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ICS da UL - Análise Social - Universidade de Lisboa

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406<br />

Manuel Villaver<strong>de</strong> Cabral<br />

tais escolares» her<strong>da</strong>dos e/ou adquiridos pelos inquiridos e, por outro, a sua<br />

posição hierárquica neste esquema <strong>de</strong> classes, a valorização do «curso» não<br />

surge aqui apenas como uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>riva<strong>da</strong> <strong>da</strong> posse <strong>de</strong>sses «capitais», ou<br />

seja, não é um mero traço distintivo <strong>de</strong> quem os possui. É sobretudo um<br />

atributo estratégico <strong>de</strong> classes que frequentemente não possuem tal «capital»<br />

e a maior parte <strong>da</strong>s vezes não o her<strong>da</strong>ram, conforme se verifica pela análise<br />

do seu background escolar, mas que preten<strong>de</strong>m efectivamente legar «um<br />

curso» aos filhos. Na mesma linha <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, não é fortuito que a nova<br />

burguesia assalaria<strong>da</strong> confira ao investimento na educação, entre um conjunto<br />

<strong>de</strong> políticas públicas, uma importância duas vezes superior à média <strong>da</strong><br />

população inquiri<strong>da</strong> (30% contra 14%).<br />

Para terminar esta bateria <strong>de</strong> indicadores relativos à socialização para a<br />

realização pessoal e social, o padrão observado é confirmado pela distribuição<br />

<strong>da</strong>s atitu<strong>de</strong>s <strong>da</strong>s diferentes classes perante a orientação que os jovens<br />

<strong>de</strong>vem seguir na vi<strong>da</strong>: a orientação familiar ou a do próprio jovem? Mais<br />

rigorosamente ain<strong>da</strong> do que a opção entre «um bom emprego» ou «um bom<br />

curso», este novo indicador volta a dividir a população inquiri<strong>da</strong> ao meio.<br />

Assim, se consi<strong>de</strong>rarmos que a orientação familiar correspon<strong>de</strong> a uma<br />

atitu<strong>de</strong> tradicional perante a socialização dos jovens, então as classes mais<br />

conservadoras são, como se podia prever, a pequena burguesia tradicional e<br />

os trabalhadores manuais in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, que a este respeito mal se distinguem<br />

entre si, e sobretudo o salariato manual, 59% <strong>de</strong> cujos membros dão<br />

preferência à orientação familiar. Inversamente, a atitu<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna, ou seja,<br />

a priori<strong>da</strong><strong>de</strong> conferi<strong>da</strong> à orientação individual, prevalece entre as classes que<br />

antes haviam valorizado o «capital escolar», sobretudo entre a nova burguesia<br />

assalaria<strong>da</strong>, 73% <strong>de</strong> cujos membros manifestam esta última atitu<strong>de</strong>.<br />

O padrão que acabámos <strong>de</strong> observar é, globalmente, corroborado pela<br />

forma como os ocupantes dos diversos lugares <strong>de</strong> classe se distribuem segundo<br />

o índice <strong>de</strong> orientação à mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> construído já em 1991 <strong>de</strong> acordo<br />

com a forma como a «mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>» é convencionalmente concebi<strong>da</strong> 31 . Contudo,<br />

nota-se que, nesse conjunto <strong>de</strong> indicadores, o or<strong>de</strong>namento <strong>da</strong>s classes<br />

segundo os seis escalões que vão <strong>da</strong> «orientação máxima» à «orientação nula<br />

à mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>», a hierarquia <strong>da</strong>s classes apenas é altera<strong>da</strong> pelo facto <strong>de</strong> o<br />

salariato não manual (classe IV) apresentar uma «orientação à mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>»<br />

ligeiramente mais forte do que a pequena burguesia (classe III), o que se<br />

<strong>de</strong>ve certamente ao maior «capital escolar» que os seus membros ten<strong>de</strong>m a<br />

possuir.<br />

No topo do esquema <strong>de</strong> classes, se é certo que a classe I apresenta <strong>de</strong> longe<br />

a maior percentagem <strong>de</strong> indivíduos com a «máxima orientação à mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong>-<br />

31 Cf. construção do índice em M. V. Cabral, op. cit., p. 120.

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