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ICS da UL - Análise Social - Universidade de Lisboa

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Manuel Villaver<strong>de</strong> Cabral<br />

para 20% <strong>da</strong> população e tornando-se, assim, o segundo maior lugar <strong>de</strong><br />

classe na nossa socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, como seria aliás <strong>de</strong> esperar <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças assinala<strong>da</strong>s<br />

atrás. Trata-se, em suma, <strong>de</strong> um efeito mecânico <strong>da</strong> chama<strong>da</strong><br />

terciarização. Com excepção <strong>da</strong>s burguesias, foi este o estrato que recebeu<br />

mais efectivos do exterior, na sua gran<strong>de</strong> maioria oriundos <strong>da</strong>s classes abaixo<br />

<strong>de</strong>la (73%), o que certamente aju<strong>da</strong>rá a explicar algumas <strong>da</strong>s atitu<strong>de</strong>s e<br />

comportamentos por ela manifestados neste inquérito.<br />

Do lado <strong>da</strong>s saí<strong>da</strong>s, em compensação, só 30% se terão feito para baixo,<br />

revelando os anteriores ocupantes <strong>de</strong>ste lugar <strong>de</strong> classe uma significativa<br />

propensão para a mobili<strong>da</strong><strong>de</strong> ascen<strong>de</strong>nte (47%), graças à posse <strong>de</strong> algum<br />

«capital escolar», que volta a surgir como uma <strong>da</strong>s variáveis mais explicativas<br />

<strong>da</strong> mobili<strong>da</strong><strong>de</strong> social em Portugal.<br />

A classe V, on<strong>de</strong> se agrupam os trabalhadores manuais in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes,<br />

incluindo o campesinato (correspon<strong>de</strong>nte grosso modo à categoria estatística<br />

dos «isolados agrícolas»), conheceu um <strong>de</strong>clínio previsível mas lento, tendo<br />

diminuído <strong>de</strong> 16% para 12%. Para além <strong>de</strong> uma taxa <strong>de</strong> auto-reprodução <strong>da</strong><br />

or<strong>de</strong>m dos 21%, recebe a gran<strong>de</strong> maioria dos seus efectivos actuais do<br />

salariato manual (56%), muitos <strong>de</strong>stes oriundos do sector agrícola, embora<br />

não nos seja possível quantificá-los. Trata-se, manifestamente, do lugar mais<br />

instável <strong>de</strong>sta estratificação, já que só 16% dos filhos dos anteriores ocupantes<br />

nele se mantiveram, enquanto os outros revelam tendências relativamente<br />

equilibra<strong>da</strong>s para subir (45%) e para <strong>de</strong>scer (39%).<br />

Aliás, ao nível <strong>de</strong>stas cama<strong>da</strong>s inferiores do sistema <strong>de</strong> estratificação, não<br />

é certo que a percepção dos indivíduos e grupos correspon<strong>da</strong> à noção transmiti<strong>da</strong><br />

pela terminologia que acabo <strong>de</strong> utilizar. Com efeito, não é certo que<br />

o filho <strong>de</strong> um camponês pobre que foi trabalhar na indústria — com emprego<br />

certo, remuneração regular, férias pagas e reforma assegura<strong>da</strong> — tenha a<br />

percepção <strong>de</strong> ter «<strong>de</strong>scido» <strong>de</strong> classe. Esta é, <strong>de</strong> resto, uma <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

clássicas <strong>da</strong>s teorias marxianas <strong>da</strong>s classes para <strong>da</strong>r conta, <strong>de</strong> forma realista,<br />

dos processos <strong>de</strong> recomposição social induzidos pelo <strong>de</strong>senvolvimento económico<br />

e tecnológico.<br />

Finalmente, a classe VI — à qual optei por <strong>da</strong>r o nome <strong>de</strong> salariato<br />

manual — é, pelo contrário, a mais estável <strong>da</strong> actual estrutura <strong>de</strong> classes em<br />

Portugal. É certo que per<strong>de</strong>u bastante importância relativa, tendo passado <strong>de</strong><br />

55% para 43% <strong>da</strong> dita estrutura, mas é, <strong>de</strong> longe, o lugar <strong>de</strong> classe com mais<br />

eleva<strong>da</strong> taxa <strong>de</strong> auto-reprodução. Com efeito, perto <strong>de</strong> 70% dos seus actuais<br />

efectivos provêm <strong>da</strong> própria classe, se abstrairmos <strong>da</strong>s diferenças (certamente<br />

relevantes para a actual composição sócio-cultural do grupo) entre o operariado<br />

fabril, os trabalhadores <strong>da</strong> construção civil e dos transportes e os<br />

diferentes tipos <strong>de</strong> proletariado rural.<br />

Na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a «célula <strong>da</strong> matriz» on<strong>de</strong> figuram os assalariados manuais<br />

398 filhos <strong>de</strong> trabalhadores manuais por conta <strong>de</strong> outrem representa mais <strong>de</strong> 27%

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