nem melhor nem pior, apenas divergentes - Revista de Ciência ...
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trabalho.<br />
2.1 A construção da sociologia do Brasil <strong>de</strong> Guerreiro Ramos<br />
A sociologia não é especialização, ofício profissional (...).<br />
A vocação da sociologia é resgatar o homem ao homem (...).<br />
É no mais autêntico sentido da palavra, torna-se um saber <strong>de</strong> salvação.<br />
Guerreiro Ramos 4<br />
A produção acadêmica <strong>de</strong> Guerreiro Ramos nas décadas <strong>de</strong> 50/60/70 insere-se em um<br />
período <strong>de</strong> construção e <strong>de</strong>senvolvimento das ciências sociais no Brasil, e conseqüente<br />
formação <strong>de</strong> um campo disciplinar da sociologia.<br />
Na visão <strong>de</strong> Guerreiro, no Brasil como nos <strong>de</strong>mais países colonizados, a sociologia<br />
assume atitu<strong>de</strong>s contraditórias. Observa-se uma tensão entre duas correntes <strong>de</strong> idéias: “uma<br />
que representa um esforço <strong>de</strong> criação <strong>de</strong>sses países e a outra que consiste simplesmente<br />
numa glosa <strong>de</strong> orientações doutrinárias vigentes nos centros <strong>de</strong> cultura estrangeiros” (RAMOS,<br />
1953, p. 10). Assim, os países colonizados voltam-se para a adoção das idéias e atitu<strong>de</strong>s dos<br />
países colonizadores, o que é <strong>de</strong>nominado por Guerreiro <strong>de</strong> um imperialismo mimético, não<br />
baseado na coerção, mas garantido pela própria atração que exercem sobre os colonizados as<br />
instituições dos países colonizadores.<br />
Por outro lado, no caso brasileiro, existe uma corrente <strong>de</strong> pensamento “orientada no<br />
sentido da <strong>de</strong>ssatelização histórica. Seus epígonos são verda<strong>de</strong>iramente criadores e se<br />
caracterizam por uma tendência política mais do que propriamente especulativa” (RAMOS,<br />
1953, p. 11). São representantes <strong>de</strong>sta corrente: Silvio Romero, Eucly<strong>de</strong>s da Cunha, Alberto<br />
Torres e Oliveira Viana. A outra corrente a que Guerreiro Ramos se refere como i<strong>de</strong>alizadora é<br />
representada por Pontes <strong>de</strong> Miranda, Tristão <strong>de</strong> Ataí<strong>de</strong>, Pinto Ferreira e Mario Lins. E por<br />
último “um sub-ramo <strong>de</strong>sta última corrente que se exprime nas obras <strong>de</strong> Nina Rodrigues,<br />
Gilberto Freyre e Arthur Ramos” (RAMOS, 1953, p. 12).<br />
Em relação à sociologia <strong>de</strong> São Paulo, concentrada na Escola <strong>de</strong> Sociologia e Política,<br />
obtém características peculiares. Isto porque, o ensino e a pesquisa em sociologia são<br />
organizados pela elite paulista, com objetivos práticos e propósitos institucionais. “Parece<br />
inspirar à Escola o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> abastecer o setor <strong>de</strong> negócios <strong>de</strong> profissionais especializados em<br />
ciências sociais e neste sentido aquela instituição suce<strong>de</strong>u plenamente” (RAMOS, 1953, p. 29).<br />
Florestan Fernan<strong>de</strong>s constitui o seu principal representante:<br />
Florestan Fernan<strong>de</strong>s é bem representativo da experiência universitária paulista,<br />
seu símbolo vivo, visto que fruto do que proporcionou <strong>de</strong> <strong>melhor</strong>. Sua carreira é<br />
a que tem transcorrido <strong>de</strong>ntro dos trâmites universitários mais rigorosos. Seria<br />
monstruoso distraí-lo do seu esforço <strong>de</strong> criação teórica, plano em que<br />
certamente o Brasil dará com ele, o seu primeiro clássico universal, no campo<br />
da antropologia (RAMOS, 1953, p. 30).<br />
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