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Ciganos x pós-modernidade - Programa de Pós-Graduação em ...

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in<strong>de</strong>finida, no “entre-lugar” (SILVIANO, 1978), no espaço inapreensível pelas instâncias <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r, que só ating<strong>em</strong> os “fixos” e não os “cambiantes”.<br />

Maffesoli (2001, p.38) dirá ainda que “(...) qualquer que seja o nome que se lhe possa<br />

dar, a errância, o nomadismo está inscrito na própria estrutura da natureza humana, quer se<br />

trate do nomadismo individual ou do social”. O nomadismo não seria, portanto, uma ativida<strong>de</strong><br />

somente <strong>de</strong> populações coletoras. O que move as pessoas, na percepção do autor, é uma<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “evasão” inerente ao ser humano.<br />

O autor (ibi<strong>de</strong>m, p.69) sugere, também, que o fruto do nomadismo na atualida<strong>de</strong> é a<br />

“sociabilida<strong>de</strong>”. Essa sociabilida<strong>de</strong>, a que se refere o mesmo seriam el<strong>em</strong>entos que foram<br />

ocultados ou marginalizados pela <strong>mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong></strong>, por ex<strong>em</strong>plo: os sincretismos filosóficos e<br />

religiosos. Dessa forma, o nomadismo ao criar sociabilida<strong>de</strong> ameniza a solidão, que é um dos<br />

principais <strong>de</strong>safios dos indivíduos <strong>pós</strong>-mo<strong>de</strong>rnos. A internet, as viagens <strong>de</strong> férias, reuniões,<br />

festivas, encontros religiosos são alguns <strong>de</strong>sses frutos da sociabilida<strong>de</strong>.<br />

A idéia <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> acordo com Bauman (1999, p.260), passa pela noção <strong>de</strong><br />

comunida<strong>de</strong>, mesmo que essa comunida<strong>de</strong> vá exigir que, <strong>de</strong> certa forma, se abra mão da<br />

própria liberda<strong>de</strong>. A comunida<strong>de</strong>, nesse sentido, é um lugar <strong>de</strong> compartilhamento <strong>de</strong> idéias e<br />

esse compartilhar é o que proporcionará aos indivíduos a promessa <strong>de</strong> abrigo. Essa<br />

comunida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser uma fraternida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ológica, <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino ou <strong>de</strong> missão.<br />

No caso dos ciganos, exist<strong>em</strong> varias hipóteses para o nomadismo. Exist<strong>em</strong> as que<br />

apontam o nomadismo cigano, não como um el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>, mas como um mecanismo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa. Nesse caso os ciganos buscam <strong>em</strong> suas idas e vindas evitar o controle e os<br />

processos <strong>de</strong> assimilação. Essa atitu<strong>de</strong> os levaria a assumir<strong>em</strong> o lugar que Bauman (1999,<br />

p.68) intitula como o “lugar do estranho”,<br />

(...) O estranho, com efeito, é alguém que se recusa a ficar confinado à terra<br />

“longínqua” ou a se afastar da nossa e assim, a priori, <strong>de</strong>safia o expediente fácil da<br />

segregação espacial ou t<strong>em</strong>poral” ,“(...) ele é uma ameaça constante à or<strong>de</strong>m do<br />

mundo (ibi<strong>de</strong>m, p.69).<br />

Outras análises apontam que o nomadismo cigano se <strong>de</strong>ve ao tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> que<br />

exerc<strong>em</strong>, ou seja, às vendas a domicilio e aos negócios <strong>de</strong> trocas, mais conhecidos como<br />

“rolos”, e que, isso os levaria a constantes <strong>de</strong>slocamentos. Há ainda os que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que, o<br />

que transformou os ciganos <strong>em</strong> uma minoria nôma<strong>de</strong> foram as perseguições e expulsões a que<br />

foram expostos. Nesse sentido, Fraser (apud SIMÕES, 2007, p.31) coloca que:<br />

Até hoje não foi possível, contudo, <strong>de</strong>scobrir quais foram os motivos e as<br />

circunstâncias que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>aram a migração e a diss<strong>em</strong>inação dos ciganos para<br />

diversas partes do mundo. A própria convivência dos ciganos com múltiplas<br />

culturas, as influências lingüísticas, <strong>de</strong>mográficas, sociolingüísticas e históricas, têm<br />

se constituído num el<strong>em</strong>ento que dificulta i<strong>de</strong>ntificar sua verda<strong>de</strong>ira composição<br />

étnica.<br />

Em Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> líquida (2001), ao falar sobre espaço nas socieda<strong>de</strong>s <strong>pós</strong>-mo<strong>de</strong>rnas,<br />

Bauman <strong>de</strong>ixa claro que o acesso aos espaços extraterritoriais cabe, não mais apenas as<br />

populações nôma<strong>de</strong>s, como os ciganos, mas também, e principalmente, a uma parcela da<br />

humanida<strong>de</strong> que ele intitula <strong>de</strong> elite global. Essa “elite cosmopolita global” é <strong>de</strong>tentora do<br />

capital mundial, portanto, são indivíduos que viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> uma espécie <strong>de</strong> “bolha” que seria<br />

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