong>bros da Sesab reconhec<strong>em</strong> que<br />

o crescimento da rede pública não acompanhou,<br />

na mesma proporção, o aumento da<br />

população, por isso é urgente a necessidade<br />

de mais leitos e unidades. •<br />

34 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 35<br />

Valter Pontes

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