Metodos de controle dos microorganismos - UFSM
Metodos de controle dos microorganismos - UFSM
Metodos de controle dos microorganismos - UFSM
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS<br />
Departamento <strong>de</strong> Microbiologia e Parasitologia<br />
Disciplina <strong>de</strong> Microbiologia Geral<br />
MÉTODOS DE CONTROLE DOS MICROORGANISMOS. (1.4)<br />
1. INTRODUÇÃO.<br />
A ciência para o <strong>controle</strong> do crescimento microbiano teve início a cerca <strong>de</strong> 100<br />
anos, quando Pasteur levou os pesquisadores a acreditarem que os micróbios seriam uma<br />
possível causa das doenças.<br />
Na meta<strong>de</strong> do século XIX, o médico húngaro Ignaz Semmelweis e o médico<br />
inglês Joseph Lister utilizaram algumas das primeiras práticas <strong>de</strong> <strong>controle</strong> microbiano<br />
para procedimentos médicos. Essas práticas incluíam a lavagem das mãos com<br />
hipoclorito <strong>de</strong> cálcio e a utilização <strong>de</strong> técnicas cirúrgicas assépticas. Até aquele momento<br />
as infecções nosocomiais matavam pelo menos 10% <strong>dos</strong> pacientes cirúrgicos e 25% das<br />
parturientes. A ignorância a respeito <strong>dos</strong> <strong>microorganismos</strong> era tanta que, durante a Guerra<br />
Civil Americana, não era incomum um cirurgião limpar seu bisturi, entre as incisões, na<br />
sola <strong>de</strong> sua bota.<br />
A prevenção e o <strong>controle</strong> <strong>de</strong> enfermida<strong>de</strong>s infecciosas po<strong>de</strong>m ser eficientemente<br />
realiza<strong>dos</strong> mediante aplicação <strong>de</strong> agentes químicos ou físicos sobre os <strong>microorganismos</strong><br />
antes que estes entrem em contato com os hospe<strong>de</strong>iros, ou antes que atravessem a barreira<br />
cutânea. Tais procedimentos po<strong>de</strong>m ser utiliza<strong>dos</strong> sobre os alimentos, água, objetos em<br />
geral ou sobre a pele/mucosa. A natureza do agente a ser utilizado (físico ou químico),<br />
seu tipo específico (grupo a que pertence) e sua intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aplicação têm <strong>de</strong> ser<br />
apropria<strong>dos</strong> para a natureza do material que se vai submeter ao tratamento, bem como<br />
<strong>de</strong>vem ser condizentes com o grau <strong>de</strong> eliminação <strong>dos</strong> <strong>microorganismos</strong> que se almeja<br />
alcançar. Assim sendo, po<strong>de</strong>-se planejar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> uma inativação seletiva, até uma<br />
<strong>de</strong>struição completa <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os micróbios presentes no local. Sendo assim faz-se<br />
necessário conceituar alguns vocábulos essenciais e fazer consi<strong>de</strong>rações básicas sobre os<br />
mesmos.<br />
2. TERMINOLOGIAS DO CONTROLE BACTERIANO.<br />
a) Esterilização: é a <strong>de</strong>struição ou remoção <strong>dos</strong> <strong>microorganismos</strong> patogênicos e<br />
não patogênicos (todas as formas <strong>de</strong> vida) <strong>de</strong> um objeto ou material. Este processo po<strong>de</strong><br />
ser executado mediante emprego <strong>de</strong> méto<strong>dos</strong> químicos ou físicos. O aquecimento é o<br />
método mais comumente utilizado para matar os <strong>microorganismos</strong>, incluindo as formas<br />
mais resistentes, como os en<strong>dos</strong>poros. É um processo absoluto, não havendo graus <strong>de</strong><br />
esterilização. Ex: instrumental cirúrgico para a realização do procedimento operatório.<br />
b) Desinfecção: é o emprego <strong>de</strong> méto<strong>dos</strong> químicos ou físicos com vistas a <strong>de</strong>struir<br />
ou inibir <strong>microorganismos</strong> patogênicos em objetos inanima<strong>dos</strong> (superfícies) ou em<br />
ambiente. Ex: salas cirúrgicas e baias.<br />
c) Antissepsia: é a manobra que promove a <strong>de</strong>struição ou inativação <strong>dos</strong><br />
1<br />
Prof. Daniel Roulim Stainki<br />
<strong>UFSM</strong>
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS<br />
Departamento <strong>de</strong> Microbiologia e Parasitologia<br />
Disciplina <strong>de</strong> Microbiologia Geral<br />
<strong>microorganismos</strong> (<strong>de</strong>sinfecção química) da pele, mucosas e outros teci<strong>dos</strong> vivos animais<br />
ou humanos. Ex: antissepsia das mãos do cirurgião. O produto químico utilizado para a<br />
antissepsia é <strong>de</strong>nominado antisséptico.<br />
OBS: a <strong>de</strong>sinfecção difere da antissepsia pelo fato <strong>de</strong> esta segunda se referir<br />
apenas aos teci<strong>dos</strong> vivos, por isso <strong>de</strong>ve se evitar o uso <strong>de</strong> expressões tais como<br />
“<strong>de</strong>sinfecção da pele ou ferida”, ou mesmo, “antissepsia <strong>de</strong> um instrumental cirúrgico”; o<br />
correto é dizer “antissepsia da pele ou da ferida” e “<strong>de</strong>sinfecção do instrumental<br />
cirúrgico”.<br />
d) Assepsia: é o conjunto <strong>de</strong> procedimentos que se empregam para evitar a<br />
infecção <strong>dos</strong> teci<strong>dos</strong> durante as intervenções cirúrgicas. Engloba as manobras <strong>de</strong><br />
esterilização, <strong>de</strong>sinfecção e anti-sepsia.<br />
e) Degermação: retirada <strong>dos</strong> <strong>microorganismos</strong> da pele por meio da remoção<br />
mecânica ou pelo uso <strong>de</strong> antissépticos. Ex: o ato <strong>de</strong> passar o algodão embebido em<br />
álcool-iodado na pele antes da aplicação <strong>de</strong> uma injeção.<br />
f) Germicida ou Biocida: agentes químicos (ou físicos) que são capazes <strong>de</strong> matar<br />
os <strong>microorganismos</strong>. Ex: bactericida é o que mata a bactéria, virucida é o que mata os<br />
vírus, fungicida é o que mata os fungos e esporocida é o que mata os esporos.<br />
Os termos bacteriostático e fungiostático <strong>de</strong>signam os compostos químicos que<br />
apresentam a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> inibir o crescimento e a multiplicação das bactérias e<br />
fungos, respectivamente. O termo virustático <strong>de</strong>ve ser utilizado para os medicamentos<br />
que são emprega<strong>dos</strong> parenteralmente, tendo em vista que, não ocorre a multiplicação viral<br />
fora das células.<br />
g) Sanitização: <strong>de</strong>signa o tratamento, em nível industrial, que leva à diminuição<br />
da população microbiana nos alimentos não processa<strong>dos</strong>, em utensílios para a<br />
manipulação <strong>dos</strong> alimentos, até atingir um padrão seguro para a saú<strong>de</strong> pública. EX:<br />
lavagens em altas temperaturas, imersão em <strong>de</strong>sinfetantes químicos (sanitizantes).<br />
h) Sepse ou septicemia: indica contaminação bacteriana grave do organismo por<br />
micróbios patogênicos.<br />
3. MÉTODOS DE CONTROLE E ELIMINAÇÃO MICROBIANA.<br />
Os méto<strong>dos</strong> <strong>de</strong> <strong>controle</strong> e eliminação <strong>de</strong> <strong>microorganismos</strong> em objetos (incluindo<br />
alimentos), ambientes e superfície corporal diferem conforme a natureza do micróbio,<br />
bem como do item a ser higienizado. Existe uma variação muito gran<strong>de</strong> entre os<br />
<strong>microorganismos</strong> quanto à sensibilida<strong>de</strong> aos méto<strong>dos</strong> emprega<strong>dos</strong> para o <strong>controle</strong> e<br />
2<br />
Prof. Daniel Roulim Stainki<br />
<strong>UFSM</strong>
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS<br />
Departamento <strong>de</strong> Microbiologia e Parasitologia<br />
Disciplina <strong>de</strong> Microbiologia Geral<br />
eliminação <strong>dos</strong> mesmos. Deve-se observar o fato <strong>de</strong> que, a princípio, o termo “<strong>controle</strong>”<br />
se refere aos méto<strong>dos</strong> que visam reduzir a população microbiana a quantida<strong>de</strong>s toleráveis<br />
ou, então, estratégias que impe<strong>de</strong>m a referida população <strong>de</strong> crescer além <strong>dos</strong> limites<br />
aceitáveis. Já a palavra “eliminação” significa extermínio total <strong>dos</strong> <strong>microorganismos</strong> em<br />
<strong>de</strong>terminado local.<br />
Em uma visão global, os principais méto<strong>dos</strong> físicos e químicos, não<br />
quimioterápicos, para o <strong>controle</strong> e eliminação microbiana são:<br />
3.1 – MÉTODOS FÍSICOS.<br />
a) Temperatura: o calor constitui um <strong>dos</strong> mais importantes méto<strong>dos</strong> emprega<strong>dos</strong><br />
para o <strong>controle</strong> do crescimento e para a eliminação <strong>de</strong> <strong>microorganismos</strong>. É um <strong>dos</strong><br />
méto<strong>dos</strong> preferenciais por ser eficiente contra os micróbios, relativamente seguro para<br />
quem o executa, ter custo baixo e por não formar produtos tóxicos. Da mesma forma o<br />
método que se baseia nas baixas temperaturas se apresenta seguro para quem o usa e não<br />
forma produtos nocivos.<br />
O calor aparentemente mata os <strong>microorganismos</strong> pela <strong>de</strong>snaturação <strong>de</strong> suas<br />
enzimas, que resulta na mudança tridimensional <strong>de</strong>ssas proteínas, inativando-as. A<br />
resistência ao calor varia entre os diferentes <strong>microorganismos</strong>, e essas diferenças po<strong>de</strong>m<br />
ser expressas pelo conceito <strong>de</strong> ponto <strong>de</strong> morte térmica (PMT). O PMT é a menor<br />
temperatura em que to<strong>dos</strong> os <strong>microorganismos</strong> em uma suspensão líquida específica<br />
serão mortos em 10 minutos. Outro fator a ser consi<strong>de</strong>rado no processo <strong>de</strong> esterilização é<br />
o tempo requerido para o material se tornar estéril. Esse período é expresso como tempo<br />
<strong>de</strong> morte térmica (TMT), que <strong>de</strong>signa o tempo mínimo em que todas as bactérias em<br />
uma <strong>de</strong>terminada cultura líquida específica serão mortas, em uma <strong>de</strong>terminada<br />
temperatura.<br />
Esterilização pelo calor: distinguem-se o calor úmido e o calor seco. O calor<br />
úmido é a água ou o vapor <strong>de</strong> água a alta temperatura, possui maior po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> penetração<br />
comparativamente ao calor seco. O quadro 07, abaixo, especifica as diferentes formas <strong>de</strong><br />
<strong>controle</strong> microbiano pelo uso <strong>de</strong> calor úmido.<br />
Quadro 07 – Méto<strong>dos</strong> físicos <strong>de</strong> calor úmido emprega<strong>dos</strong> para o <strong>controle</strong><br />
microbiano.<br />
MÉTODO MECANISMO DE COMENTÁRIOS USO<br />
AÇÃO<br />
PREFERENCIAL<br />
Fervura Desnaturação <strong>de</strong> Destrói bactérias, Processo <strong>de</strong><br />
proteínas.<br />
fungos e muitos <strong>de</strong>sinfecção <strong>de</strong> larga<br />
vírus ao redor <strong>de</strong> 15<br />
minutos. Não é<br />
eficaz para to<strong>dos</strong> os<br />
endósporos.<br />
utilização caseira.<br />
3<br />
Prof. Daniel Roulim Stainki<br />
<strong>UFSM</strong>
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS<br />
Departamento <strong>de</strong> Microbiologia e Parasitologia<br />
Disciplina <strong>de</strong> Microbiologia Geral<br />
Autoclavação Desnaturação <strong>de</strong><br />
proteínas.<br />
Pasteurização Desnaturação <strong>de</strong><br />
proteínas.<br />
4<br />
Método eficaz <strong>de</strong><br />
esterilização. Devese<br />
observar o<br />
trinômio: tempo X<br />
temp. X pressão<br />
Mata bactérias<br />
patogênicas<br />
eventualmente<br />
transmissíveis pelo<br />
leite e reduz o<br />
número <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os<br />
<strong>microorganismos</strong><br />
presentes.<br />
Meios <strong>de</strong> cultura,<br />
soluções, utensílios<br />
e instrumentais.<br />
Leite, creme <strong>de</strong><br />
leite, cerveja, vinho,<br />
etc.<br />
A autoclavação requer um equipamento chamado autoclave, e a esterilização é<br />
alcançada após 45 minutos a 115ºC, ou 15 minutos a 121ºC. A pasteurização é um<br />
procedimento usado principalmente na indústria, para o tratamento em alimentos e<br />
<strong>controle</strong> da população microbiana, mas preservando boa parte <strong>de</strong> importantes substâncias<br />
nutrientes. O alimento é submetido ao calor, seguido <strong>de</strong> resfriamento brusco. São<br />
basicamente três tipos <strong>de</strong> pasteurização: temperatura ultra-alta (ultra-high temperature –<br />
UHT), 141ºC por 2 segun<strong>dos</strong>; alta temperatura por curto tempo (high temperature short<br />
time – HTST), 72ºC por 15 segun<strong>dos</strong>; baixa temperatura (low temperature – LT), 63ºC<br />
por 30 minutos.<br />
Entre os méto<strong>dos</strong> <strong>de</strong> calor seco emprega<strong>dos</strong> para o <strong>controle</strong> <strong>dos</strong> <strong>microorganismos</strong><br />
temos os seguintes (Quadro 08).<br />
Quadro 08 – Méto<strong>dos</strong> físicos <strong>de</strong> calor seco emprega<strong>dos</strong> para o <strong>controle</strong><br />
microbiano.<br />
MÉTODO MECANISMO DE COMENTÁRIOS USO<br />
AÇÃO<br />
PREFERENCIAL<br />
Flambagem Oxidação <strong>de</strong> todo Método eficaz <strong>de</strong> Alça e fio <strong>de</strong><br />
material.<br />
esterilização. platina.<br />
Incineração Oxidação do<br />
material até tornar<br />
cinzas.<br />
Método eficaz <strong>de</strong><br />
esterilização.<br />
Estufas/fornos Oxidação. Méto<strong>dos</strong> <strong>de</strong><br />
esterilização (tempo<br />
X Temperatura).<br />
Papéis, carcaças <strong>de</strong><br />
animais, restos <strong>de</strong><br />
curativos e outros<br />
materiais<br />
hospitalares<br />
<strong>de</strong>scartáveis.<br />
Vidrarias e outros<br />
materiais resistentes<br />
ao calor.<br />
Prof. Daniel Roulim Stainki<br />
<strong>UFSM</strong>
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS<br />
Departamento <strong>de</strong> Microbiologia e Parasitologia<br />
Disciplina <strong>de</strong> Microbiologia Geral<br />
O calor seco mata os <strong>microorganismos</strong> por efeitos <strong>de</strong> oxidação. Uma analogia<br />
simples é a lenta carbonização do papel em um forno aquecido, mesmo quando a<br />
temperatura permanece abaixo do ponto <strong>de</strong> ignição do papel. Um <strong>dos</strong> méto<strong>dos</strong> mais<br />
simples <strong>de</strong> esterilização com calor seco é a chama direta ou flambagem, o qual será<br />
utilizado muitas vezes no laboratório <strong>de</strong> microbiologia para a esterilização das alças <strong>de</strong><br />
inoculação. E para que o processo <strong>de</strong> esterilização seja efetivo neste processo, a alça <strong>de</strong><br />
inoculação <strong>de</strong>verá ser aquecida até a obtenção <strong>de</strong> um brilho vermelho (incan<strong>de</strong>scente).<br />
Baixas temperaturas: atuam principalmente mediante redução da ativida<strong>de</strong><br />
enzimática microbiana, o que diminui sua taxa metabólica e velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento.<br />
No geral as baixas temperaturas são utilizadas apenas como método <strong>de</strong> preservação <strong>dos</strong><br />
<strong>microorganismos</strong>, embora, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aplicação, po<strong>de</strong>rá acarretar na<br />
morte <strong>de</strong> alguns <strong>microorganismos</strong>. Os méto<strong>dos</strong> mais emprega<strong>dos</strong> são:<br />
• Refrigeração – usado principalmente nas residências e nos estabelecimentos <strong>de</strong><br />
comercialização <strong>de</strong> alimentos. Possui efeito bacteriostático e fungiostático, mas na<br />
presença <strong>de</strong> <strong>microorganismos</strong> psicrófilos e psicotróficos (<strong>microorganismos</strong> que se<br />
multiplicam bem em ambientes refrigera<strong>dos</strong>, sendo os principais agentes <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>terioração <strong>de</strong> carnes e pesca<strong>dos</strong>, ovos entre outros) promovem alteração do sabor<br />
<strong>dos</strong> alimentos, após algum tempo. Ex.: Pseudomonas, Yersinia, Enterobacter.<br />
• Congelamento – utilizam-se temperaturas abaixo <strong>de</strong> 0ºC. O congelamento rápido<br />
ten<strong>de</strong> a inibir as bactérias sem matá-las (nitrogênio líquido, - 179ºC). No<br />
congelamento lento, cristais <strong>de</strong> gelo se formam e crescem, rompendo as estruturas<br />
celulares <strong>de</strong> bactérias e fungos. O congelamento (em torno <strong>de</strong> -16 a -20ºC) constitui<br />
um eficiente recurso para a conservação <strong>de</strong> alimentos por longos perío<strong>dos</strong>, sobretudo<br />
carnes e <strong>de</strong>riva<strong>dos</strong>.<br />
b) Radiações: <strong>de</strong>terminadas radiações eletromagnéticas, ionizantes e não<br />
ionizantes são capazes <strong>de</strong> inativar (matar) <strong>de</strong> forma eficaz os <strong>microorganismos</strong>. Possuem<br />
<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> seus afeitos quanto ao comprimento <strong>de</strong> onda, da intensida<strong>de</strong>, duração e<br />
distância da fonte.<br />
Existem dois tipos <strong>de</strong> radiação que possuem efeito <strong>de</strong> esterilização:<br />
• A radiação ionizante – são utiliza<strong>dos</strong> isótopos radioativos que emitem radiação,<br />
como por exemplo, as radiações gama. Esse tipo <strong>de</strong> radiação possui comprimento <strong>de</strong><br />
onda mais curto e carrega mais energia do que a radiação não-ionizante. O principal<br />
efeito da radiação ionizante é a morte ou inativação do microrganismo, através da<br />
<strong>de</strong>struição do DNA celular. Produtos hospitalares <strong>de</strong>scartáveis como seringas<br />
plásticas, luvas, cateteres, fios e suturas são esteriliza<strong>dos</strong> por este método. A<br />
industria <strong>de</strong> alimentos renovou recentemente seu interesse no uso da radiação para a<br />
conservação <strong>de</strong> alimentos. Como forma <strong>de</strong> proteção contra o bioterrorismo, em<br />
alguns países os correios usam com frequência essa radiação para esterilizar certos<br />
tipos <strong>de</strong> correspondências.<br />
• A radiação não ionizante – utilizam-se radiações com comprimento <strong>de</strong> onda<br />
mais longo (acima <strong>de</strong> 1 nm), como a luz ultra-violeta (UV), que provoca alteração no<br />
5<br />
Prof. Daniel Roulim Stainki<br />
<strong>UFSM</strong>
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS<br />
Departamento <strong>de</strong> Microbiologia e Parasitologia<br />
Disciplina <strong>de</strong> Microbiologia Geral<br />
DNA. As lâmpadas germicidas são empregadas para o <strong>controle</strong> <strong>dos</strong> microrganismos<br />
no ar e são encontradas em centros cirúrgicos, enfermarias, berçários, capelas <strong>de</strong><br />
fluxo laminar, etc. As <strong>de</strong>svantagens do uso da UV são: baixo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> penetração,<br />
obrigando a exposição direta <strong>dos</strong> <strong>microorganismos</strong> aos raios para que sejam mortos<br />
(atua somente na superfície <strong>dos</strong> materiais) e os efeitos nocivos sobre a pele e os<br />
olhos.<br />
As microondas, também <strong>de</strong>nominadas super high frequency – SHF, não possuem<br />
efeito direto sobre os <strong>microorganismos</strong>, e as bactérias po<strong>de</strong>m ser facilmente isoladas do<br />
interior <strong>de</strong> fornos <strong>de</strong> microondas recém utiliza<strong>dos</strong>. As frequências <strong>dos</strong> fornos <strong>de</strong><br />
microondas são ajusta<strong>dos</strong> para combinar com os níveis <strong>de</strong> energia nas moléculas <strong>de</strong> água,<br />
que absorvem a energia e as transferem na forma <strong>de</strong> calor para o alimento, que irá matar a<br />
maioria <strong>dos</strong> patógenos na forma vegetativa. Os alimentos sóli<strong>dos</strong> se aquecem <strong>de</strong> modo<br />
<strong>de</strong>sigual, <strong>de</strong>vido uma distribuição não homogênea da umida<strong>de</strong> nos teci<strong>dos</strong>. Por essa<br />
razão, uma carne <strong>de</strong> porco cozida no forno <strong>de</strong> microondas po<strong>de</strong> ocasionar a transmissão<br />
<strong>de</strong> triquinose no homem.<br />
c) Filtração: método empregado para remover <strong>microorganismos</strong> <strong>de</strong> líqui<strong>dos</strong>, ar e<br />
gases. Os filtros <strong>de</strong> partículas <strong>de</strong> ar <strong>de</strong> alta eficiência (high-efficiency particulate air -<br />
HEPA) removem quase to<strong>dos</strong> os <strong>microorganismos</strong> maiores que cerca <strong>de</strong> 0,3 µm <strong>de</strong><br />
diâmetro. Atualmente, a <strong>de</strong>scontaminação do ar mediante filtração, realizada em<br />
laboratórios <strong>de</strong> manipulação asséptica, fluxos laminares, salas <strong>de</strong> cirurgia e outros<br />
ambientes hospitalares on<strong>de</strong> o rigoroso <strong>controle</strong> microbiológico se faz necessário.<br />
d) Dessecação: condição conhecida pela remoção da umida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada<br />
matéria, e pelo impedimento da mesma em absorver a umida<strong>de</strong> do ar. Os<br />
<strong>microorganismos</strong> não po<strong>de</strong>m crescer e se reproduzir nesse ambiente seco, mas po<strong>de</strong>m<br />
permanecer viáveis por longos perío<strong>dos</strong>. No momento que a água é reintroduzida, po<strong>de</strong>m<br />
ser reativa<strong>dos</strong>, retomando seu crescimento e divisão. Esse é o princípio da liofilização<br />
(congelamento-<strong>de</strong>ssecação), um processo utilizado em laboratórios para a preservação <strong>de</strong><br />
<strong>microorganismos</strong>, on<strong>de</strong> uma suspensão é rapidamente congelada em uma faixa <strong>de</strong><br />
temperatura <strong>de</strong> -54ºC a -72ºC, tendo a água removida por alto vácuo (sublimação).<br />
e) Remoção do oxigênio: na ausência <strong>de</strong> oxigênio as bactérias aeróbicas perecem,<br />
ou então, formam esporos, caso sejam dotadas <strong>de</strong>ssa capacida<strong>de</strong>. Essa técnica possui<br />
importância prática na indústria alimentícia, a qual utiliza-se <strong>de</strong> embalagens (ou<br />
envasamento) a vácuo como meio <strong>de</strong> melhorar a conservação <strong>de</strong> alimentos (carne,<br />
legumes, etc).<br />
f) Pressão osmótica: técnica que utiliza altas concentrações <strong>de</strong> sais e açucares<br />
para conservar próteses biológicas e alimentos, baseada nos efeitos da pressão osmótica.<br />
Altas concentrações <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas substâncias criam um ambiente hipertônico que<br />
ocasiona a saída <strong>de</strong> água da célula microbiana. Esse processo lembra o método <strong>de</strong><br />
6<br />
Prof. Daniel Roulim Stainki<br />
<strong>UFSM</strong>
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS<br />
Departamento <strong>de</strong> Microbiologia e Parasitologia<br />
Disciplina <strong>de</strong> Microbiologia Geral<br />
conservação por <strong>de</strong>ssecação, pois ambos os méto<strong>dos</strong> retiram da célula a umida<strong>de</strong> que ela<br />
necessita para o crescimento. Lembre-se <strong>de</strong> que, como regra geral, os fungos e os bolores<br />
são muito mais capazes que as bactérias <strong>de</strong> crescer em materiais com baixa umida<strong>de</strong> ou<br />
com alta pressão osmótica.<br />
3.2 – MÉTODOS QUÍMICOS:<br />
Os méto<strong>dos</strong> químicos são basea<strong>dos</strong> em substâncias naturais ou sintéticas para<br />
eliminar ou inibir o crescimento <strong>dos</strong> <strong>microorganismos</strong> em teci<strong>dos</strong> vivos ou em objetos<br />
inanima<strong>dos</strong>. Infelizmente, poucos agentes químicos proporcionam a esterilida<strong>de</strong>, a<br />
maioria apenas reduz as populações microbianas em níveis seguros ou removem as<br />
formas vegetativas <strong>de</strong> patógenos nos objetos. Nenhum <strong>de</strong>sinfetante isolado é apropriado<br />
para todas as circunstâncias. Fatores como pH, temperatura, tempo <strong>de</strong> contato, presença<br />
<strong>de</strong> matéria orgânica (inativa algumas substâncias), fase do ciclo vital do microorganismo,<br />
concentração do composto químico e presença <strong>de</strong> outras substâncias químicas po<strong>de</strong>m<br />
influenciar na ação <strong>dos</strong> agentes antimicrobianos, além da variação na resistência <strong>dos</strong><br />
<strong>microorganismos</strong> aos produtos químicos. Outra consi<strong>de</strong>ração importante é se o agente<br />
químico entrará facilmente em contato com os <strong>microorganismos</strong>. Uma área po<strong>de</strong> precisar<br />
ser esfregada e lavada antes da aplicação do produto, e em muitos casos haverá a<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar o <strong>de</strong>sinfetante em contato com a superfície por várias horas.<br />
Existem duas categorias principais <strong>de</strong> efeitos <strong>dos</strong> méto<strong>dos</strong> químicos:<br />
• Efeito estático (bacteriostático ou fungiostático) – ocasiona a inibição no<br />
crescimento microbiano.<br />
• Efeito microbicida/germicida (bactericida, fungicida, viruscida, protozoocida<br />
ou esporocida) – promove a <strong>de</strong>struição <strong>dos</strong> <strong>microorganismos</strong>.<br />
A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> eliminar <strong>microorganismos</strong>, a rapi<strong>de</strong>z assim como o espectro <strong>de</strong><br />
ação, <strong>de</strong>fine o nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinfecção que po<strong>de</strong> ser alcançado por <strong>de</strong>terminado produto.<br />
Tendo em vista isso, po<strong>de</strong>mos classificá-los da seguinte forma:<br />
• Nível baixo – eliminação da maioria das bactérias, <strong>de</strong> alguns vírus e alguns<br />
fungos, sem inativação <strong>de</strong> <strong>microorganismos</strong> mais resistentes como micobactérias e<br />
formas esporuladas.<br />
• Nível intermediário – inativação das formas vegetativas <strong>de</strong> bactérias, da maioria<br />
<strong>dos</strong> vírus e maioria <strong>dos</strong> fungos.<br />
• Nível alto – <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os <strong>microorganismos</strong>, com exceção <strong>de</strong> formas<br />
esporuladas.<br />
3.2.1 – TIPOS DE AGENTES QUÍMICOS UTILIZADOS NO CONTROLE<br />
MICROBIANO:<br />
3.2.1.1 – Agentes alquilantes:<br />
São compostos cancerígenos e, por isso, não <strong>de</strong>vem ser utiliza<strong>dos</strong> em teci<strong>dos</strong><br />
vivos. Por <strong>de</strong>finição, um alquila ou alcoila é um radical monovalente (CnH2n+1) formado<br />
7<br />
Prof. Daniel Roulim Stainki<br />
<strong>UFSM</strong>
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS<br />
Departamento <strong>de</strong> Microbiologia e Parasitologia<br />
Disciplina <strong>de</strong> Microbiologia Geral<br />
pela remoção <strong>de</strong> um átomo <strong>de</strong> hidrogênio <strong>de</strong> um hidrocarboneto saturado.<br />
Os principais alquilantes utiliza<strong>dos</strong> para o <strong>controle</strong> <strong>dos</strong> <strong>microorganismos</strong> são:<br />
Glutaral<strong>de</strong>ído: seu mecanismo <strong>de</strong> ação ocorre através da alteração do DNA e <strong>de</strong><br />
enzimas. Serve para a <strong>de</strong>sinfecção (<strong>de</strong> alto nível) e para a esterilização, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da<br />
concentração e do tempo <strong>de</strong> exposição. Possui gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinfecção em diversos<br />
equipamentos cirúrgicos, odontológicos, além <strong>de</strong> não ser corrosivo. Muito utilizado para<br />
materiais termossensíveis. Tem como <strong>de</strong>svantagens o vapor irritante, odor <strong>de</strong>sagradável,<br />
ser carcinogênico e ter a sua eficácia diminuída na presença <strong>de</strong> matéria orgânica. Um<br />
possível substituto do glutaral<strong>de</strong>ído é o orto-fitalal<strong>de</strong>ído (OFA) que além <strong>de</strong> mais efetivo<br />
contra a maioria <strong>dos</strong> miroorganismos, mostra-se pouco irritante.<br />
Formal<strong>de</strong>ído: atua como <strong>de</strong>sinfetante ou esterilizante, possuindo ótimo efeito<br />
sobre bactérias gram-positivas e gram-negativas, além <strong>de</strong> vírus, fungos, micobactérias e<br />
endósporos. Obtem-se a esterilização através da solução alcoólica <strong>de</strong> formal<strong>de</strong>ído a 8%<br />
ou aquosa a 10%, com exposição mínima <strong>de</strong> 18 horas. Po<strong>de</strong> ser usado em instrumental<br />
cirúrgico e em acrílicos, mas não <strong>de</strong>ve ser utilizado em alumínio e em borrachas.<br />
Apresenta alto po<strong>de</strong>r carcinogênico, e <strong>de</strong>ve ser manuseado usando-se equipamentos <strong>de</strong><br />
proteção individual (EPIs).<br />
Oxido <strong>de</strong> etileno (ETO): é um esterilizador gasoso incolor muito eficiente,<br />
utilizado principalmente para materiais termossensíveis como as sondas para laparoscopia<br />
e artroscopia. Possuí alto po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> penetração, é carcinogênico, exigindo treinamento <strong>de</strong><br />
pessoal, uso <strong>de</strong> EPIs e exames bioquímicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> periódicos.<br />
3.2.1.2 – Fenóis:<br />
O fenol (ácido carbólico) e seus <strong>de</strong>riva<strong>dos</strong> atuam na <strong>de</strong>snaturação <strong>de</strong> proteínas,<br />
servindo como antimicrobianos. Atualmente, os compostos fenólicos são pouco<br />
utiliza<strong>dos</strong>, pois irritam a pele e apresentam odor <strong>de</strong>sagradável. Possuem efeitos<br />
carcinogênicos, com acentuada toxicida<strong>de</strong> em felinos e crianças. Um <strong>dos</strong> compostos<br />
fenólicos mais utiliza<strong>dos</strong> <strong>de</strong>riva do alcatrão e são <strong>de</strong>nominadas cresóis. Os cresóis são<br />
ótimos <strong>de</strong>sinfetantes <strong>de</strong> superfície.<br />
3.2.1.3 – Bifenóis:<br />
São <strong>de</strong>riva<strong>dos</strong> do fenol que possuem dois grupos fenólicos liga<strong>dos</strong> por uma ponte.<br />
Um bifenol, o hexaclorofeno é muito utilizado em procedimentos <strong>de</strong> <strong>controle</strong> microbiano<br />
cirúrgico e hospitalar. Estafilococos e estreptococos gram-positivos, que costumam<br />
causar infecções <strong>de</strong> pele em recém-nasci<strong>dos</strong>, são especialmente susceptíveis ao<br />
hexaclorofeno, que é usado com frequência para controlar essas infecções em berçários.<br />
Outro bifenol amplamente utilizado é o triclosano, um <strong>dos</strong> componentes presentes em<br />
sabonetes antibacterianos e pastas <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes. O uso do triclosano foi incorporado em<br />
tábuas <strong>de</strong> cozinha, em cabos <strong>de</strong> facas e outros utensílios plásticos <strong>de</strong> cozinha. Seu uso<br />
está tão difundido que bactérias resistentes a este agente já foram relatadas. É<br />
especialmente efetivo contra bactérias gram-positivas, mas também funciona bem contra<br />
fungos e bactérias gram-negativas. Existem algumas exceções, como a Pseudomonas<br />
8<br />
Prof. Daniel Roulim Stainki<br />
<strong>UFSM</strong>
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS<br />
Departamento <strong>de</strong> Microbiologia e Parasitologia<br />
Disciplina <strong>de</strong> Microbiologia Geral<br />
aeruginosa, uma bactéria gram-negativa que é muito resistente ao triclosano, bem como a<br />
muitos outros antibióticos e <strong>de</strong>sinfetantes.<br />
3.2.1.4 – Biguanida:<br />
Apresentam um amplo espectro <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>, especialmente contra bactérias<br />
gram-positivas. As biguanidas são também efetivas contra bactérias gram-negativas, com<br />
exceção das pseudomonas. A biguanida mais conhecida é a clorexidina, muito usada na<br />
preparação cirúrgica, antissepsia <strong>de</strong> mãos e para o combate <strong>de</strong> <strong>microorganismos</strong><br />
in<strong>de</strong>sejáveis da pele e mucosas. Por possuir ótimo efeito bactericida e ser efetiva contra<br />
fungos e vírus, é tida como excelente antisséptico, embora não tenha efeito esporocida.<br />
Atua como bom <strong>de</strong>sinfetante <strong>de</strong> superfícies e materiais diversos e se <strong>de</strong>monstra eficaz<br />
mesmo na presença <strong>de</strong> matéria orgânica. A alexidina é uma biguanida similar à<br />
clorexidina, apresentando, porém, ação mais rápida.<br />
3.2.1.5 – Halogênios:<br />
Os halogênios (ou halógenos), particularmente o iodo e o cloro, são agentes antimicrobianos<br />
eficazes, tanto isoladamente, como constituintes <strong>de</strong> compostos inorgânicos<br />
ou orgânicos.<br />
Cloro ou compostos clora<strong>dos</strong> – são amplamente emprega<strong>dos</strong> na <strong>de</strong>sinfecção<br />
doméstica, pecuária, industrial, alimentícia e <strong>de</strong> água, bem como na <strong>de</strong>sinfecção <strong>de</strong> nível<br />
médio na área hospitalar. São efetivos contra os vírus, bactérias gram-positivas e gramnegativas,<br />
fungos, e efetivida<strong>de</strong> média como tuberculocidas e esporocidas. Uma gran<strong>de</strong><br />
vantagem é a permanência <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> residual, e como <strong>de</strong>svantagens <strong>de</strong>stacam-se a<br />
inativação pela matéria orgânica, ativida<strong>de</strong> corrosiva em metais e o efeito <strong>de</strong>scolorante.<br />
Os principais compostos clora<strong>dos</strong> com ação <strong>de</strong>sinfetante são: hipoclorito <strong>de</strong> sódio (água<br />
sanitária, líquido <strong>de</strong> Dakin), hipoclorito <strong>de</strong> cálcio (alvejantes em pó) e as cloraminas<br />
(amônia com cloro).<br />
Iodo – consi<strong>de</strong>rado um <strong>dos</strong> antissépticos mais antigos e eficazes, emprega<strong>dos</strong> em<br />
feridas e teci<strong>dos</strong>, agindo contra to<strong>dos</strong> os tipos <strong>de</strong> bactérias, muitos endósporos, vários<br />
fungos e alguns vírus. O iodo po<strong>de</strong> ser empregado para a <strong>de</strong>sinfecção <strong>de</strong> equipamentos e<br />
superfícies, não sendo seu uso recomendado em metais facilmente oxidáveis ou que<br />
mancham facilmente. As soluções à base <strong>de</strong> iodo são geralmente alcoólicas (álcool etílico<br />
70 com 0,5 a 1% <strong>de</strong> iodo livre), solução a 2% em água ou emulsões em <strong>de</strong>tergentes (iodopovidona),<br />
conhecidas como <strong>de</strong>germantes. Estas emulsões não são recomendadas para<br />
curativos, uma vez que a presença constante do <strong>de</strong>tergente prejudica a cicatrização,<br />
entretanto, são indicadas para a antissepsia das mãos, campo operatório e <strong>de</strong>sinfecção <strong>de</strong><br />
superfícies.<br />
3.2.1.6 – Peroxigênios – peróxido <strong>de</strong> hidrogênio, ácido peracético e ozônio:<br />
São agentes químicos oxidantes que exercem ação na membrana citoplasmática,<br />
no DNA e em outros componentes celulares.<br />
Peróxido <strong>de</strong> hidrogênio (H2O2) – conhecido como água oxigenada, a substância<br />
9<br />
Prof. Daniel Roulim Stainki<br />
<strong>UFSM</strong>
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS<br />
Departamento <strong>de</strong> Microbiologia e Parasitologia<br />
Disciplina <strong>de</strong> Microbiologia Geral<br />
é utilizada como <strong>de</strong>sinfetante <strong>de</strong> filtros e tubulações na indústria <strong>de</strong> alimentos. Possui<br />
ampla aplicação na limpeza e <strong>de</strong>sinfecção hospitalar e como antisséptico <strong>de</strong> feridas.<br />
Ácido paracético – possui odor <strong>de</strong> vinagre, sendo eficiente para a <strong>de</strong>sinfecção <strong>de</strong><br />
materiais e instrumentos, sendo pouco afetado pela presença <strong>de</strong> matéria orgânica. Atua<br />
bem em temperaturas <strong>de</strong> 10 a 40ºC.<br />
Ozônio (O3) – trata-se <strong>de</strong> um composto <strong>de</strong>rivado do oxigênio, usado geralmente<br />
para a <strong>de</strong>sinfecção <strong>de</strong> água. Possui efeito germicida e não apresenta toxicida<strong>de</strong> ao homem<br />
e animais.<br />
3.2.1.7 – Alcoóis:<br />
O mecanismo <strong>de</strong> ação do álcool é a <strong>de</strong>snaturação <strong>de</strong> proteínas, mas também po<strong>de</strong><br />
romper membranas e dissolver lipí<strong>de</strong>os, inclusive o componente lipídico <strong>dos</strong> vírus<br />
envelopa<strong>dos</strong>. Agem efetivamente contra as bactérias, fungos, mas não contra endósporos<br />
e vírus não envelopa<strong>dos</strong>. Os dois alcoóis mais comumente utiliza<strong>dos</strong> são o etanol e o<br />
isopropanol. A concentração ótima para o etanol (etílico) é <strong>de</strong> 70%, enquanto que para o<br />
isopropanol ((isopropílico) é <strong>de</strong> 90%. Os alcoóis têm a vantagem <strong>de</strong> agir e então evaporar<br />
rapidamente, sem <strong>de</strong>ixar resíduos. Quando a pele é <strong>de</strong>germinada antes <strong>de</strong> uma injeção, a<br />
ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>controle</strong> microbiano provém do fato <strong>de</strong> simplesmente remover a poeira e os<br />
<strong>microorganismos</strong> junto com os óleos cutâneos (limpa). Contudo, os alcoóis não são<br />
antissépticos satisfatórios quando aplica<strong>dos</strong> em feridas, pois causam a coagulação <strong>de</strong> uma<br />
camada <strong>de</strong> proteínas, sob a qual as bactérias continuam a proliferar.<br />
Como antisséptico das mãos, o álcool em gel apresenta <strong>de</strong>terminadas vantagens<br />
sobre o líquido, as quais <strong>de</strong>stacam-se:<br />
• o gel retém certo grau <strong>de</strong> moléculas <strong>de</strong> álcool, com a volatilida<strong>de</strong> reduzida,<br />
possibilita maior tempo <strong>de</strong> ação.<br />
• a<strong>de</strong>são do gel nas mãos, prolongando a ação do álcool;<br />
• o gel protege a pele do ressecamento promovido pelo álcool líquido;<br />
• o gel é menos inflamável, evitando aci<strong>de</strong>ntes com queimaduras;<br />
• mais fácil no acondicionamento, na medida que o gel não vaza facilmente.<br />
3.2.1.8 – Corantes:<br />
O azul <strong>de</strong> metileno e o cristal violeta (violeta genciana) constituem-se nos<br />
principais corantes antimicrobianos, atuando por inibição da síntese da pare<strong>de</strong> celular.<br />
3.2.1.9 – Agentes <strong>de</strong> superfície (tensoativos ou surfactante):<br />
Os agentes <strong>de</strong> superfície po<strong>de</strong>m reduzir a tensão superficial entre moléculas <strong>de</strong> um<br />
líquido. Esses agentes incluem os sabões e os <strong>de</strong>tergentes.<br />
Sabões e <strong>de</strong>tergentes – possuem pouco valor como antisséptico, mas tem uma<br />
importante função na remoção mecânica <strong>dos</strong> <strong>microorganismos</strong>. A pele geralmente possui<br />
células mortas, pó, suor seco, <strong>microorganismos</strong> e óleos, provin<strong>dos</strong> das gl\ãndulas<br />
sebáceas. Os sabões rompem o filme oleoso em pequenas gotículas, <strong>de</strong>nominadas<br />
emulsificação, que juntamente com a água, removem os resíduos à medida que a pele é<br />
10<br />
Prof. Daniel Roulim Stainki<br />
<strong>UFSM</strong>
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS<br />
Departamento <strong>de</strong> Microbiologia e Parasitologia<br />
Disciplina <strong>de</strong> Microbiologia Geral<br />
lavada. Nesse sentido, os sabões funcionam como bons agentes <strong>de</strong>germinantes.<br />
Compostos quaternários <strong>de</strong> amônia (QUATs) – possuem excelente ação<br />
bactericida contra as gram-positivas e, bom po<strong>de</strong>r bactericida contra as gram-negativas,<br />
sendo efetivos contra vírus envelopa<strong>dos</strong> (lipofílicos), as amebas e alguns fungos. São<br />
ineficazes contra vírus não envelopa<strong>dos</strong> (hidrifílicos), micobactérias e esporos. A<br />
presença <strong>de</strong> matéria orgânica limita a ação <strong>dos</strong> compostos <strong>de</strong>ste grupo. Dois QUATs<br />
populares são o cloreto <strong>de</strong> benzalcônio e o cloreto <strong>de</strong> cetilpiridínico.<br />
3.2.2 – PRINCIPAIS FATORES QUE PODEM INFLUENCIAR NA AÇÃO DOS<br />
DESINFETANTES QUÍMICOS:<br />
• Diluição do produto – <strong>de</strong>sinfetantes muito diluí<strong>dos</strong> po<strong>de</strong>m se tornar pouco<br />
eficazes.<br />
• Tempo <strong>de</strong> exposição – para que tenha uma ação mais efetiva, é necessário um<br />
tempo mínimo <strong>de</strong> contato entre o <strong>de</strong>sinfetante e o microorganismo.<br />
• Mistura do <strong>de</strong>sinfetante com outros produtos – a mistura <strong>de</strong> substâncias po<strong>de</strong><br />
ocasionar a perda da eficácia <strong>dos</strong> produtos.<br />
• Natureza do material a ser <strong>de</strong>sinfetado.<br />
• Valida<strong>de</strong> do produto – <strong>de</strong>sinfetantes com prazo <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> já vencido po<strong>de</strong><br />
exercer pouca ou nenhuma ação sobre os <strong>microorganismos</strong>.<br />
• Lavagem prévia do local ou material antes da aplicação do <strong>de</strong>sinfetante – na<br />
maioria <strong>dos</strong> casos, a prévia lavagem das instalações facilita a ação <strong>dos</strong><br />
<strong>de</strong>sinfetantes.<br />
• Aplicação em ambientes úmi<strong>dos</strong> – após a lavagem prévia, a <strong>de</strong>sinfecção <strong>de</strong>ve ser<br />
realizada com as instalações ainda úmidas, a fim <strong>de</strong> permitir boa distribuição e<br />
penetração do <strong>de</strong>sinfetante nas regiões a serem <strong>de</strong>sinfetadas.<br />
3.2.3 – CARACTERÁSTICAS DESEJÁVEIS A SEREM OBSERVADAS NA<br />
ESCOLHA DE UM DESINFETANTE QUÍMICO:<br />
• Possuir amplo espectro <strong>de</strong> ação.<br />
• Alto po<strong>de</strong>r germicida.<br />
• Ser atóxico para o homem e animais.<br />
• Ser estável ao armazenamento na temperatura ambiente, por longos perío<strong>dos</strong>.<br />
• Ser eficiente na presença <strong>de</strong> matéria orgânica ou matéria mineral.<br />
• Não ser corrosivo.<br />
• Manter boa ativida<strong>de</strong> antimicrobiana sob temperatura entre 10 a 40ºC.<br />
• Ser isento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> tintorial.<br />
• Ser solúvel em água.<br />
• Ser compatível com sabões e <strong>de</strong>tergentes.<br />
• Possuir bom po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> penetração.<br />
• Ser inodoro, ou exalar odor brando, ou mesmo agradável.<br />
• Não ser poluente.<br />
11<br />
Prof. Daniel Roulim Stainki<br />
<strong>UFSM</strong>
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS<br />
Departamento <strong>de</strong> Microbiologia e Parasitologia<br />
Disciplina <strong>de</strong> Microbiologia Geral<br />
• Agir <strong>de</strong> forma eficaz com tempo <strong>de</strong> exposição relativamente curto (10 a 25<br />
minutos).<br />
• Ter custo acessível e estar disponível no mercado.<br />
Atualmente não existe um <strong>de</strong>sinfetante que contemple to<strong>dos</strong> os requisitos <strong>de</strong>sejáveis<br />
acima <strong>de</strong>scritos. No contexto da ativida<strong>de</strong> veterinária, a escolha dá-se baseada,<br />
principalmente, em atributos como: espectro <strong>de</strong> ação, intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ação,<br />
susceptibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inativação na presença <strong>de</strong> matéria orgânica e custo.<br />
Os <strong>microorganismos</strong> diferem quanto à susceptibilida<strong>de</strong> aos <strong>de</strong>sinfetantes químicos.<br />
As bactérias vegetativas (não esporuladas) e os vírus envelopa<strong>dos</strong> sofrem rapidamente a<br />
ação <strong>dos</strong> <strong>de</strong>sinfetantes. Os esporos fúngicos e os vírus <strong>de</strong>sprovi<strong>dos</strong> <strong>de</strong> envelope são<br />
menos susceptíveis. As micobactérias (bactérias do gênero da tuberculose) são resistentes<br />
aos <strong>de</strong>sinfetantes comumente emprega<strong>dos</strong>, já os oocistos <strong>de</strong> protozoários e endósporos<br />
bacterianos são altamente resistentes aos <strong>de</strong>sinfetantes.<br />
4. INATIVAÇÃO DOS PRÍONS.<br />
Os príons, agentes etiológicos das encefalopatias espongiformes transmissíveis<br />
(EETs) são extremamente resistentes as substâncias químicas. Altas concentrações <strong>de</strong><br />
hipoclorito <strong>de</strong> sódio, assim como soluções concentradas <strong>de</strong> hipoclorito <strong>de</strong> sódio<br />
aquecidas são indicadas para inativar estes agentes infecciosos não convencionais.<br />
Os príons são igualmente resistentes à inativação térmica, sendo necessária a<br />
autoclavação a 132ºC por quatro horas e meia para inativá-los.<br />
SUGESTÃO DE LEITURA:<br />
KAMWA, E.B. Biossegurida<strong>de</strong>, higiene e profilaxia: abordagem teórico-didática e<br />
aplicada. Belo Horizonte:Nandyala, 2010. 104p.<br />
TORTORA, G.J., FUNKE, B.R., CASE, C.L. Microbiologia. 10ed. Porto Alegre:<br />
Artmed, 2012, 934P.<br />
12<br />
Prof. Daniel Roulim Stainki<br />
<strong>UFSM</strong>