nem melhor nem pior, apenas divergentes - Revista de Ciência ...
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interpretações genéricas dos aspectos global e parciais das estruturas<br />
nacionais e regionais;<br />
5. O trabalho sociológico <strong>de</strong>ve ter sempre em vista que a <strong>melhor</strong>ia das<br />
condições <strong>de</strong> vida das populações está condicionada ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />
industrial das estruturas nacionais e regionais;<br />
6. É francamente <strong>de</strong>saconselhável que o trabalho sociológico, direta ou<br />
indiretamente, contribua para a persistência, nas nações latinoamericanas,<br />
<strong>de</strong> estilos <strong>de</strong> comportamento <strong>de</strong> caráter pré-letrado (...);<br />
7. Na utilização da metodologia sociológica, os sociólogos <strong>de</strong>vem ter em<br />
vista que as exigências <strong>de</strong> precisão e refinamento <strong>de</strong>correm do nível <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento das estruturas nacionais e regionais (...) (RAMOS,<br />
1954, p. 77-78).<br />
Guerreiro propunha a construção <strong>de</strong> uma sociologia brasileira que refletisse os seus<br />
problemas, que se estimulasse e rompesse com o pensamento estrangeiro, europeu e norteamericano.<br />
Tendo suas teses reprovadas, Guerreiro divi<strong>de</strong> o pensamento sociológico brasileiro<br />
em duas correntes: uma consular ou enlatada, consi<strong>de</strong>rada como uma expansão cultural dos<br />
países da Europa e dos Estados Unidos; e outra que está procurando utilizar-se da experiência<br />
do trabalho sociológico universal como instrumento <strong>de</strong> autoconhecimento e <strong>de</strong>senvolvimento<br />
das estruturas nacionais (RAMOS, 1954).<br />
O <strong>de</strong>staque que merece ser feito, a título <strong>de</strong> contextualização, é que as propostas<br />
levantadas no Congresso não se limitavam a meros indicativos, mas continham e expunham<br />
um mo<strong>de</strong>lo não só <strong>de</strong> como <strong>de</strong>veria ser encarada a sociologia, assim como revelava um<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> nação a ser construído, calcado principalmente nos marcos do <strong>de</strong>senvolvimentismo,<br />
teoria então em voga no cenário político e econômico brasileiro.<br />
O <strong>de</strong>bate acerca das sete teses apresentadas no Congresso transbordaram para outros<br />
níveis, ganhando repercussão no campo acadêmico e social. A reação por parte <strong>de</strong> Guerreiro<br />
Ramos se <strong>de</strong>u através da imprensa (“Diário <strong>de</strong> Notícias”) e contou com o apoio <strong>de</strong> seus colegas<br />
<strong>de</strong> ISEB, em especial o historiador Nelson Werneck Sodré.<br />
Uma das críticas mais contun<strong>de</strong>ntes às propostas levantadas por Guerreiro Ramos<br />
partiu do sociólogo paulista Florestan Fernan<strong>de</strong>s. Ao redigir o trabalho “O padrão <strong>de</strong> trabalho<br />
científico dos sociólogos brasileiros”, em 1954, Florestan levanta críticas à intervenção <strong>de</strong><br />
Guerreiro no II Congresso Latino-Americano <strong>de</strong> Sociologia 8 . O intelectual paulista concentrou<br />
sua munição principalmente nas teses quatro e sete, que como vimos anteriormente aborda a<br />
priorida<strong>de</strong> às questões regionais, em <strong>de</strong>trimento dos gastos <strong>de</strong> recursos em pesquisas sobre<br />
“minudências da vida social” e a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> que os resultados das pesquisas sociológicas<br />
<strong>de</strong>correriam do nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das estruturas nacionais e regionais.<br />
O eixo <strong>de</strong> argumentação elaborado por Florestan Fernan<strong>de</strong>s gira em torno da <strong>de</strong>fesa da<br />
pesquisa empírica. No ensaio autobiográfico “Em busca <strong>de</strong> uma sociologia crítica e militante”,<br />
publicado no livro “A sociologia no Brasil: contribuição para o estudo <strong>de</strong> sua formação e<br />
<strong>de</strong>senvolvimento” (1977) assevera que os tempos na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia serviram como um<br />
8 O artigo foi publicado no ano <strong>de</strong> 1954 na “<strong>Revista</strong> Brasileira <strong>de</strong> Estudos Políticos” e em 1958 foi<br />
republicado no livro “A etnologia e a sociologia no Brasil”.<br />
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