As pedras não morrem - Miriam Mambrini
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Catete, nº 13.” Achou que podia ser a sua chance. Computador é igual a jornal, fica velho de um<br />
dia para o outro. Talvez um sujeito cheio da grana e fanático pelas novidades da informática<br />
quisesse se desfazer do seu a preço de banana. Se desse sorte, podia achar uma máquina<br />
relativamente moderna por um bom preço.<br />
O brechó ficava no apartamento térreo de um prédio residencial antigo. Entrou num<br />
hall escuro e mal conservado, onde a única porta tinha uma placa com o nome da loja de<br />
computadores usados. Tocou a campainha. Uma sirene inesperada anunciou um ataque aéreo da<br />
Segunda Guerra Mundial. Não demorou muito e a porta foi aberta por um jovem roliço, de barba<br />
e rabo-de-cavalo.<br />
Vai entrando, disse ele, abrindo um sorriso de dentes tortos.<br />
É você que vende computadores usados?<br />
Eu mesmo. Me chamo João Octávio, com C, mas pode me chamar de Joca.<br />
Sou Gabriel.<br />
E aí, Gabriel, o que posso fazer por você?<br />
Estou querendo comprar um micro.<br />
De que tipo?<br />
Qualquer coisa serve, desde que seja barato.<br />
Barato é comigo mesmo.<br />
A sala do apartamento era um depósito de monitores, CPUs, impressoras e teclados<br />
empilhados em cadeiras, mesas e pelo chão, alguns ainda com jeito de novo, outros aos pedaços,<br />
estripados, amputados de partes vitais. Mas <strong>não</strong> deixava de ser também uma sala, com seu velho<br />
sofá e sua mesa de jantar, onde ainda se via uma cesta de pão e um prato sujo, ao lado de peças<br />
de computadores.<br />
Joca abriu caminho em meio à bagunça.<br />
Aqui tem um, disse, parando diante de um 386 montado sobre uma bancada. Bom<br />
computador. Mudei a placa, de modo que ele ficou rápido. O disco rígido também é novo.<br />
poder pagar.<br />
Olhou para a máquina, interessado mas descrente. Aquele era bom demais, <strong>não</strong> ia<br />
Quanto?<br />
Seiscentos paus.