Prefeito restaura censura em Salvador - Revista Metrópole
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Sindicalismo<br />
Pimenta no cu dos<br />
outros é refresco<br />
Quando o assunto é a relação com os próprios funcionários, os<br />
sindicatos se mostram péssimos patrões<br />
Da redação<br />
Qu<strong>em</strong> vê os discursos inflamados dos<br />
sindicalistas <strong>em</strong> nome dos trabalhadores nas<br />
portas das <strong>em</strong>presas, escolas, bancos e estabelecimentos<br />
comerciais jamais pode imaginar<br />
o que acontece com os funcionários dos<br />
seus próprios sindicatos. Com raras exceções,<br />
os sindicalistas baianos são péssimos patrões,<br />
atrasam os salários dos trabalhadores, comet<strong>em</strong><br />
assédios sexuais e morais, não recolh<strong>em</strong> o INSS<br />
n<strong>em</strong> o FGTS, terceirizam a mão-de-obra e,<br />
geralmente, obrigam o funcionário a se filiar<br />
ao partido político que comanda a categoria.<br />
“Os discursos não referendam a prática”, afirma<br />
Clenice de Jesus Souza, presidente do Sintec<br />
(Sindicato dos Trabalhadores <strong>em</strong> Sindicatos e<br />
Entidades de Classe do Estado da Bahia).<br />
Na realidade, o Sintec funciona como uma<br />
espécie de ouvidoria dos trabalhadores contratados<br />
pelos sindicatos. De acordo com a presidente<br />
da entidade, quando estão do outro lado do<br />
“balcão”, os sindicalistas têm um comportamento<br />
muito diferente e reprim<strong>em</strong> os seus “funcionários”.<br />
“Exist<strong>em</strong> sindicatos que não permit<strong>em</strong><br />
sequer que os seus trabalhadores sejam filiados à<br />
entidade que os representa”, acrescenta Clenice<br />
de Jesus Souza. Atualmente, o Sintec congrega<br />
cerca de 2.000 trabalhadores, mas menos de<br />
400 contribu<strong>em</strong> regularmente (1% do salário)<br />
para a manutenção de todas as atividades do<br />
“representante dos trabalhadores <strong>em</strong> sindicatos”.<br />
“Por mais absurdo que possa parecer, exist<strong>em</strong><br />
sindicatos que descontam o percentual dos seus<br />
funcionários, mas não faz<strong>em</strong> o repasse para o<br />
Sintec”, ressalta Clenice de Jesus Souza.<br />
Apesar de arrecadar pouco por mês (cerca<br />
de R$3.000), o Sintec conseguiu comprar<br />
uma sede própria. Até dois anos atrás, a entidade<br />
funcionava <strong>em</strong> uma pequena sala alugada,<br />
no bairro de Nazaré. Agora, t<strong>em</strong> uma<br />
ampla casa no Barbalho (rua Dr. Arthur César<br />
Rios, 79), comprada por R$35 mil - com os<br />
investimentos realizados no local, o espaço<br />
está avaliado agora <strong>em</strong> R$110 mil.<br />
A média salarial dos trabalhadores dos sindicatos<br />
baianos d<strong>em</strong>onstra que os “patrões”<br />
também não gostam de valorizar os seus “fun-<br />
Valter Pontes<br />
Presidente do Sintec: “ Seria muito bom que os sindicalistas não<br />
agiss<strong>em</strong> do mesmo modo que os patrões, que só pensam <strong>em</strong> seus lucros”<br />
cionários”. Apesar de o aumento salarial estar na<br />
pauta de quase todas as negociações da categoria,<br />
os sindicalistas “esquec<strong>em</strong>” de reajustar os vencimentos<br />
dos seus “<strong>em</strong>pregados”. Um levantamento<br />
realizado pelo Sintec revela que mais de<br />
90% dos trabalhadores contratados pelos sindicatos<br />
receb<strong>em</strong> um salário mínimo (R$380) por<br />
mês. “Somente os funcionários que têm mais de<br />
15 anos de carteira assinada é que têm média<br />
salarial de R$600”, disse Clenice Souza.<br />
Nos últimos dois anos alguns dos principais<br />
sindicatos da Bahia, a ex<strong>em</strong>plo do<br />
Sindicato dos Bancários, também aderiram<br />
à terceirização da mão-de-obra, uma medida<br />
adotada para fugir do pagamento dos impostos<br />
e contribuições sociais. “Seria muito bom<br />
que os sindicalistas, que s<strong>em</strong>pre condenaram<br />
a terceirização, não agiss<strong>em</strong> do mesmo modo<br />
que os patrões que só pensam <strong>em</strong> seus lucros”,<br />
afirmou a presidente do Sintec.<br />
Mesmo sendo o representante legal dos trabalhadores<br />
contratados pelos sindicatos, o Sintec<br />
recebe poucas denúncias. O motivo é simples:<br />
os funcionários têm medo de perder o <strong>em</strong>prego.<br />
Mesmo assim, as queixas registradas pelo órgão<br />
cresceram 30% nos primeiros seis meses deste<br />
ano, <strong>em</strong> relação ao mesmo período de 2006.<br />
Uma das mais graves foi registrada por S.C.S.<br />
(o Sintec preserva a identidade dos seus associados).<br />
Ex-funcionária do Unibanco, S.C.S.<br />
trabalhava <strong>em</strong> São Paulo quando optou pelo<br />
retorno à Bahia para cuidar de sua mãe, que<br />
apresenta probl<strong>em</strong>as de saúde. Contratada por<br />
um sindicato para trabalhar no departamento<br />
jurídico, S.C.S. entrou <strong>em</strong> depressão e passou<br />
a tomar r<strong>em</strong>édios controlados depois de ser assediada<br />
moralmente. “Uma outra mulher teve<br />
de ser trocada de setor porque foi assediada sexualmente”,<br />
disse a presidente do Sintec.<br />
Outra prática adotada por muitos sindicatos<br />
baianos é uma afronta à d<strong>em</strong>ocracia<br />
e à Constituição. Em troca da “garantia de<br />
<strong>em</strong>prego”, os sindicalistas exig<strong>em</strong> que os seus<br />
funcionários sejam filiados ao partido político<br />
que controla a entidade (<strong>em</strong> todo o Estado, os<br />
principais sindicatos estão nas mãos do PT e<br />
do PCdoB). “Ninguém fala isto abertamente,<br />
até porque seria um escândalo, mas é evidente<br />
que a pressão é muito grande porque quase<br />
todos os sindicalistas sonham com uma carreira<br />
política”, acrescenta Clenice de Jesus Souza.<br />
De acordo com ela, os ex<strong>em</strong>plos b<strong>em</strong>-sucedidos<br />
de sindicalistas que se destacaram na<br />
política estimulam a medida - só para citar dois<br />
casos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou<br />
a sua carreira “política” no Sindicato dos<br />
Metalúrgicos do ABC paulista (à época, começo<br />
dos anos 80, o maior da América Latina). Na<br />
Bahia, o governador Jaques Wagner também foi<br />
diretor do Sindicato dos Petroquímicos. “Basta<br />
a gente fazer uma análise rigorosa na lista de<br />
candidatos a cargos eletivos para perceber que<br />
há muitos sindicalistas que se submet<strong>em</strong> ao<br />
voto”, disse a presidente do Sintec.<br />
Nos dias 25, 26 e 27 de abril deste ano, Clenice<br />
de Jesus Souza foi reconduzida com 95%<br />
de votos à presidência do Sintec. Apesar de ter<br />
ampla maioria entre os 281 votantes, a presidente<br />
teve de enfrentar a fúria dos “patrões”<br />
sindicalistas. “Por mais incrível que pareça,<br />
eles (os sindicalistas) registraram uma chapa no<br />
último dia, tendo como componentes velhos<br />
sindicalistas que se perpetuam há décadas nas<br />
diretorias das entidades, todos atrelados a partidos<br />
políticos e com o ranço do aparelhismo.<br />
Travestidos de bons moços, todos tinham o<br />
mesmo objetivo, que era aparelhar também<br />
o Sintec e calar a nossa voz. Ainda b<strong>em</strong> que<br />
foram expurgados da nossa entidade.” •<br />
Tá tudo dominado<br />
Partidos políticos controlam principais sindicatos<br />
Nos últimos 20 anos grandes transformações ocorreram no planeta, mas nos principais sindicatos baianos nenhuma<br />
mudança ocorreu. Há décadas eles atuam como feudos de partidos políticos e seus filiados. Veja ex<strong>em</strong>plos:<br />
Sindicato dos Bancários – Com cerca de 12 mil filiados, é um dos poucos do Brasil a ter<br />
um jornal e um programa de televisão diários. Desde 87, quando o deputado estadual Álvaro Gomes<br />
chegou à presidência, é comandado pelo PCdoB. Por mais de oito anos, Álvaro Gomes comandou<br />
oficialmente a entidade, que é sua principal base eleitoral. Apesar de afastado da presidência desde que<br />
assumiu o mandato parlamentar, o deputado ainda comanda os bancários.<br />
Sindicato dos Domésticos – O Sindomésticos conta com 3 mil associados, e é presidido<br />
por Marinalva Barbosa, integrante do grupo de Creuza Maria Oliveira, fundadora do sindicato <strong>em</strong> 1990<br />
e sua presidente até 2002. As duas são filiadas ao PT, e afirmam que mantêm contato com dirigentes<br />
do partido, mas atestam que essa é uma relação pessoal, s<strong>em</strong> ligação com a atuação do sindicato.<br />
Sindicato dos Rodoviários – Um dos maiores sindicatos do Estado, t<strong>em</strong> mais de 30 mil<br />
filiados. Desde 1989, o PT dá as cartas na entidade, sob o comando do deputado estadual J. Carlos. Nesses<br />
18 anos, ele praticamente esmagou a oposição e atualmente controla com folga toda a diretoria, quase<br />
toda ela ligada ao Partido dos Trabalhadores. Atualmente, J. Carlos divide seu t<strong>em</strong>po entre a Ass<strong>em</strong>bléia<br />
Legislativa e o sindicato, onde exerce seu quarto mandato como presidente.<br />
Sindicato dos Vendedores de Jornais e <strong>Revista</strong>s – A entidade representa os vendedores<br />
ambulantes e das bancas, além dos <strong>em</strong>pregados das distribuidoras. Na Bahia, são aproximadamente 9 mil<br />
profissionais, metade na Região Metropolitana de <strong>Salvador</strong>. Pouco mais de 500 são associados ao sindicato, e<br />
não passam de 120 os aptos a votar. Essas informações são do presidente do sindicato, Valter Ferreira da Silva,<br />
que s<strong>em</strong> oposição, desde 1974 é s<strong>em</strong>pre reconduzido ao cargo. Valter é filiado ao PDT.<br />
APLB – Este sindicato que comanda os professores licenciados da Bahia t<strong>em</strong> integrantes do PSB,<br />
PDT e PCdoB <strong>em</strong> sua diretoria, que comanda <strong>em</strong> forma de colegiado, s<strong>em</strong> presidente. Fundado há<br />
55 anos e responsável pela realização de uma das maiores greves da história da Bahia (mais de 50 dias<br />
só este ano), a APLB t<strong>em</strong> no PCdoB o seu “controle majoritário”. O 1º secretário da entidade, Rui<br />
Oliveira, que é comunista, disse que o partido trabalha <strong>em</strong> prol da categoria e que está identificado<br />
com os anseios populares. Os deputados comunistas Javier Alfaya (estadual) e Alice Portugal (federal)<br />
são os mais ligados à APLB.<br />
Sindicato dos Taxistas – Em <strong>Salvador</strong> trabalham aproximadamente 6 mil taxistas. Apenas 280 são<br />
filiados ao Sinditáxi, o que já é muito. Em 2006, quando Carlos Augusto Dias, o Assanhaço, assumiu a presidência<br />
da entidade, apenas os 52 associados da época participaram da eleição. Devido a esse número reduzido, a<br />
Associação Metropolitana dos Taxistas contesta a legitimidade do pleito. O presidente da Associação, Valdeilson<br />
Miguel, diz que Carlos Augusto pertence ao grupo de Manoel Lima, que presidiu o sindicato por 22 anos até 2000,<br />
e Jorge Nascimento, a qu<strong>em</strong> Assanhaço substituiu. Valdeilson diz ainda que esse grupo s<strong>em</strong>pre foi vinculado ao<br />
PFL (atual DEM). Assanhaço confirma a informação, mas não comenta a sua ligação com os ex-dirigentes. Em<br />
2004, ele candidatou-se a vereador pelo PTN, mas afirma que sairá do partido <strong>em</strong> breve e que ainda não sabe a<br />
qual legenda irá filiar-se.<br />
Sindicato dos Metalúrgicos – Com quase 15 mil filiados, também é controlado pelo<br />
PCdoB. Em sua orig<strong>em</strong>, era controlado pela “Articulação”, uma das tendências do PT. Depois, o PCdoB<br />
passou a dominar os principais cargos diretivos, inclusive a presidência. O diretor Jorge Luiz Cerqueira,<br />
no entanto, faz uma ressalva. “Neste sindicato o PCdoB e o PT se entend<strong>em</strong> muito b<strong>em</strong>.”<br />
Sindicato dos Comerciários – Com 18 mil associados, a entidade é comandada pelo<br />
PCdoB desde 1984. O presidente é Jaelson Dourado, mas qu<strong>em</strong> manda de fato é o vereador Reginaldo<br />
Oliveira (PCdoB), presidente licenciado do sindicato.<br />
20 <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> - julho de 2007<br />
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