13.04.2013 Views

Prefeito restaura censura em Salvador - Revista Metrópole

Prefeito restaura censura em Salvador - Revista Metrópole

Prefeito restaura censura em Salvador - Revista Metrópole

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Ant o n i o RiséRio<br />

Abaixo os imbecis<br />

Passamos muito t<strong>em</strong>po lutando contra a ditadura. De uma<br />

parte, perd<strong>em</strong>os t<strong>em</strong>po. De outra, ganhamos. Perd<strong>em</strong>os, é claro,<br />

porque é desperdício o que se joga fora, <strong>em</strong> criatividade e energia,<br />

numa briga contra fascistas de província, que, <strong>em</strong> matéria mental,<br />

são incapazes de distinguir entre uma roseira e um extintor de incêndio.<br />

E ganhamos – porque, afinal, as bananas ficaram amargas<br />

e os macacos acabaram descendo dos galhos, deixando a árvore<br />

crescer por si mesma, mais leve, mais bonita e mais livre.<br />

Nesse período, um dos nossos grandes probl<strong>em</strong>as foi a <strong>censura</strong>.<br />

B<strong>em</strong>, toda <strong>censura</strong> é ridícula. Mas a <strong>censura</strong> brasileira, na passag<strong>em</strong><br />

entre as décadas de 1960 e 1970, conseguiu ser mais ridícula do<br />

que o ridículo. Aqui, na Bahia, até o então governador Luiz Viana<br />

Filho teve probl<strong>em</strong>a por seu governo ter apoiado a edição da obra<br />

poética de Gregório de Mattos. E Caetano Veloso se viu obrigado a<br />

enviar um mapa da cidade, pros então poderosos babacas de Brasília,<br />

mostrando que havia uma Rua Chile <strong>em</strong> <strong>Salvador</strong> – e que seu verso<br />

carnavalesco “a Rua Chile s<strong>em</strong>pre chega pra qu<strong>em</strong> quer” não era<br />

uma referência celebratória ao Chile socialista de <strong>Salvador</strong> Allende.<br />

Na época, aliás, Caetano me dizia: “Eles podiam me mandar uma<br />

lista dizendo as palavras que não posso usar; com o restante, eu ia<br />

me divertir à vontade”. Chico Buarque, por sinal, passou a enviar à<br />

<strong>censura</strong> letras que assinava com pseudônimo: Julinho da Adelaide.<br />

Se fosse com o nome dele, não passava.<br />

Imagin<strong>em</strong> a cara de um censor. O sujeito de cara fechada,<br />

examinando sílabas, babando <strong>em</strong> busca de ofensas ao regime, à<br />

família, à moral e aos costumes. É coisa de qu<strong>em</strong> não t<strong>em</strong> o que<br />

fazer. Os imbecis proibiram peças escritas na Grécia clássica, <strong>em</strong><br />

Atenas, como se aqueles autores gregos estivess<strong>em</strong> preocupados<br />

com a ditadura brasileira. Como se Ésquilo não fosse com a cara de<br />

Costa e Silva ou de Médici. E invadiram armados o Teatro Castro<br />

Alves por conta da encenação de uma peça (“As Senhoritas”, se<br />

não me falha a m<strong>em</strong>ória) dirigida por Álvaro Guimarães.<br />

Mas, enfim, a ditadura fez água, o navio afundou, ficamos<br />

livres daquela merda. E da <strong>censura</strong>. Até que, um belo dia, nos<br />

aparece o atual prefeito de <strong>Salvador</strong> e parte pra tentar <strong>censura</strong>r<br />

esta revista. E o que é impressionante: ganha uma coisa qualquer<br />

na Justiça, proibindo a gente de citar o nome dele! Alguém acre-<br />

dita nisso? Pode acreditar, aconteceu. O sujeito, <strong>em</strong> vez de cuidar<br />

da cidade, que está aí naufragando <strong>em</strong> dívidas e montes de lixo,<br />

queria tapar a boca dos outros (a nossa, no caso), já que não t<strong>em</strong><br />

mais como tapar o sol com a peneira.<br />

O pior é que, n<strong>em</strong> assim, conseguiu tirar uma dúvida minha.<br />

Me pergunto, há t<strong>em</strong>pos, se t<strong>em</strong>os ou não t<strong>em</strong>os prefeito nesta cidade.<br />

Há qu<strong>em</strong> me diga que sim – mas se apoiando no formalismo<br />

jurídico-político: alguém foi eleito para o cargo. E a imbecilidade<br />

eleitoral decorreu da conjuntura. Os soteropolitanos não votaram<br />

com a cabeça, mas na base da raiva e do ressentimento. Queriam<br />

nocautear Antonio Carlos. Mas, pra nocautear Antonio Carlos,<br />

era preciso foder a cidade? Não, acho que não t<strong>em</strong>os prefeito.<br />

Até prova <strong>em</strong> contrário, o que t<strong>em</strong>os, no máximo, é um projeto<br />

chinfrim de censor.<br />

Mas não me surpreendo. O que t<strong>em</strong>os hoje, ali, no prédio da<br />

prefeitura, é um produto da pobreza política local (vou atender<br />

ao desejo do distinto: o nome dele não vai aparecer neste texto).<br />

O filho de um ex-governador direitista, colocado no posto por<br />

Antonio Carlos. Qu<strong>em</strong> conhece essa história, sabe. O atual prefeito,<br />

imprefeito, desprefeito ou antiprefeito de <strong>Salvador</strong> é cria<br />

de curral manjado. Nasceu num rodeio de rotina. No que havia<br />

de mais reacionário dentro do próprio “carlismo”. B<strong>em</strong> vistas as<br />

coisas, é um dos novilhos do carlismo touro-sertanejo.<br />

E deve detestar esta cidade. Afinal, vive maquinando: qual<br />

a forma mais rápida e eficaz de destruir <strong>Salvador</strong>? Acumulando<br />

dívidas? Deixando que o lixo tome conta de tudo? Fazendo de<br />

conta que a Estação da Lapa não existe? Ampliando o leque de<br />

aliados? Abandonando a saúde pública e as escolas municipais?<br />

Incr<strong>em</strong>entando o caos administrativo?<br />

Mas uma coisa ficou no ar. Fácil, mas difícil de entender. Os<br />

bravos companheiros “de esquerda”, que tanto esbravejaram contra<br />

a <strong>censura</strong> t<strong>em</strong>pos atrás, desta vez se fingiram de mortos. Ficaram<br />

quietos. Caladinhos. Por quê? Estão tirando suas lasquinhas no<br />

poder municipal? B<strong>em</strong>, só espero que não tenham a cara de pau<br />

de tentar me provar que o desprefeito é “progressista”. Quanto<br />

aos moradores da cidade, que pens<strong>em</strong> um pouco. Elegeram esse<br />

cara uma vez. Duas, vai ser d<strong>em</strong>ais. •<br />

Consumo<br />

Pra que Cesta do Povo?<br />

Com preços até mais caros que outros supermercados, Ebal perde razão de existir<br />

Camila Cintra<br />

A Ebal, administradora das lojas da<br />

Cesta do Povo, é um probl<strong>em</strong>a para o governo<br />

do Estado. Isto é um fato público<br />

e notório. Se o incauto leitor discorda, os<br />

números abaixo mostram claramente por<br />

que se permite fazer tal afirmação.<br />

As 261 lojas da Cesta do Povo que já<br />

foram reabertas custaram aos cofres do governo<br />

do Estado, <strong>em</strong> média, R$7.889.272<br />

por mês. Além disso, foram investidos<br />

R$1.447.307 para a reabertura destas<br />

lojas. Somando os números, apenas nos<br />

seis primeiros meses de 2007 o governo<br />

investiu R$48.732.939,00 na Cesta do<br />

Povo. Quando as 425 lojas estiver<strong>em</strong> funcionando<br />

normalmente - o que é normal<br />

para eles pouco importa -, o custo mensal<br />

vai subir para R$12, 9 milhões. Em um<br />

ano, a brincadeirinha vai subtrair mais de<br />

R$154 milhões dos cofres estaduais ou, se<br />

preferir, do seu bolso.<br />

A missão da Ebal, segundo o site da<br />

<strong>em</strong>presa, é “garantir à população de menor<br />

poder aquisitivo do Estado da Bahia acesso<br />

a alimentos, produtos de higiene e limpeza<br />

de qualidade a preços baixos e serviços de<br />

interesse social”. Mas, uma pesquisa feita<br />

pela reportag<strong>em</strong> da <strong>Metrópole</strong> já comprovou<br />

que outras redes de supermercados,<br />

que vend<strong>em</strong> no atacado e também no varejo,<br />

consegu<strong>em</strong> comercializar os mesmos<br />

produtos com preços muito mais <strong>em</strong> conta.<br />

Ou seja, o objetivo a que se propõe não é<br />

Nas lojas da Ebal, até que os consumidores encontram produtos variados, mas preço baixo, que é bom, está difícil<br />

alcançado. Quanto aos serviços de interesse<br />

social, quais seriam? Em bom baianês,<br />

qu<strong>em</strong> souber morre!<br />

Além de mostrar-se mat<strong>em</strong>aticamente<br />

desnecessária, a Ebal possui hoje uma dívida<br />

de mais de R$ 319.834.420, segundo<br />

a assessoria da própria <strong>em</strong>presa. A dívida<br />

é uma herança do governo passado, mas<br />

a CPI instalada na Ass<strong>em</strong>bléia Legislativa<br />

para investigar o que levou a Ebal ao buraco<br />

mostra que o rombo continua aumentando<br />

na atual administração.<br />

Ao depor na CPI, o então diretor Ad-<br />

ministrativo e Financeiro da Ebal, Eduardo<br />

Carneiro (d<strong>em</strong>itido dois dias depois de depor<br />

na CPI), revelou que, neste ano, a Cesta do<br />

Povo t<strong>em</strong> dado um prejuízo mensal de R$5<br />

milhões. E isso com menos da metade das<br />

lojas funcionando.<br />

Outros depoimentos e informações levantada<br />

pela CPI mostram evidências da<br />

existência de superfaturamento e contratação<br />

de prestação de serviços s<strong>em</strong> licitação.<br />

O probl<strong>em</strong>a, segundo Carneiro, é que muitos<br />

dos contratos irregulares ainda estão<br />

vigentes e alguns até foram renovados. •<br />

8 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007 9<br />

notas da <strong>Metrópole</strong><br />

Transparência<br />

Por falta de transparência<br />

ninguém pode criticar a<br />

presidente da Bahiatursa, Emília<br />

Silva. Recent<strong>em</strong>ente, numa festa<br />

que a TAM realizou <strong>em</strong> Buenos<br />

Aires para promover o vôo<br />

direto entre <strong>Salvador</strong> e a capital<br />

argentina, ela causou espanto<br />

ao desfilar trajando uma blusa<br />

preta transparente sob a qual se<br />

revelava um sutiã tamanho 54.<br />

Verão<br />

Qu<strong>em</strong> acessa o site da <strong>em</strong>presa<br />

oficial de turismo da Bahia -<br />

www.bahiatursa.ba.gov.br - pode<br />

ser levado a crer que o trabalho<br />

da entidade acabou com o verão.<br />

A última notícia divulgada no<br />

dito site data de 31 de janeiro<br />

de 2007.<br />

Valter Pontes

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!