14.04.2013 Views

A dinâmica funcional de dois centros urbanos do Alto Vale ... - UFMG

A dinâmica funcional de dois centros urbanos do Alto Vale ... - UFMG

A dinâmica funcional de dois centros urbanos do Alto Vale ... - UFMG

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais<br />

Instituto <strong>de</strong> Geociências<br />

Departamento <strong>de</strong> Geografia<br />

Joyce <strong>de</strong> Lima Pedra<br />

A <strong>dinâmica</strong> <strong>funcional</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>do</strong>is</strong> <strong>centros</strong> <strong>urbanos</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Alto</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha: Capelinha e Minas<br />

Novas<br />

Belo Horizonte<br />

2010


Joyce <strong>de</strong> Lima Pedra<br />

A <strong>dinâmica</strong> <strong>funcional</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>do</strong>is</strong> <strong>centros</strong> <strong>urbanos</strong> <strong>do</strong> <strong>Alto</strong> <strong>Vale</strong><br />

<strong>do</strong> Jequitinhonha: Capelinha e Minas Novas<br />

Trabalho apresenta<strong>do</strong> ao Departamento <strong>de</strong><br />

Geografia <strong>do</strong> Instituto <strong>de</strong> Geociências da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais como<br />

requisito parcial para obtenção <strong>do</strong> título <strong>de</strong><br />

licencia<strong>do</strong> em Geografia.<br />

Orienta<strong>do</strong>ra: Prof a Dr a Marly Nogueira<br />

Belo Horizonte<br />

Instituto <strong>de</strong> Geociências da <strong>UFMG</strong><br />

2010


Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais<br />

Instituto <strong>de</strong> Geociências<br />

Curso <strong>de</strong> Graduação em Geografia<br />

Monografia intitulada: A <strong>dinâmica</strong> <strong>funcional</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>do</strong>is</strong> <strong>centros</strong> <strong>urbanos</strong> <strong>do</strong> <strong>Alto</strong><br />

<strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha: Capelinha e Minas Novas, <strong>de</strong> autoria da graduanda<br />

Joyce <strong>de</strong> Lima Pedra, aprovada pela banca examina<strong>do</strong>ra constituída pelos<br />

seguintes professores.<br />

______________________________________<br />

Prof a Dr a Marly Nogueira – IGC/<strong>UFMG</strong> - Orienta<strong>do</strong>ra<br />

______________________________________<br />

Prof. Dr. Fausto Brito – CEDEPLAR/<strong>UFMG</strong><br />

______________________________________<br />

Prof a Dr a Maria Luiza Grossi Araújo– IGC/<strong>UFMG</strong><br />

______________________________________<br />

Prof a Ana Maria Simões Coelho – IGC/<strong>UFMG</strong><br />

Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> Graduação em Geografia<br />

Belo Horizonte, 05 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2010.<br />

Av. Presi<strong>de</strong>nte Antônio Carlos, 6.627 – Belo Horizonte, MG – 31270-901 – Brasil – tel.: (031) 3409-5112 – fax (031) 3409-5490


AGRADECIMENTOS<br />

Agra<strong>de</strong>ço primeiramente a Deus, pela oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ingressar na universida<strong>de</strong> e por não me<br />

<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong>sanimar nos difíceis e cansativos momentos vivi<strong>do</strong>s durante a graduação;<br />

Agra<strong>de</strong>ço aos meus pais e irmãs pelo incentivo e apoio incondicionais;<br />

Agra<strong>de</strong>ço, imensamente, aos meus tios e avô que me receberam em sua casa com to<strong>do</strong> o<br />

carinho e <strong>de</strong>dicação;<br />

Agra<strong>de</strong>ço a Dr a Marly Nogueira, pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver este trabalho, pela<br />

<strong>de</strong>dicação e confiança dispensa<strong>do</strong>s <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a in<strong>de</strong>cisão sobre o objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> até a conclusão<br />

<strong>de</strong>sta monografia. Sem o seu apoio este trabalho não seria possível.<br />

Agra<strong>de</strong>ço ao Dr. Fausto Brito, por aceitar prontamente o meu convite em participar da banca<br />

examina<strong>do</strong>ra, pelas orientações e observações e, sobretu<strong>do</strong>, pela disponibilida<strong>de</strong>, paciência,<br />

carinho e <strong>de</strong>dicação dispensa<strong>do</strong>s a mim durante to<strong>do</strong> este perío<strong>do</strong>.<br />

Agra<strong>de</strong>ço a Dr a Maria Luiza Grossi, pela agradável e enriquece<strong>do</strong>ra companhia durante o<br />

trabalho <strong>de</strong> campo e pelas observações efetuadas no dia da prévia. Suas orientações foram <strong>de</strong><br />

suma importância para o progresso <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

Agra<strong>de</strong>ço ao meu queri<strong>do</strong> e ama<strong>do</strong> grupo <strong>de</strong> trabalho e amigos, o sexteto! Carlim (Carlos<br />

Henrique); Jose (Joseane Biazini), Rê (Renata Fraga), Loiro (Rinal<strong>do</strong> Rossi) e Tico (Thiago<br />

Macha<strong>do</strong>), com vocês os momentos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> se tornaram muito mais proveitosos, agradáveis<br />

e diverti<strong>do</strong>s. Vocês foram a maior alegria nestes 05 anos <strong>de</strong> curso!<br />

Agra<strong>de</strong>ço a to<strong>do</strong>s os familiares que acompanharam a minha caminhada, aos colegas e amigos<br />

conquista<strong>do</strong>s ao longo <strong>do</strong> curso, a to<strong>do</strong>s os professores que colaboraram para a minha<br />

formação e a todas as pessoas que <strong>de</strong> alguma forma participaram da minha trajetória durante<br />

esta graduação.


RESUMO<br />

Este trabalho <strong>de</strong> monografia consiste em um estu<strong>do</strong> sobre a <strong>dinâmica</strong> <strong>funcional</strong> <strong>de</strong><br />

pequenas cida<strong>de</strong>s em uma região econômica e socialmente estagnada e <strong>de</strong>primida. Os<br />

municípios que servirão como estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caso será: Capelinha e Minas Novas, localiza<strong>do</strong>s no<br />

<strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha. O estu<strong>do</strong> abordará consi<strong>de</strong>rações sobre pequenas cida<strong>de</strong>s, com o<br />

intuito <strong>de</strong> esclarecer o que é e como funcionam estas localida<strong>de</strong>s. Será regatada a formação da<br />

re<strong>de</strong> urbana <strong>do</strong> <strong>Alto</strong> Jequitinhonha e a história da ocupação <strong>do</strong>s municípios <strong>de</strong> Capelinha e<br />

Minas Novas, com o objetivo <strong>de</strong> contextualizar a importância da geo-história na atual<br />

<strong>dinâmica</strong> <strong>funcional</strong> <strong>de</strong>stas cida<strong>de</strong>s. Após um maior esclarecimento sobre a <strong>dinâmica</strong> e<br />

<strong>funcional</strong>ida<strong>de</strong> das pequenas cida<strong>de</strong>s, associada, à contextualização geo-histórica da sub-<br />

região e municípios trabalha<strong>do</strong>s, será exposto um panorama da <strong>dinâmica</strong> <strong>funcional</strong> das<br />

cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Capelinha e Minas Novas, concluin<strong>do</strong> com algumas consi<strong>de</strong>rações sobre a análise<br />

efetuada.<br />

Palavras-chaves: pequenas cida<strong>de</strong>s; centralida<strong>de</strong>; estagnação; <strong>dinâmica</strong> <strong>funcional</strong>.


ABSTRACT<br />

This paper consists in a research on the functional dynamics of small cities in a<br />

economically and socially <strong>de</strong>pressed region. The counties studied are: Capelinha e Minas<br />

Novas, both situated in the Jequitinhonha Valley. This research brings also information about<br />

small cities, with the purpose of elucidate what exactly they are, and how they work. The<br />

formation of the Jequitinhonha Valley’s urban net will be reviewed, so will be the history of<br />

Capelinha and Minas Novas settlements; the objective is to put in context the importance of<br />

geo-history in the present functional dynamics in these cities. Having elucidated the dynamics<br />

and functionality of small cities, together with the geo-historical context of the studied county<br />

and sub-region, a panel will be ma<strong>de</strong>, showing the functional dynamics in Capelinha and<br />

Minas Novas, concluding with some reflections on this analysis.<br />

Key words: small cities; central location; economic <strong>de</strong>pression; functional dynamics.


Ed - Edição<br />

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS<br />

EMATER - Empresa <strong>de</strong> Assistência Técnica e Extensão Rural<br />

EMBRAPA - Empresa Brasileira <strong>de</strong> Pesquisa Agropecuária<br />

IBGE – Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística<br />

IDH - Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento Humano<br />

ISPLS- Impostos sobre produtos líqui<strong>do</strong>s <strong>de</strong> subsídios<br />

Km 2 – Quilômetro quadra<strong>do</strong><br />

Nº - Número<br />

Org. – Organiza<strong>do</strong>r<br />

PIB – Produto Interno Bruto<br />

PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento<br />

SUDENE - Superintendência <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste<br />

(t) - Toneladas


LISTA DE ILUSTRAÇÕES<br />

Figura 1 - Importância relativa das zonas <strong>de</strong> influencia <strong>do</strong>s <strong><strong>do</strong>is</strong> circuitos em relação aos<br />

diferentes níveis <strong>urbanos</strong>................................................................................28<br />

Figura 2 - Serviços especializa<strong>do</strong>s em Capelinha/ MG..................................................58<br />

Figura 3 - Edificação com arquitetura mo<strong>de</strong>rna em Capelinha/ MG..............................59<br />

Figura 4 - Paisagem urbana <strong>de</strong> Capelinha/ MG..............................................................60<br />

Figura 5 - Paisagem urbana <strong>de</strong> Minas Novas/ MG.........................................................68<br />

Figura 6 - Construções históricas <strong>de</strong> Minas Novas........................................................69<br />

Figura 7 - Igreja Nossa Senhora <strong>do</strong> Amparo, vista externa e altar (1834).....................69<br />

Figura 8 - Artesanato <strong>de</strong> Minas Novas, exposto no Centro <strong>de</strong> Cultura da Cida<strong>de</strong>........73<br />

Gráfico 1 - Produção <strong>de</strong> Café por Município (toneladas), <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha –<br />

1990...............................................................................................................42<br />

Gráfico 2 - Ranking <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> café por município (toneladas) – <strong>Vale</strong> <strong>do</strong><br />

Jequitinhonha – 1995/96................................................................................43<br />

Gráfico 3 - Ranking <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> café por município (toneladas) – <strong>Vale</strong> <strong>do</strong><br />

Jequitinhonha – 2008.....................................................................................44<br />

Gráfico 4 - Os 05 maiores PIB <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha (valor em mil reais) –<br />

2007...............................................................................................................51<br />

Gráfico 5 - Comparação <strong>do</strong> PIB em cada setor da economia (Valores em mil reais),<br />

Capelinha e Minas Novas – 2007..................................................................71<br />

Mapa 1 - Localização da mesorregião <strong>do</strong> Jequitinhonha..............................................14<br />

Mapa 2 - Capelinha e Minas Novas na Mesorregião <strong>do</strong> Jequitinhonha........................15<br />

Mapa 3 - Área <strong>de</strong> Capelinha e Minas Novas e municípios limítrofes...........................16<br />

Quadro 1 - Características <strong>do</strong>s <strong><strong>do</strong>is</strong> circuitos da economia urbana <strong>do</strong>s países<br />

sub<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s...........................................................................................26


LISTA DE TABELAS<br />

1 - Brasil, Distrituição <strong>do</strong>s Municípios e da População segun<strong>do</strong> o tamanho <strong>do</strong>s<br />

municípios, 2000...............................................................................................<br />

2 - Minas Gerais, Distrituição <strong>do</strong>s Municípios e da População segun<strong>do</strong> o<br />

tamanho <strong>do</strong>s municípios, 2000..........................................................................<br />

3 - Produção <strong>de</strong> café por Município (toneladas) – <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha –<br />

1995/96..............................................................................................................<br />

4 -<br />

Produção <strong>de</strong> café por Município (toneladas) – <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha –<br />

2008....................................................................................................................<br />

5 - Maiores Produtores <strong>de</strong> Carvão Vegetal oriun<strong>do</strong> da Silvicultura no <strong>Vale</strong> <strong>do</strong><br />

Jequitinhonha (toneladas) – 2008......................................................................<br />

6- Maiores Produtores <strong>de</strong> Carvão Vegetal oriun<strong>do</strong> da Silvicultura em Minas<br />

Gerais (toneladas) – 2008..................................................................................<br />

7- Maiores Produtores <strong>de</strong> Carvão Vegetal oriun<strong>do</strong> da Silvicultura no Brasil (toneladas)<br />

– 2008............................................................................................................................<br />

8 -<br />

Estimativas <strong>de</strong> sal<strong>do</strong> migratório para as sub-regiões <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong><br />

Jequitinhonha nos quinquênios 1975-1980, 1986-1991 e 1995-2000...............<br />

9 - População total, urbana e rural <strong>de</strong> Capelinha/ MG, 1970 – 2000......................<br />

10 - Taxas <strong>de</strong> crescimento geométrico anual (%) <strong>de</strong> Capelinha, 1970 –<br />

2009....................................................................................................................<br />

11 - Taxas <strong>de</strong> crescimento geométrico anual (%) das sub-regiões <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong><br />

Jequitinhonha, Minas e Brasil, 1980-2007........................................................<br />

12 - Participação <strong>de</strong> cada setor da economia no PIB <strong>de</strong> Capelinha<br />

(Valores em mil reais) – 2007............................................................................<br />

13- Os 15 maiores PIB <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha – 2007.......................................<br />

14- População total, urbana e rural <strong>de</strong> Minas Novas/ MG, 1970 – 2000.................<br />

15- Taxas <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong>mográfico <strong>de</strong> Minas Novas, 1970 – 2000..................<br />

16 - Participação <strong>de</strong> cada setor da economia no PIB <strong>de</strong> Minas Novas (Valores em<br />

mil reais) – 2007................................................................................................<br />

20<br />

21<br />

42<br />

43<br />

46<br />

47<br />

48<br />

53<br />

54<br />

54<br />

55<br />

56<br />

63<br />

65<br />

65<br />

70


SUMÁRIO<br />

1. INTRODUÇÃO............................................................................................. 10<br />

2. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE AS PEQUENAS CIDADES<br />

NA GEOGRAFIA.......................................................................................... 18<br />

3. A GEO-HISTÓRIA DO ALTO VALE DO JEQUITINHONHA E DOS<br />

MUNICÍPIOS DE MINAS NOVAS E CAPELINHA............................... 30<br />

3.1 Geo-história e formação da re<strong>de</strong> urbana no <strong>Alto</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha........ 30<br />

3.2 Geo-história <strong>de</strong> Minas Novas.......................................................................... 36<br />

3.2 Geo-história <strong>de</strong> Capelinha............................................................................... 38<br />

4. DINÂMICA FUNCIONAL DE CAPELINHA E MINAS NOVAS A<br />

PARTIR DA INSERÇÃO DA CAFEICULTURA MODERNA E DA<br />

SILVICULTURA DO EUCALIPTO.......................................................... 40<br />

4.1 Inserção da cafeicultura mo<strong>de</strong>rna e da silvicultura <strong>do</strong> eucalipto em Minas<br />

Novas e Capelinha.......................................................................................... 40<br />

4.2 Capelinha........................................................................................................ 50<br />

4.3 Minas Novas................................................................................................... 63<br />

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................... 76<br />

REFERÊNCIAS....................................................................................................... 79


1. INTRODUÇÃO<br />

A Geografia é uma ciência que apresenta uma variada gama <strong>de</strong> objetos e focos <strong>de</strong><br />

estu<strong>do</strong>, assim ela é subdividida em diferentes linhas <strong>de</strong> pesquisa para uma melhor organização<br />

e compreensão <strong>do</strong> seu conteú<strong>do</strong>. Uma <strong>de</strong>stas linhas é a Geografia Urbana, que tem na análise<br />

da cida<strong>de</strong> o seu principal objeto <strong>de</strong> observação.<br />

Sobre o estu<strong>do</strong> da cida<strong>de</strong>, Abreu (1994) expõe uma trajetória histórica da importância<br />

<strong>de</strong>sta temática na Geografia. Segun<strong>do</strong> o autor, ao analisar a evolução <strong>do</strong> pensamento<br />

geográfico mundial, após a institucionalização da Geografia como disciplina universitária, por<br />

volta <strong>de</strong> 1890, percebe-se que o estu<strong>do</strong> da cida<strong>de</strong> é relativamente recente. Ratzel (1891) na<br />

segunda parte <strong>de</strong> Anthropogeographie chegou a <strong>de</strong>dicar diversos capítulos a este assunto,<br />

contu<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> Abreu, somente a partir <strong>de</strong> 1920, é que a cida<strong>de</strong> se torna um objeto<br />

sistemático <strong>de</strong> investigação da Geografia. No Brasil este início foi ainda mais tardio, por volta<br />

<strong>de</strong> 1935. Na visão <strong>de</strong> Ratzel, as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>veriam ser estudadas a partir da importância e<br />

relações entre vias <strong>de</strong> comunicação, porém, conforme coloca Abreu (1994), é a partir <strong>do</strong><br />

conceito posição/ situação que a cida<strong>de</strong> entra no temário geográfico mo<strong>de</strong>rno. Vários autores<br />

<strong>de</strong>dicaram atenção à posição das cida<strong>de</strong>s, inclusive Ratzel, entretanto é na Geografia francesa,<br />

escola que serviu <strong>de</strong> base acadêmica para o <strong>de</strong>senvolvimento da Geografia no Brasil, que a<br />

análise superará o foco estratégico <strong>de</strong> esquemas <strong>de</strong> classificação passan<strong>do</strong> a consi<strong>de</strong>rar<br />

elementos mais dinâmicos e sociais da constituição e funcionamento das cida<strong>de</strong>s.<br />

A partir <strong>de</strong>ste início, o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> urbano e consequentemente o estu<strong>do</strong> da cida<strong>de</strong><br />

passaram por diversas mudanças e variadas perspectivas <strong>de</strong> análise ao longo <strong>do</strong>s anos. Essa<br />

evolução na pesquisa percorreu as distintas correntes geográficas, que abordaram <strong>de</strong> forma<br />

peculiar a temática da cida<strong>de</strong>. De uma forma geral, o espaço urbano e a cida<strong>de</strong> configuram<br />

importantes e recorrentes objetos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> da Geografia, pois funcionam como suporte físico<br />

e agente ativo na reprodução <strong>de</strong> relações sociais, bem como a sua existência, formação e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, impactam tanto o espaço, quanto a socieda<strong>de</strong> neles envolvi<strong>do</strong>s. A<br />

relevância <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> urbano e da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>corre também, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à complexida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s<br />

fenômenos por eles e neles ocorri<strong>do</strong>s, tanto no âmbito econômico como no social e espacial.<br />

Carlos (1994) ressalta a importância <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> espaço urbano na Geografia, quan<strong>do</strong><br />

afirma que a Geografia, como ramo <strong>do</strong> conhecimento, tem como tarefa: a compreensão da<br />

10


ealida<strong>de</strong>, a explicação <strong>de</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> fenômeno seja ele <strong>de</strong> espacialida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> dimensão<br />

espacial da realida<strong>de</strong> social, ou, <strong>do</strong> papel <strong>do</strong> espaço na (re)produção da vida humana.<br />

Os estu<strong>do</strong>s e pesquisas sobre o espaço urbano privilegiam a abordagem das gran<strong>de</strong>s<br />

cida<strong>de</strong>s. Este espaço é assim privilegia<strong>do</strong>, pelo fato <strong>de</strong> apresentar um nível <strong>funcional</strong> mais<br />

complexo, uma maior <strong>dinâmica</strong> interna, social e espacial, além <strong>de</strong> concentrar um maior<br />

número <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s e serviços. É nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s também que se concentram os maiores<br />

fluxos <strong>de</strong> capital, ativida<strong>de</strong>s e serviços mais mo<strong>de</strong>rnos. Esta realida<strong>de</strong> geralmente não se<br />

verifica nas pequenas cida<strong>de</strong>s, ou ocorre <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> bem menos expressivo. Conforme ressalta<br />

Corrêa (1999, p.45), a complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong>las (gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s) inclui, adicionalmente,<br />

problemas específicos, <strong>de</strong> maior visibilida<strong>de</strong>, levan<strong>do</strong>, com razão, à concentração <strong>de</strong> esforços<br />

<strong>de</strong> reflexão nelas.<br />

Apesar da escassa abordagem e bibliografia sobre as pequenas cida<strong>de</strong>s, estes espaços<br />

locais são importantes por representarem uma parcela consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> pontos da re<strong>de</strong> urbana.<br />

São importantes também por representarem o limiar entre o urbano e o rural, por<br />

concentrarem parcela significativa da população e, por muitas vezes, funcionarem como<br />

reservatório <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra. Soma<strong>do</strong>s a estes fatores, com o advento da globalização, muitas<br />

<strong>de</strong>stas cida<strong>de</strong>s se inseriram na economia mundial por meio <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> especialização,<br />

assim tornan<strong>do</strong>-se relevantes no cenário econômico global. Enfim, são muitos os fatores e<br />

peculiarida<strong>de</strong>s que fazem das pequenas cida<strong>de</strong>s um interessante e importante objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong><br />

da geografia.<br />

Com isso, o objetivo <strong>de</strong>ste trabalho será fazer uma abordagem sobre a <strong>dinâmica</strong><br />

<strong>funcional</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>do</strong>is</strong> pequenos municípios <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha: Capelinha e Minas Novas.<br />

A motivação <strong>de</strong> estudar a <strong>dinâmica</strong> <strong>de</strong> pequenas cida<strong>de</strong>s surgiu <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à expressivida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

número <strong>de</strong> pequenas cida<strong>de</strong>s existentes no Brasil e no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Minas Gerais, associa<strong>do</strong><br />

ainda, à relativa escassez bibliográfica sobre o assunto.<br />

A escolha <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha se <strong>de</strong>ve, primeiramente, ao fato da região<br />

apresentar uma gran<strong>de</strong> maioria <strong>de</strong> pequenos municípios, ainda muito pobres. Tal fato<br />

contribui com que as distâncias se tornem um gran<strong>de</strong> obstáculo ao acesso <strong>de</strong> vários serviços e<br />

produtos, tornan<strong>do</strong> assim, estas pequenas cida<strong>de</strong>s, que funcionam como <strong>centros</strong> locais, como<br />

única ou principal fonte <strong>de</strong> acesso a produtos e serviços mais mo<strong>de</strong>rnos e especializa<strong>do</strong>s. Esta<br />

característica faz <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha uma região peculiar para o estu<strong>do</strong> da centralida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> pequenas cida<strong>de</strong>s, pois fica a cargo <strong>de</strong>las a função <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>rias e<br />

11


serviços mais diversifica<strong>do</strong>s e especializa<strong>do</strong>s. Consi<strong>de</strong>ra-se que a centralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um lugar é<br />

ditada pelo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> atração <strong>do</strong> seu setor terciário perante as localida<strong>de</strong>s próximas.<br />

A <strong>dinâmica</strong> da re<strong>de</strong> urbana em uma região estagnada é estruturada <strong>de</strong> forma a criar<br />

pequenos <strong>centros</strong> mais próximos uns <strong>do</strong>s outros, e estes pequenos <strong>centros</strong> acabam se tornan<strong>do</strong><br />

mais importantes para a população da região, <strong>do</strong> que os gran<strong>de</strong>s <strong>centros</strong> regionais, e<br />

principalmente <strong>do</strong> que as metrópoles nacionais. Estes <strong>centros</strong> <strong>de</strong> maior proporção, muitas<br />

vezes estão <strong>de</strong>sloca<strong>do</strong>s da realida<strong>de</strong> da maior parte da população <strong>de</strong> regiões <strong>de</strong>primidas.<br />

O <strong>Vale</strong> é conheci<strong>do</strong> por sua estagnação econômica e baixo <strong>de</strong>senvolvimento social,<br />

esta situação faz com que a região tenha uma re<strong>de</strong> urbana intra-regional mais forte e <strong>dinâmica</strong><br />

<strong>do</strong> que a relação existente entre o Jequitinhonha e a re<strong>de</strong> nacional e mundial. O contato da<br />

população <strong>de</strong> alguns municípios da região como os maiores <strong>centros</strong> regionais, e<br />

principalmente com as gran<strong>de</strong>s metrópoles, é limita<strong>do</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à barreira que as distâncias<br />

representam. A limitação pela distância é representada tanto pelo custo <strong>do</strong> transporte, como<br />

também, em muitos casos, pela própria ineficiência <strong>de</strong>ste serviço. Assim, estas pequenas<br />

cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>primidas, quan<strong>do</strong> necessitam <strong>de</strong> produtos e serviços mais mo<strong>de</strong>rnos e<br />

especializa<strong>do</strong>s, recorrem a outras pequenas cida<strong>de</strong>s da própria região, que possuem função<br />

centraliza<strong>do</strong>ra, oferecen<strong>do</strong> os produtos e serviços <strong>de</strong>seja<strong>do</strong>s. Estas pequenas cida<strong>de</strong>s centrais<br />

são a opção mais recorrida para o acesso <strong>de</strong> produtos e serviços específicos não encontra<strong>do</strong>s<br />

na própria cida<strong>de</strong>. Contu<strong>do</strong>, não são nulas as interações das pequenas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> regiões<br />

<strong>de</strong>primidas com a re<strong>de</strong> nacional, e até mesmo, mundial, porém são menos expressivas,<br />

representadas por algumas ativida<strong>de</strong>s específicas, praticadas por um número restrito <strong>de</strong><br />

pessoas. Outra recorrente interação extra-regional que ocorre com gran<strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> em<br />

regiões <strong>de</strong>primidas é o processo migratório. No <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha este processo é<br />

pre<strong>do</strong>mina<strong>do</strong> pelos movimentos <strong>de</strong> emigração e migração sazonal, em <strong>de</strong>trimento das<br />

imigrações.<br />

O estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s casos específicos <strong>de</strong> Capelinha e Minas Novas foi motiva<strong>do</strong> pelo fato<br />

<strong>de</strong>stas cida<strong>de</strong>s serem bons exemplos <strong>de</strong> pequenas cida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com tipologia <strong>de</strong> Corrêa<br />

(2009), que será abordada neste trabalho. Po<strong>de</strong>-se ver nestas duas cida<strong>de</strong>s a <strong>funcional</strong>ida<strong>de</strong><br />

como lugar central <strong>de</strong> Capelinha, e a atual situação <strong>de</strong> estagnação econômica e reservatório <strong>de</strong><br />

mão-<strong>de</strong>-obra, no qual se encontra Minas Novas. Estes processos são i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s em várias<br />

pequenas cida<strong>de</strong>s brasileiras. Dessa forma, estudar particularmente os casos <strong>de</strong> Capelinha e<br />

Minas Novas consiste na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se compreen<strong>de</strong>r melhor a <strong>dinâmica</strong> <strong>funcional</strong> <strong>de</strong>stes<br />

12


tipos <strong>de</strong> pequenas cida<strong>de</strong>s, no Brasil e em Minas Gerais. A classificação <strong>de</strong> Corrêa (2009) será<br />

utilizada como uma das orientações no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong>.<br />

Quanto à localização, o <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha configura uma das <strong>do</strong>ze mesorregiões <strong>de</strong><br />

Minas Gerais. As mesorregiões foram <strong>de</strong>limitadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro <strong>de</strong><br />

Geografia Estatística) a partir <strong>de</strong> critérios como o processo social como <strong>de</strong>terminante, o<br />

quadro natural como condicionante e a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação e <strong>de</strong> lugares como elemento da<br />

articulação espacial. A partir <strong>de</strong>stes mesmos critérios foram elaboradas as microrregiões,<br />

subdivisões das mesorregiões. Em Minas Gerais há um total <strong>de</strong> 66 microrregiões e na<br />

mesorregião <strong>do</strong> Jequitinhonha há 05 (cinco) microrregiões, sen<strong>do</strong> elas: Diamantina,<br />

Capelinha, Araçuaí, Pedra Azul e Almenara. O <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha situa-se no nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong><br />

Minas Gerais, limitan<strong>do</strong>-se a Norte e Nor<strong>de</strong>ste com o esta<strong>do</strong> da Bahia, a noroeste com o Norte<br />

<strong>de</strong> Minas, a leste com o <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Mucuri, a su<strong>de</strong>ste com o <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Rio Doce, ao sul com<br />

Região Metropolitana <strong>de</strong> Belo Horizonte e a su<strong>do</strong>este com a Central Mineira, conforme ilustra<br />

o MAPA 1.<br />

A mesorregião <strong>do</strong> Jequitinhonha po<strong>de</strong> ser subdividida em 03 três partes: <strong>Alto</strong><br />

Jequitinhonha, Médio Jequitinhonha e Baixo Jequitinhonha. Em algumas abordagens e<br />

bibliografias, também é <strong>de</strong>limitada uma quarta parte, mais ao norte <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>, componente da<br />

antiga área mineira da Superintendência <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste (SUDENE)<br />

(Henriques, 2010, p.3). Contu<strong>do</strong>, neste trabalho, será dada ênfase ao <strong>Alto</strong> Jequitinhonha, sub-<br />

região no qual estão inseridas as duas cida<strong>de</strong>s que serão abordadas neste estu<strong>do</strong>: Capelinha e<br />

Minas Novas. O MAPA 2 retrata a disposição <strong>de</strong>stes <strong><strong>do</strong>is</strong> municípios na sub-região <strong>do</strong> <strong>Alto</strong><br />

Jequitinhonha.<br />

O município <strong>de</strong> Capelinha é se<strong>de</strong> e toponímia da microrregião a que pertence, a<br />

microrregião <strong>de</strong> Capelinha. A maioria <strong>do</strong>s municípios da microrregião <strong>de</strong> Capelinha está<br />

inserida na sub-região <strong>do</strong> <strong>Alto</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha. O município possui uma área <strong>de</strong> 966<br />

km 2 e a localização <strong>de</strong> sua se<strong>de</strong> está à latitu<strong>de</strong> 17° 69’ S e longitu<strong>de</strong> 42°51’W. Sua população<br />

na última estimativa <strong>do</strong> IBGE, em 2009, apresentava o 34.634 habitantes.<br />

Minas Novas é um <strong>do</strong>s municípios da Microrregião <strong>de</strong> Capelinha (Mesorregião <strong>do</strong><br />

Jequitinhonha). Tem se<strong>de</strong> localizada na latitu<strong>de</strong> 17° 21’ S e na longitu<strong>de</strong> a 43°59’W. Possui<br />

uma área <strong>de</strong> uma área <strong>de</strong> 1.810,77 km 2 e segun<strong>do</strong> a estimativa <strong>de</strong> 2009 <strong>do</strong> IBGE, conta com<br />

uma população <strong>de</strong> 31.647 habitantes.<br />

No MAPA 03 é ilustrada a área <strong>de</strong> Capelinha e Minas Novas e seus municípios limítrofes.<br />

13


MAPA 1 - Localização da mesorregião <strong>do</strong> Jequitinhonha<br />

Fonte: Geominas<br />

Elaboração: Nogueira, R. (2010)<br />

14


MAPA 2 - Capelinha e Minas Novas na Mesorregião <strong>do</strong> Jequitinhonha<br />

Elaboração: Nogueira, R. (2010)<br />

15


MAPA 3 - Área <strong>de</strong> Capelinha e Minas Novas e municípios limítrofes<br />

Elaboração: Nogueira, R. (2010)<br />

A elaboração <strong>de</strong>ste trabalho se baseou em observações e entrevistas realizadas em<br />

trabalho <strong>de</strong> campo, no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 29-09-2009 a 05-10-2009, leitura <strong>de</strong> bibliografias<br />

relacionadas às pequenas cida<strong>de</strong>s; espaço urbano; história e formação da re<strong>de</strong> urbana <strong>do</strong> <strong>Vale</strong><br />

<strong>do</strong> Jequitinhonha; inserção da cafeicultura mo<strong>de</strong>rna e silvicultura <strong>do</strong> eucalipto e suas<br />

conseqüências no espaço e socieda<strong>de</strong>; além <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s econômicos e sociais das duas<br />

cida<strong>de</strong>s.<br />

No total a monografia compreen<strong>de</strong>rá cinco capítulos. A introdução como primeiro<br />

capítulo, no segun<strong>do</strong> serão feitas breves consi<strong>de</strong>rações sobre pequenas cida<strong>de</strong>s na geografia,<br />

no qual serão aborda<strong>do</strong>s conceitos e possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> pequenas cida<strong>de</strong>s,<br />

dialogan<strong>do</strong> com importantes autores sobre o assunto. O terceiro capítulo será dividi<strong>do</strong> em três<br />

seções que abordarão a geo-história e formação da re<strong>de</strong> urbana <strong>do</strong> <strong>Alto</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong><br />

Jequitinhonha, a geo-história <strong>de</strong> Minas Novas e a geo-história <strong>de</strong> Capelinha. No quarto<br />

capítulo, também será subdividi<strong>do</strong> em três partes, no qual, a primeira seção abordará a<br />

inserção da cafeicultura mo<strong>de</strong>rna e da silvicultura <strong>do</strong> eucalipto, importantes ativida<strong>de</strong>s para a<br />

configuração atual <strong>do</strong>s municípios analisa<strong>do</strong>s, em seguida serão discutidas a <strong>dinâmica</strong><br />

16


<strong>funcional</strong> <strong>de</strong> Capelinha e Minas Novas, em duas seções distintas. E finalmente, nas<br />

consi<strong>de</strong>rações finais, será feita uma recapitulação sobre as observações efetuadas durante o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

17


2. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE AS PEQUENAS CIDADES NA<br />

GEOGRAFIA<br />

Segun<strong>do</strong> a classificação <strong>do</strong> Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia Estatística (IBGE), são<br />

consi<strong>de</strong>radas cida<strong>de</strong>s pequenas aquelas que apresentam população <strong>de</strong> até 100.000 habitantes.<br />

Do mesmo mo<strong>do</strong>, o instituto consi<strong>de</strong>ra as cida<strong>de</strong>s que possuem população entre 100.000 e<br />

500.000 como médias e as acima <strong>de</strong> 500.000 como gran<strong>de</strong>s. Contu<strong>do</strong>, é possível e relevante,<br />

levar em consi<strong>de</strong>ração, outros fatores como a hierarquia, funções e relações entre as cida<strong>de</strong>s,<br />

como elementos importantes na i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong> porte das mesmas.<br />

Para Damiani (2006), uma das abordagens foi como a Geografia reconheceu as<br />

diferenças no espaço sob o conceito <strong>de</strong> hierarquias urbanas. Neste mo<strong>de</strong>lo se estabelecia uma<br />

teia diversificada e interligada <strong>de</strong> <strong>centros</strong> <strong>urbanos</strong>, cuja potência e raio <strong>de</strong> influência variavam<br />

segun<strong>do</strong> o tamanho <strong>de</strong>stes, sen<strong>do</strong> que era proporcional o tamanho e porte <strong>do</strong>s <strong>centros</strong> e sua<br />

influência sobre os <strong>de</strong>mais. Sob esta perspectiva, chegou-se a ter uma forma <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sejável que seria um mo<strong>de</strong>lo hierárquico equilibra<strong>do</strong>. Este mo<strong>de</strong>lo<br />

envolveria uma re<strong>de</strong> urbana com cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> diferentes tamanhos, com funções e relações<br />

mutuamente atuantes, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que uma cida<strong>de</strong> funcionaria complementan<strong>do</strong> as funções da<br />

outra.<br />

Nesta visão, nos países em <strong>de</strong>senvolvimento, há uma camada suprimida <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s<br />

médias, fican<strong>do</strong> as gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s saturadas e geran<strong>do</strong> problemas, tais como, poluição<br />

atmosférica, sonora e visual, congestionamentos, <strong>de</strong>semprego, especulação imobiliária,<br />

violência, entre outros. Complementarmente, as pequenas cida<strong>de</strong>s funcionariam como<br />

fronteiras entre os processos rurais e <strong>urbanos</strong>, a<strong>de</strong>rin<strong>do</strong> muito pouco aos processos<br />

acumulativos da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Assim, a área <strong>de</strong> influência <strong>de</strong> cada cida<strong>de</strong> variaria em função<br />

<strong>do</strong> seu tamanho.<br />

Com a globalização as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relações entre cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> variadas proporções<br />

são re<strong>de</strong>finidas, rompen<strong>do</strong> com a fixi<strong>de</strong>z da estrutura hierárquica urbana. Este processo além<br />

<strong>de</strong> provocar forte impacto sobre a economia, a política, a cultura e a socieda<strong>de</strong>, reflete,<br />

também sobre a organização <strong>do</strong> espaço. Neste aspecto, ressalta Corrêa:<br />

Em outras palavras, a globalização causa impacto, ainda que <strong>de</strong>sigualmente,<br />

sobre as formas, funções e agentes sociais, alteran<strong>do</strong>-os em maior ou menor<br />

grau e, no limite, substituin<strong>do</strong>-os totalmente. Trata-se <strong>de</strong> uma reestruturação<br />

espacial que se manifesta, no plano mais geral, na recriação das diferenças<br />

18


entre regiões e <strong>centros</strong> <strong>urbanos</strong>, assim como nas articulações entre ambos e<br />

entre os <strong>centros</strong>. (Corrêa, 1999, p.44)<br />

Em tais circunstâncias, as pequenas cida<strong>de</strong>s configuram a face menos mo<strong>de</strong>rna <strong>do</strong><br />

processo <strong>de</strong> acesso a tecnologias e mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>s, pois apesar <strong>de</strong> simultâneo, o processo <strong>de</strong><br />

globalização age <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> diferencial no tempo e no espaço, on<strong>de</strong> as gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s acabam<br />

por concentrar mais elementos dinamiza<strong>do</strong>res. Contu<strong>do</strong>, é fato que, com o maior acesso aos<br />

recursos advin<strong>do</strong>s da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> e tecnologia, ficam relativizadas as barreiras <strong>de</strong> distância e<br />

comunicação, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que informações, produtos e serviços já po<strong>de</strong>m ser mais facilmente<br />

adquiri<strong>do</strong>s em pequenas cida<strong>de</strong>s.<br />

Como aborda Corrêa (1999), um <strong>do</strong>s reflexos da globalização em pequenas<br />

localida<strong>de</strong>s é a presença <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s corporações globais como, a Coca-Cola, IBM, Nestlé,<br />

Phillips Morris, Unilever, Exxon, General Motors, Adidas, FIAT, entre outras. Mesmo que as<br />

localida<strong>de</strong>s em questão não produzam nenhum produto <strong>de</strong> tais corporações, elas atuam no<br />

sistema como distribui<strong>do</strong>ras e/ou consumi<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>s bens pelas mesmas produzidas. A internet<br />

e a re<strong>de</strong> bancária são outros importantes elementos que fazem das pequenas cida<strong>de</strong>s também<br />

espaços articula<strong>do</strong>s globalmente.<br />

Uma das características das pequenas cida<strong>de</strong>s é que elas são, <strong>de</strong> forma geral,<br />

expressivas em quantida<strong>de</strong>s nos territórios nacionais. “Em toda parte as pequenas cida<strong>de</strong>s são<br />

numerosas. As formulações teóricas ratificam esta constatação, conforme aparece tanto na<br />

regra or<strong>de</strong>m - tamanho <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s (ZIPF, 1949, STEWART Jr., 1959), como na clássica<br />

teoria <strong>do</strong>s lugares centrais (CHRISTALLER, 1966).” (CORRÊA, 1999, p.45).<br />

Pela Tabela1, po<strong>de</strong>-se perceber a justificativa <strong>de</strong>sta afirmativa. As pequenas cida<strong>de</strong>s,<br />

ten<strong>do</strong> como base a classificação <strong>do</strong> IBGE, somariam, a partir <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> censo 2000, mais <strong>de</strong><br />

95,5% <strong>do</strong> total <strong>de</strong> municípios <strong>do</strong> Brasil. Além da expressivida<strong>de</strong> em quantida<strong>de</strong>, os pequenos<br />

municípios representam também a maior parte <strong>do</strong> território nacional, 95,79% <strong>de</strong> toda a área<br />

<strong>do</strong> país é ocupada por pequenos municípios. A população <strong>do</strong>s pequenos municípios soma<br />

quase 50% <strong>de</strong> toda população brasileira, assim po<strong>de</strong>-se ratificar importância <strong>de</strong>stes no Brasil,<br />

pois além <strong>de</strong> ser maioria no país, também representam a maior parte da área nacional, bem<br />

como, agregam significativa parcela da população.<br />

A população brasileira concentra-se ainda em gran<strong>de</strong>s regiões metropolitanas, porém,<br />

atualmente, esta concentração tem apresenta<strong>do</strong> uma <strong>de</strong>saceleração. O crescimento tem<br />

19


aponta<strong>do</strong> maior sal<strong>do</strong> para as 1 pequenas cida<strong>de</strong>s metropolitanas periféricas e um menor<br />

crescimento no núcleo metropolitano. Além <strong>de</strong> um movimento crescente em direção às<br />

cida<strong>de</strong>s médias.<br />

TABELA 1<br />

Brasil, Distribuição <strong>do</strong>s Municípios e da População segun<strong>do</strong> o tamanho <strong>do</strong>s municípios, 2000<br />

Tamanho<br />

<strong>do</strong>s<br />

Municípios<br />

População Nº <strong>de</strong> Municípios Área População Urbana<br />

Absoluto % Absoluto % Km 2 % Absoluto %<br />

Pequenos 83.198.132 49 5.283 95,93 8.172.159 95,79 54.501.231 39,51<br />

Médios 39.628.005 23,34 193 3,50 314.077 3,68 37.429.163 27,13<br />

Gran<strong>de</strong>s 46.973.033 27,66 31 0,56 45.273 0,53 46.023.565 33,36<br />

Brasil 169.799.170 100 5.507 100 8.531.508 100 137.953.959 100<br />

Fonte: BRITO, F.; HORTA,C. 2003, p.1 (adaptada)<br />

A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pequenas cida<strong>de</strong>s se torna mais expressiva quan<strong>do</strong> o território<br />

analisa<strong>do</strong> é o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Minas Gerais, no qual 97,31 % <strong>do</strong> total <strong>de</strong> municípios é constituí<strong>do</strong><br />

pelos pequenos, bem como a gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong> território, 96,70% <strong>de</strong> toda área, é ocupada pelos<br />

mesmos. Situação semelhante é observada na variável população, ten<strong>do</strong> em vista o percentual<br />

maior sobre a população total e urbana em pequenos municípios como é possível verificar na<br />

TAB. 2.<br />

1<br />

Cida<strong>de</strong> metropolitana periférica: cida<strong>de</strong>s que se localizam no entorno <strong>de</strong> uma metrópole e que estão atreladas a<br />

ela em âmbito físico, econômico e social.<br />

Núcleo metropolitano: Principal cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma região metropolitana.<br />

20


TABELA 2<br />

Minas Gerais, Distribuição <strong>do</strong>s Municípios e da População segun<strong>do</strong> o tamanho <strong>do</strong>s municípios,<br />

2000<br />

Tamanho<br />

<strong>do</strong>s<br />

Municípios<br />

População Nº <strong>de</strong> Municípios Área População Urbana<br />

Absoluto % Absoluto % Km 2 % Absoluto %<br />

Pequenos 10.834.284 60,75 830 97,31 569014,1 96,70 7785713 53,24<br />

Médios 3.735.004 20,94 20 2,34 18.371,7 3,12 3.588.978 24,54<br />

Gran<strong>de</strong>s 3.266.200 18,31 03 0,35 997,8 0,17 3.249.299 22,22<br />

MG 17.835.488 100 853 100 588.383,6 100 14.623.990 100<br />

Fonte: BRITO, F.; HORTA,C. 2003, p.6 (adaptada)<br />

Conforme aborda Corrêa (1999), a gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pequenas cida<strong>de</strong>s gera re<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>centros</strong>, e esta re<strong>de</strong> é disposta <strong>de</strong> forma que, em regiões mais povoadas há um maior<br />

número <strong>de</strong> <strong>centros</strong>, e estes <strong>centros</strong> apresentam uma menor distância entre si. De mo<strong>do</strong><br />

análogo, as regiões menos povoadas, dispõem <strong>de</strong> um menor número <strong>de</strong> <strong>centros</strong> com maior<br />

distância entre eles. A gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pequenos <strong>centros</strong> <strong>de</strong>corre da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />

economia <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>, que produz trocas fundamentadas em uma mínima divisão territorial<br />

<strong>do</strong> trabalho. Existe uma <strong>de</strong>manda por produtos e serviços, associada a limitações <strong>de</strong><br />

mobilida<strong>de</strong> espacial, que apesar <strong>de</strong> minimizada com o passar <strong>do</strong> tempo, ainda configura uma<br />

realida<strong>de</strong> em pequenas localida<strong>de</strong>s. Em resposta a esta <strong>de</strong>manda e limitação <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> há<br />

um crescimento no número <strong>de</strong> pequenos <strong>centros</strong> <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>, que ocorrem para aten<strong>de</strong>r a<br />

população <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma distância mínima acessível.<br />

Na re<strong>de</strong> formada, há um ou mais <strong>centros</strong> na região que se <strong>de</strong>stacam pela influência e<br />

centralida<strong>de</strong> exercida sobre os <strong>de</strong>mais. Esta centralida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> sofrer alteração no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong><br />

tempo. São vários os fatores que po<strong>de</strong>m contribuir, ou até mesmo provocar a alteração da<br />

centralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma pequena cida<strong>de</strong>, entre eles po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>stacar: o aumento no número <strong>de</strong><br />

pequenos <strong>centros</strong> e melhores condições <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong>, aumentan<strong>do</strong> assim a concorrência<br />

entre os <strong>centros</strong> existentes; e as transformações no campo, como a mo<strong>de</strong>rnização da<br />

agricultura e concentração <strong>de</strong> terra, que diminuem o número <strong>de</strong> empregos, intensificam o<br />

processo migratório e assim diminuem o merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. Estas são algumas das<br />

possíveis causas que po<strong>de</strong>m comprometer a centralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pequenas cida<strong>de</strong>s que em algum<br />

momento se <strong>de</strong>stacavam em uma região.<br />

21


O crescimento <strong>de</strong> um centro po<strong>de</strong> atingir a área <strong>de</strong> influência <strong>de</strong> outro, bem como a<br />

melhora <strong>do</strong>s meios <strong>de</strong> transporte po<strong>de</strong> tornar acessível um centro que anteriormente não se<br />

<strong>de</strong>stacava <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acesso, crian<strong>do</strong> nele um maior po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> atração e<br />

abalan<strong>do</strong>, possivelmente, outro centro local. De to<strong>do</strong> mo<strong>do</strong>, uma importante característica<br />

<strong>de</strong>stes locais é a sua força <strong>de</strong> inércia, eles funcionam também como lugares <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong> convivência, resistin<strong>do</strong> a alterações <strong>do</strong> espaço e <strong>do</strong> tempo por meio <strong>de</strong> transformações<br />

funcionais, o que po<strong>de</strong> conferir certa segurança na manutenção <strong>de</strong> sua importância para a<br />

socieda<strong>de</strong> local.<br />

Uma outra abordagem sobre as cida<strong>de</strong>s é aquela da sua classificação consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> organização <strong>do</strong> espaço pela cida<strong>de</strong>: cida<strong>de</strong>s locais, cida<strong>de</strong>s regionais,<br />

metrópoles incompletas e metrópoles completas (Santos, 1979a). Neste contexto as cida<strong>de</strong>s<br />

pequenas seriam classificadas como as cida<strong>de</strong>s locais.<br />

Houve uma mudança <strong>de</strong> perfil nas pequenas cida<strong>de</strong>s, como o maior acesso ao<br />

conhecimento e educação, abrin<strong>do</strong> a fronteira para uma maior inserção e formação <strong>de</strong><br />

profissionais especializa<strong>do</strong>s nas pequenas localida<strong>de</strong>s. Estas pequenas cida<strong>de</strong>s agora estão<br />

inseridas no processo direto da produção, com isso é ampliada a atuação <strong>do</strong> papel político,<br />

com as funções <strong>de</strong> controle da ativida<strong>de</strong> econômica, não só na tributação da produção local,<br />

mas inserin<strong>do</strong>-se em uma re<strong>de</strong> que ultrapassa o local. Apesar <strong>de</strong>sta mudança no papel político<br />

das pequenas cida<strong>de</strong>s, continua a ser em âmbito local, a maior parte que este po<strong>de</strong>r político é<br />

exerci<strong>do</strong>.<br />

A cida<strong>de</strong> local, muitas vezes, é o lugar da regulação <strong>do</strong> que se faz no campo. É nela<br />

que são efetua<strong>do</strong>s os mais varia<strong>do</strong>s procedimentos burocráticos, trâmites, compras,<br />

financiamentos, negócios, contratações, treinamentos, etc. Apesar das conhecidas limitações<br />

ao acesso <strong>de</strong> tecnologia e informação em pequenas localida<strong>de</strong>s rurais, esta situação na<br />

atualida<strong>de</strong> já é bem menos expressiva <strong>do</strong> que foi no passa<strong>do</strong>. No momento, o campo se torna<br />

diferencia<strong>do</strong>, passan<strong>do</strong> por um processo em que cada vez mais este espaço torna-se carrega<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> ciência, <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> e mecanização. Como afirma Santos (1993, p.57): “tu<strong>do</strong><br />

isso faz com que a cida<strong>de</strong> local <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> ser a cida<strong>de</strong> no campo e transforme na cida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

campo.” A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Unaí, em Minas Gerais, é um exemplo <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>. A produção<br />

<strong>de</strong> grãos no município utiliza agricultura mecanizada e investimento em biotecnologia com<br />

utilização <strong>de</strong> sementes selecionadas, conforme da<strong>do</strong>s da Empresa Brasileira <strong>de</strong> Pesquisa<br />

Agropecuária (EMBRAPA). Estes fatores fazem <strong>de</strong> Unaí o maior produtor nacional <strong>de</strong> feijão;<br />

22


2º maior produtor estadual <strong>de</strong> milho e 2º maior produtor estadual <strong>de</strong> soja, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os<br />

da<strong>do</strong>s da Produção Agrícola Municipal – Cereais, Leguminosas e Oleaginosas 2007 <strong>do</strong> IBGE.<br />

Assim, a cida<strong>de</strong> local <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um espaço diferencia<strong>do</strong> <strong>do</strong> campo e passa a ser um<br />

espaço <strong>de</strong> complementarida<strong>de</strong> com ele, além <strong>de</strong> muitas vezes agregar ativida<strong>de</strong>s<br />

especializadas, principalmente na área <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s primárias, conferin<strong>do</strong> a pequena cida<strong>de</strong><br />

um importante papel no complexo agroindustrial e na agricultura mo<strong>de</strong>rna.<br />

Expressiva parcela <strong>de</strong> pequenas cida<strong>de</strong>s passa pelo processo <strong>de</strong> especialização, que<br />

ocorre <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a renovação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que configuram uma especialida<strong>de</strong> produtiva ao<br />

núcleo já existente. Esta <strong>dinâmica</strong>, ocorren<strong>do</strong> em <strong>de</strong>mais núcleos, configura uma mais<br />

complexa divisão territorial <strong>do</strong> trabalho, possibilitan<strong>do</strong> aos pequenos <strong>centros</strong> em questão, uma<br />

maior participação na economia global.<br />

As especializações produtivas criadas po<strong>de</strong>m estar associadas às<br />

novas <strong>de</strong>mandas da produção agrícola regional, referenciadas agora a novos<br />

patamares tecnológicos e <strong>de</strong> renda e a novos padrões socioculturais. São, em<br />

realida<strong>de</strong>, ativida<strong>de</strong>s criadas no âmbito da industrialização <strong>do</strong> campo.<br />

(CORRÊA, 1999, p.50)<br />

Essa especialização ocorrida nas pequenas cida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong> ser produto <strong>de</strong> vários<br />

processos, tais como: ativida<strong>de</strong>s industriais atraídas por vantagens locacionais e <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-<br />

obra; atuação <strong>de</strong> elites locais; atuação <strong>de</strong> grupos sociais emergentes; atuação <strong>de</strong> grupos sociais<br />

locais, entre outros. O processo <strong>de</strong> especialização é realida<strong>de</strong> em muitas cida<strong>de</strong>s pequenas, o<br />

que as fazem participar <strong>do</strong> sistema econômico global. Po<strong>de</strong>m-se ser cita<strong>do</strong>s inúmeros<br />

exemplos <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> especialização em pequenas cida<strong>de</strong>s, tais como 2 Nova Serrana/MG<br />

com os calça<strong>do</strong>s, Arcos/MG com a produção <strong>de</strong> calcário e 3 Timóteo/MG com a produção <strong>de</strong><br />

aço.<br />

Outra forma <strong>de</strong> configuração <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> especialização das pequenas cida<strong>de</strong>s é a<br />

“company town”. Conforme aborda Corrêa (2009), quan<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> especialização<br />

resulta da criação <strong>de</strong> uma base territorial, assim criada e financiada para aten<strong>de</strong>r uma gran<strong>de</strong><br />

empresa, e a criação <strong>de</strong>ste núcleo implica na construção e controle <strong>de</strong> toda a cida<strong>de</strong>, assim<br />

como da vida cotidiana <strong>de</strong> seus mora<strong>do</strong>res, trata-se <strong>de</strong> uma “company town”. Ela é o local <strong>de</strong><br />

produção <strong>de</strong> uma única gran<strong>de</strong> empresa ligada a setores como mineração, metalurgia, celulose<br />

e papel e cimento. Exemplos <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> são Jeceaba ou Caeté e ainda Caetanópolis<br />

2 Cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> centro-oeste <strong>de</strong> Minas Gerais<br />

3 Cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Aço/ MG<br />

23


em Minas Gerais, que tem sua economia voltada para a presença <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> multinacional<br />

<strong>do</strong> ramo <strong>de</strong> si<strong>de</strong>rurgia.<br />

A especialização e a divisão <strong>do</strong> trabalho em uma região impulsionam o surgimento <strong>de</strong><br />

um maior número <strong>de</strong> pequenas cida<strong>de</strong>s, tornan<strong>do</strong>-as mais distintas umas das outras.<br />

Diferentemente, as cida<strong>de</strong>s médias e, principalmente, as gran<strong>de</strong>s conseguem manter uma<br />

distância maior entre si, pois ao invés <strong>de</strong> passarem pelo processo intenso <strong>de</strong> especialização,<br />

ten<strong>de</strong>m a acumular variadas funções <strong>de</strong>ntro da mesma cida<strong>de</strong>.<br />

Apesar <strong>do</strong> difícil exercício em se conceituar as pequenas cida<strong>de</strong>s, Corrêa (2009),<br />

ressalta a importância da formulação <strong>de</strong> um conceito, mesmo que incompleto e com algumas<br />

inconsistências, para o estu<strong>do</strong> <strong>de</strong>stas localida<strong>de</strong>s, principalmente no que tange ao seu papel na<br />

re<strong>de</strong> <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s.<br />

Segun<strong>do</strong> o autor, a pequena cida<strong>de</strong> é oriunda <strong>de</strong> variadas gêneses, como a ação <strong>de</strong><br />

agentes sociais, padrão <strong>de</strong> localização, elementos motiva<strong>do</strong>res, entre outros, que estimulam a<br />

necessida<strong>de</strong> e possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> núcleos <strong>de</strong> povoamento. A pequena cida<strong>de</strong> é vista como um<br />

núcleo <strong>de</strong> povoamento, no qual a população está dividida, em diferenciadas proporções, em<br />

ativida<strong>de</strong>s ligadas ao setor urbano e ativida<strong>de</strong>s agrárias. Assim, ela po<strong>de</strong> ser caracterizada<br />

como uma transição, como uma maior integração <strong>do</strong> rural-urbano, sem que haja um rígi<strong>do</strong><br />

limite entre eles. Ressalte-se que para ser uma pequena cida<strong>de</strong> não basta ser um núcleo<br />

urbano, mas <strong>de</strong>ve haver um padrão <strong>do</strong>minante no que diz respeito à presença da função<br />

político-administrativa. No conjunto <strong>de</strong> características que conceituam a pequena cida<strong>de</strong>, o<br />

referi<strong>do</strong> autor valoriza a importância <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o grau <strong>de</strong> centralida<strong>de</strong> até o tamanho <strong>de</strong>mográfico,<br />

caracterizan<strong>do</strong>-se assim, por ser um centro local, isto é, um centro que exerce centralida<strong>de</strong> em<br />

relação ao seu território municipal. Ainda segun<strong>do</strong> o mesmo autor, as pequenas cida<strong>de</strong>s<br />

brasileiras e suas hinterlândias são muito distintas entre si. Elas assim se apresentam, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>,<br />

entre outros fatores, a características como: matriz cultural da área, antiguida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

povoamento da área, estrutura agrária da hinterlândia, <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográfica da hinterlândia,<br />

relações com o merca<strong>do</strong>, nível <strong>de</strong> renda da área e acessibilida<strong>de</strong>.<br />

As pequenas cida<strong>de</strong>s passam por transformações constantes no seu espaço e<br />

socieda<strong>de</strong>; porém estas transformações não ocorrem, necessariamente, no mesmo tempo e<br />

espaço. As transformações po<strong>de</strong>m ser motivadas tanto por processos e elementos externos,<br />

como internos à própria cida<strong>de</strong>; assim há uma gran<strong>de</strong> distinção entre elas.<br />

24


Basea<strong>do</strong> nas diferenciações entre as pequenas cida<strong>de</strong>s, Corrêa (2009) propôs uma<br />

classificação <strong>de</strong> tipos que segun<strong>do</strong> o autor po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas como i<strong>de</strong>ais. Estes<br />

mo<strong>de</strong>los foram assim elabora<strong>do</strong>s <strong>de</strong> forma que contemplassem unida<strong>de</strong>s e diversida<strong>de</strong>s, sen<strong>do</strong><br />

que uma mesma cida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>ria conter característica <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo. Os tipos i<strong>de</strong>ais<br />

seriam: os lugares centrais, os <strong>centros</strong> especializa<strong>do</strong>s, os reservatórios <strong>de</strong> força –<strong>de</strong>- trabalho,<br />

os <strong>centros</strong> que vivem <strong>de</strong> recursos externos e os subúrbios-<strong>do</strong>rmitório.<br />

Os lugares centrais seriam áreas incorporadas à industrialização <strong>do</strong> campo, em áreas<br />

agrícolas mo<strong>de</strong>rnizadas. Tem como uma <strong>de</strong> suas características principais a distribuição <strong>de</strong><br />

bens e serviços para as ativida<strong>de</strong>s agrárias, disponibiliza<strong>do</strong>s por meio <strong>de</strong> empresas locais,<br />

fortemente articuladas a gran<strong>de</strong>s empresas, bem como, oferecem, também, serviços e produtos<br />

para a população local. Os <strong>centros</strong> especializa<strong>do</strong>s seriam os que passaram pelo processo <strong>de</strong><br />

especialização, como trata<strong>do</strong> anteriormente, ou seja, os núcleos que <strong>de</strong>senvolvem alguma<br />

ativida<strong>de</strong> econômica específica. Dentro <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> pequenas cida<strong>de</strong>s estariam incluídas as<br />

“company town”. Os reservatórios <strong>de</strong> força <strong>de</strong> trabalho constituem locais que concentram<br />

trabalha<strong>do</strong>res que se viram expulsos <strong>do</strong> campo <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à concentração <strong>de</strong> terra, à<br />

industrialização ou porque aquele se tornou <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte ou estagna<strong>do</strong>, como aquelas cida<strong>de</strong>s<br />

que oferecem gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res bóias-frias para o corte <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar. Os<br />

<strong>centros</strong> que vivem <strong>de</strong> recursos externos constituem, geralmente, antigos e <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ntes lugares<br />

centrais localiza<strong>do</strong>s em áreas agrícolas <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ntes ou estagnadas, nas quais o processo<br />

migratório é notável. Vivem <strong>de</strong> recursos externos, como minguadas sobras <strong>de</strong> recursos<br />

monetários envia<strong>do</strong>s aos familiares por aqueles que emigraram, aposenta<strong>do</strong>rias e pensões<br />

pagas pelo FUNRURAL e recursos <strong>do</strong> governo fe<strong>de</strong>ral por intermédio <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong> <strong>de</strong> Participação<br />

<strong>do</strong>s Municípios (FPM). E, finalmente, os subúrbios-<strong>do</strong>rmitórios que são pequenas cida<strong>de</strong>s que<br />

possuem uma população com vínculos trabalhistas numa cida<strong>de</strong> maior e minimamente<br />

próxima, para assim efetuarem o movimento pendular. O surgimento <strong>de</strong>sta modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

cida<strong>de</strong> se <strong>de</strong>ve, principalmente, por melhores opções <strong>de</strong> trabalho na cida<strong>de</strong> maior, relativa<br />

facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento e falta <strong>de</strong> emprego na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> moradia.<br />

Segun<strong>do</strong> Santos (1979b), todas as cida<strong>de</strong>s estão submetidas a circuitos econômicos, os<br />

quais são os responsáveis não só pelo processo econômico urbano, como também pelo<br />

processo <strong>de</strong> organização espacial. Estes circuitos ocorrem simultaneamente, porém, um ou<br />

outro po<strong>de</strong> se apresentar <strong>de</strong> forma mais expressiva <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o contexto, com a análise e<br />

com as características <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> e da socieda<strong>de</strong> em questão. Os circuitos são dividi<strong>do</strong>s em<br />

25


“circuito superior” e “circuito inferior”, e po<strong>de</strong>m assim ser isola<strong>do</strong>s e i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s para uma<br />

melhor compreensão.<br />

O circuito superior se refere ao que há <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização, tecnologia e cientificida<strong>de</strong>.<br />

Suas relações econômicas e comerciais extrapolam as fronteiras da cida<strong>de</strong>, em âmbito<br />

nacional e internacional. Já o circuito inferior consiste em ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pequena escala e está<br />

estreitamente relaciona<strong>do</strong> à população pobre e, diferentemente <strong>do</strong> circuito superior, o inferior<br />

tem uma relação arraigada com sua região. Cada circuito forma um sistema, isto é, um<br />

subsistema <strong>do</strong> sistema urbano. (Santos, 1979b). A partir <strong>do</strong> quadro, a seguir, po<strong>de</strong>-se verificar<br />

a importância <strong>de</strong> alguns fatores da economia para cada um <strong>do</strong>s circuitos econômicos.<br />

QUADRO 1<br />

Características <strong>do</strong>s <strong><strong>do</strong>is</strong> circuitos da economia urbana <strong>do</strong>s países sub<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s<br />

Circuito Superior Circuito inferior<br />

Tecnologia Uso intensivo <strong>de</strong> capital Uso intensivo <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra<br />

Organização Burocrática Primitiva, não estruturada<br />

Capital Importante Escasso<br />

Mão- <strong>de</strong>- obra Limitada Abundante<br />

Salários regulares Prevalecentes Não requeri<strong>do</strong>s<br />

Estoques Gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> e/ou alta Pequenas quantida<strong>de</strong>s, baixa<br />

qualida<strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong><br />

Preços Fixos (em geral) Negociáveis entre compra<strong>do</strong>r<br />

e ven<strong>de</strong><strong>do</strong>r (regateio)<br />

Crédito De banco, institucional Pessoal, não institucional<br />

Margem <strong>de</strong> lucro<br />

Pequena por unida<strong>de</strong>, mas<br />

importante, da<strong>do</strong> o volume <strong>do</strong>s<br />

negócios (exceção: itens <strong>de</strong><br />

luxo)<br />

Gran<strong>de</strong> por unida<strong>de</strong>, mas<br />

pequena em relação ao<br />

volume <strong>do</strong>s negócios<br />

Relação com os fregueses Impessoal e/ou por escrito Direta, personalizada<br />

Custos fixos Importantes Negligenciáveis<br />

Propaganda Necessária Nenhuma<br />

Reutilização das<br />

merca<strong>do</strong>rias<br />

Nenhuma, <strong>de</strong>sperdício Frequente<br />

Capital <strong>de</strong> reserva Essencial Não essencial<br />

Ajuda governamental Importante Nenhuma ou quase nenhuma<br />

Dependência direta <strong>de</strong><br />

países estrangeiros<br />

Fonte: SANTOS, 1979b, p. 127<br />

Gran<strong>de</strong>; orientação para o<br />

Exterior<br />

Pequena ou nenhuma<br />

26


Com relação aos circuitos da economia, “as possibilida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> comércio <strong>do</strong> circuito<br />

inferior parecem aumentar em razão inversa <strong>do</strong> nível <strong>funcional</strong> das cida<strong>de</strong>s, elas também<br />

aumentam em função da distância (tempo e espaço) em relação à cida<strong>de</strong> mais<br />

industrializada” (SANTOS, 1979a, p. 273). A partir <strong>de</strong>sta premissa, po<strong>de</strong>-se confrontar a<br />

forte presença <strong>do</strong> circuito inferior nas pequenas cida<strong>de</strong>s.<br />

Por causa da ausência <strong>de</strong> produção e comercialização <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s produtos<br />

mo<strong>de</strong>rnos e industrializa<strong>do</strong>s, em muitas cida<strong>de</strong>s pequenas os mora<strong>do</strong>res têm que se <strong>de</strong>slocar<br />

para outras localida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> maior nível <strong>funcional</strong>, para adquirirem <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s produtos e<br />

serviços especializa<strong>do</strong>s. Esta realida<strong>de</strong> é recorrente em várias cida<strong>de</strong>s locais. Muitas vezes a<br />

pequena cida<strong>de</strong> dispõe <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> produto, mas <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aos custos agrega<strong>do</strong>s ao<br />

transporte e ao pouco lucro, o valor <strong>do</strong> produto aumenta, assim induzin<strong>do</strong> os consumi<strong>do</strong>res a<br />

recorrerem a locais maiores para adquirirem o que <strong>de</strong>sejam. A saú<strong>de</strong> é um serviço em que esta<br />

realida<strong>de</strong> se torna bem visível. É comum a prefeitura <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s pequenas oferecerem<br />

transporte para a população se tratar em cida<strong>de</strong>s maiores, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à ausência <strong>de</strong> especialistas<br />

e/ou aparelhos mais complexos na própria cida<strong>de</strong>.<br />

Daí a afirmação <strong>de</strong> Santos (1979a, p.273) “Os que não po<strong>de</strong>m se <strong>de</strong>slocar e que são<br />

prisioneiros <strong>do</strong> comércio local, recorrem necessariamente ao sistema <strong>de</strong> distribuição <strong>do</strong><br />

circuito inferior”, ou seja, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento diminui proporcionalmente ao<br />

tamanho e nível <strong>funcional</strong> das cida<strong>de</strong>s, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> também diminui com o tamanho e<br />

nível <strong>funcional</strong> das cida<strong>de</strong>s o número <strong>de</strong> pessoas com alto po<strong>de</strong>r aquisitivo e com formação<br />

especializada. Assim, nas pequenas localida<strong>de</strong>s o comércio mo<strong>de</strong>rno torna-se menos<br />

importante, analogamente, o comércio não-mo<strong>de</strong>rno torna-se, relativamente, mais importante.<br />

Nas pequenas cida<strong>de</strong>s o circuito inferior, muitas vezes, substitui os serviços mo<strong>de</strong>rnos<br />

inexistentes e/ou <strong>de</strong>ficientes, muito embora ele também esteja presente nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s,<br />

mesmo com os numerosos serviços mo<strong>de</strong>rnos disponíveis. Ele existe na gran<strong>de</strong> cida<strong>de</strong> para<br />

aten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> uma expressiva população pobre, e nela ele se encontra mais diverso e<br />

especializa<strong>do</strong>, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao maior contato com ativida<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas.<br />

A relação volume e complexida<strong>de</strong> <strong>do</strong> circuito inferior sobre a<br />

população diminui (...), da metrópole para a cida<strong>de</strong> local. A área <strong>de</strong><br />

influencia <strong>do</strong> circuito inferior, ao contrário, ten<strong>de</strong> a aumentar da metrópole<br />

para a cida<strong>de</strong> local. Nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s o alcance <strong>do</strong> circuito inferior ten<strong>de</strong><br />

a se confundir com os limitas da aglomeração, enquanto as cida<strong>de</strong>s locais<br />

exercem o essencial <strong>de</strong> sua influência territorial por intermédio <strong>do</strong> circuito<br />

inferior. (SANTOS, 1979a, p. 277)<br />

27


Devi<strong>do</strong> à dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção e dispersão <strong>de</strong> produtos e serviços mo<strong>de</strong>rnos nas<br />

cida<strong>de</strong>s locais, é o circuito inferior que se incube da distribuição <strong>do</strong>s bens tanto tradicionais<br />

como <strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>rnos. No caso <strong>do</strong>s produtos mo<strong>de</strong>rnos, isto ocorre on<strong>de</strong> o circuito superior não<br />

atinge ou o faz <strong>de</strong> forma precária.<br />

Deste mo<strong>do</strong>, os circuitos da economia agem <strong>de</strong> forma diferenciada no espaço. Essa<br />

diferença se reflete no raio <strong>de</strong> alcance e influência que cada circuito atinge, nas diferentes<br />

organizações <strong>do</strong> espaço, como retrata o esquema abaixo.<br />

FIGURA 1 - Importância relativa das zonas <strong>de</strong> influencia <strong>do</strong>s <strong><strong>do</strong>is</strong> circuitos em relação aos<br />

diferentes níveis <strong>urbanos</strong>.<br />

Fonte: SANTOS, 1979a, p.280 (adapta<strong>do</strong>)<br />

28


Assim, as numerosas pequenas cida<strong>de</strong>s foram se mo<strong>de</strong>lan<strong>do</strong> <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a evolução<br />

<strong>do</strong> tempo, alterações no espaço, na economia e no sistema global. Foram crian<strong>do</strong><br />

especialida<strong>de</strong>s, geran<strong>do</strong> <strong>centros</strong>, mas simultaneamente conservan<strong>do</strong> características próprias,<br />

costumes e história, além <strong>de</strong> configurarem um importante reservatório <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra.<br />

Neste processo evolutivo, as cida<strong>de</strong>s locais se urbanizam, em um ritmo singular,<br />

porém contínuo. Como coloca Damiani (2006, p.144) “O processo geral <strong>de</strong> urbanização é um<br />

fenômeno múltiplo, diferencia<strong>do</strong> e multidimensional, <strong>de</strong> caráter mundial. E essa<br />

mundialida<strong>de</strong> atravessa inclusive as pequenas cida<strong>de</strong>s”.<br />

No próximo capítulo, será resgatada a geo-história das pequenas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Capelinha<br />

e Minas Novas. Será consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>, conjuntamente, um panorama geral <strong>do</strong> <strong>Alto</strong> <strong>Vale</strong><br />

Jequitinhonha. Este resgate da geo-história da região tem como intuito compreen<strong>de</strong>r o<br />

contexto <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das duas cida<strong>de</strong>s e da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> lugares em que estas estão<br />

inseridas.<br />

29


3. A GEO-HISTÓRIA DO ALTO VALE DO JEQUITINHONHA E DOS MUNICÍPIOS<br />

DE MINAS NOVAS E CAPELINHA<br />

Para se compreen<strong>de</strong>r melhor um espaço é necessário conhecer a sua história e<br />

formação, a fim <strong>de</strong> evitar empirismos e supressão elementos que possam auxiliar e orientar na<br />

compreensão <strong>do</strong> espaço estuda<strong>do</strong>. Milton Santos (2008) aborda esta importância sobre a<br />

contextualização histórica:<br />

O geógrafo torna-se um empirista e está con<strong>de</strong>na<strong>do</strong> a errar em suas análises<br />

se consi<strong>de</strong>ra somente o lugar, como se ele tu<strong>do</strong> explicasse por si mesmo, e<br />

não a história das relações, <strong>do</strong>s objetos sobre os quais se dão as ações<br />

humanas, já que os objetos e relações mantêm ligações dialéticas, on<strong>de</strong> o<br />

objeto acolhe as relações sociais, e estas impactam os objetos. (SANTOS,<br />

2008, p.64).<br />

Com base na colocação <strong>de</strong> Milton Santos, serão tratadas nas seções a seguir a Geo-<br />

História e formação da re<strong>de</strong> urbana <strong>do</strong> <strong>Alto</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha e <strong>do</strong>s municípios <strong>de</strong> Minas<br />

Novas e Capelinha.<br />

3.1 Geo-história e formação da re<strong>de</strong> urbana no <strong>Alto</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha<br />

Historicamente, o <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha foi uma das primeiras áreas a serem<br />

ocupadas no esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Minas Gerais. Iniciou-se o processo <strong>de</strong> ocupação com as expedições <strong>de</strong><br />

interiorização efetuadas pelos ban<strong>de</strong>irantes. Mas, foi a exploração <strong>do</strong> ouro e das pedras<br />

preciosas a principal ativida<strong>de</strong> que estruturou esse território. A ocupação teve inicio no século<br />

XVII e continuou por to<strong>do</strong> século XVIII. Além da mineração, que representava o principal<br />

eixo econômico da época, edificou-se também a prática da pecuária, que configurou uma<br />

importante e permanente ativida<strong>de</strong> que, mesmo <strong>de</strong> forma lenta, ocupava o interior. (Matos e<br />

Ferreira, 2000)<br />

A <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> ouro e a consequente prática da mineração e <strong>do</strong> garimpo, fizeram com<br />

que o <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha, em <strong>de</strong>staque o <strong>Alto</strong> Jequitinhonha, passassem a atrair um<br />

expressivo contingente populacional. Esta concentração <strong>de</strong> pessoas viria a estimular a<br />

urbanização e a formação <strong>de</strong> uma economia baseada na agricultura, pecuária, comércio e<br />

serviços, que diferente da mineração, eram <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s ao merca<strong>do</strong> interno.<br />

30


Conforme cita Nunes (2001), no inicio da ocupação, as trilhas terrestres e os cursos<br />

d’água eram os meios <strong>de</strong> comunicação entre os núcleos que surgiam. Os rios funcionavam<br />

como a via mais acessível, pois apresentavam maior facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> locomoção, visto as<br />

dificulda<strong>de</strong>s da época <strong>de</strong> enfrentar as condições naturais por meio <strong>de</strong> terra firme. Através <strong>do</strong>s<br />

rios eram feitos os escoamentos <strong>do</strong>s produtos da exploração das terras, bem como, por eles<br />

chegavam as merca<strong>do</strong>rias para abastecer a população que crescia.<br />

Na região, três lugares se <strong>de</strong>stacavam até o fim <strong>do</strong> século XVIII e foram eles os<br />

responsáveis pela maior ocupação e concentração populacional no <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha.<br />

Estes lugares <strong>de</strong>spertavam a atração <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às suas reservas <strong>de</strong> ouro e pedras<br />

preciosas. Eram eles, o Serro, se<strong>de</strong> da Comarca <strong>do</strong> Serro Frio em 1720; Diamantina,<br />

anteriormente chamada <strong>de</strong> Tejuco, elevada à vila em 1831 e Minas Novas, elevada a vila em<br />

1729. Esta última era judicialmente submetida à Comarca <strong>do</strong> Serro Frio, e, administrativa e<br />

militarmente, submetida à Comarca da Bahia até 1757.<br />

A região <strong>do</strong> <strong>Alto</strong> Jequitinhonha e adjacências passaram por perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

prosperida<strong>de</strong> econômica, proporciona<strong>do</strong> pela mineração <strong>do</strong> ouro e posteriormente <strong>do</strong><br />

diamante. A <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong>stas riquezas minerais condicionou a Coroa Portuguesa a contratar<br />

mão-<strong>de</strong>-obra para a realização <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> extração. Este recrutamento foi crucial para o<br />

crescimento populacional da região. Na segunda meta<strong>de</strong> XVIII, a região ainda recebia muitas<br />

pessoas da própria Colônia, principalmente da Bahia, mas também contava com imigrantes<br />

estrangeiros, com <strong>de</strong>staque para os portugueses e africanos. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra<br />

não se restringia àquela da exploração mineral, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao contingente populacional e para<br />

evitar tumultos (que chegaram a ocorrer), em razão da escassez <strong>do</strong> abastecimento <strong>de</strong> gêneros<br />

alimentícios, era essencial que uma parcela da população se <strong>de</strong>stinasse para agricultura e<br />

pecuária. Antes <strong>de</strong>ssa mudança <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> econômica da população, que também passou a<br />

<strong>de</strong>dicar-se às ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> abastecimento e sobrevivência, no inicio da ativida<strong>de</strong> minera<strong>do</strong>ra,<br />

os produtos viam <strong>de</strong> São Paulo ou da Bahia, por meio <strong>de</strong> longas viagens realizadas pelos<br />

tropeiros.<br />

Serro, Diamantina e Minas Novas <strong>de</strong>stacavam-se como concentrações urbanas <strong>de</strong>vi<strong>do</strong><br />

ao caráter administrativo que possuíam, pela importância das suas lavras minerais e pela<br />

expressiva aglomeração populacional que atraíram. A população que nestes lugares se<br />

consoli<strong>do</strong>u, passou a <strong>de</strong>senvolver práticas comerciais e <strong>de</strong> abastecimento, inician<strong>do</strong>-se, assim,<br />

a formação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> urbana na área.<br />

31


Conforme colocam Matos e Ferreira (2001), a história sempre privilegia a importância<br />

<strong>do</strong>s “ciclos econômicos” para a compreensão da economia colonial e a estruturação <strong>do</strong><br />

território. Entretanto, ainda que com menor expressão, existiam, concomitantemente,<br />

ativida<strong>de</strong>s voltadas para o merca<strong>do</strong> interno e, estas ativida<strong>de</strong>s, embora <strong>de</strong> menor expressão <strong>do</strong><br />

que aquelas ligadas à exportação configuravam uma importante <strong>dinâmica</strong> da economia<br />

interna. As ativida<strong>de</strong>s relacionadas aos “ciclos econômicos” sempre tinham como finalida<strong>de</strong> a<br />

exportação e, no <strong>Vale</strong>, a representação da ativida<strong>de</strong> exporta<strong>do</strong>ra era a mineração. Contu<strong>do</strong>, a<br />

produção e circulação <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>rias não eram <strong>de</strong>sprezíveis, pois se fizeram necessárias para<br />

aten<strong>de</strong>r a própria <strong>de</strong>manda criada com a aglomeração <strong>de</strong> pessoas. Esta circulação <strong>de</strong><br />

merca<strong>do</strong>rias fundamentou a estrutura urbana que se formou, bem como, a edificação <strong>de</strong> uma<br />

re<strong>de</strong> <strong>de</strong> lugares <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rável relevância para época.<br />

Com o objetivo <strong>de</strong> afirmar o caráter, também, <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> interno e não somente<br />

exporta<strong>do</strong>r da economia <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha, Matos e Ferreira (2000) salientam que em<br />

<strong>de</strong>sacor<strong>do</strong> com os clássicos da historiografia brasileira, não houve uma <strong>de</strong>cadência que teria<br />

opera<strong>do</strong> <strong>de</strong> imediato nas áreas centrais e nor<strong>de</strong>stinas <strong>de</strong> Minas, após o <strong>de</strong>clínio da mineração<br />

no século XVIII. A partir <strong>de</strong>sta perspectiva, os autores complementam, que segun<strong>do</strong> alguns<br />

historia<strong>do</strong>res contemporâneos a economia mineira, durante os séculos XVII e XVIII, era<br />

claramente monetizada e mercantilizada. Esta realida<strong>de</strong> era assim confirmada <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao<br />

gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> aquisições <strong>de</strong> escravos na região e o expressivo comércio com áreas <strong>do</strong> Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, São Paulo e Bahia, mesmo após o ápice <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> minera<strong>do</strong>r. Havia um<br />

dinamismo em regiões on<strong>de</strong> não era praticada a mineração e/ou agricultura <strong>de</strong> exportação. As<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> menor expressão econômica, como casos <strong>de</strong> agricultura e pecuária que<br />

inicialmente eram voltadas para a subsistência e posteriormente se <strong>de</strong>senvolveram e passaram<br />

a atuar no cenário comercial interno, são exemplos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que se estruturam mesmo<br />

sem estarem ligadas diretamente à exportação. Estas ativida<strong>de</strong>s “extra-mineração” são <strong>de</strong><br />

suma importância para se compreen<strong>de</strong>r a formação e estruturação <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha,<br />

pois a economia da região apresentava um caráter misto.<br />

Meneses, cita<strong>do</strong> por Nunes (2001, p.27), afirma que esta agricultura <strong>de</strong> abastecimento<br />

alimentar era “uma forma <strong>de</strong> acesso à riqueza e uma resposta <strong>de</strong> sobrevivência das<br />

populações crescentes da área minera<strong>do</strong>ra”. O autor, que estu<strong>do</strong>u a produção <strong>de</strong> alimentos e<br />

as ativida<strong>de</strong>s econômicas na Comarca <strong>do</strong> Serro Frio <strong>do</strong> século XVIII, por meio da análise <strong>de</strong><br />

vários testamentos e inventários, concluiu que:<br />

32


A diversida<strong>de</strong> da produção <strong>de</strong>ssa proprieda<strong>de</strong> rural não se restringe à lavoura<br />

e à criação <strong>de</strong> animais. Ela se <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bra ainda para as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

beneficiamento <strong>do</strong>s produtos da agropecuária, como a confecção <strong>de</strong> farinhas,<br />

fubá, produtos da cana e monjolos para limpeza <strong>de</strong> cereais, bem como a<br />

produção artesanal <strong>de</strong> teci<strong>do</strong>s e instrumentos <strong>de</strong> ferro e latão. (MENESES<br />

apud NUNES, 2001, p.27)<br />

Um das formas a<strong>do</strong>tadas pela Metrópole para contribuir com a questão <strong>do</strong><br />

abastecimento, era a <strong>do</strong>ação <strong>de</strong> terras. Por meio <strong>de</strong>ste artifício estimulava-se a produção <strong>de</strong><br />

gêneros alimentícios, minimizan<strong>do</strong>, assim, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> episódios <strong>de</strong> fome na região;<br />

controlava-se o preço das terras, além <strong>de</strong> garantir uma maior ocupação territorial. Apesar das<br />

autorida<strong>de</strong>s estimularem a ocupação e posse <strong>de</strong> terras, estas não eram realizadas <strong>de</strong> forma<br />

ilimitada, ou seja, a <strong>do</strong>ação e venda <strong>de</strong> terras era um benefício estendi<strong>do</strong> a uma parcela<br />

específica da população e não acessível a qualquer pessoa <strong>de</strong> forma indiscriminada.<br />

A diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas estruturou uma socieda<strong>de</strong> que se<br />

urbanizava, além <strong>de</strong> possibilitar a esta socieda<strong>de</strong> experimentar o processo <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong><br />

riquezas. A gama <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, que surgiram como coadjuvantes à mineração não surgiram<br />

<strong>de</strong> forma totalmente aleatória. A Metrópole exercia um rígi<strong>do</strong> controle sobre as áreas<br />

minera<strong>do</strong>ras nela atuan<strong>do</strong> e controlan<strong>do</strong> o comércio a fim <strong>de</strong> evitar contraban<strong>do</strong>s. Porém,<br />

mesmo com a fiscalização, a Metrópole tinha que se preocupar, também, em criar um mínimo<br />

suporte <strong>de</strong> abastecimento e sobrevivência para aqueles que na região mineravam, com o<br />

intuito <strong>de</strong> evitar possíveis tumultos ou rebeliões.<br />

Os núcleos populacionais forma<strong>do</strong>s no <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha eram bem articula<strong>do</strong>s<br />

entre si e também apresentavam alguma interação com <strong>de</strong>mais localida<strong>de</strong>s distintas da região,<br />

muito embora configuravam-se como periféricos à região central <strong>de</strong> Minas. De acor<strong>do</strong> com<br />

Matos e Ferreira (2000), as relações comerciais entre os núcleos e o litoral eram bastante<br />

vantajosas para os tropeiros e comerciantes, conseguin<strong>do</strong> estes resistir e praticar o seu<br />

comércio, mesmo com as interdições e a vigilância da Coroa. A Coroa via na prática <strong>do</strong><br />

comércio um perigo ao seu patrimônio, visto que, era esta ativida<strong>de</strong> o principal meio no qual<br />

se processava o contraban<strong>do</strong> <strong>de</strong> ouro e pedras preciosas. Saliente-se que, uma característica<br />

que favoreceu a expansão territorial da região foram os altos preços pratica<strong>do</strong>s na região das<br />

Minas, que eram bem superiores ao <strong>de</strong> outras localida<strong>de</strong>s da Colônia, surgin<strong>do</strong> assim a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver novos núcleos para criar uma concorrência entre eles.<br />

Os núcleos que surgiam formavam uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a diminuir a <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>les<br />

com o litoral. Esta re<strong>de</strong> se formava tornan<strong>do</strong> possível a chegada até os portos, constituin<strong>do</strong><br />

33


necessários pontos <strong>de</strong> suporte para a travessia <strong>do</strong> interior. Nestes caminhos alguns se<br />

estabeleciam com o objetivo <strong>de</strong> ali produzirem alimentos para posteriormente serem vendi<strong>do</strong>s<br />

aos próximos viajantes, intensifican<strong>do</strong> assim a malha urbana que se estruturava.<br />

Ferreira (1999) aponta que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o principio <strong>do</strong> século XVIII a região <strong>do</strong> <strong>Alto</strong><br />

Jequitinhonha articulava-se com o centro <strong>de</strong> Minas e <strong>de</strong>ste com o Rio <strong>de</strong> Janeiro e São Paulo.<br />

Mesmo com as dificulda<strong>de</strong>s físicas <strong>do</strong> caminho e a dura fiscalização e embargos impostos<br />

pela Coroa, a região conseguia manter vínculos com alguns <strong>do</strong>s principais <strong>centros</strong> da<br />

economia colonial, como a Recôncavo Baiano, a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Salva<strong>do</strong>r, o Rio <strong>de</strong> Janeiro e São<br />

Paulo.<br />

A expansão da re<strong>de</strong> urbana <strong>do</strong> <strong>Alto</strong> Jequitinhonha, no perío<strong>do</strong> entre mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século<br />

XVIII e inicio <strong>do</strong> século XIX, possuía <strong><strong>do</strong>is</strong> vetores principais <strong>de</strong> crescimento. Um relaciona<strong>do</strong><br />

a Grão Mongol, que era o núcleo mais importante ao norte <strong>de</strong> Diamantina, e outro em senti<strong>do</strong><br />

a Minas Novas, que apesar <strong>de</strong> mais antigo, ganha novo estímulo com a incorporação da Vila<br />

<strong>de</strong> Minas Novas <strong>do</strong> Fana<strong>do</strong>, à Comarca <strong>do</strong> Serro Frio em 1757. No comércio, além da<br />

exportação <strong>do</strong>s produtos da mineração, a região se <strong>de</strong>stacava na exportação, também, <strong>do</strong><br />

algodão, <strong>de</strong> excelente qualida<strong>de</strong>, e, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à ativida<strong>de</strong> pecuária, comercializava carnes, couro,<br />

bois e cavalos com o Rio <strong>de</strong> Janeiro e principalmente para a Bahia.<br />

Apesar <strong>de</strong> estar incluída na <strong>de</strong>limitação <strong>do</strong> <strong>Alto</strong> Jequitinhonha, Minas Novas<br />

representou um importante núcleo centraliza<strong>do</strong>r para as localida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Médio Jequitinhonha.<br />

Através <strong>de</strong>la se fazia a ligação para o Tejuco, para a região <strong>de</strong> Araçuaí, para as paragens <strong>do</strong><br />

rio São Francisco e para Bahia. A distância da região <strong>do</strong> Médio Jequitinhonha e o arraial <strong>do</strong><br />

Tejuco, centro da <strong>de</strong>marcação <strong>do</strong>s diamantes e com Serro, cabeça/se<strong>de</strong> da Comarca, favoreceu<br />

a posição polariza<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> Minas Novas. Outros fatores como: necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma infra-<br />

estrutura básica para aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s locais da população que ali se instalava; a<br />

intensa fiscalização e controle <strong>do</strong> contraban<strong>do</strong>, soma<strong>do</strong>s à existência <strong>de</strong> uma casa <strong>de</strong> fundição,<br />

que além <strong>de</strong> contar com vigilância constante, também era residência <strong>do</strong> juiz <strong>de</strong> fora <strong>do</strong> 4 termo,<br />

contribuíram fortemente para a manutenção da centralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Minas Novas.<br />

No início, a re<strong>de</strong> urbana <strong>do</strong> Médio Jequitinhonha aparecia quase como uma<br />

continuação <strong>do</strong> <strong>Alto</strong> <strong>Vale</strong>; contu<strong>do</strong>; no século XIX este panorama sofre mudanças na sua<br />

configuração. Araçuaí <strong>de</strong>sponta como um importante pólo econômico no Médio <strong>Vale</strong> e altera<br />

4 “Termo”: subdivisão da Comarca sob a jurisdição <strong>de</strong> um juiz.<br />

34


a <strong>dinâmica</strong> da re<strong>de</strong>, que até o momento possuía gran<strong>de</strong> ligação com o <strong>Alto</strong> Jequitinhonha. Não<br />

chega haver um rompimento entre as duas regiões, porém a sub-região <strong>do</strong> Médio toma uma<br />

<strong>dinâmica</strong> própria e ganha maior autonomia econômica. Neste contexto Araçuaí passa a ocupar<br />

a posição <strong>de</strong> centralida<strong>de</strong> em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> Minas Novas, que, entretanto, permanece como<br />

centro político-administrativo.<br />

Apesar <strong>do</strong> êxito <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> minera<strong>do</strong>r, com os passar <strong>do</strong>s anos, as reservas auríferas e<br />

diamantíferas foram se esvain<strong>do</strong> e a mineração, então, entrou em <strong>de</strong>clínio. Não obstante a<br />

<strong>de</strong>cadência da mineração e das consequentes dificulda<strong>de</strong>s surgidas, os <strong>centros</strong> <strong>urbanos</strong> se<br />

mantiveram com a economia baseada nas ativida<strong>de</strong>s agropecuárias. Estas ativida<strong>de</strong>s passaram<br />

a substituir e absorver os recursos acumula<strong>do</strong>s na mineração.<br />

Com o fim da mineração e alguns anos que se suce<strong>de</strong>ram a este seu <strong>de</strong>clínio, o <strong>Vale</strong> <strong>do</strong><br />

Jequitinhonha inicia um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s e estagnação econômica. Diamantina<br />

ainda se mantém durante um perío<strong>do</strong>, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à instalação <strong>de</strong> uma indústria têxtil em seu<br />

território. Contu<strong>do</strong>, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a várias conjunturas no cenário político e econômico, a<br />

centralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Diamantina vai esfacelan<strong>do</strong>-se.<br />

(...) No plano político, a partir da década <strong>de</strong> 1940, as emancipações<br />

<strong>de</strong> muitos distritos levaram à perda da posição geopolítica privilegiada que<br />

Diamantina ostentava até então no norte/nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Minas Gerais. A perda<br />

<strong>de</strong> substância política con<strong>de</strong>nou o <strong>Alto</strong> Jequitinhonha a permanecer fora <strong>do</strong>s<br />

planos <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização da economia mineira produzi<strong>do</strong>s nos anos 40, 50 e<br />

60, seja no âmbito estadual ou fe<strong>de</strong>ral. (MARTINS apud NUNES, 2001, p.<br />

53).<br />

Como aponta Nunes (2001), outros fatores contribuíram para que houvesse a<br />

<strong>de</strong>cadência e a consequente estagnação da economia no <strong>Vale</strong>, em especial no <strong>Alto</strong><br />

Jequitinhonha que era a sub-região mais <strong>de</strong>senvolvida. Entre estes fatores está a implantação<br />

<strong>de</strong> ro<strong>do</strong>vias, que facilitavam o acesso e favoreciam o comércio e transações <strong>de</strong> empresas <strong>do</strong><br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro e São Paulo com o norte e nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Minas Gerais, em prejuízo as cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong><br />

<strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha, que tiveram a sua centralida<strong>de</strong> abalada pela facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso a<br />

<strong>de</strong>mais <strong>centros</strong>. Associa<strong>do</strong> a isso, houve também o aumento <strong>do</strong> preço <strong>do</strong>s produtos da região,<br />

<strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> re<strong>de</strong> bancária, baixa circulação <strong>de</strong> capital e transações comerciais com o<br />

restante <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, comprometen<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta forma o <strong>de</strong>senvolvimento da economia da região <strong>do</strong><br />

<strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha. Somada aos fatores cita<strong>do</strong>s, houve também a emancipação <strong>de</strong> distritos<br />

próximos, que se transformariam, posteriormente, em <strong>de</strong>staca<strong>do</strong>s <strong>centros</strong> regionais, tais como<br />

Montes Claros, Governa<strong>do</strong>r Valadares e Teófilo Otoni. A ascensão <strong>de</strong>stes <strong>centros</strong> ocorreu em<br />

<strong>de</strong>trimento da posição econômica ocupada pelo <strong>Alto</strong> Jequitinhonha, correspon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ao<br />

35


surgimento <strong>de</strong> novos <strong>centros</strong> <strong>de</strong> competição pelos merca<strong>do</strong>s das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comércio e<br />

serviços.<br />

Esta situação se agrava ao longo <strong>do</strong>s anos e <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a uma nova configuração<br />

econômica e política, o <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha passa a ser reconheci<strong>do</strong> como região <strong>de</strong>primida<br />

e estagnada. Assim reconheci<strong>do</strong>, o <strong>Vale</strong> passa a uma condição <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong>pendência<br />

<strong>de</strong> políticas públicas nas tentativas <strong>de</strong> dinamização <strong>de</strong> sua economia e <strong>de</strong>senvolvimento<br />

social, tanto no âmbito fe<strong>de</strong>ral como no estadual, sem, contu<strong>do</strong>, atingir êxito nas propostas.<br />

Esta configuração permanece até os dias <strong>de</strong> hoje.<br />

Atualmente, a organização da re<strong>de</strong> urbana <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha está disposta <strong>de</strong><br />

forma que cada sub-região apresenta um centro local mais dinâmico e <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>, que<br />

centraliza as <strong>de</strong>mais cida<strong>de</strong>s. De acor<strong>do</strong> com Paula e Simões (2006), o <strong>Alto</strong> Jequitinhonha,<br />

apresenta Diamantina com o principal centro, porém esta sub-região tem a particularida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

apresentar outros núcleos <strong>urbanos</strong> <strong>de</strong> importância na região, como Capelinha, Itamarandiba e<br />

Minas Novas. No Baixo Jequitinhonha o principal centro, atualmente, é Almenara e no Médio<br />

Jequitinhonha, é Araçuaí.<br />

Nesta seção foi apresentada uma conjuntura mais geral sobre a ocupação no <strong>Alto</strong> <strong>Vale</strong><br />

<strong>do</strong> Jequitinhonha, baseada na mineração e consequente estrutura formada para aten<strong>de</strong>r esta<br />

ativida<strong>de</strong>, cada cida<strong>de</strong> da região apresenta particularida<strong>de</strong>s sobre a sua gênese e sua história.<br />

Deste mo<strong>do</strong>, será apresentada mais <strong>de</strong>talhadamente nas próximas seções a história municípios<br />

<strong>de</strong> Minas Novas e Capelinha.<br />

3.2 Geo-história <strong>de</strong> Minas Novas<br />

O povoamento <strong>de</strong> Minas Novas iniciou-se por volta <strong>de</strong> 1727, quan<strong>do</strong> o ban<strong>de</strong>irante<br />

Sebastião Leme <strong>do</strong> Pra<strong>do</strong> e seu grupo encontraram ouro em um <strong>do</strong>s afluentes <strong>do</strong> Rio Fana<strong>do</strong>.<br />

Devi<strong>do</strong> à façanha, o rio em que foi encontra<strong>do</strong> o ouro, foi batiza<strong>do</strong> <strong>de</strong> Bom Sucesso. A notícia<br />

da <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> ouro rapidamente se espalhou atrain<strong>do</strong> faisca<strong>do</strong>res para o lugar. O contigente<br />

<strong>de</strong> pessoas que chegou em busca <strong>de</strong> ouro se intalou entre o rio Fana<strong>do</strong> e o seu afluente Bom<br />

Sucesso, lugar no qual se formou o primeiro núcleo populacional. Este núcleo crescia ao re<strong>do</strong>r<br />

<strong>de</strong> uma capelinha então erguida pelos mora<strong>do</strong>res em <strong>de</strong>voção a São Pedro; por este motivo, o<br />

pequeno núcleo passou a se chamar o Arraial <strong>de</strong> São Pedro <strong>do</strong> Fana<strong>do</strong>. Em pouco tempo o<br />

arraial cresceu e prosperou e <strong><strong>do</strong>is</strong> anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> seu surgimento, foi eleva<strong>do</strong> à categoria <strong>de</strong><br />

vila, receben<strong>do</strong> o nome <strong>de</strong> Vila <strong>do</strong> Bom Sucesso <strong>do</strong> Fana<strong>do</strong> <strong>de</strong> Minas Novas.<br />

36


A notícia da <strong>de</strong>scoberta <strong>do</strong> ouro na região <strong>do</strong> Rio <strong>do</strong> Fana<strong>do</strong> espalhou-se rapidamente,<br />

até chegar ao conhecimento das autorida<strong>de</strong>s legais da época. O então guarda-mor das terras<br />

mineiras pelo Governo <strong>de</strong> Minas Gerais, Sebastião Leme <strong>do</strong> Pra<strong>do</strong>, ao invés <strong>de</strong> comunicar ao<br />

próprio governo <strong>de</strong> Minas Gerais a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> ouro em Bom Sucesso, o fez ao Governa<strong>do</strong>r<br />

da Bahia, que rapidamente apo<strong>de</strong>rou-se da terra e por or<strong>de</strong>ns da Coroa man<strong>do</strong>u estabelecer<br />

uma intendência na região on<strong>de</strong> o ouro era quinta<strong>do</strong>. O rápi<strong>do</strong> crescimento econômico <strong>do</strong><br />

lugar levou a população a exigir, uma justiça mais próxima, visto a maior distância entre a<br />

Bahia e a Vila comparada a distância <strong>de</strong>sta à Comarca <strong>do</strong> Serro. Assim, mediante as<br />

reivindicações da população e para se exercer um maior controle sob a região, o Conselho<br />

Ultramarino, em 1730, sujeitou a Vila <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong> Bom Sucesso <strong>de</strong> Minas Novas à<br />

comarca <strong>do</strong> Serro. Deste mo<strong>do</strong> a vila passou a subordinação jurídica <strong>de</strong> Minas Gerais, porém,<br />

permanecen<strong>do</strong> administrativa, militar e eclesiasticamente sob a jurisdição da Bahia. Neste<br />

mesmo ano a vila é elevada à categoria <strong>de</strong> município com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Bom Sucesso<br />

das Minas <strong>do</strong> Fana<strong>do</strong> na Capitania da Bahia.<br />

O então governa<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Minas Gerais, Gomes Freire <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, solicita ao Governo<br />

Real a total transferência <strong>de</strong> Minas Novas para o controle <strong>de</strong> Minas Gerais, alegan<strong>do</strong> entre<br />

outros argumentos, a distância <strong>do</strong> Governo da Bahia e, por outro la<strong>do</strong>, a proximida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

Serro, facilitan<strong>do</strong> a fiscalização <strong>do</strong>s garimpos <strong>de</strong> diamantes na região, evitan<strong>do</strong> seus<br />

<strong>de</strong>scaminhos, além daqueles <strong>do</strong> ouro. Dessa forma, esten<strong>de</strong>ria-se a área <strong>de</strong> influência <strong>de</strong><br />

Minas Gerais, um ganho político e econômico, certamente. Ce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> à tais alegações, a<br />

Resolução Ultramarina, em 1757 submete Minas Novas à Comarca <strong>do</strong> Serro e ao Governo da<br />

Capitania <strong>de</strong> Minas Gerais.<br />

Contu<strong>do</strong>, o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> mineração em Minas Novas não foi dura<strong>do</strong>uro. Conforme<br />

<strong>de</strong>clinavam as reservas minerais <strong>de</strong> ouro e pedras preciosas, houve um gradativo processo <strong>de</strong><br />

emigração e os habitantes que permaneceram passaram a se <strong>de</strong>dicar à lavoura e pecuária<br />

como forma <strong>de</strong> sobrevivência.Com a nova condição, sem mais reservas auriferas, a antiga<br />

Vila <strong>do</strong> Fana<strong>do</strong> transformou-se em fins <strong>do</strong> século XVIII num núcleo exporta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> algodão<br />

em rama, visto o sucesso <strong>do</strong> cultivo em terras da Vila. Além <strong>do</strong> próprio algodão, a Vila<br />

também exportava o produto já beneficia<strong>do</strong> em forma <strong>de</strong> cobertores, além <strong>de</strong> outros tipos <strong>de</strong><br />

confecções, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong>-se aqueles <strong>de</strong> teci<strong>do</strong>s grossos. Outro produto que apresentou boa<br />

aceitação no merca<strong>do</strong>, principalmente no europeu, foi a seda, que era <strong>de</strong> excelente qualida<strong>de</strong>.<br />

Devi<strong>do</strong> a esta fase <strong>de</strong> êxito econômico e associada às dificulda<strong>de</strong>s administrativas e <strong>de</strong><br />

articulação existentes na extensa hinterlândia, em 1856, surge a i<strong>de</strong>ia da instituição da<br />

Província autônoma <strong>de</strong> Minas Novas, cuja capital seria Minas Novas. A nova província<br />

37


abrangeria a Comarca <strong>de</strong> Jequitinhonha (mineira), além das Comarcas <strong>de</strong> Porto Seguro e <strong>de</strong><br />

Caravelas na Bahia. A proposta, levada ao Parlamento na capital imperial, não chegou a<br />

concluir-se.<br />

Minas Novas sempre teve uma <strong>de</strong>stacada centralida<strong>de</strong> em sua região, sobretu<strong>do</strong> para<br />

as localida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Médio Jequitinhonha. Com relação à sua articulação com Diamantina, se<br />

apresentava como um centro intermediário avança<strong>do</strong> da gran<strong>de</strong> hinterlândia <strong>de</strong> Diamantina,<br />

além <strong>de</strong> agregar importantes funções administrativas. Contu<strong>do</strong>, no século XIX, Minas Novas<br />

per<strong>de</strong> a sua posição centraliza<strong>do</strong>ra em relação as <strong>de</strong>mais localida<strong>de</strong>s da área. O crescimento<br />

das ativida<strong>de</strong>s comerciais em Araçuaí abala a centralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Minas Novas que, mesmo<br />

manten<strong>do</strong> as funções administrativas, per<strong>de</strong> importância e, consequentemente crescimento<br />

econômico. Como aponta Ferreira (1999, p.114), “a nova <strong>dinâmica</strong> econômica vai favorecer<br />

Araçuaí, que, <strong>de</strong> certo mo<strong>do</strong>, passa a exercer o papel antes ocupa<strong>do</strong> por Minas Novas”.<br />

No final <strong>do</strong> século XIX a construção da estrada <strong>de</strong> ferro Bahia- Minas Gerais trouxe a<br />

esperança <strong>de</strong> uma nova possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento para a região <strong>de</strong> Minas Novas.<br />

Esperança frustrada, ten<strong>do</strong> em vista a não execução <strong>do</strong> trecho que incluíria Minas Novas.<br />

Assim o município ficou submeti<strong>do</strong> na <strong>de</strong>pendência das estações <strong>de</strong> Téofilo Otoni e<br />

Diamantina para o escoamento <strong>de</strong> seus produtos.<br />

Do seu extenso território original, emanciparam-se ao longo <strong>do</strong>s anos 65 municípios.<br />

Atualmente, o território <strong>de</strong> Minas Novas é constituí<strong>do</strong> por 5 distritos: o se<strong>de</strong> - Minas Novas e<br />

os <strong>de</strong> Baixa Quente, Cruzinha, Lagoa Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> Minas Novas e Ribeirão da Folha. A<br />

toponímia ficou assim <strong>de</strong>nominada em 1940, quan<strong>do</strong> pela lei provincial nº 163, Nossa<br />

Senhora <strong>do</strong> Bom Sucesso das Minas <strong>do</strong> Fana<strong>do</strong> passa a se chamar simplesmente Minas<br />

Novas.<br />

A economia <strong>de</strong> Minas Novas atualmente é composta principalmente das ativida<strong>de</strong>s<br />

voltadas para a agropecuária e setor <strong>de</strong> serviços. Uma ativida<strong>de</strong> que merece atenção é a<br />

confecção e comercialização <strong>do</strong> artesanato local no município.<br />

3.3 Geo-história <strong>de</strong> Capelinha<br />

A história <strong>de</strong> Capelinha, não está ligada diretamente a ativida<strong>de</strong>s minera<strong>do</strong>ras, e sim<br />

aos refugos populacionais que esta ativida<strong>de</strong> criou. Quan<strong>do</strong> os <strong>centros</strong> minera<strong>do</strong>res <strong>do</strong> <strong>Alto</strong><br />

Jequitinhonha já indicavam sinais <strong>de</strong> esgotamento das reservas auríferas e diamantíferas,<br />

muitas pessoas que antes tinha na mineração a forma <strong>de</strong> sustento e a expectativa <strong>de</strong><br />

enriquecimento passam a procurar novos locais para se estabelecerem e exercer práticas<br />

38


agrícolas e pecuárias. Neste contexto, remonta a origem <strong>de</strong> Capelinha. Segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s<br />

históricos em setembro <strong>de</strong> 1809 Manoel Luiz Pêgo, fugi<strong>do</strong> <strong>do</strong>s índios Botocu<strong>do</strong>s, fora<br />

estabelecer-se com a família nas cabeceiras <strong>do</strong> córrego Areão. No local a família construiu<br />

uma pequena residência, on<strong>de</strong> logo <strong>de</strong>pois, juntaram-se mais pessoas que nas proximida<strong>de</strong>s<br />

foram se instalan<strong>do</strong>. Por volta <strong>de</strong> 1812 Manoel Luiz Pêgo falece e seu filho Feliciano Luiz<br />

Pêgo herda a fazenda <strong>do</strong> Córrego Areão. No mesmo ano da morte <strong>de</strong> seu pai, Feliciano Pêgo<br />

construiu uma capela que tinha como padroeira Nossa Senhora da Graça. A população<br />

resi<strong>de</strong>nte da região referia-se a fazenda como a “fazenda da capelinha”. Com o aumento <strong>do</strong><br />

povoa<strong>do</strong>, formou-se o arraial em torno da pequena Capela <strong>de</strong> Nossa Senhora da Graça, que<br />

originou o nome <strong>de</strong> Capelinha.<br />

Em 30 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1911, pela lei Estadual nº556, Capelinha, que até então compunha<br />

um distrito <strong>de</strong> Minas Novas, foi <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong> <strong>de</strong>ste e emancipa<strong>do</strong> como Município <strong>de</strong><br />

Capelinha. No mesmo ano, em 1911, através <strong>de</strong> uma divisão administrativa, o Município <strong>de</strong><br />

Capelinha se compõe <strong>de</strong> 02 Distritos, Capelinha e Água Boa. A vila <strong>de</strong> Capelinha foi elevada<br />

à categoria <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> pela Lei Estadual nº 893, <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1925. Em 1953 é<br />

emancipa<strong>do</strong> <strong>de</strong> Capelinha o distrito <strong>de</strong> Água Boa e em 1976 é cria<strong>do</strong> um distrito com a<br />

<strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Vila <strong>do</strong>s Anjos, que em 1995 é <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong> <strong>de</strong> Capelinha e eleva<strong>do</strong> à<br />

categoria <strong>de</strong> município com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Angelândia. Des<strong>de</strong> então, Capelinha passa a<br />

contar com apenas 01 distrito, o <strong>de</strong> Capelinha, homônimo <strong>do</strong> Município.<br />

A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Capelinha, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao seu <strong>de</strong>senvolvimento na região, hoje se configura<br />

como a cida<strong>de</strong> pólo <strong>de</strong> umas das microrregiões estabelecidas pelo IBGE. Pertencem a sua<br />

microrregião os municípios <strong>de</strong> Angelândia, Aricanduva, Berilo, Capelinha, Carbonita,<br />

Chapada <strong>do</strong> Norte, Francisco Badaró, Itamarandiba, Jenipapo <strong>de</strong> Minas, José Gonçalves <strong>de</strong><br />

Minas, Leme <strong>do</strong> Pra<strong>do</strong>, Minas Novas, Turmalina e Veredinha.<br />

Atualmente a sua economia é baseada fortemente na produção <strong>do</strong> café e na<br />

silvicultura, bem como da cultura <strong>de</strong> outros gêneros agrícolas, da pecuária e <strong>do</strong> setor <strong>de</strong><br />

serviços.<br />

A cafeicultura mo<strong>de</strong>rna e a silvicultura eucalipto foram duas importantes ativida<strong>de</strong>s<br />

que além <strong>de</strong> impulsionarem o crescimento econômico das cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Capelinha e Minas<br />

Novas, agiram também <strong>de</strong> forma expressiva na alteração <strong>do</strong> espaço e organização da<br />

socieda<strong>de</strong> envolvida. No próximo capítulo será abordada a inserção <strong>de</strong>stes produtos nos<br />

municípios cita<strong>do</strong>s, bem como a <strong>dinâmica</strong> <strong>funcional</strong> <strong>de</strong> cada uma das cida<strong>de</strong>s estudadas.<br />

39


4. DINÂMICA FUNCIONAL DE CAPELINHA E MINAS NOVAS A PARTIR DA<br />

INSERÇÃO DA CAFEICULTURA MODERNA E DA SILVICULTURA DO<br />

EUCALIPTO<br />

Com o perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>clínio da mineração as práticas agropecuárias e comerciais que<br />

coexistiam com esta ativida<strong>de</strong>, passaram a substituí-la integralmente. No <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s anos,<br />

até as últimas décadas <strong>do</strong> século XX, nenhum produto se <strong>de</strong>stacou <strong>de</strong> forma expressiva nos<br />

municípios <strong>de</strong> Capelinha e Minas Novas, salvo o algodão nesta última, nos fins <strong>do</strong> século<br />

XVIII, contu<strong>do</strong>, o êxito <strong>de</strong>ste produto não se manteve durante muito tempo, fican<strong>do</strong> os<br />

municípios em uma situação <strong>de</strong> inércia econômica. Porém, na década <strong>de</strong> 1970, duas<br />

ativida<strong>de</strong>s se evi<strong>de</strong>nciaram quanto aos impactos causa<strong>do</strong>s no espaço, economia e socieda<strong>de</strong><br />

nestes municípios, estas ativida<strong>de</strong>s foram a cafeicultura mo<strong>de</strong>rna e a silvicultura <strong>do</strong> eucalipto.<br />

A partir <strong>de</strong>ste contexto, serão analisadas neste capítulo, as <strong>dinâmica</strong>s funcionais <strong>do</strong>s<br />

municípios <strong>de</strong> Capelinha e Minas Novas, a partir da inserção da cafeicultura mo<strong>de</strong>rna e da<br />

silvicultura <strong>do</strong> eucalipto. Com base em trabalho <strong>de</strong> campo (out/2009), estu<strong>do</strong>s bibliográficos e<br />

análise <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s econômicos e sociais, foi possível traçar algumas características e<br />

peculiarida<strong>de</strong>s sobre a <strong>dinâmica</strong> <strong>funcional</strong> <strong>de</strong>stes municípios.<br />

4.1 Inserção da cafeicultura mo<strong>de</strong>rna e da silvicultura <strong>do</strong> eucalipto em Minas Novas e<br />

Capelinha<br />

O café, que há muito tempo configura um importante produto da economia brasileira,<br />

entre 1969 e 1983, volta a torna-se um expressivo produto da agricultura e economia mineira.<br />

Neste perío<strong>do</strong>, o Esta<strong>do</strong> apresenta um vertiginoso crescimento e passa <strong>de</strong> terceiro a primeiro<br />

produtor nacional. Este crescimento intensificou-se <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>, entre outros motivos, ao<br />

surgimento <strong>de</strong> novas áreas agrícolas localizadas no Triângulo Mineiro, <strong>Alto</strong> Paranaíba e <strong>Vale</strong><br />

<strong>do</strong> Jequitinhonha.<br />

Até os anos <strong>de</strong> 1970 o <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha possuía uma mo<strong>de</strong>sta produção <strong>de</strong> café.<br />

Porém a partir <strong>de</strong>ste perío<strong>do</strong> a região passa a contar com políticas nacionais <strong>de</strong> incentivo, que<br />

geram um impulso na produção e faz com que vários municípios passem a produzir café mais<br />

40


intensamente. Horta (2002), em seu estu<strong>do</strong> sobre os trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong> café no <strong>Vale</strong> <strong>do</strong><br />

Jequitinhonha, aborda em que consistiam estas políticas <strong>de</strong> incentivo:<br />

Por intermédio <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Renovação e Revigoramento <strong>do</strong>s cafezais,<br />

aprova<strong>do</strong> em 1970, o governo fe<strong>de</strong>ral passou a conce<strong>de</strong>r financiamentos para<br />

a formação <strong>de</strong> mudas e plantios cafeeiros em novas áreas, como parte <strong>do</strong><br />

Programa <strong>de</strong> Incentivo à Produção. Essas políticas objetivaram a<br />

recuperação da produção nacional, que sofrera diminuição maior que a<br />

<strong>de</strong>sejada após os programas <strong>de</strong> erradicação pratica<strong>do</strong>s anteriormente para<br />

corrigir o impacto monetário negativo, <strong>de</strong>corrente <strong>do</strong> excesso <strong>de</strong> oferta<br />

interna <strong>do</strong> produto. (Horta, 2002, p. 4)<br />

Entre as décadas <strong>de</strong> 1960 e 1970, houve uma incisiva participação <strong>do</strong> governo no<br />

intuito <strong>de</strong> fomentar a integração <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha na economia estadual e nacional.<br />

Dentre as principais medidas que tentavam viabilizar a integração da região, estavam as<br />

melhorias <strong>de</strong> fornecimento <strong>de</strong> energia elétrica, <strong>de</strong> acesso a região e na comunicação com a<br />

implantação <strong>de</strong> sistema <strong>de</strong> telefonia. Essas medidas tinham o intuito <strong>de</strong> criar uma infra-<br />

estrutura básica que pu<strong>de</strong>sse atrair investimentos e aproveitar ao máximo a potencialida<strong>de</strong> da<br />

região. Os primeiros produtores que investiram na cafeicultura <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> eram oriun<strong>do</strong>s,<br />

principalmente, <strong>do</strong> sul <strong>de</strong> Minas Gerais, <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> São Paulo e <strong>do</strong> Paraná. Muitos <strong>de</strong>stes<br />

produtores não se <strong>de</strong>dicavam a agricultura anteriormente, mas viram a produção <strong>de</strong> café no<br />

<strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha como uma oportunida<strong>de</strong> promissora.<br />

Os gran<strong>de</strong>s problemas hídricos existentes no <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha não atingem da<br />

mesma maneira e intensida<strong>de</strong> toda região e <strong>de</strong>ste mo<strong>do</strong>, alguns municípios possuem solo e<br />

clima favoráveis ao cultivo <strong>do</strong> café. Esta realida<strong>de</strong> pô<strong>de</strong> ser constatada por meio <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> pequenos agricultores e profissionais da Empresa <strong>de</strong> Assistência Técnica e<br />

Extensão Rural (Emater), no município <strong>de</strong> Capelinha. Nos <strong>de</strong>poimentos, agricultores e<br />

técnicos mencionaram que a falta <strong>de</strong> chuvas e absorção <strong>de</strong> água pelo solo não configuram<br />

entraves para a agricultura no município. De uma forma geral, o Jequitinhonha não possui<br />

gran<strong>de</strong> participação na produção estadual <strong>de</strong> café, porém a cafeicultura configura uma<br />

importante ativida<strong>de</strong> no que diz respeito à economia local, organização <strong>do</strong> espaço e da<br />

socieda<strong>de</strong> nos municípios produtores, bem como na região <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> como um to<strong>do</strong>.<br />

A <strong>dinâmica</strong> <strong>do</strong>s maiores produtores da região vem sofren<strong>do</strong> mudanças ao longo <strong>do</strong>s<br />

anos. Horta (2000) em seu trabalho coloca que em 1990 o ranking <strong>de</strong> produção por município<br />

como é possível verificar no GRAF. 1.<br />

41


8000<br />

7000<br />

6000<br />

5000<br />

4000<br />

3000<br />

2000<br />

1000<br />

0<br />

Caraí<br />

Minas Novas<br />

Novo<br />

Cruzeiro<br />

GRÁFICO 1 - Produção <strong>de</strong> Café por Município (toneladas),<br />

<strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha – 1990<br />

Fonte: Horta, 2002, p. 11 (adapta<strong>do</strong>)<br />

No mesmo estu<strong>do</strong> Horta mostra quem em 1995/96 esta classificação se altera,<br />

passan<strong>do</strong> então o município <strong>de</strong> Capelinha a li<strong>de</strong>rar a produção <strong>de</strong> café no <strong>Vale</strong>, segui<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Novo Cruzeiro, Minas Novas, Caraí, Itamarandiba e Padre Paraíso, como mostram a TAB. 3 e<br />

GRAF. 2.<br />

TABELA 3<br />

Produção <strong>de</strong> café por Município (toneladas) – <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha – 1995/96<br />

Municípios Quantida<strong>de</strong> Produzida<br />

(toneladas)<br />

Capelinha 14171<br />

Novo Cruzeiro 5486<br />

Minas Novas 1762<br />

Caraí 1539<br />

Itamarandiba 1198<br />

Padre Paraíso 695<br />

Fonte: Horta, 2002, p. 12 (adapta<strong>do</strong>)<br />

Capelinha<br />

Padre Paraíso<br />

42


16000<br />

14000<br />

12000<br />

10000<br />

8000<br />

6000<br />

4000<br />

2000<br />

0<br />

Capelinha<br />

Novo<br />

Cruzeiro<br />

Minas Novas<br />

GRÁFICO 2 - Ranking <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> café por município<br />

(toneladas) – <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha – 1995/96<br />

Fonte: Horta, 2002<br />

Elaboração <strong>do</strong> autor<br />

Manten<strong>do</strong> o recorte espacial <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha, foi feito uma análise sobre a<br />

Produção Agrícola Municipal <strong>de</strong> 2008, com o intuito <strong>de</strong> se estabelecer a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> produção<br />

atual, baseada nos da<strong>do</strong>s a seguir.<br />

TABELA 4<br />

Produção <strong>de</strong> café por Município (toneladas) – <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha – 2008<br />

Municípios Quantida<strong>de</strong> produzida<br />

(t)<br />

Capelinha 7.560<br />

* Angelândia 5.586<br />

Novo Cruzeiro 2.940<br />

Divisópolis 2.860<br />

Taiobeiras 2.484<br />

Caraí 2.304<br />

Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal- 2008<br />

* Emancipa<strong>do</strong> <strong>do</strong> Município <strong>de</strong> Capelinha em 1995<br />

Elaboração <strong>do</strong> autor<br />

Caraí<br />

Itamarandiba<br />

Padre Paraíso<br />

43


8.000<br />

7.000<br />

6.000<br />

5.000<br />

4.000<br />

3.000<br />

2.000<br />

1.000<br />

0<br />

Capelinha<br />

*Angelândia<br />

Novo Cruzeiro<br />

GRÁFICO 3 - Ranking <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> café por município<br />

(toneladas) – <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha – 2008<br />

Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal- 2008<br />

Elaboração <strong>do</strong> autor<br />

De acor<strong>do</strong> com os da<strong>do</strong>s, Capelinha continua a li<strong>de</strong>rar a produção regional <strong>de</strong> café,<br />

porém o percentual <strong>de</strong> participação diminui <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à emancipação em 1995 <strong>de</strong> Angelândia,<br />

antigo distrito <strong>de</strong> Capelinha. Comparan<strong>do</strong> os da<strong>do</strong>s atuais com a or<strong>de</strong>nação elaborada por<br />

Horta (2002), houve uma alteração nesta e nos municípios que constituíam o ranking anterior.<br />

Uma das mudanças ocorridas foi a saída <strong>do</strong>s municípios <strong>de</strong> Itamarandiba, Minas Novas e<br />

Padre Paraíso que apresentaram uma expressiva queda na produção e <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> representar<br />

um <strong>do</strong>s seis maiores produtores <strong>de</strong> café <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha. A queda <strong>de</strong> produção <strong>do</strong>s<br />

municípios supracita<strong>do</strong>s não se relaciona diretamente com o surgimento <strong>de</strong> novas cida<strong>de</strong>s no<br />

ranking atual, pois nenhum <strong>do</strong>s novos municípios integrantes da classificação são distritos<br />

emancipa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Itamarandiba, Minas Novas ou Padre Paraíso, tal qual que ocorreu com<br />

Capelinha, que teve uma diminuição percentual da sua participação, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à emancipação <strong>de</strong><br />

Angelândia.<br />

Outro importante cultivo que passou a fazer parte <strong>do</strong> cenário econômico <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong><br />

Jequitinhonha foi o eucalipto. O perío<strong>do</strong> em que ocorreu a inserção <strong>do</strong> eucalipto coincidiu<br />

com o <strong>de</strong>senvolvimento cafeicultura na região, na década <strong>de</strong> 1970. A silvicultura <strong>do</strong> eucalipto<br />

foi implementada pelo setor si<strong>de</strong>rúrgico que via nela um vantajoso e eficiente suporte<br />

energético. A região dispunha <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> área <strong>de</strong> terras não ocupadas, com baixo valor <strong>de</strong><br />

Divisópolis<br />

Taiobeiras<br />

Caraí<br />

44


merca<strong>do</strong> e a<strong>de</strong>quadas ao plantio <strong>do</strong> eucalipto. Este produto, como o café, também provocou<br />

impactos no espaço e socieda<strong>de</strong> on<strong>de</strong> foi inseri<strong>do</strong>. Os topos <strong>de</strong> chapadas foram os locais mais<br />

“contempla<strong>do</strong>s” pela cultura, no qual a vegetação nativa era constituída <strong>de</strong> cerra<strong>do</strong> e caatinga<br />

arbórea. A Silvicultura praticada nestas localida<strong>de</strong>s acarretou vários impactos ambientais e<br />

sociais, como aborda Nunes: “estas áreas constituíam importantes recursos para os<br />

habitantes da região: recursos hídricos, lenha, pequena caça, pastos (que garantiam a<br />

sobrevivência <strong>do</strong> rebanho durante as secas) e frutos”. (NUNES, 2001, p.95).<br />

No trabalho <strong>de</strong> campo (out/2009) foi possível confrontar esta realida<strong>de</strong>. Pequenos<br />

agricultores <strong>de</strong> Minas Novas responsabilizam o eucalipto pela diminuição da produção<br />

agrícola em suas proprieda<strong>de</strong>s, segun<strong>do</strong> eles após a inserção da silvicultura nas proximida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> suas lavouras, elas passaram a não conseguir produzir a mesma quantida<strong>de</strong> e varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

antes. O técnico da Emater <strong>de</strong> Minas Novas, cita o eucalipto, entre outros fatores, como um<br />

<strong>do</strong>s elementos que colaboraram para a acentuação <strong>do</strong> esgotamento e seca <strong>do</strong> solo na região da<br />

Cachoeira <strong>do</strong> Fana<strong>do</strong>, em Minas Novas. O problema <strong>de</strong> ressecamento <strong>do</strong> solo nesta localida<strong>de</strong><br />

foi tão intenso que chegou, inclusive, a secar a cachoeira que dá nome ao lugar. Nesta mesma<br />

região <strong>do</strong> município, há também outra localida<strong>de</strong> conhecida como Lagoa Seca, que segun<strong>do</strong> a<br />

população secou após o plantio <strong>do</strong> eucalipto em suas proximida<strong>de</strong>s.<br />

Apesar das diversas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> utilização <strong>do</strong> eucalipto, é a produção <strong>de</strong> carvão<br />

vegetal a principal finalida<strong>de</strong> da silvicultura nos municípios <strong>de</strong> Capelinha e Minas Novas.<br />

Minas Gerais é o maior produtor nacional <strong>de</strong> carvão vegetal oriun<strong>do</strong> da silvicultura, como é<br />

possível verificar na TAB 7. O <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha se <strong>de</strong>staca nesta produção, pois <strong>do</strong>s 30<br />

maiores produtores <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>, 11 são municípios <strong>do</strong> <strong>Vale</strong>. Segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> IBGE, sobre a<br />

Produção da Silvicultura em 2008, o Capelinha e Minas Novas ocupam, respectivamente, as<br />

posições <strong>de</strong> 4º e 10º lugar no ranking <strong>do</strong>s maiores produtores <strong>do</strong> <strong>Vale</strong>; 13º e 27º lugar em<br />

Minas Gerais e 14º e 34º lugar no ranking nacional. As produções <strong>de</strong> carvão vegetal no <strong>Vale</strong><br />

<strong>do</strong> Jequitinhonha, em Minas Gerais e no Brasil serão expostos nas tabelas a seguir.<br />

45


TABELA 5<br />

Maiores Produtores <strong>de</strong> Carvão Vegetal oriun<strong>do</strong> da Silvicultura no<br />

<strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha (toneladas) – 2008<br />

Municípios Quantida<strong>de</strong> Produzida (t)<br />

1. Rio Par<strong>do</strong> <strong>de</strong> Minas 125.421<br />

2. Carbonita 108.415<br />

3. Itamarandiba 105.655<br />

4. Capelinha 82.126<br />

5. Turmalina 47.892<br />

6. * Olhos D’água 37.861<br />

7. São João <strong>do</strong> Paraíso 32.687<br />

8. Bocaiúva 29.319<br />

9. Grão Mogol 28.970<br />

10. Minas Novas 26.650<br />

11. Cristália 23.391<br />

Fonte: IBGE, Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura - 2008<br />

* Emancipa<strong>do</strong> <strong>do</strong> Município <strong>de</strong> Bocaiúva em 1995<br />

Elaboração <strong>do</strong> autor<br />

46


TABELA 6<br />

Maiores Produtores <strong>de</strong> Carvão Vegetal oriun<strong>do</strong> da Silvicultura em<br />

Minas Gerais (toneladas) – 2008<br />

Municípios Quantida<strong>de</strong> Produzida (t)<br />

1. Curvelo 173.598<br />

2. Araguari 168.676<br />

3. Felixlândia 161.313<br />

4. Pompéu 151.738<br />

5. Três Marias 136.460<br />

6. João Pinheiro 132.967<br />

7. Rio Par<strong>do</strong> <strong>de</strong> Minas 125.421<br />

8. Martinho Campos 116.441<br />

9. Carbonita 108.415<br />

10. Abaeté 107.831<br />

11. Itamarandiba 105.655<br />

12. Buritizeiro 82.264<br />

13. Capelinha 82.126<br />

14. Morro da Garça 75.570<br />

15. Conceição <strong>do</strong> Mato Dentro 75.186<br />

16. Paineiras 64.367<br />

17. Montes Claros 53.638<br />

18. Turmalina 47.892<br />

19. Jequitaí 38.105<br />

20. Olhos-d`Água 37.861<br />

21. São João <strong>do</strong> Paraíso 32.687<br />

22. Quartel Geral 30.416<br />

23. Bom Despacho 30.163<br />

24. Bocaiúva 29.319<br />

25. Grão Mogol 28.970<br />

26. Arinos 28.000<br />

27. Minas Novas 26.650<br />

28. Dionísio 26.341<br />

29. São Gonçalo <strong>do</strong> Abaeté 25.135<br />

30. Cristália 23.391<br />

Fonte: IBGE, Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura - 2008<br />

Elaboração <strong>do</strong> autor<br />

47


TABELA 7<br />

Maiores Produtores <strong>de</strong> Carvão Vegetal oriun<strong>do</strong> da Silvicultura<br />

no Brasil (toneladas) – 2008<br />

(Continua)<br />

Municípios UF Quantida<strong>de</strong> Produzida (t)<br />

1. Curvelo MG 173.598<br />

2. Araguari MG 168.676<br />

3. Felixlândia MG 161.313<br />

4. Pompéu MG 151.738<br />

5. Três Marias MG 136.460<br />

6. João Pinheiro MG 132.967<br />

7. Açailândia MA 132.172<br />

8. Rio Par<strong>do</strong> <strong>de</strong> Minas MG 125.421<br />

9. Martinho Campos MG 116.441<br />

10. Carbonita MG 108.415<br />

11. Abaeté MG 107.831<br />

12. Itamarandiba MG 105.655<br />

13. Buritizeiro MG 82.264<br />

14. Capelinha MG 82.126<br />

15. Morro da Garça MG 75.570<br />

16. Conceição <strong>do</strong> Mato Dentro MG 75.186<br />

17. Paineiras MG 64.367<br />

18. Montes Claros MG 53.638<br />

19. São Pedro da Água Branca MA 52.856<br />

20. Turmalina MG 47.892<br />

21. Imperatriz MA 40.465<br />

22. Entre Rios BA 39.616<br />

23. Jequitaí MG 38.105<br />

24. Olhos-d`Água MG 37.861<br />

25. São João <strong>do</strong> Paraíso MG 32.687<br />

26. Alcobaça BA 34.706<br />

27. Quartel Geral MG 30.416<br />

28. Conceição da Barra ES 30.208<br />

29. Bom Despacho MG 30.163<br />

30. Buriticupu MA 29.554<br />

31. Bocaiúva MG 29.319<br />

48


(Conclusão)<br />

32. Grão Mogol MG 28.970<br />

33. Arinos MG 28.000<br />

34. Minas Novas MG 26.650<br />

35. Dionísio MG 26.341<br />

36. Itinga <strong>do</strong> Maranhão MA 25.705<br />

37. São Gonçalo <strong>do</strong> Abaeté MG 25.135<br />

38. Três Lagoas MS 24.642<br />

39. Ci<strong>de</strong>lândia MA 23.939<br />

40. Cristália MG 23.391<br />

Fonte: IBGE, Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura - 2008<br />

Elaboração <strong>do</strong> autor<br />

A introdução <strong>do</strong> eucalipto e <strong>do</strong> café no <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha configurou o que é<br />

chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> “mo<strong>de</strong>rnização conserva<strong>do</strong>ra”, traços da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> que não representam<br />

alterações significativas no quadro das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e econômicas da socieda<strong>de</strong><br />

envolvida. A expectativa <strong>de</strong> melhores condições <strong>de</strong> vida e maiores oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho,<br />

gera<strong>do</strong>s pela inserção das duas culturas, não condisseram com o quê se efetuou na prática.<br />

Estes cultivos po<strong>de</strong>m ter beneficia<strong>do</strong> uma parcela da população, mas não chegaram a trazer<br />

um efetivo <strong>de</strong>senvolvimento social para a região.<br />

Apesar da gran<strong>de</strong> extensão <strong>de</strong> terras <strong>de</strong>dicadas a silvicultura, esta ativida<strong>de</strong> não<br />

chegou a promover um <strong>de</strong>senvolvimento local. De acor<strong>do</strong> com <strong>do</strong>cumento da Fundação João<br />

Pinheiro, cita<strong>do</strong> por Horta (2002), a silvicultura agrega um maior contingente <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra<br />

na fase <strong>do</strong> plantio; após esta etapa, na fase <strong>de</strong> manutenção, a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res cai<br />

para um ¼ da necessida<strong>de</strong> inicial. Assim, a maior movimentação da economia local e a<br />

geração <strong>de</strong> empregos ocorrem mais restritamente na fase <strong>de</strong> implantação da cultura. Outra<br />

característica é que estas gran<strong>de</strong>s plantações <strong>de</strong> eucalipto servem como fonte energética e<br />

matéria-prima para indústrias e empresas localizadas geralmente em outros municípios, não<br />

contemplan<strong>do</strong> assim a população <strong>do</strong> município produtor com os benefícios indiretos <strong>de</strong>sta<br />

ativida<strong>de</strong>.<br />

A cafeicultura mo<strong>de</strong>rna e a silvicultura <strong>do</strong> eucalipto geraram uma significativa<br />

alteração <strong>do</strong> espaço on<strong>de</strong> ocorreram, e a principal causa <strong>de</strong>sta alteração foi a concentração<br />

fundiária. Os incentivos fiscais e políticas públicas favoreceram, prioritariamente, a gran<strong>de</strong><br />

49


empresa rural, em <strong>de</strong>trimento <strong>do</strong>s pequenos produtores. As gran<strong>de</strong>s empresas aumentavam<br />

cada vez mais a sua área pressionan<strong>do</strong> a saída <strong>do</strong> pequeno produtor <strong>do</strong> campo. O trabalha<strong>do</strong>r,<br />

sem as suas terras para plantar, passa a ser assalaria<strong>do</strong> em alguma gran<strong>de</strong> fazenda ou na<br />

cida<strong>de</strong> ou torna-se um bóia-fria, <strong>de</strong>semprega<strong>do</strong> e até mesmo um sem-terra.<br />

A concentração <strong>de</strong> terras <strong>de</strong>sorganiza a produção camponesa e esta situação se reflete,<br />

inclusive, na diminuição <strong>de</strong> oferta interna <strong>de</strong> alimentos, visto que as gran<strong>de</strong>s lavouras são<br />

voltadas, em maior parte, para o merca<strong>do</strong> externo e se <strong>de</strong>dicam, preferencialmente, à<br />

monocultura. Desta forma, para garantir o abastecimento, muitas vezes é necessário recorrer a<br />

outros <strong>centros</strong> para se obter os produtos que po<strong>de</strong>riam ser produzi<strong>do</strong>s no próprio município,<br />

caso os pequenos produtores locais contassem com um maior apoio, recursos e incentivos.<br />

O trabalho nas pequenas proprieda<strong>de</strong>s sempre exigiu um gran<strong>de</strong> esforço por parte <strong>do</strong>s<br />

pequenos produtores, tanto pelas dificulda<strong>de</strong>s econômicas, como pelas limitações técnicas.<br />

Assim, conforme aborda Horta (2002), esta condição <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> aliada à falta <strong>de</strong><br />

incentivos, cansaço, imediatismo e me<strong>do</strong> por parte <strong>do</strong>s pequenos produtores <strong>de</strong> per<strong>de</strong>rem suas<br />

terras com o avanço das gran<strong>de</strong>s proprieda<strong>de</strong>s rurais, associa<strong>do</strong>s ainda a esperança <strong>de</strong><br />

melhorar <strong>de</strong> vida, mudar-se para a cida<strong>de</strong>, urbanizar-se, foram fatores e expectativas que<br />

estimularam muitos <strong>de</strong>stes pequenos agricultores a ven<strong>de</strong>rem <strong>de</strong> suas terras, alteran<strong>do</strong> assim<br />

suas relações <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> convivência.<br />

Os impactos causa<strong>do</strong>s no espaço e na socieda<strong>de</strong> com a inserção <strong>do</strong> café e da<br />

silvicultura não foram os mesmos em Capelinha e Minas Novas. Os reflexos <strong>de</strong>stas<br />

ativida<strong>de</strong>s, bem como <strong>de</strong>mais fatores contribuíram e contribuem para estruturação da<br />

<strong>dinâmica</strong> <strong>funcional</strong> nas referidas cida<strong>de</strong>s, serão exploradas nas seções a seguir.<br />

4.2 Capelinha<br />

Capelinha é uma das cida<strong>de</strong>s mais importantes e ricas <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha. A<br />

riqueza e importância da cida<strong>de</strong> estão intimamente relacionadas à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cafeicultora <strong>do</strong><br />

município. O Produto Interno Bruto (PIB) <strong>de</strong> Capelinha segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 2007 <strong>do</strong> IBGE, era<br />

<strong>de</strong> 174.385 mil reais, o 5º maior PIB <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha, sen<strong>do</strong> ultrapassa<strong>do</strong> somente<br />

por Bocaiúva, Diamantina, Grão Mongol e Salinas. Em relação ao <strong>Alto</strong> Jequitinhonha,<br />

Capelinha representa o 2º maior PIB da região fican<strong>do</strong> atrás apenas <strong>de</strong> Diamantina.<br />

50


350.000<br />

300.000<br />

250.000<br />

200.000<br />

150.000<br />

100.000<br />

50.000<br />

0<br />

Bocaiúva Diamantina Grão Mogol Salinas Capelinha<br />

GRÁFICO 4 – Os 05 maiores PIB <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha<br />

(valor em mil reais) – 2007<br />

Fonte: IBGE<br />

Elaboração <strong>do</strong> autor<br />

Contu<strong>do</strong>, este crescimento e importância econômica não chegam a configurar um<br />

<strong>de</strong>senvolvimento geral da socieda<strong>de</strong>. Segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Atlas <strong>de</strong> Desenvolvimento Humano<br />

no Brasil, <strong>do</strong> Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), no ano 2000, o<br />

Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento Humano (IDH) <strong>de</strong> Capelinha era <strong>de</strong> 0,673, valor que é<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> <strong>de</strong> um médio <strong>de</strong>senvolvimento pelo programa. O IDH é um índice que agrega<br />

da<strong>do</strong>s sobre a longevida<strong>de</strong>, educação e renda, porém neste cálculo não são consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s<br />

que indicam as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s existentes.<br />

Devi<strong>do</strong> à dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> se analisar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> apenas pelo<br />

IDH, um <strong>do</strong>s cálculos recorri<strong>do</strong>s é o Coeficiente <strong>de</strong> Gini, que apontará qual é a concentração<br />

existente na população em questão. Este índice aponta as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s em uma dada<br />

localida<strong>de</strong>, no qual quanto mais próximo <strong>de</strong> 01 for o valor, maior é <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> e quanto<br />

mais próximo <strong>de</strong> 0 menor será a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>. Em Capelinha, segun<strong>do</strong> o PNUD, o índice <strong>de</strong><br />

Gini para distribuição <strong>de</strong> renda foi <strong>de</strong> 0,58 em 2000. Para o Programa, o índice <strong>de</strong> Gini<br />

superior a 0,6 é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> extremamente <strong>de</strong>sigual e valores entre 0,5 e 0,59 são<br />

classifica<strong>do</strong>s como muito <strong>de</strong>sigual, <strong>de</strong>ste mo<strong>do</strong> a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> na distribuição <strong>de</strong> renda no<br />

município é bastante alta.<br />

51


Outra forma <strong>de</strong> verificar se a renda gerada no município favoreceu a toda socieda<strong>de</strong> é<br />

verificar o percentual <strong>de</strong> renda <strong>de</strong>stinada a cada parcela da população. Em Capelinha, segun<strong>do</strong><br />

da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> PNUD, em 2000 os 10% mais ricos <strong>de</strong>tinham 47,81% <strong>de</strong> toda renda gerada no<br />

município e os 20% mais pobres se contentavam com apenas 2,79%.<br />

Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que Capelinha passou por um consi<strong>de</strong>rável crescimento econômico nas<br />

últimas décadas se tornan<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s mais ricos municípios <strong>do</strong> <strong>Vale</strong>, <strong>de</strong>veria apresentar<br />

melhores indicativos sociais. Quan<strong>do</strong> comparada a região <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha,<br />

Capelinha apresenta valores muito próximos aos apresenta<strong>do</strong>s por esta região. 5 Os índices <strong>do</strong><br />

<strong>Vale</strong> são: IDH: 0,650; Índice <strong>de</strong> Gini: 0,59; os 10% mais ricos: 46,44% da renda total e os<br />

20% mais pobres: 1,98% da renda total. Destes valores o único que apresenta uma diferença<br />

mais relevante é o percentual <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> aos 20% mais pobres, mas nos <strong>de</strong>mais indicativos<br />

analisa<strong>do</strong>s as diferenças são mínimas. Deve ser ressalta<strong>do</strong> que o <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha é uma<br />

região com pre<strong>do</strong>minância <strong>de</strong> municípios extremamente pobres, o que faz que os seus<br />

indicativos sejam muito baixos e <strong>de</strong>siguais. Através <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s e da comparação com a região<br />

em que está inserida, apesar <strong>de</strong> ter passa<strong>do</strong> por crescimento econômico, Capelinha apresenta<br />

gran<strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> renda e a população em geral ficou submetida às mesmas condições<br />

<strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais municípios da região <strong>do</strong> Jequitinhonha. Deste mo<strong>do</strong>, o crescimento econômico<br />

não apresentou diferenças significativas no <strong>de</strong>senvolvimento social.<br />

Outra característica da população <strong>de</strong> Capelinha, é que esta não sofreu o processo <strong>de</strong><br />

esvaziamento como ocorreu em vários municípios da região <strong>do</strong> café. Dos 6 municípios<br />

pertencentes à or<strong>de</strong>nação elaborada por Horta (2002), somente Capelinha não apresentou<br />

déficit <strong>de</strong> populacional no perío<strong>do</strong> entre 1991 a 1996. De um mo<strong>do</strong> geral o <strong>Vale</strong> <strong>do</strong><br />

Jequitinhonha se configura como uma região <strong>de</strong> expressiva expulsão <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra, que<br />

além das migrações voltadas fora da região, apresenta também movimentos migratórios intra-<br />

regionais. A TAB.8 expressa a estimativa <strong>de</strong> 7 sal<strong>do</strong>s migratórios nas sub-regiões <strong>do</strong> <strong>Vale</strong>, nos<br />

quinquênios <strong>de</strong> 1975-1980, 1986-1991 e 1995-2000. Estes números têm como característica<br />

sal<strong>do</strong>s negativos em to<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>, ou seja, na região <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha há<br />

pre<strong>do</strong>minância da emigração sobre a imigração.<br />

5<br />

Informações disponíveis em: < http://www.ufmg.br/polojequitinhonha/conhecimento.php>. Acessa<strong>do</strong> em 29<br />

maio 2010.<br />

6<br />

Capelinha, Caraí, Itamarandiba, Minas Novas, Novo Cruzeiro e Padre Paraíso.<br />

7<br />

Sal<strong>do</strong> migratório: Número <strong>de</strong> imigrantes subtraí<strong>do</strong> pelo número <strong>de</strong> emigrantes em um da<strong>do</strong> perío<strong>do</strong>.<br />

52


TABELA 8<br />

Estimativas <strong>de</strong> sal<strong>do</strong> migratório para as sub-regiões <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha nos quinquênios<br />

1975-1980, 1986-1991 e 1995-2000<br />

Sub- regiões Perío<strong>do</strong><br />

1975/1980 1986/1991 1995/2000<br />

Baixo Jequitinhonha - 40.175 - 12.123 - 9.461<br />

Médio Jequitinhonha - 35.804 - 18.333 - 16.759<br />

<strong>Alto</strong> Jequitinhonha - 26.768 - 10.364 -14.434<br />

Fonte: Matos, R. ;Garcia, R. Organiza<strong>do</strong> por Souza, J. e Henriques, M., 2010, p.116 (adaptada)<br />

Dentre as migrações intra-regionais ocorridas na região cafeeira <strong>do</strong> Jequitinhonha na<br />

década <strong>de</strong> 1990, Horta (2002) ressalta três fluxos migratórios, <strong>de</strong>stes três, Capelinha foi<br />

<strong>de</strong>stino em duas:<br />

Caraí → Padre Paraíso;<br />

Novo Cruzeiro → Capelinha;<br />

Turmalina → Capelinha.<br />

Estes movimentos migratórios em direção a Capelinha, provavelmente motiva<strong>do</strong>s pelo<br />

crescimento econômico da cida<strong>de</strong>, contribuíram para o aumento populacional <strong>do</strong> município.<br />

A população <strong>de</strong> Capelinha, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1970, perío<strong>do</strong> da inserção <strong>do</strong> café e da silvicultura<br />

no município, até o ultimo censo em 2000, tem apresentan<strong>do</strong> um contínuo crescimento,<br />

conforme po<strong>de</strong>mos verificar pela TAB 9. Pela última estimativa <strong>do</strong> IBGE, em 2009,<br />

população <strong>de</strong> Capelinha apresentava 34.634 habitantes.<br />

53


Ano<br />

População<br />

Total<br />

1970 19.634<br />

1980 23.719<br />

1991 30.338<br />

2000 31.231<br />

TABELA 9<br />

População total, urbana e rural <strong>de</strong> Capelinha/ MG, 1970 - 2000<br />

População urbana População Rural Área <strong>do</strong><br />

município<br />

(Km 2 Absoluta % Absoluta % )<br />

4.426 22,54 15.208 77,46 1150,80<br />

10.500 44,27 13.219 55,73 1150,80<br />

16.661 54,92 13.677 45,08 1150,80<br />

20.066 64,25 11.165 35,75 * 965,90<br />

Fonte: Confe<strong>de</strong>ração Nacional <strong>de</strong> Municípios, disponível em: < http://www.cnm.org.br/>. Acessa<strong>do</strong> em 13 abr 2010 e<br />

IBGE.<br />

* Diminuição <strong>do</strong> território <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à emancipação <strong>do</strong> distrito <strong>de</strong> Angelândia em 1995.<br />

Elaboração <strong>do</strong> autor<br />

Quanto às taxas <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong>mográfico, durante to<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong> houve<br />

crescimento, como é possível constatar pela TAB. 10, porém há uma queda no intervalo entre<br />

1991 e 2000. Comparan<strong>do</strong> a TAB. 9 com a TAB. 10, po<strong>de</strong>-se verificar umas das causas <strong>de</strong>sta<br />

redução. Uma possibilida<strong>de</strong> ou agravante foi a emancipação <strong>do</strong> distrito <strong>de</strong> Angelândia em<br />

1995, diminuin<strong>do</strong> a área da Capelinha. Sem mais contar com a parcela da população<br />

pertencente ao distrito <strong>de</strong> Angelândia, a base populacional <strong>do</strong> município diminui, visto a<br />

perda <strong>de</strong> território, com isso incremento populacional também sofre queda e<br />

consequentemente a taxa <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong>mográfico. Comparan<strong>do</strong> a TAB. 10 com a TAB.<br />

11, verifica-se que o crescimento <strong>de</strong> Capelinha, durante os perío<strong>do</strong>s analisa<strong>do</strong>s, supera<br />

expressivamente as médias das três sub-regiões <strong>do</strong> <strong>Vale</strong>. Esta análise <strong>de</strong>monstra a diferença<br />

da <strong>dinâmica</strong> populacional <strong>do</strong> município <strong>de</strong> Capelinha, quan<strong>do</strong> comparada a região <strong>do</strong><br />

Jequitinhonha.<br />

TABELA 10<br />

Taxas <strong>de</strong> crescimento geométrico anual (%) <strong>de</strong> Capelinha, 1970 – 2009<br />

Perío<strong>do</strong> Taxa <strong>de</strong> crescimento<br />

1970/ 1980 1,91<br />

1980/1991 2,26<br />

1991/2000 0,32<br />

2000/ 2009 1,15<br />

Fonte: Confe<strong>de</strong>ração Nacional <strong>de</strong> Municípios, disponível em:<br />

< http://www.cnm.org.br/>. Acessa<strong>do</strong> em 13 abr 2010 e IBGE.<br />

Elaboração <strong>do</strong> autor<br />

54


TABELA 11<br />

Taxas <strong>de</strong> crescimento geométrico anual (%) das sub-regiões <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha, Minas<br />

Gerais e Brasil, 1980-2007<br />

Locais analisa<strong>do</strong>s<br />

Taxa <strong>de</strong> crescimento médio anual (%)<br />

1980/1991 1991/2000 2000/2007<br />

Baixo Jequitinhonha 0,31 0,23 0,14<br />

Médio Jequitinhonha 0,53 0,17 0,08<br />

<strong>Alto</strong> Jequitinhonha 1,41 0,31 0,34<br />

Minas Gerais 1,49 1,43 0,99<br />

Brasil 1,93 1,63 1,07<br />

Fonte: Matos, R. ;Garcia, R. Organiza<strong>do</strong> por Souza, J. e Henriques, M., 2010, p.101 (adaptada)<br />

Como po<strong>de</strong> ser verifica<strong>do</strong> pelos da<strong>do</strong>s da TAB. 9, no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s anos, além <strong>do</strong><br />

aumento populacional absoluto, houve também um crescimento da população urbana. Este<br />

aumento <strong>de</strong> população urbana segue uma tendência mundial <strong>de</strong> urbanização, inclusive, o<br />

crescimento percentual <strong>de</strong> população urbana <strong>de</strong> Capelinha ocorreu mais tardiamente <strong>do</strong> que a<br />

transição nacional, visto que, a população urbana brasileira ultrapassa a população rural na<br />

década <strong>de</strong> 1960.<br />

O crescimento da população urbana está estreitamente relaciona<strong>do</strong> ao êxo<strong>do</strong> rural. Por<br />

isto, é possível afirmar que o progresso da cafeicultura no município não foi suficiente para<br />

fixar os trabalha<strong>do</strong>res no campo. Ao mesmo tempo em que houve a inserção da cafeicultura<br />

mo<strong>de</strong>rna no município, ocorreu também uma gran<strong>de</strong> concentração fundiária, apoiada em<br />

políticas públicas favoráveis a gran<strong>de</strong>s empresas rurais, que intensificou o processo<br />

migratório <strong>de</strong> pequenos produtores para a cida<strong>de</strong>. Conforme explora<strong>do</strong> na seção anterior, os<br />

motivos para estas migrações iam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o receio <strong>de</strong>stes pequenos agricultores <strong>de</strong> per<strong>de</strong>rem<br />

suas terras até a esperança <strong>de</strong> melhores expectativas <strong>de</strong> vida na cida<strong>de</strong>. Além da venda <strong>de</strong><br />

terras pelos pequenos produtores, a própria mo<strong>de</strong>rnização da agricultura diminuiu a <strong>de</strong>manda<br />

<strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res no campo, fazen<strong>do</strong> que com que antigos trabalha<strong>do</strong>res rurais viessem a<br />

trabalhar e residir na cida<strong>de</strong>.<br />

A silvicultura <strong>do</strong> eucalipto foi outro fator condicionante para a concentração <strong>de</strong> terras,<br />

basea<strong>do</strong> também em políticas públicas favoráveis a gran<strong>de</strong>s empresas, como foi exposto na<br />

seção anterior.<br />

55


No trabalho <strong>de</strong> campo (out/2009), foi possível verificar uma maior preocupação no<br />

município em tentar manter os pequenos produtores rurais no campo. Em entrevista na<br />

Emater <strong>de</strong> Capelinha, a Assistente Social, citou programas que têm como objetivo criar uma<br />

melhor infra-estrutura para estes agricultores, entre eles está o Programa Nacional <strong>de</strong><br />

Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), Luz para To<strong>do</strong>s, o crédito rural, no qual<br />

os bancos têm uma meta <strong>de</strong> empréstimo a ser ofereci<strong>do</strong> aos produtores rurais, o Programa <strong>de</strong><br />

Combate a Pobreza, Minas Sem Fome, a assessoria técnica oferecida pela Emater, entre<br />

outros.<br />

Com o processo <strong>de</strong> urbanização houve um maior acesso a informações, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao<br />

aumento <strong>do</strong> contato <strong>do</strong> urbano com o rural, promoven<strong>do</strong> assim um maior esclarecimento da<br />

população <strong>do</strong> campo. Este maior esclarecimento refletiu-se em mudanças no espaço rural, no<br />

qual, segun<strong>do</strong> a Assistente Social, aumentou a participação <strong>de</strong> mulheres e jovens na<br />

solicitação <strong>de</strong> créditos, promoveu um maior nível <strong>de</strong> organização social no município, com 58<br />

associações <strong>de</strong> produtores rurais, além <strong>de</strong> uma maior valorização da mulher, que se inseriu no<br />

merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho, passou a ser mais atuante nos negócios da família e se firmou como<br />

consumi<strong>do</strong>ra. Estes, entre outros vários fatores, criam condições <strong>de</strong> aumento no po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

consumo <strong>de</strong>sta população, aquecen<strong>do</strong> assim a economia local, principalmente no que diz<br />

respeito ao setor <strong>de</strong> comércio e serviços.<br />

O setor <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> Capelinha é o setor com maior participação no PIB da cida<strong>de</strong>,<br />

sen<strong>do</strong> responsável por 60,32% <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o PIB gera<strong>do</strong>, segui<strong>do</strong> pelos setores da agropecuária e<br />

indústria, representan<strong>do</strong> respectivamente, 23,97% e 10,56% <strong>de</strong> participação na economia,<br />

como é possível verificar pela TAB. 12.<br />

TABELA 12<br />

Participação <strong>de</strong> cada setor da economia no PIB <strong>de</strong> Capelinha<br />

(Valores em mil reais) – 2007<br />

Setor Capelinha %<br />

PIB TOTAL 174.385 100,00<br />

Serviços 105.192 60,32<br />

Agropecuária 41.792 23,97<br />

Indústria 18.407 10,56<br />

*ISPLS 8.994 5,16<br />

PIB p/capita 5.275 -<br />

Fonte: IBGE, Produto Interno Bruto <strong>do</strong>s Municípios 2007<br />

* Impostos sobre produtos líqui<strong>do</strong>s <strong>de</strong> subsídios<br />

Elaboração <strong>do</strong> autor<br />

56


Apesar da mo<strong>de</strong>rnização e crescimento <strong>do</strong> setor agrário <strong>do</strong> município não ter<br />

contempla<strong>do</strong> toda população da mesma forma, ele foi extremamente importante para<br />

impulsionar o comércio e serviços da cida<strong>de</strong>. Esta importância se dá, visto que, os mais<br />

varia<strong>do</strong>s procedimentos burocráticos, as compras e vendas, financiamentos, negócios,<br />

contratações <strong>de</strong> serviços e profissionais especializa<strong>do</strong>s, treinamentos, entre outros trâmites<br />

que dão suporte ao setor agropecuário, são efetua<strong>do</strong>s na cida<strong>de</strong>. Capelinha apresenta um<br />

comércio mais movimenta<strong>do</strong> <strong>do</strong> que os municípios <strong>de</strong> seu entorno. É possível encontrar na<br />

cida<strong>de</strong> diversos produtos mo<strong>de</strong>rnos e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s marcas mundiais que são comercializa<strong>do</strong>s<br />

nos pequenos e médios estabelecimentos da cida<strong>de</strong>. Como foi aborda<strong>do</strong> no segun<strong>do</strong> capítulo,<br />

as pequenas cida<strong>de</strong>s apesar <strong>de</strong> em geral não atuarem como produtoras <strong>de</strong> marcas <strong>de</strong> projeção<br />

internacional, se inserem no sistema como distribui<strong>do</strong>ras e/ou consumi<strong>do</strong>ras <strong>de</strong>stas gran<strong>de</strong>s<br />

marcas, bem como, nas pequenas localida<strong>de</strong>s, muitas vezes é o circuito inferior que se incube<br />

da distribuição <strong>do</strong>s bens tanto tradicionais como <strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>rnos.<br />

A nova configuração populacional <strong>de</strong> Capelinha, no que diz respeito tanto a<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoas, como ao novo perfil consumi<strong>do</strong>r, colaborou para formação <strong>do</strong> espaço<br />

urbano da cida<strong>de</strong>. Provavelmente, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao maior contingente <strong>de</strong> pessoas, foi necessário um<br />

aumento no investimento em infra-estrutura. A melhora na infra-estrutura, somada e<br />

intensificada ao processo <strong>de</strong> crescimento econômico <strong>do</strong> município, refletiu em maior<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da estrutura urbana da cida<strong>de</strong>. Desta forma a estrutura urbana da cida<strong>de</strong> vem<br />

sen<strong>do</strong> ampliada e diversificada para aten<strong>de</strong>r a novas <strong>de</strong>mandas criadas pelo progresso e pelo<br />

maior número <strong>de</strong> pessoas no município. Pelo trabalho <strong>de</strong> campo (out/2009) foi possível<br />

perceber a varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ramos tanto <strong>do</strong> comércio como <strong>de</strong> serviços, além <strong>de</strong> serviços<br />

especializa<strong>do</strong>s, como consultórios o<strong>do</strong>ntológicos, médicos, <strong>centros</strong> <strong>de</strong> radiografia, <strong>de</strong><br />

fisioterapia, entre outras especialida<strong>de</strong>s. (FIG. 2).<br />

57


a) b)<br />

FIGURA 2 – Serviços especializa<strong>do</strong>s em Capelinha/ MG<br />

a) Clínica <strong>de</strong> radiologia o<strong>do</strong>ntológica especializada<br />

b) Clínica <strong>de</strong> orto<strong>do</strong>ntia<br />

Fonte: Acervo pessoal, fotografia tirada em out. 2009<br />

Um <strong>do</strong>s reflexos da tendência <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização da cida<strong>de</strong> está na paisagem urbana <strong>de</strong><br />

Capelinha. Na cida<strong>de</strong> há algumas edificações verticalizadas, com arquitetura e <strong>de</strong>sign<br />

mo<strong>de</strong>rnos (FIG.3).<br />

58


FIGURA 3 – Edificação com arquitetura mo<strong>de</strong>rna em Capelinha/ MG.<br />

Fonte: Acervo pessoal, fotografia tirada em out. 2009.<br />

Existe uma forte tendência <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização <strong>do</strong> município. Esta realida<strong>de</strong> está presente<br />

inclusive na zona rural, que cada vez mais conta com tecnologias mo<strong>de</strong>rnas. Além da<br />

mo<strong>de</strong>rnização presente nos méto<strong>do</strong>s e equipamentos agrários, ela também está presente no<br />

novo perfil da população rural que assimilou e interiorizou, fortemente, os valores <strong>urbanos</strong> e<br />

consequentemente, o comportamento consumista da cida<strong>de</strong>. Este aumento <strong>do</strong> consumismo da<br />

população rural foi um <strong>do</strong>s fatores <strong>de</strong> crescimento <strong>do</strong> setor <strong>de</strong> comércio e serviços da cida<strong>de</strong>.<br />

Inclusive, esta é uma das preocupações da Emater <strong>de</strong> Capelinha, ten<strong>do</strong> em vista a resistência<br />

<strong>do</strong>s jovens das famílias rurais que não querem permanecer no campo, pois estes já possuem<br />

uma gran<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação com o espaço urbano. A i<strong>de</strong>ntificação e <strong>de</strong>sejo pelo urbano,<br />

configura um <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s motiva<strong>do</strong>res <strong>do</strong> êxo<strong>do</strong> rural, principal fator que intensifica o<br />

crescimento da população urbana no município, como foi visto na TAB. 9.<br />

59


Contu<strong>do</strong>, apesar da crescente urbanização e tendência <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização da cida<strong>de</strong>,<br />

ainda são marcantes os traços sertanejos na paisagem da cida<strong>de</strong>. As edificações <strong>de</strong> apenas um<br />

pavimento e faixadas mo<strong>de</strong>stas são pre<strong>do</strong>minância na paisagem. (FIG.4).<br />

FIGURA 4 – Paisagem urbana <strong>de</strong> Capelinha/ MG.<br />

Fonte: Acervo pessoal, fotografia tirada em out. 2009.<br />

Em pequenas cida<strong>de</strong>s o contato <strong>do</strong> rural com o urbano é mais intenso <strong>do</strong> que ocorre<br />

em cida<strong>de</strong>s maiores, porém há situações e lugares em que este contato se torna mais visível e<br />

emblemático. Um <strong>de</strong>stes lugares é a feira livre que acontece to<strong>do</strong>s os sába<strong>do</strong>s na cida<strong>de</strong>. Neste<br />

evento os pequenos produtores rurais ven<strong>de</strong>m seus produtos, há exposição <strong>de</strong> artesanatos,<br />

além <strong>de</strong> ser lugar que funciona como um espaço <strong>de</strong> encontro e socialização. As feiras sempre<br />

acontecem no centro da cida<strong>de</strong>, em um local fixo, no caso, o merca<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> ocorre a feira,<br />

muitos produtores e mora<strong>do</strong>res da zona rural aproveitam a viagem para fazer compras no<br />

merca<strong>do</strong> formal da cida<strong>de</strong>; analogamente, os mora<strong>do</strong>res da cida<strong>de</strong> têm a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

comprar e conhecer os produtos <strong>do</strong> campo, que segun<strong>do</strong> a própria população, apresentam<br />

melhor qualida<strong>de</strong> e muitas vezes melhores preços <strong>do</strong> que os pratica<strong>do</strong>s na cida<strong>de</strong>. Outro<br />

estímulo aos mora<strong>do</strong>res da cida<strong>de</strong> comparecerem à feira livre é o fato <strong>de</strong>ste evento também<br />

representar um espaço <strong>de</strong> lazer, visto que, algumas barracas funcionam como bares.<br />

As relações comerciais da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Capelinha são orientadas pelo o circuito inferior<br />

da economia, pois como aborda<strong>do</strong> no capítulo 2, apesar <strong>de</strong> serem encontra<strong>do</strong>s no comércio<br />

diversos produtos e serviços especializa<strong>do</strong>s e marcas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> projeção nacional e<br />

60


internacional, as relações comerciais da própria cida<strong>de</strong> não ultrapassam, em geral, os limites<br />

regionais, fican<strong>do</strong> a comercialização <strong>de</strong>stes produtos restritos ao município e uma ou outra<br />

cida<strong>de</strong> da região. Fazen<strong>do</strong> um comparativo entre o 8 QUADRO 1 e o setor terciário <strong>de</strong><br />

Capelinha, verifica-se que as características <strong>do</strong> circuito inferior são mais presentes e<br />

expressivas nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas na cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> que as características <strong>do</strong> circuito<br />

superior. Dentre as características listadas, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>stacar o uso intensivo <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra;<br />

organização não burocrática; capital escasso; estoques <strong>de</strong> pequenas quantida<strong>de</strong>s; preços<br />

negociáveis entre compra<strong>do</strong>r e ven<strong>de</strong><strong>do</strong>r, sobretu<strong>do</strong> na feira livre <strong>do</strong>s sába<strong>do</strong>s; margem <strong>de</strong><br />

lucro gran<strong>de</strong> por unida<strong>de</strong>, mas pequena em relação ao volume <strong>de</strong> negócios; relação direta e<br />

personalizada com os clientes; sem presença <strong>de</strong> ajuda governamental e pequena ou nenhuma<br />

<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> países estrangeiros.<br />

Apesar <strong>do</strong> pre<strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> circuito inferior, o circuito superior também age no<br />

município, representa<strong>do</strong> pelas gran<strong>de</strong>s ativida<strong>de</strong>s econômicas ligadas ao comércio <strong>do</strong> café e<br />

<strong>do</strong> eucalipto da ativida<strong>de</strong> silvicultora. Esta última fornece suporte energético para gran<strong>de</strong>s<br />

si<strong>de</strong>rúrgicas, <strong>de</strong> projeção internacional, ou seja, o eucalipto planta<strong>do</strong> no município pertence,<br />

em sua maioria, a importantes empresas que têm sua economia voltada para o merca<strong>do</strong><br />

mundial. Assim, estas ativida<strong>de</strong>s são boas representantes da presença <strong>do</strong> circuito superior em<br />

Capelinha, pois nelas se concentram gran<strong>de</strong> volume <strong>de</strong> capital, importantes transações<br />

comerciais e econômicas que ultrapassam os limites regionais, além das características<br />

ressaltadas no QUADRO 1, como: uso intensivo <strong>de</strong> capital; organização burocrática; estoques<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>; preços fixos em geral; relação impessoal e burocrática com os clientes;<br />

capital <strong>de</strong> reserva essencial e relevante ajuda governamental. Os incentivos fiscais concedi<strong>do</strong>s<br />

às gran<strong>de</strong>s proprieda<strong>de</strong>s rurais <strong>do</strong> café e da silvicultura, relata<strong>do</strong>s no início <strong>de</strong>ste capítulo,<br />

retratam esta ajuda governamental presente no circuito superior.<br />

Retoman<strong>do</strong> a classificação <strong>de</strong> Corrêa (2009), abordada no segun<strong>do</strong> capítulo, a cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Capelinha configura o quê foi conceitua<strong>do</strong> como um lugar central. A cida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser assim<br />

classificada por ter como uma <strong>de</strong> suas características principais a distribuição <strong>de</strong> bens e<br />

serviços para as ativida<strong>de</strong>s agrárias e oferecer, também, serviços e produtos para a população<br />

local.<br />

Além da distribuição <strong>de</strong> produtos e serviços para a população local, Capelinha possui<br />

uma certa centralida<strong>de</strong> para os municípios <strong>de</strong> seu entorno. Como aborda<strong>do</strong> anteriormente a<br />

8 Página: 26<br />

61


cida<strong>de</strong> possui vários serviços especializa<strong>do</strong>s, bem como, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a um comércio mais<br />

dinâmico, uma consi<strong>de</strong>rável varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos; por este motivo a população <strong>de</strong> vários<br />

municípios recorrer à Capelinha quan<strong>do</strong> necessitam <strong>de</strong> algum produto ou serviço não<br />

encontra<strong>do</strong>s na própria cida<strong>de</strong>. Apesar da maior cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Alto</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha ser<br />

Diamantina, a maior proximida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Capelinha para vários municípios faz <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong> uma<br />

referência <strong>de</strong> centralida<strong>de</strong> na região.<br />

A importância e a centralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Capelinha, em relação aos municípios próximos,<br />

não se restringe apenas à oferta <strong>de</strong> produtos e serviços especializa<strong>do</strong>s não encontra<strong>do</strong>s na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> residência. A comercialização <strong>de</strong> artesanato produzi<strong>do</strong> em localida<strong>de</strong>s vizinhas é<br />

um exemplo da importância <strong>de</strong> Capelinha para muitos artesãos da região. Conforme foi<br />

relata<strong>do</strong> pela assistente social da Emater da cida<strong>de</strong>, Capelinha tem muitos projetos em comum<br />

com outros municípios, no qual são comercializa<strong>do</strong>s na cida<strong>de</strong> muitos produtos <strong>de</strong> artesanato<br />

<strong>de</strong> regiões próximas <strong>de</strong>primidas. Será construída uma estrutura próxima ao local da feira livre<br />

para a venda <strong>de</strong>stes produtos. No artesanato Capelinha <strong>de</strong>têm-se mais a comercialização, a<br />

produção fica por conta <strong>do</strong>s outros municípios.<br />

Assim configura-se Capelinha, uma importante cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Alto</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha,<br />

que <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a sua especialização na produção <strong>do</strong> café obteve gran<strong>de</strong> crescimento econômico e<br />

consequentemente atingiu uma posição central na região. Por meio <strong>do</strong> capital gera<strong>do</strong> pelo<br />

crescimento econômico, a cida<strong>de</strong> ampliou e diversificou o seu espaço urbano. A população<br />

acompanhou este crescimento urbano, tanto no crescimento <strong>do</strong> percentual <strong>de</strong> população<br />

urbana, como em valores e costumes <strong>urbanos</strong>, mas apesar <strong>do</strong> gradativo processo <strong>de</strong><br />

urbanização, da diversificação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, da centralida<strong>de</strong> exercida, Capelinha ainda<br />

mantém fortes traços interioranos <strong>de</strong> pequena cida<strong>de</strong>.<br />

Outro pequeno e importante município <strong>do</strong> <strong>Alto</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha é Minas Novas,<br />

município <strong>do</strong> qual Capelinha se emancipou. A importância <strong>de</strong> Minas Novas perante a região<br />

tem causa e origem distinta <strong>de</strong> Capelinha. Na próxima seção será abordada esta importância e<br />

<strong>dinâmica</strong> <strong>funcional</strong> <strong>de</strong> Minas Novas, um antigo e tradicional município <strong>do</strong> <strong>Alto</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong><br />

Jequitinhonha.<br />

62


4.3 Minas Novas<br />

Minas Novas é uma das mais antigas e tradicionais cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha e<br />

<strong>de</strong> Minas Gerais. Sua importância e expressivida<strong>de</strong> iniciaram-se no ciclo <strong>do</strong> ouro e chegou a<br />

prosseguir por alguns anos, após o perío<strong>do</strong> minera<strong>do</strong>r, com a diversificação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s,<br />

como foi visto no capítulo 3. Contu<strong>do</strong>, na atualida<strong>de</strong>, Minas Novas é marcada pela estagnação<br />

econômica.<br />

Apesar da importância histórica <strong>de</strong> Minas Novas, atualmente o município já não se<br />

configura uma das principais economias <strong>do</strong> <strong>Vale</strong>. Seu PIB, segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 2007 <strong>do</strong> IBGE,<br />

era <strong>de</strong> R$ 98.428.000,00, o 4º maior PIB da sub-região <strong>do</strong> <strong>Alto</strong> <strong>Vale</strong>, fican<strong>do</strong> atrás <strong>de</strong><br />

Diamantina, Capelinha e Itamarandiba. Porém, quan<strong>do</strong> se analisa o <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha<br />

como um to<strong>do</strong>, a posição <strong>do</strong> PIB <strong>de</strong> Minas Novas cai para 14º, colocação bem abaixo <strong>de</strong><br />

Capelinha. (TAB. 13).<br />

TABELA 13<br />

Os 15 maiores PIB <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha – 2007<br />

Municípios Valores em mil reais<br />

1. Bocaiúva 295.329<br />

2. Diamantina 237.825<br />

3. Grão Mongol 200.870<br />

4. Salinas 189.045<br />

5. Capelinha 174.385<br />

6. Almenara 163.423<br />

7. Araçuaí 147.064<br />

8. Itamarandiba 146.536<br />

9. Pedra Azul 136.236<br />

10. Taiobeiras 128.077<br />

11. Porteirinha 121.975<br />

12. Itaobim 117.484<br />

13. Rio Par<strong>do</strong> <strong>de</strong> Minas 105.669<br />

14. Minas Novas 98.428<br />

15. Jequitinhonha 94.465<br />

Fonte: IBGE, Produto Interno Bruto <strong>do</strong>s Municípios 2007<br />

Elaboração <strong>do</strong> autor<br />

63


Apesar <strong>do</strong> <strong>de</strong>clínio <strong>de</strong> centralida<strong>de</strong> e da estagnação econômica em que se encontra<br />

Minas Novas, o município ainda se mantém como alguma referência para cida<strong>de</strong>s como<br />

Chapada <strong>do</strong> Norte, Berilo, Jenipapo <strong>de</strong> Minas e Francisco Badaró. Isto porque Minas Novas é<br />

se<strong>de</strong> <strong>de</strong> comarca, composta por estes municípios, abarcan<strong>do</strong> assim os assuntos jurídicos<br />

relaciona<strong>do</strong>s a eles.<br />

Quanto ao <strong>de</strong>senvolvimento humano <strong>do</strong> município, segun<strong>do</strong> os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> PNUD,<br />

disponível no site <strong>do</strong> mesmo, no ano 2000, o IDH era <strong>de</strong> 0,633, valor consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como <strong>de</strong><br />

médio <strong>de</strong>senvolvimento. Conforme foi aborda<strong>do</strong> anteriormente, outro importante índice para<br />

se conhecer a realida<strong>de</strong> social <strong>de</strong> um lugar é o Coeficiente <strong>de</strong> Gini. Em Minas Novas, segun<strong>do</strong><br />

o PNUD, o índice <strong>de</strong> Gini para renda em 2000 foi <strong>de</strong> 0,55, valor que representa gran<strong>de</strong><br />

concentração, segun<strong>do</strong> os preceitos <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s pelo próprio programa.<br />

Outra possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> verificar se a renda gerada no município favoreceu a toda<br />

socieda<strong>de</strong> é verificar o percentual <strong>de</strong> renda <strong>de</strong>stinada a cada parcela da população. Em Minas<br />

Novas, segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> PNUD, em 2000 os 10% mais ricos concentravam 40,45% <strong>de</strong> toda<br />

renda gerada no município e os 20% mais pobres <strong>de</strong>tinham apenas 1,89%. Estes da<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong>monstram gran<strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> renda e baixíssimo percentual <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> aos 20% mais<br />

pobres <strong>do</strong> município.<br />

Quan<strong>do</strong> se comparam os da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Minas Novas, verifica-se que o município segue o<br />

perfil da sua <strong>de</strong>primida 9 mesorregião e <strong>do</strong> município <strong>de</strong> 10 Capelinha, que apesar <strong>de</strong> mais rica<br />

que Minas Novas, apresenta os mesmos problemas <strong>de</strong> baixo <strong>de</strong>senvolvimento e concentração<br />

<strong>de</strong> renda. Estes problemas parecem arraiga<strong>do</strong>s na região <strong>do</strong> Jequitinhonha, fator que explicita<br />

a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> políticas mais incisivas no que diz respeito à uma melhor distribuição <strong>de</strong><br />

renda e <strong>de</strong>senvolvimento social. No entanto, o que se verifica ao longo <strong>do</strong>s anos é a<br />

manutenção <strong>de</strong>ste quadro, que muitas das vezes serve como plataforma eleitoral.<br />

Além <strong>de</strong> baixos índices sociais, outra característica da população <strong>de</strong> Minas Novas é<br />

ainda ser pre<strong>do</strong>minantemente rural. Apesar da maioria da população ser rural, o município<br />

apresenta crescimento contínuo da população urbana, porém, quan<strong>do</strong> se analisa a população<br />

total, verifica-se uma consi<strong>de</strong>rável queda na década <strong>de</strong> 1990, como <strong>de</strong>monstra a TAB. 14.<br />

9<br />

Da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha: IDH: 0,650; Gini: 0,59; 10% mais ricos: 46,44% da renda e 20% mais<br />

pobres: 1,98% da renda.<br />

10<br />

Da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Capelinha: IDH: 0,673; Gini: 0,58; 10% mais ricos: 47,81% da renda e 20% mais pobres: 1,89% da<br />

renda.<br />

64


Ano<br />

TABELA 14<br />

População total, urbana e rural <strong>de</strong> Minas Novas/ MG, 1970 - 2000<br />

População<br />

Total<br />

População urbana População Rural Área <strong>do</strong><br />

município<br />

(Km 2 Absoluta % Absoluta % )<br />

1970 25.012 2.477 9,90 22.535 90,10 1810,77<br />

1980 27.506 4.418 16,06 23.088 83,94 1810,77<br />

1991 33.631<br />

2000 30.646<br />

6.463 19,22 27.168 80,78 1810,77<br />

7.730 25,22 22.916 74,78 1810,77<br />

Fonte: Confe<strong>de</strong>ração Nacional <strong>de</strong> Municípios, disponível em: < http://www.cnm.org.br/>. Acessa<strong>do</strong> em 05 maio<br />

2010 e IBGE.<br />

Elaboração <strong>do</strong> autor<br />

TABELA 15<br />

Taxas <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong>mográfico <strong>de</strong> Minas Novas, 1970 – 2000<br />

Perío<strong>do</strong> Taxa <strong>de</strong> crescimento<br />

1970/ 1980 0,95%<br />

1980/1991 1,84%<br />

1991/2000 - 1,03%<br />

2000/2009 0,36%<br />

Fonte: Confe<strong>de</strong>ração Nacional <strong>de</strong> Municípios, disponível em:<br />

< http://www.cnm.org.br/>. Acessa<strong>do</strong> em 13 abr 2010 e IBGE.<br />

Elaboração <strong>do</strong> autor<br />

Pela TAB. 15, verifica-se que no perío<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>, o intervalo <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> maior<br />

crescimento <strong>de</strong>mográfico em Minas Novas foi entre 1980 e 1991, coincidin<strong>do</strong> com o intervalo<br />

<strong>de</strong> anos que Capelinha e a região <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha apresentaram também o maior<br />

crescimento <strong>de</strong>mográfico. Comparan<strong>do</strong> as taxas <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong> Minas Novas, com a TAB.<br />

11, vê-se que o comportamento da <strong>dinâmica</strong> populacional <strong>de</strong> Minas Novas se assemelha a da<br />

sua mesorregião. Apesar <strong>de</strong> no perío<strong>do</strong> entre 1980/1991, Minas Novas ter apresenta<strong>do</strong> uma<br />

taxa <strong>de</strong> crescimento superior às taxas das 3 sub-regiões <strong>do</strong> <strong>Vale</strong>, no intervalo entre 1991/2000<br />

apresentou uma taxa consi<strong>de</strong>ravelmente inferior e no intervalo seguinte, taxa bastante similar.<br />

No geral, tanto Minas Novas como o <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha sempre apresentam baixas taxas<br />

<strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong>mográfico. Segun<strong>do</strong> a estimativa <strong>de</strong> população <strong>do</strong> IBGE <strong>de</strong> 2009, Minas<br />

Novas contaria com uma população <strong>de</strong> 31.647 resi<strong>de</strong>ntes. Por esta informação, po<strong>de</strong>-se<br />

concluir, que mesmo que a população não tenha apresenta<strong>do</strong> gran<strong>de</strong> crescimento, pelo menos<br />

não seguiu a tendência <strong>de</strong> <strong>de</strong>créscimo populacional ocorrida no intervalo anterior.<br />

65


Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que não houve redução territorial em Minas Novas no perío<strong>do</strong><br />

analisa<strong>do</strong>, o fato que possivelmente acarretou uma taxa <strong>de</strong> crescimento negativo em Minas<br />

Novas, entre 1991 e 2000, foi um expressivo movimento <strong>de</strong> emigração. A emigração é um<br />

processo histórico no <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha, como foi possível verificar na TAB. 8.<br />

O fato <strong>de</strong> Minas Novas não possuir uma economia mais <strong>dinâmica</strong>, contribui para que a<br />

população rural migre, também, para outros <strong>de</strong>stinos. O movimento migratório é motiva<strong>do</strong><br />

pela busca <strong>de</strong> melhores condições <strong>de</strong> vida e novas oportunida<strong>de</strong>s, o que muitas vezes, não é<br />

encontra<strong>do</strong> na própria cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Minas Novas.<br />

O baixo crescimento populacional, inclusive com presença <strong>de</strong> taxas negativas,<br />

<strong>de</strong>monstra que a inserção da cafeicultura mo<strong>de</strong>rna e da silvicultura <strong>do</strong> eucalipto não foram<br />

capazes <strong>de</strong> fixar a população no município, pelo contrário, parece ter apresenta<strong>do</strong> efeito<br />

contrário, provavelmente reflexo da concentração <strong>de</strong> terra, processo acentua<strong>do</strong> após o advento<br />

da mo<strong>de</strong>rnização conserva<strong>do</strong>ra na região. Além da concentração fundiária, a inserção <strong>do</strong><br />

eucalipto no município é apontada por muitos <strong>do</strong>s pequenos agricultores da região, como<br />

responsável pela queda <strong>de</strong> produção nas lavouras próximas as plantações <strong>do</strong> eucalipto. No<br />

trabalho <strong>de</strong> campo (out/2009), no dia <strong>de</strong> feira, foi possível conversar com alguns pequenos<br />

produtores que acusavam o eucalipto pela queda na produção. O técnico da Emater <strong>de</strong> Minas<br />

Novas, cita o eucalipto como um <strong>do</strong>s fatores que têm prejudica<strong>do</strong> o solo da região, associa<strong>do</strong><br />

à prática ina<strong>de</strong>quada da agricultura e preparo <strong>do</strong> solo.<br />

Além da concentração fundiária e quedas na produção, outra dificulda<strong>de</strong> em se manter<br />

os pequenos produtores no campo, e no caso <strong>de</strong> Minas Novas na própria cida<strong>de</strong>, é a falta <strong>de</strong><br />

uma maior capacitação e assessoria para que estes pequenos produtores aprendam a lidar<br />

melhor com a terra, além das limitações impostas pelas condições naturais da região. Outro<br />

ponto é a falta <strong>de</strong> um maior esclarecimento sobre possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> beneficiamento <strong>do</strong>s<br />

produtos, bem como a falta <strong>de</strong> organização entre os próprios produtores, que juntos po<strong>de</strong>riam<br />

discutir medidas que otimizassem a venda, distribuição, beneficiamento e divulgação <strong>do</strong>s seus<br />

produtos.<br />

O técnico, acima referi<strong>do</strong>, cita <strong><strong>do</strong>is</strong> casos sobre esta <strong>de</strong>ficiência em informação e<br />

organização que po<strong>de</strong>ria aumentar a renda <strong>do</strong>s pequenos produtores e consequentemente fixá-<br />

los ao campo. Um <strong>do</strong>s casos relata<strong>do</strong>s foi sobre um agricultor que teve uma gran<strong>de</strong> produção<br />

<strong>de</strong> bananas e chegou a per<strong>de</strong>r parte <strong>de</strong>la por falta <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda para comercialização. Segun<strong>do</strong><br />

o técnico, se o produtor estivesse mais bem prepara<strong>do</strong> po<strong>de</strong>ria beneficiar esta produção e<br />

66


assim não iria per<strong>de</strong>r os produtos por falta <strong>de</strong> consumi<strong>do</strong>res, além <strong>de</strong> aumentar a sua renda<br />

final. O outro caso foi sobre um produtor que foi convida<strong>do</strong> a expor a sua farinha em um<br />

evento em Brasília, mas pela farinha não ter rótulo com informações e contato, impossibilitou<br />

a promoção <strong>do</strong> produto e possivelmente novos negócios.<br />

Minas Novas é um município <strong>de</strong> população pre<strong>do</strong>minantemente rural, 74,78% das<br />

pessoas resi<strong>de</strong>m no campo. Esta realida<strong>de</strong> intensifica a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maiores investimentos<br />

e assessoria para os pequenos agricultores, não só com programas assistencialistas, que apesar<br />

<strong>de</strong> muito importantes para a classe mais pobre da socieda<strong>de</strong>, não garante por si só<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prosperida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta população. Apesar <strong>do</strong> contingente<br />

rural <strong>de</strong> Minas Novas, o percentual <strong>de</strong> população urbana tem apresenta<strong>do</strong> crescimento<br />

contínuo ao longo das últimas décadas, reflexo da migração da população rural para a cida<strong>de</strong>,<br />

processo que tem ocorri<strong>do</strong> com menor intensida<strong>de</strong> quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong> a outros municípios,<br />

mas que é a principal causa <strong>de</strong>ste aumento <strong>do</strong> percentual urbano.<br />

A paisagem urbana <strong>de</strong> Minas Novas é mo<strong>de</strong>sta (FIG. 5), pre<strong>do</strong>minam edificações<br />

simples, <strong>de</strong> apenas um pavimento, pequenos comércios, serviços com pouca especialização,<br />

apesar <strong>de</strong> já existir em alguns poucos serviços especializa<strong>do</strong>s. Algumas gran<strong>de</strong>s marcas são<br />

encontradas no comércio <strong>de</strong> Minas Novas, sen<strong>do</strong> distribuídas por meio <strong>de</strong> pequenos<br />

comércios. As pequenas cida<strong>de</strong>s acabam atuan<strong>do</strong> no sistema como distribui<strong>do</strong>ras e/ou<br />

consumi<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>s bens “globais”, mas é nas pequenas localida<strong>de</strong>s que o circuito inferior se<br />

incube da distribuição <strong>do</strong>s bens tanto tradicionais como <strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>rnos.<br />

67


FIGURA 5 – Paisagem urbana <strong>de</strong> Minas Novas/ MG.<br />

Fonte: Acervo pessoal, fotografias tiradas em 08. 2009.<br />

Na paisagem <strong>de</strong> Minas Novas, uma marcante característica é a forte presença <strong>de</strong><br />

elementos históricos, como o calçamento das ruas, arquitetura <strong>de</strong> várias casas, prédios e<br />

principalmente das igrejas. A cida<strong>de</strong> apresenta várias construções <strong>do</strong>s séculos XVIII e XIX; a<br />

maior parte das igrejas passou recentemente por restauração, e estão em bom esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

conservação (FIG. 6 e FIG. 7).<br />

68


a) b)<br />

FIGURA 6 – Construções históricas <strong>de</strong> Minas Novas<br />

a) Igreja Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário (1810)<br />

b) Casarão da Cultura (1821)<br />

Fonte: Acervo pessoal, fotografias tiradas em out. 2009<br />

FIGURA 7 - Igreja Nossa Senhora <strong>do</strong> Amparo, vista externa e altar (1834)<br />

Fonte: Acervo pessoal, fotografias tiradas em out. 2009<br />

69


Devi<strong>do</strong> à riqueza histórica e cultural <strong>de</strong> Minas Novas, o turismo <strong>de</strong>veria representar<br />

um forte componente da economia da cida<strong>de</strong>, porém este potencial <strong>do</strong> município é<br />

praticamente inexplora<strong>do</strong>. Segun<strong>do</strong> a Secretaria <strong>de</strong> Turismo <strong>de</strong> Minas Gerais, a cida<strong>de</strong> faz<br />

parte <strong>do</strong> Circuito Turístico das Pedras Preciosas, porém não há divulgação e nem promoção<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>stino no meio turístico, bem como, há ausência <strong>de</strong> infra-estrutura receptiva na cida<strong>de</strong>.<br />

A economia <strong>de</strong> Minas Novas conta com gran<strong>de</strong> participação <strong>do</strong> setor <strong>de</strong> comércio e<br />

serviços, cerca <strong>de</strong> 70% <strong>do</strong> PIB. O crescimento <strong>do</strong> setor terciário é uma tendência mundial que<br />

se intensificou com a globalização. Contu<strong>do</strong>, é interessante observar a relativa pequena<br />

participação <strong>do</strong> setor agropecuário, com <strong>de</strong> 14,52% <strong>do</strong> PIB <strong>do</strong> município (TAB.16),<br />

consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que quase ¾ <strong>de</strong> população <strong>do</strong> município é população rural. Estes da<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong>monstram que apesar da pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong> rural no município, este setor é pouco produtivo,<br />

volta<strong>do</strong> para a subsistência. O município <strong>de</strong> Capelinha tem menos da meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> população<br />

rural <strong>de</strong> Minas Novas e o seu setor agropecuário e bem mais produtivo, como foi possível<br />

verificar a comparação pelo GRAF.6.<br />

TABELA 16<br />

Participação <strong>de</strong> cada setor da economia no PIB <strong>de</strong> Minas Novas<br />

(Valores em mil reais) – 2007<br />

Setor Minas Novas %<br />

PIB TOTAL 98.428 100,00<br />

Serviços 69.833 70,95<br />

Agropecuária 14.290 14,52<br />

Indústria 11.317 11,50<br />

*ISPLS 2.987 3,03<br />

PIB p/capita 3.219 -<br />

Fonte: IBGE, Produto Interno Bruto <strong>do</strong>s Municípios 2007<br />

* Impostos sobre produtos líqui<strong>do</strong>s <strong>de</strong> subsídios<br />

Elaboração <strong>do</strong> autor<br />

70


200.000<br />

180.000<br />

160.000<br />

140.000<br />

120.000<br />

100.000<br />

80.000<br />

60.000<br />

40.000<br />

20.000<br />

0<br />

PIB TOTAL Serviços Agropecuária Indústria *ISPLS<br />

CAPELINHA MINAS NOVA<br />

GRÁFICO 5 – Comparação <strong>do</strong> PIB em cada setor da economia (Valores<br />

em mil reais), Capelinha e Minas Novas - 2007<br />

Fonte: IBGE, Produto Interno Bruto <strong>do</strong>s Municípios 2007<br />

* Impostos sobre produtos líqui<strong>do</strong>s <strong>de</strong> subsídios<br />

Elaboração <strong>do</strong> autor<br />

O setor agrário <strong>de</strong> Minas Novas já foi mais expressivo na região <strong>do</strong> <strong>Vale</strong>. Conforme<br />

foi aborda<strong>do</strong> na seção 4.1, Minas Novas no ano <strong>de</strong> 1990, era o 2º maior produtor <strong>de</strong> café <strong>de</strong><br />

toda a região, mas com o passar <strong>do</strong>s anos a sua participação na produção sofreu uma<br />

progressiva queda. Pelos últimos da<strong>do</strong>s sobre a Produção Agrícola Municipal, <strong>do</strong> ano <strong>de</strong><br />

2008, Minas Novas ocupava o 12º lugar no ranking <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> café <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong><br />

Jequitinhonha. A queda <strong>de</strong> produção não foi apenas em valor relativo, mas houve também<br />

queda em valores absolutos. Em 1990 a produção foi acima <strong>de</strong> 6.000 toneladas, em 1995/96<br />

caiu para 1762 toneladas, e em 2008 apenas 530 toneladas Não se encontra nenhuma causa<br />

específica, aparente, que justifique esta expressiva redução na produção <strong>de</strong> café em Minas<br />

Novas.<br />

Conforme já foi aborda<strong>do</strong>, um momento <strong>de</strong> forte contato entre o urbano e o rural é o<br />

evento da feira livre na cida<strong>de</strong>. De fato, é tênue e difuso o limiar entre o urbano e rural em<br />

pequenas cida<strong>de</strong>s, principalmente em um município como Minas Novas, com pre<strong>do</strong>minância<br />

rural; contu<strong>do</strong> é possível distinguir estes espaços. O espaço urbano, mesmo que <strong>de</strong> forma<br />

limitada, oferece uma concentração <strong>de</strong> serviços e comércios. A feira livre <strong>de</strong> Minas Novas,<br />

como em Capelinha, ocorre to<strong>do</strong>s os sába<strong>do</strong>s pela manhã e é uma oportunida<strong>de</strong> para os<br />

71


pequenos agricultores adquirirem produtos na cida<strong>de</strong> e oportunida<strong>de</strong> também para população<br />

da cida<strong>de</strong> comprar os produtos da zona rural <strong>do</strong> município. O custo <strong>de</strong> transporte da zona rural<br />

para a cida<strong>de</strong> é um fator limitante para a população rural, que dispõe <strong>de</strong> baixíssima condição<br />

financeira. Por este motivo, o dia da feira, é um momento em que, ao mesmo tempo em que<br />

ven<strong>de</strong>m os seus produtos, os pequenos produtores aproveitam para comprar produtos no<br />

merca<strong>do</strong> e/ou que não são produzi<strong>do</strong>s por eles. A feira livre <strong>de</strong> Minas Novas é um evento <strong>de</strong><br />

uma proporção bem menor que a feira <strong>de</strong> Capelinha. O espaço, número <strong>de</strong> barracas e<br />

produtores é consi<strong>de</strong>ravelmente menor. Diferentemente <strong>do</strong> que acontece em Capelinha, a feira<br />

<strong>de</strong> Minas Novas não é vista como um evento <strong>de</strong> lazer e socialização, ela funciona e é vista<br />

pela população apenas como um local <strong>de</strong> compras. Segun<strong>do</strong> o técnico da Emater da cida<strong>de</strong>, há<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong> conscientização da população <strong>de</strong> que a feira promove a auto-<br />

sustentabilida<strong>de</strong>, pois, se houvesse este trabalho, iria gerar uma maior interação e coesão da<br />

comunida<strong>de</strong> que se refletiria na economia, até po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> transformar a feira em um espaço <strong>de</strong><br />

lazer.<br />

Além <strong>do</strong> dia da feira, outro momento em que é possível verificar um maior contato da<br />

população rural com a cida<strong>de</strong> é o dia <strong>do</strong> recebimento <strong>do</strong> Bolsa Família. Nesta data muitos<br />

mora<strong>do</strong>res da zona rural, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>ste auxílio, viajam até a cida<strong>de</strong> e já aproveitam o dia<br />

<strong>do</strong> pagamento para efetuarem as suas compras. A dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> transporte da população <strong>do</strong><br />

campo para a cida<strong>de</strong>, tanto com relação ao custo, quanto pela própria ineficiência <strong>de</strong>ste<br />

serviço, fazem com que os mora<strong>do</strong>res ten<strong>de</strong>m a aproveitar a ida à cida<strong>de</strong> para resolver tu<strong>do</strong> o<br />

que necessitam <strong>de</strong> uma só vez. O recebimento <strong>do</strong> Bolsa-Família é efetua<strong>do</strong> muitas vezes pelas<br />

mulheres, fato que colaborou para a inserção <strong>de</strong>stas como consumi<strong>do</strong>ra e como<br />

administra<strong>do</strong>ra da renda familiar.<br />

Contu<strong>do</strong>, a atuação das mulheres na economia <strong>de</strong> Minas Novas tem alcança<strong>do</strong> maiores<br />

proporções, e o responsável por isto é o artesanato. Esta ativida<strong>de</strong> tem inseri<strong>do</strong> as mulheres no<br />

merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho, no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s negócios, e, em várias famílias, representa um importante<br />

complemento <strong>de</strong> renda, isto quan<strong>do</strong> não é a principal fonte. O artesanato faz parte da tradição<br />

e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Minas Novas, sen<strong>do</strong> que nos últimos anos, esta pratica adquiriu maior valor<br />

econômico e reconhecimento cultural. Conforme aborda da revista Passo a Passo, da<br />

Sebrae/MG, entre os anos <strong>de</strong> 2004 e 2005, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a um projeto implementa<strong>do</strong> pela<br />

instituição, houve um aumento <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 20% na renda obtida com ao artesanato, o número<br />

<strong>de</strong> artesãos envolvi<strong>do</strong>s no trabalho <strong>de</strong> profissionalização <strong>do</strong> setor cresceu 23,5%, a produção<br />

<strong>de</strong> peças teve crescimento registra<strong>do</strong> em 24,5%, além <strong>de</strong> ter apresenta<strong>do</strong> no intervalo <strong>de</strong> 1<br />

72


ano, entre 2004 e 2005, um crescimento <strong>de</strong> 56,8% no volume <strong>de</strong> vendas. Além <strong>de</strong>stes<br />

números, o artesanato <strong>de</strong> Minas Novas, tem ganha<strong>do</strong> reconhecimento e consequentemente<br />

crescimento, em exposições em feiras sobre artesanato, cultura regional, turismo, entre outros.<br />

Em visita a comunida<strong>de</strong> artesã <strong>de</strong> Cachoeira <strong>do</strong> Fana<strong>do</strong>, durante o trabalho <strong>de</strong> campo (out/<br />

2009), foi possível observar um bom padrão em várias casas <strong>do</strong> lugar, que segun<strong>do</strong> algumas<br />

artesãs, foi conquista<strong>do</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao artesanato. Apesar <strong>de</strong> ainda enfrentar dificulda<strong>de</strong>s,<br />

principalmente com relação à comercialização e logística, o artesanato <strong>de</strong> Minas Novas tem<br />

cresci<strong>do</strong> e se torna<strong>do</strong> uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho e renda para várias famílias, além <strong>de</strong><br />

colaborar para a permanência da população no município.<br />

FIGURA 8 – Artesanato <strong>de</strong> Minas Novas, exposto no Centro <strong>de</strong> Cultura da Cida<strong>de</strong><br />

Fonte: Acervo pessoal, fotografias tiradas em out. 2009.<br />

73


Do mesmo mo<strong>do</strong> que em Capelinha, em Minas Novas também prevalece o circuito<br />

inferior da economia, ainda <strong>de</strong> forma mais expressiva e visível. Como relata<strong>do</strong>, o comércio <strong>de</strong><br />

Minas Novas é bem mo<strong>de</strong>sto e pouco diversifica<strong>do</strong>, pre<strong>do</strong>minan<strong>do</strong> os pequenos comércios,<br />

que aten<strong>de</strong>m as <strong>de</strong>mandas mais básicas da população. As características <strong>do</strong> circuito inferior,<br />

relacionadas no QUADRO 1, São encontradas no setor terciário <strong>de</strong> Minas Novas como por<br />

exemplo, o uso intensivo <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra; organização não burocrática; capital escasso;<br />

estoques <strong>de</strong> pequenas quantida<strong>de</strong>s; margem <strong>de</strong> lucro gran<strong>de</strong> por unida<strong>de</strong>, mas pequena em<br />

relação ao volume <strong>de</strong> negócios; relação direta e personalizada com os clientes; sem presença<br />

<strong>de</strong> ajuda governamental; pequena ou nenhuma <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> países estrangeiros; preços<br />

negociáveis entre compra<strong>do</strong>r e ven<strong>de</strong><strong>do</strong>r, entre outros. A característica <strong>de</strong> negociação <strong>de</strong><br />

preços entre comerciante e cliente, é bem visível no evento da na feira livre. Quan<strong>do</strong> se<br />

aproxima horário <strong>do</strong> término da feira e ainda restam produtos, os comerciantes se tornam mais<br />

flexíveis à negociação e o regateio torna-se recorrente.<br />

Contu<strong>do</strong>, como em Capelinha, em Minas Novas também há a presença <strong>do</strong> circuito<br />

superior. Apesar <strong>de</strong> ser menos expressiva que em Capelinha, a silvicultura em Minas Novas<br />

também representa uma ativida<strong>de</strong> relacionada ao circuito superior, pois seu produto é insumo<br />

para gran<strong>de</strong>s si<strong>de</strong>rúrgicas e as negociações <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong> envolvem gran<strong>de</strong> volume <strong>de</strong><br />

capital, importantes transações comerciais e econômicas <strong>de</strong> âmbito nacional, além das<br />

características ressaltadas no QUADRO 1, como: uso intensivo <strong>de</strong> capital; organização<br />

burocrática; estoques <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>; preços fixos em geral; relação impessoal e<br />

burocrática com os clientes; capital <strong>de</strong> reserva essencial e relevante ajuda governamental. O<br />

café em Minas Novas também era um exemplo da ação <strong>do</strong> circuito superior, porém com a<br />

expressiva queda na produção, já não se po<strong>de</strong> mais afirmar, com certeza, que as negociações<br />

envolvidas nesta ativida<strong>de</strong> atinjam este circuito da economia.<br />

O artesanato, que a principio representaria apenas o circuito inferior, tem atingi<strong>do</strong> o<br />

circuito superior da economia. O crescimento <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong> no município tem ultrapassa<strong>do</strong><br />

os limites regionais, envolven<strong>do</strong> cada vez mais capital e organização, alcançan<strong>do</strong> um público<br />

cada vez maior e mais diversifica<strong>do</strong>. A aplicação <strong>de</strong> tecnologia na produção configura outra<br />

importante característica que tem inseri<strong>do</strong> a ativida<strong>de</strong> no circuito superior; um exemplo <strong>de</strong>sta<br />

aplicação <strong>de</strong> tecnologia foi aborda<strong>do</strong> pela revista Passo a Passo, <strong>do</strong> SEBRAE – MG (2006).<br />

Segun<strong>do</strong> a revista foi firma<strong>do</strong> convênio com a Fundação <strong>de</strong> Apoio à Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

João Del-Rei para estu<strong>do</strong> da argila, matéria prima básica da ativida<strong>de</strong> artesanal <strong>do</strong> lugar.<br />

Foram colhidas amostras <strong>do</strong> material na região para tentar <strong>de</strong>scobrir uma maneira <strong>de</strong> tornar o<br />

74


arro mais resistente. Outro exemplo <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> tecnologia e negociação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte,<br />

foi uma parceria firmada com a ArcelorMittal Acesita Energética para a produção <strong>de</strong> uma<br />

embalagem mais resistente, que já foi <strong>de</strong>senvolvida e testada. Estes fatores têm agrega<strong>do</strong><br />

valor aos produtos <strong>do</strong> artesanato <strong>de</strong> Minas Novas, proporcionan<strong>do</strong> negócios com maior<br />

volume <strong>de</strong> produtos e capital e os inseri<strong>do</strong>, gradativamente, no circuito superior da economia.<br />

Retoman<strong>do</strong> os conceitos <strong>de</strong> Corrêa (2009), quanto aos tipos <strong>de</strong> pequenas cida<strong>de</strong>s,<br />

Minas Novas po<strong>de</strong>ria se enquadrar em <strong><strong>do</strong>is</strong> tipos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> recorte temporal utiliza<strong>do</strong>.<br />

Resgatan<strong>do</strong> o seu áureo tempo no perío<strong>do</strong> da mineração, Minas Novas funcionava como um<br />

lugar central, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a sua importância e centralida<strong>de</strong> exercida na época. Hoje em dia, Minas<br />

Novas ainda exerce algum tipo <strong>de</strong> centralida<strong>de</strong>, com proporção expressivamente menor <strong>do</strong> à<br />

exercida no passa<strong>do</strong>, porém ainda minimamente importante para a sua própria população.<br />

Contu<strong>do</strong>, no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s anos, Minas Novas per<strong>de</strong>u sua efetiva função centraliza<strong>do</strong>ra, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong><br />

ao <strong>de</strong>clínio da ativida<strong>de</strong> minera<strong>do</strong>ra, ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novos núcleos na região que<br />

abalaram a sua função <strong>de</strong> centralida<strong>de</strong>, soma<strong>do</strong> ainda com a <strong>de</strong>saceleração e estagnação <strong>do</strong><br />

seu crescimento econômico. Atualmente, se configura com o que foi conceitua<strong>do</strong> como os<br />

reservatórios <strong>de</strong> força <strong>de</strong> trabalho. A cida<strong>de</strong> é assim classificada, porque, como foi exposto no<br />

segun<strong>do</strong> capítulo, Minas Novas concentra um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res que se viram<br />

expulsos <strong>do</strong> campo <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à concentração <strong>de</strong> terra, além da cida<strong>de</strong> permanecer e estar inserida<br />

em longo processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cadência e estagnação, fican<strong>do</strong> parcela da sua população <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> trabalhos sazonais fora da cida<strong>de</strong> ou migran<strong>do</strong> em busca <strong>de</strong> melhores condições <strong>de</strong> vida.<br />

75


5. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

A partir <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste trabalho, foi possível estabelecer algumas<br />

observações quanto a características e funcionamento <strong>de</strong> pequenos municípios, baseadas no<br />

estu<strong>do</strong> da <strong>dinâmica</strong> <strong>funcional</strong> <strong>do</strong>s municípios <strong>de</strong> Capelinha e Minas Novas.<br />

Conforme foi visto, as pequenas cida<strong>de</strong>s representam importantes elementos da re<strong>de</strong><br />

urbana, mesmo que com menores atribuições <strong>do</strong> que as exercidas pelas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s. No<br />

<strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha, há uma frágil ligação da maioria das cida<strong>de</strong>s com os gran<strong>de</strong>s e médios<br />

<strong>centros</strong>, assim, várias pequenas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sta região acabam crian<strong>do</strong> mecanismos na re<strong>de</strong><br />

urbana, no qual, adquirem e fortalecem as ligações entre si, em <strong>de</strong>trimento das relações com<br />

os maiores <strong>centros</strong>, apesar das relações inter-regionais em âmbito nacional e internacional co-<br />

existirem com as relações intra-regionais. Esta realida<strong>de</strong> pô<strong>de</strong> ser constatada pela constatação<br />

da centralida<strong>de</strong> exercida por Capelinha, que apesar <strong>de</strong> não ser o maior centro da sub-região<br />

em que está inserida, atrai população <strong>de</strong> várias outras pequenas cida<strong>de</strong>s por ser o centro local<br />

mais próximo. Outro elemento caracteriza<strong>do</strong>r <strong>de</strong> pequenas cida<strong>de</strong>s é o gran<strong>de</strong> contato <strong>do</strong> rural<br />

e <strong>do</strong> urbano. Esta realida<strong>de</strong> pô<strong>de</strong> ser vista com maior niti<strong>de</strong>z, no caso <strong>de</strong> Minas Novas, on<strong>de</strong> o<br />

contato entre estes <strong><strong>do</strong>is</strong> espaços é forte e recorrente. Apesar da frágil e difusa <strong>de</strong>limitação<br />

entre rural e urbano, em uma pequena cida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar que o urbano se difere <strong>do</strong><br />

rural por ser um local no qual se concentra um maior número <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s terciárias em<br />

<strong>de</strong>trimento das ativida<strong>de</strong>s primárias. Além <strong>de</strong>stas características ressaltadas, há outros <strong><strong>do</strong>is</strong><br />

processos relevantes encontra<strong>do</strong>s em várias pequenas cida<strong>de</strong>s brasileiras e presentes nos<br />

municípios estuda<strong>do</strong>s, que são: a função <strong>de</strong> localida<strong>de</strong> central <strong>de</strong> maior vulto representa<strong>do</strong> por<br />

Capelinha e a função <strong>de</strong> reservatório <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra, representa<strong>do</strong> por Minas Novas,<br />

conforme foram apresenta<strong>do</strong>s nos capítulos anteriores. Estes processos são recorrentes em<br />

várias pequenas cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Brasil, <strong>de</strong>sta forma, conhecer mesmo que brevemente, os casos <strong>de</strong><br />

Capelinha e Minas Novas, consiste em uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se compreen<strong>de</strong>r melhor a<br />

<strong>dinâmica</strong> <strong>funcional</strong> <strong>de</strong> várias outras pequenas cida<strong>de</strong>s.<br />

Conforme foi visto, os <strong><strong>do</strong>is</strong> circuitos da economia segun<strong>do</strong> Milton Santos (1979b),<br />

estão presentes nos municípios, sen<strong>do</strong> que há uma maior expressivida<strong>de</strong> e ocorrência <strong>do</strong><br />

circuito inferior nas duas cida<strong>de</strong>s. Em Capelinha, o circuito superior se expressa nas<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comercialização <strong>do</strong> café e na silvicultura <strong>do</strong> eucalipto, este último que, em<br />

gran<strong>de</strong> parte, pertence e abastece importantes si<strong>de</strong>rúrgicas <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Aço. Em Minas Novas,<br />

76


o comércio <strong>do</strong> eucalipto como em Capelinha, também representa a presença <strong>do</strong> circuito<br />

superior no município. Outra ativida<strong>de</strong> que se tem <strong>de</strong>staca<strong>do</strong> por conter alguns elementos <strong>do</strong><br />

circuito superior, é o artesanato. Como aborda<strong>do</strong> anteriormente, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a uma crescente<br />

organização, incentivo e investimentos, a ativida<strong>de</strong> tem se <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> cada vez mais e<br />

mostra<strong>do</strong> que há possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento baseada nos conhecimentos e culturas<br />

locais, e que não só ativida<strong>de</strong>s vindas <strong>de</strong> fora configuram possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhoria para uma<br />

cida<strong>de</strong> estagnada ou <strong>de</strong>primida economicamente. Essas ativida<strong>de</strong>s, que atingem, <strong>de</strong> certo<br />

mo<strong>do</strong>, o circuito superior, juntamente com as migrações, mantêm e fortalecem as relações e<br />

interações regionais <strong>de</strong>stes municípios.<br />

Quanto à <strong>dinâmica</strong> <strong>funcional</strong> <strong>de</strong> cada cida<strong>de</strong>, fazen<strong>do</strong> um comparativo entre as duas,<br />

verificamos que Capelinha, apesar <strong>de</strong> ser uma cida<strong>de</strong> mais nova, apresenta um<br />

<strong>de</strong>senvolvimento econômico bem maior que Minas Novas. O PIB <strong>de</strong> Capelinha é quase o<br />

<strong>do</strong>bro <strong>do</strong> PIB <strong>de</strong> Minas Novas, porém quan<strong>do</strong> se analisa o <strong>de</strong>senvolvimento social, as duas<br />

cida<strong>de</strong>s apresentam baixos indicativos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e gran<strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> renda,<br />

seguin<strong>do</strong> o mesmo perfil da região <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha. Isto <strong>de</strong>monstra que o<br />

crescimento econômico não significa necessariamente <strong>de</strong>senvolvimento social. Quanto à<br />

<strong>dinâmica</strong> populacional, Capelinha, durante to<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>, apresentou taxas <strong>de</strong><br />

crescimento consi<strong>de</strong>ravelmente superior a <strong>de</strong> Minas Novas, e em praticamente em to<strong>do</strong>s os<br />

intervalos, maior também que as taxas <strong>de</strong> crescimento da sub-região <strong>do</strong> <strong>Alto</strong> Jequitinhonha,<br />

Minas Gerais e <strong>do</strong> Brasil. Este aumento populacional é, provavelmente, reflexo <strong>do</strong><br />

crescimento econômico vivencia<strong>do</strong> pelo município que além <strong>de</strong> inibir a emigração, promoveu<br />

imigração, principalmente intra-regional. Minas Novas por sua vez, apresentou uma <strong>dinâmica</strong><br />

bem distinta, suas taxas <strong>de</strong> crescimento durante to<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong> foram bem menores<br />

que as <strong>de</strong> Capelinha, chegan<strong>do</strong> até a apresentar <strong>de</strong>créscimo populacional entre 1991 e 2000. O<br />

comportamento da <strong>dinâmica</strong> populacional <strong>de</strong> Minas Novas segue a tendência da região <strong>do</strong><br />

<strong>Vale</strong>, apresentan<strong>do</strong> taxas <strong>de</strong> crescimento bastante baixas e sal<strong>do</strong> migratório negativo.<br />

Do mesmo mo<strong>do</strong> em que movimentos populacionais se comportam <strong>de</strong> formas distintas<br />

nos municípios trabalha<strong>do</strong>s, as consequências da inserção da cafeicultura mo<strong>de</strong>rna e a<br />

silvicultura <strong>do</strong> eucalipto, duas importantes ativida<strong>de</strong>s que impactaram a região <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong><br />

Jequitinhonha, também apresentaram diferentes efeitos nas duas cida<strong>de</strong>s ao longo <strong>do</strong>s anos.<br />

Minas Novas que em um primeiro momento se <strong>de</strong>stacava na produção <strong>de</strong> café <strong>do</strong><br />

Jequitinhonha, a partir da década <strong>de</strong> 1990, per<strong>de</strong>u consi<strong>de</strong>ravelmente participação neste setor,<br />

como foi aborda<strong>do</strong> no capítulo 4. Durante a elaboração <strong>de</strong>sta pesquisa não foi possível<br />

77


constatar uma causa específica que justificasse a queda <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> Minas Novas. Já em<br />

Capelinha, entre os anos <strong>de</strong> 1990 e 1996, houve vertiginoso crescimento <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> café,<br />

o que lhe conferiu crescimento econômico, progressivo aumento e diversificação <strong>do</strong> seu<br />

espaço urbano e consequentemente das suas ativida<strong>de</strong>s terciárias, conce<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-lhe assim,<br />

centralida<strong>de</strong> na região. A silvicultura <strong>do</strong> eucalipto, em um primeiro momento, surge como<br />

uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda e possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhoria <strong>de</strong> vida para a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à<br />

venda <strong>de</strong> terras e/ou empregos gera<strong>do</strong>s. Porém, como a fase <strong>de</strong> emprego na silvicultura<br />

restringiu-se mais ao perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> implantação da espécie, a maior parte <strong>do</strong>s empregos gera<strong>do</strong>s,<br />

não se mantém e esta ativida<strong>de</strong>, associada à cafeicultura, provocaram aumento na<br />

concentração <strong>de</strong> terras na região. Em Capelinha a concentração <strong>de</strong> terras colaborou para o<br />

aumento da migração <strong>do</strong> campo para cida<strong>de</strong>, porém não <strong>de</strong>monstrou gran<strong>de</strong> emigração para<br />

outros municípios. Já em Minas Novas, a concentração <strong>de</strong> terras intensificou emigração no<br />

município, e o plantio <strong>do</strong> eucalipto incorporou mais um fator prejudicial à fertilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> solo<br />

na região.<br />

Assim, este trabalho teve o intuito <strong>de</strong> mostrar como funcionam <strong><strong>do</strong>is</strong> exemplos <strong>de</strong><br />

pequenas cida<strong>de</strong>s em uma região como o <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha. Além da abordagem da<br />

<strong>dinâmica</strong> <strong>funcional</strong> <strong>de</strong> cada município trabalha<strong>do</strong>, ao confrontar a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ambos é<br />

possível perceber como a história, inserção <strong>de</strong> novas ativida<strong>de</strong>s e organização da socieda<strong>de</strong>,<br />

impactam e influenciam as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> formas distintas. E em contrapartida, a semelhança<br />

entre processos vivencia<strong>do</strong>s por diversas cida<strong>de</strong>s faz <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caso uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

conhecimento sobre funcionamento <strong>de</strong> várias cida<strong>de</strong>s, guarda<strong>do</strong> as singularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada<br />

povo e lugar.<br />

78


REFERÊNCIAS<br />

ABREU, Mauricio <strong>de</strong> Almeida. O estu<strong>do</strong> geográfico da cida<strong>de</strong> no Brasil: evolução e<br />

avaliação. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri (Org.). Os caminhos da reflexão sobre a cida<strong>de</strong><br />

e o urbano. São Paulo: Edusp, 1994, p. 199-322.<br />

BRITO, Fausto Reynal<strong>do</strong> Alves <strong>de</strong>; HORTA, Cláudia Júlia Guimarães. Concentração<br />

Populacional e Fragmentação Político-Territorial no Brasil: o caso <strong>de</strong> Minas Gerais; Anais<br />

"Encontro Transdisciplinar - Espaço e População" e "III Encontro Nacional sobre Migrações";<br />

2003. Disponível em:<br />

. Acesso em:<br />

12 mar. 2010.<br />

CARLOS, Ana Fani A. A (Re) produção <strong>do</strong> Espaço Urbano. São Paulo, Edusp, 1994.<br />

CNM - Confe<strong>de</strong>ração Nacional <strong>do</strong>s Municípios. Disponível em: .<br />

Acesso em: 15 jun. 2010.<br />

CORRÊA, Roberto Lobato .Globalização e Reestruturação da re<strong>de</strong> urbana: uma nota sobre<br />

pequenas cida<strong>de</strong>s. Território/Lajet, Rio <strong>de</strong> Janeiro, n.6, p.43-53. jan/jun, 1999.<br />

CORRÊA, Roberto Lobato. As Pequenas Cida<strong>de</strong>s na Confluência <strong>do</strong> Urbano e <strong>do</strong> Rural. In:<br />

CONFERÊNCIA DE ABERTURA DO 2º SIMPÓSIO NACIONAL O RURAL E O<br />

URBANO NO BRASIL (SINARUB), 2, 2009. Rio <strong>de</strong> Janeiro. Não publica<strong>do</strong>.<br />

DAMIANI, Amélia Luisa. Cida<strong>de</strong>s médias e pequenas no processo <strong>de</strong> globalização.<br />

Apontamentos bibliográficos. En publicacion: América Latina: cida<strong>de</strong>, campo e turismo.<br />

CLACSO, Consejo Latinoamericano <strong>de</strong> Ciencias Sociales, San Pablo. 2006. Disponível em:<br />

http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/edicion/lemos/08damiani.pdf. Acesso em: 05fev.<br />

2010.<br />

EMBRAPA. Unaí se <strong>de</strong>staca como o principal Pólo da cultura feijoeira <strong>do</strong> Brasil. Disponível<br />

em: < http://www.embrapa.gov.br/imprensa/noticias/2004/abril/bn.2004-11-<br />

25.8615258543/>. Acesso em: 10 set. 2010.<br />

FERREIRA, Andre Velloso Batista. A formação da re<strong>de</strong> urbana no <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha<br />

(Minas Gerais). 1999. 104p. Dissertação (mestra<strong>do</strong>) - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais,<br />

Departamento <strong>de</strong> Geografia. Belo Horizonte.<br />

GOVERNO FEDERAL DE MINAS GERAIS. Mesorregiões e microrregiões. Disponível<br />

em:<br />

Acesso em: 17<br />

mar. 2010.<br />

HORTA, Célio Augusto da Cunha; DIAS, Márcia Soares. Trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Café no <strong>Vale</strong> <strong>do</strong><br />

Jequitinhonha: Uma Análise Geográfica. Ca<strong>de</strong>rnos <strong>do</strong> Leste, Belo Horizonte, v. 1, n. 4, out.<br />

2002.<br />

79


IBGE. Cida<strong>de</strong>s. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/cida<strong>de</strong>sat/topwin<strong>do</strong>w.htm?1>.<br />

Acesso em: 15 jun. 2010.<br />

MATOS, RALFO EDMUNDO DA SILVA; UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS<br />

GERAIS. Reestruturação sócio - espacial e <strong>de</strong>senvolvimento regional <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong><br />

Jequitinhonha. Belo Horizonte: <strong>UFMG</strong>/IGC/LESTE, 1999.<br />

MATOS, Ralfo Edmun<strong>do</strong> S.; FERREIRA, André V. B. Geo - História <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong><br />

Jequitinhonha: origem e formação da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s. Ca<strong>de</strong>rnos <strong>do</strong> Leste, Belo Horizonte, v.<br />

1, n. 2, p. 1-17, out. 2000.<br />

MATOS, Ralfo; GARCIA, Ricar<strong>do</strong>. A população <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha. In: Org.<br />

SOUZA,J.; HENRIQUES, M.<strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha: Formação Histórica, Populações e<br />

Movimentos. Belo Horizonte: PROEX <strong>UFMG</strong>, 2010.p.97-127.<br />

NOGUEIRA, Renata Fraga. Mesorregiões <strong>de</strong> Minas Gerais. Belo Horizonte, 2010. Mapa das<br />

mesorregiões <strong>de</strong> Minas Gerais. Escala 1:7.000.000. Não publica<strong>do</strong>.<br />

NOGUEIRA, Renata Fraga. Principais Municípios <strong>do</strong> <strong>Alto</strong> Jequitinhonha. Belo Horizonte,<br />

2010. Mapa ro<strong>do</strong>viário. Escala 1:1.250.000. Não publica<strong>do</strong>.<br />

NOGUEIRA, Renata Fraga. Localização da área <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>. Belo Horizonte, 2010. Mapa<br />

político. Escala 1:1.250.000. Não publica<strong>do</strong>.<br />

NUNES, Marcos Antonio. Estruturação e reestruturações territoriais da região <strong>do</strong><br />

Jequitinhonha em Minas Gerais. 2001.206 p. Dissertação (mestra<strong>do</strong>) - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

<strong>de</strong> Minas Gerais, Departamento <strong>de</strong> Geografia. Belo Horizonte.<br />

PAULA, M.F.M, SIMÕES, R. Estrutura Agropecuária e Re<strong>de</strong> Urbana: Uma Análise<br />

Multivariada <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha/MG. In: Seminário sobre a Economia Mineira, 12,<br />

Diamantina, 2006. Disponível em: <<br />

http://www.ce<strong>de</strong>plar.ufmg.br/seminarios/seminario_diamantina/2006/D06A093.pdf>.<br />

Acessa<strong>do</strong> em: 01 jun 2010.<br />

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Disponível em:<br />

. Acesso em: 15 jun. 2010.<br />

Pólo Jequitinhonha/<strong>UFMG</strong>. Conhecimentos sobre o <strong>Vale</strong>. Disponível em: <<br />

http://www.ufmg.br/polojequitinhonha/conhecimento.php>. Acessa<strong>do</strong> em 29 maio 2010.<br />

PORTAL CAPELINHA. História da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Capelinha. Disponível em: <<br />

http://www.portalcapelinha.com.br/?cliente=Materias/Capelinha/capelinha.php >. Acessa<strong>do</strong>:<br />

19 mar. 2010.<br />

SANTOS, Milton. O espaço dividi<strong>do</strong>. Os <strong><strong>do</strong>is</strong> circuitos da economia urbana <strong>do</strong>s países<br />

sub<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Francisco Alves, 1979a (Coleção Ciências Sociais).<br />

SANTOS, Milton. Economia espacial: críticas e alternativas. SP: Hucitec, 1979b.<br />

SANTOS, Milton. A urbanização brasileira. São Paulo: Hucitec, 1993.<br />

80


SANTOS, Milton, SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e socieda<strong>de</strong> no início <strong>do</strong><br />

século XXI. Editora Record, São Paulo, 2001.<br />

SANTOS, Milton. Metamorfoses <strong>do</strong> espaço habita<strong>do</strong>. 6. ed.São Paulo: Edusp, 2008.<br />

SEBRAE-MG. Do barro, à vida. Artesãos <strong>de</strong> Minas Novas colhem os primeiros resulta<strong>do</strong>s da<br />

profissionalização. Passo a Passo, n. 120, p.14-17, jul. /ago. 2006. Disponível em:<br />

<br />

Acessa<strong>do</strong> em: 01 jun. 2010.<br />

SETUR – Secretaria <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Turismo <strong>de</strong> Minas Gerais. Circuito Turístico das Pedras<br />

Preciosas. Disponível em:.<br />

Acessa<strong>do</strong> em: 11 maio 2010.<br />

SOUZA, João. Introdução. In: Org. SOUZA,J.; HENRIQUES, M.<strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha:<br />

Formação Histórica, Populações e Movimentos. Belo Horizonte: PROEX <strong>UFMG</strong>, 2010.p.11-<br />

24.<br />

81

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!