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VULTOS DA<br />
ETERNIDADE RL<br />
#36 | AO LARGO<br />
CRÓNICA60<br />
Pare<strong>de</strong> da <strong>Re</strong>pública Prá-Kys-Tão - foto: Henrique Patrício<br />
GABRIEL BRANDÃO *<br />
o calor me fazia lembrar <strong>de</strong> minha terra natal. se fechasse os olhos po<strong>de</strong>ria ainda sentir a alma do brasil neste ar quente e<br />
hospitaleiro. impelido pelo meu instinto boêmio, caminhava <strong>de</strong> madrugada por entre as ruelas <strong>de</strong> Coimbra a contemplar<br />
os casarões, os monumentos e alguns estudantes que passavam ao longe, com suas vestimentas típicas. sentei-me num<br />
canto da praça d.dinis, enquanto fumava um cigarro. a fumaça subia, ondulava no ar e, junto com ela, via a monumental<br />
estátua, porém menos rígida, <strong>de</strong> certa forma fluida... ondulava, também, num misto <strong>de</strong> passado e futuro, característica da<br />
cida<strong>de</strong>. Contemplava vultos <strong>de</strong> pessoas que se foram e outras que ainda estão por vir. Via, também, os primeiros estudantes,<br />
os primeiros sábios, os primeiros professores. Via vultos <strong>de</strong> tempos em que minha terra ainda jazia oculta na distante<br />
américa. o espírito ousado <strong>de</strong>ssa cida<strong>de</strong> só veio a reforçar a minha fé <strong>de</strong> que aquele que se aventura nos <strong>de</strong>leites e nos<br />
escuros labirintos do pensamento tudo po<strong>de</strong> e tudo quer. a ousadia é apenas um sinal externo <strong>de</strong>ssa empreitada íntima.<br />
uma terra que ousou lançar luz sobre uma europa ainda em trevas, sempre pioneira e, paradoxalmente, sempre tradicional.<br />
em cada toga que passava apressada por mim, distinguia em seu negro mais do que aquilo que um olhar <strong>de</strong>satento<br />
veria. podia sentir e vivenciar sinas do passado a conversar comigo, como se ainda existissem. o negro da toga se fundia<br />
com o céu escuro e suas estrelas eram como seu passado longínquo, sempre a brilhar, eternas máquinas do tempo, retrato<br />
<strong>de</strong> uma luz antiga que nunca cessa <strong>de</strong> existir.<br />
Cansado <strong>de</strong> <strong>de</strong>vaneios, <strong>de</strong>sci as escada. Já era bem tar<strong>de</strong>, mas alguns jovens ainda faziam barulho num lugar distante.<br />
ouvia vozes como numa torre <strong>de</strong> babel mo<strong>de</strong>rna, via conviverem em paz culturas das mais variadas e isso me fazia ter<br />
esperança num mundo <strong>de</strong> harmonia, infelizmente, ainda tão distante... Coimbra é, assim, um misto <strong>de</strong> utopia e racionalida<strong>de</strong>,<br />
essência <strong>de</strong> toda alma poética.<br />
Fui à praça da república, mas antes pu<strong>de</strong> observar uma bela muralha medieval - tinha um aspecto meio árabe, meio<br />
europeu, o mesmo que pu<strong>de</strong> perceber nas peles douradas e cabelos ondulados das belas mulheres que conheci aqui...<br />
uma cida<strong>de</strong> cosmopolita <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua gênese.<br />
Finalmente, quando <strong>de</strong>itei em minha cama, senti que ao passar por aqui, eu também me eternizava. mais um vulto nessa<br />
cida<strong>de</strong>, ponto <strong>de</strong> parada obrigatório da estrada da humanida<strong>de</strong>.<br />
* estudante <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong>, da universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Juíz <strong>de</strong> Fora, brasil.