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As MonuMentAis<br />

como mural político?<br />

AlexAndre libório diAs PereirA*<br />

as escadas monumentais po<strong>de</strong>m ser usadas como mural político? esta questão coloca em confronto dois valores fundamentais:<br />

a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão política, por um lado, e a preservação do património universitário do estado, por outro.<br />

em nossa opinião, as monumentais <strong>de</strong>vem po<strong>de</strong>r ser usadas como mural político, na medida em que sejam observadas<br />

certas condições. <strong>de</strong>signadamente <strong>de</strong>verá ser assegurado o pluralismo <strong>de</strong> expressão política, respeitada a integrida<strong>de</strong><br />

do património, e protegida a segurança dos transeuntes. as reflexões seguintes dirigem-se apenas às monumentais,<br />

tendo em conta a sua origem e evolução enquanto mural da aca<strong>de</strong>mia Conimbricense.<br />

na sua génese, as escadas monumentais são um símbolo político. a imponência da escadaria, sublimada por duas enormes<br />

esferas no topo, representa o árduo e penoso caminho da formação académica, qual ‘teste <strong>de</strong> resistência’ que o estudante<br />

universitário <strong>de</strong>ve passar no seu dia-a-dia. e que talvez aju<strong>de</strong> a compreen<strong>de</strong>r a vocação das monumentais enquanto espaço<br />

privilegiado dos protestos estudantis…<br />

nesta or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, proibir os estudantes <strong>de</strong> usarem as monumentais como mural político em nome da preservação<br />

do património seria como proibir as serenatas em nome do direito ao sossego!...<br />

mas quer isto dizer que em princípio <strong>de</strong>ve ser proibido o uso das monumentais como mural político, só sendo permitido,<br />

excecionalmente, aos estudantes, em respeito pelos seus usos e costumes académicos?<br />

não nos parece que o uso das monumentais como mural político <strong>de</strong>va ser privilégio dos estudantes da universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Coimbra (uC). <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo porque a aca<strong>de</strong>mia não é apenas dos estudantes, já que a compõem também professores, investigadores,<br />

funcionários. e se Coimbra é a Cida<strong>de</strong> dos estudantes, não é menos verda<strong>de</strong> que a aca<strong>de</strong>mia está ao serviço do país,<br />

da europa, senão mesmo do mundo – tenha-se em mente a proveniência dos estudantes que procuram Coimbra para obter<br />

formação <strong>de</strong> nível universitário.<br />

por outro lado, não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rada a gran<strong>de</strong> aptidão das monumentais enquanto veículo <strong>de</strong> manifestações não apenas<br />

políticas, mas também artísticas e culturais. os cinco lances <strong>de</strong> escadas assemelham-se a cinco auditórios ao ar livre, para<br />

teatro, música ou dança. a extensão da escadaria permite a colocação <strong>de</strong> mensagens políticas ou artísticas dos mais diversos<br />

quadrantes, dispensando o recurso a painéis publicitários que pouco beneficiam a paisagem.<br />

não obstante, parece-nos <strong>de</strong>sejável um serviço <strong>de</strong> gestão da utilização das monumentais como mural político ou artístico.<br />

<strong>de</strong> modo a assegurar que todos os interessados têm a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> colocar as suas mensagens, <strong>de</strong>signadamente<br />

na forma <strong>de</strong> pinturas, e para evitar a sua monopolização por um único movimento ou partido. e para verificar se a utilização<br />

pretendida é suscetível <strong>de</strong> danificar a escadaria e/ou <strong>de</strong> por em risco a integrida<strong>de</strong> física e moral dos caminhantes.<br />

a questão do pluralismo político (ou artístico) é crucial. afirmar que as pinturas políticas nas monumentais não as <strong>de</strong>sfiguram<br />

nem lhes retiram dignida<strong>de</strong> enquanto monumento universitário não significa tratar as monumentais como res nullius<br />

em estado <strong>de</strong> natureza, suscetíveis <strong>de</strong> livre apropriação. <strong>de</strong>ve ser garantido a todos os interessados a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazerem<br />

uso das monumentais como mural político ou artístico mediante registo, com antecedência conveniente, junto <strong>de</strong> um<br />

gabinete da uC. e, eventualmente, po<strong>de</strong>ria ser criada uma taxa mo<strong>de</strong>radora pela utilização das monumentais como mural,<br />

mormente pelo licenciamento da sua utilização suporte publicitário. ao serviço competente pela gestão do espaço caberia<br />

ainda controlar a perigosida<strong>de</strong> da utilização pretendida, <strong>de</strong> modo a prevenir danos à escadaria e aci<strong>de</strong>ntes aos transeuntes.<br />

* Professor auxiliar da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> direito.<br />

I

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