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Ciganos x pós-modernidade - Programa de Pós-Graduação em ...

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<strong>de</strong> orig<strong>em</strong> o próprio grupo po<strong>de</strong>ria ser consi<strong>de</strong>rado um território imaginado? A noção <strong>de</strong><br />

território foi utilizada pela primeira vez no final do século XIX por Fre<strong>de</strong>ric Ratzel (apud<br />

MORAES 1990a) que coloca que, “(...) o território existe s<strong>em</strong> a presença do hom<strong>em</strong>,<br />

<strong>de</strong>socupado (apolítico) ou com a presença <strong>de</strong>ste e com o domínio do Estado (político)”. Mas,<br />

se, como sugere Ratzel, território ocupado pressupõe domínio do Estado, o que dizer dos<br />

ciganos que negam pertencimento territorial, mas ao mesmo t<strong>em</strong>po reivindicam direitos?<br />

Como pensar a noção <strong>de</strong> direitos diante <strong>de</strong> tal negação?<br />

Melucci (2005, p. 100-101), ao comentar sobre juventu<strong>de</strong> na <strong>pós</strong>-<strong>mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong></strong> ou mais<br />

especificamente naquilo que ele chama <strong>de</strong> “socieda<strong>de</strong>s complexas”, aponta para outro tipo <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, a “i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> juvenil”. Ele diz que esta i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> é <strong>de</strong>finida por “modos <strong>de</strong> vida e<br />

linguagens próprias” e que, se por um lado, ela é homogênea, por outro, ela é diferenciada<br />

pelo pertencimento territorial e social.<br />

No caso, dos jovens ciganos percebe-se certa oscilação entre uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> juvenil<br />

cigana, quando falam o idioma do grupo cigano ao qual pertenc<strong>em</strong>, e, uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> juvenil<br />

não-cigana quando se apropriam das gírias, jargões, etc. Quanto ao modo <strong>de</strong> vida, mesmo<br />

fazendo parte <strong>de</strong> uma tradição com formas <strong>de</strong> vestir exóticas, a juventu<strong>de</strong> cigana, com<br />

exceção das festas intra-grupo, seguirá as tendências da moda, ouvirá os hits do momento,<br />

terá um celular <strong>de</strong> última geração, um laptop, o que po<strong>de</strong> variar é o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra <strong>de</strong> cada<br />

um na a<strong>de</strong>são a esse ou aquele símbolo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação à juventu<strong>de</strong> não-cigana.<br />

O consumo é outro aspecto das socieda<strong>de</strong>s <strong>pós</strong>-mo<strong>de</strong>rnas que atravessa a cultura<br />

cigana. Bauman (2011, p. 83) concebe o consumismo como um “produto social” que serve a<br />

muitos pro<strong>pós</strong>itos. Mais ainda, que t<strong>em</strong> a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transformar seres humanos <strong>em</strong> meros<br />

consumidores relegando todo o resto a segundo plano. O consumo é uma necessida<strong>de</strong> <strong>em</strong><br />

última instância <strong>de</strong> sobrevivência, já o consumismo é o ato <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocar o consumo para um<br />

ponto central, on<strong>de</strong> ele se tornaria o “foco <strong>de</strong> todos os interesses”, ou mesmo, o “foco único<br />

<strong>de</strong>sses interesses”.<br />

Os ciganos não estão alijados das necessida<strong>de</strong>s “criadas” pelas socieda<strong>de</strong>s <strong>pós</strong>mo<strong>de</strong>rnas.<br />

A televisão é, por excelência, o meio pelo qual os apelos ao consumo se tornam<br />

mais evi<strong>de</strong>ntes para esses. É raro encontrar uma casa ou tenda cigana que não tenha um<br />

aparelho <strong>de</strong> televisão. É nas crianças e nos jovens, talvez por sua suscetibilida<strong>de</strong>, que se<br />

percebm os efeitos <strong>de</strong>sses apelos com mais niti<strong>de</strong>z.<br />

Conclusão<br />

As questões apresentadas nesse texto apontam para algumas transformações<br />

observadas na i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cigana que a principio pressupõ<strong>em</strong> que essa cultura está sendo<br />

obrigada por fatores externos a modificar el<strong>em</strong>entos culturais ancestrais.<br />

Os efeitos <strong>de</strong>sse processo apenas começam a ser observados por estudiosos e<br />

pesquisadores. Nesse momento, não é possível dizer que essa cultura está <strong>de</strong>saparecendo ou<br />

coisas do gênero. Os ciganos têm uma história <strong>de</strong> lutas e resistências que os cre<strong>de</strong>nciam<br />

diante dos mais difíceis obstáculos, por sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> superação. Entretanto, as<br />

transformações são inequívocas e <strong>de</strong>safiadoras. Nesse sentido, é importante que sejam<br />

<strong>de</strong>senvolvidas mais pesquisas, que possam produzir subsídios para novas analises e reflexões.<br />

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