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Com igual razão, se a mãe rica condescende com um: — continua —, a mãe<br />
pobre, sabendo que o filho tem no bolso papéis que o habilitem a ter, sem gastar um<br />
vintém, um terno novo, uma carteira ou um relógio de ouro, suplicar-lhe-á que se<br />
avie na aquisição ainda de outros bilhetes, tanto mais que a flanela do seu casaco já<br />
está puída, ameaçando fim próximo.<br />
Oh! Estes terríveis papeizinhos que o vento espalha pela cidade e faz entrar<br />
pelas janelas e portas <strong>das</strong> casas de família onde há rapazes, como se para mão<br />
ensinamento e perdição deles não fosse de sobra a rua, onde,<br />
du soir au matin, roule le grand peut-étre,<br />
Le hasard, noir flambeau de ces siécles d'ennui.<br />
como disse o adorável Musset!<br />
Quantas e quantas vezes, o próprio chefe da família se gaba distraída e<br />
imprudentemente, diante dos seus filhos, de ter ganho nesta ou naquela espécie de<br />
jogo! No que ele não repara, arrastado pela sua influência, é como as crianças<br />
arregalam os olhos de espanto, seduzi<strong>das</strong> por aquele triunfo que ainda<br />
desconhecem, mas cuja meia percepção os enleia e os atrai.<br />
O trabalho que as mães têm, para destruir pela raiz aquele desejo de<br />
imitação, que tão depressa nasce e se avigora, é tremendo! A luta é surda, feita<br />
minuto a minuto, com uma vigilância extenuadora, visto que o inimigo as cerca de<br />
todos os lados. Mas também, quando a noite o sono e o cansaço cerram as<br />
pálpebras dos filhos, e elas se acercam dos seus leitos, sentem que a sua mão que<br />
abençoa procura em um esforço, talvez vão, mas sempre puro e bem intencionado,<br />
levar aquelas almas para um largo futuro de paz e de ventura.<br />
POR QUÊ?<br />
Matou-se, por quê? O amor, esse eterno revolucionário, encheu-lhe o<br />
coração com o seu amargo licor de dúvi<strong>das</strong> e de desenganos?<br />
Não...<br />
A miséria bateu-lhe à porta, mostrando-lhe os membros nus, o colo murcho<br />
e sugado, as roupas em farrapos imundos e o rosto desconsolado? Foi essa visão<br />
que a fez varar o corpo com uma bala de garrucha?<br />
Não...<br />
Teve ciúmes do esposo, medo de que a sua beleza fosse suplantada pela de<br />
outra mulher, e que o seu espírito e a sua bondade, mais o seu amor, não bastassem<br />
para prender toda a atenção daquele a quem se dedicava de corpo e alma?<br />
Não.<br />
Perderia algum ente amado, um filho, por exemplo, em quem depositasse<br />
to<strong>das</strong> as flori<strong>das</strong> esperanças de melhor futuro, e de quem as saudades fossem<br />
tamanhas que lhe tornassem insuportável a existência?<br />
Não.<br />
Teria sido atingida por uma dessas moléstias incuráveis e nauseantes, que<br />
todos os extremos justificam?<br />
Não.<br />
Adultério?<br />
Não.<br />
Loucura?<br />
Não.<br />
Que hipótese formular então que explique o motivo por quê uma senhora<br />
honesta, casada, em boa paz com o marido, mãe de uma única filha, pega em uma<br />
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