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Metodos de controle dos microorganismos - UFSM

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CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS<br />

Departamento <strong>de</strong> Microbiologia e Parasitologia<br />

Disciplina <strong>de</strong> Microbiologia Geral<br />

MÉTODOS DE CONTROLE DOS MICROORGANISMOS. (1.4)<br />

1. INTRODUÇÃO.<br />

A ciência para o <strong>controle</strong> do crescimento microbiano teve início a cerca <strong>de</strong> 100<br />

anos, quando Pasteur levou os pesquisadores a acreditarem que os micróbios seriam uma<br />

possível causa das doenças.<br />

Na meta<strong>de</strong> do século XIX, o médico húngaro Ignaz Semmelweis e o médico<br />

inglês Joseph Lister utilizaram algumas das primeiras práticas <strong>de</strong> <strong>controle</strong> microbiano<br />

para procedimentos médicos. Essas práticas incluíam a lavagem das mãos com<br />

hipoclorito <strong>de</strong> cálcio e a utilização <strong>de</strong> técnicas cirúrgicas assépticas. Até aquele momento<br />

as infecções nosocomiais matavam pelo menos 10% <strong>dos</strong> pacientes cirúrgicos e 25% das<br />

parturientes. A ignorância a respeito <strong>dos</strong> <strong>microorganismos</strong> era tanta que, durante a Guerra<br />

Civil Americana, não era incomum um cirurgião limpar seu bisturi, entre as incisões, na<br />

sola <strong>de</strong> sua bota.<br />

A prevenção e o <strong>controle</strong> <strong>de</strong> enfermida<strong>de</strong>s infecciosas po<strong>de</strong>m ser eficientemente<br />

realiza<strong>dos</strong> mediante aplicação <strong>de</strong> agentes químicos ou físicos sobre os <strong>microorganismos</strong><br />

antes que estes entrem em contato com os hospe<strong>de</strong>iros, ou antes que atravessem a barreira<br />

cutânea. Tais procedimentos po<strong>de</strong>m ser utiliza<strong>dos</strong> sobre os alimentos, água, objetos em<br />

geral ou sobre a pele/mucosa. A natureza do agente a ser utilizado (físico ou químico),<br />

seu tipo específico (grupo a que pertence) e sua intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aplicação têm <strong>de</strong> ser<br />

apropria<strong>dos</strong> para a natureza do material que se vai submeter ao tratamento, bem como<br />

<strong>de</strong>vem ser condizentes com o grau <strong>de</strong> eliminação <strong>dos</strong> <strong>microorganismos</strong> que se almeja<br />

alcançar. Assim sendo, po<strong>de</strong>-se planejar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> uma inativação seletiva, até uma<br />

<strong>de</strong>struição completa <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os micróbios presentes no local. Sendo assim faz-se<br />

necessário conceituar alguns vocábulos essenciais e fazer consi<strong>de</strong>rações básicas sobre os<br />

mesmos.<br />

2. TERMINOLOGIAS DO CONTROLE BACTERIANO.<br />

a) Esterilização: é a <strong>de</strong>struição ou remoção <strong>dos</strong> <strong>microorganismos</strong> patogênicos e<br />

não patogênicos (todas as formas <strong>de</strong> vida) <strong>de</strong> um objeto ou material. Este processo po<strong>de</strong><br />

ser executado mediante emprego <strong>de</strong> méto<strong>dos</strong> químicos ou físicos. O aquecimento é o<br />

método mais comumente utilizado para matar os <strong>microorganismos</strong>, incluindo as formas<br />

mais resistentes, como os en<strong>dos</strong>poros. É um processo absoluto, não havendo graus <strong>de</strong><br />

esterilização. Ex: instrumental cirúrgico para a realização do procedimento operatório.<br />

b) Desinfecção: é o emprego <strong>de</strong> méto<strong>dos</strong> químicos ou físicos com vistas a <strong>de</strong>struir<br />

ou inibir <strong>microorganismos</strong> patogênicos em objetos inanima<strong>dos</strong> (superfícies) ou em<br />

ambiente. Ex: salas cirúrgicas e baias.<br />

c) Antissepsia: é a manobra que promove a <strong>de</strong>struição ou inativação <strong>dos</strong><br />

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<strong>microorganismos</strong> (<strong>de</strong>sinfecção química) da pele, mucosas e outros teci<strong>dos</strong> vivos animais<br />

ou humanos. Ex: antissepsia das mãos do cirurgião. O produto químico utilizado para a<br />

antissepsia é <strong>de</strong>nominado antisséptico.<br />

OBS: a <strong>de</strong>sinfecção difere da antissepsia pelo fato <strong>de</strong> esta segunda se referir<br />

apenas aos teci<strong>dos</strong> vivos, por isso <strong>de</strong>ve se evitar o uso <strong>de</strong> expressões tais como<br />

“<strong>de</strong>sinfecção da pele ou ferida”, ou mesmo, “antissepsia <strong>de</strong> um instrumental cirúrgico”; o<br />

correto é dizer “antissepsia da pele ou da ferida” e “<strong>de</strong>sinfecção do instrumental<br />

cirúrgico”.<br />

d) Assepsia: é o conjunto <strong>de</strong> procedimentos que se empregam para evitar a<br />

infecção <strong>dos</strong> teci<strong>dos</strong> durante as intervenções cirúrgicas. Engloba as manobras <strong>de</strong><br />

esterilização, <strong>de</strong>sinfecção e anti-sepsia.<br />

e) Degermação: retirada <strong>dos</strong> <strong>microorganismos</strong> da pele por meio da remoção<br />

mecânica ou pelo uso <strong>de</strong> antissépticos. Ex: o ato <strong>de</strong> passar o algodão embebido em<br />

álcool-iodado na pele antes da aplicação <strong>de</strong> uma injeção.<br />

f) Germicida ou Biocida: agentes químicos (ou físicos) que são capazes <strong>de</strong> matar<br />

os <strong>microorganismos</strong>. Ex: bactericida é o que mata a bactéria, virucida é o que mata os<br />

vírus, fungicida é o que mata os fungos e esporocida é o que mata os esporos.<br />

Os termos bacteriostático e fungiostático <strong>de</strong>signam os compostos químicos que<br />

apresentam a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> inibir o crescimento e a multiplicação das bactérias e<br />

fungos, respectivamente. O termo virustático <strong>de</strong>ve ser utilizado para os medicamentos<br />

que são emprega<strong>dos</strong> parenteralmente, tendo em vista que, não ocorre a multiplicação viral<br />

fora das células.<br />

g) Sanitização: <strong>de</strong>signa o tratamento, em nível industrial, que leva à diminuição<br />

da população microbiana nos alimentos não processa<strong>dos</strong>, em utensílios para a<br />

manipulação <strong>dos</strong> alimentos, até atingir um padrão seguro para a saú<strong>de</strong> pública. EX:<br />

lavagens em altas temperaturas, imersão em <strong>de</strong>sinfetantes químicos (sanitizantes).<br />

h) Sepse ou septicemia: indica contaminação bacteriana grave do organismo por<br />

micróbios patogênicos.<br />

3. MÉTODOS DE CONTROLE E ELIMINAÇÃO MICROBIANA.<br />

Os méto<strong>dos</strong> <strong>de</strong> <strong>controle</strong> e eliminação <strong>de</strong> <strong>microorganismos</strong> em objetos (incluindo<br />

alimentos), ambientes e superfície corporal diferem conforme a natureza do micróbio,<br />

bem como do item a ser higienizado. Existe uma variação muito gran<strong>de</strong> entre os<br />

<strong>microorganismos</strong> quanto à sensibilida<strong>de</strong> aos méto<strong>dos</strong> emprega<strong>dos</strong> para o <strong>controle</strong> e<br />

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eliminação <strong>dos</strong> mesmos. Deve-se observar o fato <strong>de</strong> que, a princípio, o termo “<strong>controle</strong>”<br />

se refere aos méto<strong>dos</strong> que visam reduzir a população microbiana a quantida<strong>de</strong>s toleráveis<br />

ou, então, estratégias que impe<strong>de</strong>m a referida população <strong>de</strong> crescer além <strong>dos</strong> limites<br />

aceitáveis. Já a palavra “eliminação” significa extermínio total <strong>dos</strong> <strong>microorganismos</strong> em<br />

<strong>de</strong>terminado local.<br />

Em uma visão global, os principais méto<strong>dos</strong> físicos e químicos, não<br />

quimioterápicos, para o <strong>controle</strong> e eliminação microbiana são:<br />

3.1 – MÉTODOS FÍSICOS.<br />

a) Temperatura: o calor constitui um <strong>dos</strong> mais importantes méto<strong>dos</strong> emprega<strong>dos</strong><br />

para o <strong>controle</strong> do crescimento e para a eliminação <strong>de</strong> <strong>microorganismos</strong>. É um <strong>dos</strong><br />

méto<strong>dos</strong> preferenciais por ser eficiente contra os micróbios, relativamente seguro para<br />

quem o executa, ter custo baixo e por não formar produtos tóxicos. Da mesma forma o<br />

método que se baseia nas baixas temperaturas se apresenta seguro para quem o usa e não<br />

forma produtos nocivos.<br />

O calor aparentemente mata os <strong>microorganismos</strong> pela <strong>de</strong>snaturação <strong>de</strong> suas<br />

enzimas, que resulta na mudança tridimensional <strong>de</strong>ssas proteínas, inativando-as. A<br />

resistência ao calor varia entre os diferentes <strong>microorganismos</strong>, e essas diferenças po<strong>de</strong>m<br />

ser expressas pelo conceito <strong>de</strong> ponto <strong>de</strong> morte térmica (PMT). O PMT é a menor<br />

temperatura em que to<strong>dos</strong> os <strong>microorganismos</strong> em uma suspensão líquida específica<br />

serão mortos em 10 minutos. Outro fator a ser consi<strong>de</strong>rado no processo <strong>de</strong> esterilização é<br />

o tempo requerido para o material se tornar estéril. Esse período é expresso como tempo<br />

<strong>de</strong> morte térmica (TMT), que <strong>de</strong>signa o tempo mínimo em que todas as bactérias em<br />

uma <strong>de</strong>terminada cultura líquida específica serão mortas, em uma <strong>de</strong>terminada<br />

temperatura.<br />

Esterilização pelo calor: distinguem-se o calor úmido e o calor seco. O calor<br />

úmido é a água ou o vapor <strong>de</strong> água a alta temperatura, possui maior po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> penetração<br />

comparativamente ao calor seco. O quadro 07, abaixo, especifica as diferentes formas <strong>de</strong><br />

<strong>controle</strong> microbiano pelo uso <strong>de</strong> calor úmido.<br />

Quadro 07 – Méto<strong>dos</strong> físicos <strong>de</strong> calor úmido emprega<strong>dos</strong> para o <strong>controle</strong><br />

microbiano.<br />

MÉTODO MECANISMO DE COMENTÁRIOS USO<br />

AÇÃO<br />

PREFERENCIAL<br />

Fervura Desnaturação <strong>de</strong> Destrói bactérias, Processo <strong>de</strong><br />

proteínas.<br />

fungos e muitos <strong>de</strong>sinfecção <strong>de</strong> larga<br />

vírus ao redor <strong>de</strong> 15<br />

minutos. Não é<br />

eficaz para to<strong>dos</strong> os<br />

endósporos.<br />

utilização caseira.<br />

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Autoclavação Desnaturação <strong>de</strong><br />

proteínas.<br />

Pasteurização Desnaturação <strong>de</strong><br />

proteínas.<br />

4<br />

Método eficaz <strong>de</strong><br />

esterilização. Devese<br />

observar o<br />

trinômio: tempo X<br />

temp. X pressão<br />

Mata bactérias<br />

patogênicas<br />

eventualmente<br />

transmissíveis pelo<br />

leite e reduz o<br />

número <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os<br />

<strong>microorganismos</strong><br />

presentes.<br />

Meios <strong>de</strong> cultura,<br />

soluções, utensílios<br />

e instrumentais.<br />

Leite, creme <strong>de</strong><br />

leite, cerveja, vinho,<br />

etc.<br />

A autoclavação requer um equipamento chamado autoclave, e a esterilização é<br />

alcançada após 45 minutos a 115ºC, ou 15 minutos a 121ºC. A pasteurização é um<br />

procedimento usado principalmente na indústria, para o tratamento em alimentos e<br />

<strong>controle</strong> da população microbiana, mas preservando boa parte <strong>de</strong> importantes substâncias<br />

nutrientes. O alimento é submetido ao calor, seguido <strong>de</strong> resfriamento brusco. São<br />

basicamente três tipos <strong>de</strong> pasteurização: temperatura ultra-alta (ultra-high temperature –<br />

UHT), 141ºC por 2 segun<strong>dos</strong>; alta temperatura por curto tempo (high temperature short<br />

time – HTST), 72ºC por 15 segun<strong>dos</strong>; baixa temperatura (low temperature – LT), 63ºC<br />

por 30 minutos.<br />

Entre os méto<strong>dos</strong> <strong>de</strong> calor seco emprega<strong>dos</strong> para o <strong>controle</strong> <strong>dos</strong> <strong>microorganismos</strong><br />

temos os seguintes (Quadro 08).<br />

Quadro 08 – Méto<strong>dos</strong> físicos <strong>de</strong> calor seco emprega<strong>dos</strong> para o <strong>controle</strong><br />

microbiano.<br />

MÉTODO MECANISMO DE COMENTÁRIOS USO<br />

AÇÃO<br />

PREFERENCIAL<br />

Flambagem Oxidação <strong>de</strong> todo Método eficaz <strong>de</strong> Alça e fio <strong>de</strong><br />

material.<br />

esterilização. platina.<br />

Incineração Oxidação do<br />

material até tornar<br />

cinzas.<br />

Método eficaz <strong>de</strong><br />

esterilização.<br />

Estufas/fornos Oxidação. Méto<strong>dos</strong> <strong>de</strong><br />

esterilização (tempo<br />

X Temperatura).<br />

Papéis, carcaças <strong>de</strong><br />

animais, restos <strong>de</strong><br />

curativos e outros<br />

materiais<br />

hospitalares<br />

<strong>de</strong>scartáveis.<br />

Vidrarias e outros<br />

materiais resistentes<br />

ao calor.<br />

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O calor seco mata os <strong>microorganismos</strong> por efeitos <strong>de</strong> oxidação. Uma analogia<br />

simples é a lenta carbonização do papel em um forno aquecido, mesmo quando a<br />

temperatura permanece abaixo do ponto <strong>de</strong> ignição do papel. Um <strong>dos</strong> méto<strong>dos</strong> mais<br />

simples <strong>de</strong> esterilização com calor seco é a chama direta ou flambagem, o qual será<br />

utilizado muitas vezes no laboratório <strong>de</strong> microbiologia para a esterilização das alças <strong>de</strong><br />

inoculação. E para que o processo <strong>de</strong> esterilização seja efetivo neste processo, a alça <strong>de</strong><br />

inoculação <strong>de</strong>verá ser aquecida até a obtenção <strong>de</strong> um brilho vermelho (incan<strong>de</strong>scente).<br />

Baixas temperaturas: atuam principalmente mediante redução da ativida<strong>de</strong><br />

enzimática microbiana, o que diminui sua taxa metabólica e velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento.<br />

No geral as baixas temperaturas são utilizadas apenas como método <strong>de</strong> preservação <strong>dos</strong><br />

<strong>microorganismos</strong>, embora, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aplicação, po<strong>de</strong>rá acarretar na<br />

morte <strong>de</strong> alguns <strong>microorganismos</strong>. Os méto<strong>dos</strong> mais emprega<strong>dos</strong> são:<br />

• Refrigeração – usado principalmente nas residências e nos estabelecimentos <strong>de</strong><br />

comercialização <strong>de</strong> alimentos. Possui efeito bacteriostático e fungiostático, mas na<br />

presença <strong>de</strong> <strong>microorganismos</strong> psicrófilos e psicotróficos (<strong>microorganismos</strong> que se<br />

multiplicam bem em ambientes refrigera<strong>dos</strong>, sendo os principais agentes <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terioração <strong>de</strong> carnes e pesca<strong>dos</strong>, ovos entre outros) promovem alteração do sabor<br />

<strong>dos</strong> alimentos, após algum tempo. Ex.: Pseudomonas, Yersinia, Enterobacter.<br />

• Congelamento – utilizam-se temperaturas abaixo <strong>de</strong> 0ºC. O congelamento rápido<br />

ten<strong>de</strong> a inibir as bactérias sem matá-las (nitrogênio líquido, - 179ºC). No<br />

congelamento lento, cristais <strong>de</strong> gelo se formam e crescem, rompendo as estruturas<br />

celulares <strong>de</strong> bactérias e fungos. O congelamento (em torno <strong>de</strong> -16 a -20ºC) constitui<br />

um eficiente recurso para a conservação <strong>de</strong> alimentos por longos perío<strong>dos</strong>, sobretudo<br />

carnes e <strong>de</strong>riva<strong>dos</strong>.<br />

b) Radiações: <strong>de</strong>terminadas radiações eletromagnéticas, ionizantes e não<br />

ionizantes são capazes <strong>de</strong> inativar (matar) <strong>de</strong> forma eficaz os <strong>microorganismos</strong>. Possuem<br />

<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> seus afeitos quanto ao comprimento <strong>de</strong> onda, da intensida<strong>de</strong>, duração e<br />

distância da fonte.<br />

Existem dois tipos <strong>de</strong> radiação que possuem efeito <strong>de</strong> esterilização:<br />

• A radiação ionizante – são utiliza<strong>dos</strong> isótopos radioativos que emitem radiação,<br />

como por exemplo, as radiações gama. Esse tipo <strong>de</strong> radiação possui comprimento <strong>de</strong><br />

onda mais curto e carrega mais energia do que a radiação não-ionizante. O principal<br />

efeito da radiação ionizante é a morte ou inativação do microrganismo, através da<br />

<strong>de</strong>struição do DNA celular. Produtos hospitalares <strong>de</strong>scartáveis como seringas<br />

plásticas, luvas, cateteres, fios e suturas são esteriliza<strong>dos</strong> por este método. A<br />

industria <strong>de</strong> alimentos renovou recentemente seu interesse no uso da radiação para a<br />

conservação <strong>de</strong> alimentos. Como forma <strong>de</strong> proteção contra o bioterrorismo, em<br />

alguns países os correios usam com frequência essa radiação para esterilizar certos<br />

tipos <strong>de</strong> correspondências.<br />

• A radiação não ionizante – utilizam-se radiações com comprimento <strong>de</strong> onda<br />

mais longo (acima <strong>de</strong> 1 nm), como a luz ultra-violeta (UV), que provoca alteração no<br />

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DNA. As lâmpadas germicidas são empregadas para o <strong>controle</strong> <strong>dos</strong> microrganismos<br />

no ar e são encontradas em centros cirúrgicos, enfermarias, berçários, capelas <strong>de</strong><br />

fluxo laminar, etc. As <strong>de</strong>svantagens do uso da UV são: baixo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> penetração,<br />

obrigando a exposição direta <strong>dos</strong> <strong>microorganismos</strong> aos raios para que sejam mortos<br />

(atua somente na superfície <strong>dos</strong> materiais) e os efeitos nocivos sobre a pele e os<br />

olhos.<br />

As microondas, também <strong>de</strong>nominadas super high frequency – SHF, não possuem<br />

efeito direto sobre os <strong>microorganismos</strong>, e as bactérias po<strong>de</strong>m ser facilmente isoladas do<br />

interior <strong>de</strong> fornos <strong>de</strong> microondas recém utiliza<strong>dos</strong>. As frequências <strong>dos</strong> fornos <strong>de</strong><br />

microondas são ajusta<strong>dos</strong> para combinar com os níveis <strong>de</strong> energia nas moléculas <strong>de</strong> água,<br />

que absorvem a energia e as transferem na forma <strong>de</strong> calor para o alimento, que irá matar a<br />

maioria <strong>dos</strong> patógenos na forma vegetativa. Os alimentos sóli<strong>dos</strong> se aquecem <strong>de</strong> modo<br />

<strong>de</strong>sigual, <strong>de</strong>vido uma distribuição não homogênea da umida<strong>de</strong> nos teci<strong>dos</strong>. Por essa<br />

razão, uma carne <strong>de</strong> porco cozida no forno <strong>de</strong> microondas po<strong>de</strong> ocasionar a transmissão<br />

<strong>de</strong> triquinose no homem.<br />

c) Filtração: método empregado para remover <strong>microorganismos</strong> <strong>de</strong> líqui<strong>dos</strong>, ar e<br />

gases. Os filtros <strong>de</strong> partículas <strong>de</strong> ar <strong>de</strong> alta eficiência (high-efficiency particulate air -<br />

HEPA) removem quase to<strong>dos</strong> os <strong>microorganismos</strong> maiores que cerca <strong>de</strong> 0,3 µm <strong>de</strong><br />

diâmetro. Atualmente, a <strong>de</strong>scontaminação do ar mediante filtração, realizada em<br />

laboratórios <strong>de</strong> manipulação asséptica, fluxos laminares, salas <strong>de</strong> cirurgia e outros<br />

ambientes hospitalares on<strong>de</strong> o rigoroso <strong>controle</strong> microbiológico se faz necessário.<br />

d) Dessecação: condição conhecida pela remoção da umida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada<br />

matéria, e pelo impedimento da mesma em absorver a umida<strong>de</strong> do ar. Os<br />

<strong>microorganismos</strong> não po<strong>de</strong>m crescer e se reproduzir nesse ambiente seco, mas po<strong>de</strong>m<br />

permanecer viáveis por longos perío<strong>dos</strong>. No momento que a água é reintroduzida, po<strong>de</strong>m<br />

ser reativa<strong>dos</strong>, retomando seu crescimento e divisão. Esse é o princípio da liofilização<br />

(congelamento-<strong>de</strong>ssecação), um processo utilizado em laboratórios para a preservação <strong>de</strong><br />

<strong>microorganismos</strong>, on<strong>de</strong> uma suspensão é rapidamente congelada em uma faixa <strong>de</strong><br />

temperatura <strong>de</strong> -54ºC a -72ºC, tendo a água removida por alto vácuo (sublimação).<br />

e) Remoção do oxigênio: na ausência <strong>de</strong> oxigênio as bactérias aeróbicas perecem,<br />

ou então, formam esporos, caso sejam dotadas <strong>de</strong>ssa capacida<strong>de</strong>. Essa técnica possui<br />

importância prática na indústria alimentícia, a qual utiliza-se <strong>de</strong> embalagens (ou<br />

envasamento) a vácuo como meio <strong>de</strong> melhorar a conservação <strong>de</strong> alimentos (carne,<br />

legumes, etc).<br />

f) Pressão osmótica: técnica que utiliza altas concentrações <strong>de</strong> sais e açucares<br />

para conservar próteses biológicas e alimentos, baseada nos efeitos da pressão osmótica.<br />

Altas concentrações <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas substâncias criam um ambiente hipertônico que<br />

ocasiona a saída <strong>de</strong> água da célula microbiana. Esse processo lembra o método <strong>de</strong><br />

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conservação por <strong>de</strong>ssecação, pois ambos os méto<strong>dos</strong> retiram da célula a umida<strong>de</strong> que ela<br />

necessita para o crescimento. Lembre-se <strong>de</strong> que, como regra geral, os fungos e os bolores<br />

são muito mais capazes que as bactérias <strong>de</strong> crescer em materiais com baixa umida<strong>de</strong> ou<br />

com alta pressão osmótica.<br />

3.2 – MÉTODOS QUÍMICOS:<br />

Os méto<strong>dos</strong> químicos são basea<strong>dos</strong> em substâncias naturais ou sintéticas para<br />

eliminar ou inibir o crescimento <strong>dos</strong> <strong>microorganismos</strong> em teci<strong>dos</strong> vivos ou em objetos<br />

inanima<strong>dos</strong>. Infelizmente, poucos agentes químicos proporcionam a esterilida<strong>de</strong>, a<br />

maioria apenas reduz as populações microbianas em níveis seguros ou removem as<br />

formas vegetativas <strong>de</strong> patógenos nos objetos. Nenhum <strong>de</strong>sinfetante isolado é apropriado<br />

para todas as circunstâncias. Fatores como pH, temperatura, tempo <strong>de</strong> contato, presença<br />

<strong>de</strong> matéria orgânica (inativa algumas substâncias), fase do ciclo vital do microorganismo,<br />

concentração do composto químico e presença <strong>de</strong> outras substâncias químicas po<strong>de</strong>m<br />

influenciar na ação <strong>dos</strong> agentes antimicrobianos, além da variação na resistência <strong>dos</strong><br />

<strong>microorganismos</strong> aos produtos químicos. Outra consi<strong>de</strong>ração importante é se o agente<br />

químico entrará facilmente em contato com os <strong>microorganismos</strong>. Uma área po<strong>de</strong> precisar<br />

ser esfregada e lavada antes da aplicação do produto, e em muitos casos haverá a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar o <strong>de</strong>sinfetante em contato com a superfície por várias horas.<br />

Existem duas categorias principais <strong>de</strong> efeitos <strong>dos</strong> méto<strong>dos</strong> químicos:<br />

• Efeito estático (bacteriostático ou fungiostático) – ocasiona a inibição no<br />

crescimento microbiano.<br />

• Efeito microbicida/germicida (bactericida, fungicida, viruscida, protozoocida<br />

ou esporocida) – promove a <strong>de</strong>struição <strong>dos</strong> <strong>microorganismos</strong>.<br />

A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> eliminar <strong>microorganismos</strong>, a rapi<strong>de</strong>z assim como o espectro <strong>de</strong><br />

ação, <strong>de</strong>fine o nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinfecção que po<strong>de</strong> ser alcançado por <strong>de</strong>terminado produto.<br />

Tendo em vista isso, po<strong>de</strong>mos classificá-los da seguinte forma:<br />

• Nível baixo – eliminação da maioria das bactérias, <strong>de</strong> alguns vírus e alguns<br />

fungos, sem inativação <strong>de</strong> <strong>microorganismos</strong> mais resistentes como micobactérias e<br />

formas esporuladas.<br />

• Nível intermediário – inativação das formas vegetativas <strong>de</strong> bactérias, da maioria<br />

<strong>dos</strong> vírus e maioria <strong>dos</strong> fungos.<br />

• Nível alto – <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os <strong>microorganismos</strong>, com exceção <strong>de</strong> formas<br />

esporuladas.<br />

3.2.1 – TIPOS DE AGENTES QUÍMICOS UTILIZADOS NO CONTROLE<br />

MICROBIANO:<br />

3.2.1.1 – Agentes alquilantes:<br />

São compostos cancerígenos e, por isso, não <strong>de</strong>vem ser utiliza<strong>dos</strong> em teci<strong>dos</strong><br />

vivos. Por <strong>de</strong>finição, um alquila ou alcoila é um radical monovalente (CnH2n+1) formado<br />

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pela remoção <strong>de</strong> um átomo <strong>de</strong> hidrogênio <strong>de</strong> um hidrocarboneto saturado.<br />

Os principais alquilantes utiliza<strong>dos</strong> para o <strong>controle</strong> <strong>dos</strong> <strong>microorganismos</strong> são:<br />

Glutaral<strong>de</strong>ído: seu mecanismo <strong>de</strong> ação ocorre através da alteração do DNA e <strong>de</strong><br />

enzimas. Serve para a <strong>de</strong>sinfecção (<strong>de</strong> alto nível) e para a esterilização, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da<br />

concentração e do tempo <strong>de</strong> exposição. Possui gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinfecção em diversos<br />

equipamentos cirúrgicos, odontológicos, além <strong>de</strong> não ser corrosivo. Muito utilizado para<br />

materiais termossensíveis. Tem como <strong>de</strong>svantagens o vapor irritante, odor <strong>de</strong>sagradável,<br />

ser carcinogênico e ter a sua eficácia diminuída na presença <strong>de</strong> matéria orgânica. Um<br />

possível substituto do glutaral<strong>de</strong>ído é o orto-fitalal<strong>de</strong>ído (OFA) que além <strong>de</strong> mais efetivo<br />

contra a maioria <strong>dos</strong> miroorganismos, mostra-se pouco irritante.<br />

Formal<strong>de</strong>ído: atua como <strong>de</strong>sinfetante ou esterilizante, possuindo ótimo efeito<br />

sobre bactérias gram-positivas e gram-negativas, além <strong>de</strong> vírus, fungos, micobactérias e<br />

endósporos. Obtem-se a esterilização através da solução alcoólica <strong>de</strong> formal<strong>de</strong>ído a 8%<br />

ou aquosa a 10%, com exposição mínima <strong>de</strong> 18 horas. Po<strong>de</strong> ser usado em instrumental<br />

cirúrgico e em acrílicos, mas não <strong>de</strong>ve ser utilizado em alumínio e em borrachas.<br />

Apresenta alto po<strong>de</strong>r carcinogênico, e <strong>de</strong>ve ser manuseado usando-se equipamentos <strong>de</strong><br />

proteção individual (EPIs).<br />

Oxido <strong>de</strong> etileno (ETO): é um esterilizador gasoso incolor muito eficiente,<br />

utilizado principalmente para materiais termossensíveis como as sondas para laparoscopia<br />

e artroscopia. Possuí alto po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> penetração, é carcinogênico, exigindo treinamento <strong>de</strong><br />

pessoal, uso <strong>de</strong> EPIs e exames bioquímicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> periódicos.<br />

3.2.1.2 – Fenóis:<br />

O fenol (ácido carbólico) e seus <strong>de</strong>riva<strong>dos</strong> atuam na <strong>de</strong>snaturação <strong>de</strong> proteínas,<br />

servindo como antimicrobianos. Atualmente, os compostos fenólicos são pouco<br />

utiliza<strong>dos</strong>, pois irritam a pele e apresentam odor <strong>de</strong>sagradável. Possuem efeitos<br />

carcinogênicos, com acentuada toxicida<strong>de</strong> em felinos e crianças. Um <strong>dos</strong> compostos<br />

fenólicos mais utiliza<strong>dos</strong> <strong>de</strong>riva do alcatrão e são <strong>de</strong>nominadas cresóis. Os cresóis são<br />

ótimos <strong>de</strong>sinfetantes <strong>de</strong> superfície.<br />

3.2.1.3 – Bifenóis:<br />

São <strong>de</strong>riva<strong>dos</strong> do fenol que possuem dois grupos fenólicos liga<strong>dos</strong> por uma ponte.<br />

Um bifenol, o hexaclorofeno é muito utilizado em procedimentos <strong>de</strong> <strong>controle</strong> microbiano<br />

cirúrgico e hospitalar. Estafilococos e estreptococos gram-positivos, que costumam<br />

causar infecções <strong>de</strong> pele em recém-nasci<strong>dos</strong>, são especialmente susceptíveis ao<br />

hexaclorofeno, que é usado com frequência para controlar essas infecções em berçários.<br />

Outro bifenol amplamente utilizado é o triclosano, um <strong>dos</strong> componentes presentes em<br />

sabonetes antibacterianos e pastas <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes. O uso do triclosano foi incorporado em<br />

tábuas <strong>de</strong> cozinha, em cabos <strong>de</strong> facas e outros utensílios plásticos <strong>de</strong> cozinha. Seu uso<br />

está tão difundido que bactérias resistentes a este agente já foram relatadas. É<br />

especialmente efetivo contra bactérias gram-positivas, mas também funciona bem contra<br />

fungos e bactérias gram-negativas. Existem algumas exceções, como a Pseudomonas<br />

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aeruginosa, uma bactéria gram-negativa que é muito resistente ao triclosano, bem como a<br />

muitos outros antibióticos e <strong>de</strong>sinfetantes.<br />

3.2.1.4 – Biguanida:<br />

Apresentam um amplo espectro <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>, especialmente contra bactérias<br />

gram-positivas. As biguanidas são também efetivas contra bactérias gram-negativas, com<br />

exceção das pseudomonas. A biguanida mais conhecida é a clorexidina, muito usada na<br />

preparação cirúrgica, antissepsia <strong>de</strong> mãos e para o combate <strong>de</strong> <strong>microorganismos</strong><br />

in<strong>de</strong>sejáveis da pele e mucosas. Por possuir ótimo efeito bactericida e ser efetiva contra<br />

fungos e vírus, é tida como excelente antisséptico, embora não tenha efeito esporocida.<br />

Atua como bom <strong>de</strong>sinfetante <strong>de</strong> superfícies e materiais diversos e se <strong>de</strong>monstra eficaz<br />

mesmo na presença <strong>de</strong> matéria orgânica. A alexidina é uma biguanida similar à<br />

clorexidina, apresentando, porém, ação mais rápida.<br />

3.2.1.5 – Halogênios:<br />

Os halogênios (ou halógenos), particularmente o iodo e o cloro, são agentes antimicrobianos<br />

eficazes, tanto isoladamente, como constituintes <strong>de</strong> compostos inorgânicos<br />

ou orgânicos.<br />

Cloro ou compostos clora<strong>dos</strong> – são amplamente emprega<strong>dos</strong> na <strong>de</strong>sinfecção<br />

doméstica, pecuária, industrial, alimentícia e <strong>de</strong> água, bem como na <strong>de</strong>sinfecção <strong>de</strong> nível<br />

médio na área hospitalar. São efetivos contra os vírus, bactérias gram-positivas e gramnegativas,<br />

fungos, e efetivida<strong>de</strong> média como tuberculocidas e esporocidas. Uma gran<strong>de</strong><br />

vantagem é a permanência <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> residual, e como <strong>de</strong>svantagens <strong>de</strong>stacam-se a<br />

inativação pela matéria orgânica, ativida<strong>de</strong> corrosiva em metais e o efeito <strong>de</strong>scolorante.<br />

Os principais compostos clora<strong>dos</strong> com ação <strong>de</strong>sinfetante são: hipoclorito <strong>de</strong> sódio (água<br />

sanitária, líquido <strong>de</strong> Dakin), hipoclorito <strong>de</strong> cálcio (alvejantes em pó) e as cloraminas<br />

(amônia com cloro).<br />

Iodo – consi<strong>de</strong>rado um <strong>dos</strong> antissépticos mais antigos e eficazes, emprega<strong>dos</strong> em<br />

feridas e teci<strong>dos</strong>, agindo contra to<strong>dos</strong> os tipos <strong>de</strong> bactérias, muitos endósporos, vários<br />

fungos e alguns vírus. O iodo po<strong>de</strong> ser empregado para a <strong>de</strong>sinfecção <strong>de</strong> equipamentos e<br />

superfícies, não sendo seu uso recomendado em metais facilmente oxidáveis ou que<br />

mancham facilmente. As soluções à base <strong>de</strong> iodo são geralmente alcoólicas (álcool etílico<br />

70 com 0,5 a 1% <strong>de</strong> iodo livre), solução a 2% em água ou emulsões em <strong>de</strong>tergentes (iodopovidona),<br />

conhecidas como <strong>de</strong>germantes. Estas emulsões não são recomendadas para<br />

curativos, uma vez que a presença constante do <strong>de</strong>tergente prejudica a cicatrização,<br />

entretanto, são indicadas para a antissepsia das mãos, campo operatório e <strong>de</strong>sinfecção <strong>de</strong><br />

superfícies.<br />

3.2.1.6 – Peroxigênios – peróxido <strong>de</strong> hidrogênio, ácido peracético e ozônio:<br />

São agentes químicos oxidantes que exercem ação na membrana citoplasmática,<br />

no DNA e em outros componentes celulares.<br />

Peróxido <strong>de</strong> hidrogênio (H2O2) – conhecido como água oxigenada, a substância<br />

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é utilizada como <strong>de</strong>sinfetante <strong>de</strong> filtros e tubulações na indústria <strong>de</strong> alimentos. Possui<br />

ampla aplicação na limpeza e <strong>de</strong>sinfecção hospitalar e como antisséptico <strong>de</strong> feridas.<br />

Ácido paracético – possui odor <strong>de</strong> vinagre, sendo eficiente para a <strong>de</strong>sinfecção <strong>de</strong><br />

materiais e instrumentos, sendo pouco afetado pela presença <strong>de</strong> matéria orgânica. Atua<br />

bem em temperaturas <strong>de</strong> 10 a 40ºC.<br />

Ozônio (O3) – trata-se <strong>de</strong> um composto <strong>de</strong>rivado do oxigênio, usado geralmente<br />

para a <strong>de</strong>sinfecção <strong>de</strong> água. Possui efeito germicida e não apresenta toxicida<strong>de</strong> ao homem<br />

e animais.<br />

3.2.1.7 – Alcoóis:<br />

O mecanismo <strong>de</strong> ação do álcool é a <strong>de</strong>snaturação <strong>de</strong> proteínas, mas também po<strong>de</strong><br />

romper membranas e dissolver lipí<strong>de</strong>os, inclusive o componente lipídico <strong>dos</strong> vírus<br />

envelopa<strong>dos</strong>. Agem efetivamente contra as bactérias, fungos, mas não contra endósporos<br />

e vírus não envelopa<strong>dos</strong>. Os dois alcoóis mais comumente utiliza<strong>dos</strong> são o etanol e o<br />

isopropanol. A concentração ótima para o etanol (etílico) é <strong>de</strong> 70%, enquanto que para o<br />

isopropanol ((isopropílico) é <strong>de</strong> 90%. Os alcoóis têm a vantagem <strong>de</strong> agir e então evaporar<br />

rapidamente, sem <strong>de</strong>ixar resíduos. Quando a pele é <strong>de</strong>germinada antes <strong>de</strong> uma injeção, a<br />

ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>controle</strong> microbiano provém do fato <strong>de</strong> simplesmente remover a poeira e os<br />

<strong>microorganismos</strong> junto com os óleos cutâneos (limpa). Contudo, os alcoóis não são<br />

antissépticos satisfatórios quando aplica<strong>dos</strong> em feridas, pois causam a coagulação <strong>de</strong> uma<br />

camada <strong>de</strong> proteínas, sob a qual as bactérias continuam a proliferar.<br />

Como antisséptico das mãos, o álcool em gel apresenta <strong>de</strong>terminadas vantagens<br />

sobre o líquido, as quais <strong>de</strong>stacam-se:<br />

• o gel retém certo grau <strong>de</strong> moléculas <strong>de</strong> álcool, com a volatilida<strong>de</strong> reduzida,<br />

possibilita maior tempo <strong>de</strong> ação.<br />

• a<strong>de</strong>são do gel nas mãos, prolongando a ação do álcool;<br />

• o gel protege a pele do ressecamento promovido pelo álcool líquido;<br />

• o gel é menos inflamável, evitando aci<strong>de</strong>ntes com queimaduras;<br />

• mais fácil no acondicionamento, na medida que o gel não vaza facilmente.<br />

3.2.1.8 – Corantes:<br />

O azul <strong>de</strong> metileno e o cristal violeta (violeta genciana) constituem-se nos<br />

principais corantes antimicrobianos, atuando por inibição da síntese da pare<strong>de</strong> celular.<br />

3.2.1.9 – Agentes <strong>de</strong> superfície (tensoativos ou surfactante):<br />

Os agentes <strong>de</strong> superfície po<strong>de</strong>m reduzir a tensão superficial entre moléculas <strong>de</strong> um<br />

líquido. Esses agentes incluem os sabões e os <strong>de</strong>tergentes.<br />

Sabões e <strong>de</strong>tergentes – possuem pouco valor como antisséptico, mas tem uma<br />

importante função na remoção mecânica <strong>dos</strong> <strong>microorganismos</strong>. A pele geralmente possui<br />

células mortas, pó, suor seco, <strong>microorganismos</strong> e óleos, provin<strong>dos</strong> das gl\ãndulas<br />

sebáceas. Os sabões rompem o filme oleoso em pequenas gotículas, <strong>de</strong>nominadas<br />

emulsificação, que juntamente com a água, removem os resíduos à medida que a pele é<br />

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lavada. Nesse sentido, os sabões funcionam como bons agentes <strong>de</strong>germinantes.<br />

Compostos quaternários <strong>de</strong> amônia (QUATs) – possuem excelente ação<br />

bactericida contra as gram-positivas e, bom po<strong>de</strong>r bactericida contra as gram-negativas,<br />

sendo efetivos contra vírus envelopa<strong>dos</strong> (lipofílicos), as amebas e alguns fungos. São<br />

ineficazes contra vírus não envelopa<strong>dos</strong> (hidrifílicos), micobactérias e esporos. A<br />

presença <strong>de</strong> matéria orgânica limita a ação <strong>dos</strong> compostos <strong>de</strong>ste grupo. Dois QUATs<br />

populares são o cloreto <strong>de</strong> benzalcônio e o cloreto <strong>de</strong> cetilpiridínico.<br />

3.2.2 – PRINCIPAIS FATORES QUE PODEM INFLUENCIAR NA AÇÃO DOS<br />

DESINFETANTES QUÍMICOS:<br />

• Diluição do produto – <strong>de</strong>sinfetantes muito diluí<strong>dos</strong> po<strong>de</strong>m se tornar pouco<br />

eficazes.<br />

• Tempo <strong>de</strong> exposição – para que tenha uma ação mais efetiva, é necessário um<br />

tempo mínimo <strong>de</strong> contato entre o <strong>de</strong>sinfetante e o microorganismo.<br />

• Mistura do <strong>de</strong>sinfetante com outros produtos – a mistura <strong>de</strong> substâncias po<strong>de</strong><br />

ocasionar a perda da eficácia <strong>dos</strong> produtos.<br />

• Natureza do material a ser <strong>de</strong>sinfetado.<br />

• Valida<strong>de</strong> do produto – <strong>de</strong>sinfetantes com prazo <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> já vencido po<strong>de</strong><br />

exercer pouca ou nenhuma ação sobre os <strong>microorganismos</strong>.<br />

• Lavagem prévia do local ou material antes da aplicação do <strong>de</strong>sinfetante – na<br />

maioria <strong>dos</strong> casos, a prévia lavagem das instalações facilita a ação <strong>dos</strong><br />

<strong>de</strong>sinfetantes.<br />

• Aplicação em ambientes úmi<strong>dos</strong> – após a lavagem prévia, a <strong>de</strong>sinfecção <strong>de</strong>ve ser<br />

realizada com as instalações ainda úmidas, a fim <strong>de</strong> permitir boa distribuição e<br />

penetração do <strong>de</strong>sinfetante nas regiões a serem <strong>de</strong>sinfetadas.<br />

3.2.3 – CARACTERÁSTICAS DESEJÁVEIS A SEREM OBSERVADAS NA<br />

ESCOLHA DE UM DESINFETANTE QUÍMICO:<br />

• Possuir amplo espectro <strong>de</strong> ação.<br />

• Alto po<strong>de</strong>r germicida.<br />

• Ser atóxico para o homem e animais.<br />

• Ser estável ao armazenamento na temperatura ambiente, por longos perío<strong>dos</strong>.<br />

• Ser eficiente na presença <strong>de</strong> matéria orgânica ou matéria mineral.<br />

• Não ser corrosivo.<br />

• Manter boa ativida<strong>de</strong> antimicrobiana sob temperatura entre 10 a 40ºC.<br />

• Ser isento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> tintorial.<br />

• Ser solúvel em água.<br />

• Ser compatível com sabões e <strong>de</strong>tergentes.<br />

• Possuir bom po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> penetração.<br />

• Ser inodoro, ou exalar odor brando, ou mesmo agradável.<br />

• Não ser poluente.<br />

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• Agir <strong>de</strong> forma eficaz com tempo <strong>de</strong> exposição relativamente curto (10 a 25<br />

minutos).<br />

• Ter custo acessível e estar disponível no mercado.<br />

Atualmente não existe um <strong>de</strong>sinfetante que contemple to<strong>dos</strong> os requisitos <strong>de</strong>sejáveis<br />

acima <strong>de</strong>scritos. No contexto da ativida<strong>de</strong> veterinária, a escolha dá-se baseada,<br />

principalmente, em atributos como: espectro <strong>de</strong> ação, intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ação,<br />

susceptibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inativação na presença <strong>de</strong> matéria orgânica e custo.<br />

Os <strong>microorganismos</strong> diferem quanto à susceptibilida<strong>de</strong> aos <strong>de</strong>sinfetantes químicos.<br />

As bactérias vegetativas (não esporuladas) e os vírus envelopa<strong>dos</strong> sofrem rapidamente a<br />

ação <strong>dos</strong> <strong>de</strong>sinfetantes. Os esporos fúngicos e os vírus <strong>de</strong>sprovi<strong>dos</strong> <strong>de</strong> envelope são<br />

menos susceptíveis. As micobactérias (bactérias do gênero da tuberculose) são resistentes<br />

aos <strong>de</strong>sinfetantes comumente emprega<strong>dos</strong>, já os oocistos <strong>de</strong> protozoários e endósporos<br />

bacterianos são altamente resistentes aos <strong>de</strong>sinfetantes.<br />

4. INATIVAÇÃO DOS PRÍONS.<br />

Os príons, agentes etiológicos das encefalopatias espongiformes transmissíveis<br />

(EETs) são extremamente resistentes as substâncias químicas. Altas concentrações <strong>de</strong><br />

hipoclorito <strong>de</strong> sódio, assim como soluções concentradas <strong>de</strong> hipoclorito <strong>de</strong> sódio<br />

aquecidas são indicadas para inativar estes agentes infecciosos não convencionais.<br />

Os príons são igualmente resistentes à inativação térmica, sendo necessária a<br />

autoclavação a 132ºC por quatro horas e meia para inativá-los.<br />

SUGESTÃO DE LEITURA:<br />

KAMWA, E.B. Biossegurida<strong>de</strong>, higiene e profilaxia: abordagem teórico-didática e<br />

aplicada. Belo Horizonte:Nandyala, 2010. 104p.<br />

TORTORA, G.J., FUNKE, B.R., CASE, C.L. Microbiologia. 10ed. Porto Alegre:<br />

Artmed, 2012, 934P.<br />

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