Edição 18 | Ano 9 | No.2 | 2011 REVISTA - Contemporânea - Uerj
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o meDo Como DefiniDor De paDrões<br />
Ed.<strong>18</strong> | Vol.9 | N2 | <strong>2011</strong><br />
As informações veiculadas pela mídia de massa podem ser definidoras de<br />
tendências e comportamentos (Lima, 2002), fato que gera um grande interesse<br />
acadêmico. Neste texto, discutimos alguns aspectos na relação entre corpo e<br />
cidade a partir da constatação da intensificação da violência urbana, de sua<br />
exploração espetacularizante pela mídia e a consequente influência do medo<br />
resultante deste quadro na organização e estruturação dos grandes centros urbanos<br />
(Amaral, 2007; Freitas e Lessa, 2005). A violência urbana no cotidiano<br />
e sua espetacularização influenciam os comportamentos e ações dos cidadãos<br />
e refletem na arquitetura urbana contemporânea, que tende a se organizar de<br />
acordo com padrões de fuga e isolamento. O objetivo deste estudo é refletir<br />
sobre a possibilidade da existência de um padrão de corporeidade relacionado<br />
ao medo na estruturação dos corpos dos sujeitos das grandes cidades.<br />
Para o desenvolvimento deste estudo, primeiramentediscutimos<br />
como a sensação do medo se apresenta na transformação da arquitetura da<br />
cidade e, posteriormente, refletimos sobre as vivências do cidadão nos espaços<br />
“contaminados” pelo medo, em como elas podem ser definidoras de<br />
uma corpografia urbana específica. Assim, tentamos apontar um possível<br />
caminho de resistência dos corpos dos cidadãos ao se depararem com estruturas<br />
urbanas cerceadoras e espetacularizantes. Questionamos se o que<br />
se apresenta como um ambiente urbano opressor não oferece frestas para o<br />
corpo se expressar e reordenar suas experiências no cotidiano das cidades.<br />
Deste modo, para localizar a problemática das corporeidades na dinâmica<br />
do mundo contemporâneo, partimos dos estudos de Zygmunt Bauman,<br />
Félix Guattari, Massimo Canevacci e Michel Foucault. Utilizamos o conceito<br />
de corpografia apresentado por Paola Berenstein Jacques e Fabiana<br />
Dultra Britto para refletir sobre a relação do corpo e a cidade, associando a<br />
estudos que tratam da violência e das transformações urbanas.<br />
A corpografia urbana é a interação entre o corpo e a cidade<br />
“mesmo que involuntariamente, através da simples experiência urbana.<br />
A cidade é lida pelo corpo como conjunto de condições interativas e o<br />
corpo expressa a síntese dessa interação descrevendo em sua corporalidade”<br />
(Jacques e Britto, 2008, p. <strong>18</strong>2).<br />
A partir deste entendimento, acreditamos que o contexto social que se<br />
apresenta em relação ao medo da violência condiciona uma vivência do cidadão<br />
neste ambiente e por isso define um efeito, uma grafia específica em seu corpo.<br />
O papel da mídia quanto à espetacularização da violência resulta em<br />
duas situações distintas, uma delas seria a banalização dos atos violentos, tornando-os<br />
corriqueiros e sem importância no dia a dia das pessoas, ou então,<br />
a criação de um estado de alerta coletivo, em que são adotadas posturas de<br />
suspensão das vivências urbanas em favor de experiências seguras. Neste cenário,<br />
o que parece ocorrer também é a apropriação capitalista desta situação<br />
Corpo/Cidade: uma corpografia do medo