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Livro das Donas e Donzelas - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Com igual razão, se a mãe rica condescende com um: — continua —, a mãe<br />

pobre, sabendo que o filho tem no bolso papéis que o habilitem a ter, sem gastar um<br />

vintém, um terno novo, uma carteira ou um relógio de ouro, suplicar-lhe-á que se<br />

avie na aquisição ainda de outros bilhetes, tanto mais que a flanela do seu casaco já<br />

está puída, ameaçando fim próximo.<br />

Oh! Estes terríveis papeizinhos que o vento espalha pela cidade e faz entrar<br />

pelas janelas e portas <strong>das</strong> casas de família onde há rapazes, como se para mão<br />

ensinamento e perdição deles não fosse de sobra a rua, onde,<br />

du soir au matin, roule le grand peut-étre,<br />

Le hasard, noir flambeau de ces siécles d'ennui.<br />

como disse o adorável Musset!<br />

Quantas e quantas vezes, o próprio chefe da família se gaba distraída e<br />

imprudentemente, diante dos seus filhos, de ter ganho nesta ou naquela espécie de<br />

jogo! No que ele não repara, arrastado pela sua influência, é como as crianças<br />

arregalam os olhos de espanto, seduzi<strong>das</strong> por aquele triunfo que ainda<br />

desconhecem, mas cuja meia percepção os enleia e os atrai.<br />

O trabalho que as mães têm, para destruir pela raiz aquele desejo de<br />

imitação, que tão depressa nasce e se avigora, é tremendo! A luta é surda, feita<br />

minuto a minuto, com uma vigilância extenuadora, visto que o inimigo as cerca de<br />

todos os lados. Mas também, quando a noite o sono e o cansaço cerram as<br />

pálpebras dos filhos, e elas se acercam dos seus leitos, sentem que a sua mão que<br />

abençoa procura em um esforço, talvez vão, mas sempre puro e bem intencionado,<br />

levar aquelas almas para um largo futuro de paz e de ventura.<br />

POR QUÊ?<br />

Matou-se, por quê? O amor, esse eterno revolucionário, encheu-lhe o<br />

coração com o seu amargo licor de dúvi<strong>das</strong> e de desenganos?<br />

Não...<br />

A miséria bateu-lhe à porta, mostrando-lhe os membros nus, o colo murcho<br />

e sugado, as roupas em farrapos imundos e o rosto desconsolado? Foi essa visão<br />

que a fez varar o corpo com uma bala de garrucha?<br />

Não...<br />

Teve ciúmes do esposo, medo de que a sua beleza fosse suplantada pela de<br />

outra mulher, e que o seu espírito e a sua bondade, mais o seu amor, não bastassem<br />

para prender toda a atenção daquele a quem se dedicava de corpo e alma?<br />

Não.<br />

Perderia algum ente amado, um filho, por exemplo, em quem depositasse<br />

to<strong>das</strong> as flori<strong>das</strong> esperanças de melhor futuro, e de quem as saudades fossem<br />

tamanhas que lhe tornassem insuportável a existência?<br />

Não.<br />

Teria sido atingida por uma dessas moléstias incuráveis e nauseantes, que<br />

todos os extremos justificam?<br />

Não.<br />

Adultério?<br />

Não.<br />

Loucura?<br />

Não.<br />

Que hipótese formular então que explique o motivo por quê uma senhora<br />

honesta, casada, em boa paz com o marido, mãe de uma única filha, pega em uma<br />

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