A Volta do Marido Pródigo: intertextos em cena
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narrativa curta, própria de um conto, escreve uma narrativa extensa, cheia de ação, descrições<br />
e humor.<br />
Paulo Hecker Filho (1987, p. 5), “s<strong>em</strong> se deixar levar pelas interpretações” (como ele<br />
mesmo diz no prefácio), traz de volta à <strong>cena</strong> da arte brasileira, o mulato Laio, agora, com um<br />
conjunto de sapos mais evidentes (O Sapo Grande e outros três). Uma hora depois <strong>do</strong> conto,<br />
se passa as ações <strong>do</strong> texto teatral: no conto a saga inicia às “dez horas da manhã”; e na<br />
adaptação, “às onze horas da amanhã”, o que parece sugerir poucas mudanças na adaptação.<br />
O narra<strong>do</strong>r <strong>do</strong> conto aparece no texto de Hecker como a figura dramática ALTO-<br />
FALANTE. Normalmente, de acor<strong>do</strong> com Brook (1970), o texto teatral dispensa o narra<strong>do</strong>r,<br />
porque no teatro a história não é contada, mas, sim, mostrada pelas personagens vividas pelos<br />
atores. Entretanto, Hecker não dispensa o narra<strong>do</strong>r (que é o alto-falante), os diálogos e as<br />
rubricas (didascálias) que já constituíam el<strong>em</strong>entos de ação dramática no conto rosiano.<br />
As rubricas (didascálias), segun<strong>do</strong> Brook (1970), são el<strong>em</strong>entos <strong>do</strong> teatro que<br />
orientam os atores sobre o momento de proceder no palco. Contu<strong>do</strong>, Rosa <strong>em</strong> seu conto já<br />
utilizava este recurso entre parênteses: “(Correia tinha feito uma cara ruim...); (Generoso<br />
aceita, calada a boca)” (ROSA, 2001, p. 103-104). Essas frases ou palavras indican<strong>do</strong> o<br />
ambiente, a época, os costumes, os gestos, os objetos e entonações de voz <strong>do</strong>s atores grafadas<br />
entre parênteses, também, foram reutilizadas no texto de Paulo Hecker s<strong>em</strong> negrito para<br />
diferenciar das falas grafadas <strong>em</strong> negrito.<br />
Paulo Hecker Filho, <strong>em</strong> relação às falas, apenas tirou os sinais de travessões que<br />
indicam início das falas das personagens no conto, e utilizou a separação por nomes de<br />
personagens grafadas com letras maiúsculas: OS SAPOS, ALTO-FALANTE, BASTIÃO,<br />
ESTEVÃO, MARRA, GENEROSO, CORREIA, LAIO, RAMIRO, MARIA RITA, JIJO,<br />
OSCAR, ANACLETO, LAUDÔNIO, VIGÁRIO, SECRETÁRIO DO INTERIOR. Também,<br />
ao invés de dividir o texto <strong>em</strong> IX capítulos, dividiu-o <strong>em</strong> <strong>do</strong>is Atos: Primeiro Ato, A<br />
PARTIDA, p. 11; Segun<strong>do</strong> Ato, A VOLTA, p. 51.<br />
Assim há apenas um encontro, uma volta realmente <strong>do</strong> conto rosiano ao roteiro<br />
teatral de Hecker. <strong>Volta</strong>ram os gestos, as rubricas, as falas idênticas (exceto <strong>do</strong>s sapos que<br />
foram acresci<strong>do</strong>s numa referência a SAGARANA), os repertórios musicais... Os gestos<br />
continuam não enclausura<strong>do</strong>s pelas palavras! Cada um t<strong>em</strong> o seu lugar importante. Agora os<br />
sapos, na adaptação, ocuparam uma posição mais “elevada”: iniciar e terminar o drama.<br />
O crítico Paulo Hecker Filho interessou pelos sapos que estavam diluí<strong>do</strong>s no conto e<br />
assim ressaltou a qualidade da en<strong>cena</strong>ção. No conto, o sapo era um intertexto. Na peça teatral,<br />
uma das personagens mais importantes acopla<strong>do</strong> a Laio (o Sapo Grande). Como na análise<br />
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