Ciganos x pós-modernidade - Programa de Pós-Graduação em ...
Ciganos x pós-modernidade - Programa de Pós-Graduação em ...
Ciganos x pós-modernidade - Programa de Pós-Graduação em ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
humanida<strong>de</strong>. Sobre isso Maffesoli (2004, p,26) dirá que na socieda<strong>de</strong> <strong>pós</strong>-mo<strong>de</strong>rna até o<br />
termo “indivíduo” <strong>de</strong>ve ser questionado, <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> dos inúmeros papeis que o individuo<br />
encarna nas diferentes tribos por on<strong>de</strong> circula. Por esse motivo é que, para esse autor, seria<br />
mais apropriado trocar o termo individuo por pessoa 4 .<br />
Já Deleuze & Guattari (1997, p. 157), ao explicar<strong>em</strong> a passag<strong>em</strong> da <strong>mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong></strong> para<br />
a <strong>pós</strong>-<strong>mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong></strong>, utilizam-se das figuras: espaço liso e estriado. Para eles o espaço estriado,<br />
tecido vertical e horizontal (fixo, fechado, <strong>de</strong>limitado, com fronteiras) representaria a<br />
<strong>mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong></strong>. A <strong>pós</strong>-<strong>mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong></strong> é ilustrada pela figura do feltro, que é extr<strong>em</strong>amente liso,<br />
s<strong>em</strong> rugas, produzido s<strong>em</strong> o intercruzamento <strong>de</strong> fios (infinito, aberto, ilimitado, s<strong>em</strong> direito,<br />
n<strong>em</strong> centro, n<strong>em</strong> avesso). Os autores enfatizam que apesar <strong>de</strong> não ser<strong>em</strong> da mesma natureza,<br />
esses espaços se misturam se entrecruzam, e que, eles só exist<strong>em</strong> “graças a essa mistura”.<br />
No que diz respeito aos ciganos, o fato <strong>de</strong> viver<strong>em</strong> “à marg<strong>em</strong>” das socieda<strong>de</strong>s nãociganas,<br />
não os exime <strong>de</strong> sofrer<strong>em</strong> os efeitos das transformações pelas quais as referidas<br />
socieda<strong>de</strong>s passam, como ex<strong>em</strong>plifica Simões (2007, p.48).<br />
Com o advento da Revolução Industrial, a Europa se viu impulsionada por um outro<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado pela Inglaterra,que <strong>em</strong><br />
meados do século XIX havia se constituído <strong>em</strong> uma socieda<strong>de</strong> industrial com uma<br />
numerosa população urbana. Apesar das pressões do governo inglês para que todos<br />
assimilass<strong>em</strong> e se integrass<strong>em</strong> ao novo mo<strong>de</strong>lo, os ciganos não manifestavam<br />
nenhum interesse pelos <strong>em</strong>pregos na produção fabril. Por sua excepcional<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação, o que eles fizeram foi <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>r uma nova dinâmica as<br />
suas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ambulantes, <strong>de</strong>slocando-se pelo interior da Inglaterra e<br />
<strong>de</strong>senvolvendo suas tradicionais habilida<strong>de</strong>s.<br />
Percebe-se, portanto, a adaptabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse povo diante das transformações e<br />
principalmente diante dos obstáculos. Mas, se a <strong>mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong></strong> trouxe alguns <strong>de</strong>safios para os<br />
ciganos, que, <strong>de</strong> uma forma ou <strong>de</strong> outra, foram superados, o que dizer <strong>em</strong> relação à <strong>pós</strong><strong>mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong></strong>?<br />
Maffesoli (2004, p.22) aponta a <strong>pós</strong>-<strong>mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong></strong> como uma época <strong>de</strong><br />
fragmentações, <strong>de</strong> abstrações, e que foi <strong>de</strong>vido a isso que ocorreu o retorno do “local”, a<br />
importância da “tribo” e da “montag<strong>em</strong> mitológica”.<br />
A volta <strong>de</strong>sses aspectos da vida social se <strong>de</strong>u, numa tentativa <strong>de</strong> enfrentamento, por<br />
parte das socieda<strong>de</strong>s, que se viram ameaçadas <strong>em</strong> seus valores arraigados (costumes, língua,<br />
culinária, posturas corporais) Maffesoli (2004). No caso dos ciganos, os enfrentamentos<br />
foram e continuam sendo uma constante, portanto, cedo compreen<strong>de</strong>ram que era no<br />
sentimento <strong>de</strong> pertencimento e valoração <strong>de</strong> sua cultura que encontrariam as ferramentas<br />
necessárias para se proteger<strong>em</strong> das tentativas <strong>de</strong> assimilação e extermínio.<br />
Os ciganos por muito t<strong>em</strong>po continuarão sendo consi<strong>de</strong>rados, pelos não-ciganos, como<br />
pessoas estranhas, diferentes, esquisitas. Bauman (1999, p.89), <strong>em</strong> sua obra Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> e<br />
Ambivalência, dirá que as comunida<strong>de</strong>s socialmente estruturadas têm dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
compreen<strong>de</strong>r pessoas que estejam <strong>de</strong>slocadas, que não possuam lar, raízes. É o caso dos<br />
ciganos, que por não possuír<strong>em</strong> território, pelo nomadismo, pelo antipatriotismo, se<br />
enquadrarão naquilo que o autor chama <strong>de</strong> “estranho”.<br />
4 . A palavra 'pessoa' t<strong>em</strong> sua orig<strong>em</strong> no latim e significava máscaras usadas por atores no teatro clássico. Mais<br />
tar<strong>de</strong> 'pessoa' passou a <strong>de</strong>signar aquele que <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha um papel na vida, que é um agente. De acordo com o<br />
Oxford Dictionary, um dos sentidos atuais do termo é “ser autoconsciente ou racional”. John Locke <strong>de</strong>fine uma<br />
pessoa como “um ser inteligente e pensante dotado <strong>de</strong> razão e reflexão e que po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar-se a si mesmo<br />
aquilo que é a mesma coisa pensante, <strong>em</strong> diferentes momentos e lugares”. Lexicon.Vocabulário <strong>de</strong> Filosofia.<br />
Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> A.R.Gomes. Dicionário <strong>de</strong> psicologia. Lisboa: Verbo, 1978.<br />
2