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ICS da UL - Análise Social - Universidade de Lisboa

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386<br />

Manuel Villaver<strong>de</strong> Cabral<br />

leitores po<strong>de</strong>rão no entanto verificar que muitas <strong>da</strong>s diferenças encontra<strong>da</strong>s<br />

ao nível <strong>da</strong>s «práticas e representações <strong>de</strong> classe» não são <strong>de</strong> mol<strong>de</strong> a<br />

infirmar a vali<strong>da</strong><strong>de</strong> operacional <strong>de</strong> qualquer <strong>da</strong>s opções.<br />

Não é possível dirimir agora to<strong>da</strong>s as outras questões envolvi<strong>da</strong>s nesta<br />

controvérsia. Direi apenas que, sem ignorar a insistência teórica <strong>de</strong> Olin<br />

Wright e do marxismo em geral no papel <strong>da</strong> exploração nas relações <strong>de</strong><br />

classe, é suficiente, para o meu propósito, que as classes sociais sejam<br />

conceptualiza<strong>da</strong>s, como suce<strong>de</strong> com Goldthorpe e os seus colaboradores,<br />

como «base <strong>da</strong> distribuição do po<strong>de</strong>r social», em suma, como «sistema <strong>de</strong><br />

afectação <strong>de</strong> recursos e do exercício <strong>de</strong> preferências». Por outro lado, também<br />

não é ilícito pensar que, do ponto <strong>de</strong> vista empírico, os conflitos sociais<br />

ten<strong>de</strong>m a apresentar-se — em todo o caso, nas socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s on<strong>de</strong> coexistem<br />

a economia <strong>de</strong> mercado e a <strong>de</strong>mocracia representativa — como «conflitos<br />

acerca <strong>de</strong> questões distributivas e <strong>de</strong> políticas públicas» 13 .<br />

Seja como for, não estou longe <strong>de</strong> pensar que a vivência empírica <strong>da</strong><br />

noção marxiana <strong>de</strong> exploração nas socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s contemporâneas, se não mesmo<br />

nas socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s do tempo <strong>de</strong> Marx, po<strong>de</strong> muito bem correspon<strong>de</strong>r àquilo<br />

que, noutro código semântico, tem sido teorizado sob a aporia <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong>-<br />

-<strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>, em especial numa teoria <strong>da</strong> justiça social como a <strong>de</strong> John<br />

Rawls 14 . Pela minha parte, tenho tentado formalizar esta última forma <strong>de</strong><br />

abor<strong>da</strong>r as atitu<strong>de</strong>s perante a justiça distributiva através <strong>da</strong> construção <strong>de</strong> um<br />

índice <strong>de</strong>stinado a avaliar as percepções sociais relativas à equi<strong>da</strong><strong>de</strong> do sistema<br />

<strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e recompensas sócio-económicas 15 .<br />

Quer parecer-me que estas últimas opções serão tanto mais realistas, do<br />

ponto <strong>de</strong> vista epistemológico, quanto o próprio Rawls exclui explicitamente<br />

a mobili<strong>da</strong><strong>de</strong> social dos seus princípios <strong>de</strong> justiça, já que ela em na<strong>da</strong> altera<br />

o primado atribuído na sua teoria à situação estrutural <strong>da</strong>s pessoas que se<br />

encontram, em qualquer momento <strong>da</strong>do do processo social, na posição<br />

menos vantajosa do sistema <strong>de</strong> distribuição dos bens sociais primários <strong>de</strong><br />

natureza material e simbólica.<br />

LIMITES DOS RES<strong>UL</strong>TADOS E CONSTITUIÇÃO DO ESQUEMA DE<br />

CLASSES<br />

Posto isto, resta lembrar os consi<strong>de</strong>ráveis problemas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m tecno-<br />

-metodológica envolvidos, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>da</strong> teoria perfilha<strong>da</strong> e do «esquema<br />

<strong>de</strong> classes» adoptado, na atribuição empírica dos estatutos <strong>de</strong> classe<br />

13 H. Newby et al. (1985), cit. por Breen e Rottman, op. cit, p. 76.<br />

14 J. Rawls, A Theory of Justice, Cambridge, Mass., Harvard University Press, 1971.<br />

15 M. V. Cabral, op. cit., pp. 114-117 e 121.

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